AGRAVO EM APELAÇÃO CÍVEL. DECISÃO MONOCRÁTICA. TRIBUTÁRIO. EMBARGOS A EXECUÇÃO FISCAL. ISSQN. ART. 9º, §3º, DO DECRETO-LEI Nº 406⁄68. SOCIEDADE SIMPLES. ADOÇÃO DO TIPO SOCIETÁRIO DA LIMITADA.
IRRELEVÂNCIA. PREVISÃO DE
RESPONSABILIADE LIMITADA DOS SÓCIOS AO CAPITAL SOCIAL E DE DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS ENTRE OS SÓCIOS QUE NÃO DESNATURA A SOCIEDADE SIMPLES.
- O art. 9º, §§ 1º e 3º, do Decreto-Lei nº 406/68 foi recepcionado pela CRFB/88, conforme entendimento há muito sedimentado no Supremo Tribunal Federal. - Apesar disso, o benefício do recolhimento fixo do ISS não é estendido para toda e qualquer sociedade. - Conforme entendimento pacífico no âmbito do STJ e desta Corte, somente as sociedades que possuem as atividades indicadas no §3º, do art. 9º, do Decreto-Lei nº 406/1968, podem se beneficiar das alíquotas fixas, e desde que a sociedade não seja caracterizada como empresária.
- A sociedade simples ao adotar, por exemplo, o tipo de sociedade limitada, não a transforma automaticamente em sociedade empresária – ente para o qual é vedada a inclusão no regime tributário favorecido de ISS. Entendimento extraído do art. 983, segunda parte, do CC, que é reforçado pelos enunciados 57 e 474, ambos da Jornada de Direito Civil, promovida pelo Conselho da Justiça Federal. Adotar entendimento de que a opção pela forma limitada converte a sociedade simples em empresária contraria frontalmente o Código Civil, bem como desconsidera conceitos básicos do direito empresarial, o que é vedado pelo art. 110, do CTN.
- A previsão de distribuição de lucros é elemento de qualquer sociedade, seja empresária ou não, caso contrário, estar-se-á diante de uma associação, em que se sabe, a distribuição e auferimento de lucro é vedada. Inteligência dos arts. 981 e 997, VI e 1007 (os dois últimos inseridos no capítulo que disciplina a própria sociedade simples), todos do CC. Entendimento fixado no enunciado 475, do CJF. - Portanto, o fato de a apelante optar pelo tipo societário da limitada, e a despeito de o contrato social prever distribuição de lucros e a limitação da responsabilidade dos sócios ao valor das quotas sociais não servem para afastar a incidência do
disposto no art. 9º, §3º, do Decreto-Lei nº 406/68, porquanto o que define a natureza empresária ou não da sociedade é o seu objeto: se for explorado com empresarialidade (profissionalismo e organização dos fatores de produção), a sociedade será empresária, não fazendo jus ao recolhimento do ISS na forma fixa; se, porém, ausente a empresarialidade, a sociedade será simples, podendo se valer da tributação privilegiada do ISS.
- No caso, inexiste o requisito da organização dos fatores de produção, pois se está diante de uma sociedade simples que tem por objeto social a execução de projetos e obras de engenharia, prestados diretamente pelos sócios, em que o profissional responde pessoalmente pelos serviços prestados.
AGRAVO DESPROVIDO.
AGRAVO
VIGÉSIMA SEGUNDA CÂMARA
CÍVEL
Nº 70068015783 (Nº CNJ:
0011772-91.2016.8.21.7000)
COMARCA DE PORTO ALEGRE
MUNICIPIO DE PORTO ALEGRE
AGRAVANTE
CM ENGENHARIA S/C LTDA
AGRAVADO
A C Ó R D Ã O
Vistos, relatados e discutidos os autos.
Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima
Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado,
à unanimidade,
em desprover o agravo.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além da signatária, os eminentes
Senhores DES. MARCO AURÉLIO HEINZ (PRESIDENTE) E DES.ª
DENISE OLIVEIRA CEZAR.
