NATUREZA DA INFORMAÇÃO
INTRODUÇÃO À SEMIÓTICA
David Correa Martins Junior david.martins@ufabc.edu.br
Revendo …
Até o momento, estudamos maneiras de representar a informação.
• Conversão analógica/digital
• Codificação de Fonte: compressão dos dados • Codificação de Canal: combater o ruído
• Capacidade do Canal: máxima taxa de transmissão
• A preocupação foi com a eficiência:
transmissão rápida, econômica e confiável da informação.
• O termo informação foi empregado apenas para se referir a “dados”.
Medida da Quantidade de Informação
• Definimos uma medida da quantidade de informação:
I(x) = - log2 P(x) (bits), sendo P(x) = “probabilidade do evento x ocorrer”.
Por exemplo, você vai viajar e consulta o canal do tempo, recebendo a mensagem x. Caso:
a) x = “o sol nascerá no leste”, temos P(x)=1 e, portanto, I(x)
= 0 (informação nula!).
b) x = “amanhã vai chover”, temos uma certa probabilidade e respectiva quantidade de informação (em bits).
c) x = “amanhã vai ocorrer um ciclone”, temos uma probabilidade muito baixa e grande quantidade de informação!
Medida da Quantidade de Informação
d) x = “o ciclone vai chover sol amanhã”, temos uma
probabilidade nula e quantidade de informação infinita, isso a despeito do evento x não ter qualquer significado real!
Conclusão: A quantidade de informação é uma medida matemática do grau de aleatoriedade de um evento e não reflete o conteúdo (significado) desse evento.
A grosso modo: I(x) é a quantidade de dígitos binários
Por que comunicamos
?
• Qualquer processo de comunicação tem a
finalidade de transportar uma “mensagem”.
•
“Dados”
são uma implementação física de uma
mensagem
.
•
“Mensagem”
é o conteúdo da informação, algo
que tem significado para os usuários da
informação.
• Não existe
informação
sem dados e
Problemas Práticos
• A semiótica estuda os vários aspectos de uma
mensagem.
• Há problemas práticos nos quais a
questão do
significado
se torna importante para a
representação ou o processamento da informação
!
• Por exemplo
:
− Tradução automática
− Conversão texto para voz
− Concepção de Interfaces Homem-Máquina que
consideram aspectos psicológicos do usuário
− outras…
Exemplo 1: Tradução Automática
• Imagine um dispositivo capaz de captar a
informação de uma fonte e representá-la fielmente
numa
interlíngua
(sistema artificial de
representação).
• Tal sistema possibilitaria, entre outras coisas, a
implementação de um sistema eficiente de
tradução automática.
• O bloco intermediário deve decompor a mensagem
em seus constituintes básicos de informação
segundo uma
análise sintática, semântica e
pragmática do texto
.
Exemplo 2: Leitura Automática
• Dependendo do contexto, o dispositivo
leitor deve identificar qual
sistema de
significados
se está utilizando
.
• Por exemplo, o texto abaixo, mistura
linguagem natural
com
linguagem
matemática:
“
Pitágoras nunca escreveu x
2+y
2=z
2.”
•
Outros aspectos
:
entonação de voz
(depende de aspectos psicológicos,
culturas e sociais).
Semiótica
• Palavra de raiz grega :
σηµεῖον (semeîon) = signo e sema = sinal σηµειωτικός, semeiotikos, intérprete de signos
• Definições:
• “A ciência dos signos e dos processos
significativos (semiose) na natureza e na cultura.” (Winfried Nöth)
• “É a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis" (Lúcia Santaella) • “estuda todos os fenômenos culturais como se
fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação’ [wikipedia]
Semiótica
•
Linguagem verbal (na linguística), estética (nas
artes), “da vida” (na biologia), “dos números” (na
matemática) ...
•Estudo de como o objeto é entendido pelo
"receptor" considerando seu contexto social e
natural.
Homo sapiens = Animal Semiótico
“Capaz não somente de usar os sinais, mas também de refletir sobre sinais empregando sinais.”
Semiótica
• Vamos ver uma teoria sobre a capacidade
semiótica dos homens que os animais não têm.
• Semiotica está relacionado com linguagem... E
inteligência? E livre arbítrio?
• O que é inteligência? Se não sabemos, então o
que seria IA (Inteligência Artificial)?
• A linguagem dos homens é livre...
