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CONCEITOS DE GOVERNANÇA E COORDENAÇÃO: IMPORTÂNCIA NO ESTUDO DE CADEIAS PRODUTIVAS

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Academic year: 2021

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José Paulo de Souza CPF 464760679 15

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ R. Guarani. 361, Apt.501 – 87013-400 – Maringá-PR

E-mail: jpsouza@uem.br. Laércio Barbosa Pereira

CPF 591536 528-00

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA R. Biribá, 139 - Parque São Jorge II - 88034-490 – Florianópolis SC

E-mail: Laercio_bp@yahoo.com.br

Grupo: Sistemas Agroindustriais e Cadeias Agroindustriais Apresentação oral com presença de presidente e debatedor

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CONCEITOS DE GOVERNANÇA E COORDENAÇÃO: IMPORTÂNCIA NO ESTUDO DE CADEIAS PRODUTIVAS.

Resumo:

A reestruturação produtiva e as pressões competitivas nas economias desenvolvidas a partir do inicio dos anos 80 impuseram a busca de novas formas organizacionais mais eficientes. É neste contexto que ganha força e importância às formas organizacionais que levam a articulação dos agentes, como redes, cadeias e arranjos produtivos, cujo objetivo fundamental é à busca de complementação de recursos, informações e competências que levem ao aumento da eficiência e competitividade do sistema. É neste contexto que os dois conceitos tratados neste artigo, governança e coordenação, assumem importância fundamental na busca destas novas formas organizacionais. A governança define relações de hierarquia, controle, poder de estabelecer regras e parâmetros para os demais membros da cadeia (liderança de produtores ou compradores). Por outro lado, a coordenação assegura a implementação e a aderência a essas regras. Assim, governar as interações significa estabelecer comportamentos desejados e, conseguir efetivá-los a partir de um adequado processo de coordenação.

Palavras-chave: Governança e coordenação; Governança em cadeias produtivas; Coordenação em cadeias produtivas.

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1 INTRODUÇÃO

Na etapa atual do desenvolvimento das relações de produção capitalista o processo produtivo encontra-se cada vez mais integrado (crescente divisão de trabalho, interdependência entre as empresas e intensificação das relações intersetoriais), levando a especialização técnica da produção e tornando esta uma característica marcante nas atividades empresariais. Assim, as empresas cada vez mais se inserem em redes ou cadeias produtivas1, cujos resultados de suas atividades se transferem às outras empresas em etapas consecutivas até a elaboração do produto e consumo final. Este processo em geral tem levado a significativa redução de custos e incertezas, bem como, a ganhos de eficiência nas operações produtivas. Portanto, para se posicionar de forma competitiva no mercado, passa a interessar a empresa todo o espaço de relações que se processam up e down-stream da posição que assume na rede ou cadeia produtiva.

Nesse sentido, Visconti (2001, p. 318) afirma que existe uma tendência de reconfiguração organizacional das firmas, em que ganham relevância formatos que facilitam o exercício da integração e da troca de conhecimento, como as redes de firmas. A disposição estratégica das firmas passa a considerar a utilização das vantagens oriundas da interação e da coordenação continuas no momento em que esse comportamento proporciona o desenvolvimento de inovações em produtos e/ou processos. Nessa direção, Gomes-Casseres (1994) observa que o objetivo das redes é a busca de recursos e competências complementares que aumentem a eficiência e a competitividade e gerem valor para todos os envolvidos, não importando o tamanho ou o papel da empresa dentro do segmento.

Dessa forma, essa nova forma de inserção das empresas pauta-se, fundamentalmente, pela busca constante da melhoria na qualidade, da diversificação produtiva, do aumento da produtividade e competitividade e, portanto, da busca constante de sua melhor inserção nos mercados. Essas mudanças vêm exigindo novas formas de análise para a compreensão dos fenômenos, posto que o tratamento somente de aspectos microeconômicos e a avaliação restrita ao ambiente macroeconômico mostraram-se insuficientes. O entendimento da realidade

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As redes e cadeias produtivas resultam e ganham importância a partir de dois movimentos, quais sejam: a) o processo de reestruturação produtiva resultante do novo paradigma tecnológico e organizacional, a partir do inicio dos anos 80 nas economias desenvolvidas, implicou em crescente desintegração vertical e especialização das empresas e b) as pressões competitivas impunham a busca de novas formas organizacionais que reforçam as articulações entre as empresas.

