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Transferências governamentais e despesas públicas locais: evidências para os municípios brasileiros

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Transferências governamentais e despesas públicas locais: evidências para os municípios brasileiros

Resumo

Através da exploração de um painel de municípios brasileiros entre 1989 e 2005, o objetivo deste estudo é investigar se aumentos e quedas das transferências governamentais recebidas por tais unidades apresentam impacto simétrico sobre o comportamento das suas despesas públicas, bem como encontrar evidências do flypaper effect. Os resultados obtidos pelos testes econométricos podem ser vistos como relevantes para a literatura referente, pois indicam não só que, de fato, existe uma menor propensão à corte de despesa orçamentária quando ocorrem quedas das receitas de transferências governamentais, mas esta queda dos gastos totais (i) ocorre criando um efeito recomposição entre despesas correntes e investimentos e (ii) varia de acordo com fatores políticos. Finalmente, os resultados sugerem também que os gastos locais são mais sensíveis a aumentos das receitas de transferências governamentais do que a aumentos da renda local.

Abstract

By evaluating a panel of Brazilian municipalities during the 1989 – 2005 period, this paper aims at investigating whether the increases and decreases of government transfers received by local unities symmetrically influence their level of public expenditures, as well as evaluate the presence of flypaper effect. The results are important to the regarded literature, given they not only suggest that Brazilian municipalities are less prone to cut total public expenses when they face lower levels of grants, but such decrease of total expenses (i) occurs in a way that promotes a recomposition effect between current and investment expenditures and (ii) varies according to political factors. Finally, the results also suggest that public expenditures of Brazilian local unities are more sensitive to increases of government transfers than to increases of local income.

Palavras – chave: Municípios brasileiros, Dados em Painel, Transferências governamentais,

Flypaper effect

Key words: Brazilian municipalities, Panel data, Government transfers, Flypaper effect

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I – Introdução

As transferências governamentais representam um dos principais mecanismos associados ao federalismo fiscal, e uma das principais razões consideradas para a implementação deste é a necessidade de se corrigir, através do governo central, eventuais desequilíbrios existentes entre as unidades locais, ou seja, as transferências poderiam permitir que o desenvolvimento das diversas regiões de um dado país pudesse ocorrer de forma mais homogênea, por exemplo. Em especial no caso do Brasil, é sabido que estes recursos desempenham papel relevante no seu sistema fiscal, uma vez que representam parte significativa dos recursos disponíveis pelos seus estados e, em especial, pelos seus municípios. Assim, torna-se importante analisar como os gastos dos municípios brasileiros se comportam em relação às transferências recebidas pelo governo federal e pelos seus respectivos governos estaduais.

Especificamente para os fins do estudo que aqui se propõe, considere, por exemplo, uma situação em que ocorra um aumento das receitas de transferências governamentais recebidas por um determinado município, relativamente ao ano anterior, e que tal aumento de receitas gere um aumento de gastos em um determinado montante ϕ, por exemplo. Caso os efeitos fossem perfeitamente simétricos, seria natural que uma mesma queda das receitas acarretaria uma queda dos gastos municipais no mesmo montante ϕ considerado anteriormente. A literatura referente considera a existência de alguns fatores que podem fazer com que este efeito não seja perfeitamente simétrico e, em especial, sugerem que o efeito do aumento é, em módulo, superior ao efeito de redução de gastos. Em primeiro lugar, a existência de rigidez em alguns itens de despesa do orçamento municipal pode inviabilizar cortes de despesa em momentos de queda das receitas de transferências governamentais, como por exemplo, a provisão de determinados serviços públicos à população, o pagamento dos funcionários da administração pública local e a conclusão de obras já em andamento, entre outros. Em segundo lugar, considerando razões de natureza política, é natural considerar que medidas de contenção de gastos públicos tendem a gerar certo desgaste político ao governante local, o que inibiria a adoção de medidas de diminuição da execução de recursos públicos quando da queda dos recursos em questão. De qualquer forma, a idéia que o artigo procura investigar é se os gastos locais são mais sensíveis a aumentos das receitas de transferências governamentais do que a quedas.

Uma outra discussão importante surge quando da discussão das transferências governamentais, qual seja, o denominado flypaper effect. De acordo com este, o recebimento

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de transferências fiscais lump sum, por governos sub-nacionais, implicaria em aumento das despesas públicas locais proporcionalmente maior do que aquele que seria gerado por um aumento equivalente da renda pessoal. Em um modelo que considere um eleitor mediano representativo, os dois efeitos deveriam ter a mesma magnitude, pois uma transferência lump sum representaria, para tal indivíduo, o mesmo que um aumento em sua renda privada.

Com base nas discussões apresentadas, o objetivo deste estudo é, em primeiro lugar, procurar averiguar se os aumentos e reduções das despesas dos municípios do Brasil ocorrem de forma simétrica frente a aumentos e reduções das receitas de transferências governamentais recebidas por tais localidades. Em segundo lugar, caso evidências de assimetria sejam de fato observadas, o artigo procura aprofundar a análise através da investigação de elementos que podem influenciar o efeito de interesse: em especial, o estudo considera elementos de natureza política como potenciais fontes de caracterização do efeito assimétrico. Finalmente, paralelamente à questão das transferências governamentais, o artigo tem com propósito adicional procurar evidências do chamado flypaper effect nos municípios brasileiros.

O artigo que aqui se apresenta procura contribuir com a literatura referente em algumas questões importantes: em primeiro lugar, apesar de já existir no Brasil uma certa quantidade de trabalhos que abordam seja o fenômeno do flypaper effect1, existe uma lacuna importante da literatura brasileira a ser preenchida especificamente no que diz respeito à forma com a qual as despesas públicas de unidade sub-governamentais se comportam em situações de queda das receitas de transferências – para os municípios, isto é verdadeiro principalmente para aqueles de porte reduzido, situadas nas regiões menos ricas do país. Em segundo lugar, entende-se que esta é uma avaliação importante para a elaboração de políticas de administração do orçamento público, pois permite um entendimento mais profundo a respeito da forma com as quais as prefeituras dos municípios brasileiros administram os recursos obtidos a partir do governo federal e de seus respectivos governos estaduais. Tal questão vem a ser especialmente importante especialmente na atual conjuntura econômica brasileira, na qual a arrecadação fiscal por parte do governo federal tem sofrido queda, com a conseqüente diminuição dos recursos transferidos aos governos locais2. Além disso, esta é uma avaliação importante em função do número significativo de municípios constituídos no Brasil após a Constituição de 1988, boa parte de porte populacional reduzido, o que aumenta o número de unidades governamentais dependentes das transferências governamentais3. Finalmente, ao incorporarmos na análise

1 Vide Cossio (2002), por exemplo.

2 Vide, por exemplo, reportagem intitulada “Prefeituras querem que governo crie repasse fixo do FPM de 4,2

bilhões”, disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u548512.shtml.

