• Nenhum resultado encontrado

O ESTUDO DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO E SUA INTERSECÇÃO COM RAÇA E CLASSE SOCIAL.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O ESTUDO DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO E SUA INTERSECÇÃO COM RAÇA E CLASSE SOCIAL."

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

O ESTUDO DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO E SUA INTERSECÇÃO COM

RAÇA E CLASSE SOCIAL.

Ana Paula de Santana Correia1

Resumo: O objetivo deste trabalho é compreender o fenômeno da violência de gênero sob a perspectiva da mulher negra. Propõe se examinar a violência de gênero e suas relações com raça/etnia e a classe social, pois em torno dessas categorias são elaboradas representações sobre a mulher negra. Quando pensamos na constituição da sociedade brasileira, marcadores como gênero, classe e raça/etnia delineiam hierarquias raciais e de gênero produzidas historicamente que vão apontar os lugares vistos como naturais a este grupo e como tais representações simbólicas informam como se situam na sociedade, como são vistas e percebidas.

Palavras-chave: Mulheres Negras. Gênero. Racismo.

Este texto que se apresenta é fruto da minha pesquisa de mestrado, que está em andamento. A referida pesquisa tem como objetivo demostrar como a dinâmica de gênero e sua intersecção com raça e classe marcam de forma diferenciada a vivência de mulheres negras. O estudo procura responder sobre as seguintes questões: a) como os marcadores sociais: gênero, raça e classe operam nas trajetórias sociais das mulheres negras selecionadas? b) como as mulheres pesquisadas pensam sobre as experiências da violência sofrida? Os sujeitos centrais dessa pesquisa são mulheres negras, localizadas na periferia de São Paulo, que passaram por violência conjugal em relacionamento heterossexual, e atendidas no Centro de Defesa Viviane dos Santos, na mesma região.

Para atingir o objetivo proposto, ou seja, tentar responder as perguntas será privilegiado o procedimento de pesquisa qualitativa que se utilizará do método etnográfico. Nessa fase inicial irei abordar alguns conceitos de modo a ampliar o referencial teórico de sustentação deste estudo. Esse primeiro procedimento é essencial na medida em que auxilia na escolha dos sujeitos, bem como para as análises das histórias de vida das mulheres negras agredidas.

Enfim, não se tem a pretensão de generalizar os dados empíricos que serão levantados, uma vez que os mesmos não correspondem há uma (macro) realidade das mulheres negras que vivenciaram violência doméstica conjugal. O primeiro, se não o principal, resultado esperado é conseguir amadurecer e articular de forma científica os principais conceitos desta pesquisa. Tendo em vista que o amadurecimento do olhar e do pensar científico configura e contribui para o

1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - Universidade Federal de São Paulo/UNIFESP. São Paulo-SP.

(2)

conhecimento de questões sociais, neste caso a violência de gênero contra as mulheres, considerando a questão racial como ponto relevante, sempre a ser estudado.

Observa-se uma lacuna com relação ao tema, poucos estudos sobre a violência de gênero contra as mulheres apontam a importância da intersecção de gênero e raça. Acredito na necessidade de se ter o recorte racial, dados sociais que serão apresentados apontam profundas diferenças entre mulheres brancas e negras brasileiras.

A violência de gênero contra as mulheres, embora esteja presente em todas as classes sociais, incide de maneira diferente entre os segmentos mais fragilizados da população, nos quais se incluem as mulheres negras. A ausência de recorde racial na análise do tema da violência, assim como em relação a outros agravos, tem dificultado a identificação das desigualdades a que estão expostas as mulheres negras. Autores (as), principalmente os (as) de grupos de feministas negras, começaram a mostrar que há um agravamento das violências quando a mulher é negra, ocasionada

pelo racismo que gera outras violências2. Quando pensamos na constituição da sociedade brasileira,

marcadores como gênero, classe e raça/etnia delineiam hierarquias raciais e de gênero produzidas historicamente que vão apontar os lugares vistos como naturais a este grupo e como tais representações simbólicas informam como se situam na sociedade, como são vistas e percebidas.

