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ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA SALAS TEMÁTICAS A LEITURA AUXILIANDO A CONSTRUÇÃO DO REAL O DESPERTAR DO ALFABETIZADOR LEITOR

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ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA SALAS TEMÁTICAS

Capacitação Inicial e Continuada dos Alfabetizadores na Alfabetização Solidária. A LEITURA AUXILIANDO A CONSTRUÇÃO DO REAL

O DESPERTAR DO ALFABETIZADOR–LEITOR

TELMA ARDOIM tardoim@uol.com.br ) UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA INTRODUÇÃO: O trabalho tem por objetivo responder à pergunta: “Por que lemos?” e, quando respondida, “valorizar a leitura como fonte de informação, via de acesso aos mundos criados pela literatura e possibilidade de fruição estética, sendo capazes de recorrer aos materiais escritos em função de diferente objetivos” (Parâmetros Curriculares Nacionais – Língua Portuguesa. Ensino Fundamental. Vol. 2).

METODOLOGIA: Partindo dos conceitos de texto/textura/contextura, pretendemos mostrar a experiência com a análise do conto “A moça tecelã” de Marina Colassanti e o recurso da intertextualidade com os mitos greco-latinos das mulheres que tecem. O ato de “tecer o texto” é minuciosamente trabalhado e as múltiplas possibilidades de leitura vão aparecendo. Do trabalho com o texto para o processo da construção do real é quase que instantâneo, pois desencadeia uma avalanche de respostas à indagação primeira: “Por que lemos?”

RESULTADOS: Durante todo o processo de Capacitação - inicial e continuada – dos alfabetizadores, temos feito grupos de estudo com textos, os mais variados possíveis, de autores conhecidos e com textos criados pelos próprios alfabetizadores, incentivando o ato de ler, através da reconstrução do texto, que envolve o processo de descodificação e ativação de todos os conhecimentos e experiências de que eles dispõem. É assim que temos despertado neles a construção do real, já que, ao penetrar nesse complexo mecanismo, mantêm um diálogo com o(s) texto(s) através do seu conhecimento de mundo, interpretando-o – com certeza – de maneira totalmente diferente do que havia feito no início. Criamos assim a equação autor – leitor – texto e o papel de mediador de todo esse processo lhes é transferido: agora são eles que, enquanto sujeitos desse esquema, irão introduzir o alfabetizando no mundo maravilhoso da leitura e da escrita, transformando-o em cidadão pleno.

CONCLUSÕES: Ao responder à pergunta inicial e mostrar que lemos porque vivemos cercados de signos, ícones e símbolos que exigem sentido, cujo entendimento buscamos não só para nós, mas também para toda a comunidade da qual fazemos parte; pensamos colocar o professor-alfabetizador no papel de ampliador dos caminhos a serem trilhados pelos alfabetizandos, levando-se em conta que a leitura é um processo interativo, que transita do cognitivo para o social.

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A LEITURA AUXILIANDO A CONSTRUÇÃO DO REAL O DESPERTAR DO ALFABETIZADOR – LEITOR

TELMA ARDOIM



tardoim@uol.com.br ) UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA

VIDA TECIDA "Um tecido fiz

de vida: fios subindo, fios descendo. Um tecido fiz de vida: fios atados, fios cortados. Um bordado fiz no tecido de vida: linhas grossas, linhas finas, cores claras, cores minhas. Um vida fiz tecida, bordada, quase rendada. Relevos de altos e baixos, formas de todo jeito, que trago aqui no peito . E agora, trabalho pronto, até aquele ponto, que não tinha lugar, deu um jeito de se encaixar,

fez textura sem par." Rosaly Stefani

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I. INTRODUÇÃO:

Usando a etimologia do vocábulo “texto” e seus derivados, chega-se ao dualismo “textura X tecer” e a partir da análise do conto “A Moça Tecelã” de Marina Colassanti, demonstra-se a possibilidade da intertextualidade com a história da Bela Adormecida, dos mitos de Penélope, Parcas, Aracne e Ariadne, trazendo à tona a necessidade de se formar, não apenas cidadãos, mas burilá-los para que se transformem em cidadãos-leitores.

