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Apresentado à: Sasol Petroleum Temane, Moçambique Sasol Exploration & Petroleum International Londres. Relatório Número:

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Academic year: 2021

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PROJECTO DE DESENVOLVIMENTO NO ÂMBITO

DO APP E PROJECTO DE GPL DA SASOL,

PROVÍNCIA DE INHAMBANE, MOÇAMBIQUE

Avaliação da Biodiversidade do

Habitat Crítico do Riacho

Costeiro Nhangonzo

ESTUDO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA SOBRE A

FAUNA DE PEIXES E O HABITAT AQUÁTICO

Apresentado à:

Sasol Petroleum Temane, Moçambique Sasol Exploration & Petroleum International Londres ELABORADO POR: Autor: A. Bok Relatório Número: 1521646-13539-13 Distribuição:

RELATÓRIO

(2)
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SUMÁRIO NÃO TÉCNICO

Introdução

Os estudos especializados efectuados pela Golder (2014) como parte do processo da AIA realizada para o Projecto de Desenvolvimento no Âmbito do Acordo de Partilha de Produção (APP) e Projecto de Produção de Gás de Petróleo Liquefeito (GPL)proposto pela Sasol identificaram uma área de Habitat Crítico com uma extensão de 4.339 ha situada dentro da área de estudo a Este do Rio Govuro entre Vilanculos e Inhassoro. Este Habitat Crítico foi definido em termos de três das cinco categorias de habitats críticos listadas no Padrão de Desempenho 6 da IFC. Estas categorias, baseadas na biodiversidade da flora e fauna terrestres e nos habitats de turfeiras pantanosas fora do comum, incluíram (a) um habitat de importância significativa para as espécies endémicas ou com um raio de acção restrito, (b) ecossistemas criticamente ameaçados e/ou únicos, (c) e /ou áreas associadas com processos evolutivos chave.

No centro deste Habitat Crítico existe o riacho costeiro Nhangonzo que é constituído por dois afluentes de água doce que contêm “turfeiras pantanosas” que se unem para formar um riacho costeiro que desagua no mar através de um vasto estuário que suporta pântanos de mangais (70 ha). Os estudos especializados iniciais recomendaram a realização de um estudo adicional para investigar, em mais detalhe, este ambiente que se encontra num estado praticamente intacto, como base para a tomada de decisões sobre a sua gestão no futuro. A área de estudo é definida como uma área conjunta que compreende o Habitat Crítico e a área de desenvolvimento turístico do INATUR.

Objectivos e Termos de Referência

Em 2014 realizaram-se estudos preliminares sobre a fauna de peixes existente nos riachos costeiros de água doce e no pântano de mangais como parte do processo da AIA original. No entanto, considerou-se justificada a realização de investigações adicionais das espécies de peixes utilizando estes ecossistemas aquáticos importantes e possivelmente únicos a nível local, procurando dessa forma fazer uma avaliação mais profunda da importância ecológica do Habitat Crítico que tinha sido identificado anteriormente.

O levantamento de peixes que foi feito para este estudo concentrou-se nos cursos de água doce do Riacho costeiro Nhangonzo e incluiu uma breve investigação dos riachos costeiros de Cherimera e de Xivange situados, respectivamente, a norte e a sul, da área de estudo seleccionada. O Riacho Xivange está

enquadrado na área de desenvolvimento turístico do INATUR, que constitui a área mais vasta do estudo. O estudo de campo também incluiu uma avaliação preliminar da biodiversidade de peixes das áreas intertidais do vasto pântano de mangais de Nhangonzo situado na costa.

Para além da identificação da fauna de peixes existente na área de estudo em termos da sua biodiversidade e estatuto relativo à Lista Vermelha da IUCN, este estudo descreve a actual condição ecológica dos habitats aquáticos. Foram identificados os impactos existentes sobre estes riachos costeiros bem como os

processos importantes necessários para assegurar a integridade e funcionamento natural do ecossistema aquático, fazendo-se ainda uma descrição da biodiversidade das espécies de peixes associadas.

Resultados

Foram capturadas no total onze espécies de peixes nas zonas de água doce dos riachos costeiros, que incluíram cinco espécies primárias de água doce (com pouca ou nenhuma tolerância a água salgada), e seis espécies secundárias de água doce (relativamente tolerantes a água salgada). Este último grupo inclui duas espécies de enguias catádromas de água doce que se reproduzem no mar e três espécies de peixes pequenos que habitam águas salobras nos cursos superiores dos estuários, bem como as zonas de água doce dos rios costeiros na região.

Destas onze espécies de peixes capturadas nos riachos de água doce, somente a Tilápia eurihalina de Moçambique (Oreochromis mossambicus)se encontra listada na Lista Vermelha da IUCN como sendo uma espécies Quase Ameaçada, devido à hibridação com a Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus), que se está a espalhar de uma forma muito vasta para fora do seu âmbito natural devido às actividades de pescadores e da prática da aquacultura. Estes pequenos riachos costeiros isolados providenciam assim uma área de

(4)

protecção para a Tilápia de Moçambique, bem como uma área de isolamento genético e potencial especiação das espécies de água doce presentes.

Nas áreas intertidais dos pântanos de mangais foram capturadas mais de 20 espécies de peixes

“estuarinos”, mas prevê-se que através de levantamentos mais intensivos durante as estações de Verão e de Inverno possam vir a revelar que aproximadamente 100 espécies de peixes marinhos e estuarinos possam estar a utilizar este habitat estuarino altamente produtivo e resguardado como uma área de viveiro e de reprodução. É importante notar que este constitui o único pântano estuarino de mangais relativamente natural ao longo da faixa costeira com uma extensão de 90 km entre a baía da Ponta Chiuzine a sul de Vilanculos e o Rio Govuro a norte. A importância deste vasto pântano de mangais relativamente

imperturbado situado no Habitat Crítico e que funciona como uma área de viveiro e de reprodução tanto para as espécies piscícolas estuarinas como para os juvenis de corais (e uma grande variedade de outros organismos estuarinos), ao longo desta região costeira de Moçambique, é indiscutível.

Os riachos de turfeiras de água doce encontram-se num estado praticamente original ou intacto, com a maior parte das áreas aquáticas abertas relativamente inacessíveis a pessoas devido à densa vegetação de terras húmidas que circunda a área e também ao substrato mole, pantanoso. Os impactos induzidos pelo homem incluem instâncias isoladas de poluição (lavagem de roupas e infiltração de águas de esgotos provindas dos povoados adjacentes) e o desmatamento e perturbação de pequenas secções da zona ribeirinha para o plantio de culturas agrícolas. As árvores dos mangais também são abatidas pelas populações locais, essencialmente para fins de construção, mas estes impactos existentes têm presentemente uma significância mínima e não afectam a hidrologia ou a integridade funcional destes ecossistemas aquáticos e podem ser considerados como sendo insignificantes.

Conclusão

O riacho costeiro Nhangonzo adere a pelo menos dois dos critérios estipulados pela IFC para um ‘Habitat Crítico’ no que se relaciona com fauna aquática. Estes critérios são a) a presença do ecossistema estuarino de pântanos de mangais altamente ameaçado e b) os riachos costeiros isolados de água doce com turfeiras o que é invulgar (e possivelmente único) dentro dos quais funcionam processos evolutivos naturais em termos de biota aquática dentro dos seus âmbitos naturais.

Os caudais perenes de água doce de alta qualidade e rica em nutrientes do riacho costeiro Nhangonzo que contém turfeiras num estado quase intacto e que flui para os pântanos estuarinos de mangais

desempenham um papel primordial na manutenção da integridade ecológica do riacho e da alta

biodiversidade da fauna associada. Qualquer alteração tanto à qualidade e/ou quantidade dos caudais de água doce neste riacho costeiro pode alterar o equilíbrio entre a água do mar e a água doce, bem como a qualidade da água dentro dos habitats intertidais dos mangais. Tal teria severos impactos negativos sobre o funcionamento e biodiversidade deste ecossistema altamente sensível.

O influxo reduzido de água doce para o estuário pode, potencialmente, resultar no encerramento completo ou parcial da foz do riacho devido ao estabelecimento de um banco de areia resultante. A falta subsequente de flutuações regulares das marés, adicionada às alterações no existente regime de salinidade e níveis de água no interior das áreas intertidais de mangais irá provavelmente resultar em impactos severos sobre a vegetação dos mangais e o funcionamento do estuário. A perda da integridade ecológica dos pântanos de mangais dentro da área de estudo teria impactos negativos significativos tanto nos peixes estuarinos como peixes de corais, e possivelmente nas pradarias de ervas marinhas na costa que suportam as populações vulneráveis de Dugongos ao longo deste troço de faixa costeira.

