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LEI 35º DO ATO DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS: UM ESTUDO DISCURSIVO SOBRE DENOMINAÇÃO DO IDIOMA NACIONAL DO BRASIL INTRODUÇÃO

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Academic year: 2021

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“ LEI 35º DO ATO DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS:UM ESTUDO DISCURSIVO SOBRE DENOMINAÇÃO DO IDIOMA NACIONAL DO BRASIL”

Veronica Silva de Albuquerque

(UNEMAT)

1

Tereza Maracaipe Barbosa (UNEMAT)

2

Erisvania Gomes da Silva (UNEMAT)

3

Olímpia Maluf Souza (UNEMAT)

4

Resumo: Inscrevemos este artigo na vertente teórica da Análise de Discurso de linha francesa, desenvolvida por Michel Pêcheux, na França, e por Eni Orlandi e seus estudiosos, no Brasil, articulada à História das Ideias Linguísticas. Uma vez os conceitos nos possibilitarão compreender os sujeitos e os sentidos colocados em funcionamento pela historicidade que instituiu o artigo que oficializou a denominação língua utilizada no Brasil, produzindo efeitos de sentido na instalação das legislações que ordenam esse processo. Objetivamos compreender os sentidos postos em funcionamento pela legislação em forma de artigo 35º do ato das Disposições Transitórias apenso à constituição dos Estados Unidos do Brasil, promulgada em 18 de Setembro de 1946, a qual versa sobre a “Denominação do Idioma Nacional do Brasil”, que se deu nesta oficialização. Ao concebermos a denominação do idioma nacional brasileiro considerando os gestos de interpretação, trazemos concomitantemente à tona a história. Entretanto, pensamo-la como fonte de relação de poder, ou seja como um fato histórico significa. Apreendê-la significa, assim, deslocar-se para espaços de conflitos e tensões que se abrem, propiciando os jogos das interpretações. Orlandi (2008, p. 19) afirma que “[...] os acontecimentos históricos não o são por si, mas porque reclamam um sentido”.

Palavras-chave: Língua Brasileira. Identidade. Discurso.

INTRODUÇÃO

Pensar a língua brasileira, ou o português no Brasil, requer ir muito além de se propor uma breve cronologia e contextualização histórica dos fatos que levaram a sua

1 Mestra em Linguística pela Universidade do Estado de Mato Grosso-UNEMAT. Campus de Cáceres. 2 Mestra em Linguística pela Universidade do Estado de Mato Grosso-UNEMAT. Campus de Cáceres. 3 Mestra em Linguística pela Universidade do Estado de Mato Grosso-UNEMAT. Campus de Cáceres. 4 Orientadora do Artigo- Doutora em Linguística- UNICAMP.

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colonização, ou de uma concepção imaginária de homogeneidade linguística em um país culturalmente plural.

A partir destas reflexões tomaremos como material linguístico as discursividades sobre a “Denominação do Idioma Nacional do Brasil”, que se deu pelo artigo 35º do ato das Disposições Transitórias apenso à constituição dos Estados Unidos do Brasil, promulgada em 18 de Setembro de 1946. Nesse documento de jurisdição, encontra-se o parecer que institucionalizou que a língua Nacional do Brasil que é a “Língua Portuguesa”, silenciando assim a cultura, língua e ideologia dos povos que já habitavam a terra brasílica.

A linha teórica que norteará este trabalho é a de Análise de Discurso na perspectiva de Michel Pêcheux, Eni P. Orlandi e colaboradores. Objetivamos então, e analisar as práticas linguísticas materializadas discursivamente forma da lei, compreendendo os efeitos destas que contribuíram para a constituição da língua portuguesa enquanto idioma oficial do Brasil e enquanto imaginário de unidade e de civilidade promulgada justamente pelo referido documento.

Para isto, é necessário que mostremos historicamente os fatos que significaram no processo de constituição da Língua Portuguesa, e como tais fatos produziram/ produzem efeitos no processo de construção da identidade brasileira por meio de sua Língua.

A CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DA LÍNGUA NACIONAL:

HOMOGENEIDADE X PLURALIDADE

Ao concebermos o referido processo de denominação do idioma nacional, trazemos a relação indissociável entre língua e história. Entretanto, a pensamos como fonte de relação de poder e de sentido. Sobre esta relação Pêcheux (1997, p.75) afirma:

A materialidade específica do discurso é o confronto entre o histórico e o linguístico, que cria um espaço teórico entre esses pontos. Todo o enunciado é suscetível de tornar-se outro diferente de si mesmo, desloca-se discursivamente de seu sentido para derivar para um outro.

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Lembramos que a história a que nos reportamos nesse artigo, não é aquela cronológica, evolutiva, constituída por dados isolados. Segundo Orlandi (2009, p.79): “o historicizar discursivo não traz como foco principal a cronologia dos fatos”. Vejamos, pois, que não nos interessa enquanto analistas as datas, mas os modos como os sentidos produziram/produzem efeitos em determinados períodos históricos, passando a circular e significar nos discursos para/ por sujeitos.

Trazemos então os quatro períodos históricos de formação linguística, exemplificados por Guimarães (2005), os quais marcam desde a colonização do Brasil (1522) à sua independência (1940) de Portugal. Portanto, ao historiografar as ideias linguísticas no Brasil:

Com o início efetivo da colonização portuguesa em 1532, a língua portuguesa começa a ser transportada para o Brasil. Aqui ela entra em relação, num novo espaço-tempo, com povos que falavam outras línguas, as línguas indígenas, e acaba por tornar-se, nessa nova geografia, a língua oficial e nacional do Brasil. Podemos estabelecer para esta história quatro períodos distintos, se consideramos como elemento definidor o modo de relação da língua portuguesa com as demais línguas praticadas no Brasil. GUIMARÃES (2005, p. 24).

Este primeiro período é caracterizado pelos primeiros contatos entre os

colonizadores provenientes de Portugal e o povo até então colonizado, ou seja,

os índios nativos uma miscigenação tanto da cultura, da língua e da religião.

A língua falada até então era a língua geral, já a língua portuguesa era falada por uma minoria, elite, que estava em contato com esta língua por meio dos estudos nas instituições de ensino e escrita, e ainda através de documentos oficiais que eram mandados a Portugal. Nessa perspectiva, é por meio dessas condições que se dá nesse primeiro período a língua do Estado no território recém-descoberto.

Nesse primeiro momento ressaltamos ainda que, ao aportar em território brasileiro o colonizador português se defrontou com uma variedade de línguas faladas tanto dos índios quanto imigrantes espanhóis e africanos

.

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Conforme Mariani (2004) :

O caso da língua portuguesa frente às línguas indígenas é

o da imposição da língua do conquistador, língua que, por

ser de domínio da nação portuguesa, supõe, ainda que

imaginariamente, uma mesma base linguística que

permitisse um “entendimento” entre o Rei e seus súditos,

como diria Pero Vaz de Caminha em sua Carta. (p.96)

Mariani (2004) destaca ainda que havia uma busca incessante de homogeneização linguística, ainda que esse processo fosse imaginário, o qual visava unir a diversidade linguística até então predominante e também a relação entre Estado e Igreja, com fins de tornar o índio vassalo e submisso.

No segundo período alguns fatos merecem destaque, como a catequização dos índios, ou seja, a imposição em todos os seus aspectos, e a dominação de uma língua sobre a outra. O objetivo principal da catequização era o de tornar o índio submisso primeiramente a Deus, através da religião Católica, e posteriormente ao Estado por meio da Língua Portuguesa. Os membros da companhia de Jesus, mais conhecidos como jesuítas desempenharam um papel fundamental na catequização indígena, já que a mesma entra como principal mediadora na conquista do novo território.