Comecemos com alguns conceitos - tirados do Dicionário Eletrônico Michaelis ( versão 2002 ) – que se fazem necessários para o bom entendimento do texto de Colassanti:

• tex.to [ do lat. textu ]

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• tex.tu.ra [ do lat. textura ]

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• con.tex.tu.ra

(ês), s. f. 1. Disposição das partes constituintes de um todo. 2. Caráter estrutural de qualquer coisa. 3. Corpo ou estrutura resultantes do entrelaçamento ou ligação de partes. 4. Tecido, trama de um pano. 5. Contexto do discurso; enredo de qualquer composição literária.

II. DESENVOLVIMENTO:

Temos, no conto “A Moça Tecelã” um texto do gênero narrativo. Sabemos, que a narração é um tipo de tessitura marcado pela temporalidade. A(s) personagem(ns) é (são) envolvida(s) pelo fato e pela ação de tal forma que a progressão temporal é essencial para o seu desenrolar. Essas ações direcionam-se para o conflito que requer uma solução, ou seja, uma situação nova.

Para isso, se faz necessário analisarmos o esquema abaixo:

personagem (ns) vive(m) personagem (ns) passam a viver situação A situação B conflito úú resolução do conflito úú mudança de situação

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Produzir um texto assemelha-se com a arte de tecer. Conduzimos as palavras como a tecelã conduz o fio, ora pra cá, ora pra lá, sempre com o cuidado de amarrá-lo para que o trabalho não se perca. Por isso, pertencem ao mesmo campo semântico de tecer: tessitura, fio da narrativa, enredo ( o verbo enredar significa “entrelaçar os fios para fazer a rede” ).

Esquematizando o quadro acima, temos: o personagem A vive um conflito que é resolvido. Após o conflito, o personagem A não será mais o mesmo do início da narrativa, passando assim da situação A para a situação B.

Passemos ao conto: 1. O CONTO:

A moça tecelã

Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.

Linha clara, para começar o dia. Delicado traço da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.

Depois, lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.

Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em prontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza. Assim, jogando a lançadeira de um lado para o outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.

Nada lhe faltava. Na hora da fome, tecia um lindo peixe com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou como seria bom ter um marido ao lado.

Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponta dos sapatos, quando bateram à porta.

Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando na sua vida.

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Aquela noite, deitada contra o ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensando em filhos, logo os esqueceu. Porque, descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

- Uma casa melhor é necessária, - disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. – Para que ter casa, se podemos ter palácio? – perguntou. Sem querer resposta, imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata. Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto, sem parar, batiam os pentes, acompanhando o ritmo da lançadeira.

Afinal, o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.

- É para que ninguém saiba do tapete, - disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: - Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!

Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E ela, pela primeira vez, pensou como seria bom estar sozinha de novo.

Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se a tear.

Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e, jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois, desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.

A noite acabava quando o marido, estranhando a cama dura, acordou e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.

Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.

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2. ANÁLISE DA NARRATIVA:

O conto metaforiza situações existenciais. Em lugar de conduzir a uma acomodação, instiga. Inverte e reverte elementos da história de fadas tradicional, reescrevendo-a numa perspectiva e linguagem atuais. Nele, a fantasia desmitifica o real, em vez de camuflá-lo. O imaginário é recurso persuasivo. Em sua riqueza e abertura a várias leituras, o conto ressalta, entre as muitas questões abordadas, a necessidade de se repensar os conceitos de relacionamento conjugal e de relacionamento da pessoa consigo mesma.

Principia com a protagonista sozinha, tecendo sua manhã, numa situação de equilíbrio, com todas as necessidades físicas e existenciais satisfeitas por ela própria, com o auxílio de um tear mágico. A moça é sujeito de sua vida: ‘Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo que queria fazer’. Adiante, ‘... tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha’. Tece, então, um companheiro para fazer-lhe companhia e enriquecer sua vida com filhos. Mas instaura-se um desequilíbrio decorrente das desmedidas exigências do marido, em tudo oposto à tecelã: ele obcecado pelo ter e pelo ordenar; ela realizada no ser e no fazer. Em sua ambição, descoberto o poder do tear, o homem isola do mundo a esposa, tornando-a objeto de realização de seus caprichos. Frustrada em seu desejo de companheirismo e amor, oprimida, anulada, ela percebe que teceu a solidão mais cruel – a de sentir-se só, estando acompanhada: ‘E pela primeira vez pensou como seria bom estar sozinha de novo’.

