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CAPÍTULO LUÍS REBORDÃO VALE DE LISBOA TOMÁS CABREIRA E A MAÇONARIA NO ALGARVE

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Academic year: 2021

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TOMÁS CABREIRA

E A

MAÇONARIA NO ALGARVE

(breves traços)

A primeira loja maçónicade que há registo no Algarve surgiu em 1822, em Faro, e tinha por nome, Fraternidade. De vida efémera, desapareceu pouco tempo passado. O país vivia então tempos conturbados. A Revolução Liberal ocorrida dois anos antes e a Independência do Brasil haviam trazido consigo grandes e graves perturbações a nível do tecido social e produtivo do país, que provavelmente terão contribuído para a dissolução desta Oficina maçónica, de acordo com documentação consultada ainda não catalogada.

Seguiu-se a Loja Philantropia, nº 2600 a O.’. de Lagos, do Rito Francês, na obediência do GOL, cujo quadro datado de 1842 registava 30 obreiros, composto maioritariamente por militares. Dissolveu-se em 1849, depois de perseguições e prisões dos seus membros.

Na década de 1840-50, surgiram as Lojas Lealdade I e Lealdade II, na obediência do GOL. Seguiram-se pela mesma época, a Loja Decisão, instalada pela chamada Maçonaria do Sul e extinta antes de 1849; a Loja União Farense, fundada na obediência do GOL em 1859 ou 1860, e extinta cerca de 1869; a Loja Democracia, do Rito Francês, ativa entre 1872 e 1877; a Loja Pro-Pátria II, do REAA, ativa de 1911 a 1915, e a Loja Gil Eanes, desaparecida nos anos trinta do século XX. Neste meio tempo, entretanto, funcionaram na região do Algarve vários triângulos.

Se atendermos ao facto deste período cronológico ter sido fértil em golpes de estado, revoluções e em dados períodos em guerras civis, o nascimento e morte destas oficinas maçónicas não constituiu mais do que o

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reflexo do estado geral da sociedade portuguesa.

Hoje, podemos encontrar nomes de maçons ligados à Maçonaria no Algarve, como no caso de Faro, inscritos na toponímia da cidade, como o do Conselheiro Ferreira de Almeida (José Bento Ferreira de Almeida), nascido em Faro em 1874, e falecido em Livorno, Itália, em 1902. Foi oficial de Marinha e destacada figura política ligada ao Partido Regenerador. Em 1891 - um ano após o Ultimatum britânico a Portugal - propôs a venda da colónia de Moçambique. Em 1895 era nomeado governador de Moçâmedes, em Angola.

Foi iniciado com o nome simbólico de Kant. Na qualidade de maçon, ocupou o cargo de venerável da Loja Simpatia, tendo pertencido mais tarde à Loja Gomes Freire, do Rito Francês. Em 1897 atingiu o mais alto grau do seu Rito, o 7º grau.

No referido largo (Largo 5 de outubro) existe um enorme obelisco mandado erguer pelos maçons de Faro, em homenagem ao Comendador Ferreira de Almeida.

Podemos também referir o nome de Filipe Alistão F. Moniz Corte Real, que dá nome a uma rua da baixa farense. Oficial do Exército foi iniciado maçon na Loja Gil Eanes, nº 413, de Faro, em 11 de junho de 1924, com o nome simbólico de Garrett.

Entretanto nasceram outras oficinas um pouco por toda a região, como no caso de Lagos, que teve a primeira Loja em 1844, que levou o nome Concórdia II, nº4200, seguindo-se outras no decorrer dos anos.

Nos alvores da República, em 1911, existia a Loja Lacóbriga, nº326, que teve atividade até 1926, ano da Revolução que impôs a Ditadura Militar que abriu caminho ao Estado Novo e ao salazarismo.

