I
CURSO
DE
JORNALISMO
DA
UFSC
-FLORIANÓPOLIS,
SETEMBRO DE 2013
-ANO
XXXII,
NÚMERO
5
Licitação
traz
mudanças
na
capital
1 I
.i'
"'0"
.',....
. . .. . .-: .. ... '.'Passados
200
anos,
livros
adaptados
ainda
são difícieis
de
encontrar
PÁGINA
15
�'�VOREDO
Projeto
para
transformar
reserva
em
parque
divide
especialistas
PÁGINA6
Falta de dados
dificulta
a
busca por
desaparecidos
o
desafio
de
suscitar
discussões
reflete
o
papel
social do
jornalista
Esta
edição
doJornal
Zero trazumamiscelânea detemasque fazem
partedo cotidiano dos futuros
jorna
listas,
autores de cada reportagem,mas também de todos
aqueles
queterão a
oportunidade
de folhear aspáginas
dojornal.
Reflexões sociais,ambientais,
acadêmicaseatémesmo umacríticaaotrabalho daimprensa
fazempartedesta
publicação.
Umdoscartões
postais
de Florianópolis,
oMercado Público estámudando. Há56anosfazendo
negócios
nolocal,
SeuAlvimsedespede.
Novos comercianteschegam
aolocal, após
alicitação
dosboxes,
que ocorreunesteano. E não são apenasos ros
tos se renovam. Uma reforma está
prevista
ospróximos
meses e a novacara do Mercado Público também é
.
mostradanareportagem.
Além do Mercado
Público,
oleitoré convidado a um
passeio
pelo
Parque
Ecológico
doCórrego Grande,
em
Florianópolis,
eoutropela
Reserva
Ecológica
Marinha doArvoredo,
áreademaisde 17 mil hectáresentre
a
capital
catarinense e Bombinhas.Na reserva, o
passeio
inclui trilhasíngremes,
que passampela
contraditória discussão da
possibilidade
do localse transformarem um parqueaberto à
visitação
pública.
Oassuntodivide
opiniões,
asquais
sãoexplora
das
pelo
Zero.Também há espaço paraodrama
de pessoas que buscam familiares
desaparecido.
A reportagem narra ahistória de pessoascomoLenore,mãe
de
Joana,
quebuscapornotíciasda filha hámaisdedoisanos,mastambém aborda os
percalços
durante abusca:ainexistência deumcadastro
nacional,
que reúnainformações
de todososdesaparecidos. Sobretudo,
otema é tratado como um
problema
social,
quemerece serdiscutido.Odrama também foi descritona
dificuldade para ex-detentos retor
narem ao mercado de trabalho. De
um
lado,
a falta de programas deincentivo e,deoutro,astentativasde
reinserção
como o'Estampa
Livre',coordenadoporum
ex-presidiário.
Outradificuldade abordadaéade
deficientesvisuaisparateremacesso alivrosembraile.
Enquanto
surgeme-books,
quesetornaramumaalternativa,
os amantes dopapel
esbarram nademorae no alto custo das
publicações
impressas.
Uma obra clássica da literaturabrasileira,
DomCasmurro,
de Machado deAssis,temseis
volumes,
e ocustode cadaexemplar
impresso
embraile,
conformeareportagem,
pode chegar
aR$
5 mil.Por outro
lado,
outras históriasinspiram,
como adeempreendedores
que iniciaramacarreiraemprogra masuniversitárioseatualmentesão
referêncianaáreaem que atuame
pais
queescolhem escolas comfor masdeensinoalternativas.Enfim,
em cada reportagem, há umpouco de cadarepórter,
editorefotógrafo,
alunos que tambémsetornampersonagense
participantes
das histórias.São,ao mesmotempo,atoresqueconstroemo
próprio
conhecimentoe
experimentam
odesafio desuscitardiscussões.Boaleitura!
