Figueira de Castelo Rodrigo
Novembro de 2010
Plano de Gestão
Área Protegida Privada Faia Brava
2009-2019
FICHA TÉCNICA
Coordenação técnica Alice Gama – Bióloga Henk Smit – Biólogo Ana Berliner – Bióloga
Filipe Figueiredo – Eng. Florestal
Paulo Gaspar – Eng. de Produção Animal
Consultores externos Jesus Garzón
Maria João Maia
Cartografia e SIG Alice Gama – Bióloga
Filipe Figueiredo – Eng. Florestal
Imagens
Foto da capa – Hugo Sousa Marques Arquivo fotográfico ATN
ÍNDICE
FICHA TÉCNICA ...2
ÍNDICE ...3
RESUMO ...6
INTRODUÇÃO ...7
PARTE I. SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA ...10
I.1 Enquadramento geográfico ...11
I.2 Orografia/Geomorfologia/Geologia/Solos...18
I.3 Clima...21
I.4 Hidrologia ...25
I.5 Valores naturais - Fitocenoses ...29
I.5.1. Introdução ... 29
I.5.2. Valores naturais – Habitats da Directiva 92/43/CEE... 31
I.5.3. Valores naturais – Flora... 32
I.5.4. Valores naturais – Vegetação natural... 34
I.5.5. Valores naturais – Evolução recente da vegetação natural e ameaças ... 39
I.5.6. Valores naturais – Briófitas, Fungos e Liquenes ... 45
I.6 Valores naturais - Fauna ...46
I.6.1. Metodologia relativa à compilação e análise da informação ... 46
I.6.2. Composição faunística... 46
I.6.3. Valores Faunísticos – Peixes ... 48
I.6.4. Valores Faunísticos – Répteis e anfíbios... 49
I.6.5. Valores faunísticos – Aves ... 50
I.6.5.1. Composição avifaunística ... 50
I.6.5.2. Aves prioritárias em termos de conservação... 53
I.6.5.3. Aves rupícolas ... 54
I.6.5.4. Ameaças às aves rupícolas... 64
I.6.5.5. Aves não rupícolas ... 67
I.6.5.6. Áreas prioritárias para aves na APP FB ... 72
I.6.6. Valores faunísticos – Mamíferos ... 73
I.6.7. Valores naturais – Invertebrados ... 76
I.7 Paisagem...77
I.8 Ocupação e actividades humanas ...80
I.8.1. Ocupação humana – população e povoações ... 80
I.8.2. Ocupação humana – Estrutura fundiária... 81
I.8.3. Ocupação humana – Actividade agro-pecuária ... 85
I.8.3.1. Cerealicultura... 88
I.8.3.2. Olivicultura... 92
I.8.3.3. Outras culturas agrícolas ... 95
I.8.3.4. Pecuária ... 97
I.8.3.5. Agro-pecuária – Perspectivas futuras ... 101
I.8.4. Ocupação humana – Produção florestal... 102
I.8.5. Ocupação humana – Extracção de inertes ... 103
I.8.6. Ocupação humana – Turismo e recreio... 106
I.8.7. Ocupação humana – Caça e Pesca desportivas ... 110
I.9 Património Cultural ... 118
I.9.1. Património Arqueológico... 118
I.9.2. Património arquitectónico/etnográfico... 120
I.10 Ordenamento do território... 127
I.10.1. Instrumentos de ordenamento do território ... 127
I.10.2. A ZPE do Vale do Côa – PTZPE0039... 128
I.11 Resumo sobre a situação de referência da APP FB ... 134
I.11.1. Ficha de descrição ... 134
I.11.2. Valores naturais prioritários... 135
I.11.3. Vulnerabilidade dos valores naturais ... 138
PARTE II. PROBLEMÁTICA DE CONSERVAÇÃO, OBJECTIVOS DO PLANO DE GESTÃO, SOLUÇÕES PROPOSTAS.. ... 141
II.1. Problemática de conservação do património natural na APP FB ... 143
II.1.1. Problema de conservação nº1 ... 144
II.1.2. Problema de conservação nº2 ... 145
II.1.3. Problema de conservação nº3 ... 147
II.1.4. Problema de conservação nº4 ... 148
II.1.5. Problema de conservação nº5 ... 149
II.2. Objectivos do Plano de Gestão ... 151
II.3. Soluções de conservação ... 152
II.3.1. Solução de conservação nº1 ... 153
II.3.2. Solução de conservação nº2 ... 154
II.3.3. Solução de conservação nº3 ... 156
II.3.4. Solução de conservação nº4 ... 157
II.3.5. Solução de conservação nº5 ... 158
II.4. Problemática de conservação e objectivos do plano de gestão ... 160
PARTE III. EXECUÇÃO PRÁTICA DO PLANO DE GESTÃO ... 162
III.1. Acções a desenvolver e a potenciar - descrição individual ... 164
1.1.1 Sessões públicas de sensibilização sobre património natural/florestal ... 167
1.1.2 Acções de demonstração sobre práticas agro-pecuárias sustentáveis ... 167
1.1.3.A Carta de risco de incêndio da APP FB... 167
1.1.3.B Carta de gestão florestal da APP FB ... 168
1.1.3.C Candidatura para criação de brigada de sapadores florestais ... 168
1.1.3.D Programa anual de silvicultura preventiva ... 168
1.1.4.A Campanha de vigilância de fogos... 169
1.1.4.B Manutenção de rede de caminhos de pé-posto ... 169
1.1.5.A Instalação de exploração extensiva com garranos... 171
1.1.5.B Instalação de exploração extensiva com vacas ... 171
1.1.5.C Instalação de exploração extensiva com suínos... 171
1.1.6 Reforço de vigilância em períodos críticos ... 174
1.1.7 Classificação da ZIF do Vale do Côa... 176
1.1.8.A Estabelecimento de parceria com SEPNA-GNR... 176
1.1.8.B Estabelecimento de parceria com ICNB ... 176
1.1.9.A Plantação de vegetação ripícola ao longo das linhas de água ... 177
1.1.9.B Manutenção de viveiro florestal ... 177
1.1.9.C Constituição de sebes naturais ao longo das vedações ... 177
1.2.1 Acções de formação a descortiçadores... 178
2.1.1.A Estabelecimento de protocolo de colaboração com associação de caçadores de Algodres ... 179
2.1.1.A Estabelecimento de protocolo de colaboração com associação de caçadores de Algodres ... 180
2.1.1.B Estabelecimento de protocolo de colaboração com associação de caçadores de
V. Afonsinho... 181
2.1.1.C Estabelecimento de protocolo de colaboração com associação de caçadores de Cidadelhe ... 181
2.1.1.D Acções de formação aos gestores das zonas de caça ... 182
2.1.2 Correcção e sinalização de linhas elétricas ... 182
2.2.1 Aquisição de terrenos (cereal/olival) ... 184
2.2.2 Inscrição no sistema de agricultura biológica ... 186
2.2.3.A Criação de marca de produtos agrícolas “Faia Brava” ... 186
2.2.3.B Participação em eventos de agricultura biológica ... 186
2.2.3.C e-Loja de produtos agrícolas ... 187
2.2.4 Rede de culturas para fauna ... 187
2.4.1.A Cercado de criação e repovoamento de Coelho-bravo... 187
2.4.1.B Rede de unidades de refugio e criação “merouços” para Coelho-bravo ... 188
2.4.2.A Instalação de rede de unidades de alimentação e abeberamento ... 190
2.4.2.B Instalação de rede de pontos de água naturais (charcas) ... 190
2.4.2.C Manutenção e fornecimento de alimento e água... 190
2.5.1 Recolha e transporte de carniça para alimentador de abutres ... 192
2.5.2 Instalação de rebanho de ovinos e sua gestão em regime extensivo rotativo... 192
2.5.2 Instalação de rebanho de ovinos e sua gestão em regime extensivo rotativo... 193
2.5.3 Festa da Pecuária ... 194
2.6.2.A Visitas guiadas à “Reserva” da Faia Brava... 194
2.6.2.B Guia de visitas à APP FB /Manual de boas práticas de turismo ... 194
2.6.3 Reunião com Força Aérea Portuguesa ... 195
2.6.4 Carta de condicionantes ecológicos ... 195
3.1.1 Programa de manutenção de olivais em sistema rotativo ... 197
3.1.2 Plantação de oliveiras, figueiras, amoreiras, pereiras, marmeleiros... 197
3.1.3 Desmatação e regularização de pavimento da rede de acessos aos olivais... 197
4.1.1.A Campanha de angariação de sócios ... 199
4.1.1.B Criação de um Centro de Recepção nas Hortas da Sabóia... 199
4.1.1.C Criação de um abrigo de montanha na Quinta do Ervideiro ... 199
4.1.2 Campanha de angariação de apoiantes, mecenas, patrocinadores ... 204
4.1.3 Estratégia de comunicação ... 204
4.1.4 Acções de formação ... 205
4.2.1 Programa de acções de formação a público escolar ... 205
4.2.2 Programa de acções de formação técnico-profissionais ... 205
5.1 Programa de monitorização das biocenoses... 206
5.2 Acompanhamento sanitário de garranos, vacas, porcos, pequenos ruminantes . 206 5.3 Avaliação e acompanhamento do Plano de gestão... 206
III.2. Cronograma ... 207
III.3. Planeamento da execução das acções ... 208
III.4. Indicadores de avaliação do plano... 211
III.5. Sistema de implementação do Plano de Gestão ... 213
III.6. Estimativa de custos... 213
III.7. Parcerias necessárias... 215
RESUMO
A criação da Associação Transumância e Natureza (ATN), em Junho de 2000, teve como principal motivação servir de suporte para a implementação de um projecto de conservação do Abutre do Egipto (Neophron percnopterus) e da Águia de Bonelli (Aquila fasciata) na região Nordeste de Portugal. Nesse âmbito, procedeu-se à aquisição de um conjunto de propriedades importantes para essas espécies de aves, que com o tempo se foram interligando, e formam presentemente uma área contínua com 526 hectares, exclusivamente gerida pela ATN para efeitos de conservação da natureza e da biodiversidade, e que denominámos de Reserva da Faia Brava (APP FB).
