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Gabinete do Desembargador Nicomedes Borges

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Gabinete do Desembargador Nicomedes Borges

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Habeas Corpus n.º 256007-80.2015.8.09.0000 (201592560075) Comarca : Goiânia

Impetrante : Estevão Pereira da Costa Paciente : Uilliam Ribeiro da Costa

Relator : Desembargador Nicomedes Borges

RELATÓRIO E VOTO

O advogado Estevão Pereira da Costa, com fundamento no inciso LXVIII do artigo 5º da Constituição Federal e nos artigos 647 e 648, ambos do Código de Processo Penal, impetra a ordem de Habeas Corpus, com pedido liminar, em benefício de Uilliam Ribeiro da Costa.

Indica como autoridade coatora o MM. Juiz de Direito da Auditoria Militar do Estado de Goiás, Dr. Gustavo Assis Garcia.

Narra a impetração que o paciente, bombeiro militar, foi denunciado por ter, em tese, praticado o crime previsto no artigo 166 do Código Penal Militar (publicação ou crítica indevida), tendo sido a exordial recebida no dia 17/02/02014, estando o feito aguardando a conclusão da instrução processual.

Esclarece que, de acordo com a denúncia, teria o paciente criticado publicamente atos de seus superiores,

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especificamente, as escalas de serviços do Corpo de Bombeiros do Estado de Goiás, por intermédio de uma publicação eletrônica no serviço de rede social, de nome facebook.

Pondera que “as condutas e episódios descritos na denúncia não se subsumem ao artigo 166, do Código Penal Militar, que tipifica o delito de publicação ou crítica indevida” (fl. 08), além do que, para a obtenção da prova, não houve autorização judicial para quebra do sigilo da correspondência do paciente, de forma que o prosseguimento da ação penal instaurada em seu desfavor configura constrangimento ilegal.

Invoca as garantias constitucionais referentes ao direito à intimidade, à inviolabilidade do sigilo da correspondência e das telecomunicações e à inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos.

Ao final, requereu, em sede de liminar e posterior confirmação da decisão, o trancamento da Ação Penal nº 201400493557, que tramita na Auditoria Militar do Estado de Goiás, por ausência de justa causa.

A inicial foi instruída com os documentos de fls. 15/53.

Liminar indeferida (fls. 56/58).

Informes prestados pela autoridade coatora, por meio do ofício nº 041/2015 - GAB (fls. 63/67).

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A Procuradoria-Geral, por sua representante, Drª. Zoélia Antunes Vieira, manifestou-se pelo conhecimento e denegação da ordem (fls. 70/75).

É o relatório. Passo ao Voto.

Trata-se de pedido de habeas corpus impetrado em favor de Uilliam Ribeiro da Costa, visando o trancamento da ação penal de nº 201400493557, contra ele proposta, pela suposta prática da conduta prevista no artigo 166 do Código Penal Militar (Publicação ou crítica indevida).

Em suas razões, sustenta, em síntese, que “as condutas e episódios descritos na denúncia não se subsumem ao artigo 166, do Código Penal Militar, que tipifica o delito de publicação ou crítica indevida” (fl. 08), além do que, para a obtenção da prova, não houve autorização judicial para quebra do sigilo da correspondência do paciente, de forma que o prosseguimento da ação penal instaurada em seu desfavor configura constrangimento ilegal.

Invoca as garantias constitucionais referentes ao direito à intimidade, à inviolabilidade do sigilo da correspondência e das telecomunicações e à inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos.

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Ao final, pugnou pelo trancamento da ação penal nº 201400493557, que tramita na Auditoria Militar do Estado de Goiás, por ausência de justa causa.

A impetração merece prosperar.

É posição desta Corte que o trancamento da ação, normalmente, é inviável em sede de habeas corpus, pois dependente do exame da matéria fática e probatória.

Assim, a alegação de ausência de justa causa para o prosseguimento do feito só pode ser reconhecida quando, sem a necessidade de exame aprofundado e valorativo dos fatos, indícios e provas, restar inequivocamente demonstrada, pela impetração, a atipicidade flagrante do fato, a ausência de indícios a fundamentarem a acusação, ou, ainda, a extinção da punibilidade.

