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Partidos políticos em Israel no tempo de Jesus

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Academic year: 2021

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Partidos políticos em Israel no tempo de Jesus

Quem mandava na Palestina no tempo de Jesus eram os romanos. Para eles, “era o estado que constituía o princípio vital...A religião e a

nacionalidade só eram reconhecidas enquanto instrumentos do Estado. A religião e o culto religiosos eram um dever cívico”. (apud Baron). Já para os judeus era diferente. Como o escritor judeu, Flávio Josefo, escreveu no primeiro século: “ Alguns povos colocam o poder político supremo nas monarquias, nas oligarquias e outros ainda no povo. Mas nosso legislador (Moisés) não foi seduzido por nenhuma dessas formas de governo. Ele deu à sua constituição a forma que se poderia chamar teocracia. Colocou toda soberania e toda autoridade nas mãos de Deus”.

Mas Deus não governa diretamente. O poder judaico no tempo de Jesus, agindo em nome ou como intermediário de Deus, tinha sua origem no Templo. Claro que a Judéia estava ocupada pelos romanos e o

governador, Pilatos, representava o Imperador, que era Tibério. Mas os romanos respeitavam a organização interna dos países ocupados, desde que esses respeitassem a máxima que já vimos, de a religião e a

nacionalidade serem instrumentos de Roma. E assim, o Templo e seu mais alto funcionário, o sumo sacerdote, permaneceu como sede do Estado judaico. Tudo para os judeus dependia de Jerusalém.

E o sumo sacerdote, na época herodiana e romana, tinha regras para ser escolhido. A primeira era que ele deveria ser da família de Zadoc. Mas dos vinte e oito titulares dessa época, só dois foram da família de Zadoc. Esse princípio de hereditariedade fora abandonado, e os sumos sacerdotes eram de qualquer família sacerdotal. O que decidia era as rivalidades, simonia, nepotismo e finalmente, intervenções do poder romano. A família de Anás foi particularmente hábil nisso tudo, e

conseguiu ocupar o poder por 50 anos! O mais famoso dessa família foi Caifás. O “teo” dessa teocracia era muito de longe!

Mas as questões de direito e justiça, no entanto, não eram tratadas diretamente pelo sumo sacerdote, mas por um conselho, que ele presidia, e tentava aparelhar com sua família e aliados, o Sinédrio, que era

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sacerdotes, de representantes da aristocracia leiga, saduceus e fariseus, e da aristocracia intelectual, os escribas. Roma admitia a competência do Sinédrio para todos os judeus do mundo romano, como vemos nas “cartas” Atos 9:1,2 que Paulo tinha para perseguir os cristãos em Damasco.

O sinédrio ocupava-se das relações com o poder romano, e com a entrado dos impostos do Templo e dos dízimos. Cuidava também da interpretação da lei, e zelava pela guarda do dinheiro arrecadado, que ficava no Templo. Dispunha da “polícia” do Templo, que foi quem prendeu Jesus, e podia legalmente prender delinquentes, fazer jurisprudência para os tribunais das aldeias, aplicar multas, excluir os condenados da

comunidade, aplicar castigos corporais, e até condenar a morte, para o que era preciso reunir uma corte especial de 23 membros, e obter a ratificação do governador romano. Só que o governador fazia vistas grossas se o assunto não interferisse com Roma.

Os partidos

O termo partido não cai muito bem aqui, mas cada grupo que vamos estudar misturava suas convicções religiosas e suas posições políticas.

Os saduceus eram o partido da classe dirigente. A documentação que temos relativa a esse grupo é parcial e vem toda dos que se opunham a eles. Flavio Josefo, que já citamos, era um fariseu, e é uma fonte muito importante sobre eles. Os rabinos dos primeiros séculos também são fonte importante, e tinham origem farisaica. Os primórdios deles é

incerta. Eles são mencionados pela primeira vez na época de João Hircano cerca de 130 anos antes de Jesus Cristo, quando se envolvem nas

questões da administração pública. O que não é de se estranhar pois todos os saduceus eram da aristocracia sacerdotal ou da classe leiga mais rica. Eles se sustentavam com o sumo sacerdote e com o Templo, e as vezes tinham problemas com os dirigentes leigos. A rainha Alexandra se indispôs contra eles, e se aliou aos fariseus, e Herodes manteve uma relação de amor-ódio com eles. Mas a partir do ano 6 aC, pouco antes da morte de Herodes o grande no ano 4 aC, até o ano da revolta dos judeus, ocorrida no ano 66, eles comandaram uma política de conciliação com os romanos, e foram os responsáveis diretos da morte de Jesus. As suas doutrinas religiosas eram coerentes com suas posições políticas. Eram defensores da ordem estabelecida, e apegavam-se apenas à letra da Torá, e por isso entravam frequentemente em conflito com os fariseus.