Ao abrigo do Decreto-Lei n.º 142/2008, de 24 de Junho e da Portaria n.º 1181/2009, de 7 de Outubro, a ATN apresentou ao Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB), em Abril de 2009, o requerimento para constituição da Área
Protegida Privada “Faia Brava” (APP FB). Analisado o processo e verificados todos os dados referentes ao estatuto de
propriedade, o ICNB definiu os limites da APP FB (Despacho n.º 33/PRES/2010), incluindo 3 parcelas de propriedade da ATN, numa área total de 214,668 ha.
Esta área insere-se no vale do rio Côa, num troço de cerca de 5 Km de extensão, com orientação Sul-Norte, e encostas de grande declive, onde afloram rochas graníticas escarpadas. O clima apresenta um aspecto continental seco, com grandes amplitudes térmicas e fraca pluviosidade média. O coberto vegetal é dominado por matos de Cytisus
multiflorus, por vezes arborescentes, com presença de Quercus suber e Quercus rotundifolia. As encostas mais
termófilas estão cobertas de Retama sphaerocarpa, Olea europea var. silvestris e Pisitacia terebinthus. Nas margens rochosas e arenosas do rio Côa desenvolvem-se maciços de Securinega tinctoria. A fauna do vale do Côa é diversificada, estando assinalado um total de 149 espécies de vertebrados, nomeadamente 6 peixes (1 espécie ameaçada), 9 anfíbios, 9 répteis, 100 aves (11 espécie ameaçadas) e 25 mamíferos (3 espécies ameaçadas). O sub-grupo faunístico que reúne maior número de espécies com elevado estatuto de ameaça corresponde ao das aves rupícolas. O uso do solo é sobretudo agrícola e assenta na olivicultura, ovinicultura e produção de cortiça. A Faia Brava encontra-se situada dentro da Zona de Protecção Especial do Vale do Côa (PTZPE0039; Decreto-Lei nº 384-B/99, de 23 de Setembro; Decreto-Lei n.º 49/2005 de 24 de Fevereiro; 20.628 ha), coincidente com a Área Importante para Aves - IBA Vale do Côa (PT006, Birdlife International; 23.727 ha), e dentro do Parque Arqueológico do Vale do Côa (Decreto-Lei nº 117/97 de 14 de Maio).
A ATN preparou em 2009 o Plano de Gestão da APP FB que corresponde a um documento estratégico, que orientará as actuações operacionais da ATN nos 514 ha geridos pela associação na ZPE do Vale do Côa, no sentido de resolver os problemas de conservação nesta área, entre 2009 e 2019. Com base neste documento e no âmbito da designação da APP FB, a ATN preparou o Plano de Gestão da APP FB, tendo como base o Plano fr Gestão da APP FB e considerando para esta análise 214,668 ha dos 514 ha geridos pela ATN.
Partindo do conhecimento da situação da área, adquirida pela ATN entre 2000 e 2008, foram identificados os problemas de conservação e respectivas causas, e definiram-se os objectivos de intervenção da ATN na Faia Brava. Os objectivos do presente plano de gestão da APP FB são: Objectivo 1 – Parar a regressão e aumentar em 30% a área coberta com bosques autóctones, aumentando a sua complexidade estrutural e incrementando a diversidade de vertebrados (de elevado estatuto de conservação) em 10%; Objectivo 2 – Manter o efectivo nidificante de várias espécies rupícolas (Neophron percnopterus, Aquila fasciata, Apus melba, Oenanthe leucura) e aumentar o sucesso reprodutor em 20% de Neophron percnopterus e Aquila fasciata; Objectivo 3 – Manter os biótopos/ecotónos agrícolas situados nas encostas do Vale do Côa, aumentando a diversidade de vertebrados ameaçados em 10%; Objectivo 4 – Aumentar o número de sócios da ATN (1000 sócios, dos quais 20% residentes nos concelhos locais) e aumentar o nº de apoiantes/visitantes à APP FB (média de 1000 visitantes/ano a partir de 2011); Objectivo 5 – Colmatar lacunas de conhecimento sobre a dinâmica populacional e actuação dos factores de ameaça.
Cada um destes objectivos sustenta um eixo de acções, e destes derivam as acções e sub-acções de carácter prático. Foram definidas 57 acções e sub-acções, que em termos de tipologia se enquadram na restauração ecológica, protecção florestal, educação e formação ambiental e ecoturismo. Foram ainda consideradas algumas actividades humanas a restringir ou interditar. As acções foram avaliadas segundo diversos parâmetros que expresam a sua importância relativa em termos de concretização de objectivos. O modelo de funcionamento deste plano assenta nessa hierarquia, definindo metodologias gerais que apoiarão a sua execução por parte da equipa técnica da ATN. Foram igualmente identificados indicadores de execução e resultados esperados para cada acção.
O presente Plano de Gestão tem um horizonte temporal de 10 anos, entre Janeiro de 2009 e Janeiro de 2019, e comtempla um orçamento de 625.000,00€.
INTRODUÇÃO
A criação da Associação Transumância e Natureza (ATN), em Junho de 2000, teve como principal motivação, servir de suporte para a implementação de um projecto de conservação do Abutre do Egipto (Neophron percnopterus) e da Águia de Bonelli (Aquila fasciata), na região Nordeste de Portugal.
Devido à participação de associados fundadores, ligados a 3 organizações internacionais de conservação da natureza (World Wildlife Fund - WWF, Fonds d´Intervention pour les Rapaces (FIR) e MAVA Foundation), as acções de conservação destas duas espécies e dos seus habitats basearam-se noutros projectos de conservação de aves rupícolas, que estavam em curso noutros pontos da Europa, designadamente em França, Espanha e Itália.
Inicialmente, a estratégia desenvolvida pela ATN no Nordeste de Portugal, no âmbito deste projecto, correspondeu a 3 conjuntos de acções:
I – Aquisição de terrenos importantes para aves (destinados a garantir autonomia nas acções no terreno, reduzindo perturbação de actividades humanas, abrindo oportunidades de gerar recursos para sustentar acções de conservação);
II – Alimentação artificial (repovoamento de pombais e alimentadores de abutres);
III – Sensibilização da população local para a conservação de espécies de fauna e flora com importante estatuto de conservação (reduzir conflitos entre população humana e espécies protegidas).
