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Dos direitos políticos: investigação judicial eleitoral e aspectos constitucionais do Art. 14 da Constituição Federal de 1988 face a um caso concreto

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

JANINE PASCOAL RAMOS

DOS DIREITOS POLÍTICOS: INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL E ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO ART. 14 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

DE 1988 FACE A UM CASO CONCRETO

Ijuí (RS) 2014

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JANINE PASCOAL RAMOS

DOS DIREITOS POLÍTICOS: INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL E ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO ART. 14 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

DE 1988 FACE A UM CASO CONCRETO

Monografia final apresentada ao Curso de Graduação em Direito, objetivando a aprova-ção no componente curricular Monografia. UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: Ms. Eloísa Nair de Andrade Argerich

Ijuí (RS) 2014

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Dedico este estudo aos meus pais, aos meus familiares, e aos servidores do Ministério Público da Comarca de Augusto Pestana, RS.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, acima de tudo, pela vida, força, coragem e por me fazer trilhar os bons caminhos.

À minha orientadora, Ms. Eloísa Nair de Andrade Argerich, pelos ensina-mentos, dedicação, disponibilidade e orientação segura.

Aos verdadeiros amigos e

fami-liares pelo apoio incondicional e

cons-tante incentivo durante esta caminhada acadêmica.

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“Meu ideal político é a democracia, para que todo homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado."

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RESUMO

O presente estudo monográfico faz uma análise da legislação, das doutrinas e das jurisprudências relativas aos Direitos Políticos, bem como da investigação judicial eleitoral, visando obter conhecimento no que se refere ao abuso do poder político como meio de captação ilícita de sufrágio. Analisa, outrossim, um caso concreto, qual seja, o processo de Investigação Judicial Eleitoral ocorrido na Comarca de Augusto Pestana, RS, ajuizado pelo Ministério Público Eleitoral daquela Comarca ante as irregularidades denunciadas durante a campanha eleitoral do ano 2012. Apresenta-se, ainda, o entendimento doutrinário predominante, demonstrando os direitos políticos de cada cidadão, bem como as variadas formas de captação ilícita de sufrágio.

Palavras-chave: Direitos Políticos. Captação ilícita de sufrágio. Investigação Judicial Eleitoral.

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ABSTRACT

This work monographic study takes an in-laws, doctrines and jurisprudence with regard to political rights, as well as electoral judicial investigation, to obtain knowledge regarding the abuse of political power as a means to capture illicit suffrage. Furthermore, we analyze a specific case, which is the process of Judicial Electoral Research in the District of Augusto Pestana, RS, filed by the Public Ministry that Electoral District before the irregularities reported during the election campaign of the year 2012 elections. It also presents the predominant doctrinal understanding, demonstrating the Political Rights of every citizen as well as the various forms of unlawful capture of suffrage.

Key words: Political Rights. Illegal capture of suffrage. Electoral Judicial Investigation

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

1 DOS DIREITOS POLÍTICOS E DO DIREITO ELEITORAL ... 12

1.1 Conceito, conteúdo e interpretação ... 12

1.2 Direito político positivo (direito de sufrágio) ... 16

1.2.1 Da capacidade eleitoral ativa ... 17

1.2.2 Da capacidade eleitoral passiva ... 20

1.3 Direitos políticos negativos ... 21

1.3.1 Inelegibilidades ... 22

1.3.1.1 Inelegibilidades absolutas e relativas ... 23

1.4 Perda ou suspensão dos direitos políticos ... 24

1.4.1 Cancelamento da naturalização ... 26

1.4.2 Incapacidade civil absoluta ... 27

1.4.3 Condenação criminal transitada em julgado ... 28

1.4.4 Recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa ... 28

1.4.5 Improbidade administrativa e a Lei Complementar nº 135/2010 ... 29

2 INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL E ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO ART. 14 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988: ANÁLISE DE UM CASO CONCRETO ... 32

2.1 Da captação ilícita de sufrágio ... 33

2.1.1 Da captação de sufrágio via oferta de dinheiro e de bens ... 35

2.1.2 Da captação de sufrágio via oferta de emprego ... 37

2.1.3 Da captação de sufrágio via oferta de reforma de casa ... 37

2.2 Ação de Investigação Judicial Eleitoral em razão do abuso de poder econômico ... 37

2.2.1 Cassação e inelegibilidade ... 39

CONCLUSÃO ... 41

REFERÊNCIAS ... 44

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INTRODUÇÃO

O Direito é um fenômeno histórico-cultural e, como tal, necessita acompanhar a evolução dos fatos, adaptando-se às realidades que se apresentam no mundo contemporâneo. Nessa seara, o Direito Eleitoral constitui-se um instrumento que possibilita o exercício da soberania, democracia, participação popular, mandato e representação. Em outras palavras, o Direito Eleitoral visa estabelecer uma adequação entre a vontade do povo e a atividade governamental, ou seja, assegurar que a manifestação da vontade popular seja externalizada por meio do exercício de sufrágio.

O caput do art. 14 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88) estabelece os Direitos Políticos Positivos e Negativos de cada cidadão e lhe proporciona a possibilidade de exercer com plenitude a cidadania política. Assim, muitas vezes, o conjunto de normas que asseguram o direito subjetivo de participação no processo político não apresenta a correspondência necessária entre a manifestação da vontade popular e a conquista do poder pelos grupos sociais. Não há, portanto, uma adequação entre a manifestação de vontade dos eleitores e dos candidatos, uma que estes não observam o que diz respeito às regras estabelecidas na Lei nº 9.504/97 quanto às condutas vedadas, especialmente quanto à captação ilícita de sufrágio que, em verdade, é uma das facetas da corrupção eleitoral.

A ideia do presente estudo monográfico é, em um primeiro momento, além de discutir os Direitos Políticos e aspectos constitucionais do art. 14 da CF/88, verificar a relação que existe entre o abuso do poder e a captação ilícita de sufrágio pelos candidatos. Há maneiras honestas de se fazer uma eleição digna, de modo que a

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vontade popular não seja atingida por irregularidades. Uma dessas formas é quando todos os cidadãos, candidatos e eleitores estão cientes das regras estabelecidas quanto às eleições e não procuram realizar práticas ilícitas para alcançar o poder desejado.

Considerando que cada vez mais tem ocorrido a prática da captação ilícita de sufrágio nas campanhas eleitorais municipais, surgiu o interesse e a curiosidade de aprofundar os estudos quanto a este tema, que é pertinente ao Direito Político. Por essa razão abordam-se, aspectos acerca da captação ilícita de sufrágio, que é uma infração eleitoral que pode ter como consequência a cassação do registro ou do diploma do candidato. Diante disso, constata-se a necessidade e a preocupação com um maior conhecimento sobre o assunto.

Desta forma, na segunda parte do estudo, verifica-se o interesse em examinar outra infração eleitoral, qual seja, o abuso do poder econômico. A constatação do abuso do poder nos procedimentos eleitorais é muito comum nos dias atuais, e provoca equívocos na correta compreensão da democracia representativa, gerando anormalidade nas eleições federal, estadual e municipal. E, por vezes, quando comprovada a ilicitude e provada a improbidade, leva à investigação judicial eleitoral e consequente cassação do mandato eletivo. É necessário, portanto, que o abuso de poder seja coibido, pois é uma prática maléfica diante de qualquer democracia.

