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A relevância e a representatividade do núcleo de ação coletiva na cidade de Lagoa Vermelha - Sintracom

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE

DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL-

UNIJUÍ

DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO

CURSO DE HISTÓRIA

PAULO REGINALDO PEREIRA

A RELEVÂNCIA E A REPRESENTATIVIDADE DO NÚCLEO

DE AÇÃO COLETIVA NA CIDADE DE LAGOA

VERMELHA- SINTRACOM

Ijuí/RS

2013

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE

DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL-

UNIJUÍ

DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO

CURSO DE HISTÓRIA

PAULO REGINALDO PEREIRA

A RELEVÂNCIA E A REPRESENTATIVIDADE DO NÚCLEO

DE AÇÃO COLETIVA NA CIDADE DE LAGOA

VERMELHA- SINTRACOM

Monografia

apresentada

à

Universidade Regional do Noroeste

do Estado do Rio Grande do Sul-

Unijuí, como requisito parcial para a

conclusão do curso de História.

Orientador: Prof. João Afonso Frantz

Ijuí/RS

2013

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Meus sinceros agradecimentos,

A Deus, por tudo que representa em minha vida.

A meus familiares, em especial, minha esposa Patrícia, que foram peças fundamentais transmitindo-me carinho e apoio.

Ao professor João Afonso Frantz, por acreditar em meu potencial, pelos preciosos ensinamentos e pela amizade construída ao longo desse período.

Aos dirigentes das entidades do Município de Lagoa Vermelha, pelo acesso às informações necessárias para a realização desta pesquisa.

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo justificar a importância e a representatividade dos núcleos de ação coletiva na cidade de Lagoa Vermelha. Grupos e indivíduos que fizeram uso da força e da coesão, postando-se em pé de igualdade frente à classe patronal, não aceitando com passividade e resignação em lugar inferior na sociedade.

Ações coletivas que instituem uma identidade própria, tornando-se um ponto de equilíbrio capaz de atenuar os abusos e as injustiças causadas pelas mazelas do paradigma capitalista.

O presente estudo está direcionado para o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria, da Construção e do Mobiliário de Lagoa Vermelha- Sintracom, sendo o resultado de uma pesquisa realizada na própria entidade, bem como lançando mão de subsídios na revisão bibliográfica.

Sendo possível compreender a interação das duas classes antagônicas que moldaram as relações políticas e sociais da sociedade contemporânea. Evidenciando a ríspida relação entre a massa proletária e os capitalistas, a instituição de um modelo de sociedade excludente e degradante. Forçando os trabalhadores a um modo de vida monótono, alienador e exaustivo.

Discute-se também a hegemonia do capital e os meios de ação para minimizar as injustiças, a valorização do trabalhador e do seu oficio.

O Sintracom define-se como uma entidade de representação, coesão e autodefesa, um núcleo aglutinador de indivíduos que almejam através da coletividade a valorização do seu ofício. Concretizando-se como uma entidade de grande relevância legalmente organizada e oficializada, investida com liberdades e direitos sindicais, que norteia e representa a categoria.

Portanto, esta pesquisa nos proporciona ir além de angariar e propagar o conhecimento em relação à entidade. Também alerta-nos para uma reavaliação da consciência política e coletiva da grande massa, responsável por grandes transformações sociais e políticas ocorridas em nossa sociedade.

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SUMÁRIO

Introdução...06

1- A Instituição da Sociedade Classista e Berço do Sindicalismo...09

1.1- Emerge uma força de ação contra a exploração no mundo do trabalho...10

1.2- A Formação do Sindicato no Brasil...12

1.3- Deveriam os Trabalhadores Lagoenses se organizar?...16

2- A Caminhada Inicial do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria, da Construção e do Mobiliário de Lagoa Vermelha (Sintracom)...22

2.1- A Pedra Fundamental...25

2.2- A Concretização da Consciência Coletiva...26

3- O Sintracom, Desafios e Perspectivas na Atualidade...29

Considerações Finais...31

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Introdução

O interesse pela temática surgiu pelo fato de fazer parte de uma família onde o patriarca exercia o ofício de operário, lembro-me quando criança das dificuldades enfrentadas pelos meus pais na subsistência da nossa família. Pois na década de 1980 era visível a insegurança e a insatisfação da classe proletária, falava-se em recessão, desemprego, arrocho salarial e outras tantas questões que desagradava a maioria. A desesperança social era imensa e o medo da repressão exercida pelos patrões intimidava.

Porém, o desejo de melhores condições salariais e qualidade de vida para a classe, motivou meu pai a associar-se ao sindicato. E juntamente com os demais companheiros formaram um grupo atuante que instigavam lutas, manifestações, forjando-os num espírito crítico, justo, solidário e coletivo.

Durante minha infância recordo-me da figura de meu pai, com tiras de cor preta amarrada aos braços, onde relatava durante o almoço, as formações de piquetes, barreiras e o quase confronto entre policiais militares e manifestantes em plena Avenida Afonso Pena na cidade de Lagoa Vermelha/RS.

Greve dos Trabalhadores Lagoenses- década de 1980

Cidade, situada na região nordeste do estado do Rio Grande do Sul, distante 320km de Porto Alegre. Sua economia está fundamentada na agricultura e pecuária, destacando-se atualmente como segundo polo moveleiro do Estado. Por ser um município com grande concentração de empresas, instituiu-se uma relação entre o

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capital e o trabalho, agregando um número expressivo de trabalhadores que sempre participaram ativamente das ações e manifestações do seu sindicato.

Meu pai argumentava que as manifestações seriam uma forma de chamar a atenção dos governantes para a calamitosa situação dos trabalhadores brasileiros e suas famílias, consequência do sistema capitalista que impera na sociedade.

Esta interação entre as classes acaba desencadeando discussões, debates, conflitos e manifestações, concretizando as ações coletivas como uma via capaz de mudar aquilo que não lhes agrada.

Nesse momento é que o sindicato evidencia a sua plenitude, pois é relevante a existência de uma entidade representativa para articular e movimentar as massas. Fomentando através da união e da participação coletiva, desenvolver um espírito crítico, justo e solidário, prevalecendo a vontade por mudanças visando o bem comum e objetivando a valorização do trabalho e do ser humano.

Outro fator de grande importância é a formação sindical de seus associados, onde os indivíduos possam formar sua identidade sindical, através do conhecimento tomar ciência da real importância e necessidade de um meio para reivindicar direitos que lhes convêm.

