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Tumores neuroendócrinos são aqueles que se desenvolvem a partir de células

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Academic year: 2021

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INTRODUÇÃO

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umores neuroendócrinos são aqueles que se desenvolvem a partir de célu-las do sistema endócrino difuso. Portanto, esta ampla família de tumores podem ser originários de vários epitélios e também em diferentes órgãos como o pâncreas, paratireóides, adrenais, hipófise, tireoide, etc. Embora sejam uma linhagem de tumores considerados raros, análises mostram progressivo aumento em sua detecção nas últimas décadas1,2. A maioria desses tumores

pare-ce ser de origem esporádica, entretanto hábitos ou fatores ambientais de risco para o aparecimento dessas lesões não são conhecidos.

Os tumores neuroendócrinos gástricos, descritos há mais de um século como sendo tumores biologicamente diferentes e de evolução mais indolente que os ade-nocarcinomas, vêm sofrendo recentemente grandes transformações conceituais e de manuseio clínico. Os tumores neuroendócrinos gástricos fazem parte de um grupo heterogêneo de neoplasias com origem nos vários tipos de células neuroen-dócrinas que compõe a glândula gástrica; no entanto, a célula enterocromafim-like é a célula que mais frequentemente da origem a esses tumores, em situação que há hipergastrinemia. Apesar da ampla variedade de possibilidades, esses tumores apre-sentam um fenótipo comum, que é a coloração no exame imunohistoquímico aos marcadores considerados “pan-neuroendócrinos”. A partir do desenvolvimento desse recurso técnico imunológico houve aumento da precisão, reduziu-se a ambi-guidade, permitindo adequado diagnóstico e classificação deste grupo de doenças. Atualmente, na análise de biópsia ou peça cirúrgica em que haja suspeita de lesão neuroendócrina, são solicitados os exames imunohistoquímicos para Cromogranina A e Sinaptofisina. Outros marcadores como a neuron-specific

eno-lase (NSE) e CD56 também podem ser úteis, pois são frequentemente positivos, sendo entretanto de baixa especificidade para esta entidade3,4. Pode-se solicitar

ainda análise para outros marcadores imunohistoquímicos, pois frequentemente tumores neuroendócrinos produzem substâncias vasoativas detectáveis neste exame. Entretanto, apesar de as produzirem e serem detectáveis através da colo-ração na histologia, a apresentação clínica como a síndrome carcinóide é inco-mum, pois estas células produzem e acumulam essas substâncias vasoativas no citoplasma, mas não as secretam para o extracelular3,4.

Osmar Kenji Yagi, Donato Roberto Mucerino, Fabio Pinatel Lopasso, Marcus Fernando Kodama Pertille Ramos, André Roncon Dias, Carlos Eduardo Jacob, Claudio José Caldas Bresciani, Marcelo Mester, Cynthia Maria

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Ainda com respeito ao exame histológico, a realização da imunohistoquí-mica para o Ki-67 (MIB-1) e a contagem do número de mitoses são mandatórios para se identificar e estadiar o grau do tumor de acordo com a Classificação TNM 7ª. Edição da Organização Mundial da Saúde (WHO) (Quadro 1).

Quadro 1. Classificação histológica e estadiamento dos tumores neuroendócrinos (who 2010)

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Como apresentado acima, os tumores neuroendócrinos têm sua classifica-ção histológica baseada em dois critérios: diferenciaclassifica-ção e grau. Dessa forma podemos classifica-los em três categorias:

- Tumor neuroendócrino bem diferenciado de baixo grau (G1)

- Tumor neuroendócrino bem diferenciado de grau intermediário (G2)

- Tumor neuroendócrino pouco diferenciado de alto grau (G3), também conhe-cido como “carcinoma neuroendócrino de alto grau” ou “carcinoma de pe-quenas células”. Estes são caracterizados por apresentarem elevados índices de mitose e comportamento biológico agressivo.

Quadro 2. Classificação fisiopatológica dos tumores neuroendócrinos gástricos.