Assim, justifica-se totalmente o estabelecimento de alguma forma de estratégia de conservação para fins de protecção da sua biodiversidade, assegurando que os muitos processos de biodiversidade em pequena escala, tais como a evolução dos ciclos localizados de nutrientes, transporte de sedimentos, processos evolutivos e a função de viveiro do estuário de mangais do Nhangonzo que tem uma importância muito alta, continuem a funcionar de uma forma natural.

(5)

ÍNDICE

SUMÁRIO NÃO TÉCNICO ... I

1.0 INTRODUÇÃO ... 1

1.1 Descrição do Projecto e Objectivos do Estudo ... 1

1.2 Termos de Referência (TdR) ... 2

1.3 Pressupostos e Limitações ... 2

1.3.1 Amostragem Limitada ... 2

1.3.2 Variações Sazonais ... 3

1.4 Competência Profissional do Autor ... 3

2.0 DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ... 3

2.1 Dimensão Espacial da Área de Estudo ... 3

2.1.1 Riachos Costeiros na Área de Estudo ... 4

2.2 Estudos Anteriores sobre a Fauna de Peixes na Área de Estudo ... 4

3.0 ABORDAGEM E MÉTODOS ... 5

3.1 Áreas de Amostragem ... 5

3.2 Métodos de Captura de Peixes ... 7

3.3 Integridade do Habitat ou Estado Ecológico Actual (PES) ... 7

4.0 RESULTADOS ... 8

4.1 Integridade do Habitat (ou Estado Ecológico Actual)... 8

4.2 Dados sobre o Peixe Capturado ... 8

4.3 Dados sobre a Qualidade da Água ... 12

5.0 DISCUSSÃO ... 13

5.1 Espécies de Peixe de Preocupação Especial ... 13

5.2 Biodiversidade de Peixes ... 14

5.2.1 Riachos Costeiros ... 14

5.2.2 Pântano de Mangais ... 16

5.3 Integridade do Habitat ou Estado Ecológico Actual ... 16

5.4 Processos Principais e Potenciais Riscos ... 16

6.0 CONCLUSÃO ... 17

(6)

LISTA DE FIGURAS

Figura 2-1: Mapa da área de estudo (área conjunta que inclui o Habitat Crítico e a área de desenvolvimento turístico do INATUR) a ilustrar os locais de amostragem aquática e de peixes. ... 5

LISTA DE TABELAS

Tabela 3-1: Detalhes sobre os locais de água doce nos riachos costeiros dentro da área de estudo onde foram extraídas amostras de peixes durante Março de 2015. ... 6 Tabela 4-1: Um resumo dos resultados da avaliação sobre a Integridade do Habitat dos riachos costeiros dentro

da área de estudo. ... 8 Tabela 4-2: Descrição das categorias de integridade do habitat (extraído de Kleynhans, 1996). ... 8 Tabela 4-3: Espécies de peixes capturadas nas zonas de água doce dos três rios costeiros dentro da área de

estudo. ... 9 Tabela 4-4: Dados das 11 espécies de peixe capturadas nos 12 locais de amostragem nos cursos de água doce

dos três riachos costeiros durante os levantamentos sobre peixes realizados em Março de 2015. ... 10 Tabela 4-5: Espécies de peixes capturadas nas áreas intertidais do pântano de mangais do estuário do

Nhangonzo situado dentro da Área de Biodiversidade Crítica. ... 11 Tabela 4-6: Resumo das medições de qualidade da água efectuadas em 12 locais de amostragem localizados

em cursos de água doce dos três riachos costeiros, durante os levantamentos sobre os peixes. ... 12 Tabela 5-1: As preferências de habitat e as características do ciclo de vida das espécies de peixes encontradas

nos cursos de água doce dos riachos costeiros na área de estudo. ... 14

LISTA DE ANEXOS

ANEXO A

Fotografias dos vários locais de amostragem de peixe nos rios costeiros

ANEXO B

(7)

LISTA DE TERMOS E ACRÓNIMOS

AIA Avaliação de Impacto Ambiental

APP Acordo de Partilha de Produção

CR Critically Endangered (em Perigo Crítico)

EIR Relatório sobre o Impacto Ambiental

EN Endangered Species (Espécies Ameaçadas)

EWR Ecological Water Requirements (Exigências Ecológicas da Água)

FEED Front End Engineering Design (Fase conceitual do Projecto de Engenharia)

GPL Gás de Petróleo Liquefeito

IFC International Finance Corporation (Corporação Internacional de Finanças) IUCN International Union for Conservation of Nature

LC Least Concerned (de Menor Preocupação)

MITADER Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural

NA Não Avaliado

NT Near Threatened (Quase Ameaçado)

OD Oxigénio Dissolvido

PES Present Ecological State (Estado Ecológico Presente)

TdR Termos de Referência

(8)
(9)

1.0 INTRODUÇÃO

1.1

Descrição do Projecto e Objectivos do Estudo

Em 2014, a Sasol incumbiu a Golder Associates de elaborar uma Avaliação de Impacto Ambiental relativamente à expansão do seu Projecto de Gás Natural na Província de Inhambane, Moçambique. A expansão irá envolver o desenvolvimento adicional de reservas de gás em terra na área de Temane, bem como o desenvolvimento de reservas de petróleo em terra a Este do Rio Govuro entre Vilanculos e Inhassoro. A aprovação ambiental para o projecto foi concedida em Dezembro de 2014 pelo Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER).

Os estudos especializados realizados pela Golder (2014) identificaram a existência de um ‘Habitat Crítico’ enquadrado na área de influência directa do projecto. O conceito de ‘Habitat Crítico’ foi desenvolvido pela IFC em conformidade com o preconizado no Padrão de Desempenho 6, sendo definido como uma área de grande importância biológica, definida em termos de um ou mais dos cinco critérios específicos:

(i) Habitat de importância significativa para Espécies Criticamente Ameaçadas (CR) e/ou Ameaçadas (EN);

(ii) Habitat de importância significativa para espécies endémicas e/ou espécies com um raio de acção restrito;

(iii) Habitat de importância significativa para concentrações globalmente significativas de espécies migratórias e/ou congregantes;

(iv) Áreas com ecossistemas únicos e/ou altamente ameaçados; e/ou (v) Áreas que estão associadas a processos evolutivos chave.

Nos estudos iniciais sobre a biodiversidade botânica elaborado realizados para fins da AIA pela Golder, de Castro e Brits (2014) argumentaram que o riacho costeiro Nhangonzo, que está localizado a Oeste da Ilha de Bazaruto e faz o escoamento para uma bacia de captação com uma extensão de cerca de 4.339 ha, adere aos critérios (ii) (iv) e (v) do padrão de desempenho da IFC. Juntamente com outros estudos especializados sobre a fauna realizados para a AIA (Deacon, 2014; 2014a), de Castro e Brits (2014) destacaram a biodiversidade relativamente alta existente no Habitat Crítico e correspondente área tampão circundante. Estes estudos determinaram a necessidade de se fazerem trabalhos biológicos adicionais em detalhe com a finalidade de se fazer a classificação completa deste recursos e determinar a sua

significância no contexto da região, mas acautelaram que quaisquer danos a um sistema importante e único como este poderiam ter impactos significativos sobre a biodiversidade, tanto em terra como no mar, e ainda que eram necessárias medidas de conservação visadas à protecção deste sistema.

Com base nos resultados obtidos pela AIA, a Sasol comprometeu-se a fazer uma avaliação adicional e aprofundada do Habitat Crítico, antes de serem tomadas decisões finais a respeito da localização dos poços na área da bacia de captação deste riacho. Este compromisso incluiu o assumir da responsabilidade de efectuar um levantamento mais detalhado sobre a biodiversidade do Habitat Crítico bem como consultas adicionais com as partes interessadas relevantes, a fim de definir estratégias de gestão apropriadas e atribuir as responsabilidades para a implementação destas estratégias. A Sasol elaborou, simultaneamente, o estudo sobre a Fase Conceitual do Projecto de Engenharia (FEED) para o projecto, o qual definiu com maior exactidão a localização preferida para o poço e linhas de fluxo no Habitat Crítico e em redor do mesmo.

