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DOXICICLINA NA MEDICINA FELINA: INDICAÇÕES, RECOMENDAÇÕES

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OXICICLINA

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EDICINA

F

ELINA

:

I

NDICAÇÕES

,

R

ECOMENDAÇÕES

E

R

ESTRIÇÕES

MV, MSc Maria Alessandra Martins Del Barrio

Mestre em Clínica Veterinária FMVZ-USP

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3

ÍNDICE

INTRODUÇÃO

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mecaNIsmO De aÇÃO

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faRmacOcINéTIca

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especTRO De aÇÃO e ResIsTêNcIa bacTeRIaNa

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INTeRaÇões meDIcameNTOsas

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efeITOs aDveRsOs e cONTRaINDIcaÇões

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INDIcaÇões Da DOxIcIclINa Na meDIcINa felINa

9

pOsOlOgIa RecOmeNDaDa paRa as maIORes INDIcaÇões De DOxIcIclINa em gaTOs 14

pONTOs chave sObRe a DOxIcIclINa

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cONsIDeRaÇões fINaIs

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RefeRêNcIas bIblIOgRÁfIcas

16

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4

Dentre os diversos antimicrobianos utilizados na medicina veterinária, as tetraciclinas ganham destaque devido à sua relevância no tratamento das hemoparasitoses, infecções por patógenos intracelulares e por micro-organismos atípicos.

Na atualidade, o fármaco mais importante desse grupo é, indubitavelmente, a doxiciclina (Figura 1), derivado sintético da oxitetraciclina de longa ação, que tem se mostrado bastante superior aos demais tetracíclicos em termos de eficácia, espectro de ação e distribuição tecidual, além de maior segurança, pois é a menos relacionada a efeitos adversos. é geralmente produzida sob a forma de cloridrato ou hiclato.

INTRODUÇÃO

Figura 1. estrutura química da doxiciclina, antibiótico tetracíclico semi-sintético.

OH

OH

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OH

OH

O

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H

H

NH

2

H

3

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N

CH

3

MV, MSc Maria Alessandra

Martins Del Barrio

- Mestre em Clínica Veterinária pela FMVZ-USP - Clínica autônoma com ênfase em Medicina Felina

- Professora de Clínica Pequenos animais na Faculdade de Medicina Veterinária da PUC - Poços de Caldas/MG (2006 a 2014) - Professora de Infectologia e Medicina Felina da Equalis - Doutoranda em Clínica Médica na FCaV UNESP - Jaboticabal

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MECaNISMO DE aÇÃO

as tetraciclinas são antibióticos bacteriostáticos, ou seja, interferem na síntese do RNa bacteriano, inibindo a síntese proteica e replicação celular dos micro-organismos suscetíveis, num efeito dependente de suas concentrações. para tanto, ligam-se reversivelmente à subunidade 30s do ribossomo bacteriano bloqueando o acesso do tRNa ao seu receptor no complexo mRNa-ribossomo (Figura 2). altas concentrações desses fármacos podem determinar efeito similar, porém mais brando, nas células dos mamíferos.

Cadeia de polipeptídeos

50S

30S

tRNA

mRNA

modelo

50S

30S

tRNA

mRNA

modelo

DOXICICLINA

Síntese

Figura 2. principal mecanismo de ação da doxiciclina, pelo qual liga-se à subunidade 30s do ribossomo bacteriano, interferindo com a síntese proteica do micro-organismo.

sugere-se que a doxiciclina possa se ligar, adicionalmente, a outras duas subunidades ribossômicas, sendo uma delas a subunidade 50s, alterando a permeabilidade da membrana citoplasmática dos patógenos, tal como fazem os macrolídeos.

propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras também são descritas nesse grupo de antimicrobianos e resultam da inibição da óxido nítrico sintetase induzível (NO sintetase) e de citocinas proinflamatorias como TNf-α.