No quadro desta Loja datado de 4 de janeiro de 1925, encontravam-se inscritos 18 obreiros. De entre eles é de destacar Francisco Gonçalves Velhinho Correia, nascido em 1882 e falecido em 1943. Tenente-coronel. Publicou diversos artigos sobre finanças, economia, colonialismo, etc. Republicano democrático foi deputado entre 1915 e 1926 por Macau, Silves e Lagos. Nesse meio tempo foi ministro do Comércio (1920) e Ministro das Finanças (1923). Veio a aderir, posteriormente, ao Estado Novo, que o nomeou governador do Banco Nacional Ultramarino. Foi iniciado em 1907

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com o nome simbólico de Padre Eterno na Loja Solidariedade de Lisboa, de que foi seu venerável.

De Tavira saíram igualmente maçons de destaque na vida pública

portuguesa, como é o caso das três personagens que se seguem: António José Pinheiro, nascido em 21 de dezembro de 1867 e falecido em Lisboa em 2 de março de 1943. Estudou no Conservatório Nacional, foi ator - tendo pertencido à Companhia Rosas & Brasão – e professor do Conservatório Nacional.

Foi iniciado maçon com o nome simbólico de Moliére, tendo integrado os quadros das Lojas Gil Vicente e Madrugada, ambas de Lisboa, Artur Octávio do Rego Chaves. Nasceu em 1869 e faleceu em 1944. Tenente-Coronel, republicano, foi membro do Partido Democrático e ocupou o cargo de Ministro da Instrução Pública. Foi iniciado maçon na Loja Liberdade, de Lisboa, com o nome simbólico de Passos Manuel.

Porém, destes três, o mais famoso é sem dúvida, Tomás Cabreira (Tomás António da Guarda Cabreira), nascido em 21 de janeiro de 1865 em Tavira e falecido na Praia da Rocha em 4 de dezembro de 1918.

Em 1883, matriculou-se na Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra, curso que não concluiu por ter sido chamado, entretanto para as fileiras do exército, e em 26 de outubro de 1886 entrou para a Escola Politécnica, tendo terminado o Curso Geral em outubro de 1891. Voltou à Escola do Exército e formou-se em engenharia civil. A 26 de Maio de 1898 foi definitivamente nomeado lente da Escola Politécnica, atual Faculdade de Ciências de Lisboa. Republicano e propagandista da República cedo iniciou a sua atividade política.

Tomás Cabreira ocupou vários cargos no Partido Republicano, de que era membro, de entre os quais se destacam os de Presidente da Junta Distrital de Lisboa e vogal do Diretório. O seu pensamento político teve por base o desenvolvimento intelectual e a instrução do povo português, por tal facto, foi um dos fundadores do Grupo Republicano de Estudos Sociais, onde a uma dada altura apresentou um projeto sobre fomento agrícola, que abordava o crédito rural, os terrenos incultos, o deficit cerealífero, os entrepostos e os adubos químicos. Tema tanto mais importante quanto nessa época a economia portuguesa assentava na agricultura.

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Tomás Cabreira foi iniciado maçon, com o nome simbólico de Sólon em 1893, na Loja Portugal, de Lisboa, formada só por oficiais do exército e da marinha, de onde irão sair mais tarde os mais importantes elementos

militares da revolução do 5 de outubro de 1910. Pertenceu depois às lojas Elias Garcia, em 1898, Comércio e Indústria, também em 1898, Paz e Concórdia, em 1899 e Marquês de Pombal, em 1907, todas de Lisboa. Desempenhou o cargo de Presidente do Conselho da Ordem do Grande Oriente Lusitano Unido, entre 1899-1902 e vice-presidente, de 1907 a 1908. Em 1907 atingiu o grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceite. Foi ainda distinguido com o título de membro Honorário dos Grandes Orientes do Brasil e de Espanha, e a medalha de honra do Egipto.

Dada a importância da ordem maçónica para a implementação da República e consequente desenvolvimento nos mais variados campos da ação social e cultural, Tomás Cabreira veio a desempenhar um destacado papel ativo na área do ensino em Portugal, fundando e dinamizando instituições como a Universidade Popular, onde promoveu uma série de conferências nas áreas de geografia, botânica, antropologia, profilaxia, educação cívica, História de Portugal, arquitetura e literatura portuguesa, entre outras.

