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2519 A DINÂMICA DO BI/MULTILINGUISMO EM TAREFAS NÃO VERBAIS: VANTAGENS COGNITIVAS PARA CRIANÇAS FALANTES DE POMERANO (L1) E PORTUGUÊS (L2)

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A DINÂMICA DO BI/MULTILINGUISMO EM TAREFAS NÃO VERBAIS: VANTAGENS COGNITIVAS PARA CRIANÇAS FALANTES DE POMERANO

(L1) E PORTUGUÊS (L2)

Marta Helena Tessmann Bandeira – UCPel

0 Introdução

O município de Arroio do Padre – RS foi colonizado por imigrantes pomeranos e alemães e caracteriza-se como uma região geográfica de acesso relativamente limitado, fato que contribui para que os habitantes desse município continuem usando cotidianamente o pomerano e/ou o alemão como sua primeira língua. A necessidade constante da troca de língua no dia a dia do falante bilíngüe pode também ampliar a sua habilidade em executar o controle inibitório em domínios não verbais, como se procura mostrar neste trabalho.

Quarenta participantes divididos em dois grupos, compostos respectivamente por vinte crianças bilíngues e vinte crianças monolíngues, cursando a terceira e a quarta séries em escolas municipais de Arroio do Padre, foram submetidas à tarefa de Simon e ao teste Stroop. Os resultados comprovam que o bilingüismo desenvolve os processamentos ligados à memória de trabalho mais cedo, uma vez que o grupo bilíngüe respondeu mais rapidamente e com mais acurácia do que monolíngues em ambos testes.

1 A cognição: um sistema dinâmico

O cérebro humano é um órgão com muitas peculiaridades, dentre as quais destaca-se a linguagem e a cognição. Para Elman (1995) é mais útil entender a linguagem como um sistema dinâmico do que representacional. Ed Hutchins (1995) sugere que a cognição talvez não seja bem o que se pensa ser, visto que o órgão responsável por ela – o cérebro - ainda não foi totalmente desvelado.

Heráclito, filosofo grego da antiguidade,afirmava que tudo é mutável, nada é estável, tudo é passível

de mudanças “as coisas são como a corrente de um rio - não se pode entrar duas vezes na mesma corrente;

o rio corre e toca-se outra água.” Seus sucessores dizem até que nele nem se pode mesmo entrar, pois que imediatamente se transforma; o que é, ao mesmo tempo já novamente não é. nenhum rio passa....“(Heráclito, Grécia antiga). A dinâmica da mudança é muito mais importante do que objetos estáticos”.

"Representações não são símbolos abstratos, mas entes de estado-espaço. Regras não são operações de símbolos, mas estão imbuídas do sistema dinâmico” (Elman, 1995, p. 2).

"palavras não são objetos do processamento, mais do que isso: são insumos que guiam o processo [...] os insumos operam os estados internos das redes e movem-na a outra posição” (1995, p. 2).

Esta descrição tem forte semelhança com o que Bresnan (1998) relata sobre a bi-direcionalidade do sistema nervoso: outputs (palavras) tanto quanto os inputs guiam os outputs, isto é, as palavras se relacionam entre elas em uma frase na qual é mediada, não determinada, pela sintaxe; todos são participantes ativos e não passivos.

Em termos de funcionamento neural, sabe-se que os neurônios são ativos e que dependem da especificidade anatômica. Dessa forma, são totalmente dependentes do contexto (Bresnan, 1998). Elman (1995) ratifica essa afirmação definindo a sintaxe como o mecanismo pelo qual um número finito de palavras produz um infinito número de significados, talvez o mecanismo de variabilidade do comportamento possa ser encontrado se for observado o que caracteriza a relação finita do número de neurônios que produzem uma infinita variedade de ações.