Homo sapiens = Animal Semiótico
“Capaz não somente de usar os sinais, mas também de refletir sobre sinais empregando sinais.”
Origens
• Semiótica peirceana,
Charles Sanders Peirce (1839-1914)
Foco de atenção: signo e linguagem não-verbal
Signo triádico: representâmen, objeto e interpretante
• Semiótica Estruturalista/Semiologia
Curso de Lingüística Geral (1916) de Ferdinand de Saussure
Foco de atenção: signos verbais. Signo dual: significante e significado
• Outros:
Semiótica Narrativa do Discurso (francesa) Semiótica da Cultura (russa)
Jakobson; Hjelmslev; Lótman
Foco de atenção: linguagem, literatura e outros fenômenos culturais, mito e
Origens
• Há muitos outros, desde a antiguidade
• St. Agostinho diferenciou entre signos naturais e definidos pelo homem.
• Gregos Estóicos tinham modelo triádico
• Platão, além do modelo triádico, diferenciou idéias e signos verbais. • Muitas outras contribuições
• Vamos nos concentrar na semiótica Pierceana • ignorado pelos contemporâneos (1839-1914) • Muitos manuscritos ainda não publicados
• Visão extremamente abrangente da semiótica
• Usaremos terminologia Pierceana
Definições de Signo
• “Uma coisa que, além da impressão que causa nos sentidos, causa alguma outra coisa que apareça na mente como conseqüência de si mesmo”. (St. Agostinho)
•“Alguma coisa que está no lugar de outra, em relação à idéia que esta produz na mente de um intérprete.” (Pierce)
• Alguma coisa que produz na mente do intérprete a mesma idéia (interpretante) que seria produzida por outra coisa (objeto), caso esta fosse apresentada ao interpretante. (Pierce)
• Há muitas outras definições, mas estas são simples e abrangentes. • Signos não são apenas palavras ou marcas visuais.
Signo segundo Peirce
• Exemplo, signos para uma pedra: • - A palavra “pedra”
• - Um desenho de uma pedra • - A foto de uma pedra
• - O barulho de uma pedra batendo em outra • etc.
• O importante é a idéia que surge na mente do intérprete, não o som da palavra recebida – podemos falar para nós mesmos sem mexer os lábios, e há uma seqüência de imagens mentais (até mesmo imagens mentais das próprias palavras e sons se
Partes do Signo de Peirce
− Problema de Terminologia:
− Pierce escreveu muito, e nem sempre usou os mesmos termos.
− Signo (sign) é o termo usual para o que acabamos de ver. − Mas Pierce quer usar “signo” para a tríade, não só para o
componente que está no lugar do outro.
SIGNO
Partes do Signo de Peirce
− Representâmen: aquilo que está no lugar de outra.
− Objeto: aquilo que é representado.
− não necessariamente material: pode ser idéia, evento, sensação.
− Interpretante: uma idéia na mente do intérprete.
− mais do que UMA idéia, um processo interpretativo − atua como outro signo: cadeia de idéias
− Mediador na relação representamen-objeto − Sem interpretante não há semiose
− É o resultado interpretativo em si mesmo. Não é o
Partes do Signo de Peirce
Um signo, ou REPRESENTAMEN, é algo que está, para alguém, no lugar de alguma coisa de alguma maneira.
Ele cria na mente desse alguém um signo equivalente, ou
talvez um signo mais desenvolvido. Este signo que ele cria é o INTERPRETANTE do primeiro signo.
O signo está no lugar de algo, o OBJETO. Ele substitui o
objeto, não totalmente, mas de um certo modo, em relação à algum tipo de idéia.
Cada signo substitui o objeto de um certo modo, de acordo com a natureza do signo. Uma planta e uma foto de uma casa são ambos signos da casa, mas substituem a casa de modos diferentes.
Pierce: Categorias Fenomenológicas
Para entender o estudo dos signos pierceanos, devemos entender as suas categorias.
Segundo Pierce, tudo que aparece à mente assim o faz numa gradação de três categorias
Pierce: Categorias Fenomenológicas
Estes são os elementos básicos de todo pensamento
Fenomenologia segundo Peirce
Primeiridade – (Firstness)
• tudo aquilo que é assim como é, ou seja, um primeiro, independente de um segundo ou terceiro.
• ídeia existe por si mesma;
• primeira impressão ou sensação imediata;
• predominante nas idéias de novidade, criação, liberdade, originalidade, potencialidade
P.ex.:
• o elemento, a propriedade “azul”. • Sensação, sentimento.
