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ASSIS BRASIL. O cantor prisioneiro

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Academic year: 2021

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Texto

(1)

Leitor iniciante

Leitor em processo

Leitor fluente

ASSIS BRASIL

O cantor prisioneiro

ILUSTRAÇÕES: ROGÉRIO BORGES

PROJETO DE LEITURA

Maria José Nóbrega

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“Andorinha no coqueiro, Sabiá na beira-mar, Andorinha vai e volta, Meu amor não quer voltar.”

De Leitores e Asas

MARIA JOSÉ NÓBREGA

N

uma primeira dimensão, ler pode ser entendido como de-cifrar o escrito, isto é, compreender o que letras e outros sinais gráficos representam. Sem dúvida, boa parte das ativida-des que são realizadas com as crianças nas séries iniciais do Ensino Fundamental têm como finalidade desenvolver essa capacidade. Ingenuamente, muitos pensam que, uma vez que a criança te-nha fluência para decifrar os sinais da escrita, pode ler sozite-nha, pois os sentidos estariam lá, no texto, bastando colhê-los.

Por essa concepção, qualquer um que soubesse ler e conheces-se o que as palavras significam estaria apto a dizer em que lugar estão a andorinha e o sabiá; qual dos dois pássaros vai e volta e quem não quer voltar. Mas será que a resposta a estas questões bastaria para assegurar que a trova foi compreendida? Certa-mente não. A compreensão vai depender, também, e muito, do que o leitor já souber sobre pássaros e amores.

Isso porque muitos dos sentidos que depreendemos ao ler de-rivam de complexas operações cognitivas para produzir inferências. Lemos o que está nos intervalos entre as palavras, nas entrelinhas, lemos, portanto, o que não está escrito. É como se o texto apresentasse lacunas que devessem ser preenchidas pelo trabalho do leitor.

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Se retornarmos à trova acima, descobriremos um “eu” que as-socia pássaros à pessoa amada. Ele sabe o lugar em que está a andorinha e o sabiá; observa que as andorinhas migram, “vão e

voltam”, mas diferentemente destas, seu amor foi e não voltou.

Apesar de não estar explícita, percebemos a comparação entre a andorinha e a pessoa amada: ambas partiram em um dado mo-mento. Apesar de também não estar explícita, percebemos a opo-sição entre elas: a andorinha retorna, mas a pessoa amada “não

quer voltar”. Se todos estes elementos que podem ser deduzidos

pelo trabalho do leitor estivessem explícitos, o texto ficaria mais ou menos assim:

Sei que a andorinha está no coqueiro, e que o sabiá está na beira-mar. Observo que a andorinha vai e volta,

mas não sei onde está meu amor que partiu e não quer voltar.

O assunto da trova é o relacionamento amoroso, a dor-de-cotovelo pelo abandono e, dependendo da experiência prévia que tivermos a respeito do assunto, quer seja esta vivida pessoalmente ou “vivida” através da ficção, diferentes emoções podem ser ativadas: alívio por estarmos próximos de quem amamos, cumplicidade por estarmos distantes de quem amamos, desilusão por não acreditarmos mais no amor, esperança de encontrar alguém diferente...

Quem produz ou lê um texto o faz a partir de um certo lugar, como diz Leonardo Boff*, a partir de onde estão seus pés e do que vêem seus olhos. Os horizontes de quem escreve e os de quem lê podem estar mais ou menos próximos. Os horizontes de um leitor e de outro podem estar mais ou menos próximos. As leitu-ras produzem interpretações que produzem avaliações que reve-lam posições: pode-se ou não concordar com o quadro de valores sustentados ou sugeridos pelo texto.

Se refletirmos a respeito do último verso “meu amor não quer

voltar”, podemos indagar, legitimamente, sem nenhuma

esperan-ça de encontrar a resposta no texto: por que ele ou ela não “quer” voltar? Repare que não é “não pode” que está escrito, é “não quer”, isto quer dizer que poderia, mas não quer voltar. O que teria provo-cado a separação? O amor acabou. Apaixonse por outra ou ou-tro? Outros projetos de vida foram mais fortes que o amor: os estu-dos, a carreira, etc. O “eu” é muito possessivo e gosta de controlar os passos dele ou dela, como controla os da andorinha e do sabiá?