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fatores de natureza política, o artigo procura encontrar possíveis elementos que influenciem o efeito assimétrico dos aumentos e diminuições das receitas de transferências governamentais recebidas pelas unidades locais do país. Desta forma, com base nestes argumentos, este artigo procura não só trazer contribuições de natureza teórica, mas também subsídios que possam ser importantes para a administração dos recursos públicos por parte das unidades locais do país.

Este artigo está dividido em cinco partes, sendo esta introdução a primeira delas. A segunda seção apresenta uma breve revisão da literatura referente, ao passo que a terceira realiza uma discussão a respeito do referencial metodológico e da base de dados utilizada nos testes empíricos, cujos resultados são apresentados e discutidos na quarta seção do artigo. Por fim, a quinta seção apresenta as considerações finais do estudo.

II – Revisão da literatura

Considerando as discussões realizadas nos parágrafos anteriores, é possível apresentar algumas referências já existentes na literatura referente: em um dos primeiros artigos com o propósito de testar a existência ou não do efeito simétrico de interesse, Gamkhar & Oates (1996) consideraram uma amostra composta por municípios e estados americanos entre 1953 e 1991, e os resultados obtidos sugerem que o efeito é simétrico, ou seja, aumentos e quedas das receitas de transferências causam impactos sobre os gastos públicos com o mesmo sinal e magnitude. Ademais, os resultados obtidos sugerem a existência do flypaper effect, ou seja, o impacto das transferências governamentais sobre os gastos é maior que o impacto exercido pela renda privada.

Uma segunda referência que pode ser considerada é o estudo realizado por Volden (1999), que considera um painel de estados americanos entre os anos de 1965 e 1994 e tem como foco de análise os gastos assistenciais realizados por tais unidades: as evidências encontradas sugerem que a concessão de tais benefícios aumentou nos momentos de aumento dos recursos recebidos através de transferências federais, mas não são observadas reduções destes auxílios quando ocorre queda destas receitas. Além deste, um outro artigo com perfil semelhante ao aqui proposto é Levaggi & Zanola (2003), o qual, através da análise de um painel de regiões administrativas da Itália entre os anos de 1989 e 1993, tem como propósito encontrar evidências de que aumentos e quedas das receitas de transferências governamentais apresentam influência assimétrica sobre os gastos referentes à área de saúde4. Os resultados

4

Para exemplificar, os autores consideram além dos gastos totais, componentes específicos como pagamento de funcionários, medicamentos e serviços médicos, entre outros.

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obtidos por tais autores são distintos dos obtidos por Gamkhar & Oates (1996) e sugerem que um aumento nas receitas de transferências causa aumento dos gastos em saúde, mas quando há uma queda exatamente igual destes recursos, a queda dos gastos é comparativamente menor. Por fim, os resultados deste artigo também sugerem a existência do flypaper effect.

Mais recentemente, três artigos com perfil semelhante ao aqui proposto podem ser apresentados. O primeiro é o trabalho realizado por Heyndels (2001) que, ao analisar um painel de municípios belgas entre 1989 e 1996, encontra evidências do flypaper effect, bem como evidências de que a assimetria da reação dos gastos é tal que aumentos de transferências aumentam os gastos públicos locais, mas queda das transferências diminui tais dispêndios em uma magnitude muito limitada. O segundo é o trabalho de Deller & Maher (2005), o qual analisa o impacto das transferências governamentais sobre os gastos públicos executados pelas unidades locais do estado americano de Wisconsin entre os anos de 1990 a 2000. Além de encontrar evidências do flypaper effect, os resultados obtidos sugerem que as despesas executadas por tais unidades reagem, de fato, de forma assimétrica frente aos aumentos e quedas das transferências recebidas, em linha com os resultados obtidos por Levaggi & Zanola (2003), por exemplo. Finalmente, no terceiro estudo, através da análise de um painel de municípios espanhóis entre os anos de 1985 e 1995, Lago-Penãs (2008) buscou evidências de efeitos assimétricos de aumentos e de queda das receitas de transferências governamentais sobre as despesas públicas de tais localidades. Em primeiro lugar, os resultados indicam que um aumento da receita gera um aumento dos gastos superior, em módulo, à redução dos gastos quando ocorre uma mesma queda das receitas de transferências governamentais. Em segundo lugar, ao decompor as receitas entre transferências correntes e transferências de capital, o autor constata que o efeito assimétrico é relativamente maior para este último tipo de recurso, ou seja, parece haver uma maior dificuldade em diminuir os gastos municipais quando há uma queda das transferências de capital, comparativamente ao efeito que decorreria de uma mesma queda das transferências correntes. Finalmente, ao incluir variáveis de natureza política, os resultados obtidos por tal autor ainda sugerem que o efeito assimétrico é mais proeminente quando o município é administrado por um partido considerado de esquerda, embora a ocorrência de anos eleitorais não afete de forma significativa a magnitude da assimetria.

III – Referencial metodológico e descrição dos dados

Conforme discutido anteriormente, o objetivo deste artigo é procurar evidências de que os aumentos e diminuições das receitas de transferências governamentais recebidas pelos

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municípios brasileiros apresentam impactos assimétricos sobre o aumento e a queda dos gastos destas localidades. Ademais, o artigo tem como motivação adicional analisar a presença e magnitude do flypaper effect, um tema relevante para a literatura do federalismo fiscal, em especial para o caso brasileiro.