Verifica-se que o paciente está sendo processado pela suposta prática do crime definido no artigo 166 do Código Penal Militar, que possui o seguinte teor:

“Art. 166. Publicar o militar ou assemelhado, sem licença, ato ou documento oficial, ou criticar publicamente ato de seu superior ou assunto atinente à disciplina militar, ou a qualquer resolução do Govêrno:

Pena - detenção, de dois meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.”

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Os acontecimentos narrados têm por base uma crítica feita pelo paciente, em detrimento de alguns atos de seus superiores, especificamente, sobre as escalas de serviços do Corpo de Bombeiros do Estado de Goiás, por intermédio de uma publicação eletrônica no serviço de rede social, de nome facebook (fl. 20):

“Será que Goiás está melhor preparado???? Ou a postura subversiva dos Gestores Estaduais que administram o CBM-GO com o efetivo insuficiente (política de Governo) para cumprir suas atividades constitucionais, explorando seus componentes com uma jornada laboral indigna e imoral, contribuindo com o despreparo da Sociedade Goiana ante a cultura de prevenção pregada pela CF/88??? Será que estamos livres de tal situação ou será que precisamos ter mais tragédias iguais a está para nos conscientizarmos do perigo que corremos???”.

Observe-se que o comentário feito pelo paciente aos Gestores Estaduais que administram o Corpo de Bombeiros Militar – GO configuram mero “desabafo”, não se mostrando ofensivo à corporação do Corpo de Bombeiros ou a qualquer entidade governamental, pelo contrário, uma nítida preocupação em relação aos seus parceiros de corporação, para que não ocorram

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mais tragédias como esta de Santa Maria-RS.

Como se sabe, não há Estado Democrático de Direito sem observância da liberdade de expressão, e esta é a determinação contida no artigo 5º da Constituição Federal que tem como livre a manifestação do pensamento vedando-se o anonimato.

Já sob o ângulo da comunicação social, prevê o artigo 220 da Carta Fundamental que a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão nenhuma restrição, observado o que dispõe a Constituição. Para o enquadramento de ofensa à Organização Militar é necessário, mais de que a simples divulgação de fatos que sejam aptos a prejudicar a imagem da Força junto a opinião pública. Não se pode restringir a manifestação do pensamento quando se trata de discussão e crítica, já que a liberdade de expressão constitui-se em direito fundamental do cidadão, envolvendo fatos atuais ou históricos, bem como a própria crítica.

Pois bem, apesar da previsão constitucional da organização da força com base na hierarquia e disciplina, disciplina e desmandos não se confundem, “quem critica o autoritarismo não está a criticar a disciplina”.

Neste contexto os ensinamentos de Zaffaroni e Pierangelli “o juízo de tipicidade não é um mero juízo

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de tipicidade legal, mas que exige um outro passo, que a comprovação da tipicidade conglobante, consistente na averiguação da proibição através da indagação do alcance proibitivo da norma, não considerada isoladamente, em sim conglobada na ordem normativa”.

Em suma, o tipo não pode proibir o que o direito ordena nem o que ele fomenta.

Conforme Jorge César Assis, em Cometários Ao

Código Penal Militar: comentários, doutrina, jurisprudência dos tribunais militares e tribunais superiores. 6ª ed. Curitiba: Juruá, 2008, p.344, “Criticar revela um juízo de valor uma mediação sobre o objeto da crítica”.

De mais a mais, observo que o entendimento do Superior Tribunal Militar, quanto à atipicidade é bem claro, pois compreendeu que o sítio da internet não é lugar sujeito à administração militar e que não houve o dolo de incitar colegas militares à indisciplina ou à prática de crimes militares, e por isso é atípico o fato, mesmo que tenha havido ferimento a pilares das Forças Armadas.

Ou seja, se o sítio da internet não é sujeita à administração militar, o que se diga da rede social denominada

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'facebook', local onde supostamente foi feita a incitação.

Ademais, conforme comentário publicado pelo paciente, a insatisfação quanto à jornada laboral, tinha o objetivo de procurar um aprimoramento nas jornadas de trabalho exercida pela corporação dos bombeiros, tratando-se, portanto, de uma crítica construtiva.