Fenomenologia segundo Peirce
Secundidade (Secondness)
• tudo aquilo que é o que é, somente em relação a um segundo, mas de maneira independente a um terceiro (outridade)
• relacionamento direto (sensorial) com um objeto físico (matéria), uma implementação física da “primeira impressão ou sensação imediata”;
• predominante nas idéias de causa e reação (forças estáticas ocorrem aos
pares), comparação, oposição, polaridade, diferenciação, existência (oposição (eu) ao resto do mundo (não-eu))
Fenomenologia segundo Peirce
Terceiridade – (Thirdness)
• tudo aquilo que é o que é, em função de um segundo e um terceiro, mas independentemente de um quarto (composição)
• Segundo Pierce não são necessárias mais categorias. Sequências de signos (terceiridades) compõem todo o pensamento
• predominante nas idéias de mediação, meio, intermediário, continuidade, representação, generalidade (lei geral), infinitude, difusão , crescimento, inteligência e intencionalidade
• todo signo interpretado é uma terceiridade: uma relação representamen-objeto
mediada pelo interpretante
• interpretação do objeto físico face às nossas leis, valores, convenções e cultura, elaboração cognitiva envolvendo o objeto físico.
P.ex.: o “azul” no céu. (Esse pensamento pressupõe cognição por parte de alguém, por isso, por si só, já é uma interpretação!)
Fenomenologia segundo Peirce
Todo signo interpretado cria um interpretante, que por sua vez é o representamen de outro signo
Assim se formam as cadeias de pensamentos. A este processo chamamos de
SEMIOSE
Pierce propõe que a semiose é infinita
Triângulo Semiótico – outros autores
[3, p.472]
SIGNIFICANTE de Saussure é o
REPRESENTAMEN de Peirce. Na fig. abaixo, está assinalado o signo diádico de Saussure. O termo
“referente” é posterior aos dois.
Outros autores, outras notações e terminologia, mas alguns conceitos são similares.
Note que o modelo de signo de Saussure é diádico – ele não considerava o objeto como parte do signo. A preocupação aqui é relacionar palavras (escritas
e faladas), ídeias e coisas. Menos abrangente do que o signo de pierce.
Tipologia dos signos de Pierce
3 Tricotomias básicas. 3 Relações. 3 Classificações
Cada relação pode ser uma Primeiridade, Secundidade ou Terceiridade
Relação signo – representamen Relação signo – objeto
Relação signo – interpretante
Nem todas as combinações são possíveis. 10 classes principais.
64 classes secundárias (pros curiosos)
Relação do Signo Consigo Mesmo
A relação do representâmen consigo mesmo:
• Quali-signo (Primeiridade): qualidade pura que é um signo • não representa nenhum objeto (sem Secundidade)
• não pode atuar como um signo a não ser que se materialize • mas nesse caso não é mais um qualisigno
Ex.: a qualidade de ser “vermelho”; a idéia “vermelho”, antes que a idéia leve a alguma associação concreta.
Relação do Signo Consigo Mesmo
A relação do representâmen consigo mesmo:
• Sin-signo (Secundidade): um representamen que existe de verdade.
• Uma instância de um legisigno (a seguir) • uma implementação do quali-signo
• Ex.: tinta vermelha concreta em um lugar/tempo concreto. • todas as instâncias de palavras são sinsignos
Relação do Signo Consigo Mesmo
A relação do representâmen consigo mesmo:
• Legi-signo (Terceiridade): uma lei que é um signo. • convenção (idéia ou concepção) acerca do sin-signo
• Cada palavra como regra é um legisigno, mas cada emissão falada ou escrita da palavra é um sinsigno.
• Não é um objeto concreto, mas um tipo.
• Envolve arbitrariedade e liberdade: convenção Ex.: tinta vermelha representa perigo.
Conceitos relacionados: Significado/significação e a problemática medieval dos “Universais”.
Da relação entre o representâmen e o objeto vem a
tricotomia MAIS IMPORTANTE E MAIS USADA:
• Ícone: signo que apresenta semelhança com o objeto.
•
grego: εἰκών, (ikon, imagem)• representa o objeto devido às suas próprias qualidades (Primeiridade)
• É uma imagem que mantém com um determinado objeto uma relação de semelhança ou
propriedade.
• É uma abstração de algo que é do nosso
conhecimento e apresenta pelo menos um traço em comum com o objeto representado.
