3
análise de conjuntura
Nível de Atividade: Economia em Marcha Lenta e Choque Viral
Vera Martins da Silva (*)
O Produto Interno Bruto (PIB) fechou o ano de 2019 com aumen-to de 1,1% em relação a 2018, al-cançando o valor monetário de R$ 7.257 bilhões, dos quais R$ 6.213 (86%) refere-se ao Valor Adicionado a preços básicos e R$ 1.044 (14%) aos Impostos sobre Produtos Líquidos de Subsídios. A renda per capita foi estimada em R$ 34.533 em termos correntes, com aumento de 0,3% em termos reais em relação ao ano anterior. Cabe notar que a renda per capita estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) utiliza para o cálculo o valor do PIB estimado para o final do ano dividido pela estimativa da popula-ção no meio do ano, levando a uma
estimativa mais otimista caso se usasse a estimativa populacional do final do ano.1
O crescimento de 1,1% do PIB é formado pelo aumento de 1,1% do Valor Adicionado da produção e de 1,5% de Impostos Líquidos de Subsídios. A maior expansão dos Impostos Líquidos deve-se espe-cialmente ao aumento de 2,6% do Imposto sobre Produtos Industria-lizados e de 3,6% do Imposto sobre Importação. O Gráfico 1 apresenta o desempenho acumulado em qua-tro trimestres do PIB, do VA e dos Impostos Líquidos de Subsídios, destacando-se como os impostos são sensíveis ao desempenho da atividade econômica e como a ob-tenção de equilíbrio fiscal depende
da retomada vigorosa da economia, ao lado, evidentemente, da sempre presente racionalização de gastos públicos.
Sob a ótica da produção, destaca-se o crescimento de 1,3% da Agro-pecuária e também de 1,3% de Serviços, enquanto a Indústria continuou apresentando um de-sempenho mais fraco, de expansão de 0,5% em relação ao ano anterior. No caso da Agropecuária, os pro-dutos com maior crescimento foram o algodão (40%), laranja (5,6%) e feijão (2,2%). Por outro lado, apresentaram retração algu-mas culturas importantes como café (17%), arroz (13%), soja (4%) e cana (1%).
5
análise de conjuntura
4
análise de conjuntura
Gráfico 1 - Variação Acumulada em Quatro Trimestres do PIB, Valor Adicionado e Impostos Líquidos de Subsídios (%). 2015.1 a 2019.4
Fonte: Contas Nacionais Trimestrais/IBGE.
No caso dos Serviços, o destaque positivo foi a forte expansão de Informação e Comunicação (4%), seguido de aumento de Atividades Imobiliárias (2,3%) e Comércio (2%). Atividades como Administra-ção, defesa, saúde e educação pú-blicas e seguridade social ficaram estagnadas (0%), mostrando que a Regra de Teto dos gastos públicos globais do governo federal efetiva-mente tem contido a expansão dos gastos sociais, apesar do aumento populacional e do aumento de de-manda sobre esse tipo de gasto. A Indústria Geral ficou estagna-da com um desempenho de 0,5% entre 2018 e 2019. O melhor
de-sempenho foi no setor de Indústria de Eletricidade e gás, Água, Esgoto e Atividades de Gestão de Resídu-os, com 1,9%, e Construção, com aumento de 1,6%. A estagnação foi a marca da Indústria de Trans-formação, com 0,1%. Já Indústrias Extrativas tiveram queda de pro-dução de 1,1%, consequência do desastre em Brumadinho e seus desdobramentos para melhorar o sistema de segurança de barragens na extração de minérios, que impli-caram paralisação temporária de atividades em várias unidades. O Gráfico 2 apresenta o desempe-nho dos grandes setores da econo-mia desde o primeiro trimestre de
2015, destacando-se o tombo da Agropecuária em 2016 por condi-ções climáticas adversas, sua re-cuperação no ano seguinte e como continua apresentando resultados positivos para a economia. Já a Indústria como um todo apresenta um desempenho sofrido, com pe-quena melhora em 2018. Os Servi-ços acompanham o desempenho da economia como um todo, por sua importância relativa na economia brasileira, inclusive crescendo sua participação relativa: os Serviços representavam 72,5% em 2015 e 73,9% em 2019. A economia brasi-leira efetivamente é uma economia de serviços.