FaRMaCOCINéTICa

após a administração oral, quase toda a doxiciclina é passivamente absorvida pelo duodeno (90-100%). sabe-se que as tetraciclinas formam quelatos insolúveis com cátions bivalentes ou trivalentes como cálcio, alumínio, magnésio, ferro, além de bicarbonato, Oh- e salicilato de bismuto. portanto, a administração simultânea de derivados do leite, suplementos vitamínicos e minerais, catárticos e antiácidos prejudica a sua absorção. apesar de ser um efeito menos intensamente observado em relação à doxiciclina, vale a cautela de intervalos de 2 horas entre a sua administração e dos demais compostos. a absorção com alimentos não lácteos não sofre prejuízos importantes (até 20%), sendo recomendada para pacientes com sensibilidade gastrintestinal ao fármaco.

a doxiciclina apresenta uma alta taxa de ligação com as proteínas plasmáticas (75-86%, podendo ser maior que 90%), principalmente nos gatos; mesmo assim, distribui-se muito bem pelo organismo. suas concentrações no sangue independem da via de administração, sendo as mesmas após administração oral ou intravenosa.

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a doxiciclina é um antibiótico de amplo espectro (Quadro 2), atuando sobre bactérias gram positivas e gram negativas, aeróbias e anaeróbias, além de rickétsias e alguns protozoários. Devido à sua excelente penetração nas paredes bacterianas, apresenta sua melhor ação sobre micro-organismos intracelulares persistentes e bactérias atípicas.

Nos felinos, nota-se maior afinidade da doxiciclina com as proteínas plasmáticas, o que faz com que esses pacientes apresentem o dobro das concentrações sanguineas observadas em cães submetidos à administração da mesma dose, representando uma distribuição pouco inferior nos gatos, além de maior potencial tóxico, principalmente animais com disproteinemias.

com lipossolubilidade cinco vezes maior que a da tetraciclina, além de muito melhor absorvida pelo trato digestório, difunde-se melhor para todos os tecidos e fluidos (Quadro 1) em concentrações inibitórias efetivas, inclusive sNc e próstata, (além de atravessar a placenta e ser eliminada pelo leite) em doses terapêuticas. Devido à sua grande capacidade de penetração pelas paredes e membranas celulares, atinge altas concentrações intracelulares, o que lhe confere meia vida longa, com menor frequência de administrações.

sua principal forma de eliminação não é hepática ou renal, mas sim por secreção não biliar de compostos inativos difundidos pela parede do intestino (90% fecal). Uma pequena fração sofre exceção biliar pela circulação entero-hepática ou eliminação renal (20-25%). por isso, não atinge concentrações urinárias efetivas contra muitos patógenos.

Quadro 1. Tecidos e fluidos de atuação da doxiciclina..

bile

coração

esputo

fluidos

humor aquoso

humor vítreo

próstata

pulmões

Rins

saliva

secreções brônquicas

seios paranasais

sistema Nervoso central

Trato Reprodutor feminino

D

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A

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gram + poucos Staphylococcus sp poucos Streptococcus sp Bacillus sp Listeria sp Nocardia sp gram - Bartonella sp Bordetella bronchiseptica Brucella sp Campylobacter sp Enterobacter sp Franciella sp Helicobacter sp Klebsiella sp Yersinia sp anaeróbios Clostridium sp Fusobacterium sp Actinomyces sp Outros Chlamydia sp Mycoplasma sp Ehrlichia sp Wolbachia sp Leptospira sp Borrelia sp

algumas micobactérias (Mycobacterium avium,

Myco-bacterium lepraemurium)

Quadro 2. espectro de ação da doxiciclina..

a resistência bacteriana às tetraciclinas envolve mutações genéticas e transmissão por plasmídeos.

as mutações no gene tetK envolvem porinas e aumento do efluxo do antibiótico das células. Dos mecanismos transmitidos por plasmídeos, citam-se: redução do influxo do fármaco, aumento do seu efluxo (por

mecanismos dependentes de energia), diminuição do acesso aos ribossomos e inativação enzimática. a resistência à doxiclina é raramente observada em cães e gatos, mesmo quando referente a Chlamydia sp e

rickétsias, diferentemente do que se relata na espécie suína.

micro-organismos naturalmente resistentes à doxiciclina são Escherichia coli, Klebsiella sp, Bacteroides

sp, Enterobacter sp, Proteus sp e Pseudomonas sp. Relata-se resistência crescente de algumas cepas de Staphylococcus e Streptococccus.

