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SUZANA DIAS-BECK. Voltando pra casa

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Academic year: 2021

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Texto

(1)

Leitor iniciante

Leitor em processo

Leitor fluente

SUZANA DIAS-BECK

Voltando pra casa

ILUSTRAÇÕES: FÊ

PROJETO DE LEITURA

Maria José Nóbrega

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“Andorinha no coqueiro, Sabiá na beira-mar, Andorinha vai e volta, Meu amor não quer voltar.”

De Leitores e Asas

MARIA JOSÉ NÓBREGA

N

uma primeira dimensão, ler pode ser entendido como de-cifrar o escrito, isto é, compreender o que letras e outros sinais gráficos representam. Sem dúvida, boa parte das ativida-des que são realizadas com as crianças nas séries iniciais do Ensino Fundamental têm como finalidade desenvolver essa capacidade. Ingenuamente, muitos pensam que, uma vez que a criança te-nha fluência para decifrar os sinais da escrita, pode ler sozite-nha, pois os sentidos estariam lá, no texto, bastando colhê-los.

Por essa concepção, qualquer um que soubesse ler e conheces-se o que as palavras significam estaria apto a dizer em que lugar estão a andorinha e o sabiá; qual dos dois pássaros vai e volta e quem não quer voltar. Mas será que a resposta a estas questões bastaria para assegurar que a trova foi compreendida? Certa-mente não. A compreensão vai depender, também, e muito, do que o leitor já souber sobre pássaros e amores.

Isso porque muitos dos sentidos que depreendemos ao ler de-rivam de complexas operações cognitivas para produzir inferências. Lemos o que está nos intervalos entre as palavras, nas entrelinhas, lemos, portanto, o que não está escrito. É como se o texto apresentasse lacunas que devessem ser preenchidas pelo trabalho do leitor.

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Se retornarmos à trova acima, descobriremos um “eu” que as-socia pássaros à pessoa amada. Ele sabe o lugar em que está a andorinha e o sabiá; observa que as andorinhas migram, “vão e

voltam”, mas diferentemente destas, seu amor foi e não voltou.

Apesar de não estar explícita, percebemos a comparação entre a andorinha e a pessoa amada: ambas partiram em um dado mo-mento. Apesar de também não estar explícita, percebemos a opo-sição entre elas: a andorinha retorna, mas a pessoa amada “não

quer voltar”. Se todos estes elementos que podem ser deduzidos

pelo trabalho do leitor estivessem explícitos, o texto ficaria mais ou menos assim:

Sei que a andorinha está no coqueiro, e que o sabiá está na beira-mar. Observo que a andorinha vai e volta,

mas não sei onde está meu amor que partiu e não quer voltar.

O assunto da trova é o relacionamento amoroso, a dor-de-cotovelo pelo abandono e, dependendo da experiência prévia que tivermos a respeito do assunto, quer seja esta vivida pessoalmente ou “vivida” através da ficção, diferentes emoções podem ser ativadas: alívio por estarmos próximos de quem amamos, cumplicidade por estarmos distantes de quem amamos, desilusão por não acreditarmos mais no amor, esperança de encontrar alguém diferente...

Quem produz ou lê um texto o faz a partir de um certo lugar, como diz Leonardo Boff*, a partir de onde estão seus pés e do que vêem seus olhos. Os horizontes de quem escreve e os de quem lê podem estar mais ou menos próximos. Os horizontes de um leitor e de outro podem estar mais ou menos próximos. As leitu-ras produzem interpretações que produzem avaliações que reve-lam posições: pode-se ou não concordar com o quadro de valores sustentados ou sugeridos pelo texto.

Se refletirmos a respeito do último verso “meu amor não quer

voltar”, podemos indagar, legitimamente, sem nenhuma

esperan-ça de encontrar a resposta no texto: por que ele ou ela não “quer” voltar? Repare que não é “não pode” que está escrito, é “não quer”, isto quer dizer que poderia, mas não quer voltar. O que teria provo-cado a separação? O amor acabou. Apaixonse por outra ou ou-tro? Outros projetos de vida foram mais fortes que o amor: os estu-dos, a carreira, etc. O “eu” é muito possessivo e gosta de controlar os passos dele ou dela, como controla os da andorinha e do sabiá?

