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A MÚSICA NA PONTA DOS DEDOS: ENSINO E DIFUSÃO DA LEITURA E ESCRITA MUSICAL EM BRAILLE.

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Academic year: 2021

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A MÚSICA NA PONTA DOS DEDOS: ENSINO E DIFUSÃO DA LEITURA E ESCRITA MUSICAL EM BRAILLE.

FABIANA FATOR GOUVÊA BONILHA (UNICAMP - INSTITUTO DE ARTES),

CLAUDINEY RODRIGUES CARRASCO (UNICAMP).

Resumo

Este estudo, realizado em nível de Doutorado e apoiado pela FAPESP, tem por motivação a experiência pessoal de sua autora como musicista com deficiência visual. Nele são problematizados o ensino e a difusão da musicografia Braille. Esta, por sua vez, consiste no código por meio do qual as pessoas cegas lêem e escrevem partituras. Existem diferenças qualitativas entre a musicografia Braille e a notação musical em tinta. Pressupõe–se que a compreensão do processo cognitivo inerente à leitura musical em braille constitui um subsídio à formulação de uma proposta educacional que norteia o ensino dessa notação. Este trabalho tem por objetivo abordar o processo cognitivo inerente à leitura musical em braille, tendo em vista a elaboração de uma proposta educacional em prol do ensino desse código. Mediante o estudo da normatização contida no “Novo Manual Internacional de Musicografia Braille”, tornou–se possível enumerar os principais desafios enfrentados dentro do processo de ensino–aprendizado dessa notação. A partir de um referencial qualitativo, neste estudo aborda–se a estruturação dessa proposta educacional, a qual possa ser aplicada em diferentes contextos, considerando–se as demandas dos estudantes com deficiência visual, e a realidade das escolas de música brasileiras. O presente trabalho visa também investigar ferramentas tecnológicas voltadas para a produção de partituras em braille e elaborar procedimentos para transcrição dessas obras. Com base nos dados coletados, está sendo produzido um material, de caráter pedagógico e reflexivo, que subsidia o trabalho de educadores e alunos cegos.

Palavras-chave:

musicografia braille, deficiência visual, educação inclusiva.

Introdução

Freqüentemente, afirma-se que as pessoas cegas têm inclinações para a música. Essa afirmação, dita isoladamente, pode ser considerada um mito, já que a cegueira, por si mesma, não causa essa propensão. Mas, de fato, os sons têm uma grande importância para os cegos e, por isso, a música constitui para eles um objeto de grande interesse.

A prevalência do ouvido absoluto nessa população pode ser um indício dessa relevância. Hamilton (2004) sugere que o ouvido absoluto é mais recorrente entre os cegos do que entre as pessoas que enxergam. O estudo também sugere que os cegos dotados de ouvido absoluto se iniciam mais tardiamente na Música, quando comparados aos videntes dotados da mesma habilidade.

Nota-se, portanto, a existência de um grande interesse das pessoas cegas pelos sons, em geral, e pela música, em particular. Dessa constatação, surge a necessidade de que sejam problematizadas as condições e os meios de que os cegos dispõem para estudar música. Parte-se do princípio de que tais indivíduos tenham direito a frequentar escolas do ensino regular, estando, assim, aptos a estudarem com alunos sem nenhuma deficiência. Essa idéia aponta para a existência de escolas de música inclusivas, isto é, instituições abertas à diversidade e ao desafio de atenderem às demandas de todos os alunos. (Mantoan, 2003)

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Não basta, porém, que as escolas acolham os estudantes com deficiência visual, mas é imprescindível que elas forneçam a eles uma formação musical consistente e um ensino qualificado.

Para tanto, é necessário que seja garantido aos alunos cegos o acesso à alfabetização musical, por meio do sistema braille.

Ainda que o aluno utilize algum método não-convencional para assimilar partituras, ou ainda que ele seja capaz de ouvir uma peça e reproduzi-la apenas a partir do que ouve, faz-se necessário que haja, por parte dele, o reconhecimento da importância de sua alfabetização musical, através de um código universalmente consolidado.

A musicografia braille, código convencionalmente adotado por pessoas com deficiência visual para lerem e escreverem partituras, foi concebida por Louis Braille, o criador do sistema de leitura e escrita que leva seu nome.

A criação dessa notação musical representou um grande avanço no que se refere à inserção das pessoas cegas ao campo da música: tanto na área da performance, quanto na área do ensino.

