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Descritores: Esgotamento Profissional. Enfermeiros. Saúde do Trabalhador.

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Academic year: 2021

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Maria Isabel Silva Guilherme1 Maria de Fátima Rodrigues da Costa2 Katianne Monique da Silva Guilherme Medeiros3

Auricélia Reges de Melo da Silva4 Renata Borges de Vasconcelos5

Resumo: O trabalho tem um papel essencial, já que é por meio dele que o homem constitui-se

como ser humano. As experiências no espaço de trabalho repercutem na vida cotidiana, no contexto profissional, doméstico e social, interferindo na qualidade de vida dos indivíduos (GUERREIRO; MONTEIRO, 2008). Trata-se de um trabalho de Revisão de Literatura em periódicos indexados em bases de dados com recorte temporal no período de 2002 a 2012. Também foram consultadas publicações do Ministério da Saúde, bem como referenciais que abordam a temática a fim de dá um maior respaldo à discussão. Desse modo, a presente pesquisa tem como objetivo difundir como a sobrecarga de trabalho dos profissionais de enfermagem influencia para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout. No âmbito da enfermagem, os enfermeiros se enfrentam rotineiramente à morte e à dor, a diversos problemas relacionados a seu trabalho, a desajustes organizacionais e geralmente se encontram envolvidos em situações difíceis, forçados a tomar decisões de responsabilidade em situações decisivas, onde em alguns casos somente contam com informação incompleta e ambígua. Aliado a isso, a enfermagem é considerada uma profissão extremamente estressante, caracterizada pelas jornadas de trabalho extensas, falta de valorização profissional e as demandas físicas e emocionais contínuas extenuantes. Esses desgastes físicos e emocionais que os enfermeiros se submetem no exercício de seu trabalho, acabam desencadeando o estresse ocupacional crônico – Síndrome de Burnout, caracterizada por Exaustão Emocional; Despersonalização e Baixa realização pessoal (MASLACH & LEITER,1999). Após as discussões e contribuições suscitadas ao longo deste estudo, reiteramos que uma das mais importantes estratégias para evitar a síndrome de burnout, é a promoção dos valores humanos no ambiente de trabalho e a adoção valores mais voltados para a coletividade, em detrimento dos valores mais individualistas.

Descritores: Esgotamento Profissional. Enfermeiros. Saúde do Trabalhador.

1. INTRODUÇÃO

1

Enfermeira. Especialista em Programa Saúde da Família (FACISA), Enfermagem do Trabalho (CENPEX) e especializanda em Unidade de Terapia Intensiva com extensão para Urgência (CENPEX). E-mail: maria_isabelpdf@hotmail.com

2

Acadêmica de enfermagem, Universidade Potiguar – UNP. Email: fatima_costa@outlook.com 3

Técnica de Enfermagem, Centro de Profissionalização do Vale do Assu – CEPROVA. Email: katianne_monique@hotmail.com

4

Enfermeira. Especializanda em Urgência e Emergência (CENPEX). E-mail: auricelianatal@hotmail.com 5

Licenciada e Graduada em Enfermagem (UERN). Enfermeira do Hospital Maternidade Raimundo Venâncio de Sousa (Horizonte/CE). Especialista em Auditoria em Serviços de Saúde (FACISA). E-mail: renatinha_borginha@hotmail.com

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Vários estudos revelam as situações desgastantes as quais os trabalhadores de enfermagem estão submetidos em seu ambiente laboral. Essas situações levam ao sofrimento do profissional e apontam a necessidade de identificar os fatores geradores desse sofrimento, bem como as estratégias de cunho preventivo, na assertiva de manter o equilíbrio psico-emocional do trabalhador 1.

Nesse âmbito, o processo de trabalho de enfermagem se enquadra no rol das profissões mais desgastantes, especialmente no setor hospitalar, onde sua organização baseia segundo os preceitos do modelo clínico, individual, com centralidade no cuidado, onde a equipe está hierarquicamente definida e tem as relações de poder estabelecidas ².

Nesse ambiente hostil, a equipe de enfermagem se confronta, de forma quase permanente, com o sofrimento e a morte de seus semelhantes, além de estarem expostos a sentimentos ambíguos que lhe são depositados, tanto pelo paciente como por seus familiares. Acrescido a esses fatores têm-se o trabalho noturno, as condições de trabalho, a complexidade de suas tarefas e as relações interpessoais existentes no ambiente de trabalho, que provocam sentimentos de angústia intensa, estresse emocional, síndromes depressivas, entre outros agravos, muitas vezes associados aos distúrbios físicos 1,2,3,4.