Após iniciar minhas atividades na indústria moveleira na cidade de Lagoa Vermelha, no ano de 1993, associei-me ao sindicato, participando assim de vários cursos de formação sindical, agregando conhecimento a respeito dos direitos e deveres, bem como a respeito da entidade que representa a classe.

Com o desafio de realizar o estudo foi possível aprofundar ainda mais meu conhecimento no que se refere à entidade que representa, estrutura, movimenta e protege os trabalhadores. Foi possível através dos subsídios agregados formar uma concepção desse grupo de ação coletiva, bem como conceituar a relação da entidade, associados e os donos dos meios de produção.

Ratifico a importância da entidade sindical bem estruturada, a formação sindical e a participação coletiva. Pois acredito que uma grande concentração de indivíduos que não possuí liderança, torna-se uma massa descontrolada e desordenada que irá ao revés dos objetivos almejados. Podendo gerar conflitos, agitações e desentendimentos que poderão agravar ainda mais os problemas já existentes na sociedade.

Portanto este estudo possibilitou agregar um maior conhecimento em relação aos grupos e indivíduos que não aceitam com passividade e resignação um lugar inferior na

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sociedade. O mesmo relata as ações e conflitos entre as classes, ocasionando atritos entre ideias e conceitos, intensificados por lógicas e movimentos que influenciaram nas relações da seara da produção bem como da hegemonia do sistema capitalista na sociedade moderna.

A pesquisa foi realizada primeiramente através de contato com a diretoria das instituições do município, também através da pesquisa em arquivos das entidades, especificamente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria, da Construção e do Mobiliário de Lagoa Vermelha (SINTRACOM), bem como revisão da literatura.

Este trabalho divide-se em quatro capítulos, abordando no primeiro capítulo a instituição da sociedade classista e o surgimento do sindicalismo, as ações contra a opressão no mundo do trabalho e a formação do sindicato no Brasil. No segundo capítulo será mencionado o surgimento da entidade representativa em Lagoa Vermelha, a sua fundação, as lutas e conquistas. Já no terceiro capítulo será realizada uma avaliação da atual consciência da classe operária lagoense em relação a entidade, os desafios e as perspectivas. E por fim serão apresentadas as considerações finais.

Neste trabalho busca-se com afinco compreender as ações do paradigma capitalista, a reação frente à opressão, o conflito entre as classes, os lucros excessivos, a exploração do homem pelo homem, os abusos, as injustiças e a divisão justa do capital produzido. Busca-se ainda compreender a interação das duas classes antagônicas que moldaram as relações políticas e sociais da sociedade contemporânea.

Discute-se também a hegemonia do capital e a defesa da empresa privada, os meios de ação para minimizar as injustiças, a valorização do trabalhador, da trabalhadora e do seu ofício. Mas acima de tudo, concretizar a importância da resistência dos grupos como um ponto de equilíbrio capaz de cessar os abusos cometidos pela sociedade capitalista moderna.

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1- A Instituição da Sociedade Classista e o Berço do Sindicalismo

Conforme Marx e Engels (2005, p.40) o histórico das sociedades até os dias atuais é marcada por lutas entre as classes, pois a partir do momento em que o homem passou a conviver em grupos, as relações eram definidas por regras, normas, leis e costumes, originando então o domínio de indivíduos ou grupos.

Porém no momento, que o bem natural (a terra) passou a ser propriedade privada, inicia-se o acúmulo de capital. Consequentemente, a alienação ao trabalho, a exploração, a desigualdade e as injustiças sociais.

Com a explosão da revolução industrial intensifica-se a exploração do homem pelo próprio homem na seara da produção. Tornado-se clara a ambição do sistema econômico capitalista que não poupou homens, mulheres e crianças da exploração e o pior por muitos anos este próprio sistema segregou, escravizou e subjugou raças à inferioridade.

Segundo Macagnan (2008, p.26-27), é nesta relação que conceitua-se a lógica da exploração do modo de produção, sendo um perfil concorrente e individualista. Onde prioriza-se o lucro, subtraindo a maior parte da mais-valia, não repartindo de forma justa o excedente do trabalho com o proletariado, reduzindo ao máximo o custo na produção e visando sempre o aumento da produtividade.

É neste cenário, que evidencia as relações sociais entre os detentores do capital e dos meios de produção e o proletariado que se obriga a vender a sua força de trabalho. Emergindo atritos entre paradigmas e utopias, ideias e posições, dominantes e dominados, gerando conflitos entre as classes.

Diante desta interação social, entre o capital e a força de trabalho, no cotidiano, trava-se lutas por posições mais dignas, bem como a divisão justa do capital produzido. Este relacionamento concretiza o nascimento de ações “subversivas”, frente à exploração, como um ponto de equilíbrio capaz de atenuar abusos da classe patronal. Surgindo os primeiros grupos de ação coletiva, formando as duas classes e forças na estrutura da sociedade.

Conforme Gerhardt (2008, p. 53) as greves, as manifestações públicas, a instituição de associações e sindicatos formalizaram a organização e a resistência diante das condições de trabalho e de vida que o capitalismo originou.

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Submetendo os trabalhadores a salários baixos, péssimas condições no ambiente de trabalho e jornadas de trabalho extenuantes, em média 16 horas diárias de trabalho. Não poupava nem mulheres nem crianças, que desempenhavam suas funções até a exaustão física.

1.1- Emerge uma força de ação contra a exploração no mundo do trabalho

Conforme nos mostra a história, durante a primeira revolução agrícola o homem em suas atividades cotidianas, para domesticar plantas e animais passa a utilizar sua força de trabalho, melhorando as técnicas de plantio e ferramentas, tendo como resultado prover alimentos para a sua subsistência e poder vender o excedente. Diante disso, torna- se evidente no homem o interesse capitalista.

Porém, com o cerceamento da terra, tornando-se propriedade privada ocorre o acúmulo de capital. Desse modo, no século XVIII, a sociedade capitalista teve condições para expandir-se, substituindo a produção artesanal pela manufatureira.

Destacando-se a indústria têxtil na fabricação de fios e tecidos, tendo uma rápida expansão, dando condições de melhores técnicas na produção com a inserção de novas máquinas tendo como consequência a redução de mão de obra. Evidenciando, na produção fabril posições favoráveis para a exploração e acumulação de capital.

Com isso ocorre um excesso de contingente de trabalhadores que Marx denominou como exército de reserva, o que originou os primeiros movimentos operários na Europa, o Ludismo e o Cartismo. Processo no qual a classe operária aprendeu a organizar-se, visando melhores condições de vida e de trabalho.

