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* * * A Europa vive um momento sensível e significativo no seu processo de integração.

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Academic year: 2021

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1 Senhores e Senhoras

Quero começar por agradecer o convite da Universidade e em particular da Escola de Direito do Minho, para estar aqui presente e que muito me deixou honrado.

Esta oportunidade de participar numa reflexão com o douto painel desta conferência e partilhar com a academia as minhas reflexões, são para mim forte motivo de orgulho.

* * *

A Europa vive um momento sensível e significativo no seu processo de integração.

Envolvida por uma crise que se iniciou no estados da Zona Euro, tal permitiu um contágio às restantes económicas e redundou num teste ao seu funcionamento.

Os céticos lançam vitupérios sobre o projeto da União Europeia e sobre a moeda única. Os Estados e as estruturas responderam com vigor, embora nem sempre com a eficácia que se exigia.

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2 Num curto período de tempo possível aos Estados Membros aprovar um Tratado europeu – O que cria o “Mecanismo de Estabilidade Económica”, um tratado internacional – o “Tratado sobre Estabilidade, Coordenação e Governação na UEM” - vários pacotes legislativos: o “ Six pack”, o “ Two pack”, o instrumento de cooperação reforçada que cria as “taxas sobre as transações financeiras”, e o novo regime jurídico que lança as bases da “Supervisão e União Bancária”.

Erguem-se assim as fundações da União Europeia e Monetária. Em reação às fragilidades do sector financeiro e dos desequilíbrios macroeconómicos, constroem-se os alicerces do Euro enquanto instrumento de excelência do ideal europeu de integração dos povos, de nacionalidades e de culturas.

Europa significa responsabilidade, estabilidade e solidariedade.

Responsabilidade pela construção de um projeto para as gerações

futuras, assente no ideal de paz, mas igualmente de bem-estar e de qualidade de vida.

Estabilidade, porque a Europa carece de um quadro normativo e

decisório assente em formas flexíveis mas duradouras que consagrem regras iguais pata todos e que permita, normalmente, tomar as decisões necessárias.

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Solidariedade, na medida em que todos concorrem para as mesmas

finalidades suportando de forma partilhada as dificuldades, e beneficiando das sinergias que a diversidade de cada Estado pode transpor para a realidade vivida na heterogeneidade que fixa valores e princípios iguais.

O recente “relatório dos quatro presidentes” e o blueprint da Comissão propõe medidas de gestão da crise, mas também propostas de longo prazo sobre o modelo institucional e político da União.

Mas é preciso reconhecer a dimensão e a ambição das medidas que já foram tomadas com o objetivo de reforçar a arquitetura da União Económica e Monetária: a criação de mecanismos de gestão de crise; o reforço da disciplina orçamental; os avanços da União Bancária; e, finalmente, o reforço da coordenação das politicas económicas.

O Mecanismo Europeu de Estabilidade entrou em vigor em Outubro de 2012 e é hoje a instituição financeira internacional mais capitalizada do mundo e o maior instrumento regional de proteção financeira.

O reforço das regras de disciplina orçamental, com o “Six pack”, o Tratado Orçamental e o “Two pack”, dispomos de um enquadramento normativo adequado para a concretização da união monetária.

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4 Estes novos instrumentos implicam:

• o processo de monitorização e alerta precoce sobre os indicadores macroeconómicos;

• a adoção pelos países europeus da chamada “regra de ouro”,

• o reforço da coordenação das politicas orçamentais dos Estados Membros.

No âmbito da coordenação das políticas económicas, o Semestre Europeu – lançado este ano pela terceira vez – é o principal instrumento ao dispor da União. Falta agora introduzir a dimensão social neste domínio.

A Europa assente na Democracia e na Paz desempenha um factor de estabilidade entre o Norte e o Sul e o oriente e o Ocidente, entre os países desenvolvidos e os países em vias de desenvolvimento.

Ao longo da história mais recente, Portugal tem assumido esta tripla dimensão: responsabilidade, estabilidade e solidariedade. Em momentos diferentes foram chamados a participar em todas as decisões europeias: do alargamento à paz nos Balcãs, às contribuições e aos recebimentos, à disciplina orçamental, ao controle das finanças públicas.

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5 O reconhecimento do papel de Portugal fica bem visível no facto de ser um Português a presidir à Comissão Europeia.

O reconhecimento do papel do nosso País fica claro no apoio perante as dificuldades financeiras, na forma como são acolhidos os nossos compatriotas.

Neste quadro Portugal tem desempenhado o seu papel de responsabilidade, cumprindo as obrigações assumidas no quadro do programa de Assistência Técnica ou Financeira.

É este reconhecimento que permite que o Programa tenha sido ajustado em função da evolução menos positiva da situação económica europeia.

Foi este reconhecimento que tem permitido que a pouco e pouco Portugal regresse por si só aos mercados financeiros, como sucedeu na troca de 3,7 milhões de Euros de obrigações de 2013 para 2015, ou que se tenha colocado, de forma sucessiva, vários milhões de Euros de obrigações cuja procura tem excedido em muito a oferta com taxas de juro abaixo de valores de 2011, antes da intervenção externa.