O desgaste expressa-se nas transformações negativas que tem sua origem na interação das pessoas, suas forças internas de equilíbrio psíquico e o ambiente de trabalho. É a perda da capacidade potencial, biológica e psíquica. Nesse sentido, quando as respostas aos estímulos não são saudáveis, pode haver manifestações agudas ou crônicas, comprometendo a capacidade do profissional em desenvolver seu potencial tanto biológico como psíquico. Assim, pode-se está apresentando reações da síndrome do esgotamento profissional, a Síndrome de Burnout 5.

O termo Burnout surgiu nos Estados Unidos na década de 1970, etimologicamente ‘burn’ significa queima, e ‘out’ exterior, sugerindo um sentimento de exaustão ou fracasso ocasionado pela perda completa de entusiasmo e interesse, resultante da vivência profissional em um contexto de relações sociais complexas, onde o trabalhador, antes comprometido e responsável, passa a ter mudanças negativas em suas condutas profissionais 6.

A síndrome afeta principalmente profissionais da área de serviços ou cuidadores, quando em contato direto com os usuários, como os trabalhadores da educação, da saúde, policiais, assistentes sociais, agentes penitenciários, professores, entre outros 6.

Mas é imprescindível destacar a Síndrome de Burnout difere do estresse. O burnout é a resposta do estresse laboral crônico que inclui condutas e alterações comportamentais negativas com relação aos usuários, aos clientes, à organização e ao trabalho, sendo uma

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experiência subjetiva que acarreta prejuízos práticos e emocionais para o trabalhador. Em contrapartida, o quadro tradicional de estresse não envolve tais atitudes e condutas, sendo um esgotamento pessoal a partir da resposta do organismo às agressões de origens diversas, capazes de perturbar o equilíbrio interno do ser humano, mas não de modo direto na sua relação com o trabalho 6.

O equilíbrio psíquico dos trabalhadores sempre sofrerá alterações, uma vez que nosso organismo tem a necessidade de se adaptar às diferentes situações do ambiente e a tudo que acontece em sua volta, no entanto nem sempre essa adaptação acontece, resultando e um desgaste psicológico. Portanto, torna-se indispensável a identificação dos riscos que os enfermeiros hospitalares estão expostos, para que possamos traçar estratégias de modo a prevenir e/ou minimizar seus efeitos 7.

Nesse ínterim, a motivação pelo tema decorreu de uma aula na pós-graduação em Enfermagem do Trabalho, no módulo “saúde mental do trabalhador”, onde foi ressaltada a importância do enfermeiro do trabalho frente à Síndrome de Burnout em sua rotina de trabalho. Daí despertou-se o interesse em dar continuidade ao estudo, agora voltado para os próprios enfermeiros, reafirmando a premissa de que os cuidadores também requerem cuidados.

Nesse sentido, o objetivo desse estudo consiste em identificar os principais fatores desencadeantes da Síndrome de Burnout entre os enfermeiros que atuam no âmbito hospitalar. O estudo possibilitou identificar as causas mais comuns de desgaste no trabalho e as formas de enfrentamento utilizadas pelos enfermeiros diante desse distúrbio.

2. METODOLOGIA

Revisão de Literatura em periódicos indexados nas bases de dados Literatura Latino Americana e do Caribe (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (Scielo) e Bases de Dados em Enfermagem (BDENF) com recorte temporal no período de 2002 a 2012. Utilizamos como critérios de inclusão a relação com o tema proposto, publicações em língua portuguesa. Os descritores utilizados foram: esgotamento profissional; enfermeiros; saúde do trabalhador.

Para a seleção dos artigos foi realizada análise do título, dos descritores e do resumo. Se não fosse suficiente, realizávamos uma leitura exploratória do artigo para caracterizá-lo ou

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não como parte da amostra. Foram excluídas as publicações que não apresentavam relação com o tema e as que se apresentavam em mais de uma base de dados.

Apesar do recorte temporal, só foram encontradas publicações a partir de 2007. Foram encontrados sete artigos pertinentes, os quais foram analisados, interpretados e comparados os resultados visando alcançar os objetivos propostos nesse trabalho. Também foram consultadas publicações do Ministério da Saúde, bem como referenciais que abordam a temática a fim de dá um maior respaldo à discussão.