___________

* “Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.” A águia e

a galinha: uma metáfora da condição humana (37a edição, 2001), Leonardo Boff, Editora Vozes, Petrópolis.

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Quem é esse que se diz “eu”? Se imaginarmos um “eu” mascu-lino, por exemplo, poderíamos, num tom machista, sustentar que mulher tem de ser mesmo conduzida com rédea curta, porque senão voa; num tom mais feminista, poderíamos dizer que a mulher fez muito bem em abandonar alguém tão controlador. Está instalada a polêmica das muitas vozes que circulam nas prá-ticas sociais...

Se levamos alguns anos para aprender a decifrar o escrito com autonomia, ler na dimensão que descrevemos é uma aprendiza-gem que não se esgota nunca, pois para alguns textos seremos sempre leitores iniciantes.

DESCRIÇÃO DO PROJETO DE LEITURA

UM POUCO SOBRE O AUTOR

Contextualiza-se o autor e sua obra no panorama da literatura para crianças.

RESENHA

Apresentamos uma síntese da obra para permitir que o pro-fessor, antecipando a temática, o enredo e seu desenvolvimento, possa considerar a pertinência da obra levando em conta as ne-cessidades e possibilidades de seus alunos.

COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA

Procuramos evidenciar outros aspectos que vão além da trama narrativa: os temas e a perspectiva com que são abordados, cer-tos recursos expressivos usados pelo autor. A partir deles, o pro-fessor poderá identificar que conteúdos das diferentes áreas do conhecimento poderão ser explorados, que temas poderão ser discutidos, que recursos lingüísticos poderão ser explorados para ampliar a competência leitora e escritora do aluno.

PROPOSTAS DE ATIVIDADES a) antes da leitura

Ao ler, mobilizamos nossas experiências para compreendermos o texto e apreciarmos os recursos estilísticos utilizados pelo au-tor. Folheando o livro, numa rápida leitura preliminar, podemos antecipar muito a respeito do desenvolvimento da história.

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As atividades propostas favorecem a ativação dos conhecimen-tos prévios necessários à compreensão do texto.

 Explicitação dos conhecimentos prévios necessários para que os alunos compreendam o texto.

 Antecipação de conteúdos do texto a partir da observação de indicadores como título (orientar a leitura de títulos e subtítulos), ilustração (folhear o livro para identificar a loca-lização, os personagens, o conflito).

 Explicitação dos conteúdos que esperam encontrar na obra levando em conta os aspectos observados (estimular os alu-nos a compartilharem o que forem observando).

b) durante a leitura

São apresentados alguns objetivos orientadores para a leitura, focalizando aspectos que auxiliem a construção dos significados do texto pelo leitor.

 Leitura global do texto.

 Caracterização da estrutura do texto.

 Identificação das articulações temporais e lógicas responsá-veis pela coesão textual.

c) depois da leitura

Propõem-se uma série de atividades para permitir uma melhor compreensão da obra, aprofundar o estudo e a reflexão a respei-to de conteúdos das diversas áreas curriculares, bem como deba-ter temas que permitam a inserção do aluno nas questões con-temporâneas.

 Compreensão global do texto a partir da reprodução oral ou escrita do texto lido ou de respostas a questões formula-das pelo professor em situação de leitura compartilhada.  Apreciação dos recursos expressivos mobilizados na obra.  Identificação dos pontos de vista sustentados pelo autor.  Explicitação das opiniões pessoais frente a questões polêmicas.  Ampliação do trabalho para a pesquisa de informações com-plementares numa dimensão interdisciplinar ou para a pro-dução de outros textos ou, ainda, para produções criativas que contemplem outras linguagens artísticas.

LEIA MAIS...  do mesmo autor  sobre o mesmo assunto  sobre o mesmo gênero

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VOLTANDO PRA CASA

SUZANA DIAS-BECK

UM POUCO SOBRE A AUTORA

Suzana Dias-Beck nasceu na capital de São Paulo, em 1925, e faleceu em 1996. O mais importante na vida dela sempre foi escre-ver. Jornalista, cronista e escritora, trabalhou em vários periódicos brasileiros, além de colaborar com jornais portugueses, como

Diá-rio de Lisboa, A República, O Século e a revista Eva. Além de

escre-ver para adultos (o romance Os andaluzes, também apreciado por jovens), escreveu vários livros para crianças.

