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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - FAVENI APOSTILA HABILIDADES METALINGUÍSTICAS E A ALFABETIZAÇÃO ESPÍRITO SANTO

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NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - FAVENI

APOSTILA

HABILIDADES METALINGUÍSTICAS

E A ALFABETIZAÇÃO

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LINGUAGEM

O termo linguagem durante muito tempo, pensou-se que ela era uma invenção cultural, o que diferenciava o homem dos outros animais. Mesmo sendo considerado ainda um diferencial entre homens e animais a linguagem não é exatamente um produto da cultura, é uma habilidade que desenvolvemos por instintos. Mesmo sem instrução formal ou esforço consciente, ainda bebês aprendemos a falar. Com o passar do tempo, essa habilidade vai se desenvolvendo e, sem percebermos, logo passamos da produção de palavras soltas à produção de textos cada vez mais complexos.

Nosso universo social é repleto de símbolos. São placas, textos, objetos, gestos, imagens, etc. É por meio da linguagem que conseguimos relacionar esses símbolos para interagir com nossos semelhantes, refletir sobre a realidade, transmitir valores, conhecimento... Enfim, relacionando símbolos, produzimos sentido.

A linguagem se divide em não verbal e verbal.

LINGUAGEM NÃO VERBAL

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Exemplos: sinais de trânsito, placas de sinalização, gestos, etc. Observe que uma placa de transito comunica algo mesmo sem utilizar palavras. Assim, essa placa de trânsito é um exemplo de texto não verbal.

LINGUAGEM VERBAL

Comunica por meio de palavras escritas ou faladas.

Exemplos: uma carta, um relatório, uma conversa pelo telefone, etc. Nesse exemplo, mesmo sendo uma placa de trânsito, observamos o uso da linguagem verbal. A informação foi passada por meio de palavras.

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Para melhor compreensão das funções de linguagem, torna-se necessário o estudo dos elementos da comunicação.

ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO Emissor - emite, codifica a mensagem;

Receptor - recebe, decodifica a mensagem;

Mensagem - conteúdo transmitido pelo emissor;

Código - conjunto de signos usados na transmissão e recepção da mensagem;

Referente - contexto relacionado a emissor e receptor;

Canal - meio pelo qual circula a mensagem;

Obs.: as atitudes e reações dos comunicantes são também referentes e exercem influência sobre a comunicação.

FUNÇÕES DA LINGUAGEM

Função emotiva (ou expressiva)

Centralizada no emissor, revelando sua opinião, sua emoção. Nela prevalece a 1ª pessoa do singular, interjeições e exclamações. É a linguagem das biografias, memórias, poesias líricas e cartas de amor.

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Função referencial (ou denotativa)

Centralizada no referente, quando o emissor procura oferecer informações da realidade. Objetiva, direta, denotativa, prevalecendo a 3ª pessoa do singular. Linguagem usada nas notícias de jornal e livros científicos.

Função apelativa (ou conativa)

Centraliza-se no receptor; o emissor procura influenciar o comportamento do receptor. Como o emissor se dirige ao receptor, é comum o uso de tu e você, ou o nome da pessoa, além dos vocativos e imperativos. Usada nos discursos, sermões e propagandas que se dirigem diretamente ao consumidor.

Função fática

Centralizada no canal, tendo como objetivo prolongar ou não o contato com o receptor, ou testar a eficiência do canal. Linguagem das falas telefônicas, saudações e similares.

Função poética

Centralizada na mensagem, revelando recursos imaginativos criados pelo emissor. Afetiva, sugestiva, conotativa, ela é metafórica. Valorizam-se as palavras, suas combinações. É a linguagem figurada apresentada em obras literárias, letras de música, em algumas propagandas etc.

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Função metalinguística

Centralizada no código, usando a linguagem para falar dela mesma. A poesia que fala da poesia, da sua função e do poeta, um texto que comenta outro texto. Principalmente os dicionários são repositórios de metalinguagem. Obs.: Em um mesmo texto podem aparecer várias funções da linguagem. O importante é saber qual a função predominante no texto, para então defini-lo.

