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ANÁLISE PALINOLÓGICA E DIATOMOLÓGICA EM SEDIMENTOS HOLOCÊNICOS DA BAÍA DE MARAPANIM, ESTADO DO PARÁ

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ANÁLISE PALINOLÓGICA E DIATOMOLÓGICA EM SEDIMENTOS HOLOCÊNICOS DA BAÍA DE MARAPANIM, ESTADO DO PARÁ

Cristina do Socorro Fernandes de Senna1; Fábio Campos Pamplona Ribeiro2; Rosildo Santos Paiva3.

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Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia, MCT/MPEG(csenna@museu-goeldi.br); 2 Pós-graduação em Botânica Tropical, UFRA/MPEG; 3 Departamento de Biologia, UFPA

Abstract. This paper goal to determine the pollen and diatom assemblages such as the paleoenvironments that occurred in a Marapanim bay during the Holocene, on the last 7.000 years. Were analyzed abundance, composition and diversity of polinic types and diatoms along sedimentary sequence with 528 cm length, obtained from Aranha Lake, estuary of Marapanim River, Pará state, in the boundary mangrove/varzea, from Early Holocene. In correlation by pollen and diatom assemblages, three biozones were defined: 1) mangrove dominated by Rhizophora in a lower portion of core, while dominates the diatoms Paralia sulcata, Thalassiosira leptopus and T. eccentrica; 2) igapó in a intermediary portion, compound mainly by Symphonia, Dioclea and Mauritia/Mauritiela; the diatoms species dominant are Nitzschia scalaris, Desmogonium guianense and Pinnularia viridis. 3) Avicennia + Rhizophora mangrove jointly with varzea, compound by Machaerium, Euterpe, Hibiscus and Pterocarpus, in an upper portion of sequence. Nevertheless, still in the last portion, the diatom assemblages indicated more two biozones, where Eunotia flexuosa and E. curvata (112-46 cm) indicate more acidity of environment, while in a upper portion (46-0 cm) E. flexuosa is less abundant, occurring with T. eccentrica and P. sulcata indicating new marine/estuarine conditions. The richness and the diversity (Shannon’s index) reached the highest values in the igapó, while the least values were for the basal mangrove. Mangrove + varzea presented diversity approximated to igapó. Thus, through pollen and diatom subfossil record, obtained quantitative estimative, from holocenic history of neotropical coastal ecosystem in association with diverse others Amazon ecosystems.

Palavras-chave: Pólen, diatomáceas, Holoceno

1. Introdução

As mudanças paleoclimáticas e as variações do nível do mar ocorridas na passagem do Pleistoceno para o Holoceno influenciaram fortemente a dinâmica ambiental dos ecossistemas costeiros amazônicos, notadamente os manguezais e as restingas do setor Costa Atlântica do Estado do Pará, fontes geradoras de recursos naturais, onde a pesca tem um papel fundamental no contexto ecológico e sócio-econômico regional. Os manguezais e restingas, embora pouco estudados na costa norte amazônica, são reconhecidos como reservas ecológicas pelo Conselho Nacional

do Meio Ambiente-CONAMA, através da resolução n° 04 de 18/09/1985 e como patrimônio nacional pela Constituição Federal de 1988.

Os manguezais ocorrem em planícies lamosas, típicas de costas baixas tropicais, bordejando as baías estuarinas e destacam-se como unidade de paisagem na planície costeira norte da América do Sul, geralmente em contato com outros ecossistemas costeiros ou continentais. As restingas, típicas de planícies arenosas, sempre em contato com o oceano Atlântico, ocorrem notadamente, nos Estados do Pará e Maranhão (Bastos et al. 2002). Savanas, várzeas estacionais ou de maré, além de

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pântanos (igapós), tipicamente continentais, bordejam os manguezais, no interior dos estuários, ocorrendo desde a Colômbia, chegando ao limite oriental da região norte do Brasil (Muller, 1959; Fromard et al. 1998; Schaeffer-Novelli & Cintrón, 1995; Almeida, 1996; Senna et al., 2002).