No decorrer do seu desenvolvimento, o presente estudo aborda o princípio democrático, previsto na CF/88, o qual assegura ao cidadão a liberdade para exercer o direito de voto, bem como escolher em quem quer votar, isto é, quem será o seu representante político. Sabe-se que a vontade do povo deve ser atendida, e que a própria Carta Magna do país expressa que todo o poder emana do povo. Entretanto, o cidadão não exerce o poder de maneira direta, sendo necessário que alguém o represente, cujo papel é incumbido ao político eleito pela população, no exercício do sufrágio. Assim, a vontade do povo é manifestada por intermédio de seus representantes, muitos dos quais não se importam em representar o povo de forma digna, agindo de maneira incorreta e, inclusive, gerando uma investigação judicial eleitoral.

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As eleições municipais possibilitam a corrupção eleitoral, principalmente quando há abuso do poder econômico por grupos sociais e a captação ilícita de sufrágio. A lisura do processo para escolha dos representantes do povo, porém, não deve suplantar o interesse público. Com efeito, considerando que o interesse específico dos participantes nas disputas eleitorais parece ser maior do que o da coletividade, a intervenção do Ministério Público Eleitoral se torna obrigatória a fim de moralizar, aprimorar e responsabilizar aqueles que agem de forma inadequada na captação de votos. A presença do Ministério Público Eleitoral no caso concreto, abordada, também, no segundo capítulo deste estudo, é de extrema importância.

O caso concreto a ser abordado refere-se ao fato que ocorreu nas eleições municipais do Município de Augusto Pestana, RS, no ano 2012, quando foi ajuizada ação de investigação judicial contra os candidatos, tendo em vista a suposta prática de infração eleitoral ilícita, a qual ficou comprovada e, consequentemente, houve a cassação dos candidatos eleitos. Observa-se que muitos dos eleitores daquele município, ao exercerem os seus direitos políticos de votar, sem desconhecer a lei, agem de forma inadequada ao aceitarem ou participarem da captação ilícita de sufrágio. Além da compra de votos, os eleitores do Município de Augusto Pestana praticaram abuso do poder econômico, mediantes várias práticas ilícitas que serão discutidas de maneira mais pontual no segundo capítulo deste estudo.

Para a realização completa deste estudo optou-se pela utilização da metodologia qualitativa, método em que se buscam diversas fontes para a elucidação do assunto. Na atualidade, com o advento de tecnologias e do imenso campo virtual que se encontra disponível para consulta, são utilizadas obras de juristas consagrados, bem como artigos, periódicos e demais fontes encontradas na Internet.

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1 DOS DIREITOS POLÍTICOS E DODIREITO ELEITORAL

Necessário se faz abordar aspectos referentes aos Direitos Políticos e ao Direito Eleitoral como forma de compreender a importância da conquista do poder pelos grupos sociais dentro dos parâmetros legais preestabelecidos e o exercício da cidadania política em sua plenitude, que se manifesta pelo direito subjetivo do sufrágio, ou seja, o direito de votar e ser votado.

Observa-se que, no decorrer deste capítulo, se faz uma análise dos temas referentes aos Direitos Políticos, ou seja, os meios, prerrogativas, atributos e faculdades de que dispõe o cidadão para participar da estrutura governamental do Estado, incluindo-se aí os direitos políticos positivos e negativos, bem como a sua perda e suspensão. Pretende-se, com isso, proporcionar ao leitor uma visão mais pontual do tema central deste estudo.

1.1 Conceito, conteúdo e interpretação

Em um primeiro momento, importa referir que não se pode negar que a conquista do poder pelos grupos sociais fez com que surgissem certos procedimentos ou técnicas que designassem os representantes do povo nos órgãos governamentais. Segundo Silva (2011, p. 345), esses procedimentos, “aos poucos, porém, certos modos de proceder foram transformando-se em regras, que o direito positivo sancionara como normas de agir”. Quer dizer, de uma forma democrática e participativa, o povo exigiu a criação de um conjunto de normas legais permanentes, que recebeu o nome de Direitos Políticos.

Nesse sentido sustenta Zilio (2012, p. 17):

O Direito Eleitoral constitui-se em ramo do Direito Público, cujo desiderato primordial é proporcionar e assegurar que a conquista do poder pelos grupos sociais seja efetuada dentro dos parâmetros legais preestabelecidos, sem uso da força ou de quaisquer subterfúgios que interfiram na soberana manifestação de vontade popular.

Evidencia-se que o uso da força ou outros meios ilegítimos desvirtuam o processo eleitoral, bem como o exercício da cidadania política, pois a vontade popular torna-se viciada.

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Ao tratar dos Direitos Políticos, o art. 14, caput, da CF/88, estabelece o seguinte: “Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: [...]”.

Diante do que dispõe o art. 14 da CF/88 verifica-se que o direito de sufrágio é um princípio democrático, pois proporciona regras para que todas as pessoas participem ativamente da vida pública do lugar aonde vivem. O cidadão tem direito de escolher, livremente, os seus representantes e, assim, exercer o direito de sufrágio por meio do voto. Como bem expressa o artigo supramencionado, a soberania popular será exercida nos termos da lei, mediante instrumentos da democracia direta. O voto direto e secreto revela a vontade da população e, para tanto, deve ser efetivado sem vícios, por intermédio de uma eleição séria e comprometida. Importa referir que para que haja democracia em uma sociedade, esta deve ter como fundamento primordial o princípio da soberania popular, de maneira que seja direta e indireta.

Observa-se que, muitas vezes, não há rigidez nas eleições, o que vem desde a escolha dos candidatos, e ocorre principalmente durante a campanha eleitoral, quando também não há seriedade por parte de alguns candidatos, tendo em vista que muitos tentam obter vantagens ilícitas. Verifica-se aí, a extrema importância de um dos mais importantes princípios do direito eleitoral, qual seja, o princípio da lisura das eleições.

Nesse sentido, cabe a interpretação de Andrade (2013, p. 49), para quem a lisura das eleições é pertinente, pois:

O exame da Constituição brasileira vigente revela que a lisura e a normalidade dos processos eleitorais são bens jurídicos caros ao Estado, o qual se adjetiva como democrático de direito. A referência à democracia antes mesmo da locução de direito indica que é verdadeiro pressuposto da produção e da aplicação das regras jurídicas na vigente ordem constitucional brasileira a existência de processos democráticos que confiram legitimidade a todo ato de força que emana do Estado.

Bem por isso que o art. 1º, parágrafo único da CF/88 indica que todo poder emana do povo. Exatamente por isso também que a Constituição brasileira consagra o voto universal e secreto como meio de renovação de mandatos eletivos que são, por definição e em essência, transitórios. E não por outra razão que o art. 14 da CF/88, ao tratar das regras mínimas que conduzem

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os processos eleitorais, bradou, nos parágrafos 9º e 10º, a repulsa que se tem pelo abuso de poder (político e econômico) que pode contaminar o princípio igualitário que pauta o certame eleitoral.

Certamente que uma democracia permite que se tenha um grau de maior permissividade em alguns setores da vida privada, mas quando se fala em processos eleitorais, as regras que lhe são aplicadas são essencialmente públicas e sua fonte de produção é o Estado. É muito importante, então, que os processos eleitorais sejam os mais transparentes possíveis, evitando-se eleições viciadas.