A desmitificação da idéia de casamento como fórmula de felicidade atinge seu clímax no trecho ‘Tecia e entristecia’, quando o ato de tecer, agora condicionado ao desejo exclusivo do esposo, deixa de apresentar para ela um sentido de satisfação existencial. O equilíbrio só se restaura por meio de um insight: a moça percebe o marido opressor como objeto que pode ser eliminado de sua vida. Determinada, retoma o papel de sujeito: ‘... começou a desfazer o tecido’. No final, outra vez sozinha, a moça tece para si uma nova manhã.

No conto, a palavra ‘sozinha’ apresenta dois significados: o de estar em solidão (carência do outro, uma circunstância negativa) e o de estar desacompanhada (ausência do outro, mas não necessariamente uma circunstância negativa). O jovem leitor, confrontado com as duas possibilidades significativas dessa palavra, é levado a tecer suas próprias conclusões a respeito do que seja um ‘final feliz’ na história. Passa a questionar, portanto, o literária e socialmente consagrado mito do ‘... e, juntos, foram felizes para sempre’.

Marina Colasanti, ela também uma ‘moça tecelã’, tece seu texto habilmente, por meio de elementos lexicais, sintáticos e coesivos bem entrelaçados – ideologia e linguagem costurados de maneira indissolúvel.

Tecendo e destecendo um conflito paralelamente ao da personagem que tece e destece a sua vida.

Os 7 primeiros parágrafos são mansos, nada acontece, não há conflito. ( há mais descrição, quase nenhuma narração )

Os fatos começam a se suceder depois do homem tecido. Agora começa de verdade a narração. O clímax acontece com a eliminação do conflito.

No último parágrafo há a retomada dos parágrafos iniciais e o caráter descritivo (poético) volta a reinar. É curto e teria que assim ser, pois o conflito foi eliminado.

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3. A INTERTEXTUALIDADE:

A intertextualidade, vista como um dos fatores que garantem a produção e a recepção de um texto depender do prévio conhecimento de outros textos. Todo discurso é matéria-prima para um outro e assim sucessivamente, formando um “ato contínuo”.

Sendo a intertextualidade a convivência de um ou mais textos, identificáveis, mas muitas vezes indissolúveis, com o suporte de uma estrutura textual, percebemos o texto sob duas óticas diferentes. De imediato, o texto no próprio texto, apresentando características superficiais no que diz respeito à impressão causada. Depois – e não necessariamente nessa ordem – o texto no contexto; uma visão mais profunda que engendra uma multiplicidade de interpretações decorrentes de pressupostos contextuais que abrangem desde a enunciação até as informações explícitas e implícitas inferidas do enunciado. Para Laurent Jenny “A intertextualidade fala uma língua cujo vocabulário é a soma de textos existentes; introduzindo um novo modo de leitura que faz estalar a linearidade do texto.” Podemos criar a intertextualidade do texto apresentado com muitos outros. Como exemplo, citamos:

3.1. O MITO DE PENÉLOPE:

Terminada a guerra de Tróia, Ulisses iniciou o seu regresso a Ítaca, onde vivia a sua esposa, Penélope, e seu filho, Telêmaco, mas um temporal afastou-o com suas naves da frota. Começaram, assim, os dez anos de aventuras pelo Mediterrâneo (portanto, vinte longe de Ítaca) que constitui o argumento da Odisséia.

Durante este período, em Ítaca, Penélope expiava o longo regresso de seu esposo. Cortejada por toda sorte de indivíduos, os quais abusavam de sua hospitalidade, deitando-se até com suas criadas. Penélope, reticente, propunha escolher um deles para desposá-la somente quando terminasse a tapeçaria que, pacientemente, tricotava durante o dia para, à noite, às escondidas, desfazê-la e, assim, nunca terminá-la.