Desse modo, evidenciada a atipicidade da conduta atribuída ao paciente, mister se faz determinar a interrupção do constrangimento a que se encontra submetido.

Nesse sentido, trago à colação precedente do Suprema Corte, in verbis:

“Habeas corpus. 2. Crime militar. Paciente denunciado porque teria praticado o delito de incitamento (art. 155 do CPM) e de publicação ou crítica indevida (art. 166 do CPM). (…) 4. As condutas narradas na denúncia não se subsumem ao tipo penal do art. 155 do CPM porque em nenhum momento houve incitação ao descumprimento de ordem de superior hierárquico. (…) 6. O direito à plena liberdade de associação (art. 5º, XVII, da CF) está intrinsecamente ligado aos preceitos constitucionais de proteção da dignidade da pessoa, de livre iniciativa, da autonomia da vontade e da liberdade de expressão. (…) 8. O juízo de tipicidade não se

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esgota na análise de adequação ao tipo penal, pois exige a averiguação do alcance proibitivo da norma, não considerada isoladamente. A Constituição Federal é peça fundamental à análise da adequação típica. 8. Ordem concedida”. (2ª TURMA- HC Nº 106.808/RN - REL. MIN. GILMAR MENDES – 9.4.13).

Ante todo o exposto, desacolhendo o parecer ministerial de cúpula, conheço da ordem impetrada e concedo-a, para determinar o trancamento da Ação Penal Militar nº 201400493557, proposta em desfavor de Uilliam Ribeiro da Costa.

É o voto.

Goiânia, 01 de setembro de 2015.

Desembargador Nicomedes Borges Relator

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Habeas Corpus n.º 256007-80.2015.8.09.0000 (201592560075) Comarca : Goiânia

Impetrante : Estevão Pereira da Costa Paciente : Uilliam Ribeiro da Costa

Relator : Desembargador Nicomedes Borges

EMENTA: HABEAS CORPUS. CÓDIGO PENAL MILITAR. PUBLICAÇÃO OU CRÍTICA INDEVIDA (ART. 166, CPM). TRANCAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. 1. O trancamento da ação penal, em habeas corpus, constitui medida excepcional que só deve ser aplicada nos casos de manifesta atipicidade da conduta, da presença de causa de extinção da punibilidade do paciente ou da ausência de indícios mínimos de autoria e materialidade delitivas. 2. Demonstrado nos autos que a argumentação deduzida no procedimento investigativo não se subsume como justificativa para a instauração do inquérito policial militar (art. 166, CPM), mister se faz determinar a interrupção do constrangimento a que se encontra submetido o paciente. ORDEM CONHECIDA E

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CONCEDIDA, PARA DETERMINAR O TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de HABEAS CORPUS nº 256007-80.2015.8.09.0000 (201592560075), da Comarca de Goiânia, tendo como Impetrante ESTAVÃO PEREIRA DA COSTA e Paciente UILLIAM RIBEIRO DA COSTA.

ACORDA, o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, pelos integrantes da 1ª Câmara Criminal, na conformidade da ata de julgamento, por votação paritária mais favorável, em desacolher o parecer ministerial, deliberando pelo conhecimento da ordem impetrada e sua concessão, para determinar o trancamento da ação penal militar nº 201400493557, proposta em desfavor de Willian Ribeiro da Costa, nos termos do voto do Relator, proferido na assentada de julgamento, no que foi acompanhado pelo Desembargador José Paganucci Júnior. Votou divergente o Desembargador Itaney Francisco Campos que denegava a ordem, para que a ação penal continuasse, no que foi acompanhado pela Desembargadora Avelirdes Almeida Pinheiro de Lemos.

Participaram do julgamento e votaram com o Relator os Desembargadores Itaney Francisco Campos, J. Paganucci Jr e Avelirdes Almeida Pinheiro de Lemos, que também presidiu a

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sessão. Ausência justificada do Desembargador Ivo Fávaro.

Esteve presente à sessão de julgamento a nobre Procuradora de Justiça Doutora Joana Dar'c Corrêa da Silva Oliveira.

Goiânia, 01 de setembro de 2015.

Desembargador Nicomedes Borges Relator

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