• Nenhum resultado encontrado

O Movimento Estudantil nos anos 70: ações e concepções.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O Movimento Estudantil nos anos 70: ações e concepções."

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

O Movimento Estudantil nos anos 70: ações e concepções.

Jordana de Souza SANTOS1

INTRODUÇÃO:

O Movimento Estudantil (ME) da década de 1970 foi marcado por algumas mudanças em seu interior que demonstram características peculiares destes anos. O período assinalado foi de grande repressão com a morte e a perseguição aos militantes das organizações clandestinas da chamada Nova Esquerda, com a desarticulação das mesmas e com políticas educacionais que almejavam reformular a universidade.

Diferentemente da década anterior, o ME dos anos 70 assumiu uma postura menos agressiva em relação ao combate à ditadura. Isto devido à sua desorganização resultante do fracassado XXX Congresso da UNE ocorrido em Ibiúna (SP) em 1968 onde foram presas cerca de 800 pessoas. Autores como Valle (1999), Martins Filho (1987) e Dirceu e Palmeira (1998) afirmam que o fracasso deste congresso foi resultado das discordâncias entre os principais grupos políticos que atuavam no ME: a Ação Popular (AP) e as Dissidências Estudantis Comunistas (DIs). Tais divergências dividiram o ME em duas posições em 1968: a primeira posição era liderada pela AP e propunha um engajamento dos estudantes na luta geral contra a ditadura; a segunda posição tinha como objetivo a luta específica e era comandada pelas DIs2.

Com base em nossas leituras, constatamos que eram poucos os que se aventuravam a candidatar-se em chapas para Centros Acadêmicos na década de 70 porque a repressão aos líderes estudantis era muito forte. A morte de Alexandre Vanucchi Leme, líder estudantil da USP, em 1973 foi um marco assim como, a morte do estudante secundarista Edson Luís em 1968.

Mirza Pellicciotta (1997) em seu trabalho Uma aventura política: as movimentações estudantis da década de 70, privilegia o enfoque cultural presente nos anos 70 e no ME

1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Unesp – campus Marília. Bolsista

Fapesp.

2

Sobre a divisão do ME em 1968 em 2 posições ver MARTINS FILHO, João Roberto. Movimento

(2)

descrevendo que os estudantes optaram por “novas formas” de demonstrar o descontentamento com a situação política e social em que o país se encontrava. As “passeatas dos cem mil” foram substituídas por grupos de teatro, música e realização de pequenos festivais que visavam informar aos calouros, bem como enfrentar de uma maneira pacífica o regime. Mas apesar desta “passividade” os estudantes eram reprimidos tendo as salas de aula invadidas ou através da aprovação de decretos e leis que colocavam em xeque a autonomia universitária e a qualidade de ensino. A Lei da Imprensa, por exemplo, implantou uma censura prévia sobre a produção cultural estudantil. Esta censura era praticada pela polícia que passou a freqüentar as universidades vigiando os alunos.

Pellicciotta (1997) relata que os estudantes se preocupavam mais com a questão da cultura, da mulher, do preconceito racial e do homossexualismo do que propriamente com a luta armada, com o enfrentamento armado, como foi nos anos anteriores, por causa da repressão. As lutas no âmbito estudantil - contra a PEG (Política Educacional do Governo), contra a Reforma Universitária de 1968, contra os Decretos 477 e 228 – conduziam as ações do movimento. A PEG visava cumprir os ditames dos acordos MEC-USAID que consistiam na transformação das universidades em fundações particulares, tornando o ensino pago3e pretendia instaurar um modelo de educação norte-americano. O Decreto 477 impunha limites à participação estudantil nos órgãos colegiados, além de instaurar a aposentadoria compulsória dos professores considerados subversivos; o Decreto 228 havia extinto os Diretórios Nacionais de Estudantis (DNE), além da UNE e UEES (União Estadual dos Estudantes)4.

A situação atual da representação estudantil, nos órgãos colegiados da USP, é uma conseqüência direta da implantação da Reforma Universitária (RU), que além de limitar nossa participação de uma maneira direta (o 1/10), impõe uma série de restrições à escolha desses representantes: não ter reprovação, ter o nome aprovado pelo diretor da escola, ter média

diálogo é a violência; Movimento Estudantil e Ditadura Militar no Brasil – Campinas, SP: Editora da

Unicamp, 1999.