EXPRESSÃO ORAL

A Expressão Oral é uma das formas pelas quais se opera a transmissão de ideias, aliás, sendo a mais comum. É também a forma em que as pessoas mais erram em termos de eficiência da comunicação. Trata-se da mensagem falada. Podemos dividir a palavra falada, ou expressão oral, em alguns tópicos principais, os quais estudaremos com mais detalhes em seguida.

DICÇÃO

A dicção, que consiste na “maneira de dizer ou falar com a articulação e modulação corretas” é algo que deve receber especial dedicação por parte daqueles que desejam se expressar melhor, pois a dicção, quando alcançada pelo Orador, torna a sua expressão oral mais compreensível, e:

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a) Aumenta a eficiência da argumentação do orador (pelo simples fato de que ele será bem mais compreendido);

b) Cansa menos a plateia;

c) Melhora a imagem do orador perante seus ouvintes.

No que diz respeito ao último item (“c”), não é preciso muito para explicá-lo, vez que há aqueles cuja dicção é tão deficiente que passam, muitas vezes, como despreparados, o que nem sempre corresponde à realidade, pois existem pessoas que, a despeito de muito cultas, possuem problemas terríveis de dicção.

A questão é, enquanto cultura é algo que pode levar muito tempo para ser percebida (na convivência profissional, política etc.), a má dicção leva apenas alguns segundos. Ora, e o que os ouvintes associam a uma expressão oral má, em geral, é uma formação cultural deficiente ou inferioridade intelectual.

Portanto, uma pessoa com má dicção terá, consequentemente, problemas no que respeita à sua argumentação, pois encontrará barreiras à persuasão da plateia a que se dirige. E isto se dá em razão de ter a sua autoridade diminuída em face da associação que, como dito acima, os ouvintes fazem entre o intelecto e a expressão oral.

ERROS MAIS COMUNS

a) troca de “pr” por “p + vogal + r”. Ex.: precisa por “percisa”.

b) omissão do “r” final ou vogal final. Ex.: Ao invés de vou buscar, usar “Vô buscá”. c) supressão de vogais internas: Ex.: leiteiro por “leitero”.

d) erro de colocação de consoantes. Ex.: iogurte por “iorgute”.

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VÍCIOS

Existem diversos vícios relativos ao vocabulário que, se não evitados, podem comprometer a mensagem do orador e, até, sua própria imagem.

Dentre os principais há que destacar-se:

Uso de palavrão ou gíria

Um dos mais tolos enganos que um orador pode cometer é imaginar que, ao usar gírias ou palavrões irá se aproximar, ganhar intimidade com seus ouvintes. Pelo contrário, a experiência demonstra que o uso de tal “recurso” apenas diminui o respeito e a credibilidade em relação ao orador.

Obscuridade

Trata-se do uso inapropriado de termos (geralmente por não se saber o real significado da palavra empregada) ou má colocação das palavras.

Cacofonia

Diz respeito à construção frasal de má sonoridade.

Ex.: “..um por cada...”, “...na boca dela”, “...gosto da cor vinho”, “...da vez passada”.

Vejamos um belo exemplo: “O Sr. Oscar Neiro irritou-se por ver na bocadela a cor vinho

na vez passada”.

Pleonasmo

É a redundância dos termos. Ex.: “subir para cima”, “descer para baixo”.

Chavões

O uso de chavões serve apenas como indicativo da falta de preparo do orador. É necessário evitá-los ao máximo.

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INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

Interpretar um texto não é simplesmente saber o que se passa na cabeça do autor quando ele escreve seu texto. É antes inferir. Se eu disser: “Levei minha filha caçula ao parque.”, pode-se inferir que tenho mais de uma filha. Ou seja, inferir é retirar informações implícitas e explícitas do texto. Há de se tomar cuidado, entretanto, como o que chamamos de “conhecimento de mundo”, que nada mais é do que aquilo que todos carregamos conosco, fruto do que aprendemos na escola, com os amigos, vendo televisão, enfim, vivendo. Isso porque, muitas vezes, uma questão leva o candidato a responder não o que está no texto, mas exatamente aquilo em que ele acredita.