Na Inglaterra, com a Revolução Industrial, a concorrência entre os trabalhadores e as máquinas gerou insegurança e miséria consequência do aumento do desemprego e de baixos salários, sendo o seu principal representante Ned Ludd.

Já o cartismo, foi uma reação dos trabalhadores que reivindicavam através da “Carta do Povo” direito de voto e melhores condições de trabalho. Sendo o cartismo uma luta coletiva, mas também política.

O intenso desenvolvimento, e a concentração populacional na zona urbana causa um excesso de mão-de-obra, possibilitando aos donos dos meios de produção rebaixar

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os salários, recrutar mulheres e crianças, forçando-os a jornadas de trabalho extenuantes tornando o trabalhador escravo do seu próprio ofício.

Neste momento, a exploração da grande massa da população atinge seu ápice, definindo as duas classes fundamentais e antagônicas que compõem a sociedade capitalista moderna.

Este paradigma de exploração está explícito no histórico das sociedades, no sistema escravista, no modo de produção asiático, no feudalismo e atualmente no modo de produção capitalista. Neste último, a exploração intensa faz nascer na grande massa, uma consciência de união tendo a seu favor um número expressivo de indivíduos, frente à opressão e à exploração, repudiando a ideologia capitalista da mais-valia.

Surgindo desse modo, os sindicatos, uma organização com condições de contrapor aos excessos da classe patronal, tornando-se um meio de resistência eficaz capaz de atenuar abusos cometidos em nome da ganância e da ostentação.

Para Lênin (1920 apud ANTUNES, 1988, p.10) “os sindicatos representaram, nos primeiros tempos, o desenvolvimento do capitalismo, um progresso gigantesco da classe operária, pois propiciaram a passagem da dispersão e da impotência dos operários aos rudimentos da união da classe”.

É nesta relação entre o acúmulo de capital e a necessidade de vender a força de trabalho para subsistência que surgem as lutas e conflitos entre patrões e empregados. Sendo as organizações sindicais uma forma de se colocar em pé de igualdade frente a classe patronal, evitando perseguições de forma isolada.

Os sindicatos denominam-se associações criadas pelos trabalhadores almejando a segurança coletiva, contrapondo-se ao espólio praticado pelos capitalistas. Bem como sendo a única instituição na manutenção de um salário e uma jornada de trabalho menos desgastante. (Antunes.1988, p.13)

Portanto, segundo Antunes (1988, p.13), a atuação dos sindicatos concretiza-se nas lutas cotidianas da classe operária. Mas além disso, os sindicatos constituem também força organizadora da classe operária na luta pela supressão do sistema de trabalho assalariado. Devem ser considerados como centro de organização dos operários visando sua emancipação econômica, social e política.

Os primeiros sindicatos nascem na Inglaterra durante a revolução industrial, momento de grande ascensão capitalista que gerou uma intensa divisão na sociedade. A disputa entre homens e maquinas e a posição que o trabalhador se encontrava fomentou

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a luta por melhores condições de vida. Percebe-se que os primeiros movimentos operários, ludismo e cartismo, consequência da concentração dos operários nas grandes cidades evidenciaram que as revoltas e os movimentos operários não eram apenas uma ação coletiva ou política diante da concorrência entre o homem e a máquina, mas uma reação frente o perfil explorador do sistema capitalista.

Em 1824, o parlamento inglês vota a lei da livre associação, surgindo as uniões sindicais, trade-unions tornando-se bastante poderosas e evitando o confronto direto entre patrão e empregado, bem como a atuação isolada na luta por melhores salários.

No entanto, a origem do sindicato torna-se indefinida, desde os primeiros tempos, onde existiu a opressão, gerou uma ação de subversão na história das sociedades.

Lutas iniciadas por indivíduos que não se sujeitaram a passividade, não aceitando a resignação de um lugar inferior no grupo ou na sociedade.

Segundo Moreira (2002), a origem dos sindicatos é indefinida, no entanto, existem vestígios de que no Egito, na Índia e China constituíram grupos que poderiam ser considerados sindicatos. Porém uma colaboração mais específica para o surgimento do sindicato é do empresário britânico Robert Owen em meados do século XIX.

Este conflito entre os detentores do capital e a classe proletária sempre existirá, pois atualmente percebe-se a intensificação do acúmulo de capital decorrente da exploração através do trabalho nos meios de produção, intensificado pelo surgimento dos monopólios e fusões entre capitais. Em contrapartida, busca-se um fortalecimento na entidade que representa a classe, bem como a consciência que sindicato não se refere apenas a estrutura do espaço físico, mas sim a formação e o elo entre os associados, ou seja, a compactação de ideias e indivíduos em prol do bem comum visando a emancipação econômica, social e política.

1.2- A Formação dos Sindicatos no Brasil

O processo de formação da identidade coletiva da massa proletária brasileira, inicia-se no findar do século XIX e está ligada a mudanças que ocorreram na economia brasileira da época.

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Semelhante ao que aconteceu na Europa (fim do feudalismo, início do capitalismo), o enfraquecimento do modelo agrário-exportador brasileiro, forçou os capitalistas a investir seus capitais nas indústrias. Onde o retorno dos lucros era rápido e exorbitante, com maior poder de investimento as indústrias se expandem consequentemente concretiza-se o trabalho assalariado e a exploração das classes desprovidas de capitais sendo obrigados a vender a sua força de trabalho. Em busca de maiores lucros aumentam os abusos, consequentemente surgem os primeiros grupos de ação coletiva.

É nesta interação, marcada por conflitos que evidencia no cotidiano as relações entre explorados e exploradores, fundamentando um modelo oportunista. Que tem como objetivo aumentar os lucros, extraindo o máximo da mais-valia, com a redução dos custos e a elevação da produtividade. Transformando a exploração do trabalho em fruto do capital.

Marx, relata que “a condição mais essencial para a existência e a dominação da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos de particulares, a formação e o aumento do capital; a condição do capital é o trabalho assalariado (...)”. (Marx.2007, p.60)

Com a intensificação do modelo capitalista econômico, cujo sua lógica é a exploração e acumulação de capital, a disparidade econômica entre as classes alcança a sua plenitude.