OPINIÃO
ONDEo LEITOR TEM VOZ
PARnCIPll
e TwItter• @�eroufsc Cartas -Departamentode Jornalismo Centro deComunicaçãoeExpressãoUFSC- Trindade
Aorianópolis (SC)
CEP: 88040-900 Masserá quenão seriaa
hora, também,
de colocaroZerona eradacibercultura?Não
vejo
asmatériasdo
jornal
circulandonasredessociaisporexemplo.
Iriadaraele,
nomínimo,
maiorvisibilidade.Além,
éclaro,
dever como ainteração
com osleitoresotransformaria.
Mauricio
Frighetto
Achei bacanaporser
produto
dos acadêmicos.Gostariadeter mais acesso,
pois
raramentevejo
um ououtro
exemplarpelo
CC4. As matérias são interessantes. Emumadasedições
queli,
haviaumaentrevista
incrível,
acabeiguardando
ojornalpela
riqueza
de conteúdo damesma.Participei
daprodução
doZeronosegundo
semestrede2010. Ao
acompanhar
asedições
maisrecentes,sinto
nostalgia
doperíodo
edoconsequente
aprendizado.
Ojornal
cresce e sefirma
dentro dagraduação,
trazendoorgulho
aquemjá
contribuiuaoprojeto.
Tiago
Pereira}osiane
Hannoff PiloneOMBUDSMAN
ÂNGELO
RIBEIROUm
laboratório
para
a
autocrítica
Ozero
contacom umacoluna de ombudsman desde2011,uma
inovação
introduzidapelos professores
SamuelLimaeRogé
rioCristofoletti.Neste espaço
já
escreveramprofessores
ejor
nalistascom ou semvínculocom o curso.Todos convidados
porseremreconhecidos porsua
contribuição profissional
eacadêmica aoJornalismo.
Nestesemestre,oombudsman doZeroseráumafunção
exercida
pelos próprios
professores
responsáveis pela
disciplina.
Aideia
surgiu
deumanecessidade quenãovinha sendopreenchida
pela
coluna. O que ocorria nãopela qualidade
oupropriedade
dascontribuições
dosnomesqueocuparamesteespaço anteriormente. Anecessidade de quesetrata
aqui
éadepodermos
cortarnaprópria
carne,apontarosaltosebaixos da
edição
quechega
aoleitor apartir
davisãode quem
acompanhou
todooprocessodeconcepção
eprodução,
equecompartilha
dasresponsabilidades
do que é oferecidoaopúblico.
Nesse
sentido,
otomda coluna será firmecomrelação
às omissõesdoZeroesóbrio aocomentarosacertose assacadas da
equipe.
Umcritério será
superior
aos demaisnahorade avaliarmos o materialproduzido:
ofato deoZeroser umjornallaboratório,
umambiente deexperimentação.
Umexperimento
éumprocedimento
quevisatestarmétodos,
processos,produtos
em um ambiente controlado.Ojornal
laboratórioéesteambiente.
Oque
pretendemos
com oZeroéjustamente
ofereceraos alunos ascondições
necessáriasparaque elestestemo queaprenderam
emdisciplinas,
de formaisolada,
em umasituação
que simulaodia-a-diadeuma
redação
deumveículoimpresso.
Paraisso,
alguns
processoserotinasdoZerotambémsofreram
mudanças significativas
emrelação
aossemestresmaisrecentes.Umadelasjá
começounosemestre anterior,
quando
apautapassouserpropostaintegralmente pelos
alunos.Por
questão
dejustiça
aosautoresdasreportagenseparaseguir
umdos
princípios
da atividade doombudsman,
nesteespaço,nestaedição,
nãofaremos referênciaanenhumaprodução
específica
deste número.Assim,
oleitorpode
lere avaliaromaterialproduzido
semnenhumtipo
de influência.Masoferecemosumabreveavaliação
dos processos edas formas deprodução
queforam introduzidasnestenúmero.Todasasreportagensforam feitasem
equipe:
umpauteiro/produ
tor, um
repórter
e umeditor.Procuramos,dessaforma,
reproduzir
oqueé maiscomum nocotidiano das
redações.
