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O DIREITO À CIDADE E A CULTURA DO MEDO

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Academic year: 2021

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O DIREITO À CIDADE E A CULTURA DO MEDO

FREDERICO HENRIQUE GALVES COELHO DA ROCHA frederico@unifan.edu.br

RODRIGO SADAYOSHI BARBOSA YAMADA rodrigo.yamada@gmail.com

FACULDADE ALFREDO NASSER

RESUMO:

Este trabalho tem como escopo a discussão sobre o direito à cidade e a sua relação com a cultura do medo na Região Metropolitana de Goiânia. A pesquisa será desenvolvida por meio de abordagens quantitativas e qualitativas na produção de dados primários e também pela análise de dados secundários. Identificaremos os mecanismos pelos quais a cultura do medo influencia a dinâmica sócio-espacial, propondo caminhos para uma melhor efetivação do direito à cidade, considerado um direito humano de envergadura estrutural.

PALAVRAS-CHAVE: Direito à cidade. Cultura do Medo. Capital do medo.

1. INTRODUÇÃO

A despeito de um estado moderno ser dividido em várias regiões administrativas (federação, estados, distritos), a vida se desenvolve no âmbito da cidade. Assim sendo, a maneira em que se dá a ocupação dos espaços urbanos reflete diretamente no desenvolvimento humano, é um ponto visceral na formação de uma sociedade mais justa.

O direito à cidade, expressão cunhada por Henri Lefebvre, é considerada por David Harvey (2008) um dos direitos humanos mais importantes e mais negligenciados. Direito que sofre influência direta da cultura do medo e esta por sua vez responde ao poder econômico globalizado.

O trabalho tem como escopo contribuir com a discussão teórica acerca do direito à cidade, identificar os mecanismos pelos quais a cultura do medo tem influenciado a

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dinâmica sócio-espacial em vigência na Região Metropolitana de Goiânia (RMG) e produzir dados primários sobre a temática.

2. METODOLOGIA

A pesquisa encontra-se em fase de revisão bibliográfica e levantamento de dados, portanto os resultados são parciais. Para o desenvolvimento será adotada simultaneamente uma abordagem quantitativa e qualitativa para a produção de dados primários. A pesquisa também se fundamentará em dados secundários e resultados de outras pesquisas empíricas que possibilitem um diagnóstico das condições socioeconômicas e demográficas da metrópole goiana, como o crescimento urbano e populacional, as condições de mobilidade, saneamento, habitação, IDH dos municípios e dados sobre o funcionamento do mercado de trabalho.

Para a realização da parte quantitativa da pesquisa primária será aplicada a metodologia de survey conforme amostra probabilística da RMG. A técnica de amostragem será semelhante ao modelo desenvolvido pelo IBGE na produção da PNAD. Isto significa que a amostra será selecionada em três níveis. Primeiro uma amostra probabilística dos setores censitários na RMG, seguido de uma amostra probabilística dos domicílios e uma amostra probabilística dos indivíduos em cada domícilio. O objetivo do survey é mensurar as categorias cultura do medo, associativismo e participação política. O questionário será elaborado com base na discussão teórica sobre a temática com a finalidade de coletar os indicadores e referenciais empíricos desta parte da pesquisa.

Para a realização da parte qualitativa da pesquisa primária serão aplicadas uma série de entrevistas em profundidade semiestruturadas, além da realização de grupos focais conforme amostra intencional e diversificada segundo características socioeconômicas dos indivíduos em cada setor censitário selecionado para a aplicação do survey. O intuito de se utilizar estes métodos de pesquisa é tanto aprimorar o instrumento de survey após a aplicação do pré-teste quanto complementar as informações coletadas pela pesquisa quantitativa.

Deste modo conjugando técnicas de pesquisa qualitativas e quantitativas pretende-se produzir dados mais confiáveis e exaustivos sobre a realidade social na RMG, que possam amparar tanto a produção de conhecimento científico e acadêmico quanto a formulação de políticas públicas urbanas.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em um sociedade democrática, todos cidadãos, ao menos em princípio, são iguais e deveriam usufruir dos espaços urbanos de forma isonômica. A ocupação dos solos urbanos, hodiernamente, responde a lógica da internacionalização do capitalismo financeiro, o lucro. Os locais são ocupados em razão de seu valor econômico e não dos seu valor de uso social (função social). Este fator macroestrutural tem desencadeado novos padrões de segregação sócio-espacial nas metrópoles de todo mundo, ganhando contornos e matizes mais drásticas nos países da modernidade periférica.

A submissão da esfera pública ao poder global econômico que explora o medo, é a sinergia motriz deste processo segregacionista. Resulta no enfraquecimento da participação política da população, beneficiária direta da infraestrutura urbana. Essa coesão de forças formam os chamados “enclaves fortificados” (CALDEIRA, 2000), espaços privados – cercados e vigiados para moradia, trabalho, consumo e lazer; construídos com base em tecnologias de segurança – assumem uma função de não-cidade, de negação e abandono do espaço público, com o consequente declínio do associativismo, a desmobilização e a criminalização dos movimentos sociais.

