• Nenhum resultado encontrado

Ponderações acerca do direito à obrigação alimentar dos filhos após a maioridade

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Ponderações acerca do direito à obrigação alimentar dos filhos após a maioridade"

Copied!
50
0
0

Texto

(1)

UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

LETÍCIA RODRIGUES PLETSCH

PONDERAÇÕES ACERCA DO DIREITO À OBRIGAÇÃO ALIMENTAR DOS FILHOS APÓS A MAIORIDADE

Três Passos (RS) 2013

(2)

LETÍCIA RODRIGUES PLETSCH

PONDERAÇÕES ACERCA DO DIREITO À OBRIGAÇÃO ALIMENTAR DOS FILHOS APÓS A MAIORIDADE

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientadora: MSc. Lisiane Beatriz Wickert

Três Passos (RS) 2013

(3)

Dedico este trabalho à minha mãe, por sempre lutar e se dedicar a mim. E também por me auxiliar e me amparar durante estes anos da minha caminhada acadêmica.

(4)

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente, a Deus, acima de tudo, pela vida, força e coragem para concluir mais uma etapa de minha vida.

A toda minha família, especialmente minha mãe, por sempre me apoiar e em incentivar nos momentos difíceis.

A minha orientadora Lisiane Beatriz Wickert, pela dedicação, paciência e profissionalismo que desempenha como educadora.

Aos meus chefes pelo apoio durante minha caminhada acadêmica e minha eterna gratidão.

Aos meus colegas acadêmicos por trilharem esta caminhada comigo.

A todos que colaboraram de uma maneira ou outra durante a trajetória de construção deste trabalho, meu muito obrigado!

(5)

“Posso não concordar com nenhuma palavra que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.”

(6)

RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica faz uma análise sobre o Direito de Família, sua importância em nosso ordenamento jurídico, e faz em especial uma análise ao instituto destinado aos alimentos expondo aspectos teóricos, da sua natureza, finalidade, características e sujeitos da relação alimentar. Verifica as condições e circunstâncias da concessão de alimentos para filho maior. E por fim analisa jurisprudências que regulam a temática. A presente pesquisa será do tipo exploratória. Utiliza no seu delineamento a coleta de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de computadores. Na sua realização será utilizado o método de abordagem hipotético-dedutivo.

Palavras-chave: Direito de Família. Alimentos. Obrigação Alimentar. Filho. Maioridade.

(7)

ABSTRACT

This work monographic study is a review about Family Law, its importance in our legal system, and in particular makes an analysis to the Institute for Theoretical exposing food to its nature, purpose, characteristics and relationship aspects of food subjects. Verifies the conditions and circumstances of the food concession for older son. And finally examines case law governing the subject. This research is exploratory type. Uses in its delineation data collection in bibliographic sources available on physical media and computer network. In its realization method of hypothetical-deductive approach will be used.

(8)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

1 DIREITO DE FAMILIA ... 11

1.1 Conceito de direito de família ... 11

1.2 Princípios do direito de família ... 13

1.3 Direito de família na Constituição Federal de 1988 e no Código Civil de 2002 ... 18

2 DOS ALIMENTOS ... 22

2.1 Conceito dos alimentos ... 22

2.2 Natureza dos alimentos ... 24

2.3 Finalidade dos alimentos ... 25

2.4 Características do direito a alimentos ... 27

2.5 Sujeitos da relação alimentar ... 31

3 DA OBRIGAÇÃO DE ALIMENTAR O FILHO MAIOR ... 34

3.1 A natureza da obrigação alimentar ... 34

3.2 Critérios de concessão da obrigação alimentar ... 36

3.3 O direito aos alimentos do filho maior ... 39

3.4 Limite etário de concessão dos alimentos ... 42

3.5 Análise jurisprudencial ... 44

CONCLUSÃO ... 47

(9)

INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa propor um estudo sobre o instituto do direito de família, visa também conhecer os aspectos teóricos dos alimentos, e ainda pretende fazer uma análise das condições e circunstâncias da concessão de alimentos para filho maior, e por fim analisar jurisprudências que regulam a temática.

Com relação ao Direito de Família, o estudo apresenta o quanto é importante para o nosso ordenamento jurídico, discorre que o mesmo é dividido em algumas áreas, trazendo de forma aprofundada a área dos Alimentos, que tem uma fundamental importância no que diz respeito ao direito a vida.

Pretende-se discorrer em especial sobre a obrigação alimentar para o filho maior, uma vez que atingida a maioridade a obrigação de sustento se extingue juntamente com o poder familiar, e então surge a obrigação alimentar. Diante disso, quando o filho completa dezoito anos, na maioria das vezes o filho não tem condições de se manter por conta própria, então fica muitas vezes desamparado, pois, os pais já não tem mais a obrigação se sustentá-los. Portanto, faz-se importante apontar quais são os casos em que os filhos após a maioridade tem direito a receber os alimentos de seus pais e demais familiares.

Inicialmente, no primeiro capítulo, o trabalho fará uma abordagem ampla sobre o Direito de Família, a seu conceito, os princípios que o norteiam e a sua regulamentação no Código Civil de 2002 e na Constituição Federal de 1988.

(10)

O segundo capítulo abordará a temática Dos Alimentos, uma das áreas do Direito de Família, fazendo referencia ao seu conceito, natureza, finalidade, características e observa também os sujeitos da relação alimentar.

O terceiro e último capítulo, discorre sobre a natureza da obrigação alimentar os critérios para concessão da obrigação alimentar, quando os filhos maiores tem direito aos alimentos , limite etário para conceder os alimentos e análise jurisprudencial.

(11)

1 DIREITO DE FAMILIA

O direito de família é um dos mais importantes ramos do direito civil, pois o mesmo é que regulamenta as relações familiares e que mais tem envolvimento com o lado emocional das pessoas, envolvendo sentimentos, o convívio, relações íntimas, entre outros. Na sua evolução histórica, primeiramente a família era constituída apenas de marido e mulher e a sua prole, porém com o tempo, passou por algumas transformações, sendo hoje a família considerada apenas mãe e filhos, pai e filhos, dois pais e filhos ou duas mães e filhos, ou ainda apenas o homem e mulher sem prole.

Diante disso, faz-se necessária a conceituação de direito de família, quais são seus princípios, e como é regulamentado na Constituição Federal e no Código Civil de 2002.

1.1 Conceito de direito de família

Antes de tudo é importante conceituar o que é família, que de acordo com o entendimento de Maria Berenice Dias (2007, p. 33, grifo do autor) é definido da seguinte forma:

Dispondo a família de várias formatações, também o direito das famílias precisa ter espectro mais abrangente. Assim, difícil a sua definição sem incidir num vicio de lógica. Como esse ramo do direito disciplina a organização da família, conceitua-se o direito de família com o próprio objeto a definir. Em consequência, mais do que uma definição, acaba sendo feita a enumeração dos vários institutos que regulam não só as relações entre pais e filhos, mas também entre cônjuges e conviventes, ou seja, a relação das pessoas ligadas por um vinculo de consangüinidade, afinidade ou afetividade.

De acordo com a autora deve-se entender que família nos tempos de hoje não é formada apenas pelo marido, esposa e filhos, a família de hoje em dia é formada de diversas formas, como por exemplo, união de pessoas do mesmo sexo, apenas mãe e filho(s) ou pai e filho(s), avô e avó e netos, e assim inúmeras outras formas de família, pois família nada mais é do que um vínculo entre as pessoas tanto consangüíneo como por afinidade.

(12)

Corroborando com este entendimento Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 17, grifo do autor) diz: “Lato sensu, o vocábulo família abrange todas as pessoas ligadas por um vínculo de sangue e que procedem, portanto, de um tronco ancestral comum, bem como as unidas pela afinidade e pela adoção”.