Contudo não basta retirar informações de um texto para responder corretamente as questões ou entendimento do texto. É necessário saber de onde tirá-las. Para tanto, temos que ter conhecimento da estrutura textual e por quais processos se passa um texto até seu formato final de dissertação, narração ou descrição.

Tudo o que dizemos ou escrevemos em uma situação comunicativa é chamado de enunciado. Na fala, os enunciados são delimitados pela entonação e, na escrita, pela pontuação. Podemos identificar três tipos de enunciados a frase, a oração e o período.

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FRASE

O enunciado “Você de novo!” está repleto de sentido, por isso é chamado de frase. Para construir uma frase, o enunciado não precisa ser extenso. Desde que tenha sentido completo em um contexto específico, uma simples palavra pode funcionar como frase. Assim, as frases podem apresentar verbo ou não.

ORAÇÃO

Chama-se oração o enunciado construído necessariamente com um ou mais verbos.

Veja alguns exemplos:

Fiquem parados!

Estamos esperando a hora do almoço.

PERÍODO

Período é um enunciado construído de uma ou mais orações. Se o período apresenta apenas uma oração, é chamado simples. O período é composto quando é formado por mais de uma oração.

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PARÁGRAFO

Os períodos se organizam em parágrafos. Mas, diferente do período, o parágrafo não é uma organização essencialmente sintática. Ele tem uma função estética e também estrutural.

O parágrafo é identificado no texto pelo seu início afastado da margem do papel, o que facilita tanto ao escritor como ao leitor, percebê-lo de forma isolada para que de modo analítico, capte as ideias principais do texto e posteriormente, sintetizá-las compreendendo então o texto num todo. Ele avisa o leitor de que está começando outro bloco de ideias, relacionado com o anterior e o posterior, se houver.

O parágrafo é recurso visual, pois o nosso pensamento não é organizado na forma de parágrafos. Mas na hora de redigir, precisamos organizá-lo numa linguagem comum a nós e ao nosso leitor.

Parágrafo Narrativo

O parágrafo narrativo deve transmitir fielmente a intenção da narração. Ele tem como matéria o fato, ou seja, qualquer acontecimento de que o homem participe direta ou indiretamente. O relato de um episódio é composto por elementos como, enredo, personagens, ação, tempo, espaço, causa, consequência, foco narrativo, clímax e desfecho. Estes podem aparecer em sua totalidade ou parcialmente dentro de um parágrafo narrativo.

É certo que todos os elementos nem sempre estarão contidos em um só parágrafo, sendo assim presentes em outras unidades da narração, contudo há a possibilidade de estes serem observados num mesmo parágrafo, devido a capacidade do autor e sua perícia na utilização dos recursos de linguagem a ele disponibilizados.

O parágrafo narrativo tem como núcleo o incidente, o fato ocorrido, nele também, geralmente, não se tem o tópico frasal explicito, pois este está diluído implicitamente no ordenamento da narração.

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Parágrafo Descritivo

É aquele que descreve o objeto, ser, paisagem ou até mesmo um sentimento. Tal descrição se dá pela apresentação das características predominantes e pelo detalhamento destas. É, portanto o objeto matéria da descrição.

Uma descrição perfeitamente realizada, não se mostra pelas minúcias descritivas do objeto. A descrição deve apresentar o ângulo do qual será feita a descrição, não só o físico, mas também a atitude da observação.

QUALIDADE DO TEXTO

COESÃO

Um texto não é uma unidade construída por uma soma de sentenças, mas pelo encadeamento semântico delas, criando, assim, uma trama semântica a que damos o nome de textualidade. O encadeamento semântico que produz a textualidade chama-se coesão, mais especificamente, dizendo que se trata de uma maneira de recuperar, em uma sentença B, um termo presente em uma sentença A.

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TIPOS DE COESÃO Referencial:

Anafórica: referência anterior;

Catafórica: referência posterior;

Exemplo de coesão referencial anafórica:

Pegue Três maçãs. Coloque-as sobre a mesa.