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Port (2002) usa a metáfora da tecelagem para descrever o sistema dinâmico, apontando que este deve ser como um tear: em alguns momentos há uma interação complexa de muitos grupos neurais. As atividades em cada grupo são integradas entre eles. Da mesma forma, o pensamento se dá como um tear - um produto de todo sistema de atividades.

A visão dinâmica de cognição está também relacionada às idéias de corporificarão da mente e do ambiente da cognição humana. Por um lado há ênfase no comportamento neural e no processo cognitivo, por outro lado há ênfase no ambiente. De acordo com Port (2002), um dos pontos mais importantes da teoria dinâmico-conexionista é o tempo, pois é comum a todos os domínios.

“Isto permite a associação em tempo real entre domínios diferentes, no qual a dinâmica de um influencia o tempo do outro. Os humanos freqüentemente associam vários sistemas ao mesmo tempo – tal quando estão dançando em um salão, por exemplo – a percepção do auditório é associada aos sons da musica. Por causa destas coisas em comum com o mundo, o corpo e a cognição, o método de diferentes equações é aplicado a eventos em todos os níveis de analise do tempo”.

2 Controle inibitório e atenção

Pesquisas têm mostrado que crianças bi/multilingues que usam efetivamente duas ou mais línguas desenvolvem alguns mecanismos da cognição mais precocemente que as monolíngues (Bialystock, 2001). Salienta-se que os referidos mecanismos não são necessariamente relativos à linguagem, mas a tarefas de função executiva não-verbais como inibição e atenção, por exemplo.

As funções executivas referem-se à capacidade do sujeito de engajar-se em comportamento orientado a objetivos, realizando ações voluntárias, independentes, auto-organizadas e direcionadas a metas específicas (Ardila & Ostrosky-Solís, 1996). Suas bases neurológicas encontram-se no córtex pré-frontal, especialmente no córtex pré-frontal lateral e no giro cingulado anterior (Duncan, Johnson, Swales & Frees, 1997; Gazzaniga, Ivry & Mangun, 2002). O controle inibitório é um componente dos processos executivos e refere-se à capacidade de responder apropriadamente a estímulos, inibindo respostas não-coerentes.

Para Eslinger (2003), o cérebro humano tem uma notável plasticidade: a habilidade de ser modelado e modificado pelo crescimento de conexões novas e mais complexas entre células. Alguns neurônios desenvolvem até 50.000 conexões, um número espantoso quando se considera que existem bilhões de neurônios no cérebro. A propriedade básica do córtex cerebral (as camadas externas nas convoluções cerebrais) é armazenar informação. Embora não se entenda exatamente como ocorre tal armazenamento, está claro que ele ocorre em múltiplas áreas corticais devotadas a diferentes tipos de memória. Algumas áreas se desenvolvem em sistemas de conhecimento que surgem das memórias lingüísticas, visuo-espaciais ou motoras. Outras regiões do cérebro armazenam informações a respeito de experiências emocionais e, para unidades de memória maiores, tais como completar um trabalho de casa, ou conseguir um emprego de professor. Portanto, aprendizado e memória não estão limitados a um único sistema neural ou processo. Existem múltiplos sistemas de memória, espalhados por diferentes áreas cerebrais, com conexões e vias que podem interconectá-las em distintos meios, variando até mesmo de individuo para individuo.

Cappovila et. al. (2003) afirma que o córtex pré-frontal, que ocupa quase um terço da massa total do córtex, mantém relações múltiplas e quase sempre recíprocas com inúmeras outras estruturas encefálicas. Tais relações correspondem a conexões com regiões de associação do córtex parietal, temporal e occipital, bem como com diversas estruturas subcorticais, especialmente com o tálamo, e possui as únicas representações corticais de informações provenientes do sistema límbico.

Neste artigo são apresentadas duas tarefas de controle inibitório: a tarefa de Simon (Simon Task) e o

teste Stroop, que serão descritos mais adiante. Essas tarefas foram adaptadas de estudos realizados por

Bialystock (2001), cujo trabalho serve de fonte inspiradora para este artigo, que é um recorte da minha dissertação de mestrado, em andamento.