Admitiam a presença de Deus apenas no Santo dos Santos do Templo, e é por isso que desenvolveram o ritual de usar incenso antes de entrar no

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Santo dos Santos uma vez ao ano, que era para proteger o sumo sacerdote da claridade da glória divina com a fumaça. Diferente dos fariseus, que admitiam o incenso, mas depois da entrada do sumo sacerdote ao Santo dos Santos, como uma demonstração da glória de Deus se espalhando.

Esse é um detalhe que mostra bem a ligação entre a política e a teologia dos saduceus: Deus muito localizado no Templo, e Dele só se aproxima o sumo sacerdote representando o povo, tornando o Templo na garantia da salvação desse povo. Diferente dos fariseus, que consideravam que Deus, a partir do Templo, tornava-se presente em todo território de Israel (Eretz Israel). Apesar das aparências, era a posição política que moldava a teologia, e não o contrário.

Os saduceus só aceitavam os cinco livros de Moisés para fazer doutrina. Não rejeitavam os livros proféticos, mas não os aceitavam para fins doutrinários. Para eles, a ressureição dos mortos, a existência de anjos e de demônios eram coisas acrescentadas tardiamente, e não eram parte do credo. Para eles o que importava era a salvação atual da nação. Em matéria criminal rejeitavam as ações de misericórdia inventadas pelos fariseus, bem como as acomodações financeiras. Eram partidários de uma estrita aplicação da Lei do Talião.

Os saduceus eram o partido da ordem. Viviam presos a sua fé; eram arrogantes e duros com os demais (é assim que o Torá ensina, diziam...) E não tinham influência sobre o povo. Historicamente, eles não resistiram à tentação de todo o partido no poder: se utilizar da religião. (Como ensina Jacques Ellul, esse foi o pecado de Jeroboão).

Os herodianos, citados nos Evangelhos e também mencionados por Flávio Josefo, era como se designavam os partidários da dinastia herodiana, os do partido de Herodes o Grande e de seus descendentes. Entre eles cita-se a família dos Boetos, sendo que Simão Boeto chegou a sumo sacerdote no reinado de Herodes o Grande, no ano 22 antes de Cristo.

Os fariseus remontam às associações de judeus piedosos do tempo dos Macabeus, mas são referidos como fariseus propriamente ditos desde no tempo de João Hircano, que reinou de 135 a 104 antes de Cristo, e são mais mencionados a partir do reinado de Alexandre Janeu, de 103 a 76 antes de Cristo. O nome parece vir de perushim, que significa separados, ou mesmo separatistas. Entre si, eles se chamavam de

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consideravam ignorante e pecadora, e procuravam sua própria

companhia. E tinham também certa aversão aos reis asmoneus, que não eram da linhagem de Davi, e eram muito comprometidos com o

helenismo. Apesar disso Alexandre Janeu aconselhou, antes de sua morte, sua esposa, Salomé Alexandra, que se tornou a regente, a procurar a colaboração deles. É porque eles tinham o apoio do povo, diferente dos saduceus. E nessa ocasião atuaram como chefes de estado. Mas o filho de Alexandre Janeu e Alexandra, Aristóbulo II (67-63aC), os retirou do poder. Herodes o Grande os respeitava, porque tinham aconselhado a rendição de Jerusalém a ele, Herodes, quando este conseguiu o poder junto aos romanos, mas principalmente pelo fato de Herodes perceber que eles tinham apoio do povo. Mas no ano 6 aC Herodes rompeu com eles, por causa de intrigas palacianas, mas mesmo assim, de 6 aC até 66 dC, e apesar de o Sinédrio ficar sob controle dos saduceus, eles mantiveram a influência sobre o povo. Eram uma força que precisava ser levada em conta. E, embora os zelotas tenham surgida de suas fileiras, eles eram pacíficos, e se opunham a uma ação violenta contra os romanos.

Esperavam de Deus a libertação. E embora tenham participado da revolta dos judeus, foi essa atitude pacifista que lhes deu, no ano 70, a permissão dos romanos de prosseguir com o judaísmo.

Segundo Flávio Josefo, na época de Herodes o Grande havia cerca de 6000 fariseus, e um número muito grande de simpatizantes. Eles vinham de todas as camadas da sociedade, mas sobretudo de uma classe média de artesãos e comerciantes. Eles se organizavam em comunidades, onde tomavam refeições juntos. Atuavam muito junto ao público, e

tinham regras de admissão e de exclusão bem definidas.