No final do século XIX torna-se claro que a nação brasileira também busca os mesmos padrões do mundo moderno intensificando um desejo assoberbado em nome do progresso, expandindo a industrialização. Concretizando no Brasil o início de uma relação no modo de produção, não definindo outra interação entre as pessoas, que não seja um laço de puro interesse entre a humanidade. A intensificação do modo de produção, bem como a instituição do trabalho assalariado no início da indústria brasileira deu consistência ao conceito exploratório de obtenção de lucros do sistema capitalista. Nesta inserção e intensificação do modo de produção e exploração no Brasil tem como consequência o crescimento da classe proletária de forma expressiva. Surgindo as primeiras articulações, manifestações operárias que irão configurar como movimento de grande relevância no cenário social e político da nação brasileira.

Segundo Steinke, em 1824 foi abolido o artigo 179 da constituição imperial, possibilitando ao trabalhador ingressar em associações, originando os sindicatos. A

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expansão industrial no Brasil delineou o surgimento de algumas organizações como a Liga Operária em 1870 e a União Operária em 1880, primando a defesa dos trabalhadores.

Torna-se então relevante a instituição de uma associação, uma liderança capaz de mediar, estruturar e movimentar as ações que garantam os direitos adquiridos, bem como reivindicar benesses aos seus associados. Tendo também como priori a formação sindical, a consciência de classe e a igualdade na divisão dos lucros em relação ao capital produzido e o trabalho.

Fundamentando os sindicatos como núcleos coletivos organizados dos trabalhadores, sendo uma força motriz, uma resistência ao modelo capitalista econômico moderno.

Estas organizações coletivas em seu histórico, além de combater o desvio de conduta dos capitalistas, enfrentava também conflitos internos gerados no arcabouço das suas concepções, o que gerou atritos de ideias, convém lembrar-se do sindicato tutelado pelo Estado, bem como as subversões das entidades sindicais. Em 1906, ocorre o primeiro Congresso Operário Brasileiro, onde o choque de posições tornou-se evidente. O movimento das massas no Brasil era de certa forma um movimento embrionário, não havia uma legislação trabalhista e os operários eram dispersos e vulneráveis frente à pressão imposta pela classe patronal. O espólio contra a classe subalterna era na íntegra, não poupava mulheres nem crianças, intensificando uma disputa ainda maior nas vagas para empregos. O que aumentava o exército de reserva, sendo impelidos a vender a sua força de produção em troca de um salário que era quase insuficiente para sua subsistência.

Nesse momento, constrói-se uma consciência sobre o real significado de ser trabalhador, identidade forjada através das primeiras formas de organização mutualista, ocorrendo uma reciprocidade no auxílio entre os operários em momentos de grandes dificuldades econômicas e sociais. Com a intensificação e expansão industrial surgem os sindicatos e as reivindicações por melhores salários e contra as injustiças dos patrões, ocorrendo a primeira greve no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro em meados do século XIX.

Antunes relata, que “a greve, forma elementar e indispensável de luta da classe trabalhadora, eclodia pela primeira vez no Brasil em 1858, quando os tipógrafos do Rio

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de Janeiro rebelaram-se contra as injustiças patronais e reivindicaram aumentos salariais. (Antunes.1988, p.49)

Em razão das oposições ocorridas frente às opressões estruturam-se os grupos de ações coletivas no Brasil evidenciando seu descontentamento com a situação na qual se submetiam. Sendo a greve um meio de buscar melhores salários e redução na jornada de trabalho.

“E foi dentro deste quadro que nasceram os sindicatos no Brasil, cujo principal objetivo era conquistar os direitos fundamentais do trabalho”. (Antunes.1988, p.49)

Segundo Antunes, (1988, p. 50) “o movimento sindical brasileiro demonstrou em suas bases a formação de duas tendências: a anarco-sindicalista, que negava a instituição de um partido político para a massa trabalhadora. Já o socialismo reformista buscava a instituição de uma organização partidária para os trabalhadores. Onde a primeira negava a relevância da luta política e objetivava ações combativas de forma direta no ambiente do trabalho e a segunda utilizava-se da luta parlamentar defendendo a criação de um partido político para a classe trabalhadora.

Com a expansão e intensificação da lógica do modelo capitalista no Brasil visando a industrialização e o progresso, no governo Vargas, confirmou-se este perfil pois, o mesmo incentivou as industrias, mas também idealizou as leis trabalhistas

amparando os trabalhadores com um conjunto de normas que objetivava regular a relação capital e trabalho.

Criou o ministério do trabalho em 1931, consolidando uma estrutura institucional que amparasse a classe trabalhadora, definindo leis que almejava a melhorias para a massa proletária, a fim de definir medidas priorizando a valorização do trabalho, o amparo, a liberdade e a dignidade da massa proletária brasileira, alterações no sistema de proteção social, direitos conquistados nas infindáveis lutas sociais e coletivas.

Diante de todos os fatos e acontecimentos a história sindical no Brasil é marcada por perdas e conquistas, sendo estruturada com um desejo na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, no entanto embasado em um sonho utópico. Na esperança que os capitalistas partilhem em igualdade bens produzidos. Não esperemos benevolência e candura, apenas a continuidade da democracia dessa nação soberana, onde o cidadão possa exercer o direito da liberdade de expressão e o dever de se postar contrário às injustiças.

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1.3- Deveriam os Trabalhadores Lagoenses se organizar?

A formação dos movimentos de massa coletiva na cidade de Lagoa Vermelha está diretamente atrelada a insatisfações, em geral os movimentos de massa proletária na referida cidade, consequência ocasionada pela intensificação de indústrias e a concentração dos indivíduos na zona urbana, ocorrendo conflitos em relação ao capital e ao trabalho, movimentos iniciados por trabalhadores que desenvolviam atividades nos meios de produção. Sendo primeiramente organizados como associações e mais tarde formalizados em sindicatos, onde o CPERS foi o pioneiro em 1945, seguido pelo Sindicato Rural em 1970 , o Sintracom em 1980 e o Sindicato dos Comerciários em 1984, cada um dentro de suas especificidades e respectivas classes.

Antunes (1988, p.11), argumenta que o sindicato ao tornar-se representante da classe proletária, logrou êxito em agregar no seu âmbito os trabalhadores que não estavam organizados, evitando que os operários prosseguissem nas suas reivindicações de forma isolada e individual frente ao patronato.

A busca pela união coletiva marca o início de uma caminhada de infindáveis lutas em benefício dos trabalhadores lagoenses, sendo um meio com possibilidades de postar-se contra a opressão e a exploração na relação capital e trabalho, bem como nos setores que possuem vínculo empregatício e assalariamento.

Tais movimentos são decorrentes de uma ação frente à opressão, por indivíduos ou grupos que desejam mudar situações que não lhes convém. Muitas vezes, estes movimentos surgem no calor da hora, sem líderes, sem sindicato e sem um propósito almejado.