Nesse sentido, é válido observar as palavras de Rocha (1998, [?]) quando ressalta que:

Não há sistema eleitoral perfeito: cada um deles depende das condições políticas, históricas, sociológicas e até mesmo econômicas do povo e da adequação desta realidade à opção feita por este ou aquele figurino. Tal observação serve bem para que os cidadãos não se deixem envolver por modismos inúteis, por cópias infelizes e distorcidas, por manipulações de grupos pretensamente alvissareiros e que apenas traduzem os seus interesses na formulação de detalhes que apenas comportam elites descomprometidas com a Democracia.

Sabe-se que não há um sistema eleitoral perfeito, e que na maioria das vezes também não há um exercício pleno da democracia. Sempre há algumas pessoas de um determinado grupo político que tentam manipular os cidadãos com a finalidade de conquistarem o voto, mesmo que de modo ilícito. Diante disso, verifica-se o quanto é importante que as sanções sejam mais rígidas em caso de descumprimento das regras que regulam as eleições.

É necessário, contudo, entender melhor o que são os Direitos Políticos, bem como o direito de sufrágio, o qual é garantido pela CF/88 como um direito de todos os cidadãos, a ser exercido por meio dos seus votos e, assim, eleger os representantes políticos por quem querem ser representados.

Silva (2011, p. 346) sustenta que “A Constituição emprega a expressão direitos políticos em seu sentido estrito, como conjunto de regras que regula os problemas eleitorais, quase como sinônimo de direito eleitoral”. E, sem sombra de dúvida, abrange também os meios necessários ao exercício da soberania popular.

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Pimenta Bueno (apud SILVA, 2011, p. 346) já conceituava os direitos políticos em face da Constituição do Império, como “as prerrogativas, os atributos, faculdades ou poder de intervenção dos cidadãos ativos no governo de seu país, intervenção direta ou só indireta, segundo a intensidade do gozo desses direitos.” Ora, isso já deixa evidente que o povo pode interferir na esfera do poder público, por meio do voto, o que perpassa a história constitucional brasileira.

Os Direitos Políticos, por sua vez, estão vinculados aos princípios fundamentais elencados na CF/88, e possuem o regime jurídico constitucional. Cada cidadão pode, portanto, participar e fiscalizar os atos dos políticos, bem como votar ou ser votado na forma prevista pela Lei.

Em relação aos direitos políticos e de sufrágio não se pode deixar de mencionar o entendimento dos doutrinadores Araújo e Nunes Júnior (2005, p. 226), o qual é fundamental para o estudo:

Os direitos políticos, ou de cidadania, resumem o conjunto de direitos que regulam a forma de intervenção popular no governo. Em outras palavras, são aqueles formados pelo conjunto de preceitos constitucionais que proporcionam ao cidadão sua participação na vida pública do País, realizando, em última análise, o disposto no parágrafo único do art. 1º da Constituição Federal [...]

O direito de sufrágio não é mero direito individual, pois seu conteúdo, que prejudica o cidadão de participar da vida política do Estado, transforma-o em um verdadeiro instrumento do regime democrático, que, por princípio, só pode realizar-se pela manifestação dos cidadãos na vida do Estado [...].

Os Direitos Políticos que estão previstos na CF/88 são instrumentos que garantem o exercício pleno da soberania popular. Sendo assim, aos cidadãos são atribuídos poderes para que possam interferir na condução da vida pública, de forma direta ou até mesmo indireta.

Deve-se enfatizar, contudo, que os direitos políticos não se reduzem apenas ao direito de votar e ser votado. Para que isso possa ser compreendido há necessidade de não confundir a distinção existente em direitos políticos ativos e passivos, modalidades de seu exercício ligadas à capacidade eleitoral ativa e passiva, com direitos políticos positivos e negativos que dizem respeito às regras referentes à participação dos cidadãos no processo político e àquelas que negam a sua participação efetiva nesse processo.

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1.2 Direito político positivo (direito de sufrágio)

Os Direitos Políticos Positivos “consistem no conjunto de normas, que asseguram aos cidadãos o direito subjetivo de participação no processo político e também nos órgãos governamentais.” (SILVA, 2011, p. 349). Isso significa que por meio deles o povo pode participar da política de várias maneiras, isto é: pelo direito de votos nas eleições, direito de elegibilidade, direito de voto nos plebiscitos e referendos, e assim por diante.

A capacidade eleitoral também é conhecida como Direito de Sufrágio que, segundo Mendes, Coelho e Branco (2009, p. 779),

[...] se materializa no direito de votar, de participar da organização da vontade estatal e no direito de ser votado. Como anota Romanelli Silva, no ordenamento jurídico brasileiro, o sufrágio abrange o direito de voto, mas vai além dele, ao permitir que os titulares exerçam o poder por meio de participação em plebiscitos, referendos e iniciativas populares.

Observa-se, assim, que sufrágio também é a capacidade eleitoral, em que qualquer cidadão tem o direito de votar e ser votado e, até mesmo votar em referendos e plebiscitos.

Salienta-se que, muitas vezes, o significado de sufrágio e voto é confundido, sendo necessário esclarecer que a CF/88, no seu art. 14, não utiliza os termos como sinônimos e sim como duas coisas diferentes.

Para corroborar com o exposto, Silva (2011, p. 348, grifos do autor) se manifesta, afirmando que:

As palavras sufrágio e voto são empregadas comumente como sinônimas. A Constituição, no entanto, dá-lhes sentidos diferentes. Especialmente no seu artigo 14, por onde se vê que o sufrágio é universal e o voto é direto,

secreto e tem valor igual. A palavra voto é empregada em outros

dispositivos, exprimindo a vontade em um processo decisório. [...] O

sufrágio (do latim sufragium = aprovação, apoio) e, como nota Carlos S.

Fayet, um direito público subjetivo de natureza política, que tem o cidadão de eleger, ser eleito e de participar da organização e da atividade do poder estatal. É um direito que decorre diretamente o princípio de que todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente.

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A respeito desse tema, cabe mencionar o entendimento de Sanseverino (2007, p. 168, grifos do autor):

No sentido comum, não se estabelece nítida diferenciação entre as expressões: sufrágio significa, em relação ao tema proposto, voto, votação, sufrágio. Na doutrina, no entanto, autores como Celso Ribeiro Bastos, José Afonso da Silva, Pinto Ferreira estabelecem a distinção entre as palavras sufrágio e voto.

Reconhece-se, portanto, que ambas as palavras estão interligadas, pois para escolher as pessoas que serão os legítimos representantes do povo é preciso utilizar o voto e, para tal, as preferências eleitorais por um ou outro candidato são confirmadas nas urnas.

1.2.1 Da capacidade eleitoral ativa

Pode-se afirmar que as pessoas têm o direito-dever à capacidade eleitoral ativa, ou seja, de comparecer às urnas e expressar a sua vontade, escolher a pessoa que querem que as representem. Isso significa que o cidadão tem o direito e ao mesmo tempo o dever sociopolítico ao exercício da sua cidadania política com liberdade de escolha, sem coação ou outro meio de constrangimento.

As lições de Mendes, Coelho e Branco (2009, p. 779-780) são deveras elucidativas ao mencionar que o voto não é apenas um direito, mas sim uma obrigação que cada cidadão tem com a sociedade, como se pode observar a seguir:

Consoante a tradição constitucional brasileira, o voto é obrigatório a partir dos 18 anos de idade para todos os brasileiros, natos ou naturalizados. O voto dos maiores de 16 e menores de 18, dos maiores de 70 anos e dos analfabetos é facultativo.