Violência de gênero contra a mulher tem sido considerada qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico á mulher,

tanto no âmbito público como no privado3. Independentemente do tipo de violência praticada contra

as mulheres, ela tem como base comum as desigualdades que predominam na sociedade4. O

conceito de gênero elaborado por Lia Vainer Schucman (2012, p.89) melhor expressa os questionamentos que pretendo abordar, segundo ela gênero é uma forma de problematização, de compreender determinadas relações de poder. Se o gênero está na origem dos processos de significação e de legitimação do poder isso significa que ele não atua independente de outras categorizações sociais. As relações de gênero funcionam por meio de um sistema de signos e símbolos que representam normas, valores e práticas que transformam as diferenças sexuais de homens e mulheres em desigualdades sociais, sendo estas tomadas de maneira hierárquica valorizando o masculino sobre o feminino.

2

Ver Sueli CARNEIRO, 2003; Dossiê sobre a situação das mulheres negras brasileira de Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras [AMNB].

3

CLADEN, 2000. 4

(3)

A autora, Schucman (2012, p.89), compreende a categoria gênero como legitimadora do poder hegemônica atuando concomitantemente com outros marcadores de diferenciação. Essa abordagem é recente. Na história do pensamento feminista a relação com outras diferenciações têm sido tensa, uma vez que algumas correntes consideravam que dar peso a elas debilitava um pressuposto político relevante: a identidade entre mulheres. Os escritos críticos de finais da década de 1980 tendem a reconhecer essas diferenças. Entretanto, esse reconhecimento nem sempre se expressou no plano analítico e, quando ele existiu muitas vezes privilegiou uma única diferença

articulada a gênero5.

O conceito de “raça” usado neste trabalho é o de “raça social” (Guimarães, 2003, p. 96). Isto é, não se trata de um dado biológico, mas de construtos sociais, formas de identidade baseadas numa ideia biológica errônea, mas eficaz socialmente, para construir, manter e reproduzir diferenças e privilégios. Para Guimarães (2003, p.96) se a existência de raças humanas não encontra qualquer comprovação no bojo das ciências biológicas, elas são, contudo, plenamente existentes no mundo social, produtos de formas de classificar e de identificar que orientam as ações dos seres humanos.

Deste modo, Jurema Werneck (2013, p.11) elabora o conceito de racismo como uma ideologia que se realiza nas relações entre pessoas e grupos, no desenho e desenvolvimento das políticas públicas, nas estruturas de governo e nas formas de organização dos Estados. Ou seja, trata-se de um fenômeno de abrangência ampla e complexa que penetra e participa da cultura, da política e da ética. Para isso requisita uma série de instrumentos capazes de mover os processos em favor de seus interesses e necessidades de continuidade, mantendo e perpetuando privilégios e hegemonias. Por sua ampla e complexa atuação, o racismo deve ser reconhecido também como um sistema, uma vez que se organiza e se desenvolve através de estruturas, políticas, práticas e normas capazes de definir oportunidades e valores para pessoas e populações a partir de sua aparência, atuando em diferentes níveis: pessoal, interpessoal e institucional.

O impacto do racismo sobre as relações de gênero

As mulheres negras estão entre os contingentes de maior pobreza e indigência do país. Possuem uma menor escolaridade, com uma taxa de analfabetismo três vezes maior que as mulheres brancas, além de uma menor expectativa de vida. São trabalhadoras informais sem acesso

(4)

á previdência, residentes em ambientes insalubres e responsáveis pelo cuidado e sustento do grupo familiar. As negras estão em sua maioria em postos de trabalho mais vulneráveis e precários e são

minoria nos cargos de direção, gerência ou planejamento6. Segundo dados do IPEA sobre taxa de

desemprego da população de 16 anos ou mais de idade, segundo sexo e cor/raça – Brasil, 2009: os homens brancos estão na margem dos 5,3%; homens negros: 6,6%; mulheres brancas: 9,2%; e mulheres negras: 12,5%. Uma expressão da desigualdade injusta marcada pela linha de cor pode ser vista nos dados sobre a renda média de brasileiros (as) segundo sexo e cor/raça - Brasil, 2009: homens brancos: R$ 1491,00; mulheres brancas: R$ 957,00; homens negros: R$ 833,50; e mulheres

negras: R$ 544,007.