Dessa forma, percebe-se que família nem sempre é constituída por pessoas de mesmo sangue, família também pode ser escolhida, como se pode observar pela adoção ou a escolha de um parceiro.

Portanto, diante das inúmeras formas de relações socioafetivas que vinculam as pessoas, de vários tipos e categorias, a conclusão que chega-se é de que não é possível apresentar um conceito único e absoluto de família (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2011, p. 37).

Após conceituar o instituto família, é importante definir o ramo do direito de família que segundo Gonçalves (2011, p. 19):

O direito de família constitui o ramo do direito civil que disciplina as relações entre pessoas unidas pelo matrimonio, pela união estável ou pelo parentesco, como os institutos complementares da tutela e curatela, visto que, embora tais institutos de caráter protetivo ou assistencial não advenham de relações familiares, tem, em razão de sua finalidade, nítida conexão com aquele.

A partir desta definição é possível verificar que o direito de família tem como principal finalidade regular as relações pessoais. Portanto, o código civil destinou grande parte de seus artigos mais de duzentos de 1511 a 1783 para que fossem divididas da melhor forma possível essas relações.

Nesse sentido Silvio de Salvo Venosa (2011, p.10, grifo do autor) dispõe o seguinte:

O direito de família, ramo do direito civil com características peculiares, é integrado pelo conjunto de normas que regulam as relações jurídicas familiares, orientando por elevados interesses morais e bem-estar social. Originalmente, em nosso país, o direito de família vinha regulado exclusivamente pelo Código Civil. Princípios constitucionais e numerosas leis complementares derrogaram parcialmente vários dispositivos do Código de 1916, além de disciplinar outros fenômenos e fatos jurídicos relacionados direta ou indiretamente com a família. O Código Civil de 2002 procura

(13)

fornecer uma nova compreensão da família, adaptada ao novo século, embora tenha ainda com passos tímidos nesse sentido. Seguindo o que já determina a Constituição de 1988, o atual estatuto procura estabelecer a mais completa igualdade jurídica dos cônjuges e dos companheiros, do homem e da mulher. Da mesma forma, o vigente diploma civil contempla o principio da igualdade jurídica de todos os filhos, independentemente de sua origem. Nesse diapasão, não mais se refere o Código ao pátrio poder, denominação derivada do caudilhesco pater famílias do Direito Romano, mas ao poder

familiar, aquele que é exercido como um poder-dever em igualdade de

condições por ambos os progenitores. O organismo familiar passa por constantes mutações e é evidente que o legislador deve estar atento às necessidades de alterações legislativas que devem ser feitas no curso deste século. Não pode também o Estado deixar de cumprir sua permanente função social de proteção à família, como célula mater, sob pena de o próprio Estado desaparecer, cedendo lugar ao caos. Daí porque a intervenção do Estado na família é fundamental, embora deva preservar os direitos básicos de autonomia. Essa intervenção deve ser sempre protetora, nunca invasiva da vida privada.

Desse modo verifica-se que o direito de família é regulado por diversas normas, como o Código Civil, a Constituição Federal e inúmeras leis complementares. Elas regulam as relações jurídicas das famílias.

Nesse sentido Gonçalves (2011, p.19, grifo do autor) diz:

Conforme sua finalidade ou seu objetivo, as normas do direito de família ora regulam as relações pessoais entre os cônjuges, ou entre os ascendentes e os descendentes ou entre parentes fora da linha reta; ora disciplinam as relações

patrimoniais que se desenvolvem no seio da família, compreendendo as que

se passam entre cônjuges, entre pais e filhos, entre tutor e pupilo; ora finalmente assumem a direção das relações assistenciais, e novamente têm em vista os cônjuges entre si, os filhos perante os pais, o tutelado em face do tutor, o interdito diante do seu curador. Relações pessoais, patrimoniais e assistenciais são, portanto, os três setores em que o direito de família atua.

Diante do exposto pode-se observar que no Código Civil o direito de família ficou dividido da seguinte forma: direito pessoal (casamento relações de parentesco); direito patrimonial (regime de bens, usufruto e administração dos bens dos filhos menores, alimentos, bem de família); união estável e por fim tutela e curatela.

1.2 Princípios do direito de família

Ao analisar a questão principiológica do Direito de família, deve-se salientar que a legislação não faz referência expressa quanto a qual ramo do direito são aplicados os

(14)

princípios, portanto coube a doutrina o reconhecimento dos mesmos (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2011).

O primeiro princípio identificado pela doutrina é o principio da dignidade da pessoa humana é o que melhor se aplica ao direito de família, assim é o que fundamenta Maria Berenice Dias (2011, p. 63, grifo do autor):

O direito das famílias está ligado aos direitos humanos, que têm por base o princípio da dignidade da pessoa humana, versão axiológica da natureza humana. O principio da dignidade humana significa, em ultima análise, igual dignidade para todas as entidades familiares. Assim, é indigno dar tratamento diferenciado às várias formas de filiação ou aos vários tipos de constituição de família, com o que se consegue visualizar a dimensão do espectro desse princípio, que tem contornos cada vez mais amplos.

A dignidade da pessoa humana encontra na família o solo apropriado para florescer. A ordem constitucional dá-lhe especial proteção independentemente de sua origem. A multiplicação das entidades familiares – o afeto, a solidariedade, a união, o respeito, a confiança, o amor, o projeto de vida comum –, permitindo o pleno desenvolvimento pessoal e social de cada participe com base em ideais pluralistas, solidaristas, democráticos e humanistas.

Percebe-se como isso, que o principio da dignidade da pessoa humana, tem como finalidade garantir o pleno desenvolvimento e realização das relações familiares. O mesmo se mostra como a base da comunidade familiar, pois dentre todos os ramos do direito, o direito de família é o mais humano de todos os ramos (GONÇALVES, 2011).

Outro princípio que sustenta o direito de família, defendido pela doutrina é o princípio da igualdade, entre homem e mulher tanto no matrimônio como na união estável e igualdade entre os filhos.

A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º, I, diz o seguinte:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;

(15)

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. [...]

§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.

Consoante a analise destes artigos Gonçalves (2011, p. 23) ensina:

[...] A regulamentação instituída no aludido dispositivo acaba com o poder marital e com o sistema de encapsulamento da mulher, restrita a tarefas domésticas e à procriação. O patriarcalismo não mais se coaduna, efetivamente, com a época atual, em que grande parte dos avanços tecnológicos e sociais está diretamente vinculada às funções da mulher na família e referenda a evolução moderna, confirmando verdadeira revolução no campo social.

A partir do exposto, é possível observar que a mulher não é mais “propriedade” do marido, pois, a mesma era restrita a apenas ser dona de casa e a procriar. E homem passou a dividir as responsabilidades dos encargos da família. A mulher passou a trabalhar “fora de casa” e o homem passou a contribuir nas atividades domésticas. Deste modo, ambos têm deveres e direitos na sociedade conjugal.

O principio da igualdade também lançou-se sobre o campo da filiação, assim dispõe o art. 227, § 6º da Constituição Federal e art. 1596 do Código Civil de 2002: “Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”.

Diante disso, Gagliano e Pamplona Filho (2011, p. 81) salientam que “não há mais espaço, portanto, para a vetusta distinção entre filiação legítima e ilegítima, característica do sistema anterior, que privilegiava a todo custo a „estabilidade no casamento‟ em detrimento da dimensão existencial de cada ser humano integrante do núcleo familiar”.

Dessa forma, percebe-se que tanto filhos legítimos ditos na constância do casamento quanto os adotados, tem os mesmo direitos não havendo distinção nem privilégios entre os mesmos. E o mesmo cabe aos filhos tidos fora do casamento, pois o que está estabelecido é absoluta igualdade entre todos os filhos.