Raramente orepórter
tema
oportunidade
de escolherapautaoudeproduzir
omaterial deseus
sonhos,
dedicar-se ao assuntoque theé maispróximo.Todos
osalunos
sugeriram
pautas,portanto,também,
exerceram essafunção
que éabase deumaboa
edição:
opauteiro,
aquele
quetemaprimeira
preocupação
com oqueojornal
iráoferecerao seuleitor.Após
adefinição
daspautasqueseriamlevadasadiante,
formaram-se as
equipes,
comrepórteres
eeditores quesedividiramnastarefasquecabiamacada
função,
sempre tendoemmenteaprodução
deumconteúdo uniforme. Opasso final foioeditore o
diagramador
defini rem osdesenhos daspáginas,
pensando
asfotose demaiselementosgráficos.
Oresultado desse
esforço conjunto
estánasmãosdo leitor.Aavaliação
dos processose osdestaques
daedição,
positivos
enegativos,
serãotratadoscom
profundidade
nopróximo
número,
até lá.ÂngeloRibeiro,professorda Universidade Federal de Santa Catarinaeresponsáveleditorial
pelo jornallaboratórioZero.
21lto
JORNAL
LABORATÓRIO
ZEROAno XXXII- N° 5- Setembro de 20:1.3 REPORTAGEM Ana luísaFunchal, Andressa Prates,ArturFelipeFigueira,
Bárbara Cardozo, Beatriz Carrer,Bruna
Andracle,
Daniel Lemes, Ernanuelle Nunes, FerMalldaCostç_t,
Rávio Crispim, luri Barcellos..Jéssica Sant'Ana, João. Paulo Fernandes, Karine Lucinçia, Luiza Lobo,Malia Luiza Buriham,MarianneT�mes,MarHiaQuezado,NatáliaPilati,Natália Porte,PatríciaCim,Patricia Pamplona,Patricia Siqueira,Rtcardo Pessetti,RosãngelaMenezes,SophiaRischbieter,TaynaraMacedo,Thaís
Jordão,
VanessaFariasEDIÇÃO
Ana CarolinaCerqueira,
AnaLuísaFunchal, Flavio.Crispim,João PauloFernandes,JuliaLindner,LilianKoyama, MarianaPetry,NatáliaPilati,Nícolas Quadro,Patricia Siqueira, Stefanie Damázio,ThayseSteinPROFESSORES-RESPONSÁVEIS
Ângelo.
Augusto Ribeiro,Géssica Valentini, LuCioBaggio
MONITORIAAnaPaula Mendes,JuliaAyresIM�SÃO
GráficaGrafinortenRAGEM 5milexemplaresDISTRIBUIÇÃO
NacionalFlECHAMENTQ25desetembro�
Melhor Jornal laboratório· IPrêmio Foca Sindicatodos JornalistasdeSC 2000
,
�
3° melhorJornal-laboratóriodo Brasil EXPOCOM 1994
������
MelhorPeçaGráfica SetUniversitário! PUC-RS 1988. 1989, 1990, 1991, 1992e 1998
Design:Ana Paula Mendes
+
A
busca
íncessante por
familiares
Santa
Catarina
quer criar
cadastro
único
para
integrar
os
dados das
polícias
civil
e
militar.
Joana
Xavier de Souza Lis
boa
desapareceu
em umdomingo,
dia 13 de marçode
2011,
aos33anos,depois
que
fugiu
dacasade repou so PensãoProtegida
HorizonteAberto,
nobairroCanasvieiras,emFlorianópolis.