Interessa referir que, logo no seu início, o projecto foi apresentado ao Instituto da Conservação da Natureza (em reuniões em Lisboa e Mogadouro, em Junho 2000, sendo interlocutores nas mesmas a Vice-Presidente do ICNB, a Sr.ª Dr.ª Luisa Tomás, e o Director do Parque Natural do Douro Internacional, o Sr. Eng.º Domingos Amaro). Assim, obtivemos a concordância do ICN e o seu compromisso em dar apoio técnico à implementação das acções. Esse acordo foi estabelecido através de um Memorando de Entendimento, assinado por ambas as partes em Agosto de 2000.
Os primeiros 3 anos da vida da ATN (2000-2003), foram integralmente dedicados ao projecto de conservação do Abutre do Egipto e Águia de Bonelli, contando com o apoio técnico e financiamento da Fundação MAVA (sendo presidente desta organização o Dr. Luc Hofman, co-fundador da WWF, ex-vice-presidente da UICN, ex-presidente da WWF International). Nesse período, a ATN adquiriu terrenos em 3 locais importantes para as 2 espécies de aves de rapina, abrangendo cerca de 67 hectares. A maioria desses terrenos localizam-se nas margens do Rio Côa (ZPE do vale do Côa), freguesia de Algodres. Este facto, aliado às boas perspectivas de ampliar as aquisições e consolidar as acções de conservação, passou a constituir a principal zona de intervenção da ATN.
A partir de 2003, e centrando-se nos terrenos da Vale do Côa, a ATN continuou a desenvolver acções de conservação de aves rupícolas, e nesse âmbito foram adquiridos mais 200 hectares (na margem direita do Côa) e mais 180 hectares (na margem esquerda, freguesia de Cidadelhe), a que se juntam cerca de 100 hectares arrendados. Durante o período entre 2003 e 2008, o financiamento das acções (a maior fatia corresponde à aquisição de propriedades, cerca de 200 000 Euros) constou do apoio de ONGs holandesas, mecenato nacional e estrangeiro, e as receitas duma campanha de venda de azeite biológico. No caso da propriedade de 180 hectares, adquirida na margem esquerda do Côa, a aquisição foi possível através de empréstimo do Banco
Espírito Santo (com juros reduzidos), estando presentemente a ser desenvolvida uma campanha de angariação de apoios para cobrir o empréstimo.
Interessa assinalar que a ATN iniciou, entretanto, outras actividades, não apenas relacionadas com a conservação das aves, sendo de destacar a protecção florestal (a área abrange a mancha mais extensa de sobreiro do distrito), estando a área classificada como Zona de Intervenção Florestal (processo liderado pela ATN e que reúne cerca de 50 proprietários florestais).
Actualmente, a ATN gere quase 600 hectares contínuos na ZPE do Vale do Côa, dos quais 214 ha classificados como área protegida privada, que incluem os locais de nidificação e zonas de alimentação de um dos núcleos mais importantes de aves rupícolas da ZPE, e um conjunto importante de habitats protegidos e muito raros nesta região.
Em 8 anos, a ATN está satisfeita com a dimensão que este projecto atingiu, sobretudo por terem sido ultrapassadas algumas dificuldades financeiras. No entanto, apesar do facto da ATN ter adquirido estas propriedades, assumindo assim objectivos a longo prazo, e devido a compromissos assumidos com entidades apoiantes, o projecto da Faia Brava carece de um planeamento rigoroso, monitorização e avaliação de todas as suas acções.
Assim, apesar das limitações técnicas da pequena equipa da ATN, procurou-se elaborar o presente documento estratégico de planeamento (Plano de Gestão) para 10 anos, orientado para o restauro e valoração ecológica das propriedades, com especial ênfase para as propriedades que intergram a área protegida privada da Faia Brava (APP FB).
Para tal, utilizou-se a bibliografia da EU, relativa a outros da sítios da Rede Natura 2000, planos de acção para espécies da Birdlife International, os documentos (preparatórios) que compõem o Plano de Ordenamento do Parque Arqueológico do Vale do Côa, os estudos de impacte Ambiental da Barragem de Vila Nova de Foz Côa, e o estudo comparativo entre a Barragem do Baixo Sabor e Barragem de Quintã de Pêro Matins. Contámos ainda com a colaboração de consultores ambientais holandeses que voluntariamente colaboraram com a ATN.
A área considerada no presente plano corresponde às propriedades adquiridas pela ATN e que integram a APP (CORE). À totalidade da área designou-se Faia Brava (topónimo local, que significa conjunto de escarpas inacessíveis ou selvagens). No presente relatório a abreviatura de FB corresponde à Faia Brava (Figura 1).
O presente Plano de Gestão está dividido em 3 partes:
I. Situação actual da zona, incluindo também as actividades aí desenvolvidas pela ATN, até Dezembro 2008;
II. Análise da problemática de conservação do património natural, descrição dos objectivos e proposta de soluções de conservação;
III. Proposta de acções de gestão dos valores em causa.
Este documento destina-se a apreciação por todas as entidades públicas com responsabilidades no ordenamento do território e na conservação do património natural e biodiversidade.
PARTE I. SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA
PLANO DE GESTÃO DA ÁREA PROTEGIDA PRIVADA
FAIA BRAVA 2009-2019
I.1 Enquadramento geográfico
O presente plano de gestão diz respeito à Área Protegida Privada da Faia Brava (APP FB), com uma área de 214,7 hectares, situada na zona central da Zona de Protecção Especial do Vale do Côa (PTZPE0039), 1 % da área ocupada pela ZPE (Figuras 2 a 7).
A APP Faia Brava é delimitada pelo perímetro de 3 artigos rústicos inscritos na matriz predial sob os n.os 907 e 2101 da freguesia de Algodres (concelho de Figueira de Castelo Rodrigo) e o n.º 797 da freguesia de Cidadelhe (concelho de Pinhel). Esta área abranje 39,53 hectares da freguesia de Algodres, , e 175,14 hectares da freguesia de Cidadelhe.
As coordenadas do ponto central desta área são:
WGS84 (Graus decimais) => Latitude 40.93479 Longitude -7.08104
WGS84 (Graus, minutos e segundos) => Latitude N40 56 05 Longitude W7 04 51 GPS => Latitude N 40 56.087 Longitude W 7 04.862
UTM => 29N X661551 Y4533291
Figura 5 Localização geográfica da Faia Brava em mapa topográfico com indicação dos números de artigos de
A área ocupada pela APP FB (214,7 hectares) está integrada numa área maior gerida pela ATN apelidada “Reserva” da Faia Brava, com um total de 616,01 hectares. Esta área é composta por propriedades da ATN (473,81 hectares), em diversas fases de legalização, assim como terrenos em processo de aquisição pela ATN (73,4 ha) e propriedades alvo de acordos de gestão ou arrendamento (68,8 ha) (Figura 8).
I.2 Orografia/Geomorfologia/Geologia/Solos
Em termos orográficos, esta área corresponde a um vale profundo resultante do desgaste erosivo do Rio Côa ao atravessar planaltos graníticos. Ao longo de uma extensão de 5 Km, a paisagem dominante corresponde a esse vale escarpado. O leito do rio Côa possui uma altitude média de 200 m, com cota mínima de 170 m. por contraste com a altitude média dos planaltos a 450 m (cota máxima 509 m) (Figura 9).
Figura 9 Mapa do relevo da APP Faia Brava (adaptado de http://maps.google.com/).
A APP FB insere-se no planalto granítico, situado entre o maciço Central e o Rio Douro. A área planáltica caracteriza-se por uma fracturação intensa, com diaclases orientadas essencialmente na direcção Norte – Sul (Figura 10).
A única dissonância de relevo corresponde ao monte da Resenha, a Este da APP FB, que corresponde a uma pequena crista de terrenos associados a um filão de quartzos metamórficos, essencialmente quarzíticos, perpendicular ao Rio Côa, com uma atitude máxima de 509 m.
Em termos litólicos, dominam as rochas graníticas porfiroídes e de grão médio. Ocorrem pequenas bolsas de metagrauvaques na zona Norte da APP FB, associadas à transição geológica para os terrenos metamórficos (vale do Douro) (Figura 11).