(16)

O princípio ora em estudo não admite distinção entre filhos legítimos, naturais e adotivos, quanto ao nome, poder familiar, alimentos e sucessão; permite o reconhecimento, a qualquer tempo, de filhos havidos fora do casamento; proíbe que conste no assento do nascimento qualquer referência à filiação ilegítima; e veda designações discriminatórias relativas à filiação.

Desse modo, o entendimento que se tem é que foi proibido todo e qualquer ato de discriminação entre todos os filhos, portanto, não há mais o que se falar que um filho “vale” mais que o outro, como existia em nosso sistema anterior.

Outro princípio importante do Direito de Família é o da solidariedade familiar, este princípio está previsto na Constituição Federal de 1988, e seu artigo 229 que diz: “Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”.

Da mesma forma Dias (2011, p. 67, grifo do autor) diz:

A lei civil igualmente consagra o princípio da solidariedade ao dispor que o casamento estabelece plena comunhão de vidas (CC 1.511). Também a obrigação alimentar dispõe deste conteúdo (CC 1.694). Os integrantes da família são, em regra, reciprocamente credores e devedores de alimentos. A imposição de obrigação alimentar entre parentes representa a concretização do princípio da solidariedade familiar. Assim deixando um dos parentes de atender com a obrigação parental, não poderá exigi-la daquele a quem se negou a prestar auxilio. Vem a calhar o exemplo do pai que deixa de cumprir com os deveres inerentes ao poder familiar, não provendo a subsistência dos filhos. Tal postura subtrai a possibilidade de ele posteriormente buscar alimentos frente aos filhos, uma vez que desatendeu ao princípio da solidariedade familiar.

Entende-se por isso que este princípio gera o dever de reciprocidade entre os familiares, ele tem um caráter assistencial, que pode ser moral ou material, desobrigando de primeiro plano o Estado, a quem em último caso pode-se recorrer.

Neste tocante, ensina Gagliano e Pamplona Filho (2011, p. 93) “esse princípio não apenas traduz a afetividade necessária que une os membros da família, mas, especialmente, concretiza uma especial forma de responsabilidade social aplicada à relação familiar”.

(17)

Por fim, outro princípio do Direito de Família é a proteção plena do direito das crianças, adolescentes, jovens e idosos, que está consolidada no artigo 227 e seus incisos da Constituição Federal de 1988.

Quanto ao ensinamento deste princípio cabe salientar o entendimento de Maria Berenice Dias (2011, p. 68):

A Carta Constitucional assegura a crianças, adolescentes e jovens (CF 227) direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, a profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, a liberdade e à convivência familiar e comunitária. Também são colocados a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. A forma de implementação de todo esse leque de direitos e garantias, devem ser assegurados com absoluta prioridade pela família, pela sociedade e pelo Estado, está no Estatuto da Criança e do Adolescente (L 8.069/1990), microssistema que traz normas de conteúdo material e processual, de natureza civil e penal, e abriga toda legislação que reconhece os menores como sujeitos de direito. O Estatuto rege-se pelos princípios do melhor interesse, paternidade responsável e proteção integral, visando a conduzir o menor à maioridade de forma responsável, constituindo-se como sujeito da própria vida, para que possa gozar de forma plena dos seus direitos fundamentais.

Portanto, cabe a família a proteção dos filhos (crianças e adolescentes), e prover as demais necessidades destes, como alimentação, vestuário, educação, saúde, lazer entre outras, e o não cumprimento deste principio pode em alguns casos acarretar a perda do poder familiar (CC artigo 1637 e 1638).

Com relação à proteção do idoso a mesma esta respaldada pela Constituição Federal de 1988 em seu artigo 230 que nos ensina o seguinte: “A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida”.

Diante disso, observa-se que foi atribuída a família, sociedade e Estado o dever de amparar o idoso, cuidar de seus interesses, manter-se de forma digna, provendo suas necessidades que a partir de idades mais avançadas já não podem mais ser supridas por ele mesmo.

(18)

Pelo exposto, pode-se dizer que existem diversos princípios norteadores do direito de família e um interligado ao outro, porém, estes são fundamentais para a compreensão do referido ramo do direito civil.

1.3 Direito de família na Constituição Federal de 1988 e no Código Civil de 2002

O Código Civil de 1916 vigente no século passado regulava que família era apenas constituída pelo casamento, o que já não retratava a real realidade da família nos tempos de hoje, portanto com o tempo tornou-se defasado diante dos novos tipos de composição das relações familiares.

Nesse sentido Venosa (2011, p. 17) ensina o seguinte:

Como observamos, o Código Civil de 1916 de há muito já não retratava o panorama atual da família, derrogado em grande parte por inúmeras leis complementares, que dificultavam sobremaneira o estudo sistemático da matéria [...]

O Código de 1916 disciplinava o direito de família no Livro I, Parte Especial. Não era a melhor colocação didática e técnica, pois a matéria deveria ser estudada não somente após a parte geral, mas sim depois de conhecidos os princípios dos direitos reais e das obrigações, que antecede o direito das sucessões. O direito de família pressupõe o conhecimento dessas e outras áreas. Essa, aliás, a ordem lógica do estudo do Direito Civil para os iniciantes na ciência jurídica, adotada pelo Código de 2002 e pela maioria das codificações mais recentes. O código de 1916 versava sobre três grandes temas: a primeira parte regulava o casamento, a segunda, as relações de parentesco, e a terceira, os denominados direitos protetivos (tutela, curatela e ausência). Essa mesma estrutura, com inúmeras inovações, é mantida pelo atual Código Civil.

Diante disso, em 2003 entrou em vigor o Código Civil de 2002, alguns doutrinadores ainda o chamam de novo embora já tenham se passados mais de dez anos.

Maria Berenice Dias (2011, p. 32, grifo do autor) faz a seguinte declaração:

O Código Civil procurou atualizar os aspectos essenciais do direito de família. Apesar de ter preservado a estrutura do Código anterior, incorporou boa parte das mudanças legislativas que haviam ocorrido por meio de legislação esparsa. Mas não deu o passo mais ousado, nem mesmo em direção aos temas constitucionalmente consagrados, ou seja, operar a subsunção, à moldura da norma civil, de construções familiares existentes desde sempre, embora completamente ignoradas pelo legislador

(19)

infraconstitucional. Por esse motivo, é alvo de variadas interpretações, da mais diversa gama de considerações, comentários, sugestões e emendas. E nem poderia ser diferente. Apesar das relações conjugais tenderem cada vez mais a repudiar a interferência em sua esfera de privacidade, é exaustiva a regulamentação do casamento.

Assim sendo, percebe-se que embora ele seja novo, suas alterações não foram satisfatórias, pois não apresenta clareza nem eficácia em alguns tópicos que a sociedade necessita para regulamentar as novas relações familiares que estão surgindo e já existiam desde a época da elaboração desse novo Código, como união de pessoas do mesmo sexo, adoção por homossexuais, desigualdade entre casamento e união estável, uma vez que a Constituição Federal não menciona qualquer diferença entre estas duas entidades.

Foi a Constituição Federal de 1988 quem inovou com relação ao Direito de Família, é o que nos ensina Gonçalves (2011, p. 33):

A Constituição federal de 1988 “absorveu essa transformação e adotou uma nova ordem de valores, privilegiando a dignidade da pessoa humana, realizando verdadeira revolução no Direito de Família, a partir de três eixos básicos”. Assim, o art. 226 afirma que “ a entidade familiar é plural e não mais singular, tendo várias formas de constituição”. O segundo eixo transformador “encontra-se no § 6º do art. 227. É a alteração do sistema de filiação, de sorte a proibir designações discriminatórias decorrentes do fato de ter a concepção ocorrido dentro ou fora do casamento”. A terceira grande revolução situa-se “nos artigos 5º, inciso I, e 226, § 5º. Ao consagrar o principio da igualdade entre homens e mulheres, derrogou mais de uma centena de artigos do Código Civil de 1916”.

