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PARECER. Registo a qualificar: Aquisição do prédio descrito sob o nº 04254/ da freguesia de, requisitado pela Ap.02/

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I

Pº R.P.263/2004 DSJ-CT - Excepções ao princípio do trato sucessivo: artº 35º do CRP – Venda de prédio pelo administrador da herança ao abrigo do direito alemão e pelo cônjuge supérstite – Enquadramento face à regra da continuidade das

inscrições.

PARECER

Registo a qualificar: Aquisição do prédio descrito sob o nº 04254/… da freguesia de …, requisitado pela Ap.02/20040802.

Relatório

Pela inscrição G-5 (Ap.03/271089) mostra-se registada a aquisição a favor de Berenice … e marido, Bernardo …, casados na comunhão de adquiridos, por compra, e pela inscrição F-1(Ap.08/20040319) mostra-se registada acção, interposta por Lothar … contra Berenice …, viúva, contra o recorrente e contra Peter …, na qual é pedida a declaração de nulidade da compra e venda titulada pela escritura a seguir identificada e que seja ordenado o cancelamento da inscrição de aquisição a favor do recorrente e de quaisquer inscrições que venham a ser efectuadas a favor de terceiros, que não sejam o autor e o réu Peter ….

O recorrente requisitou o registo de aquisição a seu favor, pela Ap. 02/20040802, tendo juntado escritura de compra e venda de 26 de Setembro de 2003, lavrada de fls. … a fls. … do Livro 338-A do Cartório Notarial de …, certidão de teor matricial e comunicação do Tribunal de Comarca de … – Vara de sucessões.

A dita escritura foi outorgada, a vender, por Berenice …, viúva, por si e na qualidade de procuradora de Nikolaus .., administrador da herança de Bernardo .., com qualidade e poderes verificados por: procuração, documentos emitidos pelo dito Tribunal - contendo decisão relativa à alienação do prédio e provando aquela qualidade de administrador – e certificado emitido pela embaixada da Alemanha em …, para efeito de verificação da legitimidade da outorgante. Ficou ainda arquivado contrato promessa de compra e venda.

O registo foi recusado, com o seguinte fundamento:”...por já ter sido lavrado provisoriamente por dúvidas, conforme despacho proferido em 31 de Outubro de 2003, cujo teor se dá aqui por integralmente reproduzido, e as mesmas não se mostram removidas(cfr. artigos 68º e 69º, nº 1, alínea e) do Código do Registo Predial)”.

O registo anterior invocado pela recorrida foi a inscrição G-6 ( Ap.04/20031015), cujo pedido foi instruído com os dois primeiros documentos supra referidos e ainda com duplicado de pedido de rectificação de área constante da inscrição matricial, o qual ficou lavrado provisoriamente por dúvidas, com o seguinte fundamento:”...vai ser lavrado provisoriamente por dúvidas, nos termos do artigo 70º do Código do Registo Predial, por resultar do título que serviu de base ao registo que o titular inscrito Bernardo … faleceu, não tendo sido lavrado previamente o registo de aquisição a favor dos seus herdeiros, consubstanciando tal facto uma violação do princípio do trato sucessivo, na modalidade da

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II

continuidade das inscrições, consagrado no artigo 34º, nº 2 do citado Código(cfr. também nº 1 do artigo 46º do Código Civil)”.