Suzana também fez parte da redação de um jornal infantil dis-tribuído nas escolas públicas: o Pipoca. Anos mais tarde, fundou e dirigiu o jornal Foquinha, criando os personagens Urubu Malan-dro e o repórter Foquinha. Com eles correu o Brasil e parte do mundo.

Na opinião de Suzana, rir é a melhor coisa que os deuses ensina-ram aos seres humanos, e na vida tudo é questão de saber olhar e de dar risada na hora certa.

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7 RESENHA

Continuação de um livro anterior de Suzana Dias-Beck ––

Fu-gindo de casa ––, esse livro narra o retorno de D. Carolina e Celso,

seu neto, depois das muitas aventuras que passaram junto com Tapuia, um índio da Tapera, antigo lugar de indígenas, próximo à fazenda Marajoara, de propriedade da família.

Em Voltando pra casa, avó e neto estão retornando para a cidade grande onde moram, não sem antes jurar a Tapuia que guardarão segredo sobre aquele lugar reservado dos índios. Como manter se-gredo? O que contar, afinal, sobre os dias que ali passaram? Essas eram perguntas que a avó e o garoto faziam-se todo o tempo.

No caminho do sítio até o trem, D. Carolina e Celso passam por outras tantas peripécias e perigos, sempre salvos por Tapuia. Por exemplo, quando uns bandidos raptam os dois a fim de obter a recompensa do resgate.

Ao final, no trem de volta para casa, os dois encontram Tião, um antigo admirador de D. Carolina, do tempo de juventude, a quem contam a verdade. Ele promete ajudá-los, dizendo que vai inventar uma boa história para a família deles. A história acaba e o leitor não fica sabendo exatamente o que Tião vai inventar — é a dica para o leitor esperar ou imaginar novas histórias com esses dois amalucados...

COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA

As aventuras da avó e do neto pelas matas são recheadas por momentos de explicitação da amizade entre os dois e o índio Tapuia. É sempre nesse clima de confiança e fidelidade que os episódios vão sendo tramados. O suspense da história é conseguido por meio dos perigos por que passam os personagens. Perigo representado não só pelas matas, mas também pelos seres humanos ambiciosos, como é o caso dos bandidos que querem o resgate de Celso e D. Carolina. Apesar de tudo, a união dos três acaba vencendo sempre. O reen-contro de D. Carolina e Tião dá um toque romântico à história e, ao mesmo tempo, prenuncia novas aventuras.

Áreas envolvidas: Língua Portuguesa, História, Geografia Temas transversais: Meio ambiente, Pluralidade cultural Público-alvo: leitor fluente

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PROPOSTAS DE ATIVIDADES Antes da leitura:

1. Converse com os alunos sobre as sensações de voltar para casa. Eles já estiveram algum tempo fora de casa e depois voltaram? Alguém já leu histórias ou assistiu a filmes que falam de pessoas que ficaram um longo tempo fora de casa? Enfim, inicie o traba-lho com esse livro, refletindo sobre o tema do retorno ao lar. 2. Voltando pra casa é a continuação de Fugindo de casa, um ou-tro livro da escritora Suzana Dias-Beck. Reproduza a seus alunos os acontecimentos do primeiro livro da série:

Celso, para escapar de um castigo do pai, que não mostra muita tolerância com as pequenas falhas do menino, refugia-se na casa da avó, D. Carolina. Esta também sofre com a falta de compreen-são dos filhos, que não a deixam fazer nada –– pessoas de idade devem apenas repousar. Assim, avó e neto combinam uma fuga. Viajam às escondidas para a Tapera, um lugar em meio aos mor-ros de uma antiga fazenda, onde D. Carolina passara a infância. Depois de muitas peripécias, eles chegam ao local. Levam um bom susto com um índio que os surpreende à noite, na mata, quando descobrem que ele é Tapuia, amigo de D. Carolina. Avó e neto passam a morar numa casa de taipa. Celso acompanha o índio em suas caçadas e vai aprendendo os costumes e valores indígenas. Um dia, porém, ficam sabendo que a família, acreditando que eles tivessem sido vítimas de um seqüestro, mandara para a prisão a inocente e fiel empregada da casa. Os dois fugitivos compreen-dem que é hora de voltar.