O próprio Louis Braille concebeu todos os fundamentos da notação musical, tal como esta se encontra atualmente. Entretanto, ao longo do tempo, houve algumas mudanças nesse código, realizadas por meio de acordos entre diferentes países. O professor de música incumbido de lecionar a um aluno com deficiência visual, tem o papel de apoiar esse processo de aprendizado, fornecendo-lhe os subsídios necessários para que seu contato com a notação musical em Braille seja produtivo. Não se espera que o educador musical pertencente ao ensino regular tenha pleno domínio e fluência no que se refere à leitura e escrita musical em braille. Mas supõe-se que ele deva ter conhecimento sobre os principais mecanismos desse código, e deva recorrer a especialistas ou instituições que prestam serviços de transcrição de partituras para pessoas cegas. Também é imprescindível que o professor tenha, para com o aluno, uma atitude positiva, podendo reconhecer seu potencial e respeitar seu modo de aprendizado, conforme aponta Pieck (S.D.)

Sabe-se que, sobretudo no Brasil, há uma carência de pessoas e entidades que se dediquem ao ensino e à difusão da musicografia braille. Consequentemente, há uma escassez de partituras transcritas para esse sistema. São, portanto, muito relevantes as iniciativas através das quais sejam implantados acervos musicais em braille, utilizados como subsídio ao ensino musical para cegos. A criação de tais acervos consiste, portanto, em uma demanda resultante das práticas pedagógicas que norteiam o ensino da musicografia braille.

Nesse estudo, pretende-se problematizar o acesso à notação musical em braille sob dois aspectos: Por um lado, tenciona-se abordar a criação de espaços de formação dedicados ao ensino e aprendizado desse sistema, e, por outro lado, pretende-se investigar os meios e recursos para a produção de partituras em braille, visando à implantação de acervos musicais para pessoas com deficiência visual.

Na presente pesquisa, está sendo elaborada uma proposta educacional referente ao ensino da Musicografia Braille, por meio da estruturação de oficinas sobre essa temática. Tenciona-se, na presente pesquisa, suscitar reflexões sobre a aplicação da proposta em diferentes contextos, com a participação de públicos-alvo diversos, incluindo: educadores musicais, estudantes de música com deficiência visual, profissionais especializados nas aplicabilidades do sistema Braille bem como

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instrumentistas que lidam com performance de diferentes repertórios e gêneros musicais.

Além disso, está sendo realizada uma vivência concreta no que diz respeito à implantação de um acervo de partituras em braille, no Laboratório de Acessibilidade da Biblioteca Central Cesar Lattes da UNICAMP.

As atividades desenvolvidas nesse estudo estão pautadas na normatização prevista no "Novo Manual Internacional de Musicografia braille". Essa obra contempla todas as regras que se referem ao uso da notação musical em braille, assim como aborda as aplicações desse sistema em diferentes contextos de representação musical.

Objetivos

Esse trabalho tem por objetivo problematizar o ensino e a difusão da musicografia braille, como um requisito imprescindível à educação musical de pessoas com deficiência visual.

Ele também está pautado nos seguintes objetivos específicos:

-Abordar o papel do professor de música pertencente ao ensino regular, no que se refere ao ensino/aprendizado da musicografia braille;

-Problematizar a criação de acervos de partituras em Braille que supram as demandas educacionais dos músicos com deficiência visual e que subsidiem o processo de formação desses alunos;

-Compreender o processo cognitivo inerente à leitura musical realizada por pessoas com deficiência visual, tendo em vista a elaboração de uma proposta pedagógica compatível com as demandas dessa população.

Metodologia

Nessa pesquisa, pretende-se elaborar uma proposta educacional referente ao ensino da musicografia Braille, como um subsídio à prática pedagógica de professores que lecionam a alunos com deficiência visual.

A partir de um referencial qualitativo, tenciona-se abordar a estruturação de uma proposta educacional, que possa ser aplicada em diferentes contextos. Busca-se adequar essa proposta à realidade das escolas de música brasileiras, de acordo com os recursos nelas disponíveis.

A primeira etapa de sua realização consistiu em um estudo minucioso do "Manual Internacional de Musicografia Braille", obra que contém toda a simbologia musical em braille e todas as normas de utilização e aplicação do código. A partir desse contato aprofundado com essa publicação, foram extraídas algumas conclusões acerca de sua estrutura e de seu uso por parte de alunos e professores de música. Constatou-se que, embora o Manual contenha todos os fundamentos do código, sua estrutura não contempla critérios pedagógicos, de modo que ele não constitui uma obra de caráter didático. Com base nos princípios que ele apresenta, surge a necessidade de ser concebida uma proposta educacional, que abranja os principais

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desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência visual no aprendizado da musicografia Braille.

Com a finalidade de se coletarem dados sobre o processo de aprendizado da musicografia Braille, estão sendo acompanhados dois casos de alunos com deficiência visual, os quais estão sendo alfabetizados musicalmente, ao mesmo tempo em que aprendem um instrumento. Além disso, está sendo acompanhado o caso de um professor de piano incumbido de dar aulas a um aluno cego. Esses casos estão sendo sistematicamente acompanhados por meio de encontros semanais entre a pesquisadora e os sujeitos já mencionados.