3. PRINCIPAIS FATORES ESTRESSANTES ENTRE OS ENFERMEIROS QUE ATUAM NO ÂMBITO HOSPITALAR

O processo de trabalho em enfermagem hospitalar está centrado no cuidado, que é sua referência, e está diretamente relacionado à assistência à saúde dos seus clientes. Essa prática tem suas peculiaridades, em conseqüência das formas de organização do trabalho, provocando a exposição dos trabalhadores às cargas de trabalhos desgastantes. Desse modo, traz repercussões importantes no processo saúde/doença desses profissionais e que se agravam com o envelhecimento 2,3.

Os riscos químicos, físicos, biológicos e ergonômicos presentes no processo de trabalho de enfermagem no setor hospitalar justificam o estado de tensão e ansiedade que esses trabalhadores sofrem constantemente. Essa instabilidade emocional se agrava na medida em que estes precisam voltar o cuidado a clientes com enfermidades crônicas, traumas agudos, doenças em estágio terminal ou com elevado risco de morte 2,3,7,8.

Os pesquisadores destacam os setores de emergência 7, oncologia 2 e Unidade de Terapia Intensiva 1,5,8 como bastante desgastantes para os enfermeiros. A equipe lida constantemente com eventos diversos que incluem deficiência de recursos materiais e humanos, bem como instabilidades nos quadros de pacientes que perpassam o planejamento das ações inicialmente pensadas.

De acordo com as discussões dos pesquisadores é possível fazer uma categorização dos principais fatores estressantes entre os enfermeiros no ambiente hospitalar, dividindo em cinco grupos: Condições de Trabalho; Sobrecarga de Trabalho; Desvalorização Profissional; Relacionamento Interpessoal e Funcionamento Organizacional das Instituições de Saúde.

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3.1 Condições de trabalho e Sobrecarga de Trabalho

Diversos estudos destacam que as condições laborais vivenciadas por muitos trabalhadores da equipe de enfermagem, especialmente no contexto hospitalar, têm favorecido à ocorrência de agravos à saúde, acarretando em prejuízos pessoais, sociais e econômicos. Como conseqüência, o afastamento por doenças e os acidentes de trabalho têm sido frequentes, dificultando a organização do processo de trabalho em diferentes setores, a rotina dos serviços e, consequentemente, a qualidade da assistência de Enfermagem 9.

No ambiente hospitalar existem os riscos que atingem com mais freqüência os profissionais que lá trabalham, proporcionando-lhes condições de trabalho reconhecidamente insalubres. A equipe de enfermagem encontra-se exposta aos riscos biológicos, físicos, químicos, ergonômicos, mecânicos, psicológicos e sociais. E devido o tempo de permanência elevado nesse ambiente, realizando a assistência à saúde ao cliente por meio do contato direto, a equipe está mais freqüentemente exposta aos riscos ocupacionais existentes 2,3,7,8.

Nesse ínterim, os profissionais de enfermagem que trabalham em Unidades de Terapia Intensiva, em Oncologia e em Emergência referem que a inadequação das condições de trabalho à sua prática profissional lhes confere um fator de desgaste intenso 1,2,5,7,8.

Outro fator relevante é a sobrecarga de trabalho desses profissionais. Cargas de trabalho podem ser definidas como os elementos do processo de trabalho que se interagem mutuamente e com o organismo do trabalhador, resultando em alterações que se manifestam através de desgastes físicos e psíquicos potenciais ou efetivamente apresentados 2.

Grande parte dos trabalhadores de enfermagem enfrenta problemas financeiros devido aos baixos salários e o custo de vida elevado, o que gera sentimentos de angústia e sofrimento para esses. Consequentemente, esses indivíduos são obrigados a buscar outros empregos para suprir a renda familiar, com isso, eles passam a assumir múltiplas funções, provocando frustração, cansaço e desvalorização profissional, resultando em absenteísmos por problemas de saúde 1,3,10.

Em estudos envolvendo enfermeiros hospitalares, fica claro que o acúmulo de funções acarreta cargas horárias de trabalho exaustivas, representando uma das causas de maior desgaste físico e mental. Além disso, ao acumular mais de uma função, o enfermeiro não consegue dedicar-se exclusivamente a nenhuma delas, levando-o a realizá-las de forma insuficiente ou incompleta, o que futuramente pode levar a frustração por não conseguir

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realizar com êxito todas as atividades propostas a ele, sendo que também é um importante fator desencadeante de estresse 7,8,10.