Sendo classificados como uma massa ignorada, esparsa e sem estímulo.

MOVIMENTO → ORGANIZAÇÃO → SINDICATOS DE MASSA DE MASSA

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É diante dessa inquietação e do desejo de uma organização, que vão se compactando ideias e indivíduos, criando uma acepção na consciência de classe, a valorização do trabalhador e do seu ofício. Onde os mesmos percebem a necessidade de se organizar, atitudes oriundas das reuniões e conversas entre operários nos locais de trabalho. No entanto, tais atitudes seriam classificadas como um simples movimento de massas.

Porém, na realidade, algo era valoroso nestes movimentos, a inquietação dos trabalhadores frente a exploração e situações adversas das quais estavam submetidos, desenvolvendo atitudes. Aguçando nos trabalhadores o desejo de organização, visando

instituir um meio que representasse e defendesse os interesses da classe proletária lagoense.

Com a lapidação de ideias e o entusiasmo causado pela união, rumou-se para a compactação da massa, instituindo um estado de espírito coletivo, concretizando ideias e forças em uma associação e em seguida em sindicatos.

Com líderes influentes e sede, tornando-se uma entidade formalizada dentro dos parâmetros legais, capaz de aprender e propagar o conhecimento, atuar em benefício do trabalhador, minimizar as injustiças, atender as necessidades e interesses do trabalhador lagoense.

De acordo com Hobsbawm (1987, p.36) a compactação de indivíduos em prol de um objetivo é um fenômeno decorrente da era industrial moderna, ou seja, a união de indivíduos ligados sob uma classificação segundo um critério objetivo e que desempenham ofício nos meios de produção. Consequência da relação entre exploradores e explorados, onde a razão é puramente econômica, estando presentes em todas as sociedades que ultrapassaram a fase primitiva comunal.

É diante dessa acepção de consciência de classe e de valorização do trabalhador e do seu ofício que transforma as pequenas reuniões e as conversas informais no local de trabalho em uma sede sindical organizada.

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Reunião no Sintracom

Dessa forma organizam-se além do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria, da Construção e do Mobiliário de Lagoa Vermelha (Sintracom) outros sindicatos, sendo consideradas suas especificidades numa divisão por ramo de atividade.

Como podemos citar: o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa Vermelha e Capão Bonito do Sul, o qual foi fundado pelos padres durante a ditadura militar em maio de 1970, tendo como finalidade a instituição de uma associação que defendesse e representasse os trabalhadores rurais. Sendo empossado o primeiro presidente, Domingos Fracasso, em 1971.

Esta organização sindical tem uma finalidade representativa com possibilidades de atuar em benefício do homem do campo, bem como propiciar a sua valorização e do seu ofício.

O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa Vermelha e Capão Bonito do Sul é uma entidade atuante, mantendo elos com as demais forças sindicais, entidades e assuntos relacionados ao bem comum.

No seu histórico de lutas e conquistas, sobressai-se em especial, o acesso à previdência social para o homem e a mulher do campo, além de atuar em defesa dos trabalhadores o sindicato busca parceria assistencial para seus sócios, como atendimento à saúde, habitação subsidiada e outros convênios que possibilitem a permanência do pequeno agricultor no campo.

Sendo o sindicato um meio organizado, uma força representativa em defesa da classe, marcado por muitas lutas, desafios e conquistas. Atualmente, o maior objetivo é

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proporcionar meios e garantias para manter o trabalhador no campo, pois na região de Lagoa Vermelha permanecem apenas 1200 famílias, ou seja, 12% da população permanecem na zona rural do Município, imbuídos na produção de alimentos.

O sindicato também tem a perspectiva de zerar o déficit habitacional no meio rural, valorizar o trabalhador e o fruto do seu trabalho, instigando a sua permanência no campo, bem como fortalecer a agricultura familiar, fomentando o acesso ao crédito, apoio técnico, formação profissional, infraestrutura e a consolidação de cooperativas. Tal entidade não possui vínculos com partidos políticos e atualmente como representante legal exerce o cargo de presidente Lindomar do Carmo Moraes.

Outra força sindical em destaque é o Sindicato dos Comerciários, pois toda insatisfação gera uma ação, com os trabalhadores do comércio lagoense não foi diferente. Insatisfeitos com os horários impostos pelos lojistas, duas funcionárias das Lojas Volpato reclamaram com seu patrão, questionando tais imposições, o mesmo respondeu: “querem reivindicar, fundem um sindicato”.

Dessa forma, nasce a associação em 11/08/1984 tendo como objetivo instituir um meio que representasse os trabalhadores do comércio, sendo definida em assembleia geral, no cargo para primeira presidente da associação Almeri Finguer. Em 1986, a associação transforma-se em sindicato, sendo mantida a mesma presidente.

O Sindicato dos Comerciários de Lagoa Vermelha desde sua caminhada inicial até a atualidade, muitas reivindicações foram feitas, algumas conquistas foram possíveis, como a lei número 3411/88, que regulamenta o horário de funcionamento do comércio na cidade de Lagoa Vermelha. Também obteve outras conquistas como dissídios salariais e adicionais de horas extras.

Além de todos os benefícios que o Sindicomerciários proporciona para os sócios, também disponibiliza convênios voltados à saúde e sede recreativa.

A referida entidade representativa mantém elos com as demais entidades, também mantém vínculo partidário com o PCdoB.

O Sindicomerciários segue a sua intensa atividade, muitos objetivos foram conquistados, porém a luta atualmente é o aumento real de salário acima da inflação, fim do banco de horas, redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas, licença maternidade de 180 dias e a unicidade sindical.

A entidade atende aproximadamente 27 municípios da região, desenvolvendo as suas atividades em prol do trabalhador do comércio lagoense e região, bem como com

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as demais entidades, mobiliza-se em defesa do emprego, melhores salários e a seguridade dos direitos sociais.

Atualmente na direção Almeri Finguer, sócia fundadora da associação dos comerciários de Lagoa Vermelha.

Através da organização dos professores na cidade de Lagoa Vermelha, nasce o CPERS Sindicato. Tendo sua caminhada inicial em 21 de abril de 1945, fundado como Centro dos Professores Primários do Estado do Rio Grande do Sul, com finalidade de recreação e estudo.

Mais tarde a associação transforma-se no 25º Núcleo, tendo sua história relacionada à liderança exercida pelo professor Idalécio Vitter Moreira, sendo um grande líder motivador. Instituindo em 15 de outubro de 1979 em reunião no clube Comercial, o 25º Núcleo dos Professores na cidade de Lagoa Vermelha.