Porém, os objetivos da companhia se inverteram durante o processo de catequização, essa inversão se deu pelo próprio meio de ensino da língua, já que o ensino da nova doutrina ao povo “bárbaro” se deu pela língua brasílica (que não era nem a língua europeia tampouco o latim), aumentando assim seu poder sobre os índios e sobre o território nacional. Tal fato contribuiu para que se estabelecesse um embate entre os membros da doutrinação e os administradores portugueses fazendo com que esse embate posteriormente levasse a expulsão dos jesuítas na colônia brasílica.

A partir disto, deu-se a criação do diretório dos índios, que se pode dizer que é o ato máximo para que a haja a expulsão dos jesuítas. Além disso, após a criação do Diretório dos índios em 1755 e o Decreto de Marquês de Pombal muda-se o foco de apenas tornar os índios assujeitados a fé, mas, também ao Estado que promulga que: “Ao Rei ainda convém converter os índios, mas também interessa civilizá-los e para tanto, o aprendizado do português é imprescindível” (MARIANI, p.146).

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Adentramos o terceiro momento, marcado pela chegada da família real portuguesa no Brasil, a língua portuguesa é oficializada como língua nacional do Brasil. É criada por D. João VI, a imprensa e a Biblioteca Nacional, que se manifestou e manifesta na vida cultural e intelectual até os dias atuais. Tais mudanças contribuíram para a mudança das línguas faladas neste período no Rio de Janeiro, que era a capital do Reino de Portugal, ou seja, era a sede do governo.

Já no quarto momento, após a independência do Brasil em 1833 houve a proposta que os diplomas dos médicos fossem redigidos em “linguagem brasileira” e o ensino da leitura e escrita deveria ser feito utilizando a gramática da língua nacional. Importava desta maneira não tornar-se independente apenas em termos econômicos ou políticos, mas, também por meio da língua que era falada pelos habitantes do Brasil, ou seja, um processo de constituição da identidade e da nação frente ao mercado internacional, além de fronteiras.

Outro fator que podemos mencionar é a fundação da academia brasileira de Letras (1900), a criação de faculdades e outra característica que podemos mencionar é instauração da Nomenclatura Gramatical (NGB) pelo Estado no ano de 1959. Cabia a NGB apresentar as regras e normas do que poderia ou não constatar nas gramáticas e quais gramáticas de fato representavam essa língua brasileira, por isso, tanto autoria como conteúdos eram analisados para se observar se os autores brasileiros não eram apenas meros reprodutores de fontes portuguesas, ou seja, era necessária uma gramática que abordasse as especificidades e singularidades de uma língua com léxico diferente da falada em Portugal, e também as políticas públicas através dos Programas de Ensino, ou Exames Preparatórios

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Sendo assim, este momento é também marcado pelos debates conflituosos em âmbito político acerca da denominação da língua que é falada no Brasil e, sobretudo a resistência em se chamar a língua de “Brasileira” ou de “Portuguesa” em função da colonização linguística e imaginário da língua falada não se diferenciar da falada em Portugal.

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Com a independência do Brasil, eclodiu um movimento, promovido por gramáticos, de organização de um conhecimento sobre a nossa língua que já mostrava essas modificações. Mas o mais importante naquele momento não era tanto destacar descritivamente essas diferenças, e sim reivindicar o reconhecimento à nossa escrita, à nossa literatura, ao conhecimento produzido por brasileiros, nossos gramáticos, sobre a língua no Brasil, à nossa língua nacional, sinal de nossa soberania.

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Vejamos, então que os efeitos de sentidos sobre a constituição do idioma nacional através do documento de sua origem, significa na/para a constituição da identidade desse povo a partir dessa denominação, já criando um imaginário de povo civilizado a partir da legitimação da língua portuguesa como sendo a língua oficial do Brasil.