A grande maioria dos tumores neuroendócrinos encontrados na câmara gástrica é classificada clinicamente como sendo do Tipo 1, ou seja, aproximada-mente 75% dos casos são menores que 1 cm, são múltiplos e polipóides (Quadro 2). São tumores que se originam das células enterocromafins-like. Doenças autoi-munes ou problemas ambientais podem levar à destruição das células parietais localizadas no corpo e fundo gástricos e, com isso, diminuir a produção local de ácido clorídrico. Na tentativa de estimular a produção ácida por mecanismo de

feedback, esse regime de hipocloridria determina que as células G do antro e

duo-deno permaneçam em permanente estimulação, produzindo níveis elevados de gastrina. A hipergastrinemia estimula a proliferação das células enterocromafins-like e com isso, levar à hiperplasia e formação de pólipos. Essas lesões apresen-tam baixa probabilidade de levar a formação de metástases, menor que cinco por cento, e quase sempre apresentam bom prognóstico (5), pois a mortalidade rela-cionada a esse tipo de tumor é praticamente zero. É importante a confirmação de que estes pacientes apresentam gastrina sérica elevada, decorrente de gastri-te crônica atrófica, que pode ser descrita macroscopicamengastri-te pelo endoscopista e confirmada pela biópsia dessa região. Em casos raros em que não há dados macroscópicos ou microscópicos de atrofia, a dosagem de pH intragástrico de jejum menor ou maior que quatro pode ser de ajuda na discriminação entre a hipergastrinemia como causa da hiperacidez gástrica (tumor produtor de gastri-na) ou em consequência à hipocloridria. A gastrite crônica atrófica pode ser de origem autoimune e a coleta de exames específicos, como os anticorpos anti

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célu-las parietais e anti fator intrínseco podem ser úteis; eventualmente, baixos níveis séricos de vitamina B12 e de ácido fólico, por déficit de absorção e produção, res-pectivamente, pode ser causa de anemia megaloblástica. Cabe aqui lembrar ainda que a gastrite crônica atrófica autoimune pode fazer parte de um conjun-to de sinais e sinconjun-tomas raros denominada Síndrome Poliglandular Auconjun-toimune ou Síndrome de Schmidt, em que estão envolvidos, além de anticorpos contra as células do estômago, anticorpos contra a tireóide ocasionando hipotireoidismo, anticorpos contra o pâncreas ocasionando o Diabetes Mellitus tipo 1, e anticor-pos contra as adrenais, sendo este último o limitante tardio mais importante para a qualidade de vida do paciente acometido. Esses pacientes são quase sempre do sexo feminino e em sua grande maioria apresentam como manifestação clínica alopécia e vitiligo6-8.

Os tumores Tipo 2 também se formam pelo aumento da gastrina sérica, a qual está elevada devido ao aparecimento de outro tumor neuroendócrino, o Gastrinoma e à consequente Síndrome de Zollinger-Ellison. Esses tumores Tipo 2 quase sempre aparecem quando a Síndrome de Zollinger Ellison faz parte da Neoplasia Endócrina Múltipla do tipo I. Cerca de cinco por cento dos tumores neuroendócrinos gástricos são do tipo 2, e embora apresentem aspecto endoscó-pico semelhante ao de Tipo 1, podem levar pouco mais frequentemente à for-mação de metástases, e assim apresentar pior prognóstico. É oportuno lembrar que o gastrinoma pode ser acompanhado de diarreia e úlcera péptica duodenal ocasionada pela hipersecreção ácida gástrica, e os aspectos macroscópico e microscópico da mucosa gástrica auxiliarão no diagnóstico. Como parte da Neoplasia Endócrina Múltipla do tipo 1, pode haver ainda tumores sincrônicos ou não, geralmente benignos na pituitária, paratireoide e pâncreas, e raramente córtex adrenal, e por isso devem ser investigados.

Os tumores neuroendócrinos gástricos do Tipo 3, ocorrem em 15 a 25% dos casos, não estão relacionados à alteração da gastrinemia, são geralmente únicos e maiores que dois centímetros. Pode-se dizer que do ponto de vista de comportamento neoplásico apresentam-se semelhantes aos adenocarcinomas e são frequentemente pouco diferenciados e de alto grau (G3) pela classificação histológica da WHO1. Há evidências de que esses tumores se disseminam mais

precocemente que os adenocarcinomas, já que lesões menores que cinco, dez e vinte milímetros apresentam muito mais metástases que os adenocarcinomas de mesmo tamanho9-11. As células neuroendócrinas por estarem quase sempre na

base das glândulas gástricas, faria com que rapidamente alcancem a muscular da mucosa e a submucosa, facilitandoa ocorrência de metástase (Quadro 3).