Os dados utilizados neste estudo constituem um painel de 48465 municípios ao longo dos dezessete anos compreendidos entre 1989 e 2005, e a análise do impacto da queda das receitas de transferências governamentais sobre as despesas dos municípios brasileiros é realizada não só para a despesa total (despesa orçamentária), mas também para componentes específicos desta, quais sejam, despesa corrente, despesa de investimentos e finalmente, uma categoria aqui denominada “despesa social”, que consiste no somatório das despesas realizadas pelas funções orçamentárias saúde e saneamento, educação e cultura e finalmente, assistência e previdência. A decomposição entre despesa corrente e investimentos foi realizada uma vez que esta divisão é representativa do horizonte de tempo (despesas de curto e de longo prazo) e do caráter (manutenção da máquina pública x investimento público) associados a tais componentes do orçamento público. Ademais, as despesas associadas às três funções orçamentárias anteriormente citadas representam boa parte da despesa dos municípios brasileiros e estão fortemente associadas ao papel social que a administração local muitas vezes desempenha em tais localidades, além naturalmente da importância política que as envolve. Assim, entende-se que as quatro categorias de despesa aqui analisadas são relevantes para os propósitos deste estudo, conforme discutido anteriormente. Ademais, dado que o trabalho de Lago-Penãs (2008) não analisou nenhum componente específico dos gastos, e dado que o trabalho de Lavaggi & Zanola (2003) analisou exclusivamente gastos em saúde, entende-se que a desagregação aqui proposta pode contribuir sobremaneira com a literatura referente, ao avaliar diferentes categorias de despesa.

O procedimento econométrico implementado neste artigo é bastante semelhante ao utilizado pelas duas referências mencionadas no parágrafo anterior, e que pode ser simbolizado através da equação (1) exposta em seqüência6:

Git =

α

+ fi +

β

.Yit +

ϕ

.TRit +

γ

.(TRit – TRit-1).Dit + 1 . H it h h Xh δ =

+ εit (1)

5 O painel não considera todos os municípios brasileiros uma vez que muitos dos mesmos apresentavam valores

para somente alguns anos da amostra. Assim, optou-se por considerar uma amostra que fosse minimamente representativa para os propósitos deste estudo.

6 Conforme discutido em Levaggi & Zanola (2003), dado que a forma funcional considerada já assume variáveis

em nível e em diferenças, optou-se por não estimar um painel dinâmico, dado que este poderia tornar limitada a análise do efeito assimétrico.

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Nesta forma funcional, G vem a ser cada um dos itens de despesa municipal a ser analisado neste trabalho. Por sua vez, Y vem a ser o PIB per capita local, TR vem a ser a receita de transferências governamentais (do governo federal e do governo estadual) recebida pelo município e D vem a ser uma variável dummy que assume o valor 1 quando há uma queda das receitas de transferências entre o ano anterior e o ano corrente (ou seja, quando TRit < TR it-1) e assume o valor 0 caso contrário. Considera-se adicionalmente um conjunto de h variáveis

de controle X, as quais serão definidas na seqüência do artigo, f denota o efeito fixo de cada município e ε denota o componente de erro. Os subscritos i e t referem-se, respectivamente, a cada município e a cada ano da amostra.

Um dos principais elementos a serem analisados neste estudo é o coeficiente γ, que capta a magnitude do efeito da queda das receitas de transferências sobre as despesas municipais. Tendo em mente que o termo (TRit – TRit-1).Dit é sempre negativo, e considerando a

equação (1) anteriormente exposta, note que o coeficiente

ϕ

capta o efeito de um aumento das receitas de transferências governamentais, ao passo que caso o coeficiente

γ

define a presença ou não do efeito assimétrico: caso este último seja estatisticamente nulo, tem-se o caso simétrico, mas caso o mesmo seja estatisticamente significante, o efeito de uma queda destes recursos é captado por (

ϕ

-

γ

) e tem-se então, o caso assimétrico. Desta forma, é a análise destes termos que permite averiguar se o efeito de aumento e de queda das receitas de transferências sobre as despesas municipais é simétrico ou não, sendo importante ressaltar que a assimetria pode assumir duas possibilidades: a primeira seria o caso em que uma queda das transferências gera uma queda dos gastos, em módulo, inferior ao aumento dos gastos quando ocorre aumento das transferências (caso em que | ϕ | > | ϕ - γ | ). A segunda possibilidade, por sua vez, seria o caso em que uma queda das transferências causasse uma queda dos gastos, em módulo, superior ao aumento dos gastos decorrentes de aumentos das transferências (ou seja, caso em que | ϕ | < | ϕ - γ |, que ocorreria quando γ fosse negativo). Finalmente, as estimações incluem o valor do PIB per capita municipal como proxy para a renda privada7, com vistas a analisar o fenômeno do flypaper effect – caso os coeficientes

β

e

ϕ

sejam iguais, tal fenômeno inexistiria, mas caso

β

<

ϕ

, existiriam evidências de que tal fenômeno é de fato observado no caso dos municípios brasileiros.

7 O Ipeadata provê informações a respeito de uma variável denominada “Valor total dos rendimentos recebidos”, a

qual poderia ser uma variável mais adequada para os propósitos deste estudo. Contudo, o grau de cobertura destes dados (tanto na dimensão temporal como na dimensão seccional) é menor que o grau de cobertura da variável PIB municipal, o que justifica a escolha desta última. É importante ressaltar que houve necessidade de se realizar interpolação (no caso, optou-se pela exponencial) desta variável para completar alguns anos do período analisado neste artigo.

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As variáveis de controle das estimações consideram elementos de caráter estrutural de cada município, quais sejam, (i) proporção de jovens e (ii) proporção de idosos bem como (iii) suas respectivas taxas de urbanização e (iv) população total (esta última, em logaritmo natural). Finalmente as estimações incluem também um termo de tendência linear e um termo de tendência quadrática, com vistas a controlar as estimações por eventuais efeitos de longo prazo existentes na amostra.

Os dados de natureza fiscal foram obtidos junto ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipeadata) e as informações políticas foram obtidas junto ao Tribunal Superior Eleitoral e a alguns dos Tribunais Regionais Eleitorais do país, além de terem sido também obtidas a partir da base de dados desenvolvida pelo cientista político Jairo Nicolau8. Finalmente, os dados de natureza demográfica foram obtidos a partir do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ressalta-se que os dados fiscais estão em valores per capita e em valores reais do ano de 2008. O apêndice I apresenta as estatísticas descritivas das variáveis, ao passo que o apêndice II apresenta uma informação relevante: note que a proporção dos municípios que apresentam queda nas receitas de transferências (frente ao ano anterior) varia significativamente ao longo do tempo, o que tende aumentar as chances de se captar o efeito assimétrico de interesse deste trabalho.