O Relatório sobre a Avaliação de Impacto Ambiental apresenta uma descrição detalhada do Projecto de Desenvolvimento no Âmbito do Acordo de Partilha de Produção (APP) e Projecto de Produção de Gás de Petróleo Liquefeito (GPL) da Sasol, que deve ser consultada para mais dados a este respeito (Golder, 2014). O presente relatório apresenta uma discussão dos aspectos do projecto que são de relevância para o levantamento da situação de referência relativa à fauna de peixes e habitat aquático na área de estudo definida como a área conjunta que compreende o Habitat Crítico e a área de desenvolvimento turístico do INATUR (consultar a Secção 2.1).

(10)

Muito embora se tenham realizado estudos preliminares sobre a fauna de peixes nos riachos de água doce e no pântano de mangais como parte da investigação para fins da AIA original (Deacon, 2014), foram consideradas como sendo justificáveis investigações adicionais sobre os peixes que utilizam estes ecossistemas aquáticos únicos a nível regional. O presente estudo aquático e sobre a fauna de peixes constitui um de vários estudos adicionais instruídos pela Sasol, e que formam parte de uma Adenda à AIA elaborada pela Golder (2014), nomeadamente, designada por “Avaliação da Biodiversidade do Riacho Costeiro e Bacia de Retenção do Nhangonzo, na Província do Inhassoro, Moçambique”.

O objectivo principal do presente estudo foi, portanto, realizar levantamentos da situação de referência a fim de determinar as comunidades de peixes existentes na área de estudo designada, particularmente com relação às espécies registadas na Lista Vermelha da IUCN ou as espécies de peixes de preocupação especial, e avaliar o actual estado ecológico (PES) e importância dos cursos de água afectados em termos de conservação.

1.2

Termos de Referência (TdR)

Os Termos de Referência para o presente estudo sobre a fauna aquática podem ser resumidos da seguinte forma:

ƒ

Realizar um levantamento para a extracção de amostras de peixes que sejam representativas dos habitats aquáticos nos riachos costeiros na área de estudo usando equipamento de pesca apropriados.

ƒ

Identificar o peixe capturado a nível de espécies e determinar o seu estado de conservação com referências à Lista Vermelha da IUCN.

ƒ

Investigar e identificar a fauna de peixes importante em termos de biodiversidade, funcionamento ou conservação do ecossistema.

ƒ

Descrever as funções dos habitats e dos ecossistemas, que são importantes para suster populações viáveis de peixes.

ƒ

Produzir uma lista das espécies mais sensíveis e mais importantes a serem incluídas em programas de monitorização realizados futuramente.

ƒ

Identificar e descrever os impactos actuais sobre os habitats aquáticos, funcionamento dos ecossistemas e espécies de peixes associadas destes rios costeiros, tanto a montante da área de estudo como dentro da mesma.

1.3

Pressupostos e Limitações

1.3.1 Amostragem

Limitada

Os habitats de água doce na área de estudo são essencialmente constituídos por riachos serpenteantes pouco profundos que atravessam vastas terras húmidas de turfeiras. A captura de amostras de peixes nestas riachos costeiros foi dificultada pela localização inacessível da maior parte dos corpos de água abertos apropriados para uso do equipamento para capturar de amostras de peixes, ou seja, redes de emalhar e redes de colher e/ou dispositivos de choque eléctrico. Essa dificuldade deve-se à vasta extensão da vegetação densa emergente nas terras húmidas (juncas, canaviais, gramíneas) e o substrato muito mole de turfas que rodeia o canal activo dos riachos costeiros. Assim, a amostragem de peixes foi limitada às áreas de corpos de água abertos acessíveis ao longo da orla das turfeiras e a área parcialmente abertas localizadas dentro das turfeiras em terras húmidas no canal principal.

Os esforços de captura de amostras de peixes nos pântanos de mangais também foram afectados por limitações em termos de tempo e de equipamento. Os sistemas densos e complexos de raízes, e outras estruturas existentes no canal do rio como árvores caídas e ramos secos, limitaram as actividades de lançamento de redes de emalhar e de redes de colher, nesta área. Para além disso, a água salina perto da foz do rio impediu o uso de choques eléctricos para capturar os peixes. O levantamento de peixes realizado no pântano estuarino de mangais deve ser portanto considerado como um levantamento preliminar, mas que é suficiente para a finalidade do presente estudo.

(11)

1.3.2 Variações

Sazonais

Sabe-se que os peixes nesta região da África Austral efectuam migrações sazonais nos rios, tanto para montante como para jusante, para fins de reprodução e de alimentação. As migrações para jusante para áreas de refúgios com maior profundidade também são realizadas como forma de escape às condições rigorosas temporárias – como por exemplo, durante a estação seca quando se regista uma redução do caudal do rio (ou este pára de fluir completamente) e os níveis da água descem e os depósitos ou poças de água secam (Skelton, 2001). Dado as migrações para montante muitas vezes se realizarem durante a estação da Primavera no início da estação das chuvas quando o caudal do rio aumenta, algumas espécies migratórias de peixes podem não ter estado presentes nos rios costeiros durante o período de amostragem realizado em finais do Verão. Este facto também se considera válido com relação aos pântanos de mangais afectados pelas marés, dado se pressupor que a deslocação dos peixes em estado juvenil do mar para os habitats de viveiro estuarino ao longo da costa do sul de África atinge o ponto máximo durante a Primavera e no início do Verão (Whitfield, 1998).

1.4

Competência Profissional do Autor

O Dr. Anton Bok (Doutorado em Ictiologia, pela Universidade de Rhodes) possui mais de 35 anos de experiência na área de conservação, pesquisa e gestão de rios na África Austral e Central, com destaque específico na fauna de peixes. O Dr. Bok trabalhou como cientista aquático na Cape Nature Conservation onde esteve envolvido em investigação e conservação de peixes, incluindo levantamentos sobre a distribuição de peixes, investigação no domínio de aquacultura e reprodução de peixes indígenas

ameaçados constantes na Lista Vermelha. Em 1997 criou a empresa de consultoria ambiental Anton Bok Aquatic Consultants cc, especializada em avaliações de impacto ambiental (AIAs) de empreendimentos, essencialmente os associados com ecossistemas aquáticos e especificamente peixes de água doce. Entre os projectos realizados neste campo contam-se levantamentos de base de referência sobre a

biodiversidade de peixes, biologia reprodutora de peixes e de habitats aquáticos para Avaliações de Impacto Ambiental (AIAs); investigação sobre o desenho e monitorização de sistemas para a transposição de peixes (eclusas para peixes) especificamente para peixes indígenas; requisitos ecológicos da água (EWR) (ou vazão do caudal) para a determinação da “Reserva” ecológica em vários rios na África do Sul, incluindo um contributo especializado sobre os requisitos da fauna de peixes. Para além de ter estado envolvido em projectos na África do Sul, o Dr. Bok realizou vários estudos especializados sobre peixes de água doce integrados em investigações para AIAs na República Democrática do Congo, na Zâmbia, em Madagáscar, em Moçambique e no Lesoto. É cientista profissional registado em Ciências Naturais (Pr. Sci. Nat.) no domínio de Ciências Aquáticas (Reg. Nº 400406/11) e membro associado honorário de investigação do Instituto Sul-Africano para a Biodiversidade Aquática.

2.0

DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

2.1

Dimensão Espacial da Área de Estudo

Os levantamentos sobre a fauna de peixes e habitats aquáticos abrangeram três riachos costeiros localizados no Habitat Crítico designado e na área de desenvolvimento turístico situada a sul (Figura 2-1) designada pelo INATUR. Estes levantamentos incluíram os riachos costeiros Nhangonzo, Xivange e Cherimera (ver Figura 2-1). Os riachos costeiros no presente estudo são definidos como riachos que possuem bacias de captação num enquadramento de cerca de 7 km da costa e que fluem directamente para o mar.

Os levantamentos no terreno concentraram-se nos dois afluentes de água doce do Riacho Nhangonzo, tendo sido efectuada uma investigação menos aprofundada dos riachos costeiros de Cherimera e de Xivange, situados a norte e a sul da área do Habitat Crítico. O estudo no terreno incluiu também uma avaliação preliminar da biodiversidade de peixes das áreas intertidais do vasto pântano de mangais de Nhangonzo localizado na costa.