Pela Ap.03/20040427, mencionada no despacho objecto do presente recurso, foi pedida a conversão da dita inscrição G-6, pela apresentação da escritura e do documento matricial já anteriormente apresentados e ainda de certificado emitido pela Embaixada da República Federal da Alemanha em 15 de Novembro de 2002. Da requisição consta declaração complementar, assinada pelo recorrente e por Berenice …, do seguinte teor: “em cumprimento da sentença proferida pelo tribunal das sucessões de …,, relativamente ao processo de inventário aberto por óbito de Bernardo foi nomeado o Administrador de Herança Dr. Nikolaus … que no âmbito das suas competências procedeu à venda do prédio atrás identificado para pagamento das dívidas da herança.Cabe assim ao Administrador da herança dispor sobre os bens da mesma até à liquidação total dos débitos. Assim é dispensável a inscrição prévia a favor dos herdeiros legais do falecido nos termos do disposto no art.º 35 do Cod. Reg. Predial, devendo por tal facto ser dado seguimento à inscrição retro indicada, uma vez que a escritura notarial de compra e venda outorgada se destina ao pagamento dos credores do de cujus segundo imposição do tribunal alemão”.

A conversão da inscrição G-6 foi recusada, por não constar do certificado emitido pelo tribunal alemão a existência de qualquer dívida da herança a favor do recorrente. Acrescentou ainda a recorrida que, mesmo que essa existência constasse mencionada no dito certificado, a aplicação do disposto no atº 35º do C.R.P. dependeria da prova da dívida e da adjudicação do prédio ao credor em sede de inventário, e não em sede notarial.

Foi interposto recurso hierárquico, cujos termos se dão aqui por integralmente reproduzidos, alegando o recorrente, sumariamente, o seguinte:

1) Que a recorrida fez uma interpretação restritiva da alínea a) do art.º 35º do C.R.P., por não resultar desta disposição que o adquirente tenha que ser o credor de dívidas da herança, mas apenas que a alienação se destine a satisfazer os créditos sobre a mesma;

2) Que o despacho de qualificação enferma de contradição por, por um lado, reconhecer que foi aberto processo de insolvência da herança de Bernardo …, que Berenice … outorgou a escritura na qualidade de procuradora do administrador da mesma herança e que a autorização concedida ao administrador pelo Tribunal competente para a venda foi feita no âmbito do processo de inventário/execução e, por outro, concluir no sentido de que a venda não foi celebrada, quer no âmbito da execução da herança, quer para satisfação dos credores.

A recorrida sustentou o despacho proferido, defendendo:

1) Que o princípio da legitimação previsto no nº 1 do art.º 9º do C.R.P. é de observância exclusiva das entidades tituladoras, pelo que não foi posta em causa a legitimidade de Berenice … para outorgar a escritura. Ao Notário coube aferir da sua legitimidade para alienar o prédio;

2) Que o princípio do trato sucessivo previsto no art.º 34º do C.R.P. é de cumprimento obrigatório pelo conservador, resultando da sua inobservância a nulidade do registo, nos termos do art.º 16º, al. e) do mesmo código, e que, foi ao abrigo do nº 2 do mesmo art.º 34º

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III

que se exigiu a inscrição prévia de aquisição a favor dos herdeiros do titular inscrito, por não resultar do título, nem do documento que instruiu a Ap.03/20040427( pedido de conversão da inscrição G-6), que estejamos perante uma das situações de dispensa dessa inscrição previstas na alínea a) do art.º 35º do C.R.P.;

3) Que a clareza da letra da alínea a) do art.º 35º do C.R.P. não permite interpretação diferente da que considere como pressupostos da dispensa de inscrição intermédia, os seguintes: existência de herança, existência de dívida dessa herança, adjudicação ao próprio credor e que a adjudicação ocorra em processo de execução ou de inventário.

O processo é o próprio, as partes legítimas, o recurso tempestivo, o recorrente está devidamente representado e não existem questões prévias ou prejudiciais que obstem ao conhecimento do mérito.

Fundamentação

A situação do presente recurso pode ser assim delineada: o registo foi recusado ao abrigo do disposto no art.º 69º, nº 1, e) do C.R.P., porque o mesmo já fora anteriormente lavrado provisoriamente por dúvidas( em relação ao qual fora também pedida a conversão, que fora recusada) e as mesmas não se mostram removidas. A referida disposição legal impediu um novo registo provisório por dúvidas, ou seja, os motivos que determinaram a qualificação desfavorável do primeiro registo , porque não removidos, determinaram que o segundo tenha sido recusado.