• Ex.: o desenho de um pote de tinta vermelha.
Da relação entre o representâmen e o objeto vem a
tricotomia MAIS IMPORTANTE E MAIS USADA:
• Ícone: semelhança não é necessariamente uma foto
ou desenho
• Um diagrama é um ícone
• semelhança: a relação entre as partes
• Uma metáfora é um ícone
• semelhança: relações entre significados
Da relação entre o representâmen e o objeto vem a tricotomia MAIS IMPORTANTE E MAIS USADA : • Índice: o signo é realmente afetado pelo objeto • Latim: index – “o que aponta”, de indicare, apontar • Representamen fisicamente conectado com o objeto • i.e., depende do objeto para ser signo (Secundidade)
• A relação representâmen-objeto já existe, o intérprete apenas a reconhece.
• Signo indicador: O significante remete ao significado tomando como base a experiência vivenciada pelo
interpretador – uma relação causa-efeito, ou de seqüência temporal ou espacial.
Da relação entre o representâmen e o objeto vem a tricotomia MAIS IMPORTANTE E MAIS USADA: • Índice: Ex.: ao ver uma imagem de um carro sem a
maçaneta, estando apenas um buraco no seu lugar, isto é um índice de uma tentativa de assalto. Mas isso só se torna
evidente porque temos experiências anteriores com
assaltos, seja através de experiências pessoais, seja por reportagens vistas no telejornal diário. [wikipédia]
• uma foto também é um índice porque sabemos que indica o momento em que foi tirada.
• um dedo indicando um objeto
• qualquer parte é um índice do todo
• associações por repetição: Pavlov e o cachorro
(comportamento em resposta a estímulos do ambiente)
Relação do Signo com seu Objeto
Um índice é uma representação que se
remete ao objeto não pela semelhança, mas
por existir uma conexão direta com ele.
Da relação entre o representâmen e o objeto vem a
tricotomia
MAIS IMPORTANTE E MAIS USADA:
Símbolo:
• signo que por convenção arbitrária representa o objeto. • É um elemento essencial no processo de comunicação
encontrando-se difundido pelo quotidiano e pelas mais variadas vertentes do saber humano.
•Ex.: a frase “pote de tinta vermelha” é uma sequência
de fonemas que representam o objeto exemplificado. A
convenção é a linguagem.
• um apelido arbitrário
• um sinal de trânsito padronizado
Da relação entre o representâmen e o objeto vem a
tricotomia
MAIS IMPORTANTE E MAIS USADA:
Símbolo:
• signo que por convenção arbitrária representa o objeto. • Só pode ser entendido por quem conhece a convenção.
• i.e., depende do objeto e do interpretante para ser signo (Terceiridade)
• Como é uma convenção (lei), é sempre um legisigno
• Combinamos que sempre (regra, lei) “casa” significa uma
habitação, não importa a fonte ou tamanho da letra, ou qual a instância concreta da palavra “casa”, ou quantas vezes a
palavra aparece.
Os símbolos são arbitrários, no sentido de que são socialmente convencionados e mutáveis.
Um símbolo não indica uma coisa em particular, denota um gênero de coisa.
Assista:
Icones
Resumo: A
spectos do Signo
Consigo mesmo Com seu objeto – na semiose (processo de apreensão do signo)
Primeiridade
Quali-signo
Ícone
(signo que apresentasemelhança com o objeto)
Secundidade
Sin-signo
Índice (
signo que tem relaçãofísica com o objeto)
Terceiridade
Legi-signo
Símbolo (
signo que por convenção (arbitrária, cultural)é uma representação do objeto
)
Bibliografia
* [1] Santaella, L. “O que é semiótica”, coleção primeiros passos.
(pequeno livro, barato, fácil de ler e de achar) A profa Santaella também tem vídeos no youtube
[2] Cobley, P. e Jansz, L. “Semiótica para Principiantes”, Era Nasciente SRL. (Em espanhol.)
[3] “Encyclopedia of Language and Linguistics”, 2nd Ed., Elsevier, Nov 2005.
[4] Nöth, W. “Handbook of Semiotics” Indiana Univ. Press, 1995
* [5] Netto, Teixeira Coelho; “Semiotica,Informação e Comunicação”,Editora Perspectiva, 7 edição,2007.
Bibliografia
Mais exemplos de classificação de signos
http://www.faac.unesp.br/eventos/jornada2005/trabalhos/15_francisco_machado.htm