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Define-se multilingue como o indivíduo capaz de se comunicar em três ou mais línguas com certo grau de proficiência (BIALYSTOK, 2001). É importante frisar aqui que não se considera um bilíngue como a soma de dois monolíngues, pois, de acordo com Grosjean (1996), os bilíngues raramente desenvolvem a mesma fluência nas duas línguas. Entretanto, observam-se grandes benefícios para os bilíngües em processamentos cognitivos específicos, como as funções executivas do controle inibitório e da atenção. Segundo Bialystock (2001), as duas línguas de um bilíngüe permanecem constantemente ativas durante o processamento de uma. A vantagem de ser bilíngue está nos processos complexos que requerem controle executivo e controles inibitórios, que podem ser avaliados em algumas tarefas de memória de trabalho, assim como em situações nas quais é necessário inibir informações adicionais.

Bilíngues fluentes, que usam habitualmente as duas línguas, nas quais são altamente proficientes, lidam regularmente com o controle de atenção, que é usado para atingir alta performance na língua mais relevante para o momento e resistir a informações da outra língua (SMITH, 1997). Para o gerenciamento entre as línguas em competição, Green (1998) propõe o modelo de sistema inibitório, no qual a língua não relevante é suprimida pelo mesmo mecanismo das funções executivas usado geralmente para controlar atenção e inibição. Se esta afirmação estiver correta, então os resultados dos testes realizados com sujeitos bilíngües e multilingües avaliados neste trabalho expressarão resultados diferentes dos monolíngues que realizaram os mesmos testes.

4 Método

Em Arroio do Padre RS, assim como em outras pequenas cidades (menos de três mil habitantes) do Brasil, os munícipes convivem em comunidade, preservando mais facilmente sua cultura e por conseqüência sua língua, que neste caso é o pomerano (L1), língua extinta em seu país de origem e o alemão. Há, porém, algumas famílias oriundas ou de outras localidades ou remanescentes de quilombolas não falam nem pomerano, nem alemão.

É na escola que a criança tem seu primeiro contato com falantes fluentes do português, não são raras as vezes em que o aluno chega a escola sem saber sequer uma palavra em português, e como as professoras não são residentes desta comunidade, não sabem pomerano, então a criança tem a real necessidade de aprender sua segunda língua, o português. Há casos em que os avós falam alemão além do pomerano, então considera-se o português como terceira língua.

Na terceira série do ensino fundamental começa a ser ensinada a língua inglesa, de uma maneira lúdica e dinâmica, e pode-se dizer até natural, pois não parece haver barreiras para que esta língua seja aprendida, tornando-se a terceira ou quarta língua deste multilingue.

Quarenta participantes divididos em dois grupos, compostos respectivamente por vinte crianças bilíngues e vinte crianças monolíngues, cursando a terceira e a quarta séries em escolas municipais de Arroio do Padre, foram submetidas à tarefa de Simon e ao teste Stroop.

A necessidade constante da troca de língua no dia a dia do falante bilíngüe pode também ampliar a sua habilidade em executar o controle inibitório em domínios não verbais, como se procura mostrar neste trabalho.

5 Experimentos de coleta de dados: Simon task e Stroop Test

A Tarefa de Simon consiste em um exercício de estímulo-resposta que simula a representação dos

dois hemicampos visuais, os dois hemisférios cerebrais e os dois efetores (mão esquerda e mão direita). Um estímulo localizado à esquerda projeta-se para o hemisfério direito, o qual controla a mão esquerda. Da mesma forma, um estímulo localizado à direita projeta-se para o hemisfério esquerdo, o qual controla a mão direita. Para um estímulo localizado à esquerda desencadear uma resposta com a mão direita, é necessário que a ativação dos neurônios do hemisfério direito seja de alguma forma transferida para o hemisfério esquerdo. Isto é feito através dos sistemas de fibras comissurais que conectam os dois hemisférios cerebrais, sendo o corpo caloso a principal comissura do cérebro humano.