ARTIGO 35º DO ATO DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS APENSO À CONSTITUIÇÃO: IMAGINÁRIO DE “UNIDADE E CIVILIDADE”

Trazemos então o corpus de análise a “Denominação do Idioma Nacional do Brasil”2, que se deu pelo artigo 35º do ato das Disposições Transitórias apenso à constituição dos Estados Unidos do Brasil, promulgada em 18 de Setembro de 1946. É através desse documento que ocorre o processo de constituição da denominação do idioma nacional, em uma aparente busca também da identidade da nação brasileira. O documento aqui citado foi elaborado por uma determinada comissão composta por membros de diversos setores da sociedade das mais diversas áreas de atuação. De acordo Guimarães (2012, p.96): [...]

“O governo nomeará comissão de professores,

escritores e jornalistas, que opine sobre a denominação do idioma

nacional

.” (Grifos nossos).

A citação trazida por Guimarães (2012) produz um funcionamento de que o documento da denominação do idioma nacional em um primeiro momento é tratado

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apenas como uma pesquisa de opinião que opine sobre a denominação do idioma

nacional. Outro fator que nos chama a atenção refere-se ao O governo nomeará comissão.

Nesse viés, o governo é compreendido como aparelho ideológico que representa o Estado, o qual detém o poder de normatizar e regular a sociedade brasileira através de leis, resoluções dentre outros. É nessa relação entre a língua do colonizador e do colonizado que ocorre o processo de assujeitamento, que possibilita que haja efeitos de sentidos que contribuam para a denominação da língua nacional enquanto ideia de civilidade. .

O conceito de formações imaginárias surge nessa análise para se pensar as relações discursivas entre o colonizador (Portugueses) e o colonizado (Brasileiro/ Índios/Africanos), já que “não são os sujeitos físicos e nem os seus lugares empíricos como tal, isto é, como estão inscritos na sociedade, e que poderiam ser sociologicamente descritos, que funcionam no discurso, mas suas imagens que resultam de projeções”. (ORLANDI, 2009, p. 53).

As diversas vozes outras encontradas no documento indicam que há uma dada formação imaginária que cria projeções de qual seria o papel específicos dos membros que compõem a comissão que definirá o idioma nacional: padres, reitores, militares, escritores, professores e jornalistas na sociedade que contribuiriam para a elaboração do documento.

Sendo assim, a denominação de uma língua contribuirá para que a identidade nos moldes europeus se constitua no país brasílico, essa constituição ocorre sobre os pilares da educação, lei e igreja, pilares esses semelhantes aos criados na Europa, visando assujeitar o homem primeiramente à Deus e após às leis do Estado . Além desses elementos da cultura europeia, é necessário para que se tenha uma fiel imitação do povo civilizado, que a língua desse povo também seja trazida para a terra colonizada.

Vejamos o recorte do documento sobre a da denominação do idioma nacional

“Não tardou, porém, que se verificasse um princípio linguístico que se tem reconhecido como verdadeiro: postas em contacto duas línguas, uma instrumento de uma civilização muito superior à civilização a que a outra serve, esta cede o seu terreno à primeira. Assim, o português, expressão de uma civilização mais adiantada, triunfou sobre o tupi. (GUIMARÃES, 2012 p.203)

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O imaginário da civilidade da nação portuguesa aparece reforçando o estereótipo de que o povo que aqui vivia não era civilizado, pois sua língua não era compreendida pelos portugueses que tomavam possa da terra. Silenciando novamente a imposição linguística, verdadeiro motivo do triunfo da língua portuguesa sobre o tupi, assim, a noção de civilidade é deturpada nesses dizeres, já que é a imposição se dá por meio da repressão, que garante que uma língua seja oprimida pela outra. Vejamos, pois, que o contato entre a Língua Portuguesa e as demais já existentes em território nacional, produziu neste contexto um efeito de soberania. Ou seja, a hegemonia de uma nação sobre a outra, o que produz um funcionamento político de domínio, fruto das relações de poder de uma cultura sobre a outra. Relação que demarca um jogo, uma competividade (ganhador/perdedor, triunfo/ derrota), o poderio econômico, político e social, o qual permanece até os dias atuais, com a adesão à moda, a tecnologias, e até mesmo ao linguajar, como os estrangeirismos, que são utilizados no cotidiano das pessoas.