INTERaÇõES MEDICaMENTOSaS

Os tetracíclicos têm a propriedade de quelar íons, principalmente cátions bi ou trivalentes. apesar de tal efeito não ser tão observado com relação à doxiciclina, a administração conjunta com suplementos ou medicamentos contendo cálcio, ferro, alumínio, bismuto, zinco, magnésio, bicarbonato (hcO3-) e hidróxidos (Oh-) bem como antiácidos orais, caolim e pectina, deve ser evitada, pois pode comprometer a absorção e, consequentemente, a sua biodisponibilidade.

Recomendam-se intervalos de 2 horas entre a sua administração e dos demais compostos, desde que não contenham ferro; nesse caso, sugere-se um intervalo de 3 horas entre as medicações.

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a doxiciclina apresenta a grande vantagem de não ser incrimidada por todos os efeitos colaterais associados às outras tetraciclinas. O mais importante deles é a nefrotoxicidade, pois não agrava a azotemia pré existente e nem causa necrose tubular aguda, sendo a tetraciclina de escolha para nefropatas e azotêmicos.

Outro efeito mais atenuado é a sua fixação em estruturas mineralizadas e dentes em desenvolvimento, ocasionando prejuízos à calcificação de fraturas, deformidades ósseas, retenção de decíduos, hipoplasia do esmalte e descoloração dentária. mesmo assim, é prudente evitar seu uso em fêmeas prenhes

(principalmente na segunda metade da gestação), lactantes e lactentes. portanto, pode ser prescrita para animais jovens com menos de 6 meses de idade, a partir do desmame, desde que os benefícios sejam superiores aos riscos.

em contrapartida, é potencialmente hepatotóxica, pois interfere com o sistema microssomal, podendo ocasionar degeneração parenquimatosa, com aumento da atividade sérica de alT (alanina aminotransferase) e da fa (fosfatase alcalina), principalmente em felinos.

Náusea e emese são efeitos adversos comumente observados, devido à irritação gastroduodenal, mas facilmente burlados se o fármaco for administrado juntamente com alimento.

em gatos, esofagite e subsequente estenose esofágica (figura 3) são os principais e mais preocupantes efeitos adversos da administração oral da doxiciclina. Isso ocorre devido à estagnação de comprimidos ou drágeas no esôfago (por pelo menos 4 minutos), com a liberação local do composto, determinando irritação na a doxiciclina aumenta a biodisponibilidade da digoxina, aumentando sua toxicidade, devido à sua alta afinidade com as proteínas plasmáticas; reduz a meia vida de anticonvulsivantes como hidantoína e fenobarbital que, por sua vez, determinam que suas concentrações plasmáticas sejam reduzidas; e a associação com a rifampina aumenta seu clearance, diminuindo sua eficácia. como inibe as enzimas microssomais, pode comprometer a eliminação de algumas substâncias.

vale ressaltar que, como um antibiótico bacteriostático, inibe a ação de agentes bactericidas. portanto, devido ao antagonismo farmacológico, tal associação deve ser evitada (mesmo que existam controvérsias a esse respeito).

EFEITOS aDVERSOS E CONTRaINDICaÇõES

Figura 3. esofagite e estenose esogágica em gatos submetidos à administração oral de comprimidos de doxiciclina, sem os cuidados necessários.

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INDICaÇõES Da DOxICIClINa Na MEDICINa FElINa

mucosa de intensidade variável. Quanto mais longo o tratamento, maior a extensão e gravidade da lesão. Tal efeito é descrito em cães, equinos e humanos. Nos felinos é mais comum em decorrência da má lubrificação esofágica dos gatos aliada à frequente administração de comprimidos fragmentados (metade, um quarto), com exposição do medicamento. a fim de evitar tais complicações, recomenda-se lubrificar o comprimido (azeite, margarina, manteiga, pastas para controle de “bolas de pelo”), forçar a ingestão de 5-6ml de água ou oferecer 30g de alimento após a sua administração. Uma outra saída é optar por comprimidos solúveis ou apresentações líquidas.

