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CISC. As formas de percepção e as mudanças culturais

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Academic year: 2021

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CISC

CENTRO INTERDISCIPLINAR DE SEMIÓTICA DA CULTURA E DA MÍDIA

As formas de percepção e as mudanças culturais

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Em 1964, quando publicou o polêmico Understandig Media: The extensions of

Man (Os meios de comunicação como extensões do homem), o professor

canadense Marshall McLuhan - 1911/1981- causou uma enorme celeuma ao afirmar que “o meio é a mensagem”. Suas pesquisas, aplaudidas ou questionadas, fizeram do escritor com doutorado em literatura inglesa um homem conhecido nos cinco continentes ou, como preferem dizer seus admiradores, o “profeta da era eletrônica”.

McLuhan denunciou o fim da era Gutenberg ao observar que os meios eletrônicos (rádio e TV) estavam provocando mudanças nas formas de percepção e produzindo novos padrões culturais. Considerou que a “mensagem” de qualquer meio ou tecnologia é “a mudança de escala, cadência ou padrão que esse meio ou tecnologia introduz nas coisas humanas”.

O determinismo “maclunático”

Para justificar sua postura, usou o chamado “determinismo tecnológico” na abordagem das diversas fases da história. Se os marxistas já analisavam a história a partir de um determinismo econômico, McLuhan mostrou que as mudanças e invenções de novas técnicas ou meios de comunicação é que modificavam a organização social.

Arriscando elaborar análises muito abrangentes, dividiu a história em três etapas que denominou “tribalização, destribalização e retribalização”. Durante o período da “tribalização” os homens utilizavam a comunicação oral e por isso viviam numa perspectiva gregária, ligados aos temas da pequena aldeia local.

Com o surgimento do papel e da imprensa, os homens passaram para uma nova etapa, a “destribalização”: a escrita dilata os laços tribais, o livro desarticula os

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marcada pela linearidade da linha tipográfica; tudo deve ter um início, um meio e um fim, o discurso culto deve ser organizado de forma linear.

Por fim, observou que os meios eletrônicos, em especial o rádio e a televisão, levam o homem a conhecer os temas e problemas de muitas aldeias de todo o mundo, favorecem a criação do que denominou “aldeia global”. Através de sons e imagens somos obrigados a deixar de ver cada coisa de uma vez, o que acontecia quando o livro ou os impressos marcavam nossa cultura, para colocarmos nossos olhos e ouvidos à disposição de temas da “aldeia global”. Na análise do poeta Décio Pignatari, McLuhan observava que as sociedades começavam a viver a era da implosão da informação: “informação complexa, que se manifesta em mosaico, descontínua e simultaneamente”. Numa bela manhã de primavera, ou outono, tanto faz, muitas aldeias do planeta acordam com uma informação muito relevante: nasceu Lurdes Maria, a filha da cantora Madona.

Os argumentos “macluhânicos”

Dentre um conjunto de argumentos que McLuhan usou para demonstrar que o “o meio é a mensagem” e explicar as diversas etapas da história, destaca-se uma referência ao pensamento de Charles Alexis de Tocqueville (1805-1859). O pensador político e historiador francês mostrou, segundo McLuhan, como “a palavra impressa, atingindo sua saturação cultural no século XVIII, havia homogeneizado a nação francesa”. Assim, “os princípios tipográficos da uniformidade, da continuidade e da linearidade se haviam superposto às complexidades da antiga sociedade feudal e oral”. Tocqueville constatou que era possível escrever um livro sobre os Estados Unidos (A Democracia na América), nação que nasceu marcada pela uniformidade da escrita impressa, mas seria impossível escrever um livro sobre a Inglaterra, que permaneceu fiel à tradição oral e dinâmica do direito costumeiro.

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Por considerar que os meios são extensões de nós mesmos, McLuhan mostra que eles geram novos padrões de vida. Assim, como já enfatizamos, “a mensagem de qualquer meio é a mudança de padrão que esse meio introduz nas coisas humanas”. Procura mostrar de que maneira o meio “configura e controla a proporção e a forma das ações e associações humanas”. Dessa maneira, a mensagem do cinema enquanto meio é “a mensagem da transição da sucessão linear para a configuração”.

Por fim, para contextualizar seu trabalho, enfatizou que as mais recentes abordagens ao estudo dos meios levam em conta “não apenas o conteúdo, mas o próprio meio e a matriz cultural em que um meio específico atua”. Concluindo, lembra que, da mesma maneira que o algodão e o petróleo, o rádio e a televisão tornam-se “tributos fixos” para a inteira vida psíquica da sociedade. Assim, “cada produto que molda uma sociedade acaba por transpirar em todos e por todos os seus sentidos”.