O direito de votar adquire-se mediante o alistamento na Justiça Eleitoral e na data em que se preenchem os requisitos previstos na Constituição: seja a idade mínima de 16 anos, para o voto facultativo, seja a idade de 18 anos, para o voto obrigatório, seja o encerramento da conscrição, no caso do serviço militar. Segundo a jurisprudência do TSE, têm direito de votar aqueles que até a data da eleição tenham completado a idade mínima de 16 anos.

A obrigatoriedade do voto refere-se tão-somente ao dever de comparecer às eleições ou, no caso de impossibilidade, ao dever justificar a ausência. A escolha que há de ser feita pelo eleitor é evidentemente livre, podendo ele tanto escolher os candidatos de sua preferência como, eventualmente, anular o voto ou votar em branco.

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Nos termos da Constituição, o sufrágio é universal, o que significa que o direito político se reconhece a todos os nacionais do País, independente-mente da pertinência a dado grupo ou classe, ou da apresentação de certa qualificação.

Tal modelo contrapõe o chamado restrito, que tanto pode ser censitário como capacitário.

Ainda sobre o mesmo assunto, é interessante utilizar o ensinamento de Sanseverino (2007, p. 189) para sustentar a importância do voto:

Celso Ribeiro Bastos ensina que o voto é simultaneamente um direito e um dever. Como direito público subjetivo, o cidadão exercita-o, podendo inclusive se valer de medidas jurídicas coercitivas no caso de a autoridade competente lhe tolher o exercício. Acrescenta que o voto constitui-se, ao mesmo tempo, em dever, na medida em que aquele que não vota pode sofrer sanções definidas em lei. Há quem fale que o voto é uma função.

Analisando o exposto, pode-se concluir que as exigências constitucionais quanto à capacidade eleitoral ativa são fundamentais, pois visam à preservação da sociedade dos políticos sem escrúpulos, corruptos, desonestos, ávidos pelo poder.

A priori, a capacidade eleitoral ativa tem como objetivo central a melhoria das condições dos agentes políticos. Na realidade, porém, não é o que se vê nos dias atuais, principalmente no período eleitoral, quando não só o candidato, mas uma expressiva parcela do povo se vale do voto para receber benefícios dos candidatos. E, nesse momento, verifica-se que o voto passa a ser uma mercadoria que, muitas vezes, é negociada numa troca de favores ou venda por uma bagatela, prejudicando assim o processo eleitoral como um todo.

Assim, e de acordo com o art. 14 da CF/88, verifica-se que para que alguém se torne eleitor é necessário que tenha nacionalidade brasileira, idade mínima de 16 anos e alistamento eleitoral na forma da lei.

Nesse sentido, expressa Zilio (2012, p. 93-94):

Consagra-se através do voto, a democracia representativa prevista na Constituição Federal. Assim, o voto – tal qual o alistamento – é obrigatório a todo maior de 18 (dezoito) e menor de 70 (setenta) anos, aos que tenham entre 16 (dezesseis) e 18 (dezoito) anos incompletos e aos analfabetos. É o que dispõem o art. 14, § 1º, incisos I e II, da CF.

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Verifica-se, portanto, que a pessoa se torna apta a votar, haja vista que “o alistamento eleitoral é qualificação e inscrição do eleitor perante a Justiça Eleitoral, que lhe outorga a prerrogativa de pertencer ao corpo de eleitores e se habilitar para o voto.” (ALCKMIN, 2009, p. 334).

No Brasil, o exercício de votar é obrigatório para todos os brasileiros maiores de 18 anos de idade e facultativo para os analfabetos, os maiores de 70 anos e os maiores de 16 e menores de 18 anos. Mesmo assim, há quem diga que votar não é um dever e apenas um direito.

Nesse sentido, a CF/88 estabeleceu alguns requisitos para que o cidadão se torne eleitor, constituindo-se em um direito-dever, pois, se uma pessoa não comparecer às urnas e não justificar a sua ausência no prazo estabelecido, certamente irá sofrer sanções.

É importante que as pessoas estejam sempre participando da política, não somente durante o período de escolha de seus representes, mas também depois das eleições, não se esquecendo de praticar a democracia. Em outras palavras, a participação do povo precisa ocorrer durante a campanha eleitoral e também depois das eleições.

Até o início do século XX o direito de sufrágio era um direito que não se estendia a todos os cidadãos. Atualmente, no Brasil, o voto é obrigatório, tornando-se um dever que, tornando-se não cumprido, implicaem sanções.

De acordo com Lenza (2012, p. 1129, grifos do autor):

O voto, então, é direto, secreto, universal, periódico, livre, personalíssimo e com valor igual para todos, nos seguintes termos: Direto, no sentido de que o cidadão vota diretamente no candidato, sem qualquer intermediário. Excepcionalmente, porém, existe uma única hipótese de eleição indireta no Brasil [...], qual seja, quando vagarem os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República nos últimos 2 anos do mandato. Nessa situação excepcional, a eleição para ambos os cargos será feita pelo Congresso Nacional, na forma da lei. Secreto, na medida em que não se dá publicidade da opção do eleitor, mantendo-a em sigilo absoluto. Universal, já que o seu exercício não está ligado a nenhuma condição discriminatória, como aquelas de ordem econômica (ter ou não certa renda), intelectual (ser ou não alfabetizado), as concernentes a nome, família, sexo, cor, religião. O voto no Brasil, portanto, não é restrito, por não ser censitário (qualificação

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econômica) nem capacitário (capacitações especiais, notadamente de natureza intelectual). Periódico, já que a Democracia representativa prevê e exige mandatos por prazo determinado. Livre, pois a escolha pode dar-se por um ou outro candidato, ou, se preferir, poderá anular o voto ou depositar a cédula em branco na urna. A obrigatoriedade está em comparecer às urnas, depositando a cédula ou, mais comumente, votando na urna eletrônica, e assinando a folha de votação. Personalíssimo, no sentido de se vetar a votação por procurador. O voto é exercido pessoalmente pelo cidadão, sendo identificado pelo título eleitoral. Igualitário, decorrente do princípio one mano ne vote – “um homem um voto”, o voto deve ter valor igual para todos, independentemente da cor, sexo, situação econômica, social, intelectual, etc.

Diante desse entendimento, verifica-se que a obrigatoriedade está em ir até as urnas para votar, porém, quem decide se vai votar ou não é o próprio eleitor. De forma que o voto é secreto e ninguém saberá se votou ou não. Trata-se de um dever, portanto, no sentido de que todos deveriam manifestar a sua vontade em relação a algum candidato a fim de ser representado. E, conforme já mencionado, as pessoas devem participar durante as eleições, de forma obrigatória ou não, e depois, fazendo valer a democracia de forma coerente.

1.2.2 Da capacidade eleitoral passiva

A capacidade eleitoral passiva representa as condições que as pessoas têm de serem votadas e eleitas. Para que alguém seja capaz de ser votado, ou seja, de concorrer a um cargo político, precisa preencher os requisitos exigidos pela CF/88 para tal.

Nessa seara vai o ensinamento de Zilio (2012, p. 108-109):

A pretensão ao exercício de mandato eletivo, por consistir no ápice da caracterização do conceito de cidadania, implica o preenchimento de determinados requisitos constitucionais e legais. Tenciona-se, assim, estabelecer uma atividade prévia de joeiramento para, somente então, possibilitar ao pretenso candidato a submissão à vontade popular, que é essencialmente soberana em sua escolha. Em verdade, a capacidade eleitoral passiva é a elegibilidade, que consiste na aptidão de exercício de um direito subjetivo público.