Nos estudos paleoecológicos são utilizados microfósseis com dimensões máximas da ordem de 150µm, agrupados sob a denominação de “palinomorfos” (Bissa, 1998). Os estudos palinológicos baseiam-se nas características morfológicas, abundância e freqüência de ocorrência desses palinomorfos para definir e caracterizar os paleoambientes e a paleovegetação associada, procurando montar os processos de modificação de ecossistemas face aos impactos naturais e antrópicos.

Destacam-se dentre os palinomorfos terrestres, grãos de pólen de angiospermas e gimnospermas, além de esporos de pteridófitas, enquanto os palinomorfos aquáticos incluem cistos de algas e diatomáceas.

A Palinologia baseia seus estudos nas características morfológicas e estruturais de palinomorfos, que guardam fortes relações ecológicas com os ecossistemas onde ocorrem, estando bem preservados em sedimentos de ambiente redutores. A análise palinológica envolve princípios geológicos e ecológicos em seus métodos de coleta, análise e interpretação, imprescindíveis à reconstituição ambiental (Ribeiro, 1994).

Este artigo objetiva conhecer a palinoflora e diatomoflórula subfósseis, bem como os paloambientes nos quais essas assembléias foram depositadas, a partir da análise palinológica de um testemunho sedimentar, com 528 cm de espessura, obtido na baía de Marapanim, Estado do Pará, no limite mangue/várzea, datado do Holoceno Inferior (Senna, 2002).

2. Área de Estudo

O setor Costa Atlântica do Estado do Pará insere-se, em termos morfo-estruturais e morfo-climáticos, no litoral de Rias e Lençóis Maranhenses (Projeto RADAM, 1973), uma costa de submersão, baixa e recortada, com características flúvio-estuarinas, direção geral NW-SE, dominada por marés, com baías estuarinas alongadas (Senna, 1992).

O estuário do rio Marapanim (Figura 1) localiza-se nas coordenadas geográficas 00° 30’ 00” a 001° 00’ 00” S e 047° 31’ 00” a 047° 45’ 00” W. apresenta baía de ampla desembocadura, com características de canais de maré, cuja influência da cunha salina chega até 45 km continente adentro, sendo composto por duas grandes formações vegetais litorâneas: os manguezais e as restingas, exclusivas da planície costeira.

Os manguezais são dominantes como ecossistema, localizados, principalmente na foz dos rios e áreas contíguas, bordejando todo o estuário, geralmente ocupando os bancos lamosos. As espécies dominantes são Rhizophora mangle L. (Rhizophoraceae), Avicennia germinans (L.) Stearn (Verbenaceae) e Laguncularia racemosa (L.) Gaertn (Combretaceae), constituindo árvores de porte elevadas (até 25 a 30 metros), distribuídas em forma de mosaicos de vegetação e acompanhados de plantas associadas, como o Achorosticum aureum e Blechnum serrulatum (Costa Neto et al., 2000).

As restingas, com registro atual de 420 espécies (Bastos, 2003) apresentam uma gama diversificada de até sete comunidades vegetais, guardando forte correlação com os processos geológicos e geomorfológicos costeiros, estabelecidas em flechas arenosas atlânticas estreitas e alongadas, de direção aproximada E-W, até 10 km de extensão, diretamente em contato com o oceano Atlântico.

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Outras formações vegetais como savanas, florestas paludosas (Figura 4) e capoeiras, embora de ambientes continentais, sofrem indiretamente a influência marinha, devido à sua proximidade com o oceano, ou mesmo no contato com as outras formações vegetais típicas da costa paraense.

O clima é Tropical Úmido; pluviometria de 2.880 mm; umidade anual de 80%; temperatura média de 27,7 °C; amplitude térmica de 9°C; com dominância de ventos alíseos de NE. O regime de chuvas, em termos de distribuição e freqüência, define dois períodos distintos: 1) o período chuvoso, estende-se de dezembro a maio, com precipitações mais intensas nos meses de fevereiro, março e abril; 2) O período seco, que atinge os demais meses do ano, porém os menores valores pluviométricos (< 60 mm) são registrados para os meses de setembro, outubro e novembro (Santos et al., 1992).