Outro recorte que destacamos encontra-se no documento da denominação de língua nacional são as “Considerações linguísticas”.

Os estudos linguísticos sérios e imparciais, aplicados ao Brasil, fazem-nos concluir que a nossa língua nacional é a língua portuguesa, com pronúncia nossa, algumas leves divergências sintáticas em relação ao idioma atual de além-mar, e o vocabulário enriquecido por elementos indígenas e africanos e pelas criações e adoções realizadas em nosso meio.( GUIMARÃES, 2012, p.205)

É nas considerações linguísticas que a comissão decide ressaltar que a língua falada no Brasil é a Língua Portuguesa baseando-se na estrutura da escrita. O termo imparcialidade contradiz a situação de colonização vigente, pois se isenta de qualquer influência ou responsabilidade de opiniões advindas de outros países, o que marca a sua independência cultural. Em contrapartida, estes estudos linguísticos se espelham na cultura e na língua proveniente de Portugal, favorecendo novamente negação da cultura aqui existente.

A língua portuguesa é então língua de imposição e de administração da colônia. Portugal buscava por meio das grandes navegações desbravar o mundo e colonizar outras terras para espalhar sua língua, cultura e identidade, aumentando seus domínios e levando

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a “verdadeira” fé a povos sem cultura ainda não “descobertos”.

Segundo Mariani:

“Impôs-se uma língua, e com ela toda uma ideologia e toda uma memória, o

que significa, porém que essa língua imposta não tenha sido afetada por sua

travessia do Atlântico e pelos sentidos de Novo Mundo”. (MARIANI, p. 153)

Desde sua descoberta a língua sofreu várias transformações e passou a incorporar elementos gramaticais/ sintáticos das línguas indígenas, africanas, de imigrantes e de fronteira, transformando assim sua materialidade. É através desse embate com a materialidade do novo mundo e de sua história, que ocorreu o processo que culminou com a composição de uma língua rica e com suas diversidades, e são essas que a diferenciam da língua portuguesa trazida por Portugal.

Ao dizer em sua conclusão que:

À vista do que fica exposto, a Comissão reconhece e proclama esta verdade: o idioma nacional do Brasil é a Língua Portuguesa”. E ainda : [...] Essa denominação, além de corresponder à verdade dos fatos, tem a vantagem de lembrar, em duas palavras – Língua Portuguesa-, a história da nossa origem e a base fundamental de nossa formação de povo civilizado.

Como essa afirmação a comissão vai ao encontro às ideias do colonizador e legitima a língua como sendo Portuguesa. Cabe dizer que a “verdade” abordada é trazida na formação ideológica de um determinado grupo de pessoas, sendo assim, só podemos observar e analisar os prós já que os contras são silenciados. E ainda que haja esse silenciamento no discurso analisado, o mesmo significa e se constitui sentidos, para/por sujeitos e língua.

Portugal desempenhou o papel de colonizador e é só a partir da sua colonização que a terra brasílica recebe a língua a cultura de um povo civilizado. Assim, a colonização portuguesa produz um efeito de sentido como se fosse a gênesis da terra descoberta. Silencia-se tudo o que se tinha antes e só a partir do descobrimento que o índio, povo bárbaro, ganha título de gente e é só depois de sua doutrinação e conhecimento da língua portuguesa que ele se torna civilizado.