(12)

2.1.1

Riachos Costeiros na Área de Estudo

2.1.1.1

Riacho Costeiro Nhangonzo

No centro do Habitat Crítico estão situados os afluentes norte e sul do Riacho Nhangonzo que contêm “turfeiras pantanosas” e que se unem para formar um canal principal que flui de uma forma sinuosa em direcção ao mar através de um vasto pântano estuarino de mangais (70 ha). O afluente norte do Riacho Nhangonzo tem cerca de 4.2 km de comprimento e o afluente sul cerca de 3 km de comprimento a partir da fonte até ao ponto de confluência, que está localizado a aproximadamente 2 km da costa. É um riacho perene, com caudais elevados na estação das chuvas vastamente atenuados pelo extenso macro-canal de turfeiras. Estas componentes saturadas de terras húmidas são, na sua maioria, alimentadas pela infiltração de água subterrânea que assegura que os caudais do riacho sejam sustidos durante os meses secos do Inverno (Wetland Consulting Services, 2015).

2.1.1.2

Riacho Costeiro Xivange

O Riacho Xivange é um pequeno riacho costeiro (com uma extensão de 2.8 km da fonte até à foz)

localizado na orla sul da área de estudo enquadrada na área de desenvolvimento turístico estabelecida pelo INATUR. A foz do rio com uma largura de 300 m está situada numa elevação ou um pouco acima do nível médio do mar, com uma intrusão limitada da água do mar durante a maré cheia. Este sistema não tem qualquer habitat estuarino identificável e escoa para o mar através de duas pequenas saídas de escoamento localizadas nas margens norte e sul e através da infiltração difusa. Não existem pântanos estuarinos de mangais. Devido à natureza do sistema que sustém vastas terras húmidas (turfeiras), este também é considerado como um riacho perene.

2.1.1.3

Riacho Costeiro Cherimera

Somente o trecho sul do riacho costeiro Cherimera, que escoa num sentido sul para uma área de 25 ha de mangais na costa protuberante limítrofe ao pântano de mangais do Nhangonzo, está localizado dentro da área de estudo. A fonte deste canal principal é uma área de terras húmidas em formato rectangular (1.000m x 500m) localizada a cerca de 3 km a montante da costa. Existe um pequeno afluente que drena de um sentido Oeste para o canal principal a cerca de 800m a jusante do pântano rectangular. O acesso a este riacho afluente foi fácil, contendo um habitat apropriado de águas abertas perto da margem do riacho, e foi utilizado como um ponto de controlo para fins de comparação.

2.2

Estudos Anteriores sobre a Fauna de Peixes na Área de Estudo

O único levantamento anterior sobre peixes realizado na área de estudo (tanto quanto seja do

conhecimento do autor) foi o levantamento realizado pelo Dr. Andrew Deacon em Maio de 2014 designado por Estudo Especializado 11 “Avaliação do Impacto da Fauna Aquática” (Golder, 2014) integrado na Avaliação de Impacto Ambiental para o Projecto de Desenvolvimento no Âmbito do Acordo de Partilha de Produção (APP) e Projecto de Produção de Gás de Petróleo Liquefeito (GPL) da Sasol. O trabalho realizado pelo Dr. Deacon constitui um dos estudos numa série de estudos especializados que contribuíram para a referida AIA Ambiental. No entanto, os locais de amostragem aquática não incluíram quaisquer habitats de água doce no Riacho Nhangonzo nem quaisquer locais situados no Riacho Xivange. Só foram extraídas amostras em três locais no Riacho Cherimera, tendo sido também extraídas amostras de peixes nos mangais estuarinos do Nhangonzo. A Secção 4.2, Tabelas 4-3 e 4-5 contém os dados relativos às espécies capturadas durante o anterior estudo.

(13)

Figura 2-1: Mapa da área de estudo (área conjunta que inclui o Habitat Crítico e a área de desenvolvimento turístico do INATUR) a ilustrar os locais de amostragem aquática e de peixes.

3.0 ABORDAGEM

E

MÉTODOS

3.1

Áreas de Amostragem

Os nomes dos locais, a localização exacta (incluindo as coordenadas) bem como uma descrição sucinta dos vários locais de amostragem de peixes encontram-se apresentados na Tabela 3-1 e ilustrados na Figura 2-1 acima.

(14)

Tabela 3-1: Detalhes sobre os locais de água doce nos riachos costeiros dentro da área de estudo onde foram extraídas amostras de peixes durante Março de 2015.

(NTr = afluente Norte do Nhangonzo; STr = afluente Sul do Nhangonzo; u/s = a montante; d/s = a jusante; mid = trechos intermediários do rio; MC = canal principal do Nhangonzo (a jusante da confluência)

RIO NOME DO LOCAL COORDENADAS AMOSTRADATA DA DESCRIÇÃO DO LOCAL

Nhangonzo

NTr u/s S 21

042’ 29.67”;

E 35014’ 23.50 21/03/2015

Localizado onde a linha de corte se cruza com o afluente norte do Riacho

Nhangonzo

NTr mid S 21

043’ 23.55”;

E 35015’ 21.45 23/03/2015

Fim da recentemente desmatada linha de corte no cruzamento com o afluente norte do Riacho Nhangonzo

NTr d/s S 21

043’ 32.3”;

E 35015’ 29.65 25/03/2015

Aproximadamente a 400m a jusante do local mediano do afluente norte do Nhangonzo

STr u/s S 21

044’ 42.8”;

E 35014’ 41.7” 20/03/2015

Perto de um pequeno povoado, a 500 m a montante do local do trecho mediano do afluente sul do Nhangonzo. Lagoa

superficial enchida com areias da trilha de acesso transportadas pelas águas

STr mid S 21

044’ 40.31”;

E 35014’ 57.49” 20/03/2015

A 1.3 km a oeste da linha de corte da área de poços da Sasol / trilho de passagem

STr d/s S 21

044’ 0.67”;

E 35015’ 22.4” 21/03/2015

Trilha para viaturas na orla do canal macro a seguir ao cercado para gado em direcção a uma pequena poça de água aberta

MC d/s da confluência

S 21043’ 44.63”;

E 35015’ 49.74” 24/03/2015

Imediatamente a jusante da confluência a meio do canal de turfeiras com 400 m de largura

Xivange

Xiv d/s a S 21

046’ 51.49”;

E 35016’ 45.84” 22/03/2015

Saída para o mar na orla sul do canal macro de turfeiras com 300 m de largura

Xiv b S 21

046’ 41.46”;

E 35016’ 45.07 22/03/2015

Na orla norte do pântano de turfeiras perto da saída para o mar

Xiv mid S 21

046’ 42.89”;

E 35015’ 46.20 22/03/2015

A aproximadamente 800 metros a jusante do rio no local a montante

Xiv u/s S 21

046’ 58.98”;

E 35015’ 26.29 22/03/2015

Perto da fonte do riacho nos trechos superiores perto do Povoado de Chipongo

Cherimera Chi u/s S 21040’ 41.73”;

E 35015’ 13.07 23/03/2015

Afluente Ocidental do Riacho Chimera, a aproximadamente 820 m a Este da área do poço I_9Z, perto do pequeno povoado.

(15)

3.2

Métodos de Captura de Peixes

A captura dos peixes foi feita usando o equipamento indicado a seguir:

ƒ

Uma rede de emalhar de 6m (com uma malha de 4mm).

ƒ

Um dispositivo de choque eléctrico de 12 volts DC montado numa mochila), em combinação com uma variedade de redes de colher.

ƒ

Redes de colher (numa variedade de tamanhos).

O equipamento de captura de peixe usado foi determinado pelas condições no próprio local, tais como a profundidade da água, a presença de estruturas dentro do canal (vegetação emergente, troncos secos, etc.) e pela natureza do substrato presente nos vários locais. Conforme referido anteriormente, a natureza das terras húmidas (turfeiras) dos riachos costeiros, que são constituídos por um canal activo de baixa profundidade que atravessa, num trajecto sinuoso, o extenso canal de turfeiras não compactadas solidamente, resultou numa extracção de amostras de peixes vadeando o riacho e usando redes de emalhar, redes de colher e o dispositivo de choques eléctricos, o que não só foi muito difícil, mas também se tornou potencialmente perigoso. Este facto resultou numa variedade de acções de captura de peixes, bem como numa variada eficácia da amostragem, nos vários pontos de amostragem. Assim, não foi feita qualquer tentativa de se fazerem os cálculos por cada unidade de esforço de captura (por exemplo, número de peixes capturados através do uso de redes de emalhar ou durante cada sessão normal de uso de choques eléctricos).