O arcabouço geológico é representado no Cenozóico, pelos depósitos carbonáticos da Formação Pirabas, originados a partir de eventos transgressivos, datados do Mioceno. Eventos regressivos posteriores originaram os depósitos dos Sedimentos Barreiras (Rossetti et al., 1989) de idade Mio-Plioceno (Arai et al., 1988), além de unidades geológicas do Quaternário como praias, dunas e manguezais (Senna, 2002).

A caracterização geológico-geomorfológico da baía de Marapanim permitiu individualizar duas grandes unidades: O Baixo Planalto Costeiro e a Planície Costeira Holocênica (Silva, 1995). Os processos geológicos e geomorfológicos explicam tanto a natureza dos sedimentos que constituem o substrato do manguezal, quanto a morfologia e dinâmica costeira. Estes processos e a natureza dos sedimentos influenciam diretamente na circulação superficial e intersticial das águas e na diversidade e estrutura da vegetação.

3. Materiais e Métodos

3.1. Metodologia de campo

As coletas de amostras sedimentares no campo foram realizadas através de técnicas de testemunhagem vibratória, utilizando tubos de alumínio de 6 m de comprimento e 7,5 cm de diâmetro, no Lago da Aranha (LA), localizado no município de Magalhães Barata, nas coordenadas geográficas de 00° 55’ Lat. S e 47° 41’ W Gr. Segundo Mendes (1994), o equipamento de amostragem consiste de um motor à gasolina, que transmite vibrações a 700 rpm a um cabeçote de aço, firmemente acoplado a um tubo de alumínio. O princípio dessa técnica baseia-se no fato de que as vibrações transmitidas ao tubo de alumínio desagregam a areia e fluidizam a argila, que aderem à parede do tubo, permitindo sua inserção no pacote sedimentar.

3.2. Metodologia de laboratório

Para a abertura dos testemunhos foram utilizadas calhas de madeira para fixá-los, serra circular elétrica, serra manual de arco, trena e máquina fotográfica. As seções longitudinais denominadas de A e B, foram cortadas pela serra circular elétrica.

A descrição do testemunho obedeceu a observação macroscópica de suas características sedimentares com relação ao tipo de sedimento, cor (Munsell, 1994), textura, granulometria, estruturas sedimentares físicas ou biogênicas, tipo de contato, grau de compactação e presença/ausência de matéria orgânica (Senna, 2002). Quatro amostras para datação foram retiradas.

3.3. Análise palinológica

A análise palinológica (Salgado Labouriau, 1984) foi utilizada na abordagem paleoecológica, em amostras de sedimentos lamosos, obtidos a partir de testemunhagem

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vibratória (Mendes, 1994), no lago da Aranha (000° 55’ S e 47° 41’ W Gr), município de Magalhães Barata, para identificar e quantificar os grãos de pólen e esporos incorporados ao substrato sedimentar holocênico (Senna, 2002).

A extração de amostras sedimentares na seção A foi realizada em intervalos de 10 cm ao longo do testemunho, ou na mudança no tipo de sedimento. O tratamento das referidas amostras, em laboratório, obedeceu a técnicas convencionais baseadas em Salgado Labouriau & Rull (1986); Von Post (ano) apud Faegri & Iversen (1950); Erdtman (1952 1960); Faegri & Iversen (1950). Quatro amostras sedimentares coletadas ao longo do testemunho foram datadas (Senna, 2002).

Na análise palinológica obtém-se a identificação, descrição e contagem de tipos polínicos (Salgado Labouriau & Rull, 1986), sempre comparando-os aos seus equivalentes modernos, procurando sempre chegar à categoria taxonômica mais baixa possível (Salgado Labouriau, 1984). Para a identificação, houve consulta à coleção de pólen de referência do Laboratório de Paleopalinologia/CCTE e de Palinologia/CBO do Museu Paraense Emílio Goeldi, além de consulta à literatura especializada, como atlas palinológicos e artigos especializados em palinotaxonomia e paleoecologia de ecossistemas costeiros.

Os diagramas polínicos são elaborados de acordo com as percentagens e concentrações de palinomorfos (Salgado Labouriau, 1979; Salgado Labouriau, 1984), além da composição polínica, descrição sedimentológica e datações radiocarbônicas, permitindo individualizar ecozonas. Para o tratamento estatístico dos dados e a confecção do diagrama polínico, utiliza-se, respectivamente, o programa Tilia e Tilia Graph, desenvolvidos por Eric Grim, do Illinois State Museum, USA.