Importa referir, em primeiro lugar, que não se percebe a razão pela qual não foi anotada a caducidade da inscrição G-6, a qual já tinha ocorrido à data do pedido de registo a que se refere o presente recurso, o que pode verificar-se pelas datas de notificação do despacho de provisoriedade por dúvidas e do despacho de recusa de conversão. Aliás, se assim não fosse, a recorrida não teria recusado o registo ao abrigo do disposto na referida alínea e), mas sim ao abrigo da primeira parte da alínea c) do mesmo nº 1 do artigo 69º do C.R.P.. ou, se tivesse convolado o pedido para conversão da inscrição, ao abrigo da alínea b) do mesmo nº 1.

Em segundo lugar, há que referir ainda que, constando do título a menção ao arquivo de contrato promessa, conjugada com a qualidade em que interveio a vendedora e atendendo ao facto de o Notário não ter exigido o registo a favor dos titulares da herança, a qualificação do pedido de registo não deveria ter omitido a possibilidade de a compra e venda ter sido celebrada em cumprimento do mesmo contrato promessa e de, a situação poder ser subsumida na alínea b) do dito art.º 35º.

Procurando não penalizar o recorrente com a exigência de apresentação de certidão do contrato promessa, foi solicitada cópia do mesmo ao respectivo Cartório Notarial, para ser junta ao presente recurso, tendo sido verificado que respeita a contrato celebrado pela vendedora, na qualidade em que interveio na escritura, e não pelo de cujus. O seu arquivo foi determinado pelo disposto no art.º 2º da Lei 14/2003, de 30 de Maio,( verificação do valor real de transacção onerosa de imóvel, para efeito de cálculo do imposto municipal de sisa, em vigor à data do título) e não para prova da existência do contrato promessa imposta pela referida alínea b) do art.º 35º.

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IV

Em face do teor do dito contrato promessa e porque se entende que a dispensa de inscrição intermédia prevista naquela alínea b) só é aplicável no caso de aquele ter sido celebrado pelo de cujus(1) , afastada fica a possibilidade de subsumir a situação concreta na mesma alínea b), impondo-se, assim, a apreciação da questão em tabela, nos termos em que se encontra colocada pelo recorrente, que defende ser possível a subsunção alínea a), e pela recorrida, que defende que não.

O C.R.P. refere-se ao registo de aquisição de bens e direitos que integrem determinada herança indivisa, a favor dos respectivos titulares, nos art.ºs 2º, nº 1, a), 37º, 49º, 95º, nº 1, a) e 101º, nº 1, e).

O facto de o bem ou direito integrar determinada herança indivisa é traduzido na menção “em comum e sem determinação de parte ou direito”, de acordo como disposto no dito art.º 49º.

Aquela menção exprime uma situação jurídica diversa da compropriedade, ou seja, de que se trata de bem ou direito integrado na chamada “comunhão de mão comum” ou “propriedade colectiva”. Seguindo o ensinamento de Pires de Lima e Antunes Varela(2), “Significa isto que aos membros da comunhão,

individualmente considerados, não pertencem direitos específicos( designadamente uma quota) sobre cada um dos bens que integram o património global, não lhes sendo lícito, por conseguinte, dispor desses bens, ou onerá-los, no todo ou em parte,(...). Quanto à sua participação no referido direito único sobre todo o património, ele subsiste enquanto estiverem abrangidos pelo vínculo que determinou a comunhão.(...)na partilha dos bens(...) destinada a pôr-lhe fim, os contitulares (...) têm apenas direito à fracção ideal do conjunto, não podendo exigir que essa fracção seja integrada por determinados bens ou por uma determinada quota em cada um dos elementos a partilhar”.