Devido à sua alta lipossolubilidade, as formas injetáveis causam menos tromboflebite e necrose tecidual que as demais tetraciclinas. mesmo assim, seus usos subcutâneo e intramuscular são pouco recomendados. a administração intravenosa (Iv) rápida pode causar arritmias, bradicardia e hipotensão (fatal em animais anestesiados com metoxifluorano), devido à capacidade do fármaco de quelar o cálcio circulante. alterações eletrocardiográficas observadas nesses casos são extra-sístoles, depressão do segmento sT, onda T negativa e aumento do intervalo pR (bloqueio atrioventricular). portanto, sugere-se a administração Iv lenta, durante 2 a 3 minutos.

mais raramente, citam-se a granulocitopenia (neutropenia e eosinopenia), trombocitopenia, hipersensibilidade e fotossensibilidade (com edema e eritema cutâneo).

é descrita a precipitação nos túbulos renais de medicamentos fora do prazo de validade.

seu uso crônico ou repetitivo pode determinar supercrescimento bacteriano de micro-organismos resistentes (superinfecções).

considerando o espectro de ação e as infecções mais importantes clinicamente (Figura 4), segue uma breve descrição das principais indicações da doxiciclina para os gatos.

Bordetellla bronchiseptica Chlamydia felis Bartonella henselae Mycobacterium fortuitum Mycoplasma hemofelis Mycoplasma spp. Erlichia spp.

Figura 4. principais indicações de doxiciclina para os felinos. Fonte: arquivo pessoal.

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Figura 5. conjuntivite por Chlamydia felis: intensa quemose bilateral. Fonte: arquivo pessoal.

Chlamydia felis é um dos agentes do complexo Respiratório felino, muito prevalente em gatos não

imunizados de colônias populosas. Ocasiona conjuntivite bacteriana, caracterizada por intensa quemose, secreção mucopurulenta e prurido (Figura 5). O diagnóstico clínico pode ser confirmado pela observação de inclusões bacterianas nas células da conjuntiva (citologia do saco conjuntival, corada pelo panótico) ou pcR de secreção ocular.

Requer tratamento tópico (pomada de tetraciclina) e sistêmico (doxiciclina).

Clamidiose

Outro agente bacteriano primário (traqueíte, bronquite) ou associado ao complexo Respiratório felino (rinite). em felinos, determina ou acentua quadros secreção nasal e ocular e espirros, linfadenopatia, febre e quadros tussígenos

(Figura 6).

em animais imunossuprimidos, as infecções brônquicas podem evoluir para infecção pulmonar.

O diagnóstico se baseia nos achados clínicos e isolamento do agente por cultura ou pcR das secreções. O agente é sensível às quinolonas, azitromicina ou doxiciclina.

Bordetella BronChiseptiCa

Figura 6. felino com acentuado quadro oculonasal e febre, associados à infecção por Bordetella bronchiseptica. Fonte: arquivo pessoal.

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Doenças rinossinusais bacterianas (rinite/sinusite) são quase sempre secundárias a outros processos tais como infecções virais (Rinotraqueíte herpética, calicivirose), micoses profundas (criptococose, esporotricose), fendas palatinas, odontopatias, processos alérgicos ou neoplásicos.

micro-organismos frequentemente associados a esses quadros são Pasteurella sp e Mycoplasma sp, ambos sensíveis à doxiciclina, que apresenta excelente penetração e ação nas cavidades nasais e paranasais. culturas e pcR, a partir de material colhido por swabs nasais ou rinoscopia definem o diagnóstico.