3.4. Análise diatomológica

Para a análise diatomológica, 55 subamostras de 8 cm3 de sedimento foram extraídas do testemunho de sondagem, em intervalos aproximados de 10 cm, sendo em seguida dissolvidas em água destilada, filtradas em rede com malha de 20 µm de abertura para a eliminação de partículas maiores e fixadas com formol neutro a 4%. Para cada amostra, foram preparadas e analisadas entre 5 e 10 lâminas semipermanentes, contando-se para isto com o auxílio de um microscópio binocular OLYMPUS, Modelo CH30. A seguinte literatura foi usada na identificação e ecologia das diatomáceas: Cleve-Euler (1953); Husted (1961,1966); Péragallo & Péragallo (1897-1908); Moreira Filho et al. (1990). Foi analisadas a diversidade (índice de Shannon) e a riqueza (n° de espécies) ao longo do testemunho. (Figs. 2 e 3). As diatomáceas agrupadas dentro de dois principais ambientes: (1) marinho/estuarino; (2) limnético (água doce).

4. Resultados e Discussão

4.1. Polén

Foram individualizados, ao longo do testemunho de sondagem, 105 tipos polínicos, dos quais 74 foram identificados, ao nível genérico, o que foi fundamental para a definição de três biozonas holocênicas. A família com mais tipos polínicos foi Arecaceae, com 5 gêneros identificados: Mauritia, Euterpe, Bactris, Maximiliana e Geonoma, restando ainda 3 tipos sem identificação.

As análises palinológicas individualizaram três biozonas, fortemente relacionadas com as variações do nível do mar durante o Holoceno.

No manguezal da seqüência sedimentar inferior do lago da Aranha, composto de sedimentos lamosos, os tipos polínicos

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principais são Rhizophora e Laguncularia, que compõem a palinoflora, onde o primeiro é o mais abundante, com valores percentuais variando de 68-92%. O segundo, bem menos abundante, apresenta percentuais de 11-15%. A diversidade é baixa (H´= 0,4) ao longo de toda a biozona, ocorrendo as duas espécies de mangue, praticamente. Os manguezais foram datados de 6. 850 ± 40 anos A. P. até 4. 943 anos A.P. (idade interpolada).

O manguezal da base da seqüência, embora dominado pelo gênero Rhizophora, pouco abundante (68%), ocorre juntamente com outros tipos polínicos arbóreos dos táxons Sapotaceae, Dilleniaceae, Melastomataceae, Symphonia, Stylosanthes, Dioclea e Hyeronima, todos ocorrendo em baixas quantidades (<5%), indicando a proximidade de uma floresta paludosa (igapó), provavelmente posicionada à montante do estuário, substituída pelas espécies arbóreas de mangue, em conseqüência da subida do nível médio relativo do mar (transgressão marinha). A palinoflora apresenta uma composição de 24 espécies e a diversidade aumenta (H´=1,43).

Na seqüência intermediária, há uma forte mudança na composição e abundância de tipos polínicos, com brusca redução de Rhizophora tipo, cujos valores percentuais caem para 6-10%, Laguncularia tipo é ausente, indicando expressivo impacto ambiental no manguezal estabelecido, ocorrendo sedimentos ricos em matéria orgânica. Ao mesmo tempo, a composição de grãos de pólen aumenta, mas a abundância por táxon diminui. Dentre os 57 tipos polínicos, os táxons mais abundantes são Symphonia, Cecropia, Mabea, Mauritia/Mauritiela, Machaerium, Annonaceae, Dioclea, Araceae e Mimosaceae, variando entre 6-13%, bioindicadores de uma floresta paludosa, mais conhecida regionalmente como igapó. Outros táxons importantes, porém menos abundantes são o Ilex (tipo 1), Byrsonima,

Cassia, Protium, Stylosanthes, Piperaceae, com percentuais menores que 6%.