A baixa condutividade da água na maior parte dos locais de amostragem nos cursos de água doce dos riachos costeiros (consultar a Tabela4-6 a seguir) exigiu o aumento tanto da duração como da frequência do impulso eléctrico produzido pelo dispositivo de choques eléctricos quase até ao máximo, a fim de assegurar a sua eficácia. Não foi possível utilizar-se este dispositivo nas áreas salinas de mangais e a amostragem nestes locais limitou-se ao uso da rede de emalhar de 6m e das redes de colher nas áreas apropriadas. As águas muito límpidas de pouca profundidade na maior parte dos locais permitiram uma identificação visual dos peixes, particularmente das espécies maiores nos habitats de mangais e de espécies como enguias, peixe-gato e tilápia em habitats de água doce. Em geral, a amostragem realizou-se durante o dia, excepto no dia 24 de Março de 2015 quando a amostragem no local a jusante no afluente sul do Riacho Nhangonzo (Nha STr u/s) foi feita após o pôr-do-sol especificamente visada para peixes com

comportamento nocturno como o Peixe-gato africano (Clarias garienpinus) e as enguias Anguillid. Os peixes capturados foram identificados no terreno com o auxílio dos guias de campo (Whitfield, 1998; Skelton, 2001; Heemstra e Heemstra, 2004) e foram fotografados peixes seleccionados para referência futura. Todo o peixe capturado foi reposto vivo no curso de água onde foi apanhado.

3.3

Integridade do Habitat ou Estado Ecológico Actual (PES)

Foi feito um registo dos dados qualitativos dos habitats aquáticos existentes em cada local, particularmente nos habitats no caudal onde foram capturadas espécies para amostragem, tendo sido tiradas fotografias aos locais (consultar o Anexo A). Utilizaram-se imagens através do Google Earth para auxiliar na avaliação das áreas não visitadas no terreno. Foi utilizado um método de avaliação rápida dos habitats que foi desenvolvido por Kleynhans (1996) e Kemper (1999) a fim de produzir uma avaliação da integridade do habitat com relação aos trechos relevantes dos rios costeiros.

Esta avaliação da integridade do habitat é baseada em duas perspectivas do rio, a zona ribeirinha e o canal de caudal. Os vários critérios avaliados são os que são considerados importantes para manter a integridade ecológica do rio e assim providenciar habitats apropriados para a biota aquática, como por exemplo, peixe. Os critérios usados na avaliação incluem o nível de modificação do leito do rio (por ex., a sedimentação), alteração do caudal e extracção de água, desmatamento da vegetação ribeirinha, alteração da qualidade da água, erosão das margens, vegetação alienígena na zona ribeirinha, etc.

(16)

4.0 RESULTADOS

4.1

Integridade do Habitat (ou Estado Ecológico Actual)

Os resultados da avaliação da integridade do habitat dos riachos costeiros dentro da área de estudo

(extraído de Kleynhans 1996; Kemper 1999) encontram-se resumidos na Tabela 4-1, sendo apresentada na Tabela 4-2 uma descrição das categorias de Integridade dos Habitats, conforme extraído de Kleynhans (1996).

Tabela 4-1: Um resumo dos resultados da avaliação sobre a Integridade do Habitat dos riachos costeiros dentro da área de estudo.

TRECHO DO RIO

INTEGRIDADE DO HABITAT CLASSIFICAÇÃO COMBINADA DA CATEGORIA DE INTEGRIDADE DO HABITAT (CLASSE) CLASSIFICAÇÃO RIBEIRINHA (CLASSE) CLASSIFICAÇÃO NO CAUDAL (CLASSE) Afluente Norte do

Nhangonzo 97 (A) 96 (A) 97 (A)

Afluente Sul do

Nhangonzo 94 (A) 91 (A) 93 (A)

Riacho Xivange 95 (A) 89 (B) 92 (A)

Tabela 4-2: Descrição das categorias de integridade do habitat (extraído de Kleynhans, 1996).

CATEGORIA DESCRIÇÃO CLASSIFICAÇÃO

(% DO TOTAL)

A Não modificado, estado natural. 90-100

B

Maioritariamente em estado natural com algumas modificações. É possível que tenha ocorrido uma pequena mudança nos habitats naturais e na biota mas as funções do ecossistema mantêm-se, essencialmente, inalteradas.

80-89

C

Moderadamente alterado. Ocorreu alguma perda ou mudança do habitat natural e da biota mas as funções básicas do ecossistema mantêm-se, grosso

modo, inalteradas.

60-79

D

Com vastas modificações. Ocorreram grandes perdas de habitat natural, da biota e das funções básicas do ecossistema.

40-59

E A perda do habitat natural, da biota e das funções básicas do ecossistema é muito extensa. 20-39

Estes resultados de integridade dos habitats e os actuais impactos induzidos pelo homem nos riachos costeiros e habitats aquáticos associados na área de estudo encontram-se discutidos em mais detalhe na Secção 5.

4.2

Dados sobre o Peixe Capturado

A Tabela 4-3apresenta um resumo das espécies de peixes capturadas nos cursos de água doce dos três riachos costeiros, incluindo o estatuto de conservação segundo a Lista Vermelha da IUCN. Na Tabela 4-4 apresentam-se os detalhes sobre as espécies de peixes capturadas em cada um dos locais de água doce onde foram extraídas amostras. A listagem dos peixes capturados nos locais a montante e a jusante do pântano de mangais Nhangonzo, e estatuto relevante na Lista Vermelha da IUCN encontra-se apresentada na Tabela 4-5 a seguir.

(17)

Tabela 4-3: Espécies de peixes capturadas nas zonas de água doce dos três rios costeiros dentro da área de estudo.

No presente estudo as espécies de peixe capturadas encontram-se indicadas por um “x”. As espécies de peixes registadas por Deacon, 2014 no Riacho Cherimera estão indicadas com um “√”. A categoria das amostras de espécies de peixes da Lista Vermelha da IUCN também está indicada. (Afluente Norte = afluente Norte do Nhangonzo; Afluente Sul = afluente Sul do Nhangonzo; u/s = a montante; d/s = a jusante; mid = áreas medianas no riacho; MC = canal principal do Nhangonzo a jusante da confluência; NA = não avaliado; LC = de menor preocupação; NT = quase ameaçado)

Espécies de Peixes Afluente

Norte Afluente Sul.

MC d/s da

Confluência Xivange Cherimera

Categoria da Lista Vermelha Ambassidae Ambassis producta (rombana-de- espinhos-longos) x x NA Anabantidae Ctenopoma multispine (trepador com espinhos) x x √ LC Anguillidae Anguilla marmorata (Enguia gigante) x LC Anguilla mossambica (Enguia moçambicana) x x LC Cichlidae Oreochromis mossambicus (Tilápia de Moçambique) x x x√ NT Oreochromis placidus (Tilápia negra) x x x x x√ LC Astotilapia calliptera (Tilápia do rio) x x√ NA Clariidae Clarias gariepinus (Peixe-gato africano) x x√ LC Eleotridae Eleotris fusca (Dormião-fusco) x LC Gobiidae Awaous aeneofuscus (Gobião pequeno) x NA Poeciliidae Aplocheilichthys hurtereaui (Tainha de escamas-variadas) x√ NA

(18)

durante os levantamentos sobre peixes realizados em Março de 2015.

(x = espécies capturadas; em branco = espécies não capturadas; NTr = afluente Norte do Nhangonzo; STr = afluente sul do Nhangonzo; u/s = a montante; d/s = a jusante; mid = secções medianas do riacho; MC = canal principal do Nhangonzo (a jusante da confluência; A. prod = Ambassis

producta, C. mul = Ctenopoma multispine, A. mos – Anguilla mossambica, A. mar = Anguilla marmorata, O. moss = Oreochromis mossambicus, O. pla = Oreochromis placidus, A. cal = Astotilapia calliptera, C. gar = Clarias gariepinus, E. fus = Eleotris fusca, A. aen = Awaous aeneofuscus, A. hur = Aplocheilichthys hurtereaui) RIACHO COSTEIRO NOMES DOS LOCAIS

ESPÉCIES DE PEIXES CAPTURADAS

A. prod C. mul A. mos A. mar O. mos O.pla A. cal C. gar E. fus A. aen A. hur

Nhangonzo NTr u/s x x NTr mid x x x NTr d/s x x x x x STr u/s x x x x x STr mid x x STr d/s x x MC d/s da confluência x x Xivange Xiv d/s a x Xiv d/s b x Xiv mid Xiv u/s x

(19)

Tabela 4-5: Espécies de peixes capturadas nas áreas intertidais do pântano de mangais do estuário do Nhangonzo situado dentro da Área de Biodiversidade Crítica.