Saiu apenas com a roupa do corpo, sozinha e semdocumentos.Suafamília nãoavê desdeentão. Oboletim de ocorrên
ciafoi realizado na 7a
Delegacia
de Polícia da
capital
e o casoéumdos
3.306
que permanecem abertosnos
arquivos
da Polícia Civil deSantaCatarina.
Amãe de
Joana,
LenoreXavier,
é
professora
da redemunicipal
deensino de
Florianópolis
há oito anos,ehá dezanosvivenobairroSantinho. Elaconta que
já
haviainternado a filha duas vezes em Todasassemanas,familiares de pessoasdesaparecidassereúnem naPraça daAlfândega, nocentrodacapital,àprocura derespostas clínicas
psiquiátricas
em PortoAlegre,
no Rio Grande doSul,
-sua cidade natal.
"Joana
apresentava sinais de
depressão
desde osdezoito anos, não
estudava,
nemtrabalhavae,desde
2007,
passavaos dias no quarto,falava
pouco",
revela. Seu caso entra,
também,
nos dadoscomputados pela
Polícia
Militar,
queregistraram
18.773casosde pessoas
desaparecidas
emSanta Catarina, no
período
de2005 a 2011.Destes,
42,7%
foramde
crianças
eadolescentes,
41,7%
de homense
15,6%
de mulheres.Mesmoassim,medidas
já
estãosendo tomadas
pelo poder públi
co estadual para que os casos de
pessoas
desaparecidas sejam
solucionados. Em 2012,foi criado o
programaSOS
Desaparecidos pela
PolíciaMilitar,
idealizadopelo
major
Marcus Roberto Claudino.Ele conta que escrevia uma tese
sobre pessoas
desaparecidas
paraa
pós-graduação
que realizou emAdministração
deSegurança
eacabou se envolvendo com o as
sunto."Criamoso
Grupo
deFamiliares e
Amigos
deDesaparecidos
Catarinenses em 2011. Esse tra
balho era voluntário e não tinha
ligação
com a Polícia Militar. Eutinha vários outros
projetos,
dentre
eles,
ode fazer umaforça
tarefa" diz.A
PMjSC
criou, então, aCoordenadoriadePessoas
Desapa
recidas,
que foi instituídapelo
governador Raimundo
Colombo,
em24 de outubro de
2012,
tornando-se referência no Brasil por ser a
única
corporação
militaraterumgrupodedicado exclusivamenteao
assunto.
LenoreXavier ainda recebe di
versas
ligações
emquepessoasre-latamfalsamenteteremencontra
doJoana. A Polícia
Civil,
mesmotendo realizadooboletim deocor
rência,
não tempessoal
sufíciente na
corporação
parainvestigar
o caso, nem todos os outros que
surgem em Santa Catarina. Para
resolveresse
problema,
será aberta,nodia24 de setembro de2013, a
primeira
delegacia
especializada
emdesaparecidos
doestado,
anexaà
Delegacia
deProteção
daCrian ça,Adolescente,
Mulher eIdoso,
no bairroKobrasol,
em SãoJosé.
Quem
assume o comando é o delegado Wanderley
Redondo que, dentre as propostas para o novotrabalho, pretende
fazer a "identificação
de cadáveresindigentes
no Instituto Médio
Legal
(IML)
e criar um banco de dados único
paraoestado". Além
desta,
outrasduas
delegacias
especializadas
funcionam no Brasil: em Minas Geraise noParaná.É
noSIC RIDE(Serviço
deInvestigação
deCrian çasDesaparecidas),
da PolíciaOs
telefones
181
e
190
recebem
informações
sobre pessoas
desaparecidas
Civil paranaense, que são feitas
as
progressões
e envelhecimentosdigitais
decrianças
desaparecidas
anosatrás.
A SecretariadeDireitos Huma
nos da Presidência da
República
(SDHjPR),
emparceria
com aRede Nacional de
Identífícação
eLeonore Xavier recebe diversasligaçõessobreo paradeirodesuafilha, Joana, desaparecida há 2anos
Localização
deCrianças
eAdolescentes
Desaparecidos (ReDESAP),
criou,
em2010,
oCadastroNacional de
Crianças
eAdolescentesDesaparecidos.