“Os meios são as massa-gens”

De acordo com Carlos Alberto Rabaça, o último livro de Marshall McLuhan (The

medium is the massage- 1967) traz em seu título original um trocadilho triplo

(message = mensagem, mass age = era das massas, massage = massagem), que o tradutor brasileiro reproduziu como “Os meios são as massa-gens”.

Sem nos aventurarmos numa avaliação das contribuições e das lacunas de toda obra de Marshall McLuhan, podemos nos limitar à constatação que este autor, segundo o sociólogo da comunicação Gabriel Cohn, fez uma pequena “revolução copernicana” no estudo da comunicação, “deslocando-o da análise dos conteúdos para o exame dos media”. Por outro lado, ainda segundo Gabriel Cohn, existem outros autores que poderiam nos ajudar a ir além das observações midiáticas de

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já enfatizava: “O tipo e o modo de organização da percepção sensorial humana - o meio em que ela se dá - é determinado não apenas natural mas também historicamente”.

Sociedade da informação: aprendendo a aprender

Atualizando as perspectivas até aqui analisadas, podemos nos perguntar: que mudanças nas formas de percepção e nas formas de vida estamos experimentando a partir do momento que nossos televisores e computadores passam a integrar as redes de informação?

Hoje observamos diferentes formas de convivência com os meios de comunicação. Muitos brasileiros ainda não chegaram ao livro e, por isso, não conseguem elaborar um discurso com certa ordem e coerência. Outros apenas lêem o necessário para sobreviver, mas convivem com a televisão desde o berço. Outros já vão diretamente para o mundo da multimídia e das grandes infovias, como a Internet.

Nossas salas de aula fazem parte dessa mistura de experiências. Professores formados na cultura do livro, da revista e do jornal. Alunos que convivem especialmente com a televisão, o jingle e o videoclipe. Outros que só lêem o necessário, ou aquilo que é “obrigatório”. Outros que convivem com um excesso de informação, navegam por muitos sites, batem papo com diferentes pessoas e nem sempre conseguem processar os fragmentos de informação. No contexto do excesso de informação, talvez sentem dificuldade de articular um sentido.

Nessa linha podemos relacionar alguns questionamentos básicos. Os meios de comunicação são apenas meios para transmissão dos conhecimentos já padronizados ou de fato nos desafiam a desaprender algumas coisas, como disse Roland Barthes, e descobrir novas formas de aprendizado que não dispensam os livros, mas incluam as mediações videotecnológicas? Como estamos nos

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formando para viver e aprender no contexto das novas formas de processar as informações? Se dispomos de mediações videotecnológicas que nos colocam em contato com o mundo, como essas mesmas mediações podem nos ajudar a “reencantar” a educação, a fazer da universidade um lugar do exercício do prazer e da cidadania?

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Referências bibliográficas:

BENJAMIN, Walter. “A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica”. In: COSTA LIMA, Luiz (Org.)Teoria da Cultura de Massa. São Paulo, Paz e Terra, 1990.

COHN, Gabriel. “O meio é a mensagem: análise de McLuhan”. In: Comunicação

e Indústria Cultural. São Paulo, TA-Queiroz, 1987. Pág. 363-371.

ECO, Umberto. “O Cogito Interruptus”. In: Viagem na Irrealidade Cotidiana. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1994. Pág. 289-308.

GOMES, Pedro Gilberto. Tópicos de Teoria da Comunicação. São Leopoldo, Editora Unisinos, 1995. Pág. 70-75.

McLuhan, M. A Galáxia de Gutenberg. São Paulo, Nacional, 1977.

McLuhan, M. e QUENTIN, Fiore. O Meio são as Massa-gens. Rio, Record, 1970. McLuhan, M. Os meios de comunicação como extensão do homem. Tradução de Décio Pignatari. São Paulo, Cultrix, 1974. 4° ed.

McLuhan, M. ”Visão, som e fúria”. In: LIMA, Luiz Costa (Org.)Teoria da Cultura

de Massa. São Paulo, Paz e Terra, 1990.

McLuhan, M.”O meio é a mensagem”. In: MORTESEN, C.David. Teoria da

Comunicação. Textos básicos. São Paulo, Mosaico, 1980.

PIGNATARI, Decio. Informação. Linguagem.Comunicação. São Paulo, Perspectiva, 1973.

SEVCENKO, Nicolau. “McLuhan assombra o Rei”. In: Folha de São Paulo. Mais, 23 de fevereiro de 1997, pág. 6. (usa os termos macluhanizado, macluhânico e

maclunático).

José Eugenio de Oliveira Menezes. Revista NIFE, Faculdades Sant’Anna, a.6, n.5, p.193-196, mar.1999. ISSN 1414-1736 CISC - Centro Interdisciplinar de Semiotica da Cultura Digitally signed by CISC - Centro Interdisciplinar de Semiotica da Cultura DN: cn=CISC - Centro Interdisciplinar de Semiotica da Cultura, c=BR Date: 2003.03.18 22:25:57 -03'00' Signature

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