As espécies de peixes também registadas por Deacon, 2014 encontram-se marcadas com um “√”. Também é apresentada a categoria de cada espécie segundo a categoria constantes na Lista Vermelha da IUCN (NA = não avaliada; LC = de menor preocupação; NT = quase ameaçada)

Espécie de Peixe Lista Vermelha Categoria de Preocupação Área inferior do Mangal Área Superior do Mangal Ambassidae Ambassis productus (Rombana de espinhos-longos) LC x

Ambassis natalensis (Rombana delgada) NA x Carangidae

Caranx ignobilis (Xaréu

gigante) NA x Cichlidae Oreochromis mossambicus(Tilápia de Moçambique) NT x

Elopidae

Elops machnata (Fateixa) LC x

Gerreidae Gerres methueni (Melanúria-Salema) NA x x Gobiidea Caffrogobius gilchristi (Gobião) NA x Periophthalmus koelreuteri (Gobião Africano) LC x

Haemulidae Pomadasys olivaceum (Roncador-oliva) NA x x Leiognathidae Leiognathus equula (Patana-comum) NA x x Lutjanidae Lutjanus argentimaculatus (Pargo-de-mangal) NA x

Mondactylidae Monodactylus argenteus (Lunado-redondo) NA x x

Monodactylus falciformis(Lunado-oval) NA x Mugilidae

(20)

Espécie de Peixe Lista Vermelha Categoria de Preocupação Área inferior do Mangal Área Superior do Mangal

Liza macrolepis

(Tainha-de-escamas-largas) NA x

Mugil cephalus

(Tainha-de-cabeça-chata) LC x

Valamugil buchanani

(Tainha-de-rabo-azul) NA x

Sparidae

Acanthopagrus berda /

vagus (sargo picnic) LC x x

Rhabdos argus sarba

(Dourada comum) LC x

Sphyraenidae

Sphyraena barracuda

(Barracuda bicuda) NA x

Teraponidae

Terapon jarbua

(Peixe-zebra-violão) LC x x

Tetraodontidae

Amblyrhynchotes honckenii

(Peixe-bola) LC x

4.3

Dados sobre a Qualidade da Água

As medições físico-químicas da qualidade da água foram extraídas in situ à superfície usando um Sistema Multi-Sondas YSI 556, constituído por um registador portátil multi-parâmetros YSI 556-02 e um cabo YSI 5563-10. Os parâmetros de qualidade da água foram medidos nos locais de amostragem usando um Sistema Multi-Sondas YSI 556, constituído por um registador portátil multi-parâmetros YSI 556-02 e um cabo YSI 5563-10 e uma sonda, como parte do estudo sobre a qualidade de água e sobre os invertebrados. Os parâmetros importantes que podem influenciar a distribuição de peixes, incluindo a temperatura da água, oxigénio dissolvido (OD), pH e condutividade estão apresentados na Tabela 4-6 a seguir.

Tabela 4-6: Resumo das medições de qualidade da água efectuadas em 12 locais de amostragem localizados em cursos de água doce dos três riachos costeiros, durante os levantamentos sobre os peixes.

Estes dados foram gentilmente cedidos por Justin Green com base na sua investigação sobre a qualidade da água. (NTr = afluente norte do Nhangonzo; STr = afluente sul do Nhangonzo; u/s = a montante; d/s = a jusante; mid = trechos intermediários; MC = canal principal do Nhangonzo (a jusante da confluência), Xiv = Riacho Xivange, Chi = Riacho Cherimera).

Riacho

Costeiro Local

Parâmetros da Qualidade da Água Temp. 0C pH Condutividade (µS/cm) DO (% Saturação) Nhangonzo NTr u/s 25.8 5.6 95 24.0 NTr mid 28.0 5.9 110 25.3 NTr d/s 32.4 6.1 126 52.2 STr u/s 27.2 5.2 118 13.7

(21)

Riacho

Costeiro Local

Parâmetros da Qualidade da Água Temp. 0C pH Condutividade (µS/cm) DO (% Saturação) STr mid 26.2 5.7 149 17.2 STr d/s 31.6 6.1 129 24.1 MC d/s da confl. 27.6 6.4 144 69.7 Xivange Xiv d/s a - - - Xiv d/s b 26.8 6.27 1076 75.2 Xiv mid 28.2 5.9 235 26.7 Xiv u/s 25.6 5.5 159 10.8

Cherimera Chi u/s 27.4 6.6 100 72.4

Conforme se pode verificar na Tabela 4-6, no que se relaciona com a temperatura e condutividade da água, esta é altamente adequada para o desenvolvimento de fauna de peixes. Os níveis excepcionalmente elevados de condutividade registados na foz do Riacho Xivange são considerados como estando relacionados com a intrusão da água do mar durante as marés cheias.

Considera-se que os baixos níveis (acídicos) de pH registados em todos os riachos costeiros (variando entre 5.15 e 6.37) sejam devidos à composição do substrato das turfeiras, com níveis elevados de ácidos húmicos derivados da vegetação em decomposição. Muito embora os níveis de pH entre 6.0 e 9.0 sejam geralmente considerados apropriados para peixe de água doce (Dallas e Day 1993), as espécies de peixe presentes parecem ser tolerantes às águas moderadamente acídicas nos riachos costeiros.

Os níveis de oxigénio dissolvido (OD) nos riachos costeiros variaram entre um nível baixo de saturação de10.8% (0.83 mg/l) a um nível de 75% de saturação (5.96 mg/l). Pensa-se que estes níveis baixos de OD sejam causados pela decomposição bacteriana de matéria orgânica do substrato das turfeiras. Muito embora os níveis de tolerância de OD dos peixes existentes não sejam conhecidos com exactidão, todas estas espécies são bem adaptadas a terrenos pantanosos e consideradas como sendo tolerantes a níveis baixos de OD. Este facto é particularmente válido com relação ao Trepador-com-espinhos (Ctenopoma multispine) e ao Peixe-gato africano (Clarias gariepinus) dado ambas estas espécies poderem respirar por meio de um órgão acessório de respiração localizado numa câmara situada por cima das guelras. No entanto, para a maior parte das outras espécies de peixes estes níveis baixos de OD podem causar stress. Os níveis muito baixos de OD de cerca de 10% de saturação no trecho superior do Riacho Xivange podem servir como justificação para a aparente ausência de peixes na altura de amostragem. Para além disso, sob condições com níveis baixos de OD (17.2 % de saturação) no afluente a sul do Riacho Nhangonzo, foram visualizados vastos números da espécie Oreochromis placidus a engolir o ar com dificuldade na superfície da água, o que constitui um sinal evidente de falta de oxigénio.

É provável que os níveis de OD nestes riachos costeiros desçam para os níveis mais baixos no final da estação seca (Outubro) quando prevalecem temperaturas muito altas da água bem como caudais

reduzidos. Os níveis baixos de OD podem excluir espécies mais sensíveis e ser parcialmente responsáveis, juntamente com o tamanho reduzido e ausência dos habitats preferidos, pela biodiversidade de peixes relativamente moderada nestes riachos costeiros. Este aspecto encontra-se discutido em mais detalhe na Secção 5.2.1 a seguir.

5.0 DISCUSSÃO

5.1

Espécies de Peixe de Preocupação Especial

Conforme ilustrado nas Tabelas 4-3 e 4-5, somente uma das espécies capturadas na área de estudo, nomeadamente a Tilápia de Moçambique (Oreochromis mossambicus), está classificada na Lista Vermelha da IUCN (IUCN, 2012) como quase ameaçada (NT). Tanto quanto se saiba no momento actual, não se antecipa a presença, na área de estudo, de quaisquer outras espécies de peixes classificadas como estando ameaçadas na Lista Vermelha da IUCN.