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Considerando agora um estímulo localizado à direita, a projeção deste para o hemisfério esquerdo poderia provocar diretamente uma resposta com a mão direita (condição congruente). Por outro lado, uma resposta com a mão esquerda dependeria do cruzamento da informação do hemisfério esquerdo para o hemisfério direito, o qual, então, desencadearia a resposta com a mão esquerda (estímulo à direita - resposta com a mão esquerda – condição incongruente), conforme está demonstrado na figura 1.

Figura 1- Esquema representando as quatro condições: Compatível não cruzada, Compatível cruzada, Incompatível não – cruzada e Incompatível cruzada.

Quando a tecla correta corresponde à posição do estimulo na tela, a tentativa é congruente porque ambas cor e posição convergem na mesma resposta; quando a tecla e o estimulo estão em posições opostas, a tentativa é incongruente. Neste caso a posição deve ser ignorada porque a resposta correta determinada apenas pela cor do estimulo. O aumento do tempo de reação a uma tentativa incongruente relativa a uma tentativa congruente é o efeito de Simon (SIMON, 1969).

Esta tarefa age da mesma maneira que as outras funções executivas no cérebro humano: dois estímulos competem pela atenção da criança: um com informação relevante não saliente e outro com informação irrelevante e saliente.

O experimento tem na sua constituição quadrados de cores marrom, azul, verde, rosa, amarelo e

vermelho, que são os estímulos. Na primeira seção, aparecem os estímulos marrom e azul. São dadas instruções ao participante para que ele aperte a tecla 1 – lado esquerdo do teclado – para cada vez que apareça o quadrado azul, e que ele aperte a tecla 0 – lado direito do teclado – para cada aparecimento do quadrado marrom. A seção inicia-se sempre pelo sinal de +, o qual separa os estímulos. Antes da execução de cada etapa da tarefa, há uma etapa de treinamento, onde o sujeito deve obter 100% de aproveitamento, do contrário, repetirá a seção de prática.

Na primeira parte, uma série de quadrados, marrons ou azuis, aparece no meio da tela do computador. A segunda seção segue as mesmas instruções; no entanto, os quadrados aparecem dos lados direito e esquerdo. Essas posições correspondem aos critérios de congruência e incongruência. Se o sujeito tiver um quadrado à sua direita e a tecla correspondente for a número 1, terá, então, uma situação de incongruência, conforme explicado anteriormente Na seção seguinte, o nível de dificuldade aumenta. São apresentadas quatro instruções separadamente, sendo que uma mesma tecla corresponde a duas cores. Portanto, têm-se quatro cores envolvidas e, novamente, as teclas 1 e 0. Depois de outro treinamento, essa

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nova etapa inicia-se. Ela constitui-se de quadrados centralizados. Depois que termina, começa uma nova etapa com os quatro estímulos vindo nos lados direito e esquerdo. O aumento da quantidade dos estímulos demanda também um maior esforço da memória de trabalho nessas etapas.

São realizadas essas quatro etapas e, por conseguinte, elas são feitas novamente em uma ordem inversa. Para facilitar a compreensão do teste inteiro, composto de todas as suas etapas, pode-se visualizar um esquema ilustrativo na figura 2.

300 ms indeterminado 300 ms 500 ms + + Instruções Tempo de apresentação livre (...)

1ª condição: centro 2 cores

500 ms Sessão de prática: 4 tentativas até 100% indeterminado Sessão de testagem: 24 trialsrandomizadas 300 ms indeterminado 300 ms 500 ms + + Tela de transição Tempo de

apresentação livre indeterminado 500 ms

(...)