3.2. O MITO DAS PARCAS OU MOIRAS:

Personificam o destino individual da parcela que toca a cada um nesse mundo. Os gregos acreditavam que ser humano tinha a sua parte de vida, felicidade e de desgraça aqui na Terra. As Moiras são as guardiãs da ordem universal e nenhum homem, nem mesmo os deuses poderiam alterar o destino sem comprometer essa ordem pré-estabelecida. Elas podem inclusive, impedir que um deus salve seu protegido da hora da morte. A figura de 3 Moiras surgiu após as epopéias homéricas, pois antes era apenas a figura de uma Moira universal. As Moiras eram: Cloto (a fiandeira, ela segura o fuso e vai puxando o fio da vida), Láquesis (enrolava o fia da vida e sorteava o nome de quem deveria morrer) e Átropos (a inflexível que cortava o fia da vida). O fio da vida simboliza o destino humano. As

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três fiandeiras são filhas da Noite, em Hesíodo, e após serem personificadas, tornaram-se filhas de Zeus e Têmis. Mas mesmo Zeus as temia pois representavam uma força antigo do Universo.

Em Roma as Parcas foram identificadas com as Moiras e assimilaram suas funções, embora na origem, as Parcas estavam mais identificadas ao nascimento, casamento e morte.

3.3. O MITO DE ARACNE:

Segundo a mitologia grega, Aracne era uma jovem tecelã que vivia na Lídia, em uma região da Ásia Menor chamada Meônia.

Atena (Minerva, na mitologia romana) era filha de Zeus, e além de ser a deusa da Sabedoria , era a deusa que presidia as artes e os trabalhos manuais – a tecelagem inclusive. Aracne ficou extremamente ofendida e, querendo provar sua independência e auto-suficiência, caiu na fraqueza de afirmar que podia competir com Atena e seria capaz de derrotá-la na arte da tecelagem.

Ao saber da presunção de Aracne, Atenas foi procurá-la disfarçada como uma anciã e pediu-lhe que a escutasse, devido à experiência de sua idade avançada: "Busque entre os mortais toda fama que desejar, mas reconheça a posição da deusa".

E o duelo começou. Atenas teceu a mais extraordinária cena que podia existir e Aracne não ficou atrás.

Tão perfeita foi a obra de Aracne que Atena não conseguiu encontrar nela a mínima falha. Irritada, Atena rasgou a tecelagem em pedaços e golpeou Aracne na cabeça. Em seguida, derramou sobre Aracne fluidos retirados das ervas da deusa Hecate e transformou-a em uma aranha. Dessa forma, Aracne foi salva da morte e, embora condenada a ficar dependurada em sua teia, a beleza de sua arte não ficaria perdida para sempre neste mundo. A palavra aranha vem do grego aráchne.

3.4. O MITO DE ARIADNE:

Tema freqüente de inspiração para escritores, o Minotauro tem sido considerado um símbolo da fatalidade que determina o curso da vida humana.

Segundo a mitologia grega, Posêidon, deus do mar, enviou a Minos, rei de Creta, um touro branco que deveria ser sacrificado em sua honra. Deslumbrado com a beleza do animal, o monarca

guardou-o para si. Em represália, Posêidon despertou na rainha Pasífae uma doentia paixão pelo animal. Da união, nasceu o Minotauro, ser monstruoso com corpo de homem e cabeça de touro.

Logo após seu nascimento, o Minotauro foi levado ao labirinto, construído pelo arquiteto e inventor Dédalo e de onde ninguém conseguia sair. Anos mais tarde, Minos declarou guerra a Atenas, para vingar o assassinato de seu irmão Androgeu. Vitorioso, exigiu que os vencidos enviassem, a cada

nove anos, sete rapazes e sete virgens para serem devorados pelo Minotauro. Quando os atenienses se preparavam para pagar pela terceira vez o tributo, Teseu se ofereceu como voluntário. Penetrou no labirinto, matou o Minotauro e, guiado por um fio que lhe fora dado por Ariadne, filha de Minos, escapou

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4. CONCLUSÃO:

Assim, concluímos com uma intertextualidade “de peso”. Ou melhor, chamando até nós três textos que fundamentam todo esse trabalho.