Porto Alegre, 25 de fevereiro de 2016.
DES.ª MARILENE BONZANINI, Relatora.
R E L A T Ó R I O
DES.ª MARILENE BONZANINI (RELATORA)
Trata-se de agravo interno interposto pelo MUNICÍPIO DE
PORTO ALEGRE em face de decisão monocrática que deu provimento ao
apelo interposto pela CM ENGENHARIA S/C LTDA. contra a sentença
proferida nos autos dos embargos a execução fiscal em figura como
embargado.
Nas razões, alegou que não há responsabilidade pessoal dos
sócios pelos serviços prestados, sendo tal responsabilidade limitada ao
capital social, nos termos da Clausula 5ª, Parágrafo 2º, do Contrato Social, fl.
33. Sustentou que “a responsabilidade é primeiro suportada pela sociedade
e, esgotados os bens desta, é dividida entre os sócios na proporção de cada
um no capital social”. Citou jurisprudência sobre o tema.
Pediu provimento.
É o relatório.
V O T O S
DES.ª MARILENE BONZANINI (RELATORA)
Eminentes Colegas!
Reedito a decisão atacada. O agravante não trouxe argumento
novo que, a meu ver, modifique o posicionamento adotado. Debate-se contra
o entendimento exposto, pelo que se traz a questão à análise deste
colegiado:
(...)
A Lei nº 9.756/98, que deu redação ao art. 557 do CPC,
ampliou os poderes do relator, que pode, em decisão
monocrática, não só negar seguimento como também dar
provimento ao recurso.
(...)
Pois bem, no mérito, melhor sorte assiste à apelante, pelo
que o recurso merece provimento.
A questão versada nos autos diz respeito a possibilidade de
a apelante desfrutar do benefício disposto no art. 9º, §§ 1º e 3º, do
Decreto-Lei nº 406/68, que assim dispõe:
Art. 9º A base de cálculo do impôsto é o preço do serviço.
§ 1º Quando se tratar de prestação de serviços sob a forma de trabalho pessoal do próprio contribuinte, o impôsto será calculado, por meio de alíquotas fixas ou variáveis, em função da natureza do serviço ou de outros fatores pertinentes, nestes não compreendida a importância paga a título de remuneração do próprio trabalho.
(...)
§ 3° Quando os serviços a que se referem os itens 1, 4, 8, 25, 52, 88, 89, 90, 91 e 92 da lista anexa forem
prestados por sociedades, estas ficarão sujeitas ao imposto na forma do § 1°, calculado em relação a cada profissional habilitado, sócio, empregado ou não, que preste serviços em nome da sociedade,
embora assumindo responsabilidade pessoal, nos termos da lei aplicável.
Os itens referidos no §3º são os seguintes: 1
– Médicos,
inclusive análises clínicas, eletricidade médica, radioterapia,
ultra-sonografia, radiologia, tomografia e congêneres; 4
– Enfermeiros,
obstetras,
ortópticos,
fonoaudiólogos,
protéticos
(prótese
dentária); 8
– Médicos veterinários; 25 – Contabilidade, auditoria,
guarda-livros, técnicos em contabilidade e congêneres; 52
–
Agentes de propriedade industrial; 88
– Advogados; 89 –
Engenheiros, arquitetos, urbanistas, agrônomos; 90
– Dentistas;
91 – Economistas; 92 – Psicólogos.
Primeiro, destaco a plena vigência do referido dispositivo,
sendo recepcionado pela CRFB/88, conforme entendimento há
muito sedimentado no Supremo Tribunal Federal, conforme
demonstra o seguinte precedente:
CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. ISS. SOCIEDADES PRESTADORAS DE SERVIÇOS PROFISSIONAIS. ADVOCACIA. D.L. 406/68, art. 9º, §§ 1º e 3º. C.F., art. 151, III, art. 150, II, art. 145, § 1º. I. - O art. 9º, §§ 1º e 3º, do DL. 406/68, que cuidam da base de cálculo do ISS, foram recebidos pela CF/88: CF/88, art. 146, III, a. Inocorrência de ofensa ao art. 151, III, art. 34, ADCT/88, art. 150, II e 145, § 1º, CF/88. II. - R.E. não conhecido.