Dessa maneira, a carga horária de trabalho extensa dos enfermeiros compromete o seu lazer e laços afetivos. O tempo destinado à família e amigos fica prejudicado à medida que o profissional vai aumentando a jornada de trabalho. Com isso gera um desgaste físico intenso e uma péssima qualidade de vida, que acarretará em prejuízos em sua atuação profissional, devido às condições em que exerce sua profissão 3,10.

Esses múltiplos empregos decorrem também da insuficiência de recursos humanos e materiais no ambiente hospitalar, onde aumenta o ritmo de trabalho para conseguir dar de conta do trabalho pré-determinado, provocando o surgimento de problemas psicológicos e até mesmo físicos no profissional 7.

Fatores relacionados à estrutura do ambiente de trabalho, bem como a deficiência no número de funcionários da equipe de Enfermagem, são relatados como estressores pelos enfermeiros de unidade de emergência, pois os profissionais ficam com sobrecarga de trabalho que deveria ser divididas com os demais membros da equipe 7.

Essa problemática foi amplamente abordada em estudos, sendo ponto essencial para a melhoria das condições de trabalho dos enfermeiros hospitalares. Pois estes alertam sobre as extensas jornadas de trabalho como fator desencadeante de cargas psíquicas que contribuem para a ocorrência de doenças ocupacionais e problemas familiares 3.

3.2 Desvalorização Profissional, Relacionamento Interpessoal e Funcionamento Organizacional das Instituições de Saúde

O trabalho de enfermagem é desgastante devido a inúmeros fatores operacionais de trabalho e às cobranças relacionadas à responsabilidade para com seus clientes e à equipe, seja no aspecto físico, moral, social e psicológico. Não obstante, o enfermeiro se depara com situações que põe em pauta a valorização profissional. Apesar de possuir certa autonomia na tomada de decisões, esse profissional fica prejudicado quando se trata do poder administrativo na organização como um todo. Devido a questões sócio-culturais, esse profissional ainda é visto de forma estigmatizada e estereotipada, tido como um mero ajudante de outros profissionais de saúde, sobretudo dos médicos.

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Destarte as diferentes situações de trabalho, aliadas aos conflitos e sentimentos desses profissionais, comprometem não apenas o desempenho produtivo, como também o equilíbrio físico e psiquico. A variedade de atividades exercidas na rotina do enfermeiro provoca ansiedade e estresse, pois precisam ser desempenhadas em um espaço de tempo restrito. Quando percebem esse fato, sentem-se irritados e frustrados, e, conseqüentemente desmotivados 3,7,10.

Torna-se evidente, portanto, que a função dos enfermeiros se configura como uma prática desmotivadora. Os enfermeiros possuem muitas responsabilidades no desempenho de suas atividades laborais, e as condições de trabalho são frequentemente desfavoráveis, e, além disso, não possuem autonomia e poder de decisão compatíveis com as suas responsabilidades perante a organização.

O sentimento de injustiça expressado pelos enfermeiros que trabalham em hospitais geralmente está relacionado à desvalorização dos profissionais de enfermagem, que são os que prestam cuidado direto aos pacientes, mas não são devidamente reconhecidos pelos pacientes e pela instituição. O sofrimento no trabalho também ocorre devido o contato com os familiares dos pacientes, já que estes costumam projetar os sentimentos de angústia e depressão, provocados pelo processo de internação hospitalar, aos profissionais de enfermagem, principalmente em períodos de tensão, seja durante a piora do quadro clínico ou óbito 1.

Outro agravante dessa problemática se deve às atuais formas de organização do trabalho das instituições de saúde que conservam o modelo de gestão taylorista, onde prevalece a dicotomia entre quem planeja e quem executa as ações. Desse modo, insere novas estruturas de controle e poder que simulam uma ideologia da flexibilidade, conservando forte concentração de poder, sem descentralização. Essas novas estruturas estabelecem de forma coercitiva exigências diversas que incluem ritmo, agilidade, formação, informação, aprendizagem e adaptação à ideologia da instituição e às exigências do mercado 8,10.

