PALAVRA DE
SANTO ANTÔNIO
Glícia Campos
Coleção Cidadãosdo Reino
• Dom Bosco: presente de Deus para as juventudes, Marcos Sandrini
• Eu, Francisco, Carlo Carretto
• Fenômenos extraordinários de místicos e santos, Paola Giovetti • Francisco de Assis e Charles de Foucault:
enamorados do Deus humanado, Beto Breis
• Francisco que está em você (O), Wilson João Sperandio • José no mistério da encarnação: aspectos teológico-pastorais para a paternidade responsável, Marcionei Miguel da Silva • Mônica: uma mulher forte, Hylton Miranda Rocha
• Mulheres à frente de seu tempo: histórias de santas, VV.AA. • Palavra de Santo Antônio. Prédica, simbologia animal e pecados capitais, Glícia Campos
• Santa Luzia: o brilho de uma luz. A protetora dos olhos, Jerônimo Gasques
• Santo Antônio contra o mundo. A história do grande santo para os nossos tempos, Dionísio Pedro de Alcântara Lisbôa • São Jorge, o santo guerreiro: história e devoção de um santo muito amado, Jerônimo Gasques
• São José: o lírio de Deus, Jerônimo Gasques • Um coração inquieto, Hylton Miranda Rocha
PALAVRA DE
SANTO ANTÔNIO
Prédica, simbologia animal e pecados capitais
Glícia Campos
Direção editorial: Claudiano Avelino dos Santos Produção editorial: Agência Igreja
Imagem de capa: Santo Antônio pregando aos peixes / Garcia Fernandes Impressão e acabamento: PAULUS
© PAULUS – 2019
Rua Francisco Cruz, 229 • 04117-091 – São Paulo (Brasil) Tel. (11) 5087-3700
paulus.com.br • editorial@paulus.com.br ISBN 978-85-349-4884-5
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Angélica Ilacqua CRB-8/7057)
Campos, Glícia
Palavra de Santo Antônio: prédica, simbologia animal e pecados capitais / Glícia Campos. – São Paulo: Paulus, 2019. Coleção Cidadãos do reino.
ISBN 978-85-349-4884-5
1. Antônio, de Pádua, Santo, 1195-1231 - Sermões - Crítica e interpretação 2. Análise retórica
3. Retórica medieval I. Título
18-2174 CDD 252
Índice para catálogo sistemático: 1. Antônio, de Pádua, Santo, 1195-1231 - Sermões
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À memória da minha avó, Lyris, com saudades:
Observai os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam
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AGRADECIMENTOS
Este trabalho, como todo processo de amadurecimento, foi pontuado de convicções e incertezas, crenças e descrenças, avanços e retrocessos. Durante o percurso, foram determinantes o incentivo e o exemplo da Professora Doutora Maria do Amparo Tavares Maleval, a quem sou especialmente grata.
Agradeço o apoio do meu companheiro, José Alberto Cho-uin, e o estímulo da minha família.
Senhor, dá-me o conhecimento de ti e o conhecimento de mim.
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INTRODUÇÃO
E
ste trabalho tem como origem a tese de doutorado apresen-tada em 2015 no Instituto de Letras da Universidade do Es-tado do Rio de Janeiro, sob orientação da Professora Doutora Maria do Amparo Tavares Maleval. A partir do original, foram realizadas algumas adaptações e supressões com a finalidade de tornar a leitura mais dinâmica, de modo a atender não somente ao meio acadêmico, mas também a um público amplo de leitores que se interessam pela Idade Média, hagiografia, prédica, retóri-ca e pelo Cristianismo.O objetivo principal da obra é a análise do sermão Pecados
capitais e hipocrisia, simonia, detração e adulação, circunscrito
no conjunto dos escritos antonianos que se reportam ao universo dos bestiários medievais, nos quais os respectivos traços huma-nos são evocados, cada qual, a partir da analogia estabelecida com o comportamento de determinados animais.
Santo Antônio de Lisboa (1192-1231) viveu a maior parte de sua vida durante as primeiras décadas do período conhecido como Baixa Idade Média (século XIII ao XV). Data do início dessa era o estabelecimento de uma arte de pregar medieval, que toma como referência as ideias propaladas no princípio do Cris-tianismo, a filosofia dos Padres da Igreja e, por fim, os diversos preceptores do século XIII, que espelhavam o novo contorno do qual havia se revestido a teoria da prédica, em que se sublinhava
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também a forma de pregar, até então preterida em função do con-teúdo da oratória.
