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Marisa Gomes da Silva e Amilton José Araújo Graduandos do 7º semestre do curso de Letras Vernáculas da UNEB, Campus XXIII, Seabra.

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Academic year: 2021

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O MODERNISMO HERÓICO DOS ANOS 20 E O REGIONALISMO DOS ANOS 30.

Marisa Gomes da Silva e Amilton José Araújo Graduandos do 7º semestre do

curso de Letras Vernáculas da UNEB, Campus XXIII, Seabra.

RESUMO

Neste trabalho abordamos o processo de busca e/ou construção da identidade cultural brasileira, focado nos anos vinte. Refletimos sobre as influências futuristas da vanguarda européia na ousadia dos modernistas brasileiros na chamada Fase Heróica do movimento modernista brasileiro e a mitificação do Nordeste e idealização do engenho sob a perspectiva saudosista de José Lins do Rego em seu romance Menino de Engenho. Com ênfase nas duas primeiras fases do movimento objetivamos mostrar o quão importante ele foi para que artistas e intelectuais “tupiniquins” conquistassem seu espaço no mundo das artes.

O movimento modernista de renovação das artes que marca a passagem dos anos vinte no Brasil foi mais uma ação de brasileiros em busca de sua identidade cultural, tendo como fonte inspiradora as vanguardas européias. O presente trabalho reflete sobre a ousadia dos modernistas dos anos 20 ao romper com as tradições e, a originalidade dos regionalistas de 30 ao retratar de uma maneira mitificada a vida do nordestino.

De acordo com Antônio Cândido (apud HELENA, 2000, p.41), as ousadias propostas por essas vanguardas eram mais coerentes com nossa tradição cultural, visto que éramos um povo formado pela miscigenação e tínhamos a predisposição de “aceitar e assimilar processos artísticos que na Europa representaram ruptura profunda com o meio social”. O que não significa, entretanto, que todas as inovações artísticas propostas pelos chamados futuristas, tenham sido bem aceitas.

Liderado por jovens intelectuais avessos ao academismo o movimento teve início com a publicação do Manifesto Futurista1 e escandalizou a sociedade paulistana 1 O futurismo é um movimento artístico e literário, que surgiu oficialmente em 1909 com a publicação

do Manifesto Futurista, pelo poeta italiano Filippo Marinetti, no jornal francês Le Figaro. Os adeptos do movimento rejeitavam o moralismo e o passado, e suas obras baseavam-se fortemente na velocidade e nos desenvolvimentos tecnológicos do final do século XIX. Os primeiros futuristas europeus também exaltavam a guerra e a violência. O Futurismo desenvolveu-se em todas as artes e influenciou diversos artistas que depois fundaram outros movimentos modernistas. No Brasil, Oswald de Andrade republicou o manifesto e deu início ao movimento Modernista em 1912, quando retornou de Paris.

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da época. Devido à ousadia de seus precursores, o Modernismo brasileiro, que é, tradicionalmente dividido em três fases, teve a primeira denominada fase heróica.

Empenhados em libertar-se de “uma série de recalques históricos, sociais, étnicos” (CANDIDO, 2000, p. 119) os modernistas buscavam através de sua arte, a afirmação identitária de “um povo latino, de herança cultural européia, mas etnicamente mestiço [...] influenciado por culturas primitivas ameríndias e africanas”. (CANDIDO, 2000, p. 119).

Nesse propósito, muitas obras foram produzidas e transgredir e chocar foi o que mais elas fizeram. Através de seus versos, poetas como Mário de Andrade denunciava a hipocrisia da sociedade burguesa de época:

Morte ao burguês de giôlhos,

Cheirando a religião e que não crê em Deus! (ANDRADE, Mário, 1921, p. 37).

Oswald de Andrade escancarava a realidade de nossa formação étnica quando escrevia:

Só a antropofagia nos une. Socialmente Economicamente. Filosoficamente (ANDRADE, Oswald, 1967, p. 30).

Ambos fazem críticas aos costumes de uma sociedade burguesa que embora cosmopolita, é “altamente resistente à mudança” (HELENA, 2000, p. 42) como nos confirmam aos versos de Mário de Andrade:

O homem que sendo francês, brasileiro, italiano. é sempre um cauteloso pouco-a-pouco.

(ANDRADE, Mário, 1921, p. 37).

Oposição ao Parnasianismo e/ou Romantismo está presente também nos versos desses poetas. O exagerado apego à métrica, ao bom comportamento dos versos, era alvo de suas críticas: “Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.” (BANDEIRA, p. 109, 1970), nos diz Bandeira num único verso – que foge a todos os padrões quanto ao tamanho – em sua “Poética”.

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A ousadia dos jovens artistas escandalizava não apenas por expor nossas “deficiências supostas ou reais” (CANDIDO, 2000, p. 120), mas principalmente como já dissemos, por contrariar as regras até então estabelecidas. Um bom exemplo dessa transgressão e possivelmente o campeão de críticas e ironias foi o poema “No meio do caminho” de Carlos Drummond de Andrade, no qual o mesmo verso se repete em quase todo o poema.

Embora a fase heróica tenha sido relevante para a instauração do movimento modernista brasileiro, é na 2ª fase que ele ganha maior repercussão, “com a valorização da narrativa que toma a seu cargo denunciar as problemáticas condições de vida do homem brasileiro e seus estigmas.” (HELENA, 2000, p. 43). Era então a busca pela “literatura nacional”, tentando retratar as diversas regiões brasileiras com seus tipos humanos, costumes, crenças e linguagem. Nasce o “romance de trinta” e, através da literatura “inventa-se” um nordeste povoado por mestiços, pobres, incultos e primitivos. (ALBUQUERQUE, 2006, p. 106). De acordo com ele, “o ‘romance de trinta’ tem como tema central a decadência da sociedade patriarcal e sua substituição pela sociedade urbano-industrial.” (ALBUQUERQUE, 2006, p. 110.). O romance Menino de Engenho de José Lins do Rego é um bom representante desse período.