Figura 11 Mapa geológico da APP FB (Fonte: Serviços Geológicos e Mineiros, 1990).
O relevo e as características geológicas, associadas às condições climáticas de baixa precipitação anual e de contrastastes térmicos, são determinantes para a existência de solos pobres nesta região. Devido a estas condições, o coberto vegetal é pouco denso e a meteorização é pouco intensa, devido à baixa proporção de água de infiltração e a uma acentuada erosão, resultante da água que escorre superficialmente.
Estas condições naturais originam uma dominância de solos muito delgados que se incluem nos seguintes tipos: Cambissolos e Regossolos.
I.3 Clima
Os dados climatológicos dizem respeito às estações de monitorização mais próximas da área de estudo, nomeadamente a Estação Climatológica de Figueira de Castelo Rodrigo (ECFCR) e a Estação Udométrica de Pinhel (EUP). Pela maior proximidade e tipo de relevo, considerámos os dados deste último posto climatológico como mais representativos da realidade da Faia Brava.
O relevo rugoso dos vales do Côa e afluentes, combinado com a interioridade e a presença de importantes barreiras orográficas na direcção costeira, condiciona fortemente as características climáticas, salientando-se o aspecto continental seco, com verões quentes e secos e Invernos frios com ocasionais quedas de neve. Trata-se de um clima de temperaturas agrestes (denominada por Terra Quente Duriense), com grandes amplitudes térmicas e fraca pluviosidade média, inserindo-se na região continental mais seca do país (Figuras 12 a 15).
De acordo com o Atlas do Ambiente (1975), a temperatura média diária da região varia entre 12,5 e 15 ºC. A temperatura mínima média do mês mais frio varia entre 0 e 1 ºC, e em 45 a 50 dias por ano verificam-se temperaturas negativas. A temperatura máxima média do mês mais quente ronda os 30 ºC, e em 85 a 90 dias por ano verificam-se temperaturas máximas superiores a 25 ºC.
Em termos de precipitação, são de referir os valores bastante baixos de precipitação anual, 656,0 mm em Pinhel. Na Estação Udométrica de Pinhel, registam-se 3 meses secos, de Julho a Setembro. A maior concentração de precipitação verifica-se em Fevereiro (81,1 mm) e a mínima em Agosto (11,2 mm). Verificam-se 22 dias de chuva por ano. O valor máximo diário foi de 83 mm em Pinhel (em Fevereiro).
Em termos de humidade relativa, o clima da região é bastante seco, com valores anuais de 78% às 9.00 h, e de 71% às 18.00 h (ECFCR). Em termos de nebulosidade, ocorrem 110,7 dias de céu muito nublado por ano e 20,6 dias de nevoeiro por ano, muito concentrado nos meses de Inverno (6,2 dias em Dezembro e 5,2 dias em Janeiro). Ocorrem geadas em 9 meses por ano, atingindo um valor anual de 39,6 dias. A queda de neve verifica-se em média 0,3 dias por ano.
A insolação é relativamente alta, com valores entre as 2700 e as 2800 horas. Pela intrincada orografia ocorrem frequentemente nos vales os denominados nevoeiros de irradiação, acumulados nas terras baixas, que por vezes estão associados à geada (fenómeno do sincelo).
O regime de ventos é caracterizado por 25,2 % do quadrante nordeste e 22,7 do quadrante sudoeste.
Pelas características orográficas muito peculiares, o clima possui características microclimáticas, que, sobretudo nos vales, induzem ligeiras diferenças no panorama geral, marcadas por vento fraco, estagnação de ar frio e nevoeiros e ocorrência de geadas tardias.
Figura 12 Diagrama ombrotérmico da Estação Climatológica de Figueira de Castelo Rodrigo, 1951-1980
(Fonte: www.inag.pt).
Figura 13 Diagrama de precipitação média mensal na Estação Udométrica de Pinhel (1951-1980) extraído de
Ecossistema & Agriproconslultores, 2003 (Fonte: www.inag.pt).
Figura 14 Diagrama da humidade relativa do ar (%), na Estação Climatológica de Figueira de Castelo Rodrigo
Figura 15 Diagrama da frequência e velocidade do vento Estação Climatológica de Figueira de Castelo Rodrigo
Figura 16 Variações da vegetação na paisagem, ao longo das 4 estações do ano (Inverno – Primavera – Verão
I.4 Hidrologia
Em termos hridrográficos, a área de estudo divide-se em 4 realidades: (a) o Rio Côa; (b) a rede de pequenas ribeiras afluentes, com caudal apenas nos meses de Inverno e Primavera; (c) as charcas ou lagoas (artificiais) temporárias; e (d) as nascentes ou poços, que designámos como pontos de água, utilizadas em tempos idos para rega (Figura 17).
Em termos hidrológicos, o rio Côa que nasce na Serra de Mesas (concelho de Sabugal), possui regime torrencial. No Inverno corre com elevado caudal, que se reduz significativamente durante o estio, ficando confinado a pequenos pegos (poças) interligados. Na área em estudo, e durante o período invernal o caudal apresenta características lóticas (Figura 18).
Figura 18 Rio Côa : à esquerda durante o período invernal, à direita durante o estio.
O regime fluvial da bacia hidrográfica do Rio Côa caracteriza-se por uma irregularidade interanual e estacional, variando o seu ritmo de mês para mês e de ano para ano. Em Cidadelhe, o módulo absoluto é de 20.06 m3/s, e o módulo específico 11.91 l/s/km2 (1605 km2) (Tabela 1 e Figura 19).
Tabela 1 Alturas Hidrométricas e Caudais do Rio Côa em Cidadelhe (1984/85), da autoria de José Alberto
Afonso Alexandre.
OUT NOV DEC JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET
Med.Mensal (m3/s) 0,07 15,68 29,60 80,26 85,54 26,72 22,00 12,97 13,02 1,05 0,08 0,00 Max.Inst (m3/s) 0,02 50,00 73,80 157,00 291,00 100,00 64,50 66,90 71,00 3,10 0,11 0,00 Alt.Max.Inst (m) 0,65 3,10 3,54 4,68 6,23 8,94 3,87 3,41 3,50 1,19 0,49 0,00
Para a estação de Cidadelhe destacam-se os meses de Janeiro e Fevereiro, em que o volume das águas, e por conseguinte a sua altura, é muito superior à dos outros meses. O oposto observa-se nos meses de Agosto, Setembro e Outubro.
O N D J F M A M J J A S 0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 8 0 9 0 M 3/ S O N D J F M A M J J A S
Figura 19 Evolução do caudal médio mensal do Rio Côa em Cidadelhe (1984/85), da autoria de José Alberto
Afonso Alexandre.
Assim, o regime do rio Côa comporta duas épocas bem nítidas, com características opostas. Uma de abundância, ocorre no período de precipitação mais elevada, enquanto a outra de escassez,
coincide com a de quase ausência de precipitação. Neste período, a substancial diminuição da precipitação e o grande incremento da evapotranspiração são suficientes para eliminar quase por completo o escoamento, pois as águas subterrâneas são escassas e isto deve-se à fraca permeabilidade das rochas constituintes da bacia, tais como os xistos e os granitos.
Nas superfícies planálticas, a rede de diáclases dos granitos é aproveitada por diversas linhas de água, que escorrem perpendicularmente ao Rio Côa (Figura 20). Na área de estudo, existem 7 linhas de água principais, que têm as seguintes designações: Ribeiro do Coto, Ribeiro do Silveiral, Ribeiro de Frieira, Ribeiro da Murada, Ribeiro do Cachão, Ribeiro de Vale de Novelo e Ribeiro de Sardinha.
Figura 20 Imagens de vários ribeiros na APP FB.
Actualmente, a disponibilidade hídrica no período estival é muito reduzida, e para além do Rio Côa existem algumas pequenas charcas (artificiais), que correspondem a zonas de acumulação de água nos chãos arenosos, associadas a linhas de água ou a nascentes naturais nas diáclases de granito (Figuras 21 e 22). Existem 4 charcas nas áreas limítrofes da APP FB, construídas recentemente.
Até ao momento, foram contabilizados 15 pontos de água (7 na APP FB e 8 nas áreas limítrofes da APP FB), dos quais 5 fontes e 10 poços de rega. Apesar de manterem água à superfície durante todo o ano, todos eles se encontram abandonados desde há vários anos (sem utilização ou manutenção).