Os dados permitem observar um importante mecanismo de estabelecimento da subordinação racial, a saber, a administração desigual do acesso aos resultados do trabalho coletivo e das riquezas produzidas segundo a raça de indivíduos e grupos. Dizendo de outro modo, poderemos verificar a forma como o racismo permite a apropriação desigual da renda e da riqueza, a partir do

privilegiamento do (a)s brancos (as), especialmente dos homens deste grupo racial8. Para Schucman

(2012, p. 88) ficam evidentes as desigualdades sociais entre brancos e não brancos quanto aos acessos a bens materiais e valores simbólicos. Evidencia-se uma hierarquia em que no topo estão os homens brancos e que vai descendo para as mulheres brancas, homens negros e mulheres negras. Essa realidade resulta de complexos mecanismos de discriminação, preconceito, diferenciação, super exploração, cuja compreensão está na análise das determinações histórico-estruturais em que se articula gênero e raça. Assim, é necessário analisar as variáveis: classe, raça e gênero para compreender as hierarquias da violência.

É necessário o entendimento da intersecção entre gênero e raça para questionar os modos como as representações da feminilidade, também podem articular o racismo, a exemplo, o modo como foi constituída a identidade da mulher negra a partir do olhar ocidental que a definiu como selvagem perigosa, amoral e detentora de uma raça distinta, permitindo a submeter a todo tipo de

violência9. Entretanto, não se trata apenas de afirmar a necessidade de trabalhar com a

multiplicidade de diferenças que marcam corporalmente determinados grupos, segundo as acadêmicas feministas, a questão não se resolve adicionando as diversas formas de opressão na configuração da condição social das mulheres e das relações de gênero, mas percebendo sua

6

Ver Marcelo PAIXÃO; Luiz CARVANO (org) e IPEA [et al.]. Retrato das Desigualdades. 4a edição, 2011. 7

IPEA [et al.]. Retrato das Desigualdades. 4a edição, 2011 8

Jurema WERNECK, 2013. 9

Para entender o processo de construção do discurso civilizador no ocidente que considerou os “outros” – corpos não ocidentais como exóticos e objetos ver FERREIRA e HAMLIN, 2010.

(5)

interconexão, percebendo como elas se intersectam. A “racialização” é pensada como o efeito de um modo cruel e complexo de operação das desigualdades, através do qual se excluem grupos corporalmente marcados (Piscitelli, 1996, p. 12).

O racismo produz discursos que procuram normalizar as diferenças entre os sujeitos, atribuindo-lhes a responsabilidade pelas desigualdades sofridas. Maria Aparecida Silva Bento (2002, p. 25) analisa a categoria negra como construída pelo olhar do branco, que revela mais a sua própria psicologia (a dimensão projetiva da imagem) do que aquela do negro. Segundo ela

[...] considerando (ou quiçá inventando) o seu grupo como padrão de referência de toda uma espécie, a elite fez uma apropriação simbólica crucial quem vem fortalecendo a autoestima e o autoconceito do grupo branco em detrimento dos demais, essa apropriação acaba legitimando sua supremacia econômica, política e social. O outro lado da moeda é o investimento na construção de um imaginário extremamente negativo sobre o negro, que solapa sua identidade racial, danifica sua autoestima, culpa-o pela discriminação que sofre, por fim, justifica as desigualdades raciais (BENTO, 2002, p. 25).

Para a autora procura-se diluir o debate sobre raça analisando apenas a classe social como saída utilizada para não focar o branco e evitar discutir as diferentes dimensões do privilégio, ainda que todos os índices que comparam a situação de trabalhadores negros e brancos explicitarem um déficit muito maior para os negros, em todos os aspectos, saúde, educação, trabalho. Bento (2002, p. 26) ainda questiona o silêncio das militantes nos grupos de feministas e de lideranças do movimento sindical sobre a situação da mulher negra. Para Sueli Carneiro (2003, p. 3c) a origem branca e ocidental do feminismo estabeleceu sua hegemonia na equação das diferenças de gênero, afirma à necessidade de enegrecer o movimento feminista brasileiro, isso significa concretamente, demarcar e instituir na agenda do movimento de mulheres o peso que a questão racial tem na configuração, por exemplo, das políticas demográficas, na caracterização da questão da violência contra a mulher pela introdução do conceito de violência racial, como aspectos determinantes das formas de violência sofridas por metade da população feminina do país que não é branca.