Os dados coletados darão origem a uma proposta educacional, estruturada sob os seguintes aspectos::

- Conteúdo programático com base na normatização da Musicografia Braille;

Estão sendo estruturados os módulos referentes às oficinas, tendo por base os mecanismos da leitura e escrita em Braille. Tais etapas propiciarão aos participantes o contato com a musicografia Braille, suficiente para que eles possam se aprofundar na apreensão de seus mecanismos.

-Materiais e recursos: Estão sendo delineados os recursos necessários para a realização dessas oficinas, incluindo equipamentos, softwares, material de consumo;

- Estratégias de avaliação: Busca-se também conceber meios que possibilitem avaliar o desempenho dos alunos no que se refere à apreensão do conteúdo abordado durante as oficinas;

- Público-alvo: Pretende-se estruturar oficinas voltadas a diferentes públicos, tais como: alunos com deficiência visual, educadores musicais, estudantes de Licenciatura em Música e profissionais ligados ao atendimento educacional especializado.

No intuito de estabelecer contato com entidades e instituições ligadas à área, foi concebida uma homepage informativa sobre essa pesquisa. No site, também foi criado um fórum que possibilita a interação entre os participantes, os quais podem emitir opiniões sobre a problemática do ensino da musicografia Braille.

A página pode ser acessada em: http://www.iar.unicamp.br/alunos/braillemusic Como um subsídio à proposta educacional já mencionada, está sendo realizada uma investigação acerca dos meios de produção de partituras em Braille. Essa investigação vem sendo, nesse trabalho, concretizada por meio da criação de um acervo musical em Braille.

A implantação desse acervo visa suscitar reflexões acerca dos recursos e meios disponíveis no que se refere à transcrição de músicas em braille.

A vivência da elaboração desse acervo possibilita uma melhor compreensão das variáveis presentes na produção de partituras. É importante destacar que essa fase da pesquisa conta com o apoio do Laboratório de Acessibilidade, situado na Biblioteca Central Cesar Lattes, da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas).

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Busca-se nesse trabalho, a transcrição de peças que pertençam a um repertório diversificado, no sentido de se investigar as peculiaridades da transcrição de cada estilo musical. Prioriza-se a produção de repertório brasileiro, o que possibilitará futuros intercâmbios com instituições internacionais.

O processo de transcrição de partituras tem sido periodicamente sistematizado, tendo em vista a sua otimização. Com base nas etapas estabelecidas para a produção de textos em Braille, contidas nas respectivas "Normas técnicas", está sendo possível delinear as fases referentes à produção de partituras, tendo em vista as peculiaridades da notação musical, descritas no "Novo Manual Internacional de Musicografia Braille".

O delineamento dessas etapas permite uma melhor compreensão do processo pelo qual as partituras são transcritas, e possibilita uma gradativa otimização do mesmo.

Resultados

A investigação proposta nesse trabalho resultará em subsídios para que se implementem novos acervos de partitura em Braille. Serão propostos critérios para a transcrição das partituras, bem como procedimentos que otimizem a produção desse material. A implantação de acervos musicais em Braille consiste em um elemento imprescindível à educação musical de pessoas cegas, e, assim, tal iniciativa fomenta a existência de espaços de formação na área da musicografia Braille.

Dadas as especificidades desse código, pode-se notar que o processo de transcrição de partituras é complexo e requer do transcritor habilidades específicas.

Não obstante essa complexidade, há uma grande demanda pela transcrição de material por parte de alunos com deficiência visual.

Assim, uma das questões problematizadas nesse campo se refere à formação de transcritores qualificados, que possam suprir tal demanda.

Faz-se necessário que sejam implementados serviços de transcrição de partituras em instituições especializadas bem como em escolas de música, tal como existe na Biblioteca do Congresso (EUA), descrito por Garmo (2005).

Supõe-se que a proposta educacional elaborada nessa pesquisa, bem como a implantação do acervo musical para pessoas com deficiência visual, fornecerão relevantes contribuições ao ensino e à disseminação da musicografia Braille.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Normas

técnicas para a produção de textos em Braille. Volume único [em Braille]. São

Paulo: Fundação Dorina Nowill para Cegos, s.d.

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GARMO, M. T. de. Introduction to Braille Music transcription. Washington, DC.: National Library Service for the Blind and Physically Handicapped/The Library of Congress. 2nd.ed. Disponível em: < http://www.loc.gov/nls/music/index.html>. Acesso em: 21 maio 2008. 309 p.

HAMILTON, R. H; PASCUAL-LEONE, A; SCHLAUG, G. Absolute pitch in blind musicians. NeuroReport, Boston, v.15, April 2004.

KROLICK, B. (comp.) Novo manual internacional de Musicografia Braille. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Es

MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar - o que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003.

PIECK, Stephanie. Attitude and apititude: Preparing Blind Students for Success. Disponível em: < http://www.menvi.org.acesso>. Acesso em: 29 de maio de 2008.

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