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econômica passa a requerer interpretações pautadas pelo ambiente sistêmico, que envolve não somente as partes que a constituem, mas o todo e suas inter-relações.

Nessa perspectiva analítica, ressalta-se a importância dos estudos sobre redes ou cadeias produtivas, que requer avaliações das operações nas dimensões técnicas produtivas, inter organizacionais e tecnológicas nas várias etapas percorridas no processo de produção de mercadorias. Envolve, ainda, considerações relativas ao importante papel dos ambientes que se formam em torno dos segmentos produtivos, tais como, ambiente organizacional, institucional, tecnológico e competitivo. Passa-se a entender que as condições competitivas a serem alcançadas dependem de formas organizacionais estabelecidas não só por um agente, mas pelo conjunto de agentes e instituições envolvidas.

Dentro desta perspectiva torna-se fundamental o surgimento e evolução de dois conceitos subjacentes à abordagem de redes ou cadeias, considerando estas dentro de uma dimensão sistêmica, quais sejam: coordenação e governança.

A Coordenação esta associada à busca de formas mais eficientes de organização ou gestão do sistema produtivo. Neste sentido Batalha; Silva (1999, p.252) afirmam: “É necessário operacionalizar ações que concretizem uma melhor coordenação da cadeia produtiva e aumentem sua capacidade sistêmica de reagir às mudanças cada vez mais rápidas no cenário competitivo [...]. A coordenação eficiente da cadeia, que poderia ser vista como uma forma de gerenciamento em nível sistêmico que transcende as fronteiras da firma, é ponto fundamental para o sucesso das estratégias adotadas”.

A governança esta fundamentalmente associada à relação de poder, ou seja, a idéia de empresa liderante, capaz de exercer controle ao longo da cadeia produtiva. Suzigan et al. (2002) afirmam que com o processo de desverticalização as grandes empresas não perderam posição relativa. Estas foram capazes de reforçar o seu poder econômico (a partir do domínio de ativos intangíveis como marcas globais, design, canais de comercialização, etc.) e estabelecer relações assimétricas com as outras empresas dentro da cadeia.

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Diante dessas considerações, o objetivo neste trabalho é contribuir para a caracterização, especificação dos conceitos de coordenação e governança2 nas relações existentes nas novas formas organizacionais dos sistemas produtivos.

2 ESTRUTURAS DE COORDENAÇÃO E GOVERNANÇA

A discussão aqui apresentada toma como pressuposto a expansão da caracterização do espaço de produção da firma para um contexto sistêmico, em que as instituições, aspectos estratégicos e demais fatores intervenientes determinam o curso das ações e as condições para obtenção de vantagem competitiva. Além disso, a caracterização dos mecanismos geradores de produtividade e dos determinantes de desempenho, em cada seguimento ou sistema produtivo, mostra-se essencial na efetivação de um sistema sustentável de competitividade.

Nesse contexto, observa-se que os interesses relacionados ao estudo da coordenação e governança se ajustam aos pressupostos relacionados à reestruturação produtiva a partir do inicio dos anos 80. Na busca de novas formas de organização, a adoção de estratégias fundamentadas na articulação passa a ser considerada como elemento chave, denominado por Suzigan (1989, p. 10) de “circuitos produtivos das diversas indústrias”. Os interesses se ajustam, ainda, às orientações defendidas pela “agenda neo-desenvolvimentista”, em que o caráter coletivo das ações acentua essa perspectiva nas cadeias produtivas e em redes formais e informais de empresas (ERBER; CASSIOLATO, 1997).