I.5 Valores naturais - Fitocenoses
I.5.1. INTRODUÇÃOA informação acerca de flora e vegetação refere-se aos dados da ATN e aos levantamentos florísticos e apreciação técnica realizados no âmbito da proposta de plano de ordenamento do PAVC (IAD, 1998) e do Estudo de Impacte Ambiental comparativo entre os aproveitamentos hidroelétricos do Baixo Sabor e do Alto Côa (Ecosssistema & Agroproambiente, 2003).
A estrutura geomorfológica, e as condições climáticas, constituem os principais elementos de diferenciação das biocenoses desta região. Manifestam-se assim neste território 2 gradientes ecológicos, que estão interrelacionados: humidade relativa (orientação Sul – Norte, maior secura de Sul para Norte) e altitude (menor altitude, Verões mais ardentes e secos, e Invernos moderados).
A conjugação desses factores determina um zonamento bioclimático: zona termomediterrânea abaixo dos 250 m (sobretudo na zona norte da APP FB) e zona mesomediterrânea, acima dos 250 m; (metade Sul e terras de planalto na APP FB).
I.5.2. VALORES NATURAIS – HABITATS DA DIRECTIVA 92/43/CEE
A Directiva 92/43/CEE do Conselho de 21 de Maio de 1992, relativa à conservação dos habitats naturais e da fauna e flora selvagens, conhecida como a Directiva Habitats, é um instrumento legislativo comunitário que define um enquadramento para a conservação das plantas, dos animais selvagens e dos habitats de interesse comunitário.
Tendo em conta que esta legislação foi transposta para o Direito Nacional (Decreto-Lei n.º 226/97 de 27 de Agosto, Decreto-Lei n.º 140/99 de 24 de Abril, Decreto-Lei n.º 49/2005 de 24 de Fevereiro), utilizamo-la como referência principal na avaliação e caracterização das fitocenoses. Dentro da listagem de habitats, presente no Anexo I da Directiva 92/43/CEE, foram detectados na APP FB, 7 habitats (Tabela 2). Na área limítrofe, gerida pela ATN foram detectados 24 habitats, 3 dos quais prioritários (Tabela 2).
Tabela 2 Lista de Habitats da Directiva 92/43/CEE presentes na APP FB (vermelho) e nas áreas limítrofes
Nº Nome Prioritário Representatividade*
3170 Charcos temporários mediterrânicos X Baixa
3270 Vegetação nitrófila anual colonizadora dos sedimentos fluviais
secos durante o Verão
Baixa
3280 Vegetação com vivazes cespitosas decumbentes de rios
mediterrânicos com caudal permanente
Média
3290 Cursos de água mediterrânicos intermitentes Média
4020 Matos hidrofílicos X Média
4030 Matos secos europeus Alta
5210 Formações arborescentes Média
5330 Matos termo-mediterrânicos e pré-desérticos Alta
6220 Formações sub-estépicas de gramíneas e de anuais X Média
6310 Pastagens sob coberto (montados) Média
6420 Prados mediterrânicos de ervas altas e juncos Baixa
6510 Prados mesofilicos de ceifa de baixa altitude Baixa
8220 Encostas rochosas siliciosas com vegetação casmófitica Baixa
8230 Rochas siliciosas com vegetação pioneira Alta
91B0 Freixiais termófilos Baixa
91F0 Florestas mistas Baixa
9200 Folhosas diversas Média
9230 Carvalhais galaico portugueses Baixa
9240 Carvalhais de Quercus faginea Baixa
92A0 Salgueirais e choupais ribeirinhos Baixa
92B0 Formações-galeria de ribeiras intermitentes mediterrânicas Baixa
92D0 Galerias ribeirinhas termomediterrânicas Baixa
9330 Matas de Quercus suber Média
I.5.3. VALORES NATURAIS – FLORA
A área de estudo insere-se na zona fitogeográfica da Terra Quente Duriense de características fortemente mediterrânicas. O relativo isolamento desta zona, circundada por zonas de cariz Sub-mediterraneo e Atlântico, confere-lhe uma certa probreza florística. No entanto, a proximidade e contacto com a zona fitogeográfica da Terra Fria Duriense, confere-lhe uma interessante diversidade, nomeadamente a presença de espécies mediterrânicas exclusivas, em Portugal, nesta zona (Prunus mahaleb, Thymelea procumbens, Evonymus europaeus, Cronilla mínima, Dorycnium pentaphylium), e a ocorrência de espécies pouco frequentes no resto de Portugal (Acer monspessulanum, Securinega tinctoria). Considera-se que na área de estudo estão referenciadas 147 espécies.
Realçam-se as espécies representadas no Anexo V da Directiva Habitats (espécies vegetais cuja colheita na natureza e exploração podem ser objecto de medidas de gestão):
- Narcisus bulbucodum subsp. quintanilhae - Anthyllis lusitanica
- Ruscus aculeatus - Paspalum vaginatum
- Ranunculus peltatus subs. peltatus - Ranunculus peltatus subs. saniculifolius - Ranunculus penicillatus
Devido à sua raridade regional merece destaque a Securinega tinctoria, formando maciços nos troços mais termófilos do rio Côa. No caso desta espécie, a APP FB possui das porções mais extensas desta espécie na ZPE do Vale do Côa.
Figura 25 A Gilbardeira Ruscus aculeatus e Ranunculus sp. na APP Faia Brava.
A zona em estudo constitui uma área de características peculiares no contexto nacional. O fundo do vale do rio Côa (cota abaixo de 250 m), corresponde a uma zona ecológica com fortes características mediterrânicas, com habitats xerofílicos, onde ocorrem com bastante frequência espécies vegetais relíticas. Assim, destacam-se as seguintes espécies: Acer monspessulanum, Juniperus oxicedrus subsp. oxycedrus, Pyrus bourgaeana, Prunus spinosa subsp. insititoides (Figura 26).
I.5.4. VALORES NATURAIS – VEGETAÇÃO NATURAL
Conforme descrito anteriormente, as principais variações ecológicas na APP FB, que determinam as diferenças na composição da vegetação, encontram-se associadas ao gradiente de altitude (entre os planaltos e as cotas de fundo de vale). Nas baixas encostas prevalecem as condições ecológicas fortemente xerotérmicas (com precipitação média anual inferior a 400 mm e temperatura média anual superiores em 3 a 4°C, relativamente aos planaltos).
Na área de estudo são conhecidas as seguintes estruturas de vegetação potenciais (Figuras 27 e 28):
1) Formações comuns:
- Azinhais (Matas de Azinheira) – carvalhal perenifolia dominado por Quercus rotundifolia; - Montados de sobreiro e azinheira com presença de Quercus faginea e Celtis australis; - Mata perenifolia dominada por Olea europaea var. sylvestris, com Quercus rotundifolia; - Tamujal – matos ripícolas de Tamujo Securinega tinctoria;
- Formações rupícolas Pistacia terebinthus, Rhamnus lycioides subsp. oleoides, Phillyrea angustifolia, Arbutus unedo, Acer monspessulanum, Juniperus ocycedrus subsp. oxycedrus (extremamente raro).
2) Formações pouco frequentes:
- Freixiais – mata sub-ripária dominada por Fraxinus angustifolia subsp. angustifolia;
- Matos pirofílicos (Cytisus multiflorus, Lonicera implexa, Rubia peregrine, Euphorbia broteri, Euphorbia amygdaloides, Cistus salvifolius);
- Comunidades xerofílicas de Asparagus acutifolius, Asparagus albus, entre outras; - Comunidades rupícolas.
No entanto, a vegetação natural encontra-se profundamente alterada devido à acção do Homem, verificando-se que apenas nas estações hidrofílicas (de maior resiliência) e nas formações rochosas escarpadas, a vegetação se encontra mais próxima da situação climácica.