IV – Apresentação e análise dos resultados

Esta terceira seção do artigo realiza a apresentação e discussão dos resultados econométricos obtidos conforme descrito na seção anterior9. Os resultados apresentam a estatística do teste de Hausman10, que aponta para a consistência do resultado obtido através do método de efeitos fixos, o que justifica a exposição dos resultados obtidos através deste procedimento11.

8 http://jaironicolau.iuperj.br/index.html

9 Para as estimações, considere as seguintes notações para a significância estatística dos coeficientes:

* = estatisticamente significante a 10% ** = estatisticamente significante a 5% *** = estatisticamente significante a 1%

10 Teste de Hausman:

H0 = o estimador de efeitos fixos e do modelo de efeitos aleatórios são ambos consistentes, mas o de efeitos

aleatórios é eficiente;

Ha = só o estimador de efeitos fixos é consistente.

O teste é distribuído através de uma χ2 com n (número de coeficientes estimados) graus de liberdade.

11

Os resultados obtidos através do método de OLS e efeitos aleatórios podem ser obtidos através de solicitação junto ao autor.

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Os resultados expostos nas colunas A, B, C e D da tabela 112 são referentes às estimações nas quais as variáveis dependentes são, respectivamente, a despesa orçamentária, a despesa corrente, os investimentos e as despesas sociais. No que diz respeito ao fenômeno do flypaper effect, os resultados obtidos sugerem que este parece, de fato, ocorrer no caso dos municípios brasileiros. Observe que, para os gastos totais (coluna A), o coeficiente referente à renda local per capita é da ordem 0,000329 e o coeficiente referente às transferências é da ordem de 0,78, uma diferença significativa. Com o propósito de permitir uma investigação mais específica destes valores, as colunas A a D da tabela 1 apresentam, entre colchetes, o valor absoluto das elasticidades, todas calculadas nos valores médios da renda local e da receita de transferências governamentais: no caso das despesas totais, os valores são iguais a, respectivamente, 0,02 e 0,89, cuja diferença tende a reforçar a percepção do flypaper effect no caso brasileiro. Os resultados referentes às demais categorias de gastos (colunas B a D) são relativamente semelhantes ao caso das despesas totais e em todos os quatro casos, não é possível aceitar a hipótese nula de igualdade dos coeficientes mencionados, mesmo considerando níveis estatísticos inferiores a 1%13. Contudo, é importante destacar o caso dos investimentos, cujo coeficiente referente à renda local per capita assume sinal negativo, o que parece indicar que a expansão da renda de uma dada localidade gera uma recomposição dos seus gastos públicos (entre gastos correntes e investimentos). De todo modo, não deve ser descartada a possibilidade de que a queda dos investimentos públicos realizados pela administração local esteja sendo compensada por maiores investimentos públicos realizadas por instâncias governamentais superiores ou até mesmo pelo setor privado local.

Analisando a questão do efeito simétrico das transferências, os resultados das colunas A a D sugerem que quando há um aumento de R$ 1 nas receitas de transferências, há um aumento de R$ 0,78 na despesa total e de R$ 0,52 na despesa corrente dos municípios brasileiros, ao passo que há um aumento de R$ 0,23 nos investimentos e um aumento de R$ 0,49 nas despesas sociais. Por sua vez, a análise do termo que indica a queda das receitas de transferências sugere resultados importantes não só para este trabalho, mas também para a literatura referente: em primeiro lugar, o efeito sobre as despesas totais é de fato assimétrico e mais especificamente, indica que uma queda das receitas se traduz numa queda dos gastos em apenas R$ 0,75 (0,78 – 0,03), ou seja, este resultado corrobora a idéia de que o efeito do aumento das transferências

12 A tabela 3 apresenta um resumo dos valores referentes ao efeito assimétrico, tanto para as colunas A a H da

tabela I como para as colunas M a P da tabela II.

13 No caso das despesas totais, a estatística F do teste de igualdade entre os coeficientes referentes à renda local e à

receita de transferências é igual a 36.215. No caso das despesas correntes, dos investimentos e das despesas sociais, as estatísticas são iguais a, respectivamente, 15.038, 8.111 e 18.774, ou seja, os quatro testes rejeitam a hipótese de igualdade entre os coeficientes.

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sobre o aumento dos gastos é maior (em modulo) do que o efeito da queda das transferências sobre a queda dos gastos. Em segundo lugar, embora os efeitos sobre a despesa corrente e sobre os investimentos também sejam assimétricos, os resultados indicam que uma queda de R$ 1 das receitas de transferências gera um queda das despesas correntes da ordem de R$ 0,54 (0,52 + 0,02), ou seja, o efeito de queda das transferências é maior (em módulo) que o efeito do aumento destas receitas. Já os investimentos sofrem uma queda da ordem de R$ 0,18 (0,23 – 0,05), ou seja, de forma oposta ao caso das despesas correntes, o efeito do aumento das transferências é, em módulo, superior ao efeito da queda. Desta forma, tomados em conjunto, estes resultados indicam para a existência de um efeito recomposição entre despesas correntes e investimentos dada uma queda nas transferências, uma vez que a queda do primeiro destes gastos é maior que a queda observada no caso do segundo. Por fim, o impacto sobre os gastos sociais é semelhante ao observado nos gastos correntes, ou seja, uma queda de R$ 1 das receitas em questão se traduz em queda destes gastos superior [em R$ 0,53, ou seja, (0,49 + 0,04)], também em valor absoluto, relativamente ao efeito observado quando ocorre aumento destes recursos.

No que diz respeito às variáveis de controle de natureza demográfica, observa-se que a proporção de idosos afeta as quatro categorias de despesa de forma sistematicamente negativa, ou seja, quanto maior a proporção de indivíduos com idade superior a 65 anos, maiores as despesas aqui analisadas. No caso da proporção de jovens, há uma influência negativa sobre a despesa total e os investimentos, mas positiva no caso da despesa corrente e no caso das despesas de caráter social. Já no caso da taxa de urbanização, há uma relação negativa e estatisticamente significativa desta variável somente com a despesa orçamentária e com a despesa corrente, pois no caso dos investimentos e das despesas sociais, tal relação não é estatisticamente significante. Por sua vez, o porte populacional tem influência positiva sobre os investimentos, mas negativa sobre a despesa orçamentária e sobre a despesa corrente14. Finalmente, os termos de tendência sugerem uma trajetória de crescimento (a taxas decrescentes) da despesa orçamentária, bem como da despesa corrente e das despesas sociais. Por outro lado, os resultados indicam uma queda dos investimentos ao longo do período analisado.