Para agir com flexibilidade gerencial, o poder não pode decorrer de um cargo, mas do conhecimento e das relações interpessoais. A gerência precisa dispor de competências para resolver as diferenças e promover o relacionamento harmonioso, por meio do uso de ferramentas adequadas, entre as pessoas em seu ambiente de trabalho. Com isso, fortalece os fatores facilitadores que levam à construção coletiva de equipe 10.

É, portanto, essencial promover o trabalho coletivo, onde ocorra a articulação das ações e a integração entre os partícipes. A busca por consenso da equipe, tomando por base a

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comunicação, permite a construção de um plano de assistência adequado às necessidades de saúde dos clientes 1.

4. SÍNDROME DE BURNOUT E SUAS REPERCUSSÕES NA SAÚDE DOS ENFERMEIROS

O termo Burnout surgiu na área científica na década de 70, em pesquisas de Herbert Freudenberger baseadas em sua vida profissional, que era marcada por frustrações e dificuldades levando-o à exaustão física e emocional. Segundo Freudenberg, esse estado de tensão por período prolongado conduz ao desenvolviemnto do estresse crônico, que pode conduzir à Síndrome de Burnout. E cujas características incluem decepção, sentimentos de esgotamento físico e emocional e diminuição da afetividade, manifestadas por trabalhadores que não apresentavam nenhum transtorno psíquico a priori 5,6,11,12.

Etimologicamente Burnout significa “queima exterior”, dando um sentido de queimar-se, onde a pessoa se consome física e emocionalmente por completo. Denota diminuição da afetividade e desempenho no trabalho, acompanhado de sentimentos negativos e hostis 5,12.

A sensação de estar acabado ou síndrome do esgotamento profissional é um tipo de resposta prolongada a estressores emocionais e interpessoais crônicos no trabalho. Tem sido descrita como resultante da vivência profissional em um contexto de relações sociais complexas, envolvendo a representação que a pessoa tem de si e dos outros. O trabalhador que antes era muito envolvido afetivamente com os seus clientes, com os seus pacientes ou com o trabalho em si, desgasta-se e, em um dado momento, desiste, perde a energia ou se “queima” completamente. O trabalhador perde o sentido de sua relação com o trabalho, desinteressa-se e qualquer esforço lhe parece inútil 6:191.

A Portaria 1399/GM de 1999 reconhece essa síndrome como uma doença relacionada ao trabalho, pertencendo ao grupo V da CID 10, dos transtornos mentais e de comportamento relacionados com o trabalho 13.

Maslach e Jackson 6 realizaram os primeiros estudos de caracterização do Burnout, integrando sentimentos e atitudes negativas que envolviam três dimensões:

 Exaustão emocional (sentimentos de desgaste emocional e esvaziamento afetivo);

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 Diminuição do envolvimento pessoal no trabalho (sentimento de diminuição de competência e de sucesso no trabalho).

A exaustão refere-se ao esgotamento emocional, intelectual e/ou físico. Caracteriza-se pela falta de energia ou entusiasmo expresso por sintomas como cansaço, irritabilidade, sinais de depressão e ansiedade, uso abusivo de álcool e tabaco e o aparecimento de doenças psicossomáticas 5,11,12.

O trabalhador dominado por um sentimento de esgotamento de recursos não consegue dar mais de si mesmo em nível afetivo, provocando temor ao ter que voltar ao trabalho no dia seguinte 11.

A despersonalização emerge como um quadro caracterizado por comportamentos insensíveis e negativos. O profissional age com atitudes frias, de cinismo em relação às pessoas, tratando clientes, colegas e organização como objetos. Apresenta-se ansioso, irritado, desmotivado, sobretudo com relação ao comprometimento com os resultados do trabalho 5,11,12

.

A diminuição do envolvimento pessoal no trabalho é compreendida como uma tendência à auto-avaliação negativa, frustração e infelicidade consigo enquanto pessoa e profissional. Resultando assim, em indivíduos com sentimentos de incompetência, falta de êxito profissional, e incapaz de manter uma boa relação interpessoal 5,11.

A Síndrome de Burnout se configura como uma resposta ao estresse laboral crônico que surge geralmente em ambientes de profissões que estão vinculadas ao contato direto com as pessoas às quais se destina o trabalho. Os profissionais de saúde, em especial os da enfermagem, frequentemente são acometidos com o estresse emocional relacionado com o trabalho, devido à práxis da sua profissão, que traz o cuidado como instrumento de trabalho Essa problemática é acentuada aos que atuam no âmbito hospitalar, por ser um ambiente tipicamente insalubre. E também incluem as condições precárias de trabalho, as jornadas exaustivas e a falta de reconhecimento profissional 4,9.