Participou igualmente na formação da Escola Oficina nº1; Universidade

Livre; Instituto 19 de Setembro; Instituto Histórico do Minho; Academia de Ciências de Portugal; Congregação Nacional dos Estudos científicos e Instituto Tomáz Cabreira, entre outros.

Por sua inspiração, em 1908, foi fundado em Lisboa o Centro Republicano de Instrução e Beneficência Tomáz Cabreira, com forte influência da maçonaria, à imagem, aliás, dos demais centros republicanos que surgiram nessa época. Este Centro tinha a sua sede na Rua do Telhal, nº 62 – 1º, e criou, mais tarde, uma escola primária, vindo a mudar o nome para Grupo Beneficência Tomáz Cabreira.

Nesse ano foi eleito vereador da Câmara Municipal de Lisboa, o que lhe valeu, devido à defesa do seu programa republicano, ser desterrado por seis meses para a praça de Elvas sob proposta do então Ministro da Guerra. Embora militar, Cabreira não se encontrava no ativo, pelo que esta medida se apresentou prepotente aos olhos republicanos.

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Até ao seu regresso a Lisboa o país dividiu-se em manifestações, pró e contra tal medida, em função das opções de regime, ou seja, republicanos e monárquicos.

Enquanto vereador, propôs entre outras medidas a fundação da Comissão de Estética da cidade e o Museu Histórico de Lisboa. Em 1911 foi eleito deputado às Constituintes e em 1912, eleito Senador, ano em que também foi eleito Presidente da União da Agricultura, Comércio e Indústria.

Nessa qualidade apresentou aos seus eleitores do Círculo de Faro, um relatório de propostas legislativas, tais como: criação de um porto franco em Lisboa (aprovado pelo parlamento); transformação de algumas escolas primárias em escolas primárias agrícolas de carácter regional; irrigação do Alentejo (aprovado nas duas Câmaras); criação de um Posto Agrário no Distrito de Faro com campo experimental para o estudo das culturas algarvias; Escola Móvel Agrícola; laboratório de análises e oficia de embalagens agrícolas; criação de zonas de turismo, com regulamentação do jogo (aprovado pelo Senado); construção de bairros económicos e outras.

Cabreira deixou-nos numerosas e bem documentadas obras, de entre as quais merecem destaque: A Questão Corticeira; Tarifas Ferroviárias; Defesa Económica de Portugal; O Algarve Económico; A Política Agrícola Nacional; O Problema Tributário Português e O Problema Bancário Português. A sua atividade multifacetada como cidadão levou-o a filiar-se na Associação de Jornalistas de Lisboa.

Em 1914 participou como Ministro das Finanças no governo presidido por Bernardino Machado.

Tomás Cabreira foi um regionalista, no sentido em que se debruçou sobre o ensino regional, ensino primário, ensino técnico e ensino superior com curricula adaptados ao tecido produtivo a às potencialidades de cada região, tendo-se preocupado no particular com o Algarve. Aliás, em 1915 organizou o 1º Congresso Regional Algarvio, que decorreu no Casino da Praia da Rocha (onde atualmente se situa o Hotel Oriental) no decorrer do qual foi denunciado o atraso da região em geral, da Praia da Rocha em particular e discutidas iniciativas para desenvolver o Algarve.

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Portugal, Tomás Cabreira empreendeu corajosamente uma verdadeira cruzada pela descentralização do ensino, única forma de ultrapassar o atraso económico e social em que o País vegetava no contexto das nações europeias.

Então, ao contrário de hoje, a cultura de massas não se havia ainda abatido sobre Portugal. A cultura de massas que conduz à descaracterização cultural dos povos e em última análise à falta de identidade regional e nacional.

A formação maçónica deste Cabreira encontra-se bem espelhada na sua ação como cidadão, como português. É aqui, neste campo de batalha contra a ignorância e o analfabetismo, que iremos encontrar um dos mais ilustres algarvios do nosso século, pioneiro de um novo tipo de ensino que pretendia atingir todas as camadas da população, objetivo que virá a ser cerceado após a instauração do Estado Novo.

Pedro Manuel Pereira

(Grande Chanceler - V Ordem)

Sob. Capítulo Luís Rebordão Vale de Lisboa

Referências

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