Exemplo de coesão referencial catafórica; Meu sonho é este: Viajar para Europa.

Substituição: Colocação de um termo, em lugar de outro ou até mesmo em frases inteiras.

Exemplo: Lucas comprou um carro e João também.

Elipse: Supressão de um termo.

Exemplo: Minha amiga está doente. Não foi trabalhar hoje.

Coesão lexical: Substituição de um item lexical ou substituição por sinônimos ou hiperônimos.

Exemplo: Você já guardou o carrinho e a boneca? Sim, guardei os brinquedos.

Conjunção: Liga nomes ou orações evitando repetições.

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DOCUMENTOS OFICIAIS

Além dos critérios exigidos numa boa redação, a correspondência oficial traz particularidades que mostraremos dentro de cada modelo.

OFÍCIO

É a correspondência trocada entre órgãos públicos e outros organismos de governo ou entre eles e os cidadãos ou entidades civis. Suas características são:

O papel utilizado: ofício (de 22 cm x 32 cm), em geral com timbre. Abaixo do timbre vem a indicação do número do ofício seguido de uma barra oblíqua e dos algarismos finais do ano em curso. Na mesma linha de numeração, à direita, localidade e data, abaixo, à esquerda do papel, depois do espaço de separação, vem à indicação do remetente, do destinatário e do assunto (ementa). A invocação vem depois do espaço de separação e é sempre impessoal, o texto do ofício vem a seguir, o fecho do ofício vem a seguir. O fecho do ofício vem separado do texto por espaço. Contém a despedida com votos de amizade e respeito, deixando-se espaço de separação, coloca-se sob uma linha o nome do remetente, indicando-se embaixo o cargo que ocupa com letras maiúsculas. A assinatura será feita sobre a linha. Na parte inferior do papel, à esquerda, são escritos o nome e o endereço do destinatário. Ao pé da folha, à esquerda, aparecem às iniciais do redator e as do datilógrafo ou digitador, separadas por uma barra. Os ofícios são digitados com cópia para os arquivos da entidade que expede. O ofício quando posto em envelope, deverá ser dobrado em forma de z.

REQUERIMENTO

Petição por escrito, segundo as formalidades legais. É uma solicitação que se faz a uma autoridade. Constam do requerimento: invocação (cargo da autoridade a que se destina, precedido do tratamento conveniente, por extenso); nome e identificação do requerente (nacionalidade, estado civil, endereço, número da Cédula de Identidade e do

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CPF, além daqueles que o assunto exija); exposição do que se deseja e justificativa; fecho; data; assinatura.

Observação: Entre o endereço e o texto – 14 espaços, quando digitados, 7 linhas, quando

manuscritos em papel pautado, ou 7 centímetros, quando manuscrito em papel sem pauta.

O fecho ou a conclusão, geralmente é imutável e se faz em duas linhas: Nestes termos, Pede deferimento.

MEMORANDO

Definição e finalidade o Memorando é a modalidade de comunicação entre unidades administrativas de um mesmo órgão, que podem estar hierarquicamente em mesmo nível ou em nível diferente. Trata-se, portanto, de uma forma de comunicação eminente interna.

Pode ter caráter meramente administrativo, ou ser empregado para a exposição de projetos, ideias, diretrizes etc. a serem adotados por determinado setor do serviço público. Sua característica principal é a agilidade. A tramitação do memorando em qualquer órgão deve pautar-se pela rapidez e pela simplicidade de procedimentos burocráticos. Para evitar desnecessário aumento do número de comunicações, os despachos ao memorando devem ser dados no próprio documento e, no caso de falta de espaço, em folha de continuação.

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Esse procedimento permite formar uma espécie de processo simplificado, assegurando maior transparência à tomada de decisões, e permitindo que se historie o andamento da matéria tratada no memorando.

HABILIDADES METALINGÜÍSTICAS E

ALFABETIZAÇÃO

Tfouni (1988) distingue dois termos envolvidos no processo da aquisição a leitura e da escrita: Alfabetização e Letramento: “Enquanto a alfabetização ocupa-se da aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição de um sistema escrito por uma sociedade” (Tfouni, 1988 apud Soares, 2002, P.3).