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As análises apontaram que a concepção de língua portuguesa no documento que estabelece a “Denominação do Idioma Nacional”, concebe a mesma como sendo a língua pura, transparente, homogênea e única. Língua essa que traz uma memória discursiva imbricada a imagem da nação portuguesa como fiel representante da Europa e a ideia de civilização como sua marca. Ou seja, os membros da comissão retomam os dizeres já proferidos em outros períodos, em outras condições de produção, e esses significam novamente nos dizeres posteriores. Além disso, é necessário ressaltar que a noção de civilidade aqui abordada se inscreve em uma formação discursiva diferente para portugueses e brasileiros.

Nesse sentido, se pode dizer que há uma busca por uma língua inatingível3 se pensarmos em linearidade linguística, e civilidade enquanto homogeneização de um povo, cultura e crenças. Para a Análise de Discurso a língua não é linear, e muito menos transparente, ela é sujeita a falhas e a equívocos, e são as margens do dizer que contribuem para que os sentidos sempre possam vir a ser outro. É a incompletude da linguagem que permite que sujeitos e sentidos derivem, escorreguem, deslizem para outros sentidos e posições.

CONSIDERAÇÕES

O presente artigo teve por objetivo compreender como o documento da “Denominação do Idioma Nacional” contribuiu para que a língua portuguesa se constituísse como lugar de civilidade que significasse nação, identidade e sujeitos.

A noção de civilização abordada é categoricamente instaurada por meio de uma memória discursiva e formações imaginárias, que se constituem mutuamente durante o processo de enunciação no documento analisado. A Língua Portuguesa surge como lugar da pureza linguística e como meio de dominação, controle e administração.

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É através da língua portuguesa, essa com tradição e renome, que se busca criar a identidade da nação brasileira. Mas afinal, quem era o Brasil no cenário mundial antes da denominação do Português como língua nacional?

A resposta que emergirá se pensada pelos olhos dos povos “civilizados” será a de que o Brasil era um país recém-descoberto, desconhecido por muitos e sem nenhuma tradição no cenário mundial. Sendo assim, é a tradição de descobertas e domínios de um povo, no nosso caso o colonizador português, que dá a noção de civilidade e não a sua própria constituição.

Nesse sentido, Portugal como colonizador volta os olhos para a colônia brasílica e a vê como um lugar de faltas e por esse motivo seria muito mais fácil transformar a colônia brasileira nos moldes europeus. Para isto, era necessário que a sua língua fosse importada também, transportando assim seu estereótipo de cultura civilizada e de importância para a terra de “ninguém”. Para darmos o efeito de fecho neste artigo, compreendemos que as derivas foram constantes e estas nos levaram a refletir sobre a colonização linguística em um viés de desconstrução do imaginário de colonização. A colonização linguística vigente é um processo em que Portugal silencia a identidade, religião e língua do povo que aqui vivia.

REFERÊNCIAS

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¬¬______.Enunciação e política de línguas no Brasil .In Revista LETRA-Espaços de

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http://w3.ufsm.br/revistaletras/letras27.html.Pontes, 1996.

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MARIANI, Bethânia. Colonização linguística. Campinas, Pontes. 2004.

MARIANI, Bethânia. Academias do século XVIII – Um certo Discurso sobre a História. In: Eduardo Guimarães e Eni P. Orlandi (Orgs.). Língua e Cidadania: o português no Brasil. Campinas, SP: Pontes, 1996.

ORLANDI, Eni P. A língua brasileira. Ciência e Cultura. Vol. 57, nº 2. São Paulo, abril/junho, 2005.

ORLANDI, Eni P. Sobre o intangível, o ausente e o evidente. In: GADET, F.; PÊCHEUX, M.; GADET, F. A língua inatingível: o discurso na história da lingüística. Campinas: Pontes. 2004, p. 7-10.

ORLANDI, Eni. GUIMARÃES, Eduardo. “Apresentação" e Formação de um Espaço de Produção Linguística: A Gramática no Brasil, História das Ideias Linguísticas: Construção do Saber Metalinguístico e Constituição da Língua Nacional. Campinas/Cáceres: Pontes/Unemat, 2001.

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