Para Silva (2000, p. 367), tem elegibilidade:

[...] quem preencha as condições exigidas para concorrer a um mandato eletivo. Consiste, pois, a elegibilidade no direito de postular a designação pelos eleitores a um mandato político no Legislativo ou no Executivo. Numa

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democracia, a elegibilidade deve tender à universalidade, tanto quanto o direito de alistar-se eleitor. Suas limitações não deverão prejudicar a livre escolha dos eleitores, mas ser ditadas apenas por considerações práticas, isentas de qualquer condicionamento político, econômico, social ou cultural.

Observa-se que para alguém se tornar candidato precisa gozar de elegibilidade, ou seja, tem que preencher os requisitos exigidos na CF/88, conforme prescrito no art. 14 da CF/88, quais sejam:

§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei: I - a nacionalidade brasileira;

II - o pleno exercício dos direitos políticos; III - o alistamento eleitoral;

IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; V - a filiação partidária; Regulamento VI - a idade mínima de:

a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;

b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;

c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;

d) dezoito anos para Vereador.

§ 4º - São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.

§ 5º - São inelegíveis para os mesmos cargos, no período subsequente, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído nos seis meses anteriores ao pleito.

Verifica-se, assim, que as regras existentes em relação à capacidade eleitoral passiva devem ter correspondência com a capacidade eleitoral ativa, ou seja, o direito de votar. Com a capacidade passiva, o cidadão eleito tem o direito de permanecer no cargo durante o prazo do mandato, sendo que pode perder tal mandato se infringir alguma norma constitucional. Como exemplo tem-se o disposto no art. 37, § 4º da CF/88.

1.3 Direitos políticos negativos

Os direitos políticos negativos são um conjunto de normas que impedem o cidadão de exercer alguma atividade política. De certa forma, o cidadão fica privado de exercer seus direitos políticos, impedido de eleger algum candidato por quem gostaria de ser representado, bem como de ser eleito e representar o povo.

Os chamados direitos políticos negativos, no entendimento de Silva (2011, p. 385), são “aquelas determinações constitucionais que de uma forma ou de outra,

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importem em privar o cidadão do direito de participação no processo político e nos órgãos governamentais.”

O autor supracitado ressalta que os referidos direitos políticos são considerados negativos porque existe um conjunto de regras que impossibilitam o cidadão de ir às urnas e votar em alguém que irá representá-lo e, ao mesmo tempo, impedem que ele próprio seja candidato ou que exerça uma atividade pública.

1.3.1 Inelegibilidades

É imprescindível, inicialmente, entender o significado de inelegibilidade e suas consequências com relação ao direito de votar e ser votado. O termo configura os obstáculos que impedem os cidadãos de participarem do processo eleitoral, restringindo-lhes o acesso aos órgãos governamentais.

Segundo Silva (2008, p. 388), o conceito de inelegibilidade:

[...] revela impedimento à capacidade eleitoral passiva (direito de ser votado). Obsta, pois, à elegibilidade. Não se confunde com a inalistabilidade, que é impedimento à capacidade eleitoral ativa (direito de ser eleitor), nem com incompatibilidade, impedimento ao exercício do mandato depois de eleito.

Na verdade, esse instituto parte do pressuposto de que o candidato a cargos eletivos não deve ter impedimentos quanto à sua capacidade eleitoral passiva. Para concorrer a qualquer cargo eletivo, portanto, não pode ser inelegível, deve estar em dia com a Justiça Eleitoral e não haver nada que impeça o exercício de sua cidadania.

Nessa mesma linha, Sanseverino (2007, p. 210-211, grifos do autor) enfatiza que:

Inelegibilidade, no sentido comum, poderia ser tomado pelo seu antônimo que é a elegibilidade. Se elegibilidade significa a aptidão de ser eleito, inelegibilidade seria a inaptidão de ser eleito; a contrario sensu, o não preenchimento das condições de elegibilidade. Entretanto, dita interpretação acarreta equívocos, já que elegibilidade e inelegibilidade são institutos jurídicos distintos, não podendo ser tomadas como o verso e o reverso da mesma moeda.

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As causas de inelegibilidade ocorrem tanto antes como após o registro da candidatura. Destaca-se, assim, mais uma vez o parágrafo 4º do art. 14 da CF/88, que dispõe: “São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.” Diante disso, é possível verificar que os analfabetos estão proibidos de se candidatar, mas podem exercer o direito de sufrágio e votar.

Nesse sentido, Rollo e Braga (2000, p. 37) assim se manifestam:

Sabendo-se, como se sabe, que ser analfabeto constitui situação de inelegibilidade ditada pelo próprio texto constitucional, a melhor solução poderia ser a do deferimento do registro, mesmo para candidatos possivelmente analfabetos, detentores ou não de mandato anterior ou de outra condição que lhes permita presumir alfabetizados (motoristas com carteira de habilitação, por exemplo).

Entende-se, assim, que essa hipótese de inelegibilidade decorrente do texto constitucional não retira dos analfabetos o direito subjetivo ao sufrágio, ou seja, o direito de votar, mas impõe restrições a sua candidatura.

A respeito dos analfabetos inelegíveis, Zilio (2012, p. 154) expressa:

O comando normativo constitucional nega capacidade eleitoral passiva aos analfabetos. Inexiste, no direito brasileiro, uma clara identificação e conceituação do que seja uma pessoa analfabeta. Tratando-se de norma que visa a assegurar a participação política e adotado o regime de democracia representativa, deve-se considerar que, apenas, o totalmente analfabeto – ou seja, aquele que não consegue exprimir um sentido mínimo às palavras escritas ou lidas e não possui capacidade alguma de compreender o teor de um texto simplório – deve ter sua capacidade eleitoral passiva restringida.

Ademais, que os inalistáveis também são inelegíveis, como por exemplo, os estrangeiros. Nesse sentido, o próprio § 3º, inciso I, do art. 14 da CF/88 estabelece que: “São condições de elegibilidade, na forma da lei: I – a nacionalidade brasileira”. As inelegibilidades, portanto, impedem qualquer cidadão do exercício total ou parcial da capacidade de eleger-se (capacidade eleitoral passiva).

1.3.1.1 Inelegibilidades absolutas e relativas

A inelegibilidade pode ser absoluta ou relativa. Será absoluta quando houver o impedimento do indivíduo para o exercício do sufrágio a todos os cargos eletivos,

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e será relativa às inelegibilidades que impedem o acesso a um ou a alguns cargos eletivos. Nesse sentido consta o ensinamento de Sanseverino (2007, p. 214):

A inelegibilidade absoluta consiste na causa de impedimento do cidadão candidatar-se para qualquer cargo eletivo, prevista na CF ou em lei complementar. Quem se encontre em situação de inelegibilidade absoluta não pode concorrer a qualquer cargo eletivo e não tem prazo para desincompatibilização. Por exemplo, são inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos (art. 14, § 4º, da CF).

As inelegibilidades relativas, segundo José Afonso da Silva, também citado pelo Ministro Néri da Silveira, “constituem restrições à elegibilidade para determinados mandatos em razão de situações especiais em que, no momento da eleição, se encontre o cidadão”.

Entende-se, então, que de acordo com a legislação vigente no Brasil, são absolutamente inelegíveis os inalistáveis, os estrangeiros e os conscritos. Os analfabetos engrossam a lista dos indivíduos que não podem exercer a capacidade eleitoral passiva.