Feminismo negro: raça e gênero como categorias de articulação.

Só na década de 1980 as mulheres negras aparecem como sujeitos de pesquisa, contexto do qual o feminismo negro norte-americano e o movimento negro evidenciava. Estas mulheres enfatizaram a necessidade de pensar as diferentes experiências históricas das mulheres, inclusive o próprio feminismo “branco de classe média e heterossexual” que sustentava a tese de uma

(6)

experiência única e universal feminina. Esta afirmação não considerava o impacto e a articulação das categorias gênero, raça e classe social e outras na constituição histórica das mulheres em contextos específicos e diferenciados. Nesse período que se constata a ausência da temática: gênero e raça no campo dos estudos feministas e das relações raciais e quando surgem os primeiros

trabalhos científicos contemporâneos sobre a mulher negra brasileira10.

As feministas norte-americanas foram as primeiras a evidenciar a intersecção das categorias de raça e gênero como um aspecto que marca a diferença nas experiências de mulheres, também a crítica ao feminismo enquanto teoria e prática, sobretudo a dificuldade em reconhecer a diversidade interna ao movimento, em particular a questão racial, dimensões que também são evidenciadas pelas feministas negras brasileiras. Elas incorporaram o tema das diferenças em suas abordagens, ocupando-se em discutir a presença do racismo, e também, o entrecruzamento entre gênero, raça e classe como elemento representativo das diferenças nas experiências das mulheres. Contribuíram para aprofundar a análise e a compreensão da marginalização social, econômica e política das mulheres negras nos EUA (Barbosa, 2010, p. 1).

Para Bell Hooks (1995, p.13), feminista negra norte-americana, é essencial para a continuidade da luta feminista que se reconheça o ponto de vista das mulheres negras, e que o feminismo negro atue a partir das lutas em que raça, classe e gênero apresentam-se como fatores simultâneos de opressão. E, dessa perspectiva criticar a hegemonia racista, sexista e classista para que seja possível prever e criar uma contra-hegemonia. Segundo esta autora as mulheres negras constituem uma situação particular, elas não foram socializadas para assumir o papel de explorador/agressor, não lhe foi permitido ter institucionalizado “outros” que se pode explorar ou oprimir. Observa que mulheres brancas e homens negros podem ter as duas coisas, eles e elas podem agir como opressor ou ser oprimido. Os homens negros podem ser vítimas do racismo, sexismo, mas lhe é permitido agir como exploradores e opressores da mulher. As mulheres brancas podem ser vítimas do sexismo, mas o racismo lhe permite agir como exploradores e opressores do povo negro. A partir deste contexto o feminismo negro propõe a conexão entre teoria e prática para entender como certas realidades e sistemas classificatórios de mundo são modificados e repensados nas várias experiências das mulheres.

Outra autora também feminista negra norte-americana, Patrícia Hill Collins observou que a ação de mulheres negras mais conhecidas teve suporte na ação de outras mulheres comuns que pensaram estratégias de resistência cotidianas, criando uma poderosa fundação para dar mais

10

(7)

visibilidade a uma tradição ativista das feministas negras. Collins aponta uma longa tradição feminista entre as mulheres negras em torno de cinco aspectos fundamentais: 1º o legado de uma história de luta; 2º a natureza interligada de raça, gênero e classe; 3º combate aos estereótipos; 4º atuação como mães, professoras e lideres comunitária; e 5º a política sexual (Bairros, 1995 citado por Barbosa, 2010, P.3).