Embora houvessem sacerdotes fariseus, o grupo era constituído sobretudo por leigos, sem a formação de escribas, mas se diferenciavam pelo conhecimento exato das tradições mosaicas e dos antigos, e pelo cumprimento minucioso dos preceitos da lei e da tradição. Eles seguiam a risca as 613 ordenanças da lei, acrescidas de 40 regras “praticas”! Os chefes e os membros influentes dessas comunidades de fariseus eram também escribas.

A influência enorme que tinham sobre o povo vinha das seguintes características: tinham a sinagoga, que se considera ser uma instituição farisaica, em contraposição ao Templo; afirmavam sua origem judaica; tinham uma piedade muito grande e desenvolvida; sua interpretação escrupulosa da Lei juntamente com a observância igualmente escrupulosa do sábado; um extremo cuidado no que entendiam ser o cumprimento da

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pureza legal; e o pagamento integral do dízimo dos mínimos produtos. Com tudo isso, pretendiam impor ao povo em geral uma pureza

semelhante àquela que deveria caracterizar a vida do sacerdote do Templo, o que os saduceus não exigiam. Mas os fariseus, que assim se mostravam mais puros que o sumo sacerdote, eram o exemplo do povo. É interessante que eles fascinavam o povo, a quem desprezavam!

Por outro lado, os fariseus se contrapunham a área religiosa do Templo, no que na época era entendido como um espírito renovador. Diante dos saduceus que só admitiam o pentateuco, os escribas fariseus combinavam a exegese da Lei com os profetas e com a tradição oral, elaborando uma teologia mais ampla e mais espiritualista. Manifestavam uma fé messiânica e afirmavam a existência de anjos, o julgamento depois da morte e a ressureição dos mortos (apenas dos justos). Com tudo isso, aos olhos do povo, eles superavam os saduceus e os sacerdotes em conhecimento e piedade.

Os zelotas, “zelosos”, “fervorosos”, eram pessoas decididas, ou como se diz hoje, engajadas, na causa nacionalista judaica. Eram fanáticos, também chamados de “sicários”, ou homens do punhal: “sica” era o nome de um punhal romano, pequeno e curvo que podia ser escondido na

manga da túnica, e ser usado em assassinatos. O movimento surgiu no ano 6, durante um recenseamento romano, quando o fariseu Saduc e o galileu João de Gamala lideraram uma revolta. A revolta foi reprimida, mas o espírito de revolta continuou com os Zelotas. O modus operandi favorito deles era o assassinato de pessoas colaboracionistas, em

ambiente público. Eles se aproximavam da pessoa em meio a multidão, com a “sica” escondida, e a executavam.

Os Zelotas se separaram dos fariseus, considerados por eles muito conciliadores e muito passivos. Barrabás era um zelota. Durante a revolta dos judeus dos anos 66 a 70, o fanatismo Zelota atingiu seu máximo. Mesmo depois da queda de Jerusalém, no ano 70, houve um grupo que resistiu até o ano de 73, na fortaleza herodiana de Massada.

O programa dos zelotas continha uma reforma social, mas limitada. Queriam se livrar dos romanos, e corrigir abusos do sistema, sem alterar muita coisa.

Os essênios são mencionados por Plínio, o Velho, Philo, e Flávio Josefo, de onde pode deduzir-se a existência deles desde o século 2 aC. Nessa seita só se entrava depois de longa iniciação, e se vivia de maneira muito parecida com um mosteiro (bens comuns e continência, vida

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regrada) em retiros afastados, no deserto. A fidelidade a Lei e ao

legislador, Moisés, era o tema favorito da seita. Não são mencionados no Novo Testamento, pois viviam retirados, como hoje se pode ver nas ruínas de Qumrã, onde também foram descobertos os chamados “Manuscritos do Mar Morto”.

Na sociedade do tempo de Jesus ninguém era indiferente ao poder. Mesmo se tratando do poder em uma teocracia, nada muda. A fuga dos essênios para o deserto, na espera de uma revanche que só Deus poderia tornar eficaz, a contestação violenta dos zelotas, a espera vigilante dos fariseus, o oportunismo dos saduceus, que prefeririam a independência, mas tiravam proveito da situação vigente. Tudo era motivado por um apetite do poder.

Jesus desencadeou o Reino de Deus. Todos esses esperavam outra coisa, embora Jesus não tenha destruído a esperança, mas sim apresentado uma conversão, uma reorientação das esperanças, fundada em um novo relacionamento com Deus. Nenhum desses grupos o aceitou.

Referências

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