Percebe-se então, que as mudanças que ocorreram no novo Código Civil de 2002 tiveram forte influência do texto Constitucional, assim a titulo de exemplo os aspectos mais importantes Eduardo de Oliveira Leite (2005, p. 31-32, grifo do autor) nos ensina:

a) a qualificação da família como legítima foi substituída pelo reconhecimento de outras formas de conjugalidade, ao lado da família legítima (arts. 1723 a 1727);

b) a diferença de estatutos entre o homem e a mulher, que agasalhava o mais assimétrico tratamento de gêneros, no CC/1916, é substituída pela igualdade absoluta entre homem e a mulher (arts. 1511, 1565 a 1569);

c) a categorização dos filhos com diversidade de estatutos ganha nova dimensão com a paridade de direitos entre filhos de qualquer origem (art. 1596);

d) a indissolubilidade do vínculo matrimonial (já resgatada pela Lei 6.515/1977) adentra no universo codificado, não mais como microssistema, mas como instituto próprio do Direito Civil (arts. 1571 a 1582);

(20)

e) a proscrição do concubinato é substituída pelo reconhecimento das uniões estáveis, em capítulo, igualmente, próprio (Título III – Da união estável).

Diante do exposto, cabe destacar que a Constituição Federal de 1988, foi pioneira ao falar em assistencialismo familiar e planejamento familiar (CF/88, art. 226, §7º), estabelecendo que a família tem o dever de prover os alimentos, que subentende-se as necessidades ao integrante familiar que não tem como se manter e ainda estipula que não cabe ao Estado intervir na quantidade de filhos, mas sim instruir a família quanto as suas escolhas.

Uma grande vitória para o texto Constitucional sobre o direito de família foi a Emenda Constitucional nº 66/2010, que regulamentou separação judicial prévia, no sentido de que não há mais necessidade de observar o lapso temporal para encaminhar diretamente o divórcio para desfazer a sociedade conjugal (VENOSA, 2011, p. 15).

No entendimento de Dias (2011, p. 33, grifo do autor), percebe-se como essa mudança foi significativa:

Atendendo ao clamor da doutrina, o instituto da separação e a perquirição da culpa foram eliminados, com a recente reforma constitucional. Apesar da resistência de alguns, que insistem na mantença da separação, por continuar no texto do Código Civil, a posição amplamente majoritário preconiza o seu fim. O mundo de hoje não mais comporta uma visão idealizada da família. Seu conceito mudou. A sociedade concede a todos o direito de buscar a felicidade, independentemente dos vínculos afetivos que estabeleçam. É ilusória a idéia de eternidade do casamento. A separação, apesar de ser um trauma familiar doloroso, é um remédio útil e até necessário, representando, muitas vezes, a única chance para ser feliz. Impor a um dos cônjuges que desnude a intimidade do outro, trazendo a juízo fatos que tornaram insuportável a vida em comum, feria o direito à privacidade, além de afrontar a dignidade de quem um dos cônjuges queria se desvencilhar.

Desse modo, verifica-se que o Código Civil de 2002, e a Constituição Federal de 1988 estão destinando grande parte do que rege Direito de família aos vínculos afetivos, a humanização do direito.

Gagliano e Pamplona Filho (2011, p. 62, grifo do autor) afirmam:

Observamos, então, que, em virtude do processo de constitucionalização por que passou o Direito Civil nos últimos anos, o papel a ser desempenhado pela família ficou mais nítido, podendo-se, inclusive, concluir pela

(21)

ocorrência de uma inafastável repersonalização. Vale dizer, não mais a (hipócrita) tentativa de estabilização matrimonial a todo custo, mas sim a

própria pessoa humana em sua dimensão existencial e familiar, passaria a

ser especial destinatária das normas de Direito de Família.

Nesse mesmo sentido Gonçalves (2011, p. 35, grifo do autor) faz a seguinte conclusão: Frise-se, por fim, que as alterações pertinentes ao direito de família, advindas da Constituição Federal de 1988 e do Código Civil de 2002, demonstram e ressaltam a função social da família no direito brasileiro, a partir especialmente da proclamação da igualdade absoluta dos cônjuges e dos filhos; da disciplina concernente à guarda, a manutenção e educação da prole, com atribuição de poder ao juiz para decidir sempre no interesse desta e determinar a guarda a quem revelar melhores condições de exercê-la, bem como para suspender ou destituir os pais do poder familiar, quando faltarem aos deveres a ele inerentes; do reconhecimento do direito a alimentos inclusive aos companheiros e da observância das circunstâncias socioeconômicas em que se encontrarem os interessados; da obrigação imposta a ambos os cônjuges, separados judicialmente (antes da aprovação da Emenda Constitucional n. 66/2010) ou divorciados, de contribuírem, na proporção de seus recursos, para a manutenção dos filhos etc.

O que também se observa com o novo Código Civil, é que o mesmo disciplina os alimentos com uma nova visão e não mais apenas pelo critério da subsistência. E os mesmos não são mais aplicados apenas aos filhos menores.

Diante disso, no próximo capítulo será feita uma abordagem minuciosa quanto aos alimentos, definindo seu conceito, natureza, finalidade, suas características e os sujeitos da obrigação alimentar.

(22)

2 DOS ALIMENTOS

Dentro do direito de família existem diversas áreas, e uma das mais importantes é a dos alimentos, que encontra-se no Livro IV Do Direito de Família, Título II Do Direito Patrimonial, Subtítulo III Dos Alimentos, do Código Civil de 2002.

O instituto dos alimentos é importante no meio jurídico pela sua influente relação com o direito à vida, pois todos sabem que o direito primário do ser humano é o de viver com dignidade. O cidadão, a princípio, possui todos os atributos que o tornam capaz de sobreviver por si só, porém, em determinadas condições, isso se torna impossível ou por algum tempo se torna inviável.

Portanto, é importante definir que é o instituto dos alimentos, a sua natureza, a sua finalidade, suas características e ainda definir quem são os sujeitos da relação alimentar.

2.1 Conceito dos alimentos

Antes de tudo é importante uma breve introdução quanto aos alimentos definido por Venosa (2011, p. 357):

O ser humano, desde o nascimento até sua morte, necessita de amparo de seus semelhantes e de bens essenciais ou necessários para a sobrevivência. Nesse aspecto, realça-se a necessidade de alimentos. Desse modo, o termo

alimentos pode ser entendido, em sua conotação vulgar, como tudo aquilo

necessário para sua subsistência. Acrescentamos a essa noção o conceito de obrigação que tem uma pessoa de fornecer esses alimentos a outra e chegaremos facilmente à noção jurídica. No entanto, no Direito, a compreensão do termo é mais ampla, pois a palavra, além de abranger os alimentos propriamente ditos, deve referir-se também à satisfação de outras necessidades essenciais da vida em sociedade.

Portanto, precisa-se de alimentos desde o nascimento até a morte do ser humano, o mesmo deve satisfazer as necessidades de quem não consegue prover por si.

Diante disso, consideram-se compreendidas no conceito de alimentos todas as prestações necessárias para a vida e a afirmação da dignidade do indivíduo (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2011, p. 674, grifo do autor).

(23)

Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 498), preleciona o seguinte:

O vocábulo “alimentos” tem, todavia, conotação muito mais ampla do que na linguagem comum, não se limitando ao necessário para o sustento de uma pessoa. Nele se compreende não só a obrigação de prestá-los, como também o conteúdo da obrigação a ser prestada. A aludida expressão tem, no campo do direito, uma acepção técnica de larga abrangência, compreendendo não só o indispensável ao sustento, como também o necessário à manutenção da condição social e moral do alimentando.