(22)

Um táxon é classificado com Quase Ameaçado (NT) quando tenha sido avaliado segundo os critérios da IUCN e não seja presentemente classificado como estando ameaçado (ou seja, Criticamente Ameaçado, Ameaçado ou Vulnerável), mas é provável que venha a ser classificado como uma categoria ameaçada num futuro próximo. A Tilápia de Moçambique está ameaçada devido à hibridação com a Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus), que se está a espalhar de uma forma muito vasta por toda a África Austral para áreas que ultrapassam o seu âmbito natural devido às actividades de pescadores e da prática da

aquacultura. A hibridação já está a ocorrer numa vasta área de âmbito da Tilápia de Moçambique, incluindo o sistema do Rio Zambeze e no sistema do Rio Limpopo. Em termos da extensão deste impacto, a ameaça causada pela Tilápia do Nilo é muito vasta, e dado o ritmo acelerado com que esta se espalhou por toda a África Austral, prevê-se que a Tilápia de Moçambique venha provavelmente, em breve, ser classificada com ameaçada devido ao rápido declínio populacional através da hibridação (Cambray & Swartz 2007).

A Tilápia de Moçambique desenvolve-se tanto em cursos de água doce dos rios como nas águas salinas dos trechos superiores dos estuários e é considerada como uma espécie secundária de água doce. O isolamento destes riachos costeiros na área de estudo devido ao seu afastamento isolado e as reduzidas bacias de retenção, bem como à ausência de estuários adjacentes nas proximidades ao longo da costa nesta região, podem proporcionar alguma protecção para a Tilápia de Moçambique com relação à Tilápia do Nilo e subsequente hibridação.

5.2

Biodiversidade de Peixes

5.2.1 Riachos

Costeiros

Tabela 5-1: As preferências de habitat e as características do ciclo de vida das espécies de peixes encontradas nos cursos de água doce dos riachos costeiros na área de estudo.

As espécies secundárias de peixes de água doce (consultar o texto a seguir) estão marcadas com um (S). (Dados extraídos de Whitfield, 1998; Skelton, 2001 e van der Elst, 1993.)

Espécies de Peixe Biologia e Ecologia Ambassidae

Ambassis producta(S) (Rombana-de-espinhos- longos)

É considerada uma espécie “estuarina” que se julga reproduzir-se em águas salinas (estuários ou baías), e relativamente à qual os peixes juvenis migram dos estuários até aos cursos de água doce dos rios costeiros. Esta espécie atinge um comprimento de 150 mm.

Anabantidae

Ctenopoma multispine (trepador-com-espinhos)

Espécie primária de peixe de água doce encontrada em pântanos e em águas estagnadas vegetadas bem como em depressões sazonalmente vegetadas. Possui um órgão de respiração bem desenvolvido localizado numa câmara por cima das guelras. É uma espécie muito comum na região central de África e nas águas tropicais ao longo da costa Este. Atinge um comprimento de 135 mm.

Anguillidae

Anguilla marmorata(S) (Enguia gigante)

Espécie catádroma (os peixes no estado adulto reproduzem-se no mar e os juvenis migram para os rios) muito comum em todos os rios costeiros ao longo da costa Este de África. Uma espécie de peixe grande, que atinge 1.85 m de comprimento.

Anguilla mossambica(S) (Enguia moçambicana)

Espécie catádroma (os peixes no estado adulto reproduzem-se no mar e os juvenis migram para os rios) muito comum em todos os rios costeiros ao longo da costa Este de África. Atinge 800 mm de comprimento.

(23)

Espécies de Peixe Biologia e Ecologia

Oreochromis

mossambicus(S) (Tilápia de Moçambique)

Uma espécie eurihalina muito comum que pode sobreviver e se reproduz tanto em habitats de água doce como nas águas salinas dos estuários. Tem uma distribuição muito vasta nos rios da costa Este desde o Rio Zambeze ao Rio Bushmans River na província de Eastern Cape, na África do Sul. Atinge um comprimento de 400 mm.

Oreochromis placidus (Tilápia negra)

Uma espécie muito comum nos lagos costeiros com muita vegetação e nos rios de caudal lento ao longo da costa Este de África. Esta espécie é

frequentemente encontrada juntamente com a tilápia de Moçambique. Atinge um comprimento de cerca de 300 mm.

Astotilapia calliptera (Tilápia do rio)

Encontrada nos rios da costa Este tropical numa variedade de habitats ribeirinhos e pantanosos. Atinge um comprimento de 110 mm.

Clariidae

Clarias gariepinus (Peixe-gato africano)

É uma espécie muito comum e vastamente encontrada numa variedade de habitats na África Central e Austral. Bem adaptada para sobreviver em condições de OD dado possuir um órgão acessório de respiração localizado numa câmara situada por cima dos arcos branquiais. É uma espécie grande que pode atingir um comprimento de 1.4 m.

Eleotridae

Eleotris fusca(S) (Dormião-fusco)

É uma espécie tropical e subtropical geralmente encontrada por baixo de troncos em águas lamacentas dos estuários, pântanos de mangais e cursos de água doce adjacentes. Reproduz-se, segundo consta, tanto em habitats d estuários como em habitats de água doce. Existem registos sobre a migração dos juvenis desta espécie para montante dos estuários para cursos de água doce. Atinge um comprimento de 260 mm.

Gobiidae

Awaous aeneofuscus(S) (Gobião pequeno)

Esta espécie encontra-se nos rios costeiros tropicais e com águas de

temperatura quente na costa Este, tanto em águas correntes como em lagoas. Pensa-se que se pode reproduzir tanto em habitats em estuários como em habitats de água doce. Atinge um comprimento de 260 mm.

Poeciliidae

Aplocheilichthys hurtereaui (Tainha de escamas-variadas)

Encontrada no Sistema do Rio Congo bem como nos rios costeiros em Moçambique. Considerada como uma espécie estritamente comum em planícies de inundação ou em pântanos. Atinge um comprimento de 35 mm.

Seis das onze espécies de peixes encontradas nas zonas de água doce dos rios costeiros são

consideradas como sendo espécies secundárias de água doce – estas incluem espécies tolerantes à água salgada, espécies de peixes estuarinos que também vivem em habitats de água doce, ou peixes que se reproduzem em água salgada mas que vivem normalmente em águas no interior (consultar a Tabela 5-1). Pensa-se que as espécies como a Tilápia de Moçambique, o Dormião-fusco e o Gobião pequeno de água doce possam reproduzir-se tanto em água doce como nos estuários. Todas as cinco espécies primárias de água doce presentes nos riachos costeiros são espécies que se adaptam a regiões pantanosas e que estão adaptadas às condições de turfeiras que existem.

A captura de 11 espécies de peixes nos rios costeiros durante este estudo é relativamente baixa em comparação com as 26 espécies de peixes que foram recolhidas em levantamentos associados com o projecto da Sasol realizados no sistema do Rio Govuro (Golder, 2014). Pensa-se que esta biodiversidade mais baixa esteja relacionada com o tamanho reduzido dos habitats e com a escassez de habitats adequados presentes nos riachos costeiros. Para além disso, as condições que causam mais stress nos riachos costeiros com turfeiras, em particular os níveis baixos de OD que ocorrem por vezes nestes sistemas, podem não ser tolerados pelas espécies de peixes mais sensíveis encontradas no Rio Govuro.

(24)

5.2.2

Pântano de Mangais

As 21 espécies de peixes capturadas no levantamento da fauna de peixes na região pantanosa estuarina do Nhangonzo (consultar a Tabela 4-5) são todas espécies estuarinas de vasta distribuição que se antecipa existirem neste habitat. A barracuda-bicuda (Sphyraena barracuda), o pica-peixe gigante (Caranx ignoblis) e a fateixa (Elops machnata), que existem no estado de juvenis no estuário de mangais, constituem uma componente importante no sector de pesca marinha costeira. Este facto destaca a ligação entre os habitats de viveiros nos mangais e a produtividade do sector de pesca marinha costeira a nível local. Devido às condições altamente favoráveis para viveiros existentes no pântano de mangais de Nhangonzo, prevê-se que muitas mais espécies de peixes no estado de juvenis venham a utilizar este ambiente de viveiro altamente produtivo e resguardado, em diferentes alturas do ano. Foram registados mais de 120 espécies de peixes estuarinos nos estuários em Moçambique (Whitfield, 1980), muitas das quais são juvenis de peixes de corais do alto-mar que suportam o importante sector de pesca marinha.