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6 Portugal é reconhecido perante a opinião publica internacional face aos seus comportamentos de cumpridor:

• Em 2012 a quota de exportações aumentou de 25 % para quase 30%,

• Assumimos a liderança pela necessidade da reindustrialização da Europa – a competitividade europeia é o primeiro passo para o renascimento e a criação de novos empregos;

• Lideramos as iniciativas de consolidação do espírito dos países de coesão que assim consagrou numa proposta de um novo Quadro Financeiro Plurianual para o período de 2014-2020 donde se sobressai o apoio à Coesão e à Agricultura como instrumentos para o nosso desenvolvimento.

A competitividade europeia passa em grande medida pela consolidação do Mercado Interno, o que implica a atempada adoção da legislação europeia.

O défice de transposição de diretivas da U.E. passou de 6,3 % em 1997 para os 0,6 % em 2012.

Portugal regista uma clara melhoria passando de 1,4 % para 1,1 % tendo transposto 94 diretivas europeias em 2012 e apresenta-se atualmente como não dispondo de nenhuma diretiva em atraso.

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7 Como é do conhecimento de todos, o direito penal constitui uma competência dos Estados Membros, sendo uma manifestação de soberania nacional, através da qual os direitos fundamentais dos cidadãos são protegidos, assegurando liberdade e segurança.

À medida que a integração europeia se concretiza com o Tratado de Maastricht e no âmbito do 3º pilar, a cooperação judicial tornou-se matéria de interesse comum para os Estados na sua dimensão comunitária.

O Tratado de Amesterdão reforçou este objectivo da União de se tornar num domínio de liberdade, segurança e justiça.

O Acordo de Schengen constitui um momento legalmente relevante pela integração destas matérias ao nível dos Estados e proporcionou um enquadramento legislativo para um novo impulso jurídico.

O Tratado de Lisboa aprofunda significativamente esta situação nomeadamente criando o quadro legal para o domínio para uma justiça criminal europeia na jurisdicionalização da Carta dos Direitos Fundamentais.

Nos termos do Tratado de funcionamento da União Europeia (artigo 82º) pode agora o Parlamento Europeu e o Conselho estabelecer regras mínimas de reconhecimento de sentenças e a cooperação policial e judicial toma dimensão além-fronteiras.

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8 Neste quadro de reforço do princípio da legalidade surge com fundamento a protecção dos direitos individuais.

Direitos que no caso de arguidos e vítimas se tornaram prioridade do Programa de Estocolmo para a área da Liberdade, Segurança e Justiça entre 2010-2014.

O Programa de Estocolmo estabelece as prioridades da União Europeia (UE) para o espaço de justiça, liberdade e segurança para o período de 2010 a 2014. Com base nos resultados dos seus antecessores, programas de Tampere e da Haia, este programa visa dar resposta aos desafios futuros e fortalecer o espaço de justiça, liberdade e segurança com acções centradas nos interesses e nas necessidades dos cidadãos.

É neste quadro que se inserem as duas diretivas que se encontram em discussão nesta conferência: A Diretiva 2010/64/UE do Parlamento Europeu e do Conselho de 20 de outubro de 2010 (relativa ao direito à interpretação e tradução em processo penal) e cujo prazo termina em 27 de outubro de 2013 e a Diretiva 2012/94/UE do Parlamento Europeu e do Conselho de 25 de outubro de 2012 (relativa aos direitos, apoios e à proteção das vitimas da criminalidade) cujo prazo de transposição termina apenas em 16 de junho de 2015.

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9 A directiva é um ato jurídico. Obrigatório e vinculado pata os estados-Membros. Constitui um comando aos Estados-Membros para aplicarem as políticas europeias no sentido da harmonização das legislações nacionais.

A Diretiva 2012/29/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de outubro de 2012, que estabelece normas mínimas relativas aos direitos, ao apoio e à proteção das vítimas da criminalidade e que substitui a Decisão-Quadro 2001/220/JAI do Conselho.

Esta Diretiva tem como objetivo central garantir que as vítimas da criminalidade beneficiem de informação, apoio e proteção adequados e possam participar no processo penal e constitui um bom exemplo de um direito Penal moderno, preocupado não apenas com a perseguição penal e condenação dos autores de crimes, mas sobretudo virado para a proteção das vítimas desses crimes.

Os Estados-membros devem, assim, garantir que todas as vítimas sejam reconhecidas e tratadas com respeito, tato e profissionalismo e de forma personalizada e não discriminatória em todos os contactos com serviços e com as autoridades em processos penais.

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10 Os direitos previstos na presente diretiva aplicam-se às vítimas de forma não discriminatória, nomeadamente no que respeita ao seu estatuto de residência.

Realce para o facto de se atender em particular ao interesse caso a vítima seja uma criança, tendo em conta a idade, a maturidade, os pontos de vista, as necessidades e as suas preocupações. A criança e o titular da responsabilidade parental ou outro representante legal, caso exista, devem ser informados de todas as medidas ou direitos especificamente centrados na criança.