3Em 1972, a USP lançou um plebiscito em que 95% dos alunos consultados se mostraram contra o ensino

pago. “Para Jarbas Passarinho, o movimento era a união dos “ricos” com os “comunistas”, numa tentativa de prejudicar os estudantes pobres” (ENSINO PAGO – USP, 1973 p. 3).

4

A LEI nº 4464 de 9 de novembro de 1964 conhecida como Lei Suplicy objetivou o fechamento das entidades estudantis. Foram criados o Diretório Nacional de Estudantes (DNE) e os Diretórios Estaduais de Estudantes (DEEs), substituindo a UNE (União Nacional dos Estudantes) e as UEEs (União Estadual dos Estudantes). Em meio aos protestos contra esta lei o governo lançou o Decreto Lei nº 228 em 1967 que extinguia o DNE e os DEEs, deixando os estudantes sem nenhuma entidade representativa legal.

(3)

mínima igual a 6.0 em duas matérias no mínimo etc. (PONTOS PARA DISCUSSÃO, 1973 p. 8).

No documento O Estudante e a Política Educacional do Governo, formulado pelo Centro de Estudos Históricos da USP em 1973, estão expostos alguns objetivos da luta estudantil:

1. Lutar por uma reforma adequada ao nosso tempo, pela autonomia universitária, administrativa, didática, financeira e disciplinar, assegurada pela lei de diretrizes e bases, no artigo 80.

2. Contra o unilateralismo curricular, a má distribuição de verbas.

3. Por uma reforma que vise a criação de uma Universidade voltada ao desenvolvimento da ciência e pesquisa, para formação de profissionais e divulgação da cultura, em função de interesses coletivos e não de grupos minoritários.

4. Pela Universidade gratuita.

5. A reforma deve impedir qualquer tipo de discriminação ou ingerência externa à Universidade, seja ela cultural, política, administrativa ou militar.

6. Para a preservação das ciências humanas, cabendo ao estudante brasileiro a consciência da situação e de suas possibilidades de atuação. Deve firmar sua posição de compromisso com a problemática nacional.

Apesar destes impedimentos legais impostos aos estudantes, na USP, por exemplo, o DCE ainda mantinha-se ativo, mas não era reconhecido institucionalmente, sendo alvo constante da repressão. Os diretórios ganham uma expressão considerável neste período à medida que tudo o que acontece na universidade é em torno da sua organização, configurando-se em um espaço aberto para discussões. Por isso, a campanha do DCE-Livre foi importante e perdurou durante quase toda segunda metade da década. Uma vez que as organizações armadas se encontravam em situação de degradação, sendo violentamente reprimidas, o Movimento Estudantil aderiu às formas de luta envolvendo apresentações culturais e tendo como objetivo a integração social entre os estudantes, buscando formar uma gestão coletiva nos rumos do movimento. Isto demonstra que, na primeira metade da década de 1970, os grupos políticos que compunham a Nova Esquerda não mais disputavam hegemonia no ME, mesmo porque este havia perdido sua coesão no momento de extinção da UNE.

(4)

Nos anos 70, portanto, o diretório se recompõe como instrumento político na medida em que promove um relacionamento dinâmico e “alternativo” entre os estudantes, a administração e as atividades docentes, procurando transportar para dentro deste espaço agremiativo (tantas vezes simbólico, pela ausência de estrutura) a constituição de uma outra vida acadêmica – que mistura jogos de ping-pong, grupos de teatro, bandas musicais, jornais e experiências de auto-gestão nas cantinas com a construção propriamente dita de novos currículos, atividades extra-acadêmicas e fóruns de discussão e deliberação política. (PELLICCIOTTA, 1997 p. 61)

A atuação do ME durante estes anos foi em torno da universidade. Ou seja, a questão da luta armada foi posta de lado por aqueles que ainda militavam no movimento. Com o refluxo do movimento estudantil iniciado em fins de 1969, as Organizações armadas concentraram suas ações na preparação da guerrilha urbana ou rural. Muitos estudantes passaram a militar nessas organizações o que contribuiu para a desarticulação do ME5. O ME ficou restrito à universidade porque o ideal da revolução e da guerrilha estava sendo desmantelado pela repressão. Muitas organizações foram extintas e o plano da guerrilha havia fracassado. A Esquerda Revolucionária entrou num processo de revisão de questões sobre o encaminhamento da luta armada, sobre as condições revolucionárias do Brasil etc, pois estavam perdendo militantes importantes para a repressão, como Carlos Marighela, morto em 1969. Esse período de revisão visava entender como a Esquerda teria que se organizar para atingir o regime militar uma vez que o ideal de luta armada não funcionara por uma série de fatores, seja pelo chamado espontaneísmo de esquerda, seja pelos sectarismos entre as organizações ou pelo despreparo físico e psicológico de seus militantes para a guerrilha.

