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TRATADO SOBRE A LUZ: Sobre a refração no ar

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(1)

,7

Capltulo

IV

Sobre a refração no ar

Mostramos

como

o

movimento que constitui

a luz

se propaga

por

ondas esféricas em uma rnatéria homogênea.

E

evidente que, quando a matéria não é homogênea, mas de

tal

constituição

que

o

movimento

se comunica mais depressa para um

lado

do

que

para

o

outro,

essas ondas não poderão ser esféricas, mas devem

tomar

forma

se-gundo os

dife¡entes espaços que

o

movimento

sucessivo percorre em tempos iguais.

E

assim

que

explicaremos primeiramente as refrações que

ocorrem no

ar, que se

estende

aqui

às nuvens

e

ainda além. Os efeitos dessas refrações são

muito

notáveis,

pois é através delas que freqüentemente vemos objetos que a forma redonda da Te¡ra deveria de outra forma ocultar-nos, como ilhas e cumes de montanhas, quando estamos

no

mar.

Também

por

elas

o

Sol e a Lua parecem

haver nascido antes que de fato

o

tenham, e parecem pôr-se mais tarde; de

tal

modo

que se viu freqüentemente a Lua eclipsada quando

o

Sol

ainda aparecia sobre

o

ho¡izonte.

E

assim a altura

do

Sol e

da

Lua e a de todas as estrelas parece sempre

um

pouco maior do

que é na verdade,

por

essas mesmas refrações,

como

sabem

os

astrônomos2 6. Mas há uma experiência

que

torna

essa refração bem visível: fixando-se uma

luneta

de aproximação em algum

lugar,

de modo que ela aponte um

objeto

afastado de meia légua

ou

mais, como um

campanário

ou

uma casa, se aí olha¡mos em diferentes horas

[a3]

do

dia, deixando-a sempre presa da mesma forma, ver-se-á que

nÍo

serã'o os mesmos lugares do objeto que

se

apresentarã'o

no

meio

da

abertura da

luneta,

mas que ordinariamente

de

manhã'

e ao

entardecer,

quando há

mais vapores

próúmos à

Terra, esses

objetos

parecem

fìcar

mais altos, de modo que a metade

ou

mais não mais será visível, e eles baixarão

perto do meio dia, quando esses vapores tiverem se dissipado.

Aqueles que apenas consideram

a

refração nas superfícies que separam os corpos

transparentes

de

diferentes naturezas

terão dificuldade em dar

o

motivo de

tudo

o

que acabei

de contar2e.

Mas,

de acordo com

nossa

teoria, a

coisa é

muito

simples. Sabe-se que

o

ar que nos cerca, além das partlculas que

lhe

são próprias, e que estão mergulhadas na

matéria

etérea, como

foi

explicado, é também preenchido

por

partí-culas

de

água. elevadas

pela

ação

do

calor. Por

outro lado,

reconheceu-se

por

certas experiências que a densidade

do

ar

diminui

à medida que se sobe. Seja porque as

par-tículas da

água

e

as

do

ar participam,

por

meio das partículas da matéria etérea, do

2Sobraruou-r", ¿strcnomicamente, que

a

velocidade angular com que uma est¡ela se move

na eslèra celeste, em cada noite, depende de sua distáncia ao horizonte. Estudando esse fenôme-no. Kepler estabelecu cm sua Dioptrrce (Augsburg,

16ll)

tabelas de refraçaÌo astronômica, para correça-o tie medidas angulares,

2eObviamente,

o

rlestinatá¡io dessa observação

era Newton. No entanto, pode-se estudar a

refração atmosfé¡ica dividindo-a em camadas inlìnitesimais, e considerando uma variaçalo de

índice de relìaçaio cle uma para outra, utilizando-se a óptica geométrica, sem necessidade de apoiar

scja um modelo corpuscular, seja um ondulatório. O estudo detalhado da refraça-o atmosférica

tbi

desenvolvido, nessas linhas, por Bouger e Lambert, no século

XVIIL

VeT, LAMBERT, J. H. Les propriëtés remarquahles de la rcute de la lumière par les aits et en général pat plusieurs milieux

rel'ringens sphériques et concetttrþues, a.vec la solutíon des prcblèmes qui

y

ont du rapport. . . Pa¡is, A.lain Brieux, 1977.

(2)

42

Ciristiaatt HuYgens

movimento

que constitui a luz,

sendo

no

entanto

de

uma

elasticidade mais lenta

do

que aquelas; seja porque

o

encontro e ¡esistência que essas partes de ar e de água cião

à

propagação

do

movimento

das

partículas

do

éter

retardam seu progresso; segue-se que umas e outras, voando

entre

as partículas

do

éter,

devem

tornar

o

ar progressivamente menos adequado

à

propagação das ondas

de

luz, à

medida que se

desce de uma grairde altura até a Terra.

Por

isso

a

forma

das ondas deve tornar-se aproximadamente

como

esta

figura

a

representa.

A

saber: se

.4

é uma luz, ou um ponto visível do campaniírio, as ondas que

nascern devem

[44]

se estender mais amplamente para o alto, e menos para baixo, e

para outros lugares mais

ou

menos, conforme eles se aproximem desses dois extremos.

Assim sendo, segue-se necessariamente que toda

linha

que nâ'o seja perpendicular ao horizonte c que corte umadessas ondas em ângulos retos passa acimado

ponto,4.