A biozona indica provável mudança do nível relativo do mar, com o estabelecimento de espécies arbóreas de igapó, em substituição ao manguezal, evidenciando uma regressão marinha, datada entre 4. 943 anos A.P. (idade interpolada) e 2. 350 ± 40 anos A.P. (Beta-157.300). A diversidade aumenta fortemente (H´=3, 34), atingindo os valores máximos para toda a seqüência. O número de espécies chega ao máximo de 57.

A estreita relação entre a presença de pólen de Symphonia e o igapó, já havia sido observado por Müller (1959), para o delta do Orinoco, onde sua ocorrência e distribuição é limitada a curtas distâncias da planta mãe, pois as correntes marinhas são hábeis no transporte a curtas distâncias, devido ao grande tamanho e peso do grão.

Uma nova e marcada mudança ambiental ocorre a partir de 2. 350 ± 40 anos A.P. (Beta-157.300), com o manguezal estabelecendo-se novamente em sedimentos lamosos, em substituição ao antigo igapó, na seqüência superior do testemunho, provavelmente associado a uma subida relativa do nível médio do mar. A palinoflora é composta pelos táxons Avicennia e Rhizophora, com a dominância da primeira, cuja abundância máxima é de 18%, enquanto a segunda chega a 17%. Entretanto, o manguezal é misto, visto que apresenta-se com outros tipos polínicos como Ilex (tipo 2), Bignoniaceae, Machaerium, Mauritia/Mauritiela, Hibiscus, Euterpe, Pterocarpus e Sapotaceae, todos abaixo de 10% de abundância, bioindicadores de florestas periodicamente inundadas, as várzeas de maré da Amazônia. A diversidade é próxima a do igapó precedente (H´=3), ocorrendo 30 espécies. Atualmente, o manguezal é ainda dominado por Avicennia e juntamente com a várzea integra a paisagem dominante, ao sul da área de estudo, com a mesma composição de espécies.

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Na Costa Atlântica do Estado do Pará, impactos naturais dos últimos 10.000 anos (Holoceno) sobre a planície costeira são evidenciados pelos estudos palinológicos no lago do Crispim, Município de Marapanim (Behling & Costa, 2001) e na península de Bragança (Behling et al., 2001).

Segundo Behling & Costa (2001), há três zonas paleoecológicas bem definidas pelas associações de grãos de pólen em sedimentos orgânicos do lago do Crispim. Na zona inferior, datada entre 7.640 e 6.620 anos A.P., houve um contínuo aumento no nível do Oceano Atlântico, levando à formação de uma floresta densa e diversa, provavelmente ocupando espaços interdunares, representada por Symphonia, Virola, Mabea, Moraceae/Urticaceae, enquanto Byrsonima, Clusia e Copaifera, espécies de restinga, cobriam a área do lago. Entre 6.620 e 3.630 anos A.P., o manguezal instalado próximo ao lago do Crispim foi substituído por um ambiente pantanoso de extensão variável, dominado por palmeiras (Mauritia/Mauritiella), revelando uma provável regressão do nível relativo do mar.

A partir de 3.630 anos A.P até os dias atuais, ocorreram mudanças ambientais marcantes: os manguezais novamente estabeleceram-se próximo ao lago do Crispim, havendo a substituição de espécies de palmeiras por uma cobertura herbácea, com abundante pólen de Cyperaceae no pântano. Além disso, florestas e restingas que rodeavam o local, foram recobertas principalmente por campos salinos. Há também evidência de fogo nessa área, revelada pela presença de abundantes partículas carbonizadas.

A vegetação da península de Bragança (Behling et al., 2001) também sofreu modificações nos últimos 7.000 anos. Manguezais de Rhizophora substituíram florestas continentais, antes de 5.200 anos A.P., alcançando as áreas mais elevadas da península, sugerindo um nível marinho mais

alto que o atual. Durante o Holoceno Tardio, entre 1.700 e 750 anos A.P., os manguezais foram substituídos por campos salinos nas maiores elevações devido a um provável rebaixamento do nível relativo do mar (Behling et al., 2001).