A alfabetização compreende a aprendizagem da leitura e escrita, e é um importante objeto do conhecimento humano. A criança que não aprende a ler e escrever, desde cedo fica excluída do sistema escolar e posteriormente tem suas possibilidades de entrada no mercado de trabalho, limitadas. No entanto, tem se argumentado que a mera aprendizagem do código escrito, ou alfabetização, sem que o aprendiz se torne letrado não permite que este indivíduo se insira verdadeiramente em uma sociedade letrada como a nossa (Soares, 2002). Assim, discussões que permearam o ensino da língua escrita na década de 80 e 90 tenderam a desvalorizar o papel da alfabetização e dissociá-lo do processo de letramento.

Nossa posição é que este tipo de abordagem pouco contribui para a melhoria do ensino da língua escrita e precisa ser revista. Soares (1998, 2005) nos lembra que “o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e escrita, de forma que o indivíduo se torne ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado” (Soares, 2005, P.47).

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O domínio da alfabetização acontece de forma gradual. O sistema de representações fonológicas e ortográficas da língua é construída de forma dinâmica pelo aprendiz (Ferreiro, 1985; Read, 1986). Entender os processos de aquisição da alfabetização é importante para que possamos pensar em práticas pedagógicas mais eficazes que possam prevenir os problemas escolares, e em última análise possam alfabetizar letrando.

Nas últimas três décadas a atenção dos pesquisadores interessados na alfabetização se voltou para o papel das habilidades metalinguísticas na alfabetização. Consciência metalinguística pode ser definida como a cognição sobre a linguagem e a auto regulação das atividades psicolinguísticas. Isso implica que o sujeito reflita sobre a linguagem como um objeto independente do significado que veicula; e também que o sujeito manipule intencionalmente as estrutura da linguagem (Correa, 2004).

Gombert (2003) e Gombert e Demont (2004) defendem que algum grau de consciência metalinguística é necessário para que se possa aprender a ler e a escrever, no entanto a habilidade verdadeiramente metalinguística dependeria de aprendizagens explícitas, principalmente da aprendizagem da leitura e da escrita, mais frequentemente de natureza escolar.

Vários estudos mostraram que as capacidades metalinguísticas se instalam paralelamente à aprendizagem da leitura e escrita. De fato, para que a criança aprenda tarefas linguísticas formais, é preciso que ela desenvolva uma consciência explícita das estruturas linguísticas, para que assim possam manipulá-las intencionalmente.

Dentre as habilidades metalinguísticas três são identificadas como facilitadoras da alfabetização: a consciência fonológica, a consciência sintática e a consciência morfológica.

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CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E

ALFABETIZAÇÃO

A consciência fonológica é a capacidade de refletir e manipular os sons que compõem as palavras (Cardoso-Martins, 1995). Ela ajuda na alfabetização, pois facilita a aquisição das correspondências letra-som, que são utilizadas na decodificação, e que assim são necessárias à aquisição do princípio alfabético. A decodificação facilita o reconhecimento de palavras que por sua vez facilita o processo de compreensão do texto (Tunmer, 1990; Rego, 1995).

O papel facilitador da consciência fonológica na aprendizagem da leitura e da escrita vem sendo confirmado por numerosas pesquisas realizadas com indivíduos de diversas idades, diversos níveis de instrução e falantes de diferentes ortografias. (Goswami & Bryant, 1990, para uma revisão).

A consciência fonológica e a escrita se desenvolvem paralelamente, a consciência fonológica contribuindo nos estágios iniciais do processo de alfabetização e por outro lado, a alfabetização levando ao processamento de aspectos fonológicos mais complexos como a análise fonêmica, que deriva do domínio da alfabetização.