Nesta linha, Yussef Said Cahali (2009, p. 16, grifo do autor), faz a seguinte afirmação “alimentos são, pois, as prestações devidas, feitas para que aquele que as recebe possa subsistir, isto e, manter sua existência, realizar o direito à vida, tanto física (sustento do corpo) como intelectual e moral (cultivo e educação do espírito, do ser racional).”

É comum que seja feita uma interpretação da expressão alimentos com alimentação no sentido de comida. Porém, no ramo do direito, alimentos tem uma conotação bem mais ampla que isso, assim ensina Silvio de Salvo Venosa (2011, p. 358, grifo do autor):

Assim, alimentos, na linguagem jurídica, possuem significado bem mais amplo do que o sentido comum, compreendendo, além da alimentação, também o que for necessário para moradia, vestuário, assistência médica e instrução. Os alimentos, assim, traduzem-se em prestações periódicas fornecidas a alguém para suprir essas necessidades e assegurar sua subsistência.

Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 498, grifo do autor) ainda faz referência quanto ao conteúdo dos alimentos:

Quanto ao conteúdo, os alimentos abrangem, assim, o indispensável sustento, vestuário, habitação, assistência médica, instrução e educação (CC, arts. 1.694 e 1.920). Dispõe o art. 1694 do código Civil, com efeito, que “podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros

os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação”.

Ou seja, o conteúdo, são prestações periódicas prestadas por outrem, para satisfazer as necessidades vitais de quem não pode prover por si.

(24)

2.2 Natureza dos alimentos

Existem inúmeros entendimentos quanto à natureza jurídica dos alimentos, tendo em vista que sua origem não existe somente no direito de família, podendo derivar de outras situações, como por exemplo, de um ato ilícito, testamento ou estabelecido em um contrato. Porém, no caso em tela o que interessa é a natureza advinda do direito de família, que é aquele que decorre de um vínculo de parentesco o qual Maria Berenice Dias (2011, p.514) defende que:

A natureza jurídica dos alimentos está ligada à origem da obrigação. O dever dos pais de sustentar os filhos deriva do poder familiar. A Constituição Federal reconhece a obrigação dos pais de ajudar, criar e educar os filhos menores. Também afirma que os filhos maiores devem auxiliar e amparar os pais na velhice, carência e enfermidade (CF 229). Trata-se de obrigação alimentar que repousa na solidariedade familiar entre os parentes em linha reta e se estende infinitamente. Na linha colateral, é necessário reconhecer que a obrigação vai até o quarto grau de parentesco, guardando simetria com o direito sucessório. O encargo alimentar decorrente do casamento e da união estável tem origem no dever de mútua assistência, que existe durante a convivência e persiste mesmo depois de rompida a união. Cessada a vida em comum, a obrigação de assistência cristaliza-se na modalidade de pensão alimentícia. Basta que um do par não consiga prover a própria subsistência e o outro tenha condições de lhe prestar auxílio. A obrigação permanece até depois de dissolvida a sociedade conjugal pelo divórcio. Ainda que não haja expressa referência legal, a separação de fato é pressuposto para fixação de alimentos, quer a favor de cônjuges, companheiros ou filhos. Enquanto a família coabita, os alimentos são atendidos in natura. Com a separação, o encargo converte-se em obrigação in pecúnia. É necessário impedir que a fixação do encargo vise a obter vantagens de ordem fiscal, uma vez que os alimentos são dedutíveis do imposto de renda. No entanto, mesmo vivendo sob o mesmo teto, pode-se configurar a separação para o efeito de ser fixado o encargo alimentar.

A doutrina ainda distingue que a natureza do alimentos podem ser naturais ou civis, assim ensina Youssef Said Cahali (2009, p.18, grifo do autor):

Quando se pretende identificar como alimentos aquilo que é estritamente necessário para a mantença da vida de uma pessoa, compreendendo tão-somente a alimentação, a cura, o vestuário, a habitação, nos limites assim do necessarium vitae, diz-se que são alimentos naturais; todavia, se abrangentes de outras necessidades, intelectuais e moras, inclusive recreação do beneficiário, compreendendo assim o necessarium personae e fixado segundo a qualidade do alimentando e os deveres da pessoa obrigada, diz-se que são alimentos civis.

(25)

Corroborando com este entendimento o Silvio de Salvo Venosa (2011, p. 358, grifo do autor) nos traz a seguinte afirmação:

Nesse quadro, a doutrina costuma distinguir os alimentos civis ou côngruos, isto é, convenientes, que incluem os meios suficientes para a satisfação de todas as outras necessidades básicas do alimentando, segundo as possibilidades do obrigado. O Código de 1916 não distinguia ambas modalidades, mas o atual Código faz (art. 1694), discriminando alimentos necessários ao lado dos indispensáveis, permitindo ao juiz que fixe apenas estes últimos em determinadas situações restritivas. No §2º, encontra-se a noção destes: “Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidades resultar de culpa de quem os pleiteia.” Por outro lado, o §1º estabelece a regra geral dos alimentos amplos, denominados côngruos ou civis: “Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.”

Nesse sentido, percebe-se que alimentos são divididos em alimentos naturais ou necessários e alimentos civis ou côngruos. Os primeiros servem apenas para suprir as necessidades básicas à subsistência, seu alcance é limitado. Já no segundo caso, serve para suprir todas as necessidades do alimentando conforme a possibilidade de quem esta prestando os alimentos.

Portanto,os alimentos civis são aqueles que não se limitam à subsistência e abrangem os gastos necessários para a manutenção da condição social (art. 1.694, caput, CC-02); os naturais que são limitados e apenas asseguram a mantença da vida §2º do art. 1.694, CC-02 (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2011, p. 683-684).

Desse modo, percebe-se que os alimentos podem derivar de outras relações além de parentesco como contrato ou testamento. E que os mesmos são alimentos naturais ou civis, um serve apenas para as necessidades básicas e o outro tem o seu alcance estendido para outras necessidades do alimentado.

2.3 Finalidade dos alimentos

Quanto à finalidade dos alimentos, os mesmos podem ser definitivos, provisórios ou provisionais, assim, Gonçalves (2011, p. 504) afirma o seguinte:

(26)

Quanto à finalidade, classificam-se os alimentos em definitivos ou regulares, provisórios e provisionais. Definitivos são os de caráter permanente, estabelecidos pelo juiz na sentença ou em acordo das partes devidamente homologado, malgrado, possam ser revistos (CC, art. 1.699).

Provisórios são fixados liminarmente no despacho inicial proferido na ação

de alimentos, de rito especial estabelecido pela Lei n. 5.478/68 – Lei de Alimentos. Provisionais ou ad litem são os determinados em medida cautelar, preparatória ou incidental, de ação de separação judicial, de divórcio, de nulidade ou anulação de casamento ou de alimentos. Destinam-se a manter o suplicante, geralmente a mulher, e a prole, durante a tramitação da lide principal, e ao pagamento das despesas judiciais, inclusive honorários advocatícios (CPC, art. 852). Daí a razão do nome ad

litem ou alimenta in litem.

Os alimentos provisionais duram até o final do processo e podem ser revogados a qualquer momento. Os regulares ou definitivos, são estabelecidos por uma sentença ou um acordo, porém podem ser revisados judicialmente.

Os alimentos provisórios diferenciam-se dos provisionais, pelo fato de exigirem apenas a prova pré-constituída do parentesco, casamento ou a existência de união estável, enquanto os provisionais dependem da comprovação dos requisitos das medidas cautelares como: fumus boni juris e o periculum in mora, e ainda ao entendimento do juiz.