___________

* “Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.” A águia e

a galinha: uma metáfora da condição humana (37a edição, 2001), Leonardo Boff, Editora

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Quem é esse que se diz “eu”? Se imaginarmos um “eu” mascu-lino, por exemplo, poderíamos, num tom machista, sustentar que mulher tem de ser mesmo conduzida com rédea curta, porque senão voa; num tom mais feminista, poderíamos dizer que a mulher fez muito bem em abandonar alguém tão controlador. Está instalada a polêmica das muitas vozes que circulam nas prá-ticas sociais...

Se levamos alguns anos para aprender a decifrar o escrito com autonomia, ler na dimensão que descrevemos é uma aprendiza-gem que não se esgota nunca, pois para alguns textos seremos sempre leitores iniciantes.

DESCRIÇÃO DO PROJETO DE LEITURA

UM POUCO SOBRE O AUTOR

Contextualiza-se o autor e sua obra no panorama da literatura para crianças.

RESENHA

Apresentamos uma síntese da obra para permitir que o pro-fessor, antecipando a temática, o enredo e seu desenvolvimento, possa considerar a pertinência da obra levando em conta as ne-cessidades e possibilidades de seus alunos.

COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA

Procuramos evidenciar outros aspectos que vão além da trama narrativa: os temas e a perspectiva com que são abordados, cer-tos recursos expressivos usados pelo autor. A partir deles, o pro-fessor poderá identificar que conteúdos das diferentes áreas do conhecimento poderão ser explorados, que temas poderão ser discutidos, que recursos lingüísticos poderão ser explorados para ampliar a competência leitora e escritora do aluno.

PROPOSTAS DE ATIVIDADES a) antes da leitura

Ao ler, mobilizamos nossas experiências para compreendermos o texto e apreciarmos os recursos estilísticos utilizados pelo au-tor. Folheando o livro, numa rápida leitura preliminar, podemos antecipar muito a respeito do desenvolvimento da história.

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As atividades propostas favorecem a ativação dos conhecimen-tos prévios necessários à compreensão do texto.

 Explicitação dos conhecimentos prévios necessários para que os alunos compreendam o texto.

 Antecipação de conteúdos do texto a partir da observação de indicadores como título (orientar a leitura de títulos e subtítulos), ilustração (folhear o livro para identificar a loca-lização, os personagens, o conflito).

 Explicitação dos conteúdos que esperam encontrar na obra levando em conta os aspectos observados (estimular os alu-nos a compartilharem o que forem observando).

b) durante a leitura

São apresentados alguns objetivos orientadores para a leitura, focalizando aspectos que auxiliem a construção dos significados do texto pelo leitor.

 Leitura global do texto.

 Caracterização da estrutura do texto.

 Identificação das articulações temporais e lógicas responsá-veis pela coesão textual.

c) depois da leitura

Propõem-se uma série de atividades para permitir uma melhor compreensão da obra, aprofundar o estudo e a reflexão a respei-to de conteúdos das diversas áreas curriculares, bem como deba-ter temas que permitam a inserção do aluno nas questões con-temporâneas.

 Compreensão global do texto a partir da reprodução oral ou escrita do texto lido ou de respostas a questões formula-das pelo professor em situação de leitura compartilhada.  Apreciação dos recursos expressivos mobilizados na obra.  Identificação dos pontos de vista sustentados pelo autor.  Explicitação das opiniões pessoais frente a questões polêmicas.  Ampliação do trabalho para a pesquisa de informações com-plementares numa dimensão interdisciplinar ou para a pro-dução de outros textos ou, ainda, para produções criativas que contemplem outras linguagens artísticas.

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O cantor prisioneiro

ASSIS BRASIL

UM POUCO SOBRE O AUTOR

Francisco de Assis Almeida Brasil (Assis Brasil) nasceu em Parnaíba, Piauí, onde tem uma fundação com seu nome. Jornalis-ta profissional, pertence à Academia Piauiense de Letras, dedica-se hoje inteiramente à literatura, já tendo atingido a casa dos cem livros publicados, destacando-se cerca de trinta na área infanto-juvenil.