Podemos dizer que na primeira metade da década de 70 predominou a luta específica estudantil. As principais campanhas realizadas pelo ME foram “Pela redemocratização”; “Contra a PEG e a Reforma Universitária”; “Pelo DCE-Livre e em protesto à prisão e à morte de estudantes” e “Pela reconstrução da UNE”.

5Embora a questão da luta armada não fosse mais privilegiada pelo ME encontramos referências a este modo

de luta em alguns documentos e jornais. No jornal Combate, dirigido aos “CA´s de Vanguarda” da Guanabara, de 1970/71, encontramos conceitos como GTs (Grupos de Trabalho) e GAs (Grupos de Ação) que demonstram claramente a atuação do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro). Esta prática era muito semelhante àquela desenvolvida pela ALN e encontrada também no movimento estudantil da USP, constatada através de documentos coletados em nossa pesquisa no Arquivo do CEDEM (Centro de Documentação da Unesp), como por exemplo, algumas cartas-programa do Grêmio de Filosofia, de 1969.

(5)

A segunda metade da década marcou a volta das organizações clandestinas ao ME por meio das chamadas tendências. No ME da USP e da Unicamp, por exemplo, encontramos as tendências Refazendo, Caminhando e Liberdade e Luta (Libelu) como sendo as mais expressivas. A Refazendo era composta por militantes da AP e MR-8; a Caminhando era um agrupamento do PC do B (Partido Comunista do Brasil) e a Libelu era a corrente estudantil da Organização Socialista Internacionalista (OSI) de orientação trotskista. Havia também alguns agrupamentos menores do PCB (Partido Comunista Brasileiro). Podemos notar que os grupos políticos atuantes no ME se organizavam em nível nacional; não havia mais a divisão por estados como acontecia com as DIs, o que é um fator de diferenciação dos anos 60, assim como a luta pela redemocratização que não se colocava anteriormente.

A notável influência destas tendências no movimento estudantil da USP é identificada no processo eleitoral do DCE-Livre em que são montadas chapas levando os nomes das tendências. Cada qual expressava um modo de enfrentamento diverso, apesar de algumas semelhanças. A Refazendo ganhou as eleições para o DCE em 1976 e 1977; a Caminhando em aliança com a Refazendo venceu as primeiras eleições da UNE reconstruída, em 1980; a Liberdade e Luta venceu as eleições para o DCE da USP em 1978.

Embora houvesse divergências entre as tendências, observamos que era freqüente a formação de chapas conjuntas como a da refundação da UEE-SP em 1978 em que a chapa vencedora foi a tendência Construção (aliança Refazendo, Caminhando e Novo Rumo), ou a da primeira diretoria da UNE reconstruída em 1979 onde a vencedora foi a chapa Mutirão.

As eleições para a UNE realizaram-se em 3 e 4 de outubro de 1979. Mais uma vez a disputa foi grande, concorrendo no pleito cinco chapas: NOVAÇÃO (Convergência), LIBERDADE E LUTA (POI-TNAE), UNIDADE (MR-8/PCB), MUTIRÃO (PC do B/AP) e ainda MAIORIA, de tendência direitista. (HAYASHI, 1986 p. 104).

Pellicciotta (1997) enfatiza que a atuação das tendências no ME atribuiu à década de 70 um enfoque diverso dos anos anteriores, pois a esquerda brasileira passava por um processo de reorganização em que era preciso rever e analisar o modo como estava sendo encaminhada a luta à ditadura e considerar os possíveis pontos de encontro entre as diversas

(6)

tendências. O embate entre luta específica e luta geral aparecia de forma menos latente, pois a principal questão para o ME era a reconstrução da UNE.