Ao se discutir a coordenação ou a governança em cadeias produtivas, deve-se considerar que essas não se definem, apenas, em simples relações de interesses, mas se estruturam amparadas em políticas públicas, em seus diversos níveis, e nas estratégias empresariais. Ao analisar o processo de reestruturação produtiva, Suzigan (1989) observou que as medidas adotadas pelos países desenvolvidos para reestruturar seu setor produtivo envolviam a consideração da natureza da política macroeconômica, o impacto dessas políticas no nível de emprego, as estratégias empresariais, e a incorporação tecnológica. Esses aspectos

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Há necessidade de uma especificação mais adequada dos conceitos de coordenação e governança, dado a importância do seu significado, bem como, a diversidade com que estes são usados na literatura, que aparecem inclusive como sinônimos. - Suzigan et al. (2002, p.2) afirmam: “Dentro da discussão e das investigações acerca da conformação de sistemas produtivos locais, um problema que tem sido recorrentemente colocado é a questão da coordenação (governança) da atividade produtiva” .

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identificavam um papel orientador para cada influenciador, definindo caminhos a serem seguidos para o alcance de interesses específicos.

Essas funções norteadoras podem ser agregadas e discutidas no âmbito de algumas fontes originadoras como: a estrutura de governança; a ação da empresa liderante; as regulamentações; o paradigma tecnológico. A utilização dos termos, em que pese identificar simetrias ao tratar da unificação de interesses intra e inter-segmentos, pode apresentar diferentes conotações e características quando se trata da gestão das interações e relações de interdependência. Quando analisadas em âmbito vertical (na cadeia produtiva e sua estrutura vinculada), diferentes graus de interdependência e formas de relacionamentos podem ser identificados, demandando critério e adequação nos tratamentos.

De acordo com Volkmann e Albert (2005) enquanto a estrutura de governança descreve o poder de estabelecer regras para os membros de uma cadeia, a coordenação assegura a implementação e a aderência a essas regras. Essas regras podem ser especificações, parâmetros logísticos ou padrões de processos. Isso permite, na visão dos autores, à estrutura institucional relacionada à cadeia de valor, interferir em sua governança e coordenação.

Williamson (1985) ao discutir a estrutura de governança, orientada pela busca de redução de custos nas transações, observa que, na impossibilidade de prever as condições econômicas que se apresentarão no momento da transação, seus participantes tentam reduzir os impactos de alterações não previstas. Para isso tentam construir formas de interação que ordene o processo adaptativo decorrente. Essas estruturas em função dos atributos existentes e aspectos comportamentais, podem se dar: via mercado, por intermédio de estruturas hierarquizadas ou na forma híbrida (relação contratual). De acordo com Ponde (2000), essas estruturas correspondem a formas institucionais particulares, as quais diferem em termos de mecanismos de monitoramento, incentivo e controle de comportamentos, com capacidades diferenciadas em termos de flexibilidade e adaptabilidade.

A organização da atividade econômica via mercado é considerada a mais eficiente quando os ativos específicos não estão presentes, em que as adaptações autônomas são suficientes3. Neste caso, a transação se refere às relações descontínuas no tempo e impessoais entre agentes, estabelecendo-se, unicamente, pela transferência de propriedade de um bem ou serviço, em troca de uma determinada quantia em moeda, após uma negociação prévia de preço e das condições de pagamentos (PONDÉ et alii, 2000).

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A hierarquia (integração vertical) ocorre quando a especificidade dos ativos é tal que os riscos em não se realizar a transação superam os custos deste tipo de organização, criando uma dependência bilateral; neste contexto, as transações são freqüentes e a identidade das partes importa (SAAB; FELÍCIO, 1998). As hierarquias permitem, ainda, respostas rápidas às mudanças do ambiente, evitando comportamentos não convergentes e implementando correções de maneira mais eficaz.