Estudioso da Literatura Brasileira, autor de dicionários de escri-tores e vocabulários de termos técnicos de literatura, atualmente desenvolve projeto de antologias poéticas de vinte estados brasi-leiros, já tendo saído as coletâneas do Maranhão, Piauí, Ceará, Goiás, Amazonas, Fluminense, Minas Gerais, Sergipe, Espírito San-to. Entre seus livros infanto-juvenis se destaca a série das aventu-ras de Gavião Vaqueiro, um guia da floresta e ecologista, amigo dos índios, de quem defende a cultura.

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RESENHA

Um sabiá caiu numa armadilha — um alçapão com uma bela e suculenta goiaba dentro, como atrativo para a ave. Como estava irre-mediavelmente preso, sua grande preocupação passou a ser sua fa-mília: a fêmea e os filhotes. “Quem iria agora alimentá-los?”, pensa-va, sem parar, o pequeno pássaro. Estar preso numa gaiola forte e resistente impossibilitava sua fuga. “O que fazer?” Aos poucos, a pequena ave foi sendo tomada por vários sentimentos: saudade, dor, resignação. Isso tudo se alterou, um pouco, quando Artur, o homem que o havia prendido, levou-o para seu verdadeiro destino: a casa da mãe — um presente prometido há tempos. Nesse lugar, o sabiá pôde conviver com uma velhinha bondosa e meiga que compreendia a necessidade de liberdade do pássaro, mas tinha medo do filho e, por isso, mantinha-o preso. Até que um dia a bondosa mulher não agüen-tou mais a tristeza do pássaro e, fingindo que abria a porta da gaiola para alimentá-lo, deixou-o escapar. O sabiá voltou para sua família. A partir daquele dia, toda manhã, o pássaro acordava a velhinha, pousava num pé de jamelão e cantava seu canto livre e bonito.

COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA

Essa história trata de um tema recorrente: a prisão de pássaros pelo homem. Em O cantor prisioneiro, a história se repete: na pri-são, o pássaro sofre e quer de novo a liberdade de voar e de can-tar. No entanto, a delicadeza com que essa trama se desenvolve vai envolvendo o leitor e fazendo-o ressignificar, de maneira sen-sível, as relações dos humanos com os outros animais.

Pelo livro ficamos sabendo que esse drama da falta de liberda-de é potencializado com o sabiá, uma vez que esse tipo liberda-de ave tem um comportamento de companheirismo com a fêmea, quan-do essa tem seus filhotes, pois é o par de aves o responsável pela alimentação dos pequenos. Por fim, a trama mostra os dois lados: assim como um ser humano prende a pobre ave, é também um outro ser humano que a solta, como que apontando para as dife-renças entre as pessoas e suas atitudes.

Áreas envolvidas: Língua Portuguesa, Ciências, Educação

Artística

Temas transversais: Meio ambiente Público-alvo: leitor fluente

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PROPOSTAS DE ATIVIDADES Antes da leitura:

1. Inicie, discutindo com os alunos o título O cantor prisioneiro. Que

hipóteses levantam sobre o enredo do livro? Pode tratar-se de um can-tor famoso? O que teria acontecido para ele ser preso? Enfim, permita aos alunos liberdade para imaginarem coisas a partir do título.

2. Em seguida, mostre a capa do livro com a ilustração de Rogério

Borges. Quais hipóteses se confirmam? Por quê? Em que medida ela anuncia o tema da história?

3. Converse ainda sobre pássaros. Que espécies eles conhecem?

De quais gostam mais e por quê? Mantêm pássaros presos em gaiola? Conhecem quem os tem? O que pensam disso?

Durante a leitura:

1. Proponha que os alunos leiam o livro todo, observando as

trans-formações pelas quais passa o sabiá nos três momentos da história:

• sua prisão; • a vida na gaiola; • sua libertação.

2. Peça que assinalem as passagens em que o livro faz referência a

outros tipos de passarinho.

3. Convide-os a apreciarem as lindas ilustrações de Rogério Borges. Depois da leitura:

1. Retome com os alunos os principais episódios da história do

sabiá, protagonista desta história.

2. Rogério Borges, criador das ilustrações do livro, através das

ima-gens, faz uma sensível leitura do texto de Assis Brasil.