(RE 236604, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno, julgado em 26/05/1999, DJ 06-08-1999 PP-00052 EMENT VOL-01957-18 PP-03877)
No mesmo sentido: RE 304011 AgR, Min. CARLOS
BRITTO, j. 28/11/2006; AI 391092 AgR, Min. CEZAR PELUSO, j.
14/02/2006; RE 366011 AgR, Min. CARLOS BRITTO, j.
30/08/2005
Apesar disso, o benefício do recolhimento fixo do ISS não é
estendido
para
toda
e
qualquer
sociedade.
Conforme
entendimento pacífico no âmbito do STJ e desta Corte, somente
as sociedades que possuem as atividades indicadas no §3º, do
art. 9º, do Decreto-Lei nº 406/1968, podem se beneficiar das
alíquotas fixas, e desde que a sociedade não seja caracterizada
como empresária.
Nesse sentido, exemplificativamente, os seguintes julgados:
TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DOS ARTS. 458 E 535 DO CPC. ISS. DECRETO-LEI N. 406/68. SOCIEDADES UNIPROFISSIONAIS (MÉDICOS). REEXAME DE FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. AUSÊNCIA DE COTEJO ANALÍTICO.
(...)
2. A sociedade civil faz jus ao benefício previsto no art. 9º, § 3º, do DL n. 406/68, desde que preste serviço especializado, com responsabilidade pessoal e sem caráter empresarial.
(...)
Agravo regimental improvido.
(AgRg nos EDcl no AREsp 233.352/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/11/2012, DJe 28/11/2012)
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO TRIBUTÁRIO. SOCIEDADE
UNIPROFISSIONAL. BASE DE CÁLCULO DO ISS DIFERENCIADA. DECRETO-LEI Nº 406/68. ATIVIDADE NÃO EMPRESARIAL.
1. As sociedades uniprofissionais somente têm direito ao cálculo diferenciado do ISS, previsto no artigo 9º, parágrafo 3º, do Decreto-Lei nº 406/68, quando os serviços são prestados em caráter personalíssimo e, assim, prestados no próprio nome dos profissionais habilitados ou sócios, sob sua total e exclusiva responsabilidade pessoal e sem estrutura ou intuito empresarial.
2. Precedente da Primeira Seção (AgRgEREsp nº 941.870/RS, da minha Relatoria, in DJe 25/11/2009). 3. Embargos de divergência rejeitados.
(EREsp 866.286/ES, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 29/09/2010, DJe 20/10/2010)
Do exposto, conclui-se que os serviços incluídos na lista
anexa sob os n
os1, 4, 8, 25, 52,88, 89, 90, 91 e 92, mesmo
quando forem prestados por sociedades, o imposto deve ser
calculado na forma do §1º “em relação a cada profissional
habilitado, sócio, empregado ou não”, desde que a sociedade,
repito, não seja exercida com empresarialidade.
No caso, a sociedade apelante possui como objeto social a
execução de projetos e obras de engenharia civil, sendo
constituída por dois sócios que possuem a formação acadêmica
na área da Engenharia (um engenheiro civil, outro engenheiro
eletricista
– fls. 32/34); portanto, atividade de natureza científica
(arrolada do §3º, do art. 9º, do Decreto-Lei nº 406/1968), que,
conforme o disposto no parágrafo único do art. 966, do CC, não
pode ser considerada empresária, salvo se o exercício da
profissão constituir elemento de empresa, o que não restou
comprovado nos autos, nem de longe.