Como forma híbrida podem ser classificadas aquelas estruturas que se situam entre os extremos do mercado e hierarquia, combinando seus elementos. Para Pondé (1993), a funcionalidade e justificativa para a emergência destes “mercados organizados” sustentam-se na possibilidade de atenuar os efeitos da incerteza comportamental, e de algumas desvantagens da integração vertical, como as distorções burocráticas e as perdas de economias de escala e escopo. Entretanto, a elevação da especificidade de ativos, por outro lado, exige, em contrapartida, mais controle sobre a transação, a fim de se evitar transtornos ou atitudes oportunistas. Desta forma, quanto maior a especificidade de ativos, mais se aproxima de estrutura de governança que tenda a hierarquia.

Os diferentes arranjos como mercado, hierarquia, relações contratuais são as opções de governança que são disponibilizadas diante das características intrínsecas e extrínsecas de produtos e da cadeia. As transações via mercado são fundamentadas na lógica individual não cooperativa. A hierarquia internaliza as transações econômicas, tornando-as subordinadas. As “formas híbridas” (contratos de longo prazo) substituem a integração vertical, diante de especificidades de ativo e informação imperfeita, promovendo mecanismos de estímulo e controle de ações e de distribuição do risco do oportunismo.

Grassi (2003) afirma que ao conceituar “formas híbridas” como aquilo que está entre o mercado puro e a hierarquia (firmas), Williamson (1996) acaba dando ênfase a formas organizacionais que em muitos casos são apenas relações comerciais voltadas para acordo de preços, não incluindo praticas inovativas, como os casos de terceirização e do franchising. Ainda para o autor, no contexto da literatura teórica, é a noção de formas híbridas que apresenta algumas das mais importantes contribuições para o entendimento da coordenação dos arranjos cooperativos. No debate sobre cooperação inter-firmas, a noção de formas híbridas, centrada no conceito de “modo de adaptação”, deve ser aprimorada teoricamente.

Observa-se que a análise de cadeia produtiva, orientada pela Economia dos Custos de Transação, e sob enfoque da competitividade sistêmica, permite que os condicionantes à obtenção de vantagens competitivas, possam ser mais bem dimensionados e operacionalizados, dado às características transacionais e competitivas vigentes. A forte presença da exigência de ativos específicos, em sua base transacional, influencia a configuração de suas estruturas. Sua

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organização se processa, desta forma, a partir da busca de maior capacidade adaptativa e possibilidades de redução dos custos de transação associados. Neste caso, a interdependência entre os agentes para a obtenção de vantagens competitivas pode determinar a configuração de estruturas orientadas por uma relação com forte apelo cooperativo.

Nota-se que ao adotar o termo governança, as relações sustentadas em formas unificadas ou mistas, por intermédio de contratos, considera relações de mando. Na hierarquia a governança caracteriza um sistema que estimula um comportamento cooperativo sustentado em poder de Fiat 4 e, nos contratos, as partes definem exatamente as condições e compromissos a serem cumpridos, bem como formas de controle e incentivos, salvo em situações de formas fracas de controle que dificultam a estabilidade dos acordos5. Isso ratifica o posicionamento de Farina (1999, p. 24) quando afirma: “Governar a transação significa incentivar o comportamento desejado e, ao mesmo, tempo, conseguir monitorá-lo”. Entretanto, tomando-se como referência as colocações de Volkmann e Albert (2005) poderia se dizer que: governar a transação significa estabelecer comportamentos desejados e, conseguir efetivá-los a partir de um adequado processo de coordenação.

O alinhamento de interesses, mesmo em relações extra-mercado, expressas na configuração da empresa liderante, define, no mesmo sentido, o caráter da governança. Humphrey e Schmitz (2001, p.2) observam que o conceito de governança define o fato de que algumas empresas, dentro das cadeias produtivas, estabelecem ou aplicam os parâmetros nas quais outras empresas devem operar (liderança de produtores ou compradores). Conforme os autores, a “[...] governança pode ser exercida de diferentes maneiras, e diferentes partes da mesma cadeia podem ser governadas de diferentes maneiras”. Os parâmetros se traduzem em o que, como, quando e quanto ser produzido, definindo uma relação de poder, necessária a redução de riscos e construção de reputação.