• “De repente a paisagem em volta se desenhou por estrias

escuras, barras...” (página 6). Chame a atenção para a presença das grades da gaiola em quase todas as ilustrações;

• “Estava preso, sim, mas sua imaginação não estava” (página

13). Peça aos alunos para observarem as ilustrações do sabiá nas páginas 13 e 14 e verifique se percebem a maneira como o ilustra-dor representa visualmente a imaginação do pássaro;

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• Localize as ilustrações em que Rogério Borges explora o

deta-lhe — uma asa (página 7), os olhos (página 8), o bico aberto do sabiá e um pedaço de mamão (página 10), a mão (página 28), o recorte do céu feito pela porta aberta da gaiola (página 29) etc.

• Analise a colagem das páginas 16 e 17.

• Aprecie a linda metáfora visual — o xale da mãe de Artur que

se confunde com uma imensa asa (página 22).

3. Como o livro traz uma narrativa de ficção, o sabiá está

personi-ficado, isto é, ele pensa e age, muitas vezes como se tivesse carac-terísticas humanas. O sabiá, nessa história, tem família e trabalha para sustentá-la. Qual era, afinal, seu trabalho? Por que sua prisão ameaça a vida dos filhotes?

4. Converse com os alunos sobre o trecho do livro que diz que o

corpo do sabiá está preso, mas sua imaginação não estava. O que isso poderia significar?

5. Pintassilgos, uirapuru-de-cabeça-encarnada, canário-da-terra

es-tão entre os diferentes passarinhos que o autor menciona no li-vro. Organize a turma em grupos e peça para pesquisarem a res-peito dessas aves. Estimule-os a confirmar se as várias informações feitas no livro sobre as diferentes espécies estão corretas.

Peça também que investiguem sobre o perverso comércio ilegal de animais silvestres no Brasil — um negócio que movimenta 2 bilhões de dólares por ano no Brasil e é responsável pelo desapa-recimento anual de cerca de 12 milhões de animais das florestas e matas brasileiras. O faturamento desse tipo de tráfico, que chama atenção pelas cifras, só perde hoje para o de drogas e o de armas. (Dados publicados no Correio Brasiliense de 20 de julho de 2001.)

6. Aproveite os grupos formados e peça que façam uma pesquisa

a respeito da relação dos animais com as crias. Que diferenças há? Marque os dias e os horários de apresentação de cada grupo.

7. Que tal elaborar com os alunos uma antologia de poemas e

canções que tratem do tema “pássaros”? Valem também trovas, adivinhas, trava-línguas, enfim textos da tradição popular.

Pois é, quem será que se lembra desses, que tem a ver com o sabiá, o passarinho do nosso livro: “Você sabia que o sabiá sabia assoviar?”. Ou dos clássicos versos de “Canção do Exílio” de Gon-çalves Dias: “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá...” Ou, ainda, dos versos da canção de Hervê Clodovil e Mário Vieira: “Sabiá lá na gaiola fez um buraquinho, voou, voou, voou, voou...” Há muitos outros... Voem nesse universo, sempre renovado... Se qui-serem, organizem um CD com as mais bonitas canções.

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8. O ponto de vista com que a narrativa é contada é o do sabiá.

Com essa perspectiva, o narrador aproxima o leitor dos sentimen-tos vividos por este personagem mais do que qualquer outro. Pro-ponha que os alunos escrevam novas versões para esta mesma his-tória, mas a partir de perspectivas diferentes, como a:

• da fêmea do sabiá preso;

• de Artur, o homem que aprisionou o sabiá;

• da mãe de Artur, que ganhou o pássaro de presente.

9. De tanto falar em passarinho, quem não fica com vontade de

voar? Aproveite para contar aos alunos a história do mito grego Ícaro. Solicite que procurem saber quem é. Discuta com os alunos como essa figura representa o eterno sonho humano de voar.

LEIA MAIS... 1. DO MESMO AUTOR

• Yakima – o menino-onça — São Paulo, Editora Saraiva • Os desafios do rebelde — São Paulo, Editora Saraiva • Corisco, o último cavalo selvagem — São Paulo, Editora

Saraiva

2. SOBRE O MESMO ASSUNTO

• Liberdade para todos –– Avelino Guedes, São Paulo,

Edi-tora Moderna

• Será que ele vem? –– Vivina de Assis Viana, São Paulo,

Editora Moderna

• Mil pássaros pelo céu –– Ruth Rocha, São Paulo, Editora

Ática

• O falso observador de pássaros –– Luiz Maria Veiga, São

Referências

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