Mycoplasma sp também pode ser um complicante dos quadros acentuadamente secretores de bronquite

crônica felina, caracterizados por acentuada produção de muco nas vias aéreas. O principal sintoma é tosse produtiva (percebemos a ascensão e deglutição do muco nos acessos de tosse). suspeitamos de infecção secundária nos gatos com febre associada ou baixa resposta terapêutica ao tratamento padrão (broncodilatador + corticosteroide). Recomenda-se a administração de doxiciclina, nesses casos. contraindica-se a administração de N-acetil cisteína como mucolítico, pois causa importante broncoespasmo e pode agravar o estado clínico dos pacientes.

infeCções seCundárias do trato respiratório

além da sua participação em doenças respiratórias, Mycoplasma sp e Chlamydia felis também podem causar quadros de poliartrite nos felinos, caracterizados por tumefação das articulações (principalmente carpos e tarsos), claudicação, impotência funcional, febre e prostração (Figura 7).

poliartrites

Figura 7. felino sRD prostrado, com impotência funcional dos quatro membros, devido à poliartrite causada por Mycoplasma sp. Notável tumefação dos carpos e tarsos. Fonte: arquivo pessoal.

para o diagnóstico, além de avaliação física e radiográfica, requer-se exame citológico e microbiológico (cultura e pcR) de líquido sinovial.

anti-inflamatórios não esteroidais (aINes) como meloxicam, cetoprofeno ou carprofeno (esse, off label) são preferíveis aos corticoides devido à origem infecciosa desses processos.

a indicação da doxiciclina nesses casos é baseada no seu espectro de ação, nas altas concentrações em que é encontrada no líquido sinovial, além da sua propriedade de inibir metaloproteinases da matriz responsáveis pela progressão de doença osteoarticular.

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Figura 8. micobacteriose atípica em feline submetido à ressecção cirúrgica. Fonte: The cat, clinical medicine and management (susan e. little).

as micobactérias são notórias por determinar infecções crônicas e apresentar crescimento lento. Quando fogem a esse padrão são classificadas como atípicas ou micobactérias de crescimento rápido, apresentando boa resposta à doxiciclina.

O principal agente que se enquadra nessa descrição é Mycobacterium fortuitum, responsável pela

micobacteriose atípica, propriamente dita. a doença se caracteriza por feridas que não cicatrizam em sítios de mordedura, principalmente na região inguinal ou flanco, podendo se estender por todo o abdomen (Figura 8). O diagnóstico requer citologia e/ou histopatologia, muitas vezes associada à imunoistoquímica. cultura e pcR também podem ser realizados.

O tratamento é multiterápico, incluindo ressecção cirúrgica da área afetada e antibioticoterapia tópica e sistêmica longa (3 meses a 1 ano). há boa resposta com quinolonas (enrofloxacina e marbofloxacina), claritromicina e doxiciclina.

miCoBaCterioses

a principal hemoparasitose dos felinos domésticos, a antiga hemobartonelose, mudou de nome a partir dos avanços da biologia molecular. seus principais agentes etiológicos são bactérias do gênero mycoplasma (Mycoplasma haemofelis e Candidatus Mycoplasma haemominutum), transmitidos por ectoparasitas hematófagos (principalmente as pulgas), mas também por iatrogenias (transfusão de sangue), que infectam as hemácias. são epicelulares, pois não adentram a célula, fixando-se na sua superfície (Figura 9).

miCoplasmose hemotrópiCa felina

Figura 9. Mycoplasma hemofelis na superfície das hemácias de

um felino doméstico. esfregaço corado pelo panótico, avaliado por microscopia óptica. aumento de 100x. Fonte: arquivo pessoal.

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esses agentes têm característica comensal (não beneficiam nem prejudicam seus hospedeiros), a não ser que a bacteremia seja tão intensa que supere a capacidade do sistema imune em manter o agente sob controle. significa que, em condições normais, gatos infectados não são gatos doentes. a manifestação clínica requer infecções aguda maciças ou imunossupressão por vírus (principalmente felv) ou drogas. a micoplasmose hemotrópica é caracterizada por anemia hemolítica, predominantemente extravascular. gatos doentes são, obrigatoriamente, anêmicos e apresentam esplenomegalia. pode haver icterícia associada (Figura 10). O hemograma usualmente mostra uma anemia macrocítica hipocrômica regenerativa (reticulócitos