3 TAXINOMIA RELATIVAS AS ESTRUTURAS DE GOVERNANÇA

Tratar-se-á a seguir da taxonomia relativa às estruturas de governança e coordenação em cadeias produtivas apresentadas por Storper e Harrison (1991) . Estes apresentam quatro tipos de estruturas de governança, quais sejam:

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Pondé (1993, p. 45) observa que Fiat é uma palavra latina que, literalmente, significa “seja” ou “faça-se”;

conforme ele, Williamson a utiliza para se referir à solução de um conflito ou divergência através da intervenção de uma instância superior, capaz de impor-se sobre as partes envolvidas.

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1. A chamado de all ring-no core, onde não existem hierarquias entre as empresas, configurando-se, assim, relações entre iguais.

2. A denominada de core-ring with coordinating firm, nesta se verifica algum grau de hierarquia dado pela existência de assimetrias entre os agentes participantes. Embora exista hierarquia e, portanto, assimetrias entre as firmas, o poder existente é limitado e não é determinante da sobrevivência das outras empresas. 3. A denominada de core-ring with lead firm. Esta apresenta vários elementos

semelhantes a anterior, entretanto, a grande diferença é que neste caso a firma líder é dominante. Assim, as ações das outras empresas participantes dependem de suas estratégias, por outro lado, a firma líder não depende de seus fornecedores, distribuidores e subcontratante.

4. A chamado de all core - no ring, integração vertical completa. Refere-se a casos raros, onde a grande empresa verticalizada assume todas as etapas de produção e distribuição na cadeia.

Suzigan et al. (2002) afirma que a taxonomia apresentada por Storper e Harrison (1991) embora seja interessante para a analise das formas em que se configuram as relações entre empresas, parece que estes subestimaram a importância das assimetrias e a conformação de relações fortemente hierarquizadas. Mesmo no caso dos distritos industriais italianos que os autores apresentam como exemplo do primeiro caso, já não corresponde a realidade, pois como constatado na literatura o desenvolvimento dessas regiões ao longo dos anos 80 e 90 ocorreu com o crescimento das assimetrias entre as empresas locais, conformando relações fortemente hierarquizadas, comandadas pelas empresas maiores. Assim, as duas estruturas de governança intermediárias parece ser as mais importantes ou as que explicam melhor as relações presentes nas cadeias produtivas.

Como visto anteriormente, a reestruturação industrial ocorrida a partir do inicio dos anos 80 conduz a desverticalização das grandes empresas, que descentralizaram suas atividades, especializando-se em algumas funções estratégicas, que lhe permitia a capacidade de governar toda a rede de fornecedores e distribuidores. Neste sentido Gereffi (1994) ressalta a existência de dois formatos ou configurações de cadeias produtivas globais (ou de valor): as cadeias dirigidas pelo produtor (producer-driven) e as cadeias dirigidas pelo comprador

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(buyer-driven)6. Nos diferentes formatos a estrutura de governança é determinada pela capacidade da firma em controlar ativos estratégicos, de difícil reprodução por outros agentes. Assim, no primeiro estariam as atividades relacionadas ao desenvolvimento do produto e a gestão de ativos comerciais; e no segundo, as atividades associadas ao domínio de ativos comerciais como marca, canais de comercialização e distribuição. Neste último, as empresas em geral não se envolvem com as atividades produtivas.

A dimensão abordada por Gereffi (1994, 1999, 2002) procura evidenciar que os grandes compradores7 formam as redes de produção estabelecidas nos principais paises produtores e exportadores é fundamental para se entender a reorganização e configuração das cadeias Globais.

Neste sentido vem sendo crescente o comando nas cadeias pelos grandes compradores mundiais (detentores de marcas globais, design, canais de comercialização, capacidade de coordenação dos fornecedores e aportes financeiros) localizados fundamentalmente nos paises desenvolvidos e cada vez mais concentrados e centralizados, em especial, do ponto de vista da acumulação de capital. Por outro lado, os produtores fornecedores encontram-se cada vez mais dispersos pelos paises em desenvolvimento.