Collins critica os critérios epistemológicos que negam a experiência como base legítima para a construção do conhecimento. Para ela o ponto de vista das mulheres negras é definido a partir da opressão vivida por elas, isto é, a partir do lugar que ocupam na estrutura social (Bairros, 2010 citado por Barbosa, 2012, P. 3). Hooks tem como um dos elementos importantes de sua produção enfatizar a relação entre produção intelectual e experiência pessoal. Para ela o pessoal é ponto de partida para conectar politização e transformação da consciência, isto é criticamente a experiência de opressão das mulheres. Dessa perspectiva o feminismo passa a ser a lente, através da qual, diferentes experiências das mulheres podem ser analisadas criticamente, no sentido de reinventar as relações sociais entre homens e mulheres fora dos padrões que estabelecem inferioridade de um em relação ao outro (Bairros, 1995).

Conclusão

A proposta de trabalhar com essas categorias é oferecer ferramentas analíticas para apreender a articulação de múltiplas diferenças e desigualdades. O debate sobre as interseccionalidades permite perceber a coexistência de diversas abordagens. Diferentes perspectivas utilizam os mesmos termos para referir se á articulação entre diferenças, mas elas variam em função de como são pensadas diferenças e poder (Piscitelli, 2008, p.267). Kimberlé Crenshaw (2002), e retomado por Piscitelli (2008, p. 267) aponta as interseccionalidades como formas de capturar as consequências da interação entre duas ou mais formas de subordinação, por exemplo, sexismo, racismo, patriarcalismo. Essa noção de interação entre formas de subordinação possibilitaria superar a ideia de superposição de opressões, negar a ideia de que a mulher negra é duplamente oprimida. A interseccionalidade trataria da forma como ações e políticas específicas geram opressões que fluem ao longo de tais eixos, confluindo e, nessas confluências constituiriam aspectos ativos do desempoderamento, (Crenshaw, 2002, citado Piscitelli, 2008). Essas categorias não existem isoladamente uns dos outros, existem em e por meio das relações entre elas.

(8)

Para Schucman (2012, p.89) apesar das distinções acadêmicas separarem os marcadores de raça, classe e gênero em categorias isoladas, afirma que a experiência de qualquer sujeito no mundo não é vivida fragmentariamente. E, consideradas em conjunto os marcadores do corpo como raça e gênero agem uns sobre os outros de maneiras diferentes, por isto citando Ware “as masculinidades e feminilidades brancas e negras não são constituídas como simples pares binários, elas operam em relações sistêmicas e assimétricas umas com as outras” (Ware, 2004, p. 285).

De acordo com Carneiro (2003, p.5) é possível afirmar que um feminismo negro, construído no contexto de sociedades multirraciais, pluriculturais e racistas como são as sociedades latino-americanas – tem como principal eixo articulador o racismo e seu impacto sobre as relações de gênero, uma vez que ele determina a própria hierarquia de gênero em nossas sociedades. Portanto ao analisar a trajetória de algumas mulheres negras de uma região periférica de São Paulo pretendo compreender as associações feitas entre raça e gênero nas falas dos sujeitos e como elas se objetivam em seu cotidiano desencadeando situações de violência. Procurando destacar como raça e gênero, enquanto, sistemas de opressão podem afetar especialmente alguns grupos de mulheres em detrimento de outros em contextos particularizados.

Referências

PACHECO, Ana Cláudia Lemos. Raça, gênero e escolhas afetivas: uma abordagem

preliminar sobre solidão entre mulheres negras em Salvador, Bahia. In: Fazendo Gênero 8. SP-

Pensamento Negro, Corporeidade e Gênero: Textualidades Acadêmicas, Literárias E Ativistas. 2008, Florianópolis, Santa Catarina: UFSC. SP

BAIRROS, Luíza. Nossos Feminismos Revisitados. In: Dossiê Mulheres Negras – Matilde Ribeiro (org). Revista Estudos Feministas, Florianópolis/SC, CFH/CCE/UFSC, v.3 n. 3, 1995,

pp.458-463. Disponível em

http://www.ieg.ufsc.br/admin/downloads/artigos/10112009-123548bairros.pdf Acesso em 10/06/2013.

BARBOSA, Lícia Maria de Lima. Feminismo Negro: notas sobre o debate

norte-americano e brasileiro. In: Fazendo Gênero 9. 2010, Santa Catarina. GT Diáspora, Diversidade,

Deslocamentos. Santa Catarina: UFSC. 2010.

CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América

Latina a partir de uma perspectiva de gênero. In: ASHOKA EMPREENDIMENTOS SOCIAIS;

(9)

2003c. p. 49-58. Disponível em http://www.unifem.org.br/sites/700/710/00000690.pdf Acesso em 15/06/2013.

CLADEN – Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher.

Questão de vida: balanço regional e desafios sobre os direitos das mulheres a uma vida livre de violência. Lima: CLADEN, 2000.

CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da

discriminação racial relativos ao gênero, Estudos feministas 1, p.171-189, 2002.

GUIMARÃES, A. S. A. Como trabalhar com “raça” em sociologia. Educação e Pesquisa,

São Paulo, v.29, n.1, p.93-107, jan./jun. 2003. Disponível em

http://www.scielo.br/pdf/ep/v29n1/a08v29n1 Acesso em 10/06/2013.

HOOKS, Bell. Intelectuais Negras. Estudos Feministas, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, p.464-478, 1995.

IPEA [et al.]. Retrato das Desigualdades. 4a edição, 2011

OMS – Organização Mundial da Saúde. Violência contra a mulher e saúde no Brasil. São Paulo: OMS/USP, 2003.

PAIXÃO, Marcelo; CARVANO, Luiz (Org.). Relatório Anual das Desigualdades

Raciais no Brasil, 2009-2010. Rio de Janeiro: Garamont, 2010.

PISCITELLI, Adriana. Interseccionalidades, categorias de articulação e experiências de

migrantes brasileiras. Sociedade e Cultura, v.11, n.2, jul/dez. 2008. p. 263 a 274.

SECRETARIA ESPECIAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES. Programas de

Prevenção, Assistência e Combate à Violência contra a Mulher. Diálogos sobre a violência doméstica e de gênero: construindo políticas para as mulheres. Brasília, 2003.

SCHUCMAN, Lia Vainer. Entre o “encardido”, o “branco” e o “branquíssimo”: raça,

hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana (Tese de Doutorado, Universidade

de São Paulo, 2012).

WARE, V. Pureza e perigo: raça, gênero e histórias de turismo sexual. In V. Ware (Org.), Branquidade, identidade branca e multiculturalismo (V. Ribeiro, trad., pp. 7-40.). Rio de Janeiro: Garamond, 2004.

WERNECK, Jurema. Racismo Institucional: uma abordagem conceitual. Geledés – Instituto da Mulher Negra. São Paulo, 2013.

(10)

Title: The study of gender violence and its intersection with race and social class.

Abstract: The purpose of this study is to understand the phenomenon of gender violence from the

perspective of black women. It proposes to examine domestic violence and its relations with gender, class, race/ethnicity, as it is around these categories that negative representations of black women are drawn. When we think of the Constitution of the Brazilian society, like gender, class and race/ethnicity delineate racial and gender hierarchies produced historically that will point out the places seen as natural to this group and as such symbolic representations tell how to lie in society, as they are seen and perceived.

Referências

Documentos relacionados

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

inclusive de ser especialmente transportadas de outras cidades a Washington para tais ocasiões, como o View of the Yosemite Valley [Vista do vale Yosemite] (1865), pintura de

O fenômeno da violência urbana; Tipologias e modalidades de violências (violência social, física, sexual, psicológica, negligência entre outras) Violência de gênero e

“domesticados” Idem.. Por todo o exposto, a violência psicológica e moral tem um conceito abrangente no texto legal. Contudo, sua aplicação está limitada as

Há dez anos fruto da mobilização dos movimentos sociais de direitos humanos e de setores progressistas da educação, o Brasil aprovou o Plano Nacional de Educação em Direitos

O Serviço de Educação Escolar Preparatória será prestado de acordo com as condições fixadas no presente Contrato, no Projeto Político-Pedagógico, no Regimento

Sem dúvida, a criação da Lei 11.340/2006, denominada Lei Maria da Penha, representa um avanço da legislação sobre o enfrentamento da violência de gênero no

The monthly distribution of the relative frequencies of gonadal maturation stages (Fig. 2) shows females in maturation in October; mature and spawning females are found from