Mais tarde após ampla discussão com os associados em Assembleia Geral no ano de 1989 foi acrescida na sigla CPERS a palavra Sindicato.

Ao longo dos 68 anos de existência o CPERS Sindicato enfrentou muitas lutas e obteve grandes conquistas. Onde seus objetivos são representar os trabalhadores da educação, fomentar e acreditar que a união é fundamental para conquistar os direitos e garantir uma educação pública de qualidade.

Em seus históricos consta que a primeira diretoria foi eleita e empossada em 16 de maio de 1981 composta por Reonildo Mezzomo e o professor Idalécio, sendo os grandes incentivadores da primeira greve da categoria em 1979.

Sendo esta união e ideias responsáveis por desencadear importantes lutas e greves, sempre visando a construção da democracia, melhoria da educação e valorização do profissional.

Através das mobilizações muitas conquistas foram alcançadas como: a estabilização do plano de carreira para o magistério, aumento salarial de 70% em 1979 e o 13º salário. Em todas as mobilizações e greves manteve relação com a CUT, bem como uma pluralidade partidária de esquerda.

O CPERS Sindicato tem grande relevância na atuação, na defesa dos direitos e garantias de 86 mil associados da categoria. Também atua em prol dos associados na assistência à saúde, lazer e convênios.

O grande desafio do CPERS é manter a categoria mobilizada, repensar ações e evitar a fragmentação das entidades sindicais.

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Seu objetivo atualmente é a motivação da categoria para preservar os direitos adquiridos e priorizar o pagamento do piso salarial para os profissionais da educação.

O CPERS Sindicato na atualidade é representado pela professora Lúcia Solange Pinto, que está à frente das negociações, juntamente com toda a diretoria e os associados, sendo estes incumbidos de dar continuidade à defesa e à representatividade dos profissionais da educação na cidade de Lagoa Vermelha.

Sendo assim, nota-se que a atitude dos trabalhadores que almejavam mudanças no interesse coletivo, viabilizou a transformação de um simples movimento de massa na estruturação dos seus respectivos sindicatos. Expressando-se como uma inércia com possibilidades de atuar em favor dos trabalhadores, instituindo uma consciência de classe, a valorização da categoria e posições influentes nos assuntos relacionados ao bem comum.

Segundo Antunes (1988, p.22), as associações devem ir além da luta contra o capitalismo, bem como desenvolver um trabalho consciente na organização da massa proletária, objetivando a emancipação política e econômica, buscando também envolver-se e cooperar em qualquer movimento político ou social que almeje a mesma direção.

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2- A Caminhada Inicial do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria, da Construção e do Mobiliário de Lagoa Vermelha (Sintracom)

Seguindo a mesma lógica imposta pelo capitalismo, consequência da expansão industrial e da busca incessante de lucros para o acúmulo de capital ocorre transformações no cenário político-econômico e na relação capital e trabalho na cidade de Lagoa Vermelha.

Uma sociedade que antes tinha suas fontes econômicas voltadas exclusivamente na agricultura e pecuária passa a desenvolver atividades nos meios de produção. Surgindo na década de 1930 a exploração de madeira pelas serrarias, mais tarde ingressa também fábrica de portas e indústrias de móveis em meados da década de 1950.

Extração de madeira no interior de Lagoa Vermelha- RS

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Com a grande oferta de emprego ocorre a migração do trabalhador do campo para a cidade, tendo como consequência o êxodo rural, o aumento populacional na zona urbana, o início e intensificação da exploração nos meios de produção.

Ao longo de décadas o patronato lagoense, através dos meios de produção extraem o máximo a mais-valia, reduzindo os custos operacionais e elevando a produtividade, tornando o trabalhador lagoense um escravo do seu próprio ofício, sendo neste momento que se compreende a exploração e a alienação ao trabalho. Pois se tornam evidentes a disparidade entre o que o trabalhador produz e aquilo que lhe é destinado como salário.

Diante desta relação, entre o sistema capitalista e os trabalhadores nos meios de produção, iniciam-se resistências e insatisfações, desencadeando na massa explorada uma consciência de classe, uma coletividade e o desejo de fundar uma associação.

Para Antunes (1988, p.36), a luta pela unidade sindical são ações incansáveis da classe proletária que objetivam o seu fortalecimento e união, contestando a exploração gerada pelos interesses capitalistas.

Em novembro de 1975, aproximadamente 1000 trabalhadores reuniram-se no antigo salão da Igreja Santo Antônio, determinados a fundar a Associação Profissional dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Lagoa Vermelha. Sendo eleito na oportunidade o primeiro presidente Oraci Soares dos Santos. (Arquivos da Entidade, livro 01, Ata 01, data 30/11/1975).

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Motivados pelo êxito na fundação da associação e pela união entre os trabalhadores, a diretoria juntamente com os sócios no uso dos tramites legais conseguiram transformar a Associação em Sindicato em agosto de 1980.

Transformação de Associação em Sindicato

Conforme consta nos arquivos da entidade, livro I, ata 19, pág. 36, data 18/12/1976. Os questionamentos, na transformação da associação em sindicato, é uma importante evolução em benefício da massa proletária lagoense, pois instituíram um meio que norteará ações com possibilidades de mediar reivindicações frente a classe patronal, não sofrendo coação individual. Além de atuar com assistência jurídica, dissídios coletivos, fiscalização de empresas e o recolhimento do imposto sindical.

Dessa forma, o Sintracom torna-se um núcleo aglutinador de indivíduos que almejam através da coletividade a valorização do trabalhador e do seu ofício. Sendo uma entidade de grande relevância, legalmente organizada e oficializada, investida com liberdade e direitos sindicais que guiará e representará os trabalhadores nas lutas e nas reivindicações da categoria. Objetivando melhor qualidade de vida para os trabalhadores lagoenses, minimizar a exploração da massa proletária, bem como a valorização do trabalhador e do seu ofício.

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2.1- A Pedra Fundamental

Com uma ideologia já estruturada e uma união coletiva sacramentada, aumenta a necessidade de construir uma sede própria, pois as reuniões e atividades aconteciam nos salões das igrejas e no Círculo Operário Lagoense, sendo locais improvisados.

Diante da dificuldade de ter um local próprio para desenvolver suas atividades a diretoria fez à prefeitura o pedido de um terreno, a qual atendeu a solicitação. No entanto, a diretoria defrontou-se com a escassez de recursos para a construção da nova sede.