Figura 10. gato com anemia hemolítica, decorrente de micoplasmose hemotrópica, apresentando palidez de mucosas e icterícia. Fonte: arquivo pessoal..

agregados). para a pesquisa de Mycoplasma sp nos esfregaços, é necessário que os mesmos sejam confeccionados a fresco. a imersão das hemácias em frasco contendo anticoagulante proporciona o

desprendimento das bactérias de sua superfície, acarretando na possibilidade de resultados falsos negativos. a pesquisa positiva do agente na pcR ou esfregaços sanguíneos só serve para diagnóstico em animais que apresentem essas características clínicas e laboratoriais. animais doentes e positivos para Mycoplasma sp, que fujam dessas características, devem ter outro quadro mórbido a ser pesquisado.

a droga de escolha para o tratamento é a doxiciclina. a resposta ao tratamento já deve ser obsrervada nas primeiras 48 horas; caso contrário o diagnóstico deve ser reavaliado.

faz-se mandatório o controle de ectoparasitas como medida profilática.

bactéria, também transmitida pela pulga, tem gatos bacterêmicos como fonte de infecção para outros que também sirvam para o repasto do vetor. pulgas que se alimentam de gatos bacterêmicos eliminam o agente infeccioso nas fezes. Indivíduos infectados e infestados por pulgas podem, portanto, contaminar a cavidade oral e os leitos ungueais com esses dejetos durante o prurido. a partir daí, pode ocorrer a transmissão por arranhadura ou mordedura.

gatos positivos são, na maioria das vezes, portadores assintomáticos. clinicamente, a maior relevância de

B.henselae para os felinos é a sua participação em alguns casos de complexo gengivite estomatite crônico.

mais raramente, pode causar glomerulonefrite, uveíte, endocardite e neuropatias, na espécie.

humanos infectados a partir de acidentes com gatos pode apresentar doença branda ou angiomatose bacilar, na dependência de seu status imune.

O diagnóstico é determinado por hemocultura ou pcR, e a antibioticiterapia pode ser realizada com azitromicina, rifampicina, eritromicina, enrofloxacina ou doxiciclina. há controvérsias entre tratar ou não indivíduos assintomáticos. a maior parte dos autores guarda o tratamento apenas para gatos doentes. mais uma vez, o controle de ectoparasitas é fundamental.

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a pododermatite linfoplasmocitária é uma doença imunomediada dos coxins (palmares e plantares,

principalmente) que lhes confere um aumento de volume macio, sensível ou não, e muitas vezes ulcerado, de coloração variável entre róseo, eritematoso e arroxeado (Figura 11).

O diagnóstico é confirmado por biópsia incisional com punch (preferencialmente de todos os coxins acometidos) e exame histopatológico.

a base do tratamento é imunossupressão com prednisolona (4mg/kg ao dia, com redução gradual da dose a partir da melhora clínica). caso quadro clínico seja brando ou o tratamento se mantenha por um período muito extenso, o corticoide pode ser substituído por doxiciclina (dose imunomoduladora) ou ciclosporina. O máximo efeito, no entanto, demora mais para ser alcançado (1 a 2 meses).

pododermatite linfoplasmoCitária

Figura 11. pododermatite linfoplasmocitária em gata sRD, caracterizada por importante aumento de volume dos coxins (mais exuberante nos plantares), em ambos os membros pélvicos. Fonte: arquivo pessoal.

Relatos mundiais de erliquiose em gatos têm sido mais frequentes na última década, desde sua primeira descrição em 1986, sendo os carrapatos e as transfusões de sangue também incriminados na transmissão para essa espécie.

a doença nos felinos apresenta as mesmas características que as observadas em cães, como esplenomegalia, linfadenopatia, febre, hiperglobulinemia, hipoalbuminemia, leucocitose ou leucopenia, anemia e

trombocitopenia, além de quadros imunomediados como uveíte e glomerulonefrite.

O diagnóstico é realizado por meio de sorologia para Ehrlichia canis, pcR e pesquisa de mórulas de Ehrlichia

sp em leucócitos circulantes.