APRIMORAMENTO DOS EXAMES DE IMAGEM

Outra característica biológica que ganhou grande importância no manu-seio do tumor neuroendócrino nos anos recentes reside no fato de apresentarem, em quase totalidade dos casos, aumentado número de receptores da somatosta-tina na superfície da membrana celular. Há uma variedade de subtipos de

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recep-tores, entretanto os mais frequentemente encontrados nos tumores neuroendó-crinos do trato gastrointestinal são os subtipos 2 e 5. Para se ligar a esses recep-tores, vários análogos da somatostatina vêm sendo utilizados como ferramenta com finalidade diagnóstica e terapêutica. Com objetivos de diagnóstico e esta-diamento já é corriqueira, como técnica de geração de imagem, a utilização da cintilografia conhecida como Octreoscan. Essa modalidade surgiu inicialmente como a cintilografia realizada após administração endovenosa do elemento quí-mico radioativo Indio111 ligado à molécula de octreotida, um análogo da

soma-tostatina. Essa segunda substância se ligaria aos receptores da somatostatina pre-sentes na membrana celular dos tumores neuroendócrinos e o elemento radio-ativo concentrado nesse local “denunciaria” a presença concentrada dessas célu-las tumorais, através da captação da radiação emitida. Mais recentemente esse exame foi modificado, pois o emprego de outro elemento químico, o Tecnécio marcado com a octreotida apresentava maior acurácia, além de ser mais barato e necessitando menos tempo para sua realização.

Uma grande inovação e aprimoramento, que já é realidade no exterior, está prestes a ocorrer no país na área de imagem dos tumores neuroendócrinos. Através da elaboração de novas moléculas ligantes e de novos equipamentos, os receptores da somatostatina presentes nos tumores neuroendócrinos têm sido ligados a outro tipo de elemento químico radioativo, o Gálio68, que pode ser

cap-tado nos aparelhos de emissão de pósitrons acoplados a tomografia, os PET-CT12.

Ou seja, ao invés da captação ocorrer no sítio de maior metabolismo de glicose, como quando utilizamos o FDG do PET-CT, o exame “acende” nos locais onde há maior concentração de análogos da somatostatina marcada injetada de forma endovenosa. Trabalhos científicos têm demonstrado superioridade deste método com relação ao Octreoscan e provavelmente se tornará o “padrão-ouro” na detecção desse tipo de doença.

APRIMORAMENTO DA RADIOTERAPIA

A presença de receptores da somatostatina na membrana da células tumo-rais neuroendócrinas permite não apenas a marcação radioativa e sua identifica-ção. Nos últimos anos os análogos da somatostatina foram ligados a outros ele-mentos radioativos, porém não com o intuito de localização topográfica das lesões. O objetivo seria de radioterapia tópica e “teleguiada”. Como “torpedos” liberados por administração endovenosa e guiados para chegar e se acoplar ao alvo, via complexo de ligação análogo da somatostatina e seu receptor. Teríamos a destruição das células tumorais, com menos efeitos colaterais danosos sobre as células normais adjacentes ou de trajeto da radioterapia externa convencional. Os elementos químicos mais estudados e utilizados até o momento com essa fina-lidade são o Lutécio, Itérbio e o Ítrio3.

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APRIMORAMENTO DOS MARCADORES TUMORAIS NEUROENDÓCRINOS

Com relação aos exames complementares, o diagnóstico e principalmente o seguimento do paciente, bem como no pós-operatório, são auxiliados pela dosagem sérica dos marcadores genéricos dos tumores neuroendócrinos. A Cromogranina A é uma glicoproteína armazenada nos grânulos secretórios das células neuroendó-crinas e sua dosagem sérica se eleva mais comumente nos casos dos tumores neu-roendócrinos mais bem diferenciados, incluindo-se os “não-funcionastes”. Por outro lado, a Enolase sérica (NSE - neutron specific enolase) está mais frequentemente ele-vada nos tumores menos diferenciados e de comportamento mais agressivos. Desta forma, talvez seja possível indicar a realização dos exames pareadamente PET-CT com Gálio68e Cromogranina sérica nos tumores bem diferenciados e, no outro

extre-mo, PET-CT com FDG e Enolase sérica (NSE - neutron specific enolase) nos tumores menos diferenciados(3). A cromogranina A pode estar falsamente elevada na insu-ficiência renal e na vigência de uso de IBPs2.

Ate recentemente a investigação laboratorial era feita pela dosagem dos marcadores séricos e urinários das substâncias produzidas pelos tumores como as baseadas no ácido 5-hidroxi-indol-acético (5-HIAA) ou a serotonina. Entretanto os marcadores séricos genéricos se mostraram superiores principal-mente nos casos dos casos de localização gástrica. Há ainda o fato de que tumo-res de várias localizações podem produzir substâncias como o 5-HIAA, porém não secreta-las para a corrente sanguínea, ou mesmo não chegarem a apresentar valores séricos periféricos elevados por serem metabolizados antes de chegar aos vasos periféricos.

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REFERÊNCIAS

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