Com vistas a aprofundar a análise da influencia das transferências sobre as despesas municipais, as colunas E, F, G e H da tabela 1 consideram novamente a despesa orçamentária, a despesa corrente, os investimentos e as despesas sociais, respectivamente, como variáveis

(11)

dependentes da análise. Contudo, as receitas de transferências foram decompostas em dois itens, quais sejam, as transferências correntes e as transferências de capital, com vistas a analisar a influencia isolada destes dois componentes sobre as variáveis supracitadas15.

Os resultados indicam que o efeito das transferências correntes sobre a despesa total é assimétrico, uma vez que um aumento de R$ 1 destes recursos gera um aumento de R$ 0,76 destas despesas, ao passo que uma queda em igual montante destes recursos gera uma queda de apenas R$ 0,72 (0,76 – 0,04) da despesa orçamentária. Ainda em relação às transferências correntes, o impacto sobre a despesa corrente é simétrico uma vez que o termo de interação é estatisticamente nulo. Por sua vez, o impacto sobre os investimentos e sobre os gastos sociais são ambos assimétricos (dada a significância estatística a 1% dos termos de interação), embora com resultados distintos: para os investimentos, ocorre uma queda destes quando ocorre uma queda das receitas em questão, e este efeito (0,17 – 0,04), em módulo, é menor que o observado quando ocorre aumento das transferências. Já no caso dos gastos sociais, há uma queda destes (combinação igual a 0,49 + 0,03) proporcionalmente maior que o efeito observado quando ocorrem aumentos das transferências.

Analisando o caso da receita de transferências de capital, observa-se que R$ 0,90 são gastos pelas prefeituras brasileiras para cada R$ 1 obtido sob a forma de transferências de capital, e o impacto deste tipo de receita é maior para os investimentos (coeficiente igual a 0,65) relativamente às despesas correntes (coeficiente igual a 0,21), de forma oposta à observada ao caso anterior, quando fora analisada as transferências correntes. Por sua vez, o coeficiente associado às despesas sociais assume valor igual a 0,49. No que diz respeito ao efeito da queda das receitas de transferências de capital, os resultados sugerem um novo resultado importante, qual seja, que para cada R$ 1 de queda destes recursos, ocorre uma queda marginal da despesa orçamentária igual a R$ 0,95 [0,9 – (-0,05)], ou seja, o efeito de queda das transferências é maior que o efeito do aumento – note que este efeito “amplificado” de queda dos gastos é observado para todos os demais componentes de despesa aqui selecionados, uma vez que os termos de interação são sistematicamente negativos. Assim, observa-se que as transferências de capital apresentam um efeito singular sobre as despesas dos municípios brasileiros não só em função do efeito assimétrico, mas também em função da significativa influência que a queda de tais recursos exerce sobre a queda dos gastos locais16.

15 As informações disponíveis permitiram realizar apenas este tipo de decomposição das transferências. Desta

forma, não foi possível realizar a decomposição destes recursos quanto à origem (governo federal ou governo estadual), por exemplo.

16

Os resultados referentes às variáveis de controle são próximos daqueles obtidos na análise das colunas A, B, C e D.

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No sentido de aprofundar a análise (da simetria) das transferências governamentais sobre os gastos dos municípios brasileiros, o estudo apresenta algumas extensões com vistas a captar possíveis fatores que possam influenciar os resultados obtidos anteriormente. Neste sentido, decidiu-se incluir um novo conjunto de regressores composto por variáveis de natureza política, em linha com algumas referências recentes como Nakaguma & Bender (2005) e o próprio trabalho de Lago-Penãs (2008). Este conjunto compreende (i) uma dummy denominada “ano eleitoral”, que assume o valor 1 nos anos em que ocorrem eleições municipais (1992, 1996, 2000 e 2004) e 0 nos demais anos, além de (ii) dummies de ideologia partidária do prefeito de cada município brasileiro, ou seja, a dummy associada aos partidos de esquerda assume o valor 1 caso o prefeito seja filiado a um partido pertencente a tal grupo ideológico (0 caso contrário), sendo o mesmo raciocínio aplicado aos partidos de direita. Esta divisão ideológica segue a metodologia desenvolvida por Rodrigues (2002) conforme exposto no apêndice III, e como nem todos os partidos existentes na amostra foram classificados por tal referência, decidiu-se criar um grupo ad hoc que abrange tais agremiações, aqui denominado “outros partidos”, para o qual também foi construída uma dummy17. Finalmente, foram incluídas também uma dummy que assume o valor 1 caso o prefeito municipal seja de um partido pertencente à coligação que elegeu o governador estadual (0 caso contrário) e uma outra dummy que assume o valor 1 caso o prefeito municipal seja de um partido pertencente à coligação que elegeu o presidente da República (0 caso contrário).

Além da inclusão em si das variáveis políticas anteriormente mencionadas, é possível realizar uma extensão adicional que permite analisar como estas mesmas variáveis influenciam o impacto da queda da receita de transferências governamentais. Uma primeira modificação foi incluir um termo de interação entre a dummy de ano eleitoral, por um lado, e o termo associado à queda das transferências governamentais (γ), por outro. A segunda modificação foi incluir termos de interação entre as dummies de ideologia partidária e, novamente, o termo associado à queda das transferências18. Assim, com base nestas modificações, é possível analisar efeito de queda das transferências governamentais sobre as despesas municipais (i) especificamente nos anos eleitorais e (ii) sobre a forma com a qual os diferentes grupos partidários administram o orçamento público das unidades locais do país.

17 Note que a dummy referente aos partidos de centro é excluída das estimações, sendo assim o grupo de referência

do estudo.

18 Como não foi possível decompor a receita de transferências quanto à sua origem (governo federal ou estadual),

este estudo optou por não incluir termos de interação entre a queda das receitas de transferências e o alinhamento político com o governo estadual e com o governo federal.