A respeito disso, Venosa (2011, p. 364-365) ensina:

Quanto à finalidade, denominam-se alimentos provisionais ou provisórios aqueles que precedem ou são concomitantes a uma demanda de separação judicial, divórcio, nulidade ou anulação de casamento, ou mesmo ação de alimentos. Recorde-se que Emenda Constitucional nº 66/2010 retirou do ordenamento nacional a separação judicial. A finalidade dos alimentos é propiciar meios para que a ação seja proposta e prover a mantença do alimentando e seus dependentes durante o curso do processo. São regulares ou definitivos os alimentos estabelecidos como pensão periódica, ainda que sempre sujeitos á revisão judicial. A referência aos alimentos provisionais no presente Código Civil é feita no art. 1.706, que determina que se obedeça à lei processual. Os alimentos provisionais são estabelecidos quando se cuida da separação ou divórcio. Nesse caso, os provisionais devem perdurar até a partilha dos bens do casal (Monteiro, 1996:305). Mas os alimentos provisórios podem ser requeridos sempre que movida a ação de alimentos, com fixação initio litis (art. 4º da Lei nº 5.478/68), desde que já haja prova pré-constituída do dever de prestá-los. Provisórios ou provisionais, pouco importando sua denominação, sua compreensão e finalidades são idênticas.

Diante do exposto, fica evidente a importância dos alimentos no nosso ordenamento jurídico, tendo em vista que tem por finalidade garantir o direito à vida de quem não tem

(27)

meios de arcar por si só sua própria subsistência. Os mesmos visam, a proporcionar ao alimentado uma vida com dignidade.

A própria Constituição Federal Brasileira de 1988, entende que o direito à vida é o mais fundamental de todos os direitos, já que se constitui em pré-requisito à existência e ao exercício de todos os demais direitos.

2.4 Características do direito a alimentos

O direito a alimentos possui várias características, portanto convém mencionar as principais referente ao direito dos mesmos.

Uma característica unânime citada pelas doutrinas é que o direito aos alimentos é personalíssimo, ou seja, não transfere o direito aos alimentos de uma pessoa a outra. Assim ensina Gonçalves (2011, p. 519, grifo do autor):

Personalíssimo. Esta é a característica fundamental, da qual decorrem as

demais. Como os alimentos se destinam à subsistência do alimentando, constituem um direito pessoal, intransferível. A sua qualidade de direito da personalidade é reconhecida pelo fato de se tratar de um direito inato tendente a assegurar a subsistência e integridade física do ser humano. Considera a doutrina, sob esse aspecto, como uma das manifestações do direito à vida. É o direito personalíssimo no sentido de que a sua titularidade não passa a outrem por negócio ou por fato jurídico.

Outra característica é a irrenunciabilidade prevista no art. 1.707 do Código Civil que diz: “Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos [...]”, portanto ele pode deixar de exercer seu direito, mas não pode renunciar ao direito.

Diniz (2005, p. 545) ensina que:

É irrenunciável, uma vez que o Código Civil, ar. 1.707, 1ª parte, permite que se deixe de exercer, mas não que se renuncie o direito de alimentos. Pode-se renunciar o exercício e não o direito; assim o necessitado pode deixar de pedir alimentos, mas não renunciar esse direito. Logo, quem renunciar ao seu exercício poderá pleiteá-lo ulteriormente, se dele vier a precisar para seu sustento, verificados os pressupostos legais.

(28)

Desse modo, percebe-se que a irrenunciabilidade diz respeito ao direito e não ao seu exercício, assim o direito pode não ser exercido, porém não pode ser renunciado.

Já a próxima característica é a impenhorabilidade, os alimentos não podem ser penhorados, uma vez que os mesmos servem para manter a sobrevivência do alimentado, no art. 1.707 do Código Civil, isto resta evidente quando afirma que é insuscetível de penhora.

No entendimento de Cahali (2009, p. 86) ele afirma que:

Tratando-se direito personalíssimo, destinado o respectivo crédito à subsistência da pessoa alimentada, que não dispõe de recursos para viver, nem pode prover às suas necessidades pelo próprio trabalho, não se compreende possam ser as prestações alimentícias penhoradas; inadmissível, assim, que qualquer credor do alimentado possa privá-lo do que é estritamente necessário à sua subsistência.

Os alimentos também são incompensáveis, pois não pode ser usado como meio de compensação em casos em que as pessoas são ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra. O art. 1.707 do Código Civil regulamenta que é insuscetível de compensação os alimentos.

Venosa (2011, p. 368) ensina que:

A lei expressamente ressalva que as obrigações alimentícias não se compensam (art.373, II). Tendo em vista a finalidade dos alimentos, qual seja a subsistência do necessitado, a eventual compensação dos alimentos com outra obrigação anularia esse desiderato, lançando o alimentando no infortúnio. Temos entendido, contudo, que se admite compensação com prestações de alimentos pagas a mais, tanto para os provisórios, como para os definitivos.

Diante disso, percebe-se que os alimentos quando ambas as partes são ao mesmo tempo credor e devedor não podem servir para compensar uma outra obrigação, uma vez que os alimentos tem como função de garantir o mínimo para sobrevivência do alimentado. Porém, a jurisprudência tem aceitado compensação nas prestações vincendas quando houver valores pagos a mais, como exemplo valores já pagos devido à sentença em primeira instância e que após sentença recursal o valor foi modificado.

(29)

Outra característica dos alimentos é que eles são incessíveis, o art. 1.707 do Código Civil prevê que os alimentos são insuscetíveis de cessão, ou seja, o crédito alimentar futuro não pode ser cedido à outra pessoa para extinguir outra obrigação.

Orlando Gomes (1968) citado por Gonçalves (2011, p. 520, grifo do autor) ensina que:

Outorgado, como é, a quem necessita de meios para subsistir, e, portanto, concedido para assegurar a sobrevivência de quem caiu em estado de miserabilidade, o direito a prestação de alimentos é, por definição e substância, intransferível. O titular não pode sequer, ceder o crédito que obteve em razão de se terem reunido os pressupostos da obrigação alimentar, mas, se a prestação já estiver vencida, pode ser objeto de transação.

Portanto, o que entende-se é que não podem ser cedidos créditos alimentares futuros, já o crédito alimentar vencido é considerado um crédito simples passível de cessão, uma vez que o alimentado sobreviveu mesmo sem este valor.

Os alimentos também são imprescritíveis, pois podem ser postulados a qualquer momento da vida da pessoa desde que comprove sua necessidade a impossibilidade de manter por si só, e a possibilidade do alimentante. Nesse caso o que prescreve é o direito de cobrar o pagamento de pensões atrasadas, o art. 206, §2º do Código Civil estabelece que prescreve “em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem”.

Além de imprescritíveis, os alimentos são intransacionáveis, o direito de pedir os alimentos não pode ser objeto de transação, ou seja, eles não podem ser objeto de juízo arbitral ou de compromisso, porém as prestações atrasadas e futuras poderão ser transacionáveis. Assim afirma Diniz (2005, p. 547, grifo do autor): “É intransacionável, não podendo ser objeto de transação o direito de pedir alimentos (CC, art. 841) mas o quantum das prestações vencidas ou vincendas é transacionável”.

Atualidade também é uma característica importante dos alimentos, tendo em vista que o valor a ser pago deve ser corrigido com o passar do tempo, por isso se faz necessário que os alimentos tenham um critério estipulado para que seja feita esta correção e se adéque as necessidades do alimentado e as condições do alimentante.

(30)

Dias (2011, p. 525, grifo do autor) faz a seguinte referencia sobre o assunto:

Como o encargo alimentar é de trato sucessivo, os efeitos corrosivos da inflação não podem aviltar o seu valor, o que viria inclusive a afrontar o princípio da proporcionalidade. Assim, mister que os alimentos sejam fixados com a indicação de critério de correção. A própria lei determina a atualização segundo índice oficial regularmente estabelecido (CC 1.710). A modalidade que melhor preserva sua atualidade é estabelecer o encargo em valor percentual dos ganhos do alimentante. Não dispondo ele de fonte de rendimento que permita o desconto, a tendência é estabelecer os alimentos em salários-mínimos.

