“FANTASMA”
C-47 em combate no Século XXI
Roberto Portella Bertazzo, Bacharel em História pela UFJF e Membro da Sociedade Latino Americana de Historiadores Aeronáuticos (LAAHS)
Membro de Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa” da UFJF.
robertobertazzo@hotmail.com
Mais de 60 anos após seu primeiro vôo, aviões Douglas DC-3/C-47, modernizados e remotorizados estão atualmente combatendo as forças terroristas na Colômbia.
O uso dos C-47 como avião de ataque remonta à Guerra do Vietnam, quando a Força Aérea Americana (USAF) adaptou alguns destes aviões com armas de grande poder de fogo, desde metralhadoras .50 a canhões rotativos minigun 7.62mm. Os aviões foram designados AC-47 e prestaram serviços até serem complementados e substituídos pelos
AC-119 e AC-130 que atualmente operam na USAF.
AC-47 Gunship com canhões minigun em operação no Vietnã nos anos 60/70 sendo recebendo munição 7.62mm e interior do avião com o canhão rotativo montado em uma das janelas. (Crédito das fotos: USAF)
A grande vantagem de se utilizar aviões de transporte nestas missões está na sua grande autonomia e capacidade de transportar enormes quantidades de munição, podendo ficar por horas seguidas defendendo uma área, coisa impossível para um caça-bombardeiro. A Força Aérea Colombiana - FAC recebeu seus primeiros Douglas C-47 em 1944. O êxito destes aviões na Colômbia levou a que seguissem em operação quando nas décadas de setenta e oitenta, a maioria dos países sul americanos os retiraram de serviço.
Douglas C-47 da Força Aérea Colômbia que serviu como plataforma para os futuros AC-47T Fantasma. (Crédito da foto: FAC)
A necessidade de continuar operando os AC-47, e a falta de um substituto adequado, levou a que estas aeronaves fossem modernizadas pela companhia americana
Basler Turbo Conversions, baseada em Oshkosh, estado de Wisconsin.
A Basler desenvolveu na década de noventa um kit de modernização para os antigos DC-3/C-47 que passaram a ser denominados Basler BT-67. O primeiro cliente foi El Salvador, que recebeu o primeiro avião em 1990. Até o momento, aproximadamente cinqüenta conversões já foram feitas por um custo unitário aproximado de cinco milhões de dólares.
Na reconstrução, os motores originais a pistão Pratt and Whitney R-1830 Twin Wasp, são substituídos por turbo-hélice Pratt and Whitney PT-6A-67R. A fuselagem é aumentada em 88 centímetros. A cabine é totalmente reconstruída com novos instrumentos. As superfícies móveis de tela são substituídas por metal. Já as asas são reforçadas e aumentadas nas pontas e tanques de combustível dando maior autonomia. Por fim, um novo radome de composite foi instalado.
AC-47T Fantasma em vôo. Notar os novos motores e a pintura em cinza claro com marcações de baixa visibilidade. (Crédito da foto: FAC)
A FAC recebeu seus primeiros BT-67 em 1991. Estes aviões são denominados
AC-47T Fantasma na Colômbia e são configurados com armas nas janelas e Flir (Câmeras
infra vermelhas). A FAC já recebeu sete aviões e aguarda mais três serem modernizados pela Basler. A Policia Nacional da Colômbia opera três BT-67 como transportes e espera receber mais três.
AC-47T (Basler BT-67) da Força Aérea Colombiana e sua tripulação, à esquerda. Á direita detalhe da parte frontal e FLIR . (Crédito das fotos: FAC)
Os AC-47T são denominados fantasmas porque operam quase sempre à noite, são difíceis de se observar e silenciosos. Os Fantasmas operam normalmente com oito tripulantes, sendo que o piloto é responsável pelos disparos e por voar a aeronave, o co-piloto mantém os parâmetros de tiro, inclinação lateral, altitude, velocidade. O navegador é responsável pela navegação e pela câmara FLIR. Um técnico de vôo é responsável pelo funcionamento do motor e transferência de combustível. Os outros três tripulantes cumprem a função de armeiros, cada um responsável por uma metralhadora de 12,5 mm (Browning.50).
Na janela do piloto, existe uma pequena mira que permite enfocar o alvo e disparar. Os disparos sempre são feito desde um ângulo de 25 graus.
Detalhe da cabine de pilotagem e três metralhadoras Browning .50 nas janelas atrás da asa. (Crédito das fotos: FAC)
Os Fantasmas também operam como sinalizadores de alvos para outros aviões de combate. Sua autonomia operacional é de cinco horas e eles voam normalmente a quatro mil pés de altura sobre o terreno.
A típica missão dos Fantasmas é de reação e começa quando um povoado é ameaçado por forças guerrilheiras. O primeiro alvo dos terroristas sempre é o quartel da polícia. A chegada do apoio dos AC-47T muitas vezes decide o resultado dos combates e sempre eleva o moral das tropas em terra.
Às 05:30 da manhã do dia 8 agosto de 2003, forças guerrilheiras das FARC
(Fuerzas Armadas Revolucionárias de Colômbia) tomaram o povoado de Milan. (Milan
é um povoado de quatro ruas, dois mil habitantes com um posto de polícia, uma igreja e uma escola), situado a aproximadamente 20 Km da cidade de Florência.
O Exército Colombiano não pode enviar tropas imediatamente porque estavam responsável pela segurança do Presidente Álvaro Uribe que visitaria Florência neste dia.
Um AC-47T Fantasma e dois Black Hawk armados sobrevoaram Milan todo o dia. Quando o Presidente colombiano regressou à Bogotá, foram iniciadas as operações. Às 20:00 horas chegaram quatro helicópteros Black Hawk de transporte e dois helicópteros
Black Hawk armados, apoiados por dois Embraer T-27 Tucano. O AC-7T Fantasma
funcionou como controlador aéreo.
A primeira ação foi investigar as áreas destinadas ao desembarque das tropas, para evitar emboscadas dos guerrilheiros. Foram efetuados bombardeios de amaciamento, com o FLIR do AC-47T sinalizando os alvos para os T-27 Tucanos. Uma bengala foi lançada e os helicópteros desembarcaram as tropas e regressaram por mais soldados, um total de 250.
O Exército Colombiano libertou então o povoado e encontrou o quartel de polícia atingido por granadas e tiros de fuzil. A população civil estava atemorizada. Não houve feridos. Meia hora depois que os guerrilheiros das FARC chegaram a Milan o AC-47T começou a patrulhar o local, e permaneceu todo o dia.
Helicóptero Black-Hawk armado e Embraer T-27 Tucano. (Crédito das fotos: FAC)
Apesar de ter mais de sessenta anos de uso, os AC-47T da Força Aérea Colombiana são armas muito apreciadas tanto pelas suas tripulações quanto pelas tropas de terra do Exército e da Polícia e muito temidas pelas forças guerrilheiras, que têm que enfrentar as enormes avalanches de fogo que saem destes robustos aviões.
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