Em relação aos relativamente inelegíveis, entende-se que certo candidato não poderá se eleger para determinados cargos, enquanto para outros isso será possível. Nesse sentido, a CF/88 estabelece que um candidato não poderá se eleger em decorrência da função exercida, do parentesco, ou ainda, se for militar.

1.4 Perda ou suspensão dos direitos políticos

Cumpre observar que a CF/88 estabelece que o cidadão pode, excepcionalmente, perder de forma temporária ou definitiva, a sua cidadania política, ou seja, ter a perda ou suspensão dos seus direitos políticos, se incorrer em alguma das hipótese previstas no art. 15, incisos I a V, da Carta Magna.

Nesse sentido, o cidadão, segundo Silva (2011, p. 383), “deixa, imediatamente, de ser eleitor, se já o era, ou torna-se inalistável como tal, com o que, por consequência, fica privado de elegibilidade e de todos os direitos fundados na qualidade de eleitor.”

Quanto à privação dos direitos políticos, perda ou suspensão, o cidadão pode tornar-se inelegível, absoluta ou relativamente. Ao analisar as situações que propiciam a perda dos direitos políticos, observa-se que a perda priva o cidadão dos

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direitos de votar e ser votado, de forma definitiva. Sendo assim, o cidadão que perde os direitos políticos estará definitivamente privado desses direitos. Já em relação à suspensão dos direitos políticos, verifica-se que esta é temporária, ou seja, pressupõe a temporariedade.

Interessante esclarecer que a CF/88 não permite de forma alguma a cassação de direitos políticos, e só admite a perda ou suspensão nos casos indicados no art. 15, incisos I a V, in verbis:

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:

I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; II - incapacidade civil absoluta;

III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;

IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

Sabe-se que as hipóteses anteriormente elencadas não apontam de forma clara aquelas que se referem à perda e as que se referem à suspensão e, por isso, faz-se necessário analisar cada uma para entender a diferenciação.

Ensina Moraes (2010, p. 178, grifos do autor) que:

A Constituição Federal não aponta as hipóteses de perda ou suspensão dos direitos políticos, porém a natureza, forma e, principalmente, efeitos das mesmas possibilitam a diferenciação entre os casos de perda e

suspensão.

[...] A perda dos direitos políticos configura a privação dos mesmos e ocorre nos casos de cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado e recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5°, VIII, da Constituição Federal.

Certamente que ao se falar em perda se está falando em algo definitivo, enquanto suspensão é algo temporário. Segundo Cretella Júnior (2002, p. 123, grifos do autor)“não se perde o que não se tem. Perde-se aquilo de que se tinha a posse, ou a detenção. „Perda‟ é ideia ligada à ideia de definitividade.”

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O direito de votar (capacidade eleitoral ativa) e o direito de ser votado (capacidade eleitoral passiva) estão incluídos nos direitos políticos atribuídos ao cidadão. A perda e a suspensão dos direitos políticos são hipóteses que atingem, respectivamente, a titularidade para negá-los e o exercício para restringi-los temporariamente.

Assim, se o cidadão perde a nacionalidade, automaticamente perderá os direitos políticos (direitos de sufrágio e de elegibilidade). Já se o cidadão tiver esses direitos suspensos, apenas sofrerá a suspensão da cidadania ativa e não a cidadania como um todo.

Analisam-se, a seguir, os casos de perda e suspensão dos direitos políticos, sem, no entanto, separá-los, haja vista que a Constituição brasileira prevê apenas duas hipóteses específicas de perda de direitos políticos: o cancelamento de naturalização, e a recusa de cumprir obrigação a todos imposta, ou a prestação alternativa. As demais hipóteses são de suspensão, ou seja, a relativa à incapacidade civil absoluta, a condenação criminal transitada em julgado e a improbidade administrativa.

1.4.1 Cancelamento da naturalização

Uma hipótese de perda dos direitos políticos é o cancelamento da naturali-zação por sentença transitada em julgado, previsto no inciso I do art. 15 da CF/88. Sobre essa hipótese seguem as palavras de Araújo e Nunes Júnior (2005, p. 238):

Na verdade, a hipótese versada enseja a perda dos direitos políticos por via indireta. É que a nacionalidade brasileira é requisito para o exercício dos direitos políticos e, portanto, para o alistamento eleitoral. Cancelada a naturalização (que só pode ocorrer em virtude de crime cometido anteriormente à naturalização ou de comprovado envolvimento com o tráfico internacional de entorpecentes), o indivíduo retorna à condição de estrangeiro, não podendo, assim como os demais sob a mesma situação, reclamar direitos pertinentes à cidadania brasileira. Esse cancelamento deve processar-se por sentença judicial.

Somente será declarada a perda da nacionalidade do cidadão brasileiro naturalizado se o indivíduo tiver cancelada sua naturalização por sentença judicial, tudo de acordo com a legislação vigente. Sendo assim, o cidadão voltará à condição de estrangeiro e não poderá mais se alistar como eleitor e muito menos candidatar-se a algum cargo político, uma vez que não goza mais de nacionalidade brasileira.

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Na verdade, segundo lições de Silva (2011, p. 384):

O art. 15, em verdade, não inclui a perda da nacionalidade entre os motivos de perda ou de suspensão dos direitos políticos. Mas a interpretação sistemática leva à conclusão de que sua ocorrência, mediante a aquisição de outra, implicará a perda dos direitos políticos, na medida em que isso importa em transformar brasileiro em estrangeiro, e como o estrangeiro não pode alista-se eleitor, o eventual alistamento eleitoral daquele perde o pressuposto básico de existência. Ora, se a nacionalidade brasileira é pressuposto da posse dos direitos políticos, perde-os quem a perde com a aquisição de outra (art. 12, § 4º, II), ainda que não conste do art. 15.

Assim, se o indivíduo não for considerado cidadão brasileiro, nato ou naturalizado, certamente não poderá usufruir do status de cidadão.

1.4.2 Incapacidade civil absoluta

A incapacidade civil absoluta é uma hipótese de suspensão dos direitos políticos, prevista no inciso II do art. 15 da CF/88. Nesse caso, a incapacidade civil absoluta é aquela declarada por sentença, como, por exemplo, em processo de interdição, quando o interditado torna-se incapaz de praticar os atos da vida civil.

Acerca da incapacidade civil absoluta, Zilio (2012, p. 115) afirma que:

A norma constitucional exige que a incapacidade civil seja absoluta para possibilitar a suspensão dos direitos políticos. Não há, pois, como prescindir deste critério qualitativo; logo, a mera incapacidade civil relativa não consiste em motivo suficiente para a incidência da norma restritiva em comento. Eventual levantamento da interdição, na forma prevista pelo art. 1.086 do CPC, tem como efeito imediato o restabelecimento do pleno exercício dos direitos políticos.

Observa-se, então, que a suspensão somente ocorrerá sobre aquilo que a pessoa já possui. Por exemplo, se o indivíduo possuía capacidade civil absoluta, e a decisão transitada em julgado do processo de interdição decretou a sua incapacidade, ocorreu, então, a suspensão dos seus direitos políticos. É uma hipótese, portanto, de suspensão e não de perda dos direitos políticos, porque poderá aquele que estava interditado voltar a sua vida normal e assumir a gerência de seus atos para a vida civil, revertendo a sentença judicial prolatada.