Desse modo, quando o alimentante tiver renda fixa via de regra é estipulado um percentual do valor. Já nos casos em que o alimentante não tem renda fixa, tem se entendido que pode ser estipulado de acordo com o salário-mínimo.

Diante disso, cabe falar da periodicidade que também caracteriza os alimentos, pois como os alimentos têm como função de garantir a subsistência do alimentado, a prestação pecuniária deve ser estabelecida por períodos.

Venosa (2011, p. 369) faz a seguinte referência:

O pagamento da obrigação alimentícia deve ser periódico, pois assim se atende à necessidade de se prover a subsistência. Geralmente, cuida-se de prestação mensal, mas outros períodos podem ser fixados. Porém, não se admite que um valor único seja o pago, nem que o período seja longo, anual ou semestral, porque isso não se coaduna com a natureza da obrigação. O pagamento único poderia ocasionar novamente a penúria do alimentando, que não tivesse condições de administrar o numerário.

Com isso, percebe-se que devem ser estipulados períodos regulares, mas nunca uma única prestação e nem períodos semestrais ou anuais.

Divisibilidade, também caracteriza os alimentos tendo em vista que podem ser divididos entre vários parentes (arts. 1696 e 1.697) que podem contribuir com uma quantia para os alimentos.

Cahali (2009, p. 137) ensina “não sendo a obrigação alimentar solidária, mas conjunta, ela o é, igualmente divisível”.

(31)

Diante disso, percebe-se que os alimentos por servir a manutenção da vida humana é cercado de características muito especiais e peculiares.

2.5 Sujeitos da relação alimentar

Diante da obrigação de alimentar deve-se estudar os sujeitos que figuram nessa relação, ou seja, quem está obrigado a prestar os alimentos e quem está necessitado de receber o auxílio dos alimentos.

Conforme Cahali (2009, p.29):

Desde o momento da concepção o ser humano – por sua estrutura e natureza - é um ser carente por excelência; ainda no colo materno, ou já fora dele, a sua incapacidade ingênita de produzir os meios necessários à sua manutenção faz com que se lhe reconheça, por um princípio natural jamais questionado, o superior direito de ser nutrido pelos responsáveis por sua geração.

Portanto, logo percebe-se que os pais é que devem garantir os meios necessários para assegurar a subsistência de seus descendentes é um dever natural dos genitores sustentar sua prole. No entanto, a relação de sujeitos da obrigação alimentar não abrange somente pais e filhos, tendo em vista que no direito de família há possibilidade, de outros parentes serem sujeitos desta obrigação alimentícia.

Prescreve o art. 1696 do Código Civil “o direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros”.

Os alimentos podem decorrer de parentesco ou de rompimento de casamento ou união estável. A obrigação alimentar decorrente do parentesco pode ser definida por Venosa (2011, p. 370-371) da seguinte maneira:

Nos alimentos derivados do parentesco, como demonstra o art. 1696, o direito á prestação é recíproco entre pais e filhos, extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros. Notemos que, existindo vários parentes do mesmo grau, em condições de alimentar, não existe solidariedade entre eles. A obrigação é divisível, podendo cada um concorrer, na medida de suas possibilidades, com parte do valor devido e adequado ao alimentando. Na falta de

(32)

ascendentes, caberá a obrigação aos descendentes, guardada a ordem de sucessão e, faltando estes, aos irmãos, assim germanos, como unilaterais (art. 1697). A falta de parente alimentante deve ser entendida não somente como inexistência, mas também, ausência de capacidade econômica dele para alimentar.

Diante disso, a obrigação de prestar alimentos é recíproca, entre ascendentes, descendentes e colaterais de 2º grau. Logo, ao direito de exigi-los corresponde o dever de prestá-los. Essas pessoas são, potencialmente, sujeitos ativo e passivo, pois quem pode ser credor também pode ser devedor (DINIZ, 2005, p. 552).

Maria Berenice Dias (2011, p. 543), afirma que não são somente os ascendentes, descendentes e parentes até segundo grau (irmãos) que devem assumir a obrigação alimentar. De acordo com o ensinamento da doutrinadora, na falta deles, a obrigação passará aos tios, após, aos sobrinhos, e, finalmente, aos primos. Porém, essa não é a doutrina majoritária. Observa-se:

Ainda que reconhecendo ser mais ampla a ordem de vocação hereditária, de forma maciça a doutrina não admite que a responsabilidade alimentar ultrapasse o parentesco de segundo grau. Trazer a lei algumas explicações quanto à obrigação entre ascendentes e descendentes, bem como explicitar o dever dos irmãos, não exclui o dever alimentar dos demais parentes. O silêncio não significa que tenham os demais sido excluídos do dever de pensionar. O encargo segue os preceitos gerais: na falta dos parentes mais próximos são chamados os mais remotos, começando pelos ascendentes, seguidos dos descendentes. Portanto, na falta de pais, avós e irmãos, a obrigação passa aos tios, tios-avós, depois aos sobrinhos, sobrinhos-netos e, finalmente, aos primos. Mas esta não é a lógica da justiça, tendo o STJ negando a obrigação alimentar entre tios e sobrinhos.

Corroborando com este entendimento Gagliano e Pamplona Filho (2011, p. 678), ensinam:

Registre-se que a norma legal não autoriza a extensão da responsabilidade pela obrigação alimentar a outros colaterais, como tios, sobrinhos e primos e, por ser regra impositiva de um dever, não deve ser interpretada extensivamente.

Uma das inovações, porém, da nova codificação civil brasileira, sem qualquer correspondência no Código Civil de 1916, é a possibilidade de extensão da obrigação alimentar a parentes de grau imediato, sem exoneração do devedor originário, tudo para que se possa garantira satisfação da necessidade do alimentando.

(33)

Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide.

Portanto, percebe-se que a legislação regulamentou que a obrigação alimentar pode ser feita por outros parentes colaterais, porém, os mesmos não têm obrigação de adimplir integralmente, uma vez que eles são chamados apenas a complementar a verba, caso o devedor principal não conseguir cumprir ela por inteiro.

No terceiro e último capítulo será feita uma abordagem ampla quanto a obrigação alimentar, será observado que dever de sustento e obrigação alimentar são distintos, quais são os pressupostos para que possam ser exigidos os alimentos e quais as situações que os filhos maiores tem direito de requerer alimentos e ainda análise jurisprudencial.

(34)

3 DA OBRIGAÇÃO DE ALIMENTAR O FILHO MAIOR

Quanto à obrigação dos pais de sustentar filho menor o Código Civil e a Constituição não deixam dúvidas conforme reza o artigo 229 da CF/88: “Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”.

Como os filhos menores são submetidos ao poder familiar presume-se que suas necessidades alimentícias são absolutas. Contudo, ao atingirem a maioridade o poder familiar extingue-se, tornando assim, presunção de necessidade relativa.

É nesse momento que os filhos maiores se tornam desamparados pela lei, e ficam sujeitos a alguns pressupostos, e também ao entendimento de magistrados, para que possam receber os alimentos.

3.1 A natureza da obrigação alimentar

A obrigação alimentar segundo Leite (2005, p. 387) “pode provir de várias fontes: pode decorrer da vontade das partes; pode decorrer do parentesco; pode derivar do casamento ou da união estável; pode se originar da prática de ato ilícito”.

Pelo exposto, percebe-se que a obrigação de alimentar que nos interessa decorre do parentesco, uma vez que a lei determina que os pais devem alimentar, educar e vestir os filhos. E vice versa compete aos filhos sustentar os pais na velhice. Esta obrigação pode se dar por parentes em linha reta e/ou estende ao parentes na linha colateral.