Merecem assim descrição as estruturas degradadas sucessionais, que constituem a vegetação com maior representatividade em termos territoriais, nomeadamente :
- Matos – Giestais (Cytisus multiflorus);
- Formações sub-estépicas de gramíneas e de anuais (zonas profundamente degradadas pelo uso frequente do fogo);
- Silvados – formações com domínio de Rubus ulmifolius, Clamatis campanifera e Rosa canina;
- Matagais perenifolios de Juniperus ocycedrus subsp. oxycedrus, Pistacia terebinthus, Rhamnus lycioides subsp. oleoides, Phillyrea angustifolia e Arbutus unedo;
- Matos piornais (Retama shaerocarpa); - Matos Estevais de Cistus salvifolius;
- Matos baixos com Lavandula pedunculata subsp. sampaiana; - Matos baixos de Asparagus acutifolius e Asparagus albus.
Figura 27 Carta da vegetação (simplificada), com distribuição das formações vegetais mais frequentes na
Figura 28 Imagem das formações vegetais com maior representatividade na APP FB (a – montado de
sobreiro, b – azinhal, c – tamujal, d – giestais, e – matos termófilos (zambujeiros e outras espécies xerofílicas), f – pastagens/gramíneas). a b a c a d e d f e
Apesar da elevada diversidade de espécies que compõe a vegetação da área de estudo, a profunda degradação de origem antrópica confere um elevado estado de degradação e de raridade às formações de estádios mais desenvolvidos. Por esse factor e pela importância ecológica que apresentam nas biocenoses, merecem destaque as seguintes situações (Figura 29):
- Tamujal – comunidade de Securinega tinctoria, pela sua raridade a nível nacional e pelo bom estado de conservação, havendo continuidade destes maciços ao longo de todo o troço do Rio Côa, na área de estudo;
- Freixiais degradados nas margens do Rio Côa e afluentes (nalguns casos apresentam-se em lameiros), constituem as únicas formações arbóreas ribeirinhas e matas riparias torrenciais (Acer monspessulanum, Celtis australis e Crataegus monogyna);
- Azinhais – manchas homogéneas de Quercus rotundifolia, nas encostas mais inacessíveis, onde ainda não chegou o fogo ou o corte para lenha;
- Sobreirais com a Quercus faginea e Quercus rotundifolia (inclui parte da maior mancha desta espécie presente no distrito da Guarda),
- Matas xerofilicas, pela diversidade de espécie e carácter relítico, com Pistacia terebinthus, Rhamnus lycioides subsp. oleoides, Phillyrea angustifolia, Arbutus unedo, Acer
mosnpessulanum e Quercus rotundifolia.
Figura 29 Espécies arbóreas e arbustivas pouco comuns na APP FB ( a – Celtis australis; b – Arbutus unedo; c – Crataegus monogyna; d – Acer monspeliensis; e – Pistacia terebinthus).
a b
c d
I.5.5. VALORES NATURAIS – EVOLUÇÃO RECENTE DA VEGETAÇÃO NATURAL E AMEAÇAS Como se procurou descrever, os valores florísticos e a vegetação desta zona possuem alguma relevância em termos regionais. O estado de conservação das fitocenoses existentes é globalmente muito reduzido, sendo resultado do cultivo cerealífero e do pastoreio, durante a primeira metade do século XX. É possível observar pelas fotografias áereas dos anos 50 que o estrato arbóreo e arbustivo tinha sido quase complemente eliminado por essas actividades (principalmente na freguesia de Cidadelhe). Na figura 30, é possível observar-se a ausência de vegetação arbustiva e arbórea nas arribas, o que conduziu a processos de erosão profundos, com a formação de verdadeiras cascatas de areia.
Figura 30 Comparação de imagens nas arribas do Vale do Côa (à esquerda 1958; à direita 2006). Nota-se uma
forte recuperação do coberto vegetal nas encostas da Quinta do Ervideiro, e aparentemente uma redução do número de árvores nas encostas do lado de Algodres.
Seguiram-se 50 anos de abandono agrícola, o que permitiu, nalgumas zonas, a recuperação florística e um aumento da estrutura e complexidade da vegetação. Nessa recuperação, foram determinantes 3 aspectos: (a) a inacessibilidade das margens rochosas e o carácter torrencial do Rio Côa; (b) a inacessibilidade e protecção natural de algumas escarpas rochosas das encostas do Rio Côa; (c) a manutenção e o aumento do valor económico do sobreiro (produção florestal que lhe está associada).
Interessa referir que, a médio prazo, é expectável alguma aceleração dessa tendência de recuperação do coberto vegetal natural na APP Fb e áreas circundantes, tendo em conta os trabalhos de restauro ecológico já desenvolvidos e a desenvolver pela ATN, nomeadamente através da reflorestação de linhas de água, da reconstituição de sebes e da silvo-pastorícia.
Incêndios
Apesar da tendência geral de recuperação do valor ecológico e aumento da biodiversidade associada a alguns habitats, assistimos na(s) última(s) década(s) a um revés importante desse processo de recuperação da “Silva lusitana", que correspondeu à ocorrência de incêndios estivais de grande severidade e frequência. Mas como sabem existem espécies pirofíticas ou seja que dependem do fogo para regenerarem. A história recente de degradação da vegetação, devido a essas causas, resume-se a 2 incêndios que afectaram quase totalmente toda a porção da margem esquerda do Rio Côa na APP FB (Agosto de 2001 e finais de Julho de 2003), e a um conjunto de pequenos e frequentes incêndios nas encostas da margem esquerda do Rio Côa.
Na tabela seguinte apresenta-se dados referentes aos incêndios que ocorreram nas imediações e que afectaram parte da APP FB.
Tabela 3 Lista de incêndios na APP FB e região envolvente, entre 1990 e 2008 (dados próprios e da DGRF).
Data Local Área ardida (ha) Causa
12/8/2001 Vale de Afonsinho e Algodres 158,0 desconhecida
1/8/2003 Vale de Afonsinho e Algodres 265,0 desconhecida
9/2004 Quinta do Ervideiro 28,0 pastorícia
27/8/2007 Sardinha- Cidadelhe 32,0 pastorícia
20/10/2007 Cachão - Algodres 13,9 pastorícia
31/8/2008 Laviados - Cidadelhe 4,0 pastorícia
13/9/2008 Quinta do Ervideiro 2,6 pastorícia
26/10/2008 Quinta do Ervideiro 24,3 pastorícia
As causas dos incêndios de maior impacte em termos de conservação da natureza devem-se fundamentalmente aos seguintes factores:
- Uso do fogo como prática tradicional de apoio à agricultura;
- Uso do fogo pelos pastores para eliminação de coberto arbustivo e estabilização ecológica de áreas homogéneas de giestal;
- Incapacidade de detecção e combate eficaz aos fogos nascentes; - Redução da carga de pastoreio de percurso.
Interessa salientar que os episódios de calor extremo e seca prolongada, têm acentuado o impacte dos fogos, assim como a capacidade de recuperação destas biocenoses.
Na margem direita do Rio Côa, o último fogo severo foi em 2003, provocando uma profunda degradação de todos os maciços arbustivos e florestais. O número de sobreiros com mais de 50 anos
reduziu-se cerca de 30% (Edite Murete, com pess.) e todos os maciços arbustivos foram quase completamente eliminados. Desde 2003 assiste-se a uma recuperação generalizada do coberto arbustivo e arbóreo, principalmente em termos de giestais e sobreirais, que parece ter acelerado a partir de 2007. No caso do sobreiro, estimou-se a existência em média de 37 sobreiros com mais de 5 anos por hectare, no âmbito do estudo sobre o impacte do incêndio de 2003 na vegetação (Edite Murete, com pess.). Nas parcelas em que, por razões edafoclimáticas, essa recuperação é mais evidente, observa-se uma densidade máxima de 120 plantas/ha. Não obstante, os sinais de recuperação das galerias ribeirinhas e das espécies florestais de crescimento lento, nomeadamente a azinheira, o zimbro e lodão, são ainda muito escassos. Também aqui interessa assinalar que os esforços da ATN em vigilância contra incêndios, de primeira intervenção e de silvicultura preventiva, efectuados com alguma intensidade desde 2004 (ver relatório de actividades 2000-2008 em anexo), têm dado um contributo importante para a redução do impacte dos incêndios e para acentuar a tendência geral de recuperação.
Figura 32 Vários aspectos do incêndio de 1 Agosto de 2003, ocorrido nas freguesias de Algodres e Vale de
Figuras 33 e 34 Mortalidade de sobreiros em 2008 em consequência do incêndio de Agosto de 2003. Sinais de
recuperação do sobreiro nas áreas ardidas em 2003.