O tratamento é o mesmo que recomendado para cães, sendo a doxiciclina o fármaco de escolha, a ser administrado por 3 a 4 semanas.

erliquiose felina

POSOlOGIa RECOMENDaDa PaRa aS MaIORES INDICaÇõES Da DOxICIClINa EM GaTOS

apesar de apresentar meia vida longa, e muito superior às demais tetraciclinas, recomenda-se a divisão da dose diária da doxiciclina a cada 12 horas para os felinos, pois sua biodisponibilidade é um pouco menor na espécie, bem como sua meia vida de cerca de 4,5 horas.

a posologia recomendada para as diferentes afecções discutidas previamente encontra-se disposta no

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AFECÇÃO/AGENTE ETIOLÓGICO OU POSOLOGIA

bartonelose (Bartonella henselae) 10mg/kg sid ou 5mg/kg bid*/6 semanas

Bordetella bronchiseptica 10mg/kg sid ou 5mg/kg bid*/2-4 semanas bronquite (Mycoplasma sp) 10mg/kg sid ou 5mg/kg bid*/2-4 semanas clamidiose (Chlamydia felis) 10mg/kg sid ou 5mg/kg bid*/28 dias erliquiose (Ehrlichia canis) 10mg/kg sid ou 5mg/kg bid*/3-4 semanas micobacteriose atípica (Mycobacterium fortuitum) 10mg/kg sid ou 5mg/kg bid*/3 meses – 1 ano micoplasmose hemotrópica (Mycoplasma

hemofelis) 10mg/kg sid ou 5mg/kg bid*/28 dias

pododermatite linfoplasmocitária 7,5-12,5mg/kg bid/ 2-6 meses (dose imunomoduladora)

poliartrite (Mycoplasma sp ou Chlamydia felis) 10mg/kg sid ou 5mg/kg bid*/4-8 semanas Rinossinusites (Mycoplasma sp ou Pasteurella sp) 10mg/kg sid ou 5mg/kg bid*/2-16 semanas

Quadro 3. Recomendações posológicas da doxiciciclina para diferentes afecções/agentes infecciosos em gatos.

– Antibiótico bacteriostático de amplo espectro.

grande indicação para infecções por micro-organismos intracelulares. – Não nefrotóxica.

– Hepatotóxica.

evitar em gestantes, lactantes e lactentes.

– Não administrar juntamente com produtos lácteos, suplementos nem medicamentos contendo cálcio, ferro, magnésio, alumínio ou antiácidos.

– Realizar administração IV lenta para evitar hipotensão, arritmias e morte súbita. – Evitar administração sc ou Im.

– Lubrificar compromidos e cápsulas antes da administração oral para gatos, ou forçar a ingestão de água ou alimento após o medicamento para evitar alterações esofágicas.

– Dividir a dose diária a cada 12 horas para os felinos, pois a meia vida na espécie é mais curta.

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REFERêNCIaS BIBlIOGRáFICaS

CONSIDERaÇõES FINaIS

a doxiciclina é um excelente agente microbiano, cuja utilização será bem sucedida se realizada de forma criteriosa, respeitando suas indicações, limitações e com as medidas profiláticas cabíveis contra seus principais eventos adversos. existem várias indicações para seu uso na medicina felina, mas faz-se necessário um correto diagnóstico e o compromisso responsável do veterinário em relação ao paciente.

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Indicações:

antibiótico de amplo espectro indicado no tratamento de hemoparasitoses, infecções respiratórias, geniturinárias, dermatológicas, articulares e de tecidos moles.

febre maculosa (Rickettsia rickettsii),

erliquiose canina (Ehrlichia spp)

micoplasmose hemotrópica felina - antiga hemobartonelose (Mycoplasma haemofelis)

Outras micoplasmas (Mycoplasma felis, M.canis, M.gatae, etc)

Doença da arranhadura do gato (Bartonella henselae)

Doença de lyme (Borrelia burgdorferi)

Outras: leptospirose na fase de leptospirúria (leptospira spp.), brucelose (Brucella), clamidiose (Chlamydia spp), bordetelose (Bordetella bronchiseptica), entre outras.