Estas ocorrências não se constituem em um quadro estático, por pelo menos duas razões: a) quando uma empresa de um país em desenvolvimento se insere em cadeias globais, freqüentemente ocorrem ganhos de capacitações para atender aos padrões de especificações do comprador, o que significa aumento da eficiência do processo produtivo e da qualidade do produto; e b) por outro lado, isto pode levar a retrocessos quando na referida empresa já existir atividades mesmo que incipientes voltadas à busca de maior agregação de valor, como design, marcas, etc. e estas passam a serem assumidas pelo contratante/comprador.

Alem desta ocorrência, no contexto internacional, nas últimas décadas, as cadeias produtivas vêm passando por grandes transformações em sua estrutura industrial bem como em sua organização produtiva e do trabalho. No estudo de competitividade da cadeia produtiva são

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Casos de cadeias dirigidas pelo produtor: metal-mecânica, eletrônica, automobilística e química; e de cadeias dirigidas pelo comprador: brinquedos, calçados, têxtil-vestuários, móveis e alimentos.

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Em relação às cadeias dirigidas pelos compradores, o autor divide em: a) produtores com marcas (empresas que inicialmente se dedicava à produção de vestuário, atuando em toda a cadeia e que ao longo do tempo foram se concentrando nas atividades como: marcas, design, marketing, coordenação dos fornecedores e comercialização); b) comercializadores com marca (empresas que atuam nas etapas a jusante da cadeia). A marca, a coordenação e a logística da cadeia de fornecedores são seus ativos fundamentais; e c) varejistas com marca (empresas detentoras de canais de comercialização e marcas próprias), concentrando-se nas funções de design, negociação com fornecedores e gestão de marcas

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importantes tantos os avanços tecnológicos e organizacionais associados às empresas nos segmentos da cadeia como os ativos “imateriais” que podem atingir toda cadeia produtiva, como: design, desenvolvimento de produto, marketing, canais de comercialização, marcas, capacidade de administração e coordenação da cadeia. Estes fatores vêm assumindo preponderante importância para a competitividade das cadeias, cuja concorrência passa a ocorrer cada vez mais pela diferenciação do produto.

Por outro lado, a atuação do governo, ao qual Humphrey e Schmitz (2001) definem como atuação de agente externo à cadeia, inserido no Ambiente Institucional, caracteriza a imposição de comportamentos. Nesse sentido, normas, padrões e determinações técnicas podem ser estabelecidos e seu uso ser obrigatório por força de lei. Colocados em prática, esses parâmetros de governança passam a ser identificados e incorporados, com forte capacidade de influência e capacidade de alteração em padrões de concorrência e, mesmo, do próprio ambiente competitivo. Entretanto, ao se analisar o contexto brasileiro observa-se que mesmo por força de lei, muitas ações de governança não são implementadas, o que, em muitos casos, apresenta penosas cargas econômicas e sociais ao fortalecer imperfeições de mercado8.

Nota-se que a governança apresenta estreita relação e até se origina em estruturas de poder. Organismos públicos e privados podem estabelecer orientações, que se sustentam em objetivos específicos. Conclui-se, dessa forma, que o processo de governança necessita de objetivos claros que justifiquem sua existência e viabilizem sua aplicação. Esses objetivos devem ser identificados, traduzidos e aceitos pelos integrantes do sistema produtivo e transformados em ações por intermédios de uma adequada coordenação. As instituições e organismos públicos ao estabelecer suas diretrizes (políticas, normas operacionais e técnicas) podem visar a fomentar a capacidade competitiva de um segmentos ou cadeia específica, como também promover ajustes no sistema ou, ainda, apenas atender padrões adequados aos interesses públicos (coalizão externa). A governança associada às empresas privadas, por sua vez, esta associada, normalmente, a objetivos competitivos. Esses podem se relacionar à viabilização de estratégias ou mesmo o fomento de eficácia operacional, como a obtenção de capacidade operacional e logística, associada a diversas especificidades.