O magistrado singular, utilizando-se do que fora decidido
nos autos da Apelação Cível nº 70045217379, envolvendo as
mesmas partes, entendeu, em fundamentação per relationem,
que “conquanto a sociedade executada seja formada
exclusivamente por profissionais liberais da mesma área
–
engenheiro civil e engenheiro eletricista
–, não resta mantida a
característica de ‘sociedade uniprofissional’, na medida em que
sua constituição se deu sob a forma de responsabilidade
limitada”, o que caracterizaria a empresarialidade da sociedade.
Apesar de já ter endossado o entendimento externado
na sentença, melhor refletindo sobre o tema, convenci-me de
que tais circunstâncias não servem para afastar a incidência
do art. 9º, § 3º, do Decreto-Lei nº 406/68.
Primeiramente, no que diz com o tipo societário limitada,
insta referir que, conforme o art. 983, segunda parte, do CC, a
sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um
dos tipos disciplinados entre os arts. 1.039 a 1.092, do CC, e, não
o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias. Quer
isso dizer que a sociedade simples ao adotar, por exemplo, o tipo
de sociedade limitada, não se transforma automaticamente em
sociedade empresária
– ente para o qual é vedada a inclusão no
regime tributário favorecido de ISS. Isso mostra que o que define
uma sociedade como empresária ou simples é o seu objeto social,
e não o tipo societário.
Nesse sentido, a lição irretocável de Leandro Paulsen:
O tipo societário próprio para as sociedades voltadas a atividades intelectuais é o de sociedade simples. Mas o Código Civil, em seu art. 983, permite que seus sócios optem por adotar tipo societário próprio das sociedades empresárias. As atividades intelectuais relativas ao exercício de profissão, contudo, quando constituírem um dentre tantos fatores de produção necessários à realização do objeto social, não afastam a caracterização da sociedade como empresária. (…) A adoção do tipo societário de sociedade limitada não transforma, por si só, a sociedade não empresarial em empresarial. Não há correlação necessária, portanto, entre a natureza da sociedade e o tipo societário, ressalvados casos específicos como o das sociedades anônimas e o das cooperativas.1
Reforçando o entendimento aqui defendido, destaco os
enunciados 57 e 474, ambos da Jornada de Direito Civil,
promovida pelo Conselho da Justiça Federal:
I Jornada: 57 = Art. 983: A opção pelo tipo empresarial não afasta a natureza simples da sociedade.
V Jornada: 474 = Arts. 981 e 983: Os profissionais liberais podem organizar-se sob a forma de sociedade simples, convencionando a responsabilidade limitada dos sócios por dívidas da sociedade, a despeito da
1
AULSEN, Leandro. Direito tributário: Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. 15 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora; ESMAFE, 2013. p. 434.
responsabilidade ilimitada por atos praticados no exercício da profissão.
De fato, o fato de a sociedade da espécie simples ostentar
membros cuja lei corporativa estabeleça responsabilidade civil por
atos dolosos ou culposos no exercício profissional não impede
que a mesma estabeleça responsabilidade limitada pelos sócios
por dívidas que a pessoa jurídica vier a contrair na qualidade de
unidade econômica (por exemplo, quando aluga um imóvel,
pagamento dos fornecedores, etc.).
Por conseqüência, a constituição de sociedade simples sob
a forma (tipo) limitada, não afasta, em absoluto, a tributação
mitigada de ISS reservada às sociedades profissionais pelo § 3º,
do art. 9º, do Decreto-Lei nº 406/68. A constituição sob a forma
limitada não é o elemento decisivo para se definir o sistema de
tributação do ISS.
Adotar o entendimento de que a opção pela forma limitada
converte a sociedade simples em empresária contraria
frontalmente o Código Civil, bem como desconsidera conceitos
básicos do direito empresarial. Estar-se-ia alterando conceitos de
direito privado com o objetivo único de reduzir o círculo de
contribuintes beneficiados pela tributação mitigada de ISS das
sociedades profissionais, o que é vedado, consoante determina o
artigo 110, do Código Tributário Nacional
2.
Dentro desse contexto, transcrevo parte do voto lançado
pelo Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, no AgRg no REsp.