“Politizar” o movimento estudantil implica alterar a dinâmica dos debates e deliberações coletivas de forma a tornar mais abrangente o seu processo de lutas, sendo que a atuação dos grupos ganha um papel destacado na medida em que procura estabelecer uma unidade política entre as diferenças a partir de uma perspectiva centralizada de ação coletiva. (PELLICCIOTTA, 1997 p. 127).

Vale ressaltar que o PC do B passou a ter presença no ME devido à sua junção com a AP em 1973. A AP, desde a sua fundação em 1962, foi predominante na UNE, sendo seguida pelas Dissidências Estudantis, mais especificamente a DI-GB (Dissidência da Guanabara) e DI-SP (Dissidência de São Paulo). Os ideais trotskistas não tinham expressão alguma no ME dos anos 1960, algo que contrasta com os anos seguintes em que podemos observar uma forte manifestação no movimento destes agrupamentos. A presença do trotskismo entre os estudantes se fazia também por meio da imprensa “alternativa” cujo principal periódico de inspiração trotskista era o Em Tempo. Os principais jornais “alternativos” do período eram o Jornal Versus, Em Tempo, Movimento, Jornal Opinião.

O Em Tempo agregaria, numa primeira fase, que durou até o final de 1979, grupos tão variados como o Centelha, de MG, o Nova Proposta, do RS, o Movimento de Emancipação do Proletariado (MEP), o Sub frente, a APML, o grupo Debate, o MR-8, representantes da Organização Socialista Internacionalista (OSI) e independentes. (KAREPOVS; LEAL, 2007 p.155)6.

O surgimento das tendências no ME propiciou a reorganização do movimento que evoluiu em termos de ação prática. A Greve da ECA (Escola de Comunicação e Artes) na USP pela deposição do diretor Manuel Nunes, Greve das Humanas na Unicamp por melhorias na universidade, as manifestações pela morte do jornalista Vladimir Herzog em 1975 e a recriação do DCE-Livre da USP “Alexandre Vanucchi Leme” em 1976, são demonstrativos deste avanço do ME. Estas manifestações, assim como outras ocorridas em

6

KAREPOVS, D; LEAL, M. Os trotskismos no Brasil (1966-2000). In RIDENTI, M; REIS FILHO, D A (orgs). História do Marxismo no Brasil, volume VI: Partidos e movimentos após os anos 60. Campinas,

(7)

outros estados como a Greve da UFBA, demonstram que o movimento estava ganhando força outra vez.

Outro fato marcante para o ME foi a invasão da PUC-SP em 1977, onde estava sendo realizado o III ENE (Encontro Nacional de Estudantes). Este encontro ocorreu secretamente no dia 22 de setembro. No entanto, na noite do dia 22, houve um evento de comemoração à realização do encontro que acabou sendo reprimido com a prisão de mais ou menos 900 pessoas, agressões aos estudantes e depredação da universidade por parte dos policiais. Este fato repercutiu nacionalmente. É neste ano também que o movimento popular juntamente com os estudantes se radicalizou. Atos de protesto são realizados pelas liberdades democráticas e pela anistia geral, ampla e irrestrita (PEREIRA, 2006 p. 108).

Podemos dizer que a principal luta dos estudantes a partir de 1977 foi a reconstrução da UNE. O congresso de refundação da UNE ocorreu nos dias 29 e 30 de maio de 1979, em Salvador. A disputa pela presidência da entidade era alvo de discussão e divergências entre as tendências. Destacamos também que os estudantes aliaram-se aos trabalhadores nas greves salariais de 1978 ocorridas no ABC paulista.

O XXXI Congresso da UNE, o da reconstrução, seria realizado nos dias 29 e 30 de maio, tendo como palco a cidade de Salvador, capital da Bahia. Estado governado por Antonio Carlos Magalhães, dirigente da ARENA, sua realização é a prova de que o Estado militar não possuía condições de barrar o processo de reorganização do movimento social brasileiro, não tendo outra alternativa senão aceitá-lo, até como meio de limitar seu crescimento. (PEREIRA, 2006 p. 153).