A diretiva consagra um conjunto de direitos das vítimas, nomeadamente o direito a compreender e ser compreendida, a receber informações, a interpretação e tradução e o de acesso aos serviços de apoio às vítimas. Além disso, as vítimas têm direito, nomeadamente, a ser ouvidas, a uma decisão de indemnização pelo autor do crime, a apoio judiciário, à restituição de bens, além de outros direitos relacionados com necessidades especiais de proteção.

Um cidadão estrangeiro que seja detido em Portugal, ou vice-versa, vai ter direito a interpretação durante os interrogatórios policiais, durante as audiências no tribunal e para as comunicações com o seu advogado. Bem como os documentos essenciais do processo devem ser traduzidos para uma língua que compreenda.

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11 A Diretiva 2010/64/UE, aprovada esmagadoramente por 637 votos a favor, 21 contra e 19 abstenções, estabelece normas comuns aplicáveis à interpretação e à tradução em processos penais na UE.

Assim, qualquer cidadão terá direito a interpretação e a tradução para a sua língua materna ou para uma língua que compreenda e que lhe permita exercer plenamente o direito de se defender. Tal inclui acusação ou qualquer decisão judicial que lhe diga respeito.

Aos Estados-Membros cabe-lhes suportar os custos de interpretação e de tradução dela decorrentes, independentemente do resultado do processo.

O facto de os governos dos Estados-Membros não terem chegado a acordo inviabilizou a primeira tentativa de um instrumento jurídico comunitário para garantir uma maior homogeneidade ao nível das garantias processuais em todo o território da União.

Esta nova abordagem gradual que começou pelo direito à tradução e à interpretação, no âmbito dos processos penais, e é a primeira de seis medidas previstas no roteiro de Estocolmo.

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12 Actualmente, o direito à tradução escrita de documentos importantes do processo não existe em todos os Estados-Membros. E, nem sempre é garantido, o direito à interpretação entre o suspeito e o seu advogado. Esta directiva permite conferir estes direitos a qualquer pessoa suspeita ou acusada da prática de uma infracção penal até ao termo do processo.

Sublinhe-se especialmente a tradução escrita dos documentos essenciais do processo e a garantia que o nível de protecção nunca deverá ser inferior ao previsto na Convenção Europeia dos Direitos do Homem e na Carta Europeia dos Direitos Fundamentais.

Temos de tornar evidente que estamos a construir de forma coerente a Europa da JUSTIÇA e não apenas a Europa da SEGURANÇA e a Europa da ECONOMIA.

Um dos objectivos da União Europeia é proporcionar aos cidadãos um elevado nível de segurança nos domínios da Liberdade, Direitos e Garantias.

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13 Em muitos casos, os Estados preferem combater criminalidade em vez de proteger os direitos fundamentais dos cidadãos.

Naturalmente que a liberdade de circulação enquanto um dos pilares da realização europeia também se tem de concretizar neste domínio.

Nomeadamente através da protecção dos direitos dos cidadãos no domínio do crime. Trata-se de salvaguardar a protecção dos direitos das vítimas, quer através do tratamento igual mas igualmente através da facilitação de meios de apoio.

Não se pode ser vítima de crime e ainda vítima da adversidade do sistema.

É necessário proteger adequadamente a vítima assegurando o respeito pela dignidade pessoal, segurança e privacidade.

Daí deriva o acesso à informação e apoio de serviços, percepção da situação e protecção durante a investigação com o objectivo de salvaguardar o acesso efectivo à justiça para assegurar os direitos fundamentais.

O estabelecimento de regras comuns na União constitui peça essencial para a confiança nos sistemas criminais dos Estados Membros, assegurando os direitos fundamentais numa Europa mais desenvolvida, mais livre e mais justa.

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14 A cidadania europeia deve passar de uma ideia abstracta a uma realidade concreta.

Deve conferir aos nacionais da UE os direitos e as liberdades fundamentais estabelecidos na Carta dos Direitos Fundamentais e na Convenção Europeia para a Protecção dos Direitos do Homem.

Os cidadãos europeus devem ter a possibilidade de exercer esses direitos tanto no interior como no exterior da UE, sabendo que a sua privacidade é respeitada, nomeadamente em matéria de protecção dos dados pessoais

A Europa constrói-se com as grandes decisões tomadas em concertação de representação política soberana e na sua dimensão supranacional. A decisão política é determinante no Conselho Europeu mas igualmente é determinante o modo como esse consenso é alcançado.

Mas constrói-se no empenho de todos os cidadãos atentos aos seus direitos mais elementares, de modo heterogéneo, pelo respeito da diferença, na transversalidade dos princípios, na sobrelevação dos valores.

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15 A construção da Europa dos cidadãos tem de estar alicerçada na aceitação das regras comuns da construção do Estado de Direito e principalmente, de respeito, salvaguarda e implementação dos Direitos Humanos e assente nos princípios da liberdade, da justiça, da igualdade e da solidariedade entre os povos da Europa.

Habemus

Europa! E cada vez mais, União.

António Rodrigues Deputado Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PSD

Referências

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