2ª condição: lados 2 cores

300 ms indeterminado 300 ms 500 ms + + Instruções Tempo de

apresentação livre indeterminado 500 ms

Sessão de testagem: 24 trials randomizadas 300 ms indeterminado 300 ms 500 ms + + Tela de transição Tempo de

apresentação livre indeterminado 500 ms

(...)

(...) Sessão de prática:

4 tentativas até 100%

3ª condição: centro 4 cores

300 ms livre 300 ms 500 ms + + Instru-ções Tempo livre livre 500 ms Sessão de testagem: 24 trials randomizadas Tela de transi-ção Tempo livre + 300 ms livre 500 ms + Sessão de prática: 8 tentativas até 100% (...) 300 ms livre 500 ms + + 500 ms livre + 300 ms livre 500 ms + (...) 300 ms livre livre 300 ms

3ª condição: lados 4 cores Sessão de prática: 8 tentativas até 100% 300 ms livre 300 ms 500 ms + + Instru-ções 500 ms livre Sessão de testagem: 24 trialsrandomizadas Tela de transi-ção + 300 ms livre 500 ms + 300 ms livre 500 ms + + 500 ms livre + 300 ms livre 500 ms + (...) 300 ms livre livre 300 ms (...)

Figura 2 – Desenho experimental com todas as condições testadas na tarefa de Simon.

O teste de Stroop, por sua vez, consiste na nomeação de cores e leitura de palavras. O tempo de leitura dos nomes das cores é comparado com o tempo e a acurácia da leitura das palavras. Isto demonstra a comparação do efeito de interferência do estímulo da cor sobre a leitura dos nomes das cores. Estes dois tipos de estímulos foram apresentados aleatoriamente. Sendo assim, se a palavra“vermelho” estava impressa em azul, o que deveria ser lido era a palavra e não a cor, neste caso a opção correta é o vermelho. Neste teste,

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mede-se o tempo de reação e a acurácia na presença do estimulo conflitante ou incongruente. Foram também apresentados nomes de cores, nomes de cores com a correspondente tinta, por exemplo “vermelho” escrito com tinta vermelha.

Para a realização deste teste foi utilizado um computador laptop no qual os sujeitos deveriam pressionar as teclas 1 e 0 do teclado do computador conforme as cores que apareciam na tela, por exemplo, estava escrito em letras azuis a palavras “vermelho” e havia duas opções de resposta: 1 para azul e 0 para vermelho, neste caso a resposta correta seria vermelho.

6 Análise dos dados e resultados

Nesta seção serão relatados os resultados relativos ao desempenho dos grupos de crianças bilíngües e monolíngues nos dois testes.

Com se pode observar no quadro 1 abaixo, os bilíngues atingem melhores resultados tanto no tempo de reação, que é visivelmente menor, quanto no número de acertos, inclusive nas tarefas incongruentes, que são consideradas com maior grau de dificuldade.

Quadro 1 - Resultados da tarefa de Simon

A média dos resultados do tempo de reação no Teste de Simon com duas cores central, dos participantes bilíngües é de 834ms, relevantemente menor do que a dos monolíngues que é de 16196,15 ms. O mesmo ocorre quando quatro cores foram inseridas do teste tendo os bilíngues alcançado 997,90 ms e os monolíngues uma média de 25445,09. Observa-se também que a diferença na taxa de erro de um grupo para o outro é de no mínimo 6%.

Outro item importante é a diferença do tempo de reação entre as tarefas congruentes e incongruentes. Ao realizarem as tarefas congruentes com dois estímulos de cores os bilíngues obtiveram 851,87ms enquanto os monolíngues 6156,38ms. Nas tarefas com quatro estímulos de cores os bilíngües atingiram 1068,17ms enquanto os monolíngues 8351,84ms. Semelhantes respostas aparecem com os itens incongruentes. Com duas cores os bilíngues apresentam 915,36ms e os monolíngues 6031,56. Com quatro cores os bilíngues obtiveram 1062,71ms enquanto os monolíngues 8367,51ms.