Primeiramente, Paulo Freire e sua fala sem qualquer contestação. Ele nos diz que “A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da

continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade prendem-se dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações

entre o texto e contexto.”

Depois, reproduzimos Marisa Lajolo – em seu livro Mundo da leitura, leitura de mundo: onde acaba um e começa outra? (p.8) – premia-nos com “Do mundo da leitura à leitura do mundo, o trajeto se cumpre sempre, refazendo-se, inclusive, por um vice-versa que transforma a leitura em prática circular e infinita. Como fonte de prazer e de sabedoria, a leitura não esgota seu poder de sedução nos estreitos círculos da história.”

Finalmente, o texto primoroso de Mário Quintana retomo o caráter lúdico da leitura e , ao mesmo tempo, o seu papel na formação do leitor-cidadão, que é capaz de mudar-se a si mesmo e transformar o

mundo que nos rodeia.

NÃO DESPERTEMOS O LEITOR

Os leitores são, por natureza, dorminhocos. Gostam de ler dormindo.

Autor que os queira conservar não deve ministrar-lhes o mínimo susto. Apenas as eternas frases feitas.

“A vida é um fardo”- isto, por exemplo, pode-se repetir sempre. E acrescentar impunemente: “disse Bias”. Bias não faz mal a ninguém, como aliás os outros seis sábios da Grécia, pois todos os sete, como há vinte séculos já se queixava Plutarco, eram uns verdadeiros chatos. Isto para ele, Plutarco. Mas, para o grego comum da época, deviam ser a delícia e a tábua de salvação das conversas.

Pois não é mesmo tão bom falar e pensar sem esforço? O lugar-comum é a base da sociedade, e sua política, a sua filosofia, a segurança das instituições. Ninguém é levado a sério com idéias originais.

Já não é a primeira vez, por exemplo, que um figurão qualquer declara em entrevista: “O Brasil não fugirá ao seu destino histórico!”

O êxito da tirada, a julgar pelo destaque que lhe dá a imprensa, é sempre infalível, embora o leitor semidesperto possa desconfiar que isso não quer dizer coisa alguma, pois nada foge mesmo ao seu destino histórico, seja um Império que desaba ou uma barata esmagada.

Colocar um ponto final é sempre difícil quando se trabalha a intertextualidade. Mas, temos que encontrar um jeito. Então, retomamos os dois textos – o da Marina Colassanti e este último e ousamos dizer:

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O autor dorminhoco poderia argumentar: “mas tudo voltou a ser como antes, não houve mudança”. Engano dele: a moça não é mais a mesma: ela acumula a experiência desagradável de ter tentado. De ter “construído” um companheiro cujos valores não são iguais aos seus.

IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BRUNEL, Pierre; SEVCENKO, Nicolau. Dicionário de mitos literários. Rio de janeiro: JOSE OLYMPIO, 1998.

COLASANTI, Maria. Doze reis e a moça no labirinto do vento. 6° ed. Rio de Janeiro: Nórdica, 1982. p. 12-16.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler – em três artigos que se complementam. 22 ed. São Paulo: Cortez, 1988.

GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em Prosa Moderna: aprenda a escrever, aprendendo a pensar. 14 ed.. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1988.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002. LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 6 ed. Rio de Janeiro: editora Ática, 2002.

PEREIRA, Maria Teresa Gonçalves. Leitura e Intertextualidade: O Cruzamento de Teorias e Práticas Textuais. In. VALENTE, André (org.) Língua, Lingüística e Literatura: uma integração para o ensino. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998.

QUINTANA, Mário. Caderno H. Porto Alegre: Globo,1983. p. 52

VALENTE, André Crim. A produtividade lexical em diferentes linguagens. In. AZEREDO, José Carlos de (org.). Língua Portuguesa em Debate – conhecimento e ensino. Petrópolis, RJ : Vozes, 2000.

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