Nota-se que a efetividade da coordenação guarda estreita relação às características do ambiente competitivo, notadamente, em aspectos de organização e concentração. Pode se afirmar que quanto maior a organização e capacidade de articulação ou concentração maior a capacidade de coordenação, e, por conseqüência maior exercício de poder e capacidade

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Nesse aspecto, a governança é estabelecida, mas sua efetividade esbarra em falta de capacidade de coordenação de agentes, estruturas organizacionais e integrantes dos diversos segmentos em diversas cadeias produtivas, como na aplicação das Portarias 304 e 051, nas cadeias de carne bovina e leite, respectivamente.

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concorrencial. Nesse sentido, a capacidade de controle, típico da estrutura hierárquica, apesar de perder em incentivos, desfruta de grande capacidade de coordenação, ou seja, tende a aderir rapidamente aos determinantes de governança, sugerindo vantagem competitiva.

Os determinantes tecnológicos, por usa vez, também podem ser representativos de governança e coordenação. Sua efetividade pode se relaciona, entretanto, à tolerância tecnológica apresentada. De acordo com Waack; Terreran (1998) em sistemas menos tolerantes há menor espaço para uso de tecnologias diferenciadas, sendo que todos os integrantes utilizam as mesmas tecnologias, em geral mais avançadas. Em sistemas muito tolerantes, por sua vez, observa-se a convivência de participantes com diferentes graus de sofisticação tecnológica. Dessa forma, sistemas menos tolerantes possuem um processo de governança tecnológica cuja estrutura pode se relaciona a um padrão de concorrência, responsável pelo processo de coordenação, demandando menos esforços para a aderência aos novos referenciais tecnológicos. Já em sistemas mais tolerantes, a governança torna-se dependente de um processo de coordenação efetiva de fomentadores de forma a obter a maior aderência dos tomadores, o que implica em esforços para convencimento e ajustes.

As ações de governança, conforme observado, apresentam estreita relação às estruturas de poder, e se identificam com o processo de formulação de regras, enquanto a coordenação se define pela capacidade de levar integrantes, segmentos ou mesmo sistemas a adoção ou cumprimentos de orientações que por força de lei, quer por necessidade competitiva. Dessa forma, estruturas de coordenação podem ser organizadas a partir de objetivos específicos e parametrizados por uma ou várias estruturas de governança. Distingue-se, nesse sentido, estruturas de coordenação como cooperativas, associações, alianças, formas hierárquicas e híbridas sob orientação de regras emanadas de estruturas de governança como organismos públicos ou privados, nacionais ou internacionais.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste artigo buscou-se dar continuidade à análise da evolução e contribuição do conceito de coordenação e governança no âmbito do estudo de cadeias produtivas. Seu contexto se associa à busca de formas e relacionamentos adequados e eficazes à sustentação de competitividade de sistemas produtivos, focando como um dos intervenientes as relações de poder e exercício de influência no comportamento operacional e estratégico dos segmentos e influenciadores adjacentes.

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Verificou-se que existem diferentes conotações ao se adotar condutas e ações de governança e coordenação, mesmo em se considerando a simetria ao se tratar de unificação de interesses estruturais e competitivos. Nesse sentido, o estudo se sustenta na consideração do estabelecimento de regras e normas como resultado da governança, enquanto a coordenação se relaciona à capacidade de se colocar em prática essas regras e normas, bem como na aceitação e envolvimentos de estratégias gerais estabelecidas.

Dessa forma, coordenação e governança descrevem extremos representados pelo poder e aceitação, os quais podem se justificar em objetivos sistêmicos privados ou públicos, particulares ao subsistema ou, até, sociais. A compreensão de seu sistema de codificação e decodificação e o entendimento de sua lógica operacional, mesmo em condições não deterministas, tornam-se relevantes para identificação de influenciadores e fontes de orientação, bem como para representar os níveis e potencialidades das relações diversas que envolvem o estudo das cadeias produtivas. Além disso, se ajusta à necessidade de fontes de orientação para planos direcionados à estruturação de um ambiente adequado a implementação e efetividade de estratégias que possam sustentar seu desempenho competitivo.

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Referências

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