De acordo com dados do ISMA (Internacional Stress Management Association), 70% dos trabalhadores no Brasil sofrem de estresse, sendo que desses, 30% já estão comprometidos com outros transtornos mentais associados 5.

Apesar de se configurar em um quadro constante no ambiente de trabalho, a Síndrome de Burnout é de difícil diagnostico, pois seus sintomas são frequentemente confundidos com outras respostas ao estresse, como tédio, depressão, fadiga, ansiedade, insatisfação no trabalho. O Burnout é um processo que pressupõe a interação de variáveis afetivas, cognitivas e sociais. O estresse pode resultar em efeitos positivos e negativos na vida de um indivíduo,

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em vários contextos, enquanto o Burnout resulta apenas em efeitos negativos específico do ambiente laboral 12.

A depressão e o Burnout apresentam algumas semelhanças, como sentimentos de fracasso e fadiga. Entretanto o Burnout é mais abrangente, onde o estado depressivo é uma das fases da síndrome, e de caráter temporário. Sendo orientado para uma situação específica na vida do indivíduo, no caso o trabalho. E a depressão se configura em um conjunto de cognições e emoções que repercutem sobre as relações interpessoais, sendo estabelecida em vários contextos da vida do indivíduo. O sentimento de culpa é característico da depressão, o que não ocorre no Burnout 12.

Nesse ínterim, é amplamente difundido que a síndrome do esgotamento profissional acomete trabalhadores de várias áreas, sobretudo os profissionais voltados à prestação de serviços e os que lidam com o cuidado à saúde dos clientes, como é o caso da equipe de enfermagem, que tem como característica o contato direto com os pacientes nos mais variados níveis de atenção (Primária, Secundária, Terciária).

Essa problemática é acentuada aos que atuam em ambientes hospitalares devido a insalubridade dessa instituição. As formas de organização e divisão do trabalho aliados às características desse ambiente expõem ainda mais os profissionais, uma vez que estes são obrigados a ficar durante toda a sua jornada de trabalho nesse local e, consequentemente, grande parte da vida produtiva 5,9.

Os enfermeiros que atuam no âmbito hospitalar apresentam um desgaste físico e mental intenso, principalmente devido o fato de lidar com o sofrimento e a morte constantemente. O desgaste dos profissionais é provocado principalmente pelos esforços físicos despendidos para realizar os diversos cuidados aos pacientes; e os sentimentos de angústias ao lidar com o sofrimento e morte. A prestação de cuidados aos acamados exige esforço físico em demasia, resultando em diversos tipos de dores, principalmente nas pernas, na região lombar e nas costas. Os sentimentos gerados pela perda dos pacientes que estavam sob seus cuidados são extremamente difíceis de serem elaborados, pois a morte apresenta a conotação de que houve ineficácia da equipe de saúde, e que todo o trabalho se perdeu 1,8.

Esse sentimento de não realização profissional, fracasso, precárias condições de trabalho, jornadas extensas, contato direto com doença, dor e morte, intenso ritmo de trabalho, escassez de pessoal e sobrecarga de trabalho são alguns dos principais estressores descritos na literatura como antecedentes da síndrome do esgotamento profissional e/ou outras psicopatias entre os enfermeiros. O desgaste no ambiente de trabalho se manifesta sob forma de esgotamento emocional, físico e/ou social, e, quando acentuado, pode ocasionar a

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despersonalização, encaminhando o indivíduo à diminuição de manifestações afetivas. Essa situação também gera incapacidade de o profissional lidar com os próprios sentimentos, podendo levá-lo a esconder de si mesmo o sofrimento psíquico, suas vivências afetivas conflitantes 1,7.