Figura 35 Comparação da mesma zona entre 1995 e 2006. Nota-se uma certa regressão do coberto arbóreo e
arbustivo como consequência dos incêndios de 2001 e 2003.
Relativamente à margem esquerda do Côa (Quinta do Ervideiro), a permanência de hábitos pirómanos associados à exploração pecuária (ovinos) desta área, tem levado à ausência de recuperação do coberto arbustivo e arbóreo. A densidade de sobreiros e azinheiras nesta área é inferior a 0,05 exemplares por hectare. Essa situação deve-se à repetição de queimadas com intervalos inferiores a 4 anos.
Figura 36 Imagens da Quinta do Ervideiro. É visível a profunda degradação da vegetação natural.
I.5.6. VALORES NATURAIS – BRIÓFITAS, FUNGOS E LIQUENES
O conhecimento da composição de espécies destes grupos é muito reduzido, por não haver estudos sobre as mesmas nesta região.
I.6 Valores naturais - Fauna
I.6.1. METODOLOGIA RELATIVA À COMPILAÇÃO E ANÁLISE DA INFORMAÇÃO
A recolha de dados sobre a fauna (vertebrados) da área de estudo baseou-se em inventários realizados pela ATN (dados próprios), informação bibliográfica e dados das prospecções da empresa STRIX – consultores ambientais (citado doravante como STRIX, com. pess.), relativos a 2007 e primeiro semestre de 2008 no âmbito da elaboração do Atlas faunístico da ZPE do Vale do Côa (publicado em Fevereiro de 2009 pela Câmara Municipal de Pinhel).
A partir da listagem de espécies conseguida, procedeu-se à apreciação do estatuto de conservação (listagens das directivas comunitárias, legislação nacional, lei da caça (Decreto-Lei n.º 202/2004 de 18 de Agosto), legislação sobre pesca em águas interiores, planos de conservação, Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal).
Relativamente à caracterização da nidificação das aves (conf - nidificação confirmada, prov - nidificação provável, poss - nidificação possível), baseamo-nos nos critérios dos trabalhos de campo do 2º Atlas Nacional de Aves Nidificantes. Em termos de fenologia das aves considerou-se as seguintes categorias: est - nidificante estival; ocas - presença ocasional; inv - presença exclusiva de Inverno; res – residente nidificante/residente).
Relativamente à abundância das espécies na área em estudo, é apresentada informação quantitativa sempre que se dispõe de dados próprios ou informação publicada. Na generalidade dos casos procedeu-se a uma apreciação quantitativa, ponderando a frequência de observações e a disponibilidade de habitat (comum - espécie de ocorrência comum, abund - espécie abundante; rar - espécie de ocorrência rara).
Em termos de preferências de habitat, classificou-se as aves em 5 categorias, consoante os habitat preferenciais: aves de biótopos agrícolas, aves aquáticas, aves de biótopos florestais, aves rupícolas, aves de habitats aquáticos ou ribeirinhos, aves de biótopos indiferenciados ou vários biótopos.
I.6.2. COMPOSIÇÃO FAUNÍSTICA
A fauna do vale do Côa é diversificada, estando assinalado um total de 149 espécies de vertebrados, nomeadamente 6 peixes (1 espécie ameaçada), 9 anfíbios, 9 répteis, 100 aves (11 espécie ameaçadas), e 25 mamíferos (3 espécies ameaçadas). Os índices de riqueza específica são elevados devido à abundância relativa das populações de maior estatuto de conservação, que constituem núcleos demográficos relevantes à escala nacional.
Tabela 4 Lista de espécies da fauna de vertebrados presentes na APP FB e áreas limítrofes geridas pela ATN.
Grupo Nº de espécies Nº espécies ameaçadas (Livro
Vermelho)
Nº de espécies nas Directiva Aves/Habitats Mamíferos 25 3 10 Aves 100 11 21 Répteis 9 0 1 Anfíbios 9 0 7 Peixes 6 1 3 Total 149 15 42 25 100 9 9 6 Mamíferos Aves Répteis Anfíbios Peixes
Figura 39 Número de espécies presente por Classe de vertebrados na APP FB e áreas limítrofes geridas pela
I.6.3. VALORES FAUNÍSTICOS – PEIXES
De acordo com STRIX, (com. pess.), na zona da ponte de Cidadelhe (situada 1 Km a montante da APP FB, sendo o local de amostragem mais próximo) foram detectadas 6 espécies de peixes. Os resultados dessa prospecção correspondem à informação mais completa e actualizada que existe para esta área.
A fauna piscícola é composta por 6 espécies, sendo de destacar a escassez de peixes exóticos (apenas 1 espécie detectada), o que de certa forma ilustra o bom estado de conservação do ecossistema ribeirinho, deste troço do Rio Côa.
Ainda não foi possível recolher informação acerca dos problemas de conservação destas espécies.
Tabela 5 Lista de espécies de peixes presentes no Rio Côa (ponte de Cidadelhe).
Espécie Estatuto de conservação
(Livro Vermelho)
Directiva
Habitats Abundância Pesca
Barbus bocagei LC B-V comum sim
Pseudochondrostoma
duriensis LC B-II comum sim Squalius carolitertii LC comum sim
Squalius alburnoides VU B-II comum sim
Gobio lozanoi NA ? sim
I.6.4. VALORES FAUNÍSTICOS - RÉPTEIS E ANFÍBIOS
De acordo com STRIX (com. pess.) e dados da ATN, a classe dos anfíbios é composta por 10 espécies, e a classe dos répteis por 7 espécies.
Tabela 6 Espécies de anfíbios observados na APP FB e área limítrofe gerida pela ATN (APP FB).
Espécie Estatuto de conservação
(Livro Vermelho)
Directiva
Habitats Abundância
Pleurodeles waltl LC ?
Salamandra salamandra LC ?
Triturus marmoratus LC B-IV ?
Bufo bufo LC ?
Bufo calamita LC B-IV Comum
Alytes cisternasii LC B-IV ?
Hyla arborea LC B-IV Comum
Pelobates cultripes LC B-IV ?
Discoglossus galganoi NT B-II, B-IV ?
Rana perezi LC B-IV Comum
Tabela 7 Espécies de répteis observados na APP FB e área limítrofe gerida pela ATN (APP FB).
Espécie Estatuto de conservação
(Livro Vermelho)
Directiva
Habitats Abundância
Mauremys leprosa LC B-II, B-IV Comum
Tarentola mauritanica LC Comum
Acanthodactylus erythrurus LC Comum/abund
Lacerta lepida LC Comum
Psamodromus algirus LC Comum
Malpolon monspessulanus LC ?
Natrix maura LC ?
No grupo dos répteis e anfíbios, refira-se a ocorrência nesta área de um endemismo ibérico (Salamandra-dos-poços Pleurodeles waltl), mas deve também destacar-se a presença de populações importantes de espécies termófilas como a Cobra-rateira Malpolon mosnpessulanum e a Lagartixa-de-dedos-denteados Acandodactylus erythrurus (pouco comum a nível nacional). Ainda não foi possível recolher informação acerca dos problemas de conservação destas espécies. Contudo, supõe-se que os incêndios florestais e a perda do mosaico agro-florestal sejam factores de redução da diversidade de espécies.
I.6.5. VALORES FAUNÍSTICOS – AVES I.6.5.1. Composição avifaunística
De acordo com STRIX (com. pess.) e dados da ATN, a classe das aves é composta por 100 espécies. O reconhecimento da relevância avifaunística deste território (ao longo de uma área mais vasta do vale do Rio Côa), levou a que o Estado Português procedesse à sua classificação como Zona de Protecção Especial do Vale do Côa (PTZPE0039; Decreto-Lei nº 384-B/99), com uma área total de 20.607,35 hectares. Esta zona soma ainda o estatuto internacional de IBA do Vale do Côa (Importante Bird Area), segundo a BirdLife International.
Tabela 8 Lista de espécies de aves ocorrentes na APP FB e área limítrofe gerida pela ATN (APP FB).