É também nessa época que tomam vulto as ordens men-dicantes, dentre as quais se destacam os franciscanos. Santo An-tônio, como pregador dos Frades Menores, valeu-se dos conhe-cimentos adquiridos durante o período em que integrou a Ordem dos Cônegos Regrantes de Santo Agostinho; da filosofia propala-da por São Francisco de Assis; e, por fim, de todos os artifícios que lhe oferecia a oratória de seu tempo. Dirigiu sua prédica, sobretudo, aos cátaros, hereges que desprezavam as coisas mate-riais, inclusive a natureza.
Como primeiro mestre de teologia dos franciscanos, Santo Antônio nos legou, através dos sermões, a gênese do pensamento do santo de Assis, em seu primeiro século de existência. Trata-se do testemunho de uma época de convergência entre a extrema disseminação dos bestiários medievais, sobretudo pelo estima-do valor didático que representam para a sociedade composta, principalmente, de iletrados; o pleno amadurecimento da arte da predicação medieval, tendo em vista a necessidade premente de se combaterem as crescentes heresias; e a investigação acerca da natureza do pecado, em consonância com o estabelecimento da obrigatoriedade da penitência anual do fiel, em 1215, apontado por especialistas, como veremos posteriormente, o ano do “apo-geu da Teocracia Pontifícia” (SILVA, 1995, pp. 95-101).
Ao utilizar o simbolismo dos bestiários medievais, esti-ma-se que Santo Antônio conciliou três fatores fundamentais na eficácia de seu discurso. O primeiro deles se refere à plena comunhão entre os recursos da ars praedicandi e a alegoria do bestiário medieval. Em seguida, ressalta-se a própria utilização do mundo animal como fator de eficaz eloquência, considerando-se a concepção, em voga na sociedade medieval, de que a na-tureza seria um espelho codificado do universo espiritual, e nela estariam subjacentes os propósitos de Deus para com os homens. O terceiro fator a ser destacado é a harmonia entre a utilização do bestiário medieval como subsídio retórico e a filosofia dos
Introdução
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franciscanos, que confere valor especial à natureza, sobretudo aos animais.
Cumpre-se notar que o discurso cristão espelhava uma faceta determinante do monopólio da Igreja durante o período medieval, notado através da exortação dos fiéis ao exercício da confissão, do controle amplo sobre a concessão dos perdões e a prescrição das respectivas penas. Trata-se, em última análise, conforme nos indica o conhecido sistema de indulgências, da sustentação de um mecanismo de trocas e de correlação entre o mundo material e o mundo espiritual, verificado em diversos aspectos da cultura e da arte medieval, do qual o bestiário é um dos mais significativos representantes.
Enfim, é relevante que o legado de São Francisco de As-sis esteja, ainda hoje, tão intrinsecamente associado ao respeito pela natureza. É também significativo o fato de São Francisco de Assis ter sido declarado patrono dos ecologistas pelo Papa João Paulo II, em 29 de novembro de 1979.
Entendemos que o homem atual perdeu o elo original que o inseria na “engrenagem” do cosmos em sua essência, e se sente desarticulado do meio ambiente. O pensamento franciscano aca-ba por reaver valores fundamentais para a recuperação do nosso “habitat”, em seu sentido mais amplo. Assim, tanto a obra de Santo Antônio quanto a mensagem de São Francisco se inserem na perspectiva de resgate da consciência do papel do homem dentro do universo, tema caro em nossos dias, a julgar pelas con-sequências devastadoras do descaso do homem com a natureza. Por fim, os bestiários acabam por evocar elementos poten-cialmente dispostos no nosso cotidiano, uma vez que a alegoria animal é ainda hoje amplamente explorada na literatura, em co-merciais, em filmes e outros meios de comunicação. Conforme nos lembra Joaquim Cerqueira Gonçalves, em seu artigo intitula-do “Cosmologia”, “O símbolo nunca se esgota nem é esgotável” (GONÇALVES, 2006, p. 244).