Na RMG, observa-se não só o descaso com as regiões periféricas (carentes de todo tipo de infraestrutura básica), como também a supervalorização de áreas nobres que se tornam mais nobres ainda. O consectário lógico desta articulação são os enormes lucros da indústria imobiliária. Um exemplo, é a revitalização da Alameda Ricardo Paranhos, após a prefeitura aprovar a construção de edifícios. Suspeito também é a compra de terrenos enormes por incorporadoras nos arredores do Parque Cascavel, antes mesmo de ser anunciado sua construção.

A mídia trabalha em favor do capital, fomentando a cultura do medo, uma paranoia coletiva, um sentimento de total insegurança da população. Os jornais televisivos e impressos, as rádios inundam a mente da sociedade com notícias negativas, crimes, desastres e todo tipo de acontecimento sensacionalista.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman desenvolveu o argumento de que o medo tem se tornado a base de uma política de controle e repressão na maioria das cidades do mundo globalizado (2009). Conforme defende o autor essa proposição é corroborada pela própria arquitetura dos grandes centros urbanos, sobretudo nas áreas sede das grandes empresas multinacionais. Está cada vez mais evidente a divisão entre dois espaços nas cidades. Um espaço global interconectado por redes de telecomunicação, transporte,

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circulação de serviços e mercadorias habitado pelos cidadãos globais. E outro espaço local constituído por inúmeras carências e restrições, onde geralmente acontece o mercado de trabalho informal, movimentado pelos estrangeiros e desclassificados.

O direito à cidade, primeiramente, concebido por Lefebvre de forma utópica, era um ideal político de conquistas populares na contra mão da lógica capitalista que trata o espaço urbano como um produto e não como um bem público. Seria o direito de construir uma outra sociedade onde o valor de uso não de troca fundamente a ocupação dos espaços urbanos. Atualmente, ganhou contornos jurídicos-institucionais nas sociedades capitalistas contemporâneas. Indaga-se, hoje, sobre a possibilidade de materialização deste direito.

O direito à cidade pode ser considerado um direito social, pois enseja uma atuação positiva do estado, na medida em que o sistema capitalista (neoliberal) tende a segregar a população de baixa renda dos espaços urbanos com melhor localização e infraestrutura. O estado deve interferir para manter o equilíbrio, restringindo o direito individual de grandes proprietários de terras e imóveis, por meio de normas jurídicas de controle e regulação da utilização do solo urbano, em observância ao princípio da função social da propriedade.

Todavia, possuir normas que disciplinam o uso do espaço urbano é só um primeiro momento para dar efetividade ao direto à cidade. É imprescindível a atuação do beneficiário direto (a população) que se queda inerte na reivindicação perante às autoridades públicas. Ou seja, uma legislação avançada é condição necessária, mas não suficiente para a realização de uma reforma profunda nos alicerces estruturais de qualquer sociedade.

4. CONSIDERAÇOES FINAIS

Entendendo o impasse que existe entre a democracia e o sistema capitalista, este permite a acumulação ilimitada de recursos financeiros promovendo, então, a desigualdade social; aquela prima pelo tratamento igualitário dos cidadãos. Compreendendo também que a utilização do solo urbano é muito mais que uma questão administrativa de redução da estatística do déficit habitacional. A solução seria a busca do meio termo entra uma visão utópica – anticapitalista – e uma atuação extremamente pragmática – programas habitacionais –, a construção de um movimento democrático e coletivo de reformulação do processo de urbanização que temos vivenciado.

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REFERÊNCIAS

BAUMAN, Zygmunt. Confiança e Medo na cidade. Rio de Janeiro: ZAHAR, 2009.

CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: EDUSP, 2000.

FERNANDES, Edésio. Constructing the ‘right to the city’ in Brazil. Social &Legal Studies, v. 16, n. 2, pp. 201-19.

HARVEY, David. The right to the city. New Left Review, v.53, pp.23-40, 2008.

MARICATO, Ermínia. O impasse da política urbana no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2011.

OLIVEIRA, Adão Francisco. Metrópoles e metropolização no Brasil: o caso de Goiânia. Sociedade e Cultura, Goiânia, v.16, n.1, p.155-169./dez. 2012.

RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiroz; SANTOS JÚNIOR, Orlando Alves. Democracia e segregação urbana: reflexões sobre a relação entre cidade e cidadania na sociedade brasileira. Revista Eure (vol XXIX, n°88), PP. 79-95, Santiago do Chile, diciembre, 2003.

RODRIGUES, Evaniza. BARBOSA, Benedito Roberto. Os movimentos populares e o estatuto da cidade. In: O estatuto da cidade comentado. São Paulo: Ministério das Cidades. Aliança das Cidades, 2010.

TRINDADE, Thiago Aparecido. Direitos e Cidadania: reflexões sobre o direito à cidade. Lua Nova, São Paulo, 87: 139-165, 2012.

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