5
análise de conjuntura
4
análise de conjuntura
Gráfico 2 - Desempenho dos Grandes Setores da Economia Brasileira (Crescimento Acumulado em Quatro Trimestres %) 2015.1 a 2019.4
Fonte: Contas Nacionais Trimestrais/IBGE.
O Gráfico 3 mostra o desempenho dos ramos indus-triais desde o primeiro trimestre de 2015, destacando a performance cíclica de todos eles. Na comparação com os demais ramos, os resultados são
significativa-mente piores na Indústria da Construção. Esse ramo da indústria só apresenta resultado positivo a partir do terceiro trimestre de 2019.
7
análise de conjuntura
6
análise de conjuntura
Sob o enfoque das despesas, a maior expansão no quarto trimestre de 2019 ocorreu na Formação Bruta de Capital Fixo, de 2,2%, sendo o sétimo trimestre consecutivo de crescimento, desde o segundo trimes-tre de 2018. No último trimestrimes-tre de 2019, o Consumo das Famílias foi positivo em 1,8%, sendo o décimo trimestre consecutivo de ampliação desse tipo de
des-pesa desde o terceiro trimestre de 2017. No Gráfico 4 são apresentados os resultados acumulados em quatro trimestres, observando-se a tendência de estabilidade do Consumo do Governo e a queda significativa da Formação Bruta de Capital Físico entre 2015 e 2016. O Consumo do Governo teve queda de 0,4% ao final de 2019 no acumulado de quatro trimestres.
Gráfico 4 - Desempenho dos Componentes da Demanda (variação acumulada em quatro trimestres, %) 2015.1 a 2019.4
Fonte: Contas Nacionais Trimestrais/FIBGE.
Pelo lado das transações com o exterior, ocorreu au-mento de Importação de 1,1% do resultado de quatro trimestres encerrado no último trimestre de 2019. Já a Exportação apresentou um resultado e, no sentido inverso, relevante queda de 2,5%. Entre as Exporta-ções, destaque negativo para a redução de exportação de veículos, das indústrias extrativas metálicas e de máquinas e equipamentos, em decorrência da crise na Argentina, da tragédia em Brumadinho e de um contexto de protecionismo internacional em meio à guerra comercial.
O Gráfico 5 mostra a evolução de Importação e Expor-tação segundo os resultados das Contas Trimestrais do IBGE, notando-se a tendência de queda das duas séries desde o terceiro trimestre de 2018, mesmo antes da tragédia em Brumadinho. E as perspectivas comerciais não são boas, dada a emergência do coronavírus, que além de adoecer e matar muitas pessoas, também tem desorganizado a produção asiática e, por consequência, algumas cadeias globais de valor, com impacto sobre a capacidade de oferta da produção nacional.
7
análise de conjuntura
6
análise de conjuntura
Gráfico 5 - Desempenho de Importação e Exportação (Resultado Acumulado em Quatro Trimestres, %) 2015.1 a 2019.4
Fonte: Contas Nacionais Trimestrais/IBGE.
Enquanto isso, o desemprego e a informalidade no mercado de trabalho persistem num patamar elevado, cerca de 11,9 milhões de pessoas apenas na estimati-va mais recente de Desocupados, ou seja, aqueles que buscam trabalho. O contingente é enorme, apesar da redução de cerca de 712 mil Desocupados no trimes-tre móvel de novembro/dezembro/2019 e janeiro de 2020 em relação ao mesmo trimestre móvel do ano anterior. A melhora desse indicador do mercado de trabalho sugere que as coisas estavam se encaminhan-do para que 2020 fosse um ano promissor encaminhan-do ponto de vista econômico, pois as relações conflituosas entre os grandes parceiros econômicos mundiais pareciam estar se dissipando − o primeiro ano de mandato dos governos federal e municipal, normalmente de ajuste, já havia sido superado. Contudo, quando as expecta-tivas estavam otimistas, surgiu o grave problema de saúde pública na China, o coronavírus, que se alastrou por vários países, e as indicações são de muito sofri-mento e dificuldade para solucionar este quadro no
1 As informações aqui apresentadas têm como fonte as Contas Nacio-nais Trimestrais obtidas no site da FIBGE em 10/03/2020.