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CONSCIÊNCIA SINTÁTICA E

ALFABETIZAÇÃO

A consciência sintática é a capacidade de refletir sobre os aspectos sintáticos das sentenças, e envolve o controle deliberado da aplicação dos aspectos sintático-semântico da língua, também chamada de informação contextual. Ajudaria na leitura e na escrita porque ao reconhecer e controlar deliberadamente tais aspectos, a criança usa estas informações contextuais como pistas, tanto na leitura para reconhecer as palavras no texto que não conseguem decifrar ou compreender, como na escrita. No caso da escrita as pistas contextuais parecem ajudar a criança a decidir sobre a grafia das palavras com ortografia ambígua ou com mesma origem semântica. Um exemplo, seria a de palavras como “conserto” e “concerto”. Estas palavras serão grafadas corretamente pela criança somente se esta usar as pistas contextuais (Rego & Buarque, 1997; Mota, 1996; Correa, 2005; Rego, 1995).

Ao contrário do que acontece na consciência fonológica poucos estudos têm investigado o desenvolvimento da consciência sintática e sua relação com a alfabetização. Rego & Bryant (1993) acharam uma relação causal entre a consciência sintática e a leitura de crianças inglesas em processo de alfabetização. Plaza & Cohen (2003) investigaram a

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contribuição da consciência fonológica, consciência sintática e velocidade de nomeação para a alfabetização de crianças em processo de alfabetização falantes do francês. O resultado deste estudo mostrou que as medidas de consciência sintática contribuíram de forma independente para as medias de leitura e escrita, mesmo depois de controlarem o efeito da consciência fonológica e velocidade e nomeação.

No português o papel da consciência sintática na alfabetização precisa ser mais bem explorado. Em um estudo com crianças brasileiras, Rego (1995) identificou a consciência sintática como facilitador da leitura das crianças entrevistadas. Em um outro estudo, Guimarães (2003) investigou a relação entre consciência sintática e consciência fonológica e o desenvolvimento da leitura e escrita em crianças com dificuldades de aprendizagem cursando a terceira e quarta série do ensino fundamental. A autora não achou diferença entre a performance de crianças com dificuldades de alfabetização e os controles de mesma habilidade de escrita, mas mais jovens em idade. No entanto, as crianças de terceira e quarta série sem dificuldades de leitura tiveram performance superior à das crianças com dificuldade e a das mais jovens. Estes resultados sugerem que embora não pareça haver um déficit específico da leitura das crianças com dificuldades de aprendizagem no que diz respeito à consciência sintática, a escolarização tem um papel no desenvolvimento desta habilidade.

No entanto, Mota e cols. (em preparação) acharam correlações significativas e positivas entre as tarefas de consciência sintática realizadas por crianças de primeira e segunda série do ensino fundamental e medidas de leitura e escrita. Estes resultados apontam para importância de conhecermos melhor como a consciência sintática contribui para a alfabetização numa língua regular como o português.

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CONSCIÊNCIA MORFOLÓGICA E

ALFABETIZAÇÃO

Além da consciência sintática e fonológica uma terceira habilidade que tem sido investigada em relação a sua contribuição com a alfabetização é a consciência morfológica.

A consciência morfológica diz respeito à reflexão e manipulação intencional da estrutura morfológica da língua (Carlisle, 2000). Dessa forma, a consciência morfológica se refere à reflexão sobre o processo de formação das palavras. A investigação sobre o desenvolvimento da consciência morfológica tem incidido sobre a sensibilidade da criança aos processos de derivação lexical (morfologia derivacional) ou aos processos de flexão das palavras (morfologia flexional) de forma separada. De fato Deacon & Bryant (2005) mostraram que as crianças reagem de forma diferente a estes dois tipos de morfema.

Na morfologia derivacional, investiga-se a habilidade para a manipulação do acréscimo de prefixos e/ou sufixos na formação de palavras, ou ainda, na decomposição de palavras derivadas em palavras primitivas. De particular importância aqui é a criança entender que apesar de possíveis extensões de sentido (Laroca 2005), em geral, as palavras derivadas mantêm sua relação semântica e a grafia das palavras que a originaram.