(Legenda: NIDIFICAÇÃO Est – nidificante estival, ocas – presença ocasional, inv – presença exclusiva de Inverno, res – residente nidificante/residente; HABITAT AG – biótopos agrícolas, AQ –
aquáticas/ribeirinhas, R – rupícolas, F – biótopos florestais, C – vários biótopos)
Espécie Estatuto de conservação (Liv Verm) Directiva Aves Preferências de habitat Lista
Cinegética Fenologia Abundância
Nidifica ção
Phalacrocorax carbo LC AQ ocas
Ardea cinérea LC AQ inv Comum
Ciconia nigra VU A-1 R est 1 a 2 casais Conf
Ciconia ciconia LC A-1 AG ocas
Anas platyrhynchos LC D AQ sim res Raro Poss
Pernis apivorus VU A1 F est Raro
Milvus migrans LC A1 C est Raro Poss
Neophron percnopterus EN A1 R est 3 casais Conf
Gyps fulvus NT A1 R est 30 casais Conf
Aegypius monachus CR A1* F ocas
Circaetus gallicus NT A1 F est 1 casal Prov
Circus pygargus EN A1 AG est 1-2 casais Prov
Accipiter nisus LC A1 C ocas
Buteo buteo LC C res Raro Poss
Aquila chrysaetos EN A1 R res 1 casal Conf
Hieraaetus pennatus NT C est Raro Poss
Hieraaetus fasciatus EN A1* R res 1 casal Conf
Falco tinnunculus LC R res 1- a 2 casais Prov
Alectoris rufa LC D AG Sim res Comum Conf
Coturnix coturnix LC D AG Sim est Comum Prov
Burhinus oedicnemus VU A1 AG est Raro Poss
Charadrius dubius LC AQ Est ? ? poss
Vanellus vanellus LC AG inv Comum
Actitis hypoleucos VU AQ Est ? ? Poss
Larus ridibundus LC AQ ocas
Columba livia DD D R Sim res 100 a 200 casais Conf
Columba palumbus LC D F S res e inv Comum Conf
Streptopelia turtur LC D C S est Comum Conf
Cuculus canorus LC C est Comum Conf
Tyto alba LC AG res Raro Prov
Otus scops DD C est Comum Conf
Bubo bubo NT A1 R res 1 casal Conf
Athene noctua LC C res Comum Prov
Caprimulgus ruficollis VU C est ? Prov
Apus apus LC C est Comum Poss
Apus melba NT R est 1 a 5 casais Conf
Alcedo atthis NT A1 AQ est ? Poss
Merops apiaster LC C est Comum Poss
Upupa epops LC AG res Comum Conf
Picus viridis LC F est Raro Poss
Dendrocopos minor LC F est Raro Prov
Nome Estatuto de conservação (Liv Verm) Directiva Aves Preferência sde habita Lista
Cinegética Fenologia Abundância Nidificação
Calandrella brachydactyla LC A1 AG est Raro Poss
Galerida theklae LC A1 C res Comum/abu
nd Conf
Lullula arborea LC A1 C res Comum Conf
Alauda arvensis LC AG inv ?
Ptyonoprogne rupestris LC R res Comum Conf
Hirundo rustica LC C est Comum prov
Hirundo daurica LC R est comum Prov
Delichon urbica LC R est Comum Prov
Anthus campestris LC A1 C est Raro Poss
Motacilla alba LC C res Comum Prov
Cinclus cinclus LC AQ est Raro Poss
Troglodytes troglodytes LC C est Comum Poss
Erithacus rubecula LC C inv Comum
Luscinia megarhynchos LC C est comum Prov
Phoenicurus ochruros LC C res Comum Prov
Saxicola torquata LC C res Comum Prov
Oenanthe oenanthe LC AG ocas
Oenanthe hispanica LC C est Comum Poss
Oenanthe leucura CR A1 R ? Extinto? ?
Monticola solitarius LC R res Comum Conf
Turdus merula LC D C S res Comum Conf
Turdus iliacus LC D C S inv Comum
Turdus viscivorus LC D C S res comum Conf
Cettia cetti LC C est Comum Poss
Hippolais polyglotta LC C est Comum poss
Sylvia atricapilla LC C est Comum Conf
Sylvia hortensis NT F est Comum/abu
nd Conf
Sylvia undata LC A1 F res Raro Poss
Sylvia conspicillata NT C ocas ? Poss
Sylvia cantilans LC C est Comum Conf
Sylvia melanocephala LC C res Comum Conf
Aegithalos caudatus LC C est comum Poss
Parus cristatus LC F res Comum Poss
Parus caeruleus LC C res Comum Conf
Parus major LC C res Comum Conf
Sitta europaea LC F res comum Prov
Certhia brachydactyla LC F est Comum Prov
Oriolus oriolus LC C est Comum Prov
Lanius meridionalis LC C ? Raro Poss
Lanius senator LC C est Comum Conf
Garrulus glandarius LC D C S ocas raro Poss
Cyanopica cyana LC C res Comum Conf
Pica pica LC D C S ocas Comum Poss
Corvus corone LC D C S res comum Poss
Corvus corax NT R res 0 a 1 casal? Poss
Sturnus vulgaris LC D C S inv Comum
Sturnus unicolor LC C est Comum Conf
Passer domesticus LC C res comum Conf
Passer hispaniolensis LC C ? Comum Conf
Fringilla coelebs LC C res Comum Conf
Serinus serinus LC C res Comum Conf
Carduelis carduelis LC C res comum Conf
Carduelis cannabina LC C res Comum Conf
Carduelis chloris LC C res Comum Conf
Coccothraustes
coccothraustes LC C ?? Comum Poss
Emberiza cirlus LC C est Comum Poss
Emberiza cia LC C res comum Prov
15 11 12 54 8 rupicolas agricolas florestais comuns aquáticas 37 19 30 13
nid confirmada nid provável nid possível não nidificantes
Segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal e em termos de estatuto de protecção, assinala-se a presença de 11 espécies ameaçadas. Das 11 espécies ameaçadas, 2 estão Criticamente Ameaçadas, 4 Em Perigo e 5 Vulneráveis (Figura 40).
Relativamente à Directiva Aves, 21 das espécies presentes na APP FB estão assinaladas no Anexo 1, duas das quais sendo consideradas como prioritárias.
Figura 40 Composição da avifauna da APP FB em termos de
categoria de estatuto de ameaça.
Em termos de reprodução, consideram-se 87 espécies nidificantes (37 com nidificação confirmada, 19 com nidificação provável e 30 com nicação possível). Consideram-se igualmente 13 espécies com preConsideram-sença ocasional.
Figura 41 Composição da avifauna da APP FB em termos de
categoria de nidificação.
Em termos de preferências de habitat, as aves da APP FB agrupam-se em aves rupícolas (15 espécies, das quais 5 ameaçadas), aves aquáticas/ribeirinhas (8 espécies, 1 ameaçada), aves de biótopos agrícolas (11 espécies, 2 ameaçadas), aves de biótopos florestais (12 espécies, 2 ameaçadas) e aves comuns (54 espécies, 1 ameaçada).
Figura 42 Composição da avifauna da APP FB em
termos de habitat (preferencial).
8
1 1
7 9 2
quase ameaçadas ameaçadas
I.6.5.2. Aves prioritárias em termos de conservação
Tendo em conta o estatuto de ameaça, os aspectos ecológicos e a abundância relativa das espécies, é possível proceder à identificação de grupos ou espécies de conservação prioritária, àcerca das quais se apresenta informação mais detalhada. Esta classificação serve de indicação sobre a gestão para a conservação das biocenoses mais ameaçadas e raras da área.
Foram assim identificados os seguintes grupos e espécies prioritários: - Aves rupicolas * - Aegypius monachus ** - Circaetus galicus *** - Circus pygargus ** - Alectoris rufa *** - Columba livia *** - Columba palumbus *** - Sylvia hortensis *
* aves ameaçadas (ou não) cujo efectivo na APP FB tem significado a nível regional/nacional ** aves com elevado estatuto de ameaça (efectivo na APP FB pouco significativo)
*** aves comuns (não ameaçadas),cuja conservação é importante na gestão de biocenoses da APP FB
Figura 43 Aves rupícolas que nidificam na APP FB (esquerda cima: Britango; centro cima: Grifo; direita