Nesse entendimento cabe destacar o artigo 1695 do Código Civil de 2002 que dispões o seguinte: “São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, a própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento”.

(35)

Dessa forma quem pretende receber alimentos deve comprovar o parentesco, as suas necessidades e também demonstrar que aquele que presta os alimentos tem possibilidade de prover, sem ser prejudicado.

Com relação a obrigação de alimentar Cahali (2009, p. 452) afirma o seguinte: “não se vincula ao poder familiar, mas à relação de parentesco, representando uma obrigação mais ampla que tem seu fundamento no art. 1696 do CC/2002; tem como causa jurídica o vinculo ascendente-descendente.”

Diante disso é importante destacar a diferença entre o dever de sustento e a obrigação alimentar.

O dever de sustento é consequência do poder familiar, em que os genitores são obrigados a sustentar seus descendentes enquanto estes não atingirem a maioridade. Essa obrigação abrange sustento, guarda e educação dos filhos, de acordo com o artigo 1.566, IV, do Código Civil de 2002.

Contudo, não é apenas o Código Civil de 2002 que assegura o sustento do menor pelo poder familiar; a Constituição Federal Brasileira de 1988 também garante expressamente o dever dos pais de criar, assistir e educar os filhos menores, como previsto no artigo 229 da Constituição Federal, ou seja, o Estado confere aos pais a obrigação de proteger a formação moral, material e intelectual de seus descendentes.

Dessa forma, o filho que ainda for menor de idade está sujeito ao poder familiar, portanto, é dependente de seus pais, e possui uma presunção absoluta de que não dispõe de recursos próprios para manter-se. Assim observa Cahali (2009, p. 339):

Quanto aos filhos, sendo menores e submetidos ao poder familiar, não há um direito autônomo de alimentos, mas sim uma obrigação genérica e mais ampla de assistência paterna, representada pelo dever de criar e sustentar a prole. O titular do poder familiar, ainda que não tenha o usufruto dos bens do filho, é obrigado a sustentá-lo, mesmo sem auxilio das rendas do menor e ainda que tais rendas suportem os encargos da alimentação: a obrigação subsiste enquanto menores os filhos, independentemente do estado de necessidade dele, como na hipótese, perfeitamente possível, de disporem ele de bens (por herança ou doação).

(36)

Assim, o dever de sustento é tão fundamental à vida do filho menor de idade, que mesmo os pais alegando precárias condições econômicas, eles não se isentarão da obrigação de prover alimentos aos filhos, ou seja, ainda que alegada a falta de recursos financeiros não pode ser considerado motivo de descumprimento da obrigação.

O dever de sustento que cessar com a perda do poder familiar decorrente da maioridade, previsto no artigo 1.635, III, do Código Civil, cria uma dúvida a respeito da perda do direito de esse filho receber alimentos. No entanto, mesmo com a cessação do poder familiar com a cessação da menoridade não impede o filho de pedir alimentos aos seus genitores.

Diante disso, ao cessar o dever de sustento pela maioridade, nasce à obrigação alimentar, decorrente do vínculo de parentesco existente entre pais e filhos e não mais pela relação que se sujeitava no poder familiar. Essa obrigação é recíproca e também solidária, em que podem os parentes pedir uns dos outros os alimentos que necessitam para manter-se, mas sempre condicionada a pressupostos para sua concessão.

3.2 Critérios de concessão da obrigação alimentar

A maioridade civil, por si só não é causa de cessação automática da obrigação dos pais com os filhos. Mesmo atingindo os dezoito anos, o filho, em determinadas situações, continuará com legitimidade para receber alimentos de seus pais. Para tanto, existem alguns critérios para que esta obrigação seja mantida.

A obrigação alimentar é o encargo legal a que os pais se sujeitam em relação aos filhos após a maioridade. No entanto, não se pode afirmar que essa obrigação se limita somente a pais e filhos, uma vez que se estende a todas as demais relações alimentares presente no Direito de Família.

No direito de família, a obrigação alimentar obedece a certos pressupostos para a sua concessão ou para seu reconhecimento. Gonçalves (2011, p. 530) preleciona: “a) existência de vínculo de parentesco; b) a necessidade do reclamante; c) possibilidade da pessoa obrigada; d) proporcionalidade”.

(37)

O primeiro pressuposto, o vínculo de parentesco, refere-se à legitimidade das partes, ou seja, vínculo familiar entre o alimentado e o alimentante, uma vez que esta obrigação não se estende a todos os familiares, mas somente os ascendentes, os descendentes, os irmãos (germanos ou unilaterais) e os cônjuges, ou seja, todos os parentes em linha reta, limitando-se aos colaterais de segundo grau, conforme os termos do artigo 1.694 do Código Civil “podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação”.

Cahali (2009, p. 512, grifo nosso) faz a seguinte colocação:

Existem, assim, fatos jurídicos geradores de uma pretensão (e de uma obrigação) aos alimentos, que dependem da condição inerente à pessoa do titular da pretensão mesma (ou da obrigação), como o estado conjugal, o parentesco; e existem outras condições ou circunstâncias estranhas a tal situação, mas que, objetivamente consideradas, delas pode surgir a pretensão alimentar.

Desse modo, para haver legitimidade na pretensão a obrigação alimentar é fundamental a existência do vinculo de parentesco.

O segundo pressuposto é a necessidade do reclamante, conforme artigo 1.695 do Código Civil. Não basta somente a existência do vínculo de parentesco para que a obrigação alimentar se torne exigível, é preciso que o alimentado necessite efetivamente de assistência.

Diniz (2005, p. 538, grifo nosso), ensina:

[…] que além de não possuir bens, está impossibilitado de prover, pelo seu trabalho, à própria subsistência, por estar desempregado, doente, inválido, velho etc. O estado de penúria da pessoa que necessita alimentos autoriza-a a impetrá-los, ficando ao arbítrio do magistrado a verificação das justificativas de seu pedido, levando em conta, para apurar a indigência do alimentário, suas condições sociais, sua idade, sua saúde e outros fatores espácio-temporais que influem na própria medida (CC, art. 1.701, parágrafo único).

Portanto, antes de pretender alimentos, deverão ter sido esgotadas todas as alternativas daquele que pleiteia alimentos de prover meios para sua própria subsistência através de seu esforço próprio, pois seria injusto determinar o encargo de alimentos a um familiar se o outro não se encontra em necessidade, como exemplo, preferir a desocupação à trabalhar.

Referências

Documentos relacionados

Desta forma, é de grande importância a realização de testes verificando a segurança de extratos vegetais de plantas como Manjerona (Origanum majorana) e Romã

A teoria das filas de espera agrega o c,onjunto de modelos nntc;máti- cos estocásticos construídos para o estudo dos fenómenos de espera que surgem correntemente na

Tendo em consideração que os valores de temperatura mensal média têm vindo a diminuir entre o ano 2005 e o ano 2016 (conforme visível no gráfico anterior), será razoável e

I - limite de crédito: até o valor suficiente para liquidação do saldo devedor das operações de que trata este artigo, apurado na forma dos incisos I, II e III do caput deste

No primeiro livro, o público infantojuvenil é rapidamente cativado pela história de um jovem brux- inho que teve seus pais terrivelmente executados pelo personagem antagonista,

Ainda que das carnes mais consumidas nesta altura em Portugal, tanto os caprinos como os galináceos estão re- presentados apenas por um elemento, o que nos pode dar a indicação que

A través de esta encuesta fue posible comprender el desconocimiento que existe sobre este tema y lo necesario que es adquirir información para poder aplicarla y conseguir

para o processo de investigação, uma vez que é com base nos diários de campo.. que os investigadores conseguem analisar e refletir sobre os dados recolhidos, permitindo