4.2. Diatomáceas

A análise diatomológica mostrou forte correlação com os dados palinológicos onde também estiveram relacionadas com as variações do nível do mar ocorridas no Holoceno. Foi identificado um total de 73 espécies baseadas em 55 subamostras, distribuídas em 5 ecozonas na coluna estratigráfica, relacionadas aos paleoambientes marinhos, estuarinos e limnéticos, onde Paralia sulcata (Ehrenb) Cleve, Nitzschia scalaris Ehrenb., Eunotia flexuosa (Bréb.) Kütz e E. curvata (Kütz) Lagerst. (Fig. 2). Destacaram-se pelos maiores valores de abundância relativa e freqüência.

Na ecozona basal (511-479 cm), datada em de 6. 850 ± 40 anos A. P, Eunotia flexuosa é abundante (71%), seguida de E. monodon (27%) e E. curvata (20%), indicando um ambiente limnético, com riqueza (3-5 espécies) e diversidade (H´=1,10) baixas.

Na ecozona seguinte (479-182 cm), a riqueza (18-35 espécies) e a diversidade (H´=2,72) crescem fortemente, ocorrem diatomáceas de ambiente marinho/estuarino, onde a assembléia é dominada por Paralia sulcata (62%), Thallassiosira leptopus (40%) e T. eccentrica (22%) - espécies marinho/estuarinas – sugerindo condições estuarinas associadas a uma transgressão marinha, embora ocorram duas espécies limnéticas pouco abundantes, mas muito freqüentes (Eunotia flexuosa e N. tryblionella Hantzsch.). Neste intervalo, entre as espécies muito freqüentes, houve um predomínio de espécies de ambiente marinho/estuarino com algumas espécies de

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ambiente limnético novamente sugerindo um ambiente de salinidade mais elevada tipicamente estuarino

Em seguida, ocorre nova ecozona (182-112 cm), datada a partir de 4.939 anos A.P. (idade interpolada) onde a freqüência de espécies limnéticas aumenta, indicando conseqüentemente, tanto a redução das condições marinho/estuarinas, quanto da salinidade, o que favoreceu a dominância de Nitzschia scalaris (42%) – espécie limnética podendo viver em ambientes levemente salobros- indicando a transição entre o ambiente marinho/estuarino e o limnético. Neste intervalo, a riqueza (18-30 espécies) mantem-se, porém a diversidade (H´=2,79) e a equabilidade (S´=0,93) atingem os maiores valores de toda a seqüência. Entre as espécies muito freqüentes pertencem tanto aos ambientes marinho/estuarinos quanto limnéticos indicando também condições de menor salinidades possivelmente caminhando para o estabelecimento de condições limnéticas.

A ecozona seguinte (112-46 cm), datada a partir de 2.350 ± 40 anos A.P. (Beta-157.300) limnética, onde a assembléia é dominada por E. flexuosa (85%) e E. curvata (30%) indicando que nível do mar estava mais baixo que presente associado à uma regressão marinha. Neste intervalo, ocorre o predomínio de espécies limnéticas típicas de ambientes ácidos tais como os gêneros Eunotia e Pinnularia indicando um ambiente limnético com pH ácido. Sendo um ambiente muito específico, apenas algumas espécies se adaptam a essas condições, em conseqüência disto, ocorre uma redução da riqueza (6-17 espécies) e da diversidade (H´=1,52).

Na ecozona do topo (46-0 cm), datada a partir de 953 anos A.P. (idade interpolada) há um aumento equivalente na freqüência de espécies marinha/estuarinas e limnéticas indicando um ambiente com salinidade moderada com dominância de E. flexuosa (52%), Thalassiosira eccentrica (18%) e P.

sulcata (16%). Neste intervalo, riqueza (21-29), diversidade (H´=2,59) voltam a subir, e entre as espécies muito freqüentes pertencem novamente tanto aos ambientes marinho/estuarinos quanto limnéticos sugerindo um ambiente estuarino semelhante ao da ecozona basal, porém, com salinidade mais baixa, permitindo a coexistência de organismos de ambos ambientes.

Souza (2003), estudando sedimentos de Dois Irmãos – Recife, reconheceu uma flora diatomológica caracterizada por táxons de ambientes reconhecidamente limnéticos, como Eunotia camelus, E. didyma, E. femobirus, E. flexuosa, E. major, E. zygodon, Frustulia rhomboides e Pìnnularia stauroptera. Esta flora assemelha-se fortemente, com a composição florística da ecozona limnética encontrada no Lago da Aranha- Magalhães.