A morfologia flexional investiga a sensibilidade às flexões de gênero e de número dos substantivos e adjetivos e as flexões de modo-tempo e número-pessoa dos verbos. Neste caso, informações semânticas e sintáticas interagem. Existem regras claras para grafar as flexões. Por exemplo, no caso da palavra “cobrisse”, que é escrita com “ss” e não “c” pois se trata de um morfema que indica o tempo condicional.

Uma série de estudos que visavam explorar a relação entre a consciência morfológica e a alfabetização demonstram que a consciência Morfológica está associada ao desempenho na leitura de palavras isoladas e na compreensão de leitura (Carlisle, 1995, 2000; Carlisle & Fleming, 2003; Deacon & Kirby, 2004; Nagy, Berninger & Abbot, 2006), e

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também ao desempenho da escrita (Carlisle, 1988; 1996; Deacon & Bryant, 2005; Nunes, Bindman & Bryant, 1997).

Os estudos citados foram realizados em crianças de língua inglesa. A argumentação principal para explicar a relação encontrada entre o processamento morfológico e a alfabetização no inglês diz respeito à natureza da ortografia inglesa. O princípio alfabético é o de que letras devem ser mapeadas perfeitamente aos sons das palavras, mas as línguas alfabéticas variam quando ao grau de correspondência entre as letras e os sons da fala. No inglês essas relações são mais opacas do que em ortografias como o português ou espanhol. Muitas das irregularidades encontradas no inglês podem ser explicadas pela estrutura morfológica das palavras. Por isso o processamento das palavras ao nível do morfema pode ajudar as crianças a ler e escrever.

No entanto, não é só no inglês que tem se observado um efeito facilitador da estrutura morfológica no desenvolvimento da leitura. No francês, Colé, Marec-Breton, Royer e Gombert (2003) investigaram o papel da consciência morfológica na leitura e encontraram resultados semelhantes aos estudos de língua inglesa. Embora o francês seja uma língua mais regular que o inglês ainda assim, em muitos casos, sobre tudo no caso das flexões, há muita ambigüidade. È possível que em línguas com ortografias mais regulares como o português ou o espanhol o mesmo fenômeno não ocorra.

Alguma evidência de que o processamento morfológico influencia a escrita no português foi encontrada por Mota (1996). Em um estudo com crianças de segunda a quarta série, a autora mostrou que a partir da segunda série as crianças são capazes de utilizar regras gramaticais para decidir a grafia de palavras flexionadas. Em um outro estudo, Mota & cols. (2000) mostraram que adolescentes com baixa escolaridade demonstravam a capacidade de processar os morfemas das palavras. Mota & cols (2002) também observaram que as crianças de primeira série com os melhores escores nos testes de Consciência Morfológica eram as crianças que escreviam melhor pseudo-palavras com ortografia ambígua (ex., “muge”-“mugidor”).

Um problema metodológico que vem sendo levantado quando se estuda Consciência Morfológica é até que ponto a consciência morfológica contribui de forma independente da consciência fonológica para aquisição da leitura. Palavras morfologicamente semelhantes são também fonologicamente semelhantes e, portanto, é possível que a contribuição

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encontrada em estudos como de Carlisle (2000), que não controlou para o efeito da Consciência Fonológica, seja parte de uma habilidade metalinguística geral e não específica.

Para investigar se a Consciência Morfológica contribui para a leitura independentemente da Consciência Fonológica, Deacon & Kirby (2004) realizaram um estudo longitudinal que durou quatro anos. Os autores investigando a morfologia flexional mostraram que a Consciência Morfológica contribui para os escores de leitura em todas as tarefas apresentadas (leitura de palavras simples, pseudo-palavras e compreensão da leitura) independente da contribuição da Consciência Fonológica. Resultados semelhantes foram encontrados por Naggy, Abbot & Berninger (2006).

Em conclusão, como no caso a consciência sintática mais estudos precisam ser realizados para investigar a relação da consciência morfológica e a leitura e escrita no português. Sendo o português uma língua com correspondências letra e som transparentes é de fundamental importância que essa relação seja estudada independentemente da contribuição a consciência fonológica.

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Referências

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