É de importância ecológica crítica assegurar que a integridade do pântano de mangais de Nhangonzo seja mantido, dado este constituir o único pântano estuarino de mangais substancial relativamente natural ao longo da faixa costeira com uma extensão de 90 km entre a baía da Ponta Chiuzine a sul de Vilanculos e o Rio Govuro a norte. A importância deste vasto pântano de mangais relativamente imperturbado situado no Habitat Crítico e que funciona como uma área de viveiro e de reprodução tanto para as espécies piscícolas estuarinas como para os juvenis de corais (e uma grande variedade de outros organismos estuarinos), ao longo desta região costeira de Moçambique, é indiscutível.

5.3

Integridade do Habitat ou Estado Ecológico Actual

Conforme discutido no Anexo B, os vários critérios ecológicos avaliados são os que são considerados como sendo críticos para a integridade funcional dos ecossistemas do rio. A modificação humana destes critérios em comparação com o estado considerado como natural ou não modificado, é considerada a causa primária da degradação ou perda do funcionamento do ecossistema dos sistemas do rio.

Conforme ilustrado nas Tabelas 4-1 e 4-2, com a excepção das zonas ribeirinhas do Riacho Xivange, tanto a integridade do habitat no caudal como do habitat ribeirinho dos três riachos costeiros foi avaliada como sendo de categoria A (uma classificação superior a 90). Tal indica que em termos do funcionamento ecológico, estes riachos podem ser considerados como estando num estado praticamente inalterado, com alguns impactos mínimos induzidos pelo homem sobre os habitats naturais e sobre a biota os quais são aparentes num número reduzido de locais. Os impactos causados por poluentes que entram nos riachos (por exemplo, sabão nas áreas de lavagem e infiltração contaminada das latrinas de fossa perto dos povoados) são aparentes somente num número reduzido de locais. Estes poluentes são rapidamente absorvidos pela vegetação das terras húmidas e são considerados como tendo um impacto significativo sobre o funcionamento e integridade ecológica destes riachos costeiros.

O desmatamento da vegetação ribeirinha e o plantio de culturas agrícolas e de bananeiras mesmo à borda da água nos trechos superiores do Riacho Xivange adjacente ao Povoado de Chipongo constitui o motivo principal para a avaliação dos habitats ribeirinhos como habitats com uma classe B de integridade

(classificação de 89).

Em resumo, registou-se uma perda mínima ou insignificante de habitat natural e de biota devido aos impactos induzidos pelo homem nestes riachos costeiros e o funcionamento básico dos seus ecossistemas pode ser considerado inalterado em relação ao seu estado natural.

5.4

Processos Principais e Potenciais Riscos

O funcionamento do ecossistema do rio é influenciado pela rede de drenagem a montante e portanto das práticas de uso da terra na bacia de retenção. A transformação das bacias de retenção através do desmatamento extenso de vegetação indígena, construção de estradas e travessias de rios, bem como actividades de terraplenagem associadas com empreendimentos industriais, para além de vários impactos associados como o aumento nos números de pessoas nas áreas das bacias de retenção, podem causar uma degradação significativa, dos sistemas do rio a jusante.

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Esta degradação da bacia de retenção é muitas vezes reflectida num caudal alterado ou reduzido e num declínio na qualidade da água através do aumento da sedimentação e escoamento de água contaminada por poluentes (por exemplo, o efluente de águas de esgotos e de derrames de hidrocarbonetos derivados de operações industriais) para os rios adjacentes ou aquíferos associados. A fraca qualidade da água e a alteração dos caudais dos riachos podem ter impactos negativos significativos sobre o estado de saúde ambiental do rio e sobre a biodiversidade aquática, particularmente nos casos em que os rios fluem para pântanos estuarinos de mangais altamente sensíveis.

Os influxos reduzidos de água doce para o estuário de mangais do Nhangonzo devido à extracção de água para fins domésticos e industriais podem afectar os movimentos das areias da praia na foz do rio. A redução nos fluxos de água doce que escoam e subsequente acção de “lavagem” podem potencialmente resultar no encerramento completo ou parcial da foz devido ao estabelecimento de um banco de areia costeiro. A subsequente falta de flutuações regulares de marés, juntamente com as alterações no regime de salinidade e níveis de água existentes no interior das áreas intertidais de marés, pode vir a ter impactos devastadores sobre a vegetação dos mangais e no funcionamento do estuário.

Por exemplo, a construção de uma ponte a atravessar o trecho superior do estuário de Mgobezeleni na região de Sodwana no norte da Província de Kwa-Zulu Natal, que deu origem a um aumento no nível da água e impediu o influxo das marés de água salgada num sentido a montante para além da área de posicionamento da ponte, resultou na mortalidade, em grande escala, da vasta floresta de mangais estabelecida na área superior do estuário, bem como no desaparecimento da fauna associada com os mangais (Bruton, 1980).

Os caudais perenes de água doce dos riachos costeiros com turfeiras num estado quase natural com elevado teor de nutrientes e com alta qualidade para o pântano estuarino de mangais do Nhangonzo, desempenha, portanto, um papel vital na manutenção da sua integridade ecológica e alta biodiversidade da fauna associada. Mesmo caso ocorra o encerramento da foz, qualquer alteração tanto à qualidade e/ou quantidade do caudal de água fresca nestes riachos costeiros irá provavelmente alterar o equilíbrio existente entre água doce e água salgada, bem como a qualidade da água nos habitats intertidais de mangais. Tal teria impactos negativos severos sobre o funcionamento e biodiversidade deste ecossistema altamente sensível.

Conforme discutido anteriormente, a destruição da integridade ecológica dos pântanos de mangais na área de estudo teria impactos negativos significantes sobre uma variedade de biota associada, incluindo tanto os peixes estuarinos como de corais. Para além disso, poderiam registar-se impactos negativos nas pradarias de ervas marinhas na costa que suportam as populações vulneráveis de Dugongos ao longo deste troço de faixa costeira.

6.0 CONCLUSÃO

O riacho costeiro Nhangonzo adere a pelo menos dois dos critérios estipulados pela IFC para um ‘Habitat Crítico’ no que se relaciona com fauna aquática. Estes critérios são a) a presença do ecossistema estuarino de pântanos de mangais altamente ameaçado e b) os riachos costeiros isolados de água doce com turfeiras o que é invulgar (e possivelmente único) dentro dos quais funcionam processos evolutivos naturais em termos de biota aquática dentro dos seus âmbitos naturais.

Os caudais perenes de água doce de alta qualidade e rica em nutrientes do riacho costeiro Nhangonzo que contém turfeiras num estado quase intacto e que flui para os pântanos estuarinos de mangais

desempenham um papel primordial na manutenção da integridade ecológica do riacho e da alta

biodiversidade da fauna associada. Qualquer alteração tanto à qualidade e/ou quantidade dos caudais de água doce neste riacho costeiro pode alterar o equilíbrio entre a água do mar e a água doce, bem como a qualidade da água dentro dos habitats intertidais dos mangais. Tal teria severos impactos negativos sobre o funcionamento e biodiversidade deste ecossistema altamente sensível.

O influxo reduzido de água doce para o estuário pode, potencialmente, resultar no encerramento completo ou parcial da foz do riacho devido ao estabelecimento de um banco de areia resultante. A falta subsequente de flutuações regulares das marés, adicionada às alterações no existente regime de salinidade e níveis de

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água no interior das áreas intertidais de mangais irá provavelmente resultar em impactos severos sobre a vegetação dos mangais e o funcionamento do estuário. A perda da integridade ecológica dos pântanos de mangais dentro da área de estudo teria impactos negativos significativos tanto nos peixes estuarinos como peixes de corais, e possivelmente nas pradarias de ervas marinhas na costa que suportam as populações vulneráveis de Dugongos ao longo deste troço de faixa costeira.

Assim, justifica-se totalmente o estabelecimento de alguma forma de estratégia de conservação para fins de protecção da sua biodiversidade, assegurando que os muitos processos de biodiversidade em pequena escala, tais como a evolução dos ciclos localizados de nutrientes, transporte de sedimentos, processos evolutivos e a função de viveiro do estuário de mangais do Nhangonzo que tem uma importância muito alta, continuem a funcionar de uma forma natural.

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7.0 REFERÊNCIAS

BIBLIOGRÁFICAS

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