Embora a presença dessas tendências tivesse contribuído para reorganização do ME, há discordâncias sobre os benefícios que trouxeram. Isto é, a permanência de debilidades teóricas, as divergências sobre os modos de luta e entre as bandeiras levantadas, as discussões entre os estudantes militantes e os que não possuíam vínculos com tais tendências etc, criaram um clima de disputa. Pereira (2006) relata o caso da Unicamp que, na nossa opinião, serve como exemplo geral: os estudantes não tinham informação do que acontecia no movimento estudantil, as “brigas” entre os agrupamentos eram em torno,

SP: Editora da Unicamp, 2007, iv, p. 153 – 238. Centelha e Nova Proposta eram agrupamentos estudantis que discordavam da linha política do PC do B e da AP.

(8)

muitas vezes, de questões supérfluas, faltava coesão entre os estudantes de cada área (exatas, humanas e biológicas) e até mesmo com relação às manifestações culturais.

Com base em nossas leituras, afirmamos que com o enfraquecimento do Movimento Estudantil em fins da década de 60 e, conseqüentemente, com o afastamento das organizações políticas que nele atuavam, os estudantes que ingressaram na universidade a partir de 1970 tinham maior preocupação com as lutas específicas que envolviam os problemas relacionados à educação. Como as organizações armadas tornaram-se clandestinas, o contato com as mesmas era difícil e perigoso à medida que a repressão policial havia se intensificado. Assim, os estudantes atuavam dentro da própria universidade através de manifestações culturais e passaram a dar maior importância para reivindicações relacionadas à cultura ou à igualdade de condições.

O estudo sobre o Movimento Estudantil nestes anos é teórica e politicamente justificável, pois há poucas pesquisas que retratam este período. A maioria dos estudos sobre os estudantes ou sobre a Esquerda Revolucionária concentra-se na análise do período 1964-1968. Poucos são os livros encontrados que tratam sobre os anos 70 e, recentemente, algumas dissertações têm sido concluídas. Desse modo, os anos 70 se caracterizam como sendo de “difícil acesso” uma vez que os acontecimentos destes anos são mais complexos do ponto de vista teórico, analítico e de fontes.

As organizações políticas estavam em situação de clandestinidade, sob forte repressão estatal e isoladas social e politicamente. A desarticulação dos movimentos populares agrava a dificuldade na compreensão desse período. A documentação partidária produzida na época não podia ser divulgada, por isso muitos documentos se perderam ou não chegaram a ser publicados ou foram publicados com um nome falso.

Marialice Foracchi (1977) descreve em O Estudante e a Transformação da Sociedade Brasileira o perfil dos estudantes, demonstrando que a origem de classe, por exemplo, exerce influências na sua conduta perante a sociedade. Na mesma linha, segue a coleção Sociologia da Juventude (1968), organizada por Sulamita de Brito. Estes trabalhos enfatizam o imaginário do estudante e o seu modo de vida na universidade, relacionando estes aspectos sociais e psicológicos com a participação na política estudantil e também como fatores para a compreensão das situações de refluxo do movimento. Hayashi (1986) argumenta que havia uma instrumentalização do ME, particularmente das entidades, pelas

(9)

tendências que eram os canais pelos quais os partidos transmitiam suas táticas, estratégias etc, e que isto teria contribuído para a desmobilização e descaracterização do movimento no final da década de 70.

Depois que a UNE foi reconstruída em 1979, o ME entrou em refluxo novamente, pois a emergência das greves operárias e da criação do Partido dos Trabalhadores (PT) em 1981, atraiu os estudantes para um novo rumo na militância político-partidária, um rumo de amplitude maior. Portanto, não se pode afirmar que a desmobilização do ME em fins de 1979 e que perdurou durante toda a década de 80, seja resultado apenas da instrumentalização das tendências políticas. Assim sendo, a proposta deste projeto é compreender esses períodos de refluxo do ME nos anos 70, identificando suas possíveis causas através de uma investigação sobre a conjuntura da época, pois a maioria dos estudos sobre o ME durante a ditadura militar enfatiza apenas a questão polítíco-partidária, o embate entre luta específica e luta geral, deixando em segundo plano a análise sobre o ambiente estudantil. Neste sentido, reafirmamos que pretendemos desenvolver um estudo que conjugue a análise teórica da influência dos grupos políticos do ME e as características peculiares da época e do universo estudantil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CAVALARI, R. M. F.: Os limites do Movimento Estudantil (1964/80). Campinas-SP, Mestrado em Educação na UNICAMP, 1987.