Nas palavras de Sanseverino (2007, p. 223), “o menor de 16 anos enquadra-se na incapacidade civil absoluta (art. 3º, inciso I, CC) e não tem aptidão para

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adquirir os direitos políticos e, em consequência, a qualidade de cidadão (art. 14, §1º, II, „c‟ da CF).” Nesse caso, verifica-se que as hipóteses de incapacidade civil absoluta somente podem envolver certas situações com relevância para os efeitos dos direitos políticos se ocorrerem após os 16 anos.

1.4.3 Condenação criminal transitada em julgado

O inciso III do art. 15 da CF/88 traz mais uma hipótese de suspensão dos direitos políticos, qual seja, a condenação criminal transitada em julgado. Verifica-se que se alguém for condenado por crime doloso ou culposo, ou até mesmo por uma contravenção penal, terá o seu direito político suspenso na forma que dispõe a lei. Para Zilio (2012, p. 116):

A suspensão dos direitos políticos do condenado criminalmente tem incidência enquanto durarem os efeitos da condenação. Assim, enquanto o condenado está cumprindo a pena imposta incide a suspensão dos direitos políticos. Além das causas de cumprimento da pena, deve-se ponderar que a suspensão dos direitos políticos também cessa mediante a extinção da punibilidade do agente (art. 107 do CP). Neste passo, durante o transcurso do prazo do período de prova do livramento condicional e da suspensão condicional da pena (sursis) permanece incidente a causa de suspensão dos direitos políticos, já que somente quando expirado o período de prova, com extinção da pena, é que haverá o restabelecimento dos direitos políticos suspensos.

Verifica-se, neste caso, que há suspensão dos direitos políticos enquanto durarem os efeitos da condenação. Após extinta a punibilidade, o cidadão terá seus direitos adquiridos novamente.

1.4.4 Recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa

O inciso IV do art. 15 da CF/88 dispõe sobre a recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, inciso VIII. Necessário, portanto, descrever aqui o que trata o art. 5º, inciso VIII:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]

VIII: ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação

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Este caso denota uma hipótese de suspensão, haja vista que quando o cidadão começa a cumprir as obrigações impostas, o direito se reestabelece.

Alerta-se, porém, que a maioria dos autores de Direito Eleitoral vem estabelecendo uma situação de suspensão. Interessante, porém, mencionar que alguns autores, entre eles, Lenza (apud SILVA, 2012, p. 1137), entende que essa hipótese é de perda dos direitos políticos, pois segundo ele, a pessoa precisará tomar a decisão de prestar o serviço alternativo, não sendo o vício suprimido por decurso de prazo.

1.4.5 Improbidade administrativa e a Lei Complementar nº 135/2010

Em relação à improbidade administrativa de que trata o inciso V do artigo em análise, verifica-se que o mesmo suspende os direitos políticos do cidadão, abrangendo a capacidade eleitoral ativa e passiva, necessitando do trânsito em julgado da sentença.

O art. 37, § 4º da CF/88, citado no art. 15, assim dispõe:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...]

§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

O cidadão que praticar algum ato de improbidade, qualquer que seja, conforme a lei determina, terá suspensos os seus direitos políticos, de forma que não poderá exercer sua vontade pelo voto.

Convém destacar que além da previsão constitucional sobre atos ímprobos, a Lei n. 8.429/1992, mais conhecida como Lei de Improbidade Administrativa (LIA), dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício do mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional. A ela far-se-á referência apenas quando necessário, pois não será objeto de estudo nesta pesquisa.

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Um aspecto importante para este estudo, porém, é a Lei Complementar n. 135/2010, que altera a Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, e estabelece, de acordo com o § 9º do art. 14 da CF/88, casos de inelegibilidade, prazos de cessação e determina outras providências. Visa, com isso, incluir hipóteses de inelegibilidade com o fim de proteger a probidade administrativa e a moralidade no exercício do mandato – é a denominada “Lei da Ficha Limpa”, e doravante será assim mencionada neste estudo.

É de conhecimento de todos que a Lei Complementar 135/2010 nasceu em decorrência da mobilização popular que exigiu que fosse complementada a LC 64/90 no que diz respeito à elegibilidade de candidatos corruptos, desonestos e ímprobos, cumprindo o previsto pelo parágrafo 9º, art. 14, da CF/88. Essa lei, portanto, é fruto da iniciativa popular, que contou com mais de 1,3 milhão de assinaturas com o objetivo de aumentar a idoneidade dos candidatos.

Salienta-se que essa lei tem a intenção evidente de impedir que políticos condenados em decisões colegiadas de segunda instância possam se candidatar a mandatos eletivos. É uma proibição em defesa da sociedade, que está saturada de ser enganada por políticos corruptos. A partir dos escândalos ocorridos com políticos corruptos, bem como com a falta de respeito com a população em si, observa-se que muitos candidatos deixam de efetivar a democracia, não permitindo um equilíbrio social, justamente para se beneficiar de algo em prol de si mesmo, cuidando de seus interesses particulares e não agindo de forma correta em prol do povo que o elegeu.

A análise do texto legal permite constatar que a “Lei da Ficha Limpa” não mudou muito o que já constava na Lei Complementar nº 64/90, que regulamenta os casos de inelegibilidade e sanciona os crimes de improbidade administrativa.

Neste sentido, as palavras do Ministro Lewandowski (2010, [?]) se encaixam de forma pertinente no exposto supra:

Ao aprovar a Lei da Ficha Limpa, o legislador buscou proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato e a normalidade e legitimidade das eleições. Quando estabeleceu novas hipóteses de

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inelegibilidade, a Lei Complementar 135/10 apenas cumpriu comando previsto na Constituição, que fixou a obrigação de considerar a vida pregressa dos candidatos para que se permita ou não a sua candidatura. Certamente que a “Lei da Ficha Limpa” tem como escopo moralizar a política brasileira, evitando que políticos mal intencionados se valham das lacunas das leis e da interpretação judicial para ludibriar o sistema eleitoral (WIKIPÉDIA, 2013).

É muito importante mencionar que não é apenas a “Lei da Ficha Limpa” que colocará fim à corrupção no Brasil. Para que ocorra a sua efetividade e combate, é preciso que a sociedade aprenda a votar e, principalmente, entender a importância do voto, não fazendo dele uma mercadoria. E, assim, criar um Estado melhor, com políticos aptos para desempenharem suas relevantes funções.

A “Lei da Ficha Limpa” concedeu maior segurança aos eleitorados ao buscarem seus representantes políticos, dispondo hipóteses de inelegibilidade que têm por objetivo principal proteger a probidade administrativa, bem como a moralidade no exercício do mandato. É de extrema importância, portanto, a alteração trazida por esta Lei, pois garante maior lisura às eleições (WIKIPÉDIA, 2013).

Desta forma, no próximo capítulo aborda-se a Investigação Judicial Eleitoral a partir de um caso concreto vivenciado na Comarca de Augusto Pestana, RS. Antes, porém, faz-se um estudo sobre a captação ilícita do sufrágio para melhor compreender a ação ministerial.

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2 INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL E ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO ART. 14 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988: ANÁLISE DE UM CASO CONCRETO

A Investigação Judicial Eleitoral foi instituída por intermédio da Lei Complementar nº 64, de 1990, e é considerada um instrumento hábil para declarar a inelegibilidade e a cassação do registro de algum candidato. Oferece, portanto, condições de normalidade e legitimidade das eleições para todos aqueles que estão envolvidos no processo eleitoral. A seu respeito tem-se o importante entendimento de Andrade (2013, p. 17-18):

Para dar concretude à norma constitucional, editou o Congresso Nacional, após a observância de todo o processo legislativo, a LC n. 64/90 que, em nos arts. 19, 20 e 22, ocupa-se do abuso de poder econômico, político e do uso indevido de meios de comunicação social. Veio à luz, pelas normas transcritas, a ação de investigação judicial eleitoral.