O registo publicita que determinado bem ou direito faz parte de uma herança concreta e quais são os seus titulares, tendo por base documento comprovativo da habilitação e declaração que identifique os bens a registar como fazendo parte da herança, nos termos do disposto no referido art.º 49º.

A habilitação de herdeiros destina-se a provar que os habilitandos são herdeiros e que não há quem lhes prefira ou com eles concorra( Cfr., quanto a habilitação notarial, o art.º 83º, nº 1 do Código do Notariado), não sendo título de aquisição de bens, provando “apenas” que os habilitandos são, com base nos diversos títulos de vocação sucessória previstos no art.º 2026º do Código Civil, os titulares de determinada herança indivisa.

O art.º 2091º do Código Civil determina que, salvaguardado o campo de aplicação dos art.ºs 2078º a 2090º e 2327º e 2328º do mesmo código, os direitos só podem ser exercidos conjuntamente por todos os herdeiros ou contra todos.

O facto de, até à partilha, o direito ter por objecto o conjunto da herança e não bens certos e determinados, não significa que estes não possam ser objecto de relações jurídicas diversas das que incidem sobre a herança(3)(4).

(1)Vejam-se, a título exemplificativo, as Proc.s nºs 44/92 R.P.4, publicado no BRN nº 5/2002, II Caderno e 83/92 R.P. 4, publicado no BRN nº 7/2002, II Caderno, nos quais este Conselho tomou posição neste sentido.

(2) Código Civil Anotado, Vol. III, pág.s 347 e 348.

(3)Veja-se o que consta do Código do Notariado, Edição actualizada e anotada pela D.G.R.N., de 1973, em anotação ao art.º 96º:”Admite-se, contudo, doutrinariamente, que as coisas que

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V

Como decorre do art.º 9º do C.R.P., os factos de que resulte a transmissão de direitos ou a constituição de encargos sobre prédio integrado em herança indivisa, só podem ser titulados se o mesmo estiver definitivamente inscrito a favor dos respectivos titulares. Vejam-se também os art.ºs 54º, nº 2 e 55º, alínea a), do Código do Notariado, o último dos quais prevê uma excepção ao princípio da legitimação, para o caso de transmissão de prédios que façam parte de herança, quando não descritos ou sem inscrição de aquisição.

Quanto ao princípio do trato sucessivo, parece-nos indiscutível que o teor do art.º 35º, referente às dispensas de inscrição intermédia, só pode significar que o legislador pretendeu fazer depender do registo a favor dos titulares da herança a natureza definitiva do registo a favor dos adquirentes, ou seja, que não basta, para o efeito de se considerar verificada a intervenção do titular inscrito( art.º 34º, nº 2 do C.R.P.), o facto de os transmitentes intervirem na qualidade de únicos herdeiros do titular inscrito, sendo necessário o registo a seu favor.

Assente, segundo nos parece, qual a intenção do legislador, quer quanto ao princípio da legitimação quer quanto ao princípio do trato sucessivo, importa passar à situação concreta que está na base presente recurso, no confronto das posições defendidas pelo recorrente e pela recorrida, que é, em síntese, a de saber se a mesma é subsumível ou não na dita alínea a).

A dispensa prevista na alínea a)( e também na alínea b) do mesmo art.º 35º, mas que não cumpre aqui apreciar) é corolário, não só do facto de o sub-ingresso dos herdeiros nas relações jurídicas do de cujus se verificar não só pelo lado activo, mas também pelo lado passivo, como decorre desde logo da noção legal de sucessão mortis causa prevista no artigo 2024º do Código Civil(“relações jurídicas patrimoniais”), mas também da natureza da herança indivisa e do registo previsto na lei a favor dos respectivos titulares. Foi essencialmente para poder detectar a razão pela qual o legislador “abriu mão” da inscrição intermédia, que tecemos as breves considerações supra e citámos alguma doutrina.