519194:
(...) o requisito da organização dos fatores de produção é essencial para a configuração da sociedade empresária e não o mero fato de existir a repartição de responsabilidade interna concernente ao capital social; cabe-me repetir, nesta oportunidade que a forma societária limitada não é o elemento axial ou decisivo para se definir o sistema de tributação do ISS manauara (...).
O julgado ganhou a seguinte ementa:
TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ISSQN. ART. 9º, § 3º, DO DECRETO-LEI N. 406/68. SOCIEDADE LIMITADA. PESSOALIDADE NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. AUSÊNCIA DE
2
Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias.
ORGANIZAÇÃO DOS FATORES DE PRODUÇÃO. CARÁTER EMPRESARIAL AFASTADO PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. RECOLHIMENTO POR ALÍQUOTA FIXA. POSSIBILIDADE.
I - O Tribunal de origem concluiu, após a análise do conjunto probatório dos autos, que apesar da Agravante ser constituída na forma de sociedade limitada, não há organização dos fatores de produção e impessoalidade na prestação do serviço, o que afasta o caráter empresarial e permite a aplicação da alíquota fixa do ISSQN, prevista no art. 9º, § 3º, do Decreto-Lei n. 406/68.
II - Agravo Regimental provido para conhecer do Agravo e negar provimento ao Recurso Especial do Município de Manaus.
(AgRg no AREsp 519.194/AM, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, Rel. p/ Acórdão Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 09/06/2015, DJe 13/08/2015)
No mesmo sentido:
PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. ISSQN. ART. 9°, § 3°, DO DECRETO-LEI N. 406⁄68. SOCIEDADE UNIPROFISSIONAL. RECOLHIMENTO POR QUOTA FIXA. AUSÊNCIA DE CARÁTER EMPRESARIAL. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. INOCORRÊNCIA.
(...)
4. In casu, o Município recorrente aduz que: "O acórdão oriundo da SEGUNDA CÂMARA ESPECIAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE RONDÔNIA, cuja decisão se dera por unanimidade de votos, entendeu que às sociedades civis uniprofissionais, com caráter empresarial, frise-se, gozam do privilégio previsto no Art. 9°, §3°, do Decreto-Lei Federal N° 406⁄68 (...) Já o acórdão paradigma oriundo da SEGUNDA TURMA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, A UNANIMIDADE, assentara o entendimento segundo o qual têm direito ao tratamento diferençado ao recolhimento do tributo ISSQN as sociedades civis uniprofissionais, cujo objeto contratual se destina à prestação de serviço especializado, com responsabilidade social e sem caráter empresarial.". 5. Ocorre que, diferentemente do alegado, o acórdão recorrido entende que é cabível o recolhimento do ISS mediante alíquota fixa justamente por não ser a
sociedade requerente uma sociedade com finalidade empresarial, coadunando-se com a jurisprudência do STJ, senão vejamos: "Com efeito, a sociedade simples constituída por sócios de profissões legalmente regulamentadas, ainda que sob a modalidade jurídica de sociedade limitada, não perde a sua condição de sociedade de profissionais, dada a natureza e forma de prestação de serviços profissionais, não podendo, portanto, ser considerada sociedade empresária pelo simples fato de ser sociedade limitada. É exatamente o caso da apelada. Extrai-se do contrato social que a sociedade é composta por dois médicos e seu objeto é a exploração, por conta própria, do ramo de clínica médica e cirurgia de oftalmologia e anestesia. Como frisado na sentença, apesar de registrada na Junta Comercial, a apelada tem características de uma sociedade simples, porquanto formada por apenas dois sócios, ambos desempenhando a mesma atividade intelectual de forma pessoal e respondendo por seus atos. Diante desses elementos, entendo que a sociedade simples limitada, desprovida de elemento de empresa, atende plenamente às disposições do Decreto-lei n. 406⁄68, e, em relação ao ISS, devem ser tributadas em valor fixo, segundo a quantidade de profissionais que nela atuam. (...) Assim, verificada que a apelada preenche os requisitos das sociedades uniprofissionais, uma vez que assim caracteriza-se toda aquela sociedade formada por profissionais liberais que atuam na mesma área, legalmente habilitados nos órgãos fiscalizadores do exercício da profissão e que se destinam à prestação de serviços por meio do trabalho pessoal dos seus sócios, desde que não haja finalidade empresarial, impõe-se a manutenção da sentença que lhe garantiu o direito de recolher o ISS mediante alíquota fixa, em conformidade com o Decreto-lei n. 406⁄68, bem como em compensar a quantia paga a maior.”