3. Mostre a eles a capa do livro e peça que, a partir da ilustração de Fê, identifiquem que personagens do livro Fugindo de casa per-manecerão nessa nova aventura. Certamente, associarão o índio a Tapuia, a senhora idosa a D. Carolina e o garoto a Celso.

4. Proponha que leiam o sumário do livro e, considerando que já sabem o que aconteceu antes, levantem hipóteses sobre a histó-ria, a partir dos títulos dos capítulos.

Durante a leitura:

1. Peça aos alunos que leiam a história toda, verificando se as hi-póteses que levantaram se confirmam.

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Depois da leitura:

1. Leia com os alunos a seção do livro “Autora e Obra”. Que opi-nião têm sobre a idéia de as personagens entrevistarem a autora? O formato “entrevista” permite que o leitor, além de conhecer um pouco mais a respeito da autora, descubra como ela vê seus personagens. Aproveite, então, para contextualizar o trabalho da autora e para caracterizar as personagens principais do livro. 2. Converse sobre as hipóteses que os alunos tiveram sobre a his-tória. Quais se confirmaram? Que passagens os surpreenderam? 3. Retome os episódios narrados em cada um dos capítulos a partir da ilustração criada por Fê. Veja se seus alunos concordam com a escolha da cena feita pelo ilustrador. Solicite em seguida que esco-lham outras passagens relevantes em cada um dos capítulos:

Capítulo Nova cena

seleciona-da

pelos alunos

1. O adeus 2. Noite na mata 3. Onde está Tapuia?

4. Voltando ao acampamento 5. Raptados

6. Conversando a gente se entende 7. Estamos chegando

8. Mais complicações

Organize a turma em oito grupos e desafie-os a produzir uma nova ilustração, adotando o estilo do ilustrador.

4. Releia o primeiro capítulo do livro, chamando atenção para o fato de o narrador não participar da história — é a chamada nar-ração em 3a pessoa. Aproveite os grupos formados e desafie-os a

recontar um episódio da história, em 1a pessoa, do ponto de vista

de um dos personagens:

• Tapuia; • Celso; • D. Carolina; • um dos bandidos.

5. Num determinado momento, D. Carolina afirma que “uma aproxi-mação física deve vir depois que já houve uma aproxiaproxi-mação do cora-ção”. O que pensam os alunos a respeito disso? Ela fala de costumes de certos povos. Essa é uma boa oportunidade para discutir as diferenças culturais de grupos sociais e de povos.

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6. Celso e D. Carolina prometeram ao índio Tapuia não contar a verdade sobre a Tapera. O menino tem sentimento de culpa por mentir para sua família. Organize um debate com os alunos sobre isso: Mentir é aceitável? Sempre? Nunca? Quando? Por quê? En-fim, problematize essa questão para que a vejam de vários pontos de vista, a fim de compreender a vida em sua complexidade, e não apenas de forma maniqueísta.

7. A cultura indígena é um outro tema referido nesse livro. Solici-te uma pesquisa sobre o Solici-termo “Tapuia”. Discuta com os alunos a intencionalidade da autora ao fazer essa escolha do nome do ín-dio, amigo de D. Carolina e de Celso.

8. No 1o capítulo, encontramos o seguinte trecho:

“A história do Brasil, ensinada na escola, era bem diferente dessa história da qual o índio falava. Os brancos tinham sido os invaso-res, destruindo os índios, legítimos donos da terra”.

Discuta com os alunos a questão dos povos indígenas no Brasil e nas Américas, considerando não apenas a extinção física, mas tam-bém a destruição cultural desses povos, por meio da imposição dos valores chamados “civilizados”.

9. Não sabemos, como leitores, qual vai ser a história inventada por Tião para manter a promessa feita por D. Carolina e Celso a Tapuia sobre seu segredo. Peça aos alunos que elaborem uma con-tinuação da história, imaginando o que diria Tião à família de D. Carolina e Celso.

LEIA MAIS... 1. DA MESMA AUTORA

Fugindo de casa — São Paulo, Editora Moderna

2. SOBRE O MESMO ASSUNTO

• As aventuras de Tom Sawyer –– Mark Twain, São Paulo,

Editora Ática

• Viagem pelo ombro de minha jaqueta –– Lo Galasso, São

Paulo, Editora Ática

• Histórias de índio –– Daniel Munduruku, São Paulo,

Referências

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