O aumento de tempo necessário para responder os itens incongruentes é o efeito de Simon. O resultado da pesquisa assemelha-se ao de Bialystock (2001) o qual mostrou que pessoas bilíngues desenvolviam processos de controle ligados à memória de trabalho mais rapidamente do que monolíngues, como pode ser observado no quadro 1.

O teste Stroop foi realizado em duas versões. Primeiro aplicou-se o teste em português. Durante a aplicação, detectou-se a necessidade de “traduzi-lo” para o pomerano, pois os sujeitos o estavam realizando em língua estrangeira, o que poderia trazer prejuízos aos resultados. Como o pomerano é uma língua ágrafa, optou-se por solicitar aos sujeitos da pesquisa que transcrevessem os nomes das cores de maneira que

Língua de cores Central (ms) Acuracia (%) Congruentes (ms) Incongruentes (ms) Efeito Simon Acurácia (%) 2 16193,15

87,81%

6156,38 6031,56

124,82 84,90%

Monolingües 4 25445,09

85,27%

8351,84 8367,51

-15,67

88,90%

2 834

94.83%

851,87 915,36

-63,49 91,16%

Bilíngües 4 997,90

92,66%

1068,17 1062,71

5,46

90,91%

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reconhecessem sua escrita. Após, foi inserido no programa do computador as palavras correspondentes aos nomes das cores em pomerano e realizado o teste novamente.

TESTE EM

POMERANO

Congruente (ms) Acurácia (%) Incongruente (ms) Acurácia (%)

Bilíngües 2247,33 100% 2288,62 100%

Quadro2 - Resultados do teste Stroop em pomerano.

O quadro 2 mostra os resultados do teste de Stroop, cujas palavras estavam escritas em pomerano, ou seja na L1 dos alunos observa-se taxa de erros zero e com irrelevante diferença no tempo de reação das tarefas congruentes, 2247,33ms, para as incongruentes 2288,62ms.

TESTE EM

PORTUGUÊS

Congruente (ms) Acurácia (%) Incongruente (ms) Acurácia (%)

Bilíngües 2447,00 96,25% 2600,696 88,75%

Quadro 3- Resultados do teste Stroop em português (L2).

No quadro três, estão expressos os resultados do mesmo teste do quadro dois, porém com as palavras escritas em português, ou seja L2 dos participantes, e pode-se notar a diferença na taxa de acertos que baixou de 100% para 96,25%, nos itens congruentes e 88, 75% nos incongruentes.

Assim como havia sido previsto, no teste realizado na língua materna, os resultados foram mais expressivos, havendo inclusive cem por cento de acurácia.

Elen Bialystock (2008, p.91) expressa exatamente o que pode servir de conclusão para este trabalho:

“todas as crianças bilíngues desempenharam as tarefas de inibição mais eficientemente do que as monolíngues.[...] Em suma, o desenvolvimento do controle de atenção que é parte das funções executivas e é usado para selecionar pistas para atingir um objetivo quando há situações conflitantes é mais avançado em crianças bilíngues do que em monolíngues. A vantagem não está somente na inibição – em tarefas que requerem inibição de respostas habituais . Os bilíngües estão constantemente controlando a atenção entre dois sistemas lingüísticos ativos e em competição para que a comunicação proceda fluentemente. Bialystock (2008, p.91)”

Considerações finais

Fica registrada, para estudos futuros, a ampliação do número de sujeitos e a diversificação dos testes de atenção e controle inibitório para que se confirmem as possibilidades averiguadas neste estudo.

Além dos possíveis ganhos acadêmicos e/ou científicos que este trabalho possa trazer, é demasiadamente importante para a comunidade arroio-padrense, onde foram coletados os dados desta pesquisa, a participação e tudo que integra um evento deste tipo, que serviu de mola propulsora para a motivação dos alunos em sala de aula, desencadeando assim, um ganho ainda maior para todos.

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Referências

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