6. Agravo Regimental desprovido.
(AgRg no REsp 1205175⁄RO, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 26⁄10⁄2010, DJe 16⁄11⁄2010)
Lado outro, em relação à previsão de distribuição de lucros,
recordo que toda e qualquer sociedade possui finalidade lucrativa.
Não por acaso, o Min. Napoleão Nunes Maia Filho, de forma
irrepreensível, afirmou, quando do julgamento do REsp.
1.512.652, “que o lucro e sua distribuição é elemento de qualquer
sociedade seja empresária ou não, caso contrário, estaríamos
diante de uma associação, em que se sabe, a distribuição e
auferimento de lucro é vedado”, cuja ementa do julgado restou
assim lançada:
TRIBUTÁRIO. ISS. ARTIGO 9o., PARÁGS. 1o. E 3o., DL 406/68. SOCIEDADE SIMPLES PLURIPROFISSIONAL DE ADVOGADOS E CONTADORES. INEXISTÊNCIA DE CARÁTER EMPRESARIAL. SERVIÇO PRESTADO DE FORMA PESSOAL. RECOLHIMENTO DO ISS SOBRE ALÍQUOTA FIXA. POSSIBILIDADE.
1. O que define uma sociedade como empresária ou simples é o seu objeto social. No caso de sociedades formadas por profissionais intelectuais cujo objeto social é a exploração da respectiva profissão intelectual dos seus sócios, são, em regra, sociedade simples, uma vez que nelas faltará o requisito da organização dos fatores de produção, elemento próprio da sociedade empresária: doutrina do Professor ANDRÉ LUIZ SANTA CRUZ RAMOS (Direito Empresarial Esquematizado, São Paulo, Método, 2014).
2. Ambas as Turmas que compõem a Primeira Seção entendem que o benefício da alíquota fixa do ISS somente é devido às sociedades uni ou pluriprofissionais que prestam serviço em caráter personalíssimo sem intuito empresarial. Precedentes. 3. No caso, tratando-se de sociedade em que o objeto social é a prestação de serviços técnicos de consultoria e de assessoria, prestados diretamente pelos sócios, em que o profissional responde pessoalmente pelos serviços prestados, faz jus ao recolhimento do ISS na forma do art. 9o., parágs. 1o. e 3o. do DL 406/1968.
4. Recurso Especial provido para reconhecer o direito da recorrente ao recolhimento do ISS com base no art. 9o., parágs. 1o. e 3o. do DL 406/1968. Invertido os ônus sucumbencias.
(REsp 1512652/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/03/2015, DJe 30/03/2015)
Com efeito, entender de forma diferente seria contrariar os
arts. 981 e 997, VI e 1007 (os dois últimos inseridos no capítulo
que disciplina a sociedade simples), todos do CC, que assim
determinam:
Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.
Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:
(...)
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;
Art. 1.007. Salvo estipulação em contrário, o sócio participa dos lucros e das perdas, na proporção das respectivas quotas, mas aquele, cuja contribuição consiste em serviços, somente participa dos lucros na proporção da média do valor das quotas.
Em reforço, assinalo que o entendimento aqui exposto, está
cristalizado no enunciado 475, do CJF, in verbis:
475 = Arts. 981 e 983: Considerando ser da essência do contrato de sociedade a partilha do risco entre os sócios, não desfigura a sociedade simples o fato de o respectivo contrato social prever distribuição de lucros, rateio de despesas e concurso de auxiliares.