Frente às dificuldades, os associados não hesitaram em contribuir com recursos próprios, bem como com a mão de obra nas horas de folga. A partir de 1982 é iniciada a construção da sede própria em forma de mutirão. Sendo construído inicialmente um salão, onde passou a prestar atendimento em local próprio, nos anos seguintes foram complementados com novas construções para dotar a sede com melhores condições e salas administrativas.

De acordo com as atitudes e mobilizações dos associados, acredita-se que a pedra fundamental não se refere à primeira pá de concreto nem ao primeiro tijolo, mas sim à compreensão de uma consciência de classe coletiva e sua mobilização. Certificando-se que sindicato não se refere apenas em espaço físico, mas na compactação de ideias e indivíduos em prol de objetivos beneficiando a categoria.

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2.2- A Concretização da Consciência Coletiva

A consciência da massa coletiva lagoense originou-se através da união entre os trabalhadores lagoenses, movidos pela razão, em reação contra a indiferença dos empresários na relação capital e trabalho.

Onde os donos dos meios de produção defendem o milagre do trabalho, porém sua finalidade é um laço de frio interesse econômico entre patrão e empregado.

É inegável que a força física e intelectual de um profissional produz maravilhas, no entanto, esta capacidade motriz e criativa dos trabalhadores, tem como “fruto” o luxo e a ostentação dos empresários.

Nesta relação entre patrão e empregado funde-se uma consciência de classe nos trabalhadores lagoenses. Confirmando uma classificação na hierarquia social, definindo através de uma posição econômica, pobres e ricos.

Tal divisão de classe imposta pela sociedade capitalista evidencia as resistências e a disparidade entre os donos dos capitais e a massa proletária. Instigando uma consciência coletiva a partir de hábitos, práticas e ações vivenciadas pelo próprio trabalhador.

De acordo com Hobsbawm (1982, p. 235) “no capitalismo a classe é uma realidade histórica, imediato e em certo sentido um modo de vida”.

Posicionando-se contrários aos paradigmas capitalistas os trabalhadores lagoenses almejam uma melhor qualidade de vida e valorização da categoria. Com afinidades nas ideias de Marx, Engels, Thompson, Hobsbawm, Perrot, Bernasten e tantos outros intelectuais que contribuíram para uma melhor compreensão no que se refere à igualdade, dignidade e consciência de classe.

Canabarro (2008, p.57) argumenta que o marxismo pode ser considerado uma teoria social, pois muitos movimentos sociais, partidos políticos e sindicatos basearam-se no marxismo como uma bandeira de luta garantindo direitos e almejando uma sociedade mais justa.

Movidos por um espírito crítico, uma posição coletiva os trabalhadores lagoenses passaram a reunir-se em associações. Formando um grande número de indivíduos que posteriormente fundaram o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria, da Construção e do Mobiliário de Lagoa Vermelha (Sintracom).

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Conforme Hobsbawm (1987, p.46) “... as ideologias do movimento operário baseiam-se na explícita consciência e coesão de classe”.

Este movimento sindical em Lagoa Vermelha/RS confirmou um estado de união entre os operários, propiciando uma consciência própria, fazendo do Sintracom uma entidade de grande relevância e representatividade. Indo além de inúmeras reivindicações salariais, primando também por ações com as demais entidades nos assuntos voltados ao interesse e benefício da maioria.

Além de prestar vários atendimentos à categoria, os diretores do Sintracom participam do Conselho Municipal de Saúde, da Habitação, Direito da Criança e do Adolescente, Emprego e Renda e movimentos comunitários como a Associação Comunitária Esperança FM. Apoia também o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos, oferece cursos profissionalizantes gratuitos aos trabalhadores. Somou forças também para a instalação da feira de produtos ecológicos.

O Sintracom ainda participou com as demais entidades de uma ação civil pública junto à Promotoria Pública na limitação dos salários do prefeito, vice, secretários e vereadores na cidade de Lagoa Vermelha.

Demonstrando dar ênfase em suas ações, bem como cumprir com seu real objetivo que é a participação nos setores da sociedade que influenciam na vida do trabalhador.

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Essas ações coletivas e políticas possibilitaram condições para os trabalhadores conquistarem plenos direitos como cidadãos, bem como a divisão justa e igualitária das riquezas produzidas. (Zarth; Gerhardt; Trennepohl, 2009,p.30)

A classe operária destaca-se devido a sua grande importância nas fundamentais conquistas históricas ocorridas em nosso país, como a conquista da democracia, o impeachment do ex-presidente Collor e a chegada de um operário à presidência da República.

A consciência de classe consolidou-se um modo pragmático de luta, com possibilidades e meios para combater as injustiças, minimizar as desigualdades sociais postar-se contra a exploração nos meios de produção.

Ter consciência de coletividade é ter a certeza de estar incluso na grande massa responsável por importantes mudanças em nossa sociedade. É fazer parte de um número expressivo de indivíduos com plenos direitos políticos e detentores da força que faz movimentar as engrenagens na seara da produção.

Ter consciência coletiva é acima de tudo ter esperança e lutar pelo advento de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária.

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3- O Sintracom, seus Desafios e Perspectivas na Atualidade

O Sintracom define-se como uma entidade que representa, estrutura, defende, coordena e integra os trabalhadores lagoenses., dentro da categoria profissional que o mesmo representa.

Nos 38 anos de existência o Sintracom confirmou através do seu histórico, as lutas, as dificuldades, as conquistas, seus líderes, bem como as ações em defesa e no amparo dos sócios e não-sócios. Ratifica-se também o empenho e dedicação na busca por soluções em assuntos na esfera social e política, que propiciem melhorias para o bem comum.

No entanto, esta força coletiva enfrenta gigantescos desafios, sendo seu maior obstáculo a falta de coesão da massa proletária. Percebe-se que a consciência política e o poder de mobilização estão definhando.

“Um desafio urgente é o repensar toda prática sindical, o de revolucionar sua concepção e método de ação”. (Borges, 2006, p.1)

Para transpor tais obstáculos torna-se necessário reconsiderar as ações, resgatar a consciência política coletiva, investir na formação sindical e na organização dos trabalhadores.

Dessa forma, iniciam-se estratégias com possibilidades de evitar a fragmentação das classes e a debilitação dos sindicatos, bem como compactar força postando-se contra a reforma sindical e trabalhista.