Seja '8C a onda que

transporta

aluz

ao espectador que está em -8, e seja-BD a reta

que corta

essa

onda

perpendicularmente.

Ora, como

o

raio

ou linha

reta

pela qual

juigamos

o

local

onde

nos

parece

estil o

objeto

nâ'o é senão a perpendicular à onda

que chega a nosso

olho,

como se pode compreender pelo que

foi

dito

acima, torna-se

claro clue o ponto

A

seri percebido como estando na reta.BD, e assim mais alto do que está de fato.

(3)

7

Tratado Sobre a

Luz

43

Da

mesma

forma,

seja a Terra

AB,e

a extremidade da atmosfera

I45lCD.Éplau-sível

que

ela não seja uma superfície esférica bem delimitada, pois sabemos que

o

ar se rarefaz à medida que subimos mais

alto,

pois hámenos acimadele que o pressione. Suponhamos que as ondas de

luz

do

Sol provenham,

por

exemplo, de-modõ que,

en-quanto ndo atingiram

a

atmosfera

CD,

a

reta,4.E' as

corta

perpendicularmente. Ao

entrar na

atmosfera, essas mesmas ondas devem avançar mais velozmente nos locais elevados

do

que

nos

que

estão mais próximos da Terra. De

tal

modo que se

CZ

é a

onda

que

transporta

a

luz

ao espectador

em.4,

seu

ponto

Cestará mais avançado, e

a

reta

AF

que corta essa onda em ângulos retos, e que determina o iugar aparente do

Sol,

parecerá acima

do

ve¡dadeiro

Sol,

que seria

visto

pela

linha

AE. E

assim pode

ocorrer que ele não deveria ser visível sem vapores, pois a linha,4-E encontra a circun-ferência

da Terra,

mas será percebido

por

causa

da

refração

na linha

,4.F. Mas esse

ângulo

EAF

não é jamais

maior

do que meio grau, pois a tenuidade dos vapores não

alte¡a senão

muito

pouco as ondas da luz. Além disso, essas refrações não

slo

comple-tamente constantes em todas as épocas,

[46]

sobretudo nas pequenas alturas de

2

ou

3

graus

-

o

que é devido às diferentes quantidades de vapores aquosos que se elevam da Terra.

Essa é também a causa de que em certo momento um

objeto

afastado esteja oculto

atrás de

outro

menos afastado, e que ele possa ser visto em

outro

momento, embora o

lugar de

onde

se

olha

seja sempre

o

mesmo.

A.

razão desse

efeito

será ainda mais

c

(4)

ll

44

Cltistiaan

HuYgens F

c

c

M

B I

r

consiclerd-la

como feta.

Suponhamos

[47]

também que ela seja

perpendicular ao horizontc., e que o local

B

está mais

próximo

da Terra do que o local ,4. Por causa dos

(5)

-Tratødo Sobre a

Luz

45

vapores menos

embaraç

do

ponto

,4

estende-se

po

se

propaga

ao ponlo

-B

se

ao

hoiizonte.

Além

disso,

de

pontos na ¡eta

Aß,

eterminadas pela reLaDE (que, se não é reta, pode ser assim

consi-derada), e representemos por todas essas linhas as diversas penetrabilidades nas

diferen-tes aituras de ar entre-4

eB.

Assim, cada onda particu_lar nascida no ponto

Fse

propa-gará

pelo

espaço

FG,

e a

do

ponto 11 pelo espaço É11, enquanto a do ponto

l-seìs-tende pelo espaço,4D.

Se dos centros

,4

e

B

descrevermos os cículos DK ,

EL,

que representam a extensão

das ondas que nascem desses dois pontos, e traçarmos

a

reta

KL

que toca esses dois

círculos,

é

fácil

ver que

essa mesma

linha

será tangente

comum a todos

os outros círculos que foram descritos dos centros

F,

H,

etc. e que todos os pontos de contato cairdo na parte dessa

linha

que está compreendida entre as perpendiculues

AK

e

BL.

Portanto

a

rcIa

KL

limita¡á

o

movimento

[48]

das ondas particulares nascidas dos

pontos da

ondal-8,

e esse movimento será mais

forte

entre os pontos

KLdo

que em

todos os outros

lugares,

no

mesmo

instante, pois

uma

infinidade

de circunferências

concorre

para

formar

essa reta. Portanto

KL

será, a propagação da parte

daondaAB,

de acordo com

o

que

foi

dito

ao explicar a reflexão e a refração ordinárja. Nota-se que

AK

e

BL

baixam para

o lado

onde o ar é menos penetrável; pois

como,4K

é mais

lon-ga

do

que

BL, e

lhe

é

paralela, segue-se

que

as linhas..4-8,

KZ,

sendo prolongadas,

concorrem

do

lado

r.

Mas

o

ângulo

K

é reto, portanto

KAB

é necessariamente agudo,

e portanto

menor

do

que

DAB.

Se,

da

mesma

forma,

procurarmos

o

progresso da

parte

da

onda

KL,

encontrar-se-á que em um

outro

tempo ela chegou a.&lM, de modo que as perpendiculares KM,

LN

baixam ainda mais

do

que

AK,.BI.

E isso faz ver que o

raio

se propaga seguindo

a linha

curva

que corta

todas as ondas

em

ângulos retos,

Referências

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