Ele conta,hoje,
com305 casos
cadastrados,
sendo que,destes,
apenasquatro são deSan taCatarina. Oestado quepossui
omaiornúmero de casoséoRiodé
Janeiro,
com 114crianças
cadastradas. O
Cadastro,
no entanto, édesatualizado e não
contempla
toda a
Federação, pois
recebe informações
desomente16estadosedoDistritoFederal.
O
principal
problema,
entretanto, relaciona-se aos casos
já
cadastrados
pelas
Polícias Civil eMilitar e no Cadastro
Nacional,
cujos
dados sãodesintegrados
edesatualizados. Para Gerson Ru mayor,
presidente
da ONG Portalda
Esperança,
aconfluênciaentretodos oscadastros é fundamental na tentativa de solucionar os
ca-sos de pessoas
desaparecidas.
Segundo ele,
agrande
maioria doscasos acontece por
fuga,
motivada, principalmente,
por conflitos familiares. "O que nosfalta é umtrabalho sério de
prevenção
nasescolas. Eu
já
tenteifazê-lo,
masnão obtive
apoio
para continuaro
projeto",
diz. Ele conta, ainda,
que a maiorpreocupação
sedá com os casos em que ocorre o
raptoda
vítima, pois
muitosdelesestão relacionados com o tráfico
internacional de pessoas e com o
tráfico de
drogas.
"Me preocupocom osriscosque sofrem
crianças
e adolescentes que são aliciadas
e
fogem
de casa. Há muitoscasosquenão são
anunciados;
crianças
desaparecem
e nunca são encontradas",
afima.Rumayor
ainda aponta a Assembleia
Legislativa
de Santa Ca tarina como a única no Brasil atratardotema,
porém,
sempre quemuda a
presidência
daCasa,
seutrabalhorecomeçanatentativade
criação
depolíticas públicas
noEstado.
Atualmente,
há doisproje
tos em
tramitação
nas comissõesdaALESC:o
primeiro
dispõe
sobrea
exibição
de fotos decrianças
eadolescentes
desaparecidos
nassalas de cinemado
Estado;
e o segundo
trata dacriação
doDia dacriança
e do adolescentesdesapa
recidosnodia 25 de
maio,
ambosde autoria do
deputado
SerafimVenzon
(PSDBjSC).
Mesmo com todas as medidas
que
já
estão sendo feitas paratentar solucionar efetivamente os casos de pessoas
desaparecidas,
Lenore ainda espera ter notícias desua filha. "Eu só quero que ela
esteja
bem,
mesmo que ela nãovolte paracasa".
FlávioToa551Crl5pim
flaviotoassi@gmail.com
Produção:Natália PilatiIEdição:Stefanie DamazioePatrícia CimIDesign:Ana Paula Mendes
literatura
e a
arte
de imitar
a
vida
Autores
comentam
a
relação
entre
o
mundo real
e a
representação
ficcional
no
cotidiano
Uma
dasdificuldades de pensar, definireclassificaraliteratura é
pensá-la
emtermosbinômios.Obeme o
mal,
ocertoe oerrado;
avida reale afantasia.Nela,
nãosão apenasdois caminhopossíveis,
um afavor,
outrocontra,umdeida,
outrode volta.Massim,
inúmeros,
quepodem
seafastar,
cruzar-se emdeterminadoponto,encontrarem-separa
seguir
uma mesmadireção
ou sechocarem.Paradiscutirosefeitos da literaturanocotidiano das pessoas,nesta
edição,
oZEROconversa comquatropessoasquevivemdiretamente delaoudareflexão sobreoofício literário:João
NilsonCarlos Schroeder é cronista fixo
-escreve todos os sába dos- dos
jornais,
A Notícia eO Correio do Povo. Entre seus
livrosmaisconhecidos estãoA
rosa verde e Ensaio do Vazio.