Outros desafios que preocupam o Sintracom, é o desemprego, o trabalho infantil e a diferença de salários entre homens e mulheres, pois atualmente estamos inseridos na era da automação eletrônica que acaba intensificando a destruição de postos de trabalho. Também é de interesse de todos a proteção das crianças e adolescentes, promovendo possibilidades na formação de um verdadeiro cidadão, no entanto, a sociedade é omissa. Bem como na igualdade de salário entre homens e mulheres, sendo uma questão de justiça.

Perrot (1998, p.177) argumenta sobre a declaração dos direitos do homem, onde define a igualdade entre todos os indivíduos, questionando se as mulheres não seriam indivíduos.

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Atualmente o Sintracom faz um esforço para manter os trabalhadores lagoenses organizados e unidos, objetivando manter coesa a força pioneira, como movimento urbano na cidade de Lagoa Vermelha.

Ainda conforme a mesma autora (1998, p. 133) torna-se necessário instigar a população operária, adotando o hábito, em todo país, agindo simultânea e energicamente, mobilizando uma força oponente, imperiosa e irresistível, movendo de forma compacta frente aos capitalistas, para reclamar em uma única voz, seus direitos à vida, ao bem estar e aos benefícios da humanidade.

As perspectivas do Sintracom são instituir uma unicidade nos movimentos sindicais, apoio mútuo entre as classes, instituindo um processo de acumulação de força. Almeja também a permanência da democracia, a valorização do trabalhador, da trabalhadora e do seu ofício, bem como o desejo no advento de uma nova sociedade.

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Considerações Finais

Evidencia-se no decorrer do trabalho, a relação conflituosa entre a massa proletária e os donos dos meios de produção. Também a instituição de um modelo de sociedade excludente e degradante. Forçando a massa desprovida de capital a adequar-se num modo de vida monótono, alienador e exaustivo. Construindo uma hierarquia social que define valores através de posições econômicas, classificando pobres e ricos, patrões e empregados.

É neste cenário, diante da plenitude do capitalismo e da exploração nos meios de produção que emerge uma força de representação, coesão e autodefesa. Sendo um meio de atuar, organizar e movimentar a massa proletária.

Nesta relação instituem-se os núcleos de ação coletiva tornando-se um caminho para reivindicar aumentos salariais e melhores condições nos locais de trabalho, bem como a seguridade dos direitos já adquiridos. Esta união coletiva constrói uma consciência de classe que mais tarde oficializam-se os sindicatos.

Diante da complexidade na inter-relação entre o patronato e operários intensifica-se uma ríspida relação, pois os capitalistas defendem o milagre do trabalho. Tecendo várias críticas aos trabalhadores que lutam pelos direitos individuais e coletivos, sendo comparados a “gigolôs” sociais, pseudo-trabalhadores em busca de benesses sociais, ideias que visam transformar o trabalhador em zumbis alienados aos meios de produção. Tais preceitos vão totalmente ao revés da moralidade, da dignidade, da valorização do trabalho e do ser humano, denominando-se como resquícios de ideias pseudo-escravistas arraigadas no paradigma capitalista que objetiva transformar o trabalhador em fantoches manipulados e explorados pela classe patronal.

Concorda-se que o trabalho produz maravilhas, mas por outro lado a capacidade física e criativa de um profissional gera o luxo e a ostentação dos capitalistas.

Como em todo sistema capitalista gera exploração, em Lagoa Vermelha os trabalhadores ficaram à mercê da ideologia do “milagre do trabalho” e por muitos anos foram explorados. Desencadeando uma inquietação surgindo um movimento de massa que em seguida oficializaram-se em sindicatos, cada um dentro de suas especificidades e categorias.

O Sintracom define-se como um núcleo aglutinador de indivíduos que almejam através da coletividade, a valorização do trabalhador e do seu ofício. Uma entidade de

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grande relevância, legalmente organizada e oficializada, investida com liberdade e direitos sindicais, que norteia e representa a categoria nas lutas e reivindicações.

No percurso da pesquisa notam-se os desafios do Sintracom na atualidade é grande a desmotivação da classe e a fragmentação da massa proletária lagoense. O desemprego, o trabalho infantil, a flexibilização dos direitos adquiridos e as diferenças salariais entre homens e mulheres.

Para transpor tais obstáculos torna-se necessário repensar ações, resgatar a consciência política e coletiva, valorizando o direito de exercer a cidadania através do voto. Pois a política faz parte do nosso cotidiano, no entanto as pessoas fazem uso incorreto desse direito, tornando-se indivíduos levados pelo fluxo, sem capacidade crítica e participativa no espaço no qual estão inseridos, sem o compromisso de organizar o próprio futuro.

Outra preocupação do Sintracom é a luta pela permanência dos direitos já adquiridos, pois atualmente existe uma pressão por parte dos empresários para uma reforma sindical e trabalhista, que visa tolher direitos dos trabalhadores numa relação de flexibilização nos contratos trabalhista. Atualmente estão no poder representantes da grande massa, no entanto, o propósito do sindicalismo está ficando de lado, alerta-se para a estagnação do sindicalismo.

O Sintracom reavalia também ações para resgatar a consciência coletiva, a organização e a formação sindical, primando pela compactação das forças, transformando os sindicatos em uma unicidade sindical.

Portanto esta pesquisa nos proporciona ir além de angariar e propagar o conhecimento em relação à entidade que representa, ampara e movimenta os trabalhadores do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria, da Construção e do Mobiliário de Lagoa Vermelha.

O presente estudo tem por finalidade justificar a relevância e a representatividade das forças coletivas que fez uso da luta e da coesão um meio para reagir frente a exploração na seara da produção. Bem como postar-se contra às medidas tomadas por governantes favoráveis às atitudes do sistema capitalista. Lutas que marcam o histórico das sociedades, os conflitos de ideias e posições, ações e paradigmas, a ambição e a reação.

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Também nos serve de alerta para uma reavaliação da real consciência política e coletiva da grande massa, que teve responsabilidade direta nas grandes transformações da nossa sociedade.

Deve-se também fomentar a importância da unicidade sindical, da ajuda mútua entre as categorias. Não deixando espaços para governantes e capitalistas dizimarem com os direitos dos trabalhadores bem como a transformação do suor dos trabalhadores em luxo e ostentação capitalista.

Marx afirma que o essencial não é compreender as leis do mundo objetivo para poder explicá-lo, mas sim fazer uso dessas leis para transformá-lo.

Trabalhador não pergunte o que seu sindicato pode fazer por você, mas questione-se o que você pode ser e fazer pelo seu sindicato.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Referências

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