(13)

Os resultados obtidos através da inclusão das variáveis políticas estão expostos na tabela 219, sendo que as estimações apresentadas nas colunas I, J, K e L incluem as variáveis políticas em si. De acordo com tais resultados, no ano eleitoral ocorre um aumento não só da despesa orçamentária (neste caso, da ordem de R$ 25,45 por habitante), mas também de todas as três categorias de despesas aqui analisadas, ao passo que aos partidos de esquerda estão associados menores investimentos e maiores despesas sociais (relativamente aos partidos de centro, grupo de referência da análise). Já aos partidos de direita e ao grupo “outros partidos” estão associados menores despesas totais e menores despesas correntes, e especificamente aos partidos de direita, maiores investimentos estão também associados. Finalmente, o alinhamento partidário entre prefeito e presidente da República significa não só menores despesas totais (uma diferença, para menos, de aproximadamente R$ 4 por habitante), mas também menores despesas correntes e investimentos, embora tenda a gerar maiores despesas sociais realizadas diretamente pela administração local. Por sua vez, o alinhamento partidário entre prefeito e governador estadual significa menores despesas correntes, mas maiores investimentos realizados pelo governo local.

Ainda com relação à tabela 2, os resultados apresentados nas colunas M a P incluem os termos de interação entre variáveis políticas e o componente de queda das receitas de transferências governamentais. No que diz respeito ao efeito do ano eleitoral, os resultados da coluna M da tabela 2 indicam que em tais anos a assimetria do impacto da queda das receitas de transferências governamentais sobre a despesa orçamentária é diferente do que ocorre nos demais anos. Se o efeito marginal de um acréscimo destas receitas é da ordem de R$ 0,78, o efeito marginal de uma queda destes recursos nos anos não eleitorais é da ordem de R$ 0,72 (0,78 – 0,06) e especificamente nos anos eleitorais, o efeito é da ordem de R$ 0,82 [0,78 - 0,06 – (-0,10)]. Assim, estes resultados indicam que a queda das transferências sobre a queda dos gastos é diferente entre anos eleitorais e anos não eleitorais, e em especial nestes últimos, o efeito de redução dos gastos é mais incisivo.

No caso da despesa corrente (coluna N da tabela 2), é interessante notar que o coeficiente associado à queda das transferências é estatisticamente nulo, mas a interação deste com a dummy de ano eleitoral é significante a 1% e assume valor negativo, igual a -0,10, o que sugere que a queda das transferências sobre a queda destes gastos é mais proeminente nos anos eleitorais (combinação de coeficientes igual a 0,53 – (-0,10)). Já no caso dos investimentos ocorre o inverso, ou seja, o termo associado à queda das transferências é estatisticamente

19 As variáveis de controle utilizadas na tabela 1 foram incluídas nas estimações, mas seus coeficientes não foram

expostos com o objetivo de facilitar a interpretação dos resultados principais. Tais informações podem ser solicitadas junto ao autor.

(14)

significante e igual a 0,07, mas a interação deste com a dummy de ano eleitoral é estatisticamente nula. Assim, estes resultados sugerem que a influência da queda das transferências sobre a queda dos investimentos não varia em função do calendário eleitoral, mas sugerem que o efeito da queda das transferências é, em valor absoluto, inferior ao efeito observado quando ocorrem aumentos nas transferências. Finalmente, no caso das despesas sociais, os resultados indicam que quedas das transferências governamentais nos anos não eleitorais significam quedas destas despesas (coeficiente igual a -0,029) superiores, em módulo, ao efeito do aumento das transferências, e caso tal queda ocorra especificamente nos anos eleitorais, este efeito de queda destas despesas é reforçado (coeficiente igual a –0,026). Considerados em seu conjunto, estes resultados sugerem que o efeito assimétrico é de fato influenciado pela ocorrência de eleições municipais.

No que diz respeito à ideologia partidária, os resultados referentes à despesa orçamentária (coluna M da tabela 2) indicam que o efeito da queda da receita de transferências sobre os gastos municipais varia entre os grupos políticos considerados. Note que o coeficiente associado aos partidos de direita é igual a -0,08, significativo a 1%, coeficiente que sugere que a diminuição de gastos promovida por tais partidos, quando ocorre uma queda destes recursos, é relativamente maior que a redução de gastos realizada pelos partidos de centro20. De todo modo, os resultados ainda confirmam que o efeito de aumentos e de queda das transferências sobre os gastos é assimétrico. Por sua vez, no caso da despesa corrente (coluna N da tabela 2) é observado um resultado curioso, dado que o termo associado à queda das transferências é estatisticamente nulo, e as interações deste com os grupos ideológicos são também não significantes - a exceção é o caso do grupo “outros partidos”, cujo coeficiente (0,06) é estatisticamente significante a 10% e sugere que a redução de gastos realizada por tais partidos é inferior à redução de gastos realizada pelos partidos de centro, quando ambos sofrem uma queda das receitas em questão. Já para o caso dos investimentos o coeficiente, com sinal negativo, é estatisticamente significante somente para o caso dos partidos de direita. Finalmente, no caso das despesas sociais, os coeficientes são negativos, e estatisticamente significantes a no máximo 5% somente para os partidos de esquerda e de direita, sugerindo uma queda destes gastos, quando ocorre uma queda das receitas de transferências, comparativamente maior que a queda destes mesmos gastos promovida pelos partidos de centro.

20

Os coeficientes associados aos partidos de esquerda e ao grupo formado pelos outros partidos são estatisticamente nulos.