Na planície costeira da Cananéia – Iguape (São Paulo), Ybert et al. (2003) registraram a presença de espécies marinhas somente em sedimentos basais, onde entre as profundidades de 280 à 210 cm, Actinoptychus hookeri, Actinoptychus senarius, Actinoptychus splendens, Actinoptychus vulgaris, Biddulphia rhombus, Diploneis bombus, Nitzschia panduriformes, Polymixus coronalis, Raphoneis sp., Thalassiosira sp., Triceratium patagonicum indicam que o mar atingiu a área de estudo a cerca de 5.700-3.470 anos A.P., durante uma transgressão formando na região uma lagoa utilizada como importante fonte de alimento por comunidades primitivas de pescadores – coletores. Foram também encontradas espécies de ambiente marinho litoral ou estuarino (Cyclotella stylorum, Paralia sulcata, Triceratium favus), continental, estuarino ou salobro (Achnanthes brevipes, A. longipes, Cyclotella striata, Surirella rorata, Terpsinoe musica) e continental de água doce (Eunotia diodon, Cocconeis placentula). Em 3.400 anos A.P., a lagoa secou e foi substituída por um pântano de

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água doce (predominância de pólen de espécies de pântano) devido ao baixo nível do mar. Esta composição florístisca por sua vez, possui forte correlação com as composições encontradas nas ecozonas marinho/estuarinas encontradas no Lago da Aranha, tratando-se possivelmente, da mesma província biogeográfica.

6. Conclusões

As análises conjuntas de grãos de pólen e diatomáceas foram úteis na individualização de ecossistemas costeiros e continentais ao longo da seqüência sedimentar holocênica do Lago da Aranha, uma vez que mostram os processos de mudança ambiental tanto em ambientes aquáticos (diatomáceas) como terrestres (pólen).

Três paleozonas ecológicas foram definidas através de análises palinológicas: 1) manguezal dominado por Rhizophora na porção inferior do testemunho de sondagem; 2) igapó na porção intermediária, composto principalmente por Symphonia, Dioclea e Mauritia/Mauritiela; 3) manguezal de Avicennia + Rhizophora, juntamente com várzea, composta por Machaerium, Euterpe, Hibiscus e Pterocarpus, na porção superior da seqüência.

As análises diatomológicas corroboram as análises palinológicas na individualização de paleoecozonas do mesmo testemunho para as porções basal e intermediária, correlacionadas respectivamente às espécies marinhas/estuarinas P. sulcata, T. leptopus e T. eccentrica e espécies limnéticas N. scalaris, D. Guianense e P. viridis. Entretanto, as assembléias de diatomáceas na porção superior do testemunho parecem mostrar maior sensibilidade à diferenciação ambiental, pois individualizaram mais duas ecozonas, onde E. flexuosa e E. curvata (112-46 cm) indicam maior acidez, enquanto na porção superior E. flexuosa é menos abundante, ocorrendo com T. eccentrica e P.

sulcata indicando novas condições estuarinas.

Análises palinológicas demonstraram que os manguezais na planície costeira amazônica ocorrem ao longo de toda a coluna sedimentar estudada, graças as características de dispersão pelo vento de Rhizophora mangle (pólen anemófilo). As condições redutoras do ambiente de sedimentação mostram que os palinomorfos encontram-se bem preservados ao longo do testemunho de sondagem. Entretanto, nota-se nos diagramas de reprenota-sentação das assemblages palinológicas de manguezal, além de tipos polínicos bioindicadores de vegetação de mangue, associações com outros grãos de pólen pertencentes a variados ecossistemas amazônicos como igapós e várzeas.

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Fig. 1. Localização dos sítios com registros palinológicos na Costa Atlântica do Estado do Pará.

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Fig. 2. Riqueza das diatomáceas ao longo do testemunho do Lago da Aranha.

Fig. 3. Diversidade das diatomáceas ao longo do testemunho do Lago da Aranha

Referências

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