compõem a universalidade possam ser objecto de relações jurídicas independentes daquelas que incidem sobre a própria universitas (Conf. Galvão Teles, Das universalidades, nºs 91º e seguintes) e ainda que os titulares dos direitos sobre universalidades possam deles separar algum ou alguns dos seus elementos constitutivos. Daí que os titulares da herança possam alienar ou onerar um prédio a ela pertencente.(...) O registo com base na habilitação nada mais é do que um meio técnico posto à disposição dos herdeiros e do cônjuge meeiro para virem, quando entenderem, a operar a desafectação real através de uma venda – Parecer do Conselho Técnico de 20 de Fevereiro de 1963 –Pº 288-R.P.1”.

(4) Da abordagem feita por Catarino Nunes (em anotação ao art.º 2º, nº 1, c) do C.R.P.), não só da possibilidade de os bens que compõem a herança poderem ser objecto de relações jurídicas independentes, mas também da natureza do registo em comum e sem determinação de parte ou direito, retiramos: ”O registo com base na simples habilitação não é mais do que um meio técnico, posto por lei à disposição dos co-herdeiros (e meeiro), a fim de poderem levar a efeito uma desafectação real: - uma venda ou oneração.(...) A desafectação é meramente formal e um meio técnico. Tal meio permite uma posterior desafectação real(uma venda, por ex.), sem necessidade de prévia partilha e sem desrespeito pelo princípio, consignado no art.º 13º do Cód. Do Reg. Pred., do trato sucessivo( de cujus, herdeiros, adquirente).

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VI

O primeiro ponto de divergência entre recorrente e recorrida reside em saber se resulta provado, ou não, que a aquisição se operou em processo de execução ou de inventário.

O título foi instruído com dois documentos emitidos pelo Tribunal da Comarca de …( Vara de Sucessões), um com decisão relativa à alienação do prédio e outro comprovativo de que o representado da vendedora é administrador da herança. Estes documentos não instruíram o pedido de registo.

No entanto, o pedido de registo foi instruído com outro documento, o qual também ficou arquivado com o título. Referimo-nos ao certificado emitido pela Embaixada da Alemanha em …, do qual consta: a) Que, por decisão do referido Tribunal, “foi decretada na matéria sucessória de Bernardo …, a administração da herança”; b) que foi nomeado administrador da herança o senhor Nikolaus …; c) que, de acordo com o direito alemão, as tarefas do administrador da herança são 1) a determinação da massa da partilha, bem como os credores da herança, 2) o pagamento a estes credores da herança e 3) a administração da herança até à anulação ou término da administração sucessória; d) que o direito à administração inclui a autorização a dispor sobre os objectos da sucessão, assim como a venda dos objectos de sucessão, carecendo o administrador de autorização judicial nalguns casos; e) que o Tribunal concedeu autorização ao administrador para a outorga da procuração “a favor” da vendedora.

Em face desta certificação e dos restantes documentos que instruíram o título, não nos parece legítimo duvidar do facto de que a aquisição se operou no âmbito de processo correspondente ao processo de inventário do direito português.

Importa referir, em segundo lugar, que não nos parece defensável o entendimento da recorrida, no sentido de que a letra da lei impõe que a aquisição seja a favor do credor da herança (logo, por adjudicação no processo). O que consta escrito é que deve tratar-se de aquisição operada em execução ou inventário para pagamento de dívidas da herança.

Para lá de nos parecer indiscutível que, quanto a este ponto, a letra da lei só permite uma leitura - que é indiferente que a aquisição seja a favor do credor ou de terceiro - considerar o contrário resultaria incoerente, na conjugação com o disposto nos art.ºs 872º e seguintes(o pagamento ao credor, no processo de execução, pode ser feito pela adjudicação dos bens penhorados ou pelo produto da respectiva venda) e 1357º do Código de Processo Civil( venda de bens para pagamento aos credores, em processo de inventário). De referir ainda que as vendas a terceiro podem também ser feitas por negociação particular e não apenas judicialmente.