Posologia e modo de usar:

– 5 mg/kg, a cada 12 horas ou 10 mg/kg a cada 24 horas, 7-28 dias ou a critério do médico veterinário

– manter o tratamento por 48 horas após a remissão dos sintomas.

– brucelose: 25 mg/kg, a cada 24 horas, durante 4 semanas. eliminação do estado de portador: associação.

– fazer o animal ingerir água ou comida após a administração do comprimido.

Apresentações:

Doxitrat 80mg contendo 12 comprimidos palatáveis e bissulcados

Doxitrat 80mg contendo 24 comprimidos palatáveis e bissulcados

Doxitrat 200mg contendo 24 comprimidos palatáveis e bissulcados

Características e Benefícios:

– possui amplo espectro de ação, portanto indicado na maioria das infecções causadas por bactérias.

– alta penetração em tecidos (5 a 50 vezes mais lipossolúvel que as demais tetraciclinas).

– fácil administração: comprimidos altamente palatáveis.

– Dose certa: comprimidos bissulcados que facilitam a administração da dose certa de acordo com o peso dos cães e gatos.

– pode ser utilizado em filhotes com mais de 30 dias de vida.

– eficácia: produto rapidamente absorvido (70 a 80%) atingindo seu pico de concentração em um período de 1 a 3 horas após a administração.

Tabela de Doses:

Doxitrat

80mg

5 mg/kg cada

12 horas

10 mg/kg cada

24 horas

4 Kg

¼ cp

½ cp

8 Kg

½ cp

1 cp

16 Kg

1 cp

2 cp

32 Kg

2 cp

Doxitrat

200mg

5 mg/kg cada

12 horas

10 mg/kg cada

24 horas

10 Kg

¼ cp

½ cp

20 Kg

½ cp

1 cp

30 Kg

¾ cp

1+½ cp

(18)

Indicações:

antiácido à base de omeprazol.

Indicado no tratamento e prevenção de úlceras e erosões do estômago e duodeno de cães e gatos.

Posologia e modo de usar:

– Dose: 0,7 a 1 mg por quilograma de peso do animal, a cada 24 horas, durante 10 a 14 dias ou a critério do médico veterinário.

– 1 comprimido de gaviz v 10 mg para cada 10 kg de peso, a cada 24 horas, por 10 a 14 dias.

– 1 comprimido de gaviz v 20 mg para cada 20 kg de peso, a cada 24 horas, por 10 a 14 dias.

Apresentações:

Gaviz V 10 mg e Gaviz V 20 mg

Display contendo 5 strips com 10 comprimidos cada

Características e Benefícios:

– é um antiácido inibidor da bomba de prótons, portanto comprovadamente potente e eficaz, além de ser bastante seguro.

– apresentação em strips, facilitando aquisição tanto para tratamentos longos quanto de curta duração.

Tabela de Doses:

Peso do animal

GavizV

10 mg

10 kg

1 comprimido

20 kg

2 comprimidos

30 kg

3 comprimidos

40 kg

4 comprimidos

Peso do animal

GavizV

20 mg

20 kg

1 comprimido

40 kg

2 comprimidos

60 kg

3 comprimidos

(19)

Indicações:

suplemento alimentar para gatos a base de extrato de malte, lecitina de soja, vitaminas e aminoácidos.

Posologia e modo de usar:

– administrar 2 cm de ball free uma vez ao dia, pela via oral, durante 15 dias, diretamente na boca do gato ou sobre suas patas dianteiras.

– após esse período, administrar 2cm uma vez por semana, regularmente

Apresentação

– bisnaga contendo 70 gramas.

Características e Benefícios:

– O extrato de malte e a lecitina de soja favorecem a eliminação de bolas de pelos naturalmente, através das fezes.

– fácil administração: sabor agradável e atrativo aos gatos.

Tabela de Doses:

POSOLOGIA

1ª semana 2ª semana Regularmente

2 cm, via oral,

(20)

Referências

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