Um fator importante de sofrimento psíquico no trabalho dos enfermeiros tem sido a ocorrência de acidentes envolvendo exposição de materiais biológicos. Esses episódios provocam constrangimento ao serem julgados como incompetentes, descuidados e com baixa produtividade que se somam as dificuldade emocionais aos quais estes trabalhadores enfrentam por medo de adoecer, as repercussões no ambiente de trabalho e no seio familiar 1,3. Um reflexo desse problema se explicita no elevado número de profissionais afastados do trabalho por problemas de saúde, resultando em custos diretos e indiretos para as instituições de saúde. Estas, por sua vez, não levam em consideração os problemas que os trabalhadores enfrentam no seu cotidiano, então sobrecarrega física e/ou emocionalmente os que permanecem em atividade com a parte do trabalho que cabia aos que foram afastados 3.

O organismo expressa vários sinais e sintomas do esgotamento físico e psíquico dos trabalhadores. São freqüentes queixas de estresse, fadiga, irritabilidade, cansaço mental, sonolência, dores lombares e nos membros, insônia, entre outras, que são causadas ou intensificadas pelo trabalho desgastante. Estudos destacam que os enfermeiros indicam como principais causas de adoecimento as condições precárias de trabalho, jornadas extensas, insuficiência de recursos humanos e materiais e o intenso ritmo de trabalho. Entretanto, apesar do reconhecimento de que algo errado está acontecendo consigo e estão prestes a adoecer, os enfermeiros só param quando já estão doentes, devido às diversas influências do ritmo de trabalho 1,4,7,8.

A exposição a diversos desafios e estressores laborais exige dos enfermeiros uma boa desenvoltura para a prestação de cuidados aos clientes, e principalmente, para o exercício do auto-cuidado. Pois o ambiente de trabalho deve ser o mais saudável possível para favorecer a excelência na prestação de cuidados. Porém, a não utilização de estratégias de enfrentamento adequadas deixam esses profissionais susceptíveis à síndrome do esgotamento profissional 1,4. As formas de enfrentamento dessa síndrome descrita pelos enfermeiros incluem a realização de atividades físicas, tempo destinado ao lazer e a família. Mas um cenário desmotivador é encontrado, onde muitos profissionais não realizam atividade devido as jornadas de trabalho extensas, já que a grande maioria dos enfermeiros apresentam mais de um vínculo empregatício, inviabilizando, portanto, segundo os mesmos, a realização de atividades extras . Sob esta ótica, é notório que o trabalho assume centralidade na vida

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cotidiana, sendo assim, o tempo é definido a partir deste, estando as demais atividades vinculadas ao tempo de trabalho. Desse modo, fica evidente que os enfermeiros devido ao acúmulo de funções, longas jornadas de trabalho, multi-empregos, entre outros, não conseguem tempo para realizar atividades de autocuidado, apresentando assim uma predisposição maior ao estresse. Portanto, para que o profissional consiga desempenhar suas funções é fundamental que suas condições de trabalho sejam no mínimo satisfatórias 1,3,4,7,8,10.

CONCLUSÃO

Ao revisar parte da produção científica nacional referente à Síndrome do esgotamento Profissional entre os enfermeiros que atuam no âmbito hospitalar, foi possível compreender com mais clareza os fatores envolvidos nesta doença, como os condicionantes sociais e laborais. As condições de trabalho, sobrecarga de trabalho, desvalorização profissional, relacionamento interpessoal e funcionamento organizacional das instituições de saúde são fatores estressantes importantes relacionados ao surgimento dessa doença, tanto devido ao desgaste físico quanto o mental. Pois resulta em um nível elevado de tensão, angústia e ansiedade entre esses profissionais.

Para que o desgaste mental seja minimizado, o próprio profissional deve determinar o seu limite, a sua capacidade máxima de realizar determinadas tarefas, para que o mesmo não se sinta exausto. Entretanto, geralmente ele só compreende qual é o seu limite quando já o ultrapassou e começa a apresentar algum sinal e/ou sintoma. Se configurando desse modo, como um alerta para que o profissional diminua seu ritmo e comece a se cuidar, porém isto nem sempre acontece.

Com esta pesquisa verificamos que existe uma estreita relação entre síndrome de Burnout e a ausência de qualidade de vida no cotidiano profissional de enfermagem. Nesse âmbito, é necessária a construção de estratégias que permitam ultrapassar as barreiras impostas pelo trabalho, como ambientes organizacionais harmoniosos, que incluam relações profissionais satisfatórias enfatizando a confiança e cooperação entre os profissionais envolvidos. Entretanto, é necessário ressaltar que ainda temos muito a avançar quanto a esse fenômeno investigado, tendo em vista a escassez de publicações identificadas nessa área.

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Referências

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