Por último, discordamos da recorrida também quanto à exigência de prova da dívida. Se a aquisição se tivesse operado “fora” de processo de inventário ou de execução – vejam-se ,por exemplo, as hipóteses de dação em cumprimento, celebrada entre os herdeiros e o credor da herança, ou de venda efectuada pelos herdeiros a terceiro para, com o respectivo produto, pagar dívida da herança– ainda seria razoável questionar a necessidade da dita prova. Agora, tratando-se, como é o caso, de aquisição operada “dentro” de processo de inventário, nada justifica tal exigência.

Pode argumentar-se que, apesar de a venda ter sido efectuada no âmbito de inventário, o respectivo produto se tenha destinado, não ao pagamento de dívida da herança, mas a distribuição pelos herdeiros( como aconteceria na situação expressamente prevista no artigo 1353º, nº 1, c) do Código de Processo Civil - acordo na conferência de interessados) situação também enquadrável nos poderes do administrador da herança previstos no direito alemão, supra referidos.

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VII

Mesmo que fosse este o caso – que não nos parece verosímil, dada a declaração prestada no pedido de conversão da inscrição G-6 (por vendedora e comprador) e o facto de ter sido declarada a insolvência da herança, como referiremos seguidamente, na nota (5) – entendemos que também seria aplicável a dispensa de inscrição intermédia.

Aliás, indo ainda um pouco mais longe, como justificar a exigência de inscrição intermédia – tendo sempre presente a natureza da herança indivisa e do registo a favor dos seus titulares –, em casos de intervenção de administrador da herança, o qual não é representante dos herdeiros? Veja-se o caso previsto no art.º 2327 e 2328 do Código Civil, para a venda de bens da herança por parte do testamenteiro/cabeça de casal.

Seria algo complicada a abordagem (que não se impõe neste processo e que, na sua economia, deve considerar-se inoportuna) da questão de saber se há interesse que justifique, para a segurança do comércio jurídico, a aplicação do princípio da legitimação (com prova do registo a favor dos titulares de determinada herança indivisa, em relação a prédio descrito e com inscrição de aquisição ou reconhecimento de direito de propriedade da favor do falecido) e do princípio do trato sucessivo(nos casos em que este só se considera cumprido pela feitura da inscrição intermédia e não se considera “suficiente” a prova de intervenção dos titulares da herança, no lugar ou em representação do de cujus, sujeitos passivos, nessa qualidade, da concreta relação jurídica a que respeita o registo pedido), como resulta do disposto nos artigos 9º, 34º, nº 2 e 35º do C.R.P. e do art.º54º, nº 2 e 55º, alínea a) do Código do Notariado.

No entanto, numa interpretação da referida alínea a) do art.º 35º, entendemos, como já deixámos supra subentendido, que não será de exigir a inscrição intermédia a favor dos titulares de herança indivisa - o que não significa, obviamente, que não se deva considerar como cumprido o trato sucessivo(intervenção do de cujus) - nos casos supra mencionados: intervenção do administrador da herança, a transmitir o prédio ainda que não seja em processo de execução ou inventário para pagamento de dívidas de herança, desde que a lei lhe atribua tal poder; transmissão do prédio pelos titulares da herança, para pagamento de dívidas da herança, ao credor ou a terceiro; e venda de prédio em processo de inventário, para distribuir o produto pelos respectivos titulares da herança

Parece-nos ser esta a interpretação (que podemos chamar restritiva, no sentido de que a exigência de inscrição intermédia – que não da intervenção do titular inscrito, que está prevista no art.º 34º, nº 2 – resulta já de uma interpretação a contrário da mesma alínea a), na consideração de que nos casos não dispensados, será de exigir a inscrição) mais coerente com a natureza da herança indivisa e com a natureza do registo a favor dos seus titulares.