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(A) (B) (C) (D) (E) (F) (G) (H) Orçamentária Corrente Investimento Social Orçamentária Corrente Investimento Social PIB municipal 3,29E-04** (1,4E-04) [0,02] 1,52E-03*** (1,2E-04) [0,03] -1,17E-03*** (8,5E-05) [0,04] 1,05E-03*** (9,2E-05) [0,01] 3,77E-04*** (1,4E-04) 1,34E-03*** (1,2E-04) -9,49E-04*** (8,1E-05) 1,05E-03*** (9,2E-05) Transferências totais (ϕ) 0,784*** (3,9E-03) [0,89] 0,525*** (3,4E-03) [0,71] 0,239*** (2,4E-03) [1,92] 0,492*** (2,6E-03) [0,97] Interação Transferências totais (γ) 0,030*** (7,8E-03) -0,021*** (6,9E-03) 0,052*** (4,8E-03) -0,040*** (5,2E-03) Transferências correntes 0,765*** (4,2E-03) 0,577*** (3,6E-03) 0,171*** (2,4E-03) 0,490*** (2,8E-03) Interação Transferências correntes 0,042*** (9,7E-03) -0,008 (8,5E-03) 0,047*** (5,7E-03) -0,036*** (6,5E-03) Transferências de capital 0,900*** (1,0E-02) 0,218*** (8,8E-03) 0,652*** (5,8E-03) 0,498*** (6,8E-03) Interação Transferências de capital -0,056*** (0,012) -0,027** (0,010) -0,022*** (7,0E-03) -0,056*** (8,0E-03) Jovens -1,702*** (0,608) 1,299** (0,539) -3,481*** (0,372) 2,329*** (0,408) -1,700*** (0,607) 1,266** (0,532) -3,444*** (0,354) 2,309*** (0,408) Idosos -20,536*** (0,939) -13,949*** (0,833) -6,738*** (0,575) -6,069*** (0,630) -20,200*** (0,938) -14,744*** (0,822) -5,625*** (0,546) -6,040*** (0,630) Urbanização -0,307** (0,121) -0,419*** (0,108) 0,109 (0,074) -0,099 (0,081) -0,308** (0,121) -0,436*** (0,106) 0,125* (0,071) -0,101 (0,081) População total -79,065*** (6,001) -117,066*** (5,324) 43,973*** (3,673) 2,484 (4,057) -84,859*** (6,021) -98,185*** (5,276) 19,960*** (3,508) 2,457 (4,076) Tendência 72,121*** (0,784) 81,189*** (0,695) -12,718*** (0,480) 30,031*** (0,534) 73,329*** (0,789) 78,214*** (0,691) -8,650*** (0,459) 30,213*** (0,538) Tendência Quadrática -4,668*** (0,034) -4,512*** (0,030) 0,008 (0,021) -1,188*** (0,023) -4,692*** (0,034) -4,464*** (0,030) -0,062*** (0,020) -1,194*** (0,023) Constante 968,863*** (60,303) 1147,153*** (53,496) -204,227*** (36,906) -152,942*** (40,638) 1020,206*** (60,459) 974,527*** (52,977) 13,544 (35,228) -153,207*** (40,791) Observações 60157 60157 60157 57834 60157 60157 60157 57834 R2 0,7658 0,6724 0,3172 0,7954 0,7579 0,7090 0,4113 0,7953 Teste de Hausman χ 2 = 1776,40 Prob = 0,00 χ2 = 3215,64 Prob = 0,00 χ2 = 169,83 Prob = 0,00 χ2 = 300,74 Prob = 0,00 χ2 = 1870,09 Prob = 0,00 χ2 = 2469,00 Prob = 0,00 χ2 = 329,28 Prob = 0,00 χ2 = 311,62 Prob = 0,00 Notas: desvio-padrão entre parênteses. Valor absoluto das elasticidades entre colchetes.

(16)

(I) (J) (K) (L) (M) (N) (O) (P)

Orçamentária Corrente Investimento Social Orçamentária Corrente Investimento Social

PIB municipal 2,83E-04**

(1,4E-04) 1,48E-03*** (1,2E-04) -1,18E-03*** (8,5E-05) 1,03E-03*** (9,2E-05) 3,13E-04** (1,4E-04) 1,50E-03*** (1,2E-04) -1,17E-03*** (8,5E-05) 1,04E-03*** (9,2E-05) Transferências totais (ϕ) 0,789*** (3,9E-03) 0,530*** (3,4E-03) 0,240*** (2,4E-03) 0,495*** (2,6E-03) 0,789*** (3,8E-03) 0,530*** (3,4E-03) 0,240*** (2,4E-03) 0,495*** (2,6E-03) Interação Transferências totais (γ) 0,018** (7,9E-03) -0,032*** (7,0E-03) 0,050*** (4,8E-03) -0,051*** (5,2E-03) 0,069*** (0,012) -0,010 (0,010) 0,077*** (7,1E-03) -0,029*** (7,8E-03) Ano eleitoral 25,457*** (1,363) 22,106*** (1,209) 5,156*** (0,836) 17,509*** (0,904) 22,895*** (1,448) 19,563*** (1,285) 4,889*** (0,889) 16,883*** (0,960) Esquerda -3,840 (2,408) 1,263 (2,136) -5,118*** (1,478) 3,546** (1,605) -5,102** (2,518) 0,973 (2,234) -5,922*** (1,545) 2,316 (1,675) Direita -3,896** (1,646) -6,431*** (1,461) 2,131** (1,010) 1,578 (1,102) -6,490*** (1,726) -7,023*** (1,532) 0,260 (1,060) 0,478 (1,153) Outros partidos -7,741*** (2,948) -8,058*** (2,616) 0,879 (1,809) 3,140 (1,963) -7,071** (3,121) -6,581** (2,769) 0,203 (1,916) 2,551 (2,075) Alinhamento Presidente & Prefeito -4,305***

(1,581) -2,354* (1,402) -1,756* (0,970) 2,315** (1,047) -4,575*** (1,582) -2,518* (1,403) -1,859* (0,971) 2,155** (1,048) Alinhamento Presidente & Governador -0,979

(1,373) -3,379*** (1,218) 2,572*** (0,843) 1,004 (0,919) -1,237 (1,373) -3,501*** (1,218) 2,433*** (0,843) 0,919 (0,919)

Interação & ano eleitoral -0,106***

(0,020) -0,105*** (0,018) -0,011 (0,013) -0,026* (0,014)

Interação & esquerda -0,034

(0,027) -0,004 (0,024) -0,024 (0,016) -0,041** (0,018)

Interação & direita -0,082***

(0,016) -0,020 (0,014) -0,058*** (9,9E-03) -0,035*** (0,011)

Interação & outros 0,038

(0,039) 0,060* (0,035) -0,018 (0,024) -0,017 (0,026)

Variáveis de controle Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim

Observações 60157 60157 60157 57834 60157 60157 60157 57834 R2 0,7706 0,6794 0,3178 0,7976 0,7719 0,6807 0,3176 0,7977 Teste de Hausman χ 2 = 957,18 Prob = 0,00 χ2 = 3090,58 Prob = 0,00 χ2 = 23,63 Prob = 0.01 χ2 = 397,37 Prob = 0,00 χ2 = 1281,54 Prob = 0,00 χ2 = 3075,91 Prob = 0,00 χ2 = 364,26 Prob = 0,00 χ2 = 342,30 Prob = 0,00 Notas: desvio-padrão entre parênteses. Variáveis de controle incluídas na estimação: proporção de jovens, proporção de idosos, taxa de urbanização e logaritmo natural da população total. As estimações também incluem o termo constante e os termos de tendência linear e quadrática.