DIRCEU, José; PALMEIRA, Vladimir. Abaixo a ditadura: o movimento de 68 contado por seus líderes. Entrevistas, edição e cartuns: Solange Bastos, Paulo Becker, Ari Roitman e Henfil. 2. ed. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo: Garamond, 1998.

GORENDER, Jacob. Combate nas trevas. A Esquerda Brasileira: das ilusões perdidas à luta armada. 2ª ed., São Paulo. Editora Ática, 1987.

HAYASHI, M.C.P.I.: Política e Universidade: a consciência estudantil – 1964/1979. Dissertação de mestrado. Centro de Educação e Ciências Humanas, UFSCAR. São Carlos-SP. 1986.

MARTINS FILHO, João Roberto. Movimento Estudantil e Ditadura Militar: 1964-68. Campinas, SP: Papirus, 1987.

(10)

PELLICCIOTTA, M. M. B.: Uma aventura política: as movimentações estudantis da década de 70. Dissertação de mestrado. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP. Campinas-SP, 1997.

PEREIRA, M. C. Tecendo A Manhã: História do Diretório Central dos Estudantes da Unicamp. Dissertação de mestrado. Faculdade de Educação da Unicamp. Campinas-SP, 2006.

REIS FILHO, Daniel Aarão; Ferreira de Sá, Jair (Orgs.). Imagens da Revolução: Documentos Políticos das organizações clandestinas de esquerda dos anos 1961-1971. Rio de Janeiro, Ed: Marco Zero, 1985.

RIDENTI, M; REIS FILHO, D A. (orgs). História do Marxismo no Brasil, volume VI: Partidos e Movimentos após os anos 60 – Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2007. SANFELICE, José Luís. Movimento Estudantil: a UNE e a resistência ao golpe de 64. SP: Cortez: Autores Associados, 1986.

SANTOS, J. S.: Unidade e diversidade no Movimento Estudantil: a heterogeneidade das esquerdas dentro da UNE (1964-1974). Trabalho de conclusão de curso – Faculdade de Filosofia e Ciências. Unesp, Marília-SP, 89p. 2006.

VALLE, Maria Ribeiro do. 1968: O diálogo é a violência; Movimento Estudantil e Ditadura Militar no Brasil – Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1999.

ANEXOS:

ANTE PROJETO PARA DISCUSSÃO NOS GRUPOS DE TRABALHO. 10 de junho de 1969. Pesquisado no ASMOB, CEDEM.

CENTRO DE ESTUDOS HISTÓRICOS – FÓRUM DE DEBATES. USP/Agosto de 1973. Pesquisado no ASMOB, CEDEM.

Jornal Combate, nº 3. Pela formação de uma vanguarda estudantil revolucionária. 1970/1971. Pesquisado no ASMOB, CEDEM.

Referências

Documentos relacionados

O facto de se ter verificado que a praga pode, em determinados anos, causar prejuízos importantes (Bento et al., 1999), a par da importância que a olivicultura biológica assume

Após a análise da estrutura como espacial, as seções foram redimensionadas para 10, 11 e 13 fios de espaguete nos elementos tracionados, e para 17 fios nas barras

15.7.1 Não serão aceitos como documentos de identidade: certidões de nascimento, CPF, títulos eleitorais, carteiras de motorista (modelo sem foto), carteiras de estudante,

5 Diagnóstico e 1 assessoria para Acessibilidade; 5 Sensibilizações para equipes com 103 participantes; 2 Formações para Gestores com 50 participantes; 1 Assessoria para

Com o advento das smart- grids, da geração distribuída, das energias renováveis, com a regulação que vem sendo estruturada pela ANEEL e, principalmente, mediante a instabilidade

Sudeste, Nordeste e Norte do Brasil em bezerros da raça Nelore (Bos indicus), por meio de acompanha- mento da parasitemia, hematócrito e mensuração dos níveis séricos de

REPRESENTAÇÕES DA CIC F ot o: A gência Ê dis on Ca sté ncio Expediente Presidente - Carlos Heinen Vice-presidente de Indústria - Reomar Slaviero Vice-presidente de Comércio

Seja T a vari´avel aleat´oria que representa o tempo at´e a reincidˆencia do detento ao crime, as estimativas de m´axima verossimilhanc¸a para os parˆametros dos modelos Weibull e