Pode assentar-se, parece-nos, que a aquisição constante do título é enquadrável na alínea a) do art.º 35 do C.R.P., havendo apenas que ponderar, na qualificação do pedido de registo e no âmbito do princípio da legalidade(art.º 68º do C.R.P.), se existem motivos que impeçam a sua qualificação favorável, na consideração dos seguintes pontos:

a) O notário aplicou a lei alemã, como resulta dos documentos que a instruíram e que fundamentaram a verificação da legitimidade da outorgante Berenice …( em aplicação do disposto nos art.ºs 31º(lei pessoal), 62º(lei reguladora da sucessões) e 18º( norma de reenvio) do Código Civil) . A aplicação da lei alemã, feita pelo Notário, não foi questionada pela recorrida, em correcta consideração da prova documental constante do título( documentos emitidos pelo tribunal alemão e

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VIII

pela Embaixada da Alemanha em …).(5) Não há, naturalmente, que comprovar

quem são os herdeiros, pela apresentação da respectiva habilitação, dado que não tendo tido intervenção no título, nem sendo de a exigir, não há que verificar a sua legitimidade. O mesmo aconteceria se fosse aplicável o direito sucessório português e tivesse outorgado a escritura a pessoa designada pelo tribunal para a efectuar;

b) Encontrando-se em vigor inscrição de acção (F-1, provisória por natureza, nos termos do art.º 92º, nº 1, a) do C.R.P.), cujo pedido principal é a declaração de nulidade do negócio jurídico submetido a registo, necessariamente que se impõe que a inscrição fique lavrada provisoriamente por natureza, nos termos do art.º 92º, nº 2, b) do C.R.P., por incompatibilidade com o referido registo provisório de acção.

Termos em que se entende que o recurso merece provimento parcial, devendo, em vez de recusado, ser lavrado provisoriamente por natureza, ao abrigo do art.º 92º, nº 2, alínea b) do C.R.P., firmando-se as seguintes

Conclusões

I – O art.º 35º do C.R.P. consagra excepções ao princípio do trato sucessivo no pressuposto, ainda que formal – que valeria a pena discutir de iure condendo -, de que a abertura da herança é modo de aquisição dos bens “em comunhão hereditária”.

II – Caberá seguramente na facti specie da referida disposição legal a hipótese de determinado prédio, registado em nome do de cujus e da sua consorte, ter sido vendido pelo administrador da herança ao abrigo do direito alemão e pelo cônjuge supérstite, pelo que, neste caso, é insustentável a exigência do registo intermédio a favor do cônjuge sobrevivo e dos herdeiros do autor da herança (como insustentável seria a exigência deste registo para a titulação do acto, ao abrigo do artº 54º, nº 2, do Código do Notariado).

III – Aliás, o que in casu verdadeiramente se passará é que o administrador da herança é o representante post mortem do de cujus, pelo que nem sequer existirá excepção à regra da continuidade das inscrições prevista no artigo 34º, n.º 2, do C.R.P..

(5) Não podemos deixar de observar o seguinte: do certificado emitido pela Embaixada Alemã, referido supra(no texto) consta que por decisão do Tribunal de Comarca de … (Tribunal de Falências), de 27 de Setembro de 2001, foi aberto o processo de insolvência sobre a herança do falecido, e que, “Assim, de acordo com o § 1988 do Código Civil alemão, cessou automaticamente a administração da herança”. Embora não cumprisse à recorrida invocar aquela certificação para efeito de qualificação do pedido de registo, dado que ao Notário coube, investido de fé pública, verificar a legitimidade da outorgante e a suficiência dos poderes do representado, causa alguma estranheza que o Notário não tenha atribuído qualquer relevância ao facto certificado. A não ser que de algum dos outros documentos arquivados conste algo em contrário daquela certificação.

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IX

Este parecer foi homologado por despacho do Director-Geral de 12.06.2006.

Referências

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