Filho de produtores de açúcar, Lins não se conformava com a decadência pela qual passava toda a sociedade açucareira e aspirava reviver a glória de seus antepassados, embora tivesse consciência da impossibilidade disso. O romance narra a história de um garoto cujo pai assassinou a mãe, deixando-o órfão e sendo por isso levado a morar com o avô materno no engenho. É neste cenário “livre das decadências trazidas pela civilização, lugar dos verdadeiros homens de fibras e das mulheres de honra” (ALBUQUERQUE, 2006, p. 122), que cresce Carlos, o personagem principal, com o qual, segundo a crítica, depois confirmada pelo próprio autor, muitas vezes ele se identifica.

Como característica dessa fase, o “Menino de Engenho” retrata o nordeste como um lugar muito bom para se viver. Devido à tentativa de reconstruir um passado e “reestabelecer a continuidade e unidade de seu mundo” (ALBUQUERQUE, 2006, p. 130), Lins opta por uma narrativa com pouco diálogo na qual o narrador é a versão adulta que descreve os fatos vistos apenas pelo seu ângulo. Descreve então personagens que embora tenham uma vida miserável, sentem-se felizes por encontrarem-se sob a proteção do senhor de engenho: “a cheia tinha-lhes comido os roçados de mandioca, levado o quase nada que tinham, mas não levantavam os braços para imprecar, não se

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revoltavam. Eram uns cordeiros.” (LINS, 2003, p. 28). Mesmo que às vezes pareça que Carlos estranhe este comportamento, ele, como seus agregados, acredita que estas sejam pessoas que nasceram pobres por vontade de Deus, devendo, portanto obediência e respeito aos ricos: “Eles nasceram assim porque Deus quisera, e porque Deus quisera nós éramos branco e mandávamos neles” (LINS, 2003, p. 76) e completa comparando-os acomparando-os animais e outrcomparando-os bens da fazenda: “Mandávamcomparando-os também ncomparando-os bois, ncomparando-os burrcomparando-os, nos matos.”(LINS, 2003, p. 76).

Não causa estranheza, portanto, que a senzala, que geralmente é descrita como um local de sofrimento e lembranças tristes seja para Carlos como um verdadeiro lar para aqueles que optaram por ali continuar. Este é um ambiente povoado por pessoas pobres e felizes em sua miséria. Não há em sua narrativa qualquer vestígio de revolta. Todos se conformam em dormir em camas de varas, num casebre de chão batido, alimentar-se do pouco que conseguem e continuar na servidão “a trabalharem de graça com a mesma alegria da escravidão” (LINS, 2003, p. 49.). São personagens que, de acordo com Durval Albuquerque, “mesmo diante de todos os conflitos internos e dos dissabores externos que enfrentam ao longo da trama, nunca chegam a se negar a si mesmos; eles têm garantida a continuidade de “um modo de ser”, de “um modo de pensar”, de “um modo de agir” regional. (ALBUQUERQUE, 2006, p. 110).

A narrativa apresenta ainda outros personagens que contribuem para a mitificação do Nordeste idealizado por Lins. Um nordeste onde se encontram coronéis como o avô de Carlos, amado e respeitado por todos, capaz de acolher amistosamente em sua casa um cangaceiro de quem se conta muitas coisas, mas que, ao menos para nosso narrador-personagem, perdera todo o brilho: “Eu o fazia outro, arrogante e impetuoso, e aquela fala bamba viera desmanchar em mim a figura de herói.” (LINS. 2003, p 19). É aí onde se encontram também os melhores contadores de histórias. Os que melhor encantam, seduzem, fascinam: “Que talento ela possuía para contar suas histórias, com um jeito admirável de falar em nome de todos os personagens! [...] e as suas lendas eram suas, ninguém sabia contar como ela.” (LINS, 2003, p. 45).

Concluímos ser o Menino de Engenho, uma boa obra para divulgação do Nordeste, pois tal qual o engenho de Lins, ele também pode ser retratado como uma “terra feliz do brejo, para onde fogem os infelizes do sertão. Terra da segurança e da proteção patriarcal” (ALBUQUERQUE, 2006, p. 133), mas, sobretudo um lugar que se preservam as tradições.

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REFERENCIAS:

ALBUQUERQUE, JR. Durval Muniz de. A invenção do nordeste e outras artes. 3 ed. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Massangana; São Paulo: Cortez, 2006.

ANDRADE, Mário. Paulicéia desvairada. In: Poesias completas. São Paulo: Martins, 1921.

ANDRADE, Oswald. Trechos escolhidos. Organização de Haroldo de Campos. Rio de Janeiro: Agir, 1967.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. 3 ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.

BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira: poesias reunidas. 2 ed. Rio de Janeiro. José Olympio, 1970.

CANDIDO, Antônio. Literatura e sociedade: estudo de teoria e história literária. 8 ed. São Paulo: T.A. Queiroz, 2000.

HELENA, Lúcia. Modernismo brasileiro e vanguarda. 3 ed. São Paulo: Ática, 2000. LINS, José. Menino de engenho. Rio de Janeiro: José Olimpio Editora, 2003.

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