(17)

Tabela 3: Tabela resumo - Análise da simetria das transferências governamentais sobre a despesa dos municípios brasileiros

Orçamentária Corrente Investimentos Social

(A) (B) (C) (D)

Aumento de R$ 1 das transferências totais 0,78 0,52 0,23 0,49

Queda de R$ 1 das transferências totais 0,75 0,54 0,18 0,53

(E) (F) (G) (H)

Aumento de R$ 1 das transferências correntes 0,76 0,57 0,17 0,49

Queda de R$ 1 das transferências correntes 0,72 0,57 0,12 0,52

Aumento de R$ 1 das transferências de capital 0,90 0,21 0,65 0,49

Queda de R$ 1 das transferências de capital 0,95 0,24 0,67 0,55

(M) (N) (O) (P)

Aumento de R$ 1 das transferências totais 0,78 0,53 0,24 0,49

Queda de R$ 1 das transferências totais 0,72 0,53 0,16 0,52 Queda de R$ 1 das transferências totais & ano eleitoral 0,82 0,63 0,16 0,55

Queda de R$ 1 das transferências totais & esquerda 0,72 0,53 0,16 0,56

Queda de R$ 1 das transferências totais & direita 0,80 0,53 0,22 0,55

Queda de R$ 1 das transferências totais & outros 0,72 0,47 0,16 0,52

Fonte: elaboração própria

V - Considerações finais

O artigo que aqui se encerra teve dois propósitos fundamentais. Em primeiro lugar, e com maior ênfase, o objetivo foi procurar evidências de que aumentos e quedas das receitas de transferências governamentais recebidas pelos municípios brasileiros apresentam influência assimétrica sobre os aumentos e quedas das despesas públicas executadas por tais unidades. Em segundo lugar, o artigo também teve como objetivo procurar evidências do chamado flypaper effect, ou seja, testar se a influência das transferências governamentais sobre as despesas públicas dos municípios brasileiros é relativamente maior que a influência de aumentos de renda destas mesmas localidades - para atingir tais objetivos, o estudo considerou um painel composto por tais unidades entre os anos de 1989 a 2005.

Em primeiro lugar, e em linha com outros estudos sobre o caso brasileiro, como Cossio (2002), por exemplo, os resultados aqui obtidos sugerem que o flypaper effect é de fato observado nos municípios brasileiros, uma vez que a sensibilidade dos gastos públicos municipais frente a aumentos da renda local é comparativamente menor do que a sensibilidade associada a aumentos das receitas obtidas através de transferências governamentais. De qualquer forma, os resultados deste trabalho parecem indicar que o efeito observado no caso brasileiro parece ser comparativamente mais forte do que o observado em outros países já analisados pela literatura (Levaggi & Zanola (2003), por exemplo), um resultado que pode ser visto como uma conseqüência decorrente das características do

(18)

federalismo brasileiro e da significativa dependência dos municípios do país em relação aos recursos obtidos através dos mecanismos de transferências governamentais.

O segundo resultado importante deste estudo se refere, em primeiro lugar, à presença do efeito assimétrico no caso brasileiro, ou seja, os gastos realizados pelas prefeituras brasileiras se comportam de forma distinta frente a aumentos e quedas das receitas de transferências governamentais. Além deste fato, as evidências indicam também que este efeito varia não só entre os diferentes tipos de gastos realizados pelas prefeituras brasileiras, mas varia também função dos diferentes tipos de transferências governamentais recebidas por tais localidades. Em terceiro lugar, os resultados indicam que o efeito assimétrico é influenciado por fatores de natureza política, como o calendário eleitoral e a postura ideológica dos partidos brasileiros. Assim, a totalidade destes resultados indica que a administração, por parte das administrações municipais, dos recursos obtidos junto ao governo federal e junto aos seus respectivos governos estaduais, é influenciada por uma série de elementos singulares, cujo conhecimento e análise são de significativa relevância neste contexto. Em particular, deve-se ressaltar que ao analisar um conjunto relativamente amplo de variáveis referentes às despesas públicas realizadas pelas prefeituras brasileiras, este estudo pôde prover novas contribuições à literatura – vale relembrar que o estudo de Lago-Penãs (2008) analisa basicamente a despesa total dos municípios espanhóis e o trabalho de Levaggi & Zanola (2003) analisa basicamente despesas associadas à área da saúde das regiões italianas. No estudo que aqui se finaliza, foi possível observar um fenômeno curioso, qual seja, que o efeito da queda das transferências sobre as despesas correntes e sobre os investimentos são diferentes de modo a gerar um efeito recomposição entre estes dois componentes dos gastos municipais: a quedas das transferências geram uma queda das despesas correntes comparativamente maior que a queda observada nos investimentos. De qualquer forma, consideradas as discussões anteriores em conjunto, os resultados deste artigo sugerem que próprio o fenômeno do flypaper effect no Brasil é assimétrico, ou seja, os gastos totais dos municípios brasileiros aumentam quando há um aumento das transferências recebidas, mas não diminuem com a mesma magnitude quando há uma queda das transferências.

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Referências bibliográficas

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Wooldridge, Jeffrey (2002). Econometric analysis of cross section and panel data. Boston: The MIT Press.

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Apêndice I - Estatísticas descritivas

Variável Observações Média Desvio-padrão relativo (em %)

Despesa orçamentária per capita 67.339 785,69 60,44

Despesa corrente per capita 67.339 647,49 60,02

Investimento per capita 67.339 121,83 110,17

Despesa social per capita 60.799 446,81 60,64

Receita total de transferências per capita 67.339 744,76 61,90

Receita de transferências correntes per capita 67.339 704,87 63,58 Receita de transferências de capital per capita 67.339 39,89 178,39

PIB municipal per capita 63.886 8.671,77 104,18

Proporção de jovens 67.339 32,34 18,03

Proporção de idosos 67.339 5,51 30,49

Taxa de urbanização 67.339 59,00 40,20

Logaritmo da população total 67.339 9,41 12,01

Fonte: elaborado pelo autor

Apêndice II - Distribuição dos municípios – aumentos e quedas de transferências

0% 20% 40% 60% 80% 100% 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Aumento Queda

Fonte: elaborado pelo autor

Apêndice III – Partidos políticos, conforme Rodrigues (2002)

Esquerda Centro Direita

PT PMDB PFL PDT PSDB PPB PSB PTB PL PC do B PSD PPS PSC PMN Prona PV PSL PST Fonte: Rodrigues (2002)

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