Necessário referir, contudo, que a Investigação Judicial Eleitoral está fundamentada no art. 14, parágrafo 9º da CF/88, o qual foi regulamentado pela LC 64/90, conforme se verifica, in verbis:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

[...]

§ 9º. Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 4, de 1994).

A Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) é usada em campanhas eleitorais contra aqueles candidatos que abusam do poder econômico e político, prestando-se para a declaração de inelegibilidade e cassação do registro de candidatura.

Nesse sentido são de grande valia as palavras de Cerello (2002, [?]), quando ressalta que:

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A ação de investigação judicial eleitoral, portanto, tem a finalidade de promover a apuração de fatos suscetíveis de configurar o cometimento de qualquer irregularidade no processo eleitoral e a perniciosa influência do abuso do poder econômico, do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta, indireta e fundacional da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

[...].

O objetivo dessa ação é a decretação da inelegibilidade do requerido e de tantos quantos tenham contribuído para a prática do ilícito, para as eleições a serem realizadas nos três anos subsequentes, não obstante a Súmula n. 19 do TSE ter dato efeito ex tunc à sentença, ou seja, efeito retroativo. [...].

Um ponto fundamental a ser abordado é que a AIJE é um procedimento administrativo eleitoral e, por isso, deve obedecer ao devido processo legal estabelecido no art. 5º, inciso LV, da CF/88. Ademais, tem natureza investigatória, uma vez que apura infrações e crimes eleitorais supostamente cometidos.

A Investigação Judicial Eleitoral é importante para obstar a prática de condutas ilícitas no período das eleições, pois muitos candidatos e cabos eleitorais molestam a legitimidade das eleições por meio de condutas ilícitas, como por exemplo, o abuso do poder econômico. Assim, usando-se de tal ação, é possível que haja campanhas eleitorais ocorrendo dentro do que dispõe a lei, de forma transparente.

2.1 Da captação ilícita de sufrágio

A captação ilícita de sufrágio é uma infração eleitoral e está prevista no art. 41-A, da Lei nº 9.504/97, incluída pela Lei nº 9.840/99. Esta infração pode ocorrer durante o período da campanha eleitoral, a partir do registro da candidatura, bem como até o dia da eleição.

Para caracterizar esta infração, basta que haja a mera promessa vinculada ao voto do eleitor, não havendo necessidade que o ato se concretize. Ademais, não há necessidade da potencialidade do fato para com a finalidade de desiquilibrar a disputa eleitoral.

Nesse sentido, a doutrina de Sanseverino (2007, p. 242, grifo nosso) assevera que:

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O § 9º do art. 14 da Constituição, com redação da Emenda Constitucional de Revisão nº 04, de 07.06.94, prevê que a lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida pregressa do candidato, e a normalidade e a legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta, De outra parte, para a configuração da inelegibilidade, prevista nos arts. 19 e 22 da LC nº 64/90, deve haver a imputação de outros fatos, qualificados como abuso do poder econômico ou abuso do poder político, que tenham potencialidade para comprometer a legitimidade e normalidade das eleições. Tal requisito da potencialidade não é exigido para a

configuração da captação ilícita de sufrágio.

Para que haja a infração de captação ilícita de sufrágio previsto no art. 41-A, é necessário que haja a compra do voto, mediante promessas que visam corromper a lisura das eleições, deixando o eleitor com a consciência corrompida.

Sanseverino (2007, p. 264, grifos do autor) faz uma distinção entre promessas ilícitas previstas no art. 41-A e as de campanha eleitoral:

Cabe, então, distinguir as promessas ilícitas que configuram a infração do art. 41-A e as promessas de campanha eleitoral. Parece mais seguro e inevitável a sua averiguação caso a caso, conforme as circunstâncias, objetivas e subjetivas. De outra parte, é possível, embora considerando as ressalvas já mencionadas, estabelecer, de forma mais ampla, alguns critérios para diferenciar aquelas situações.

De forma mais geral, é lícito dizer que, para o enquadramento da conduta no art. 41-A, deve haver a compra, a negociação do voto do eleitor, com promessas de vantagens mais concretas e específicas, de forma a

corromper a consciência do eleitor. Já as promessas de campanha eleitoral,

normalmente apresentadas pelos candidatos, embora também dirigidas aos eleitores e com a finalidade de obter os seus votos, têm caráter mais genérico. Por exemplo, as promessas formuladas através de planos ou programas do governo sobre segurança, saúde, habitação, transportes – como promessas para construção de hospital, posto de saúde, posto policial, escola, igreja, ponte, ruas, obras públicas -, a criação ou manutenção de benefícios, entre outras.

Para configurar, portanto, a infração de captação ilícita de sufrágio, basta o candidato anuir de forma explícita com as práticas abusivas e ilícitas capituladas no art. 41-A. Verifica-se, então, que não é necessário o pedido expresso de voto.

Não se pode deixar de mencionar, contudo, um aspecto de suma importância e, por vezes, desconhecido dos eleitores, qual seja, a investigação judicial eleitoral por captação ilícita de sufrágio, que não gera inelegibilidade, mas afasta o candidato da disputa eleitoral. O que pode ocorrer neste caso é a cassação do registro ou do

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diploma e multa, não suspendendo nenhum direito. Sendo assim, se algum candidato perdeu o registro ou o diploma, ele poderá se candidatar novamente nas próximas eleições.

O Ministério Público Eleitoral de Augusto Pestana, RS, juntamente com a Ação de Investigação Judicial, representou infringência ao art. 41-A da Lei nº 9.504/97 contra os candidatos a Prefeito e Vice-Prefeito do Partido Coligação (Legenda nº 15) “Augusto Pestana Pode Mais”, bem como contra alguns dos seus cabos eleitorais. Aduziu o Ministério Público que os representados praticaram captação ilícita de sufrágio mediante várias práticas proibidas, que serão abordadas posteriormente neste estudo.

Importante mencionar que a ação foi ajuizada contra os candidatos e seus cabos eleitorais, encontrando respaldo para isso na jurisprudência majoritária, ou seja, na participação de terceiros, o que não será objeto de análise no presente estudo.

2.1.1 Da captação de sufrágio via oferta de dinheiro e de bens

Segundo o art. 41-A da Lei n. 9.504/97 é extremamente proibido aos candidatos praticarem a infração da captação ilícita de sufrágio, uma vez que o fato não demonstra seriedade com os eleitores.

Dispõe o art. 41-A da Lei 9.504/97 (grifo nosso):

Art. 41-A. Ressalvado o disposto no art. 26 e seus incisos, constitui

captação de sufrágio, vedada por esta Lei, o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição,

inclusive, sob pena de multa de mil a cinqüenta mil Ufir, e cassação do registro ou do diploma [...].

A leitura deste dispositivo permite compreender que basta ocorrer qualquer uma das condutas mencionadas no referido artigo para configurar a infração de captação ilícita de sufrágio. Essas condutas, por sua vez, são totalmente vedadas a fim de permitir uma eleição séria e respeitosa. Alguns candidatos, porém, não

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