Em 2010, recebeu o Prêmio Clarice
Lispector
de Literatura,como melhor livro de contos
do ano, porAs certezas e as
palavras.
Alencar,
RaulAntelo,
MaiconTenfeneCarlos Schroeder.Paraeles,
fizemosalguns
questionamen
tos:Emquemomentoavida realseconfundecom aliteratura?
Qual
aprincipal função?
Comoultrapassar
afronteiraentreuma eoutra?Qual
aimportância
deseprovocaruma novamaneiradever
(ler)
omundo?Comasrepostas,oZERObuscouencontraras
possíveis (in)definições
do mundo real.Sabendo,
anteriormente,quepoderia
suscitar muito maisdúvidas do quecertezas.Asrespostasdos qua troentrevistadosatestamisto:aliteraturaé,
aísim,definitivamente,
umaexperiência
individual.Raul Antelo é
professor,
escritorecrítico literário. Leciona
as
disciplinas
Literatura Brasi leiraContemporânea
e Teoria Literária na UFSC. Ganhou,em2010, o
prêmio Destaque
Pesquisador
UFSC 50Anos.É
autordevárioslivros,dentreeles,
Transgressão
& Modernidade,Potências da
imagem,
Críticaacéfala,
AusênciaseMariacomMarcel.
Duchamp
nostrópicos.
Aliteratura quase sempre também é
ficcional,
portanto nãoseguiu
o seucaminho dase- há como separar totalmenteescri-guinte
maneira:umouvários tor-vida-leiter. Estão conectados. Oacontecimentos da vida do que ocorre é que há "obras"
pla-autor,das pessoas queesta-
nejadas,
racionalmente calculadas.vam a suavoltaoude
algum
Mas que, não raro das vezes, sefato queotenha chamado deixam
incorporar
por elementosatenção
paraa ---."surpresa",
ouseja,
do literatura.Como acaso, do desastre! existeocaminho da litera
turaparaa
vida cotidiana do leitor?
João Nilson Alencar é
profes
sorde
Língua
Portuguesa
elite ratura Brasileira noColégio
deAplicação
da UFSC. Terminouhá pouco tempo seu
projeto
de Pós-Doutorado na Universi dade Federal de Minas Gerais
(UFMG),
sobreoarquivo
doescritorMurilo Rubião, no Acervo dos EscritoresMineiros.
Maicon Tenfen escreve crô nicas semanais para o Diário Catarinenseecrônicas diárias
parao Jornal de Santa Catari na. Entre as suas obras mais conhecidas estão os livros de crônicas Mania de Grandeza
e A
culpa
é do Mordomo. Porduasvezesrecebeu o
primeiro
lugar
noConcurso Nacional deContos Paulo Leminski.
aquilo
que chamamos de literaturafoi isso. Senão ficariam de fora as
tragédias
gregase suarelação
com osrituaisdeculpa
eexpiação;
apoesiae suaconexãocomos
mistérios,
de Delfos aLezama Lima
passando
porRilke;
a narrativa e seupapel
cosmogônico,
deDante aArguedas,
sem esquecertradições
oraispelo
mundo afora. Uma das
impugna
ções (1929! Quase
umséculo!)
dogrupo de Bataille às
concepções
costumeirasresidia
justamente
nisso: aliteratura é o
mal,
aquilo
quelida com o
fragmentário, elusivo,
obscuro, enigmático.
Nãoéacumulação:
édispêndio.
Não écálculo eracionalidade: é êxtase. Aí entra são
João
da Cruz,Lautréamont,
ou mesmo RaulPompeia. Experimen
te ler Leminski sob esse
prisma. É
algo
a maisdo que um poetaleve eengraçado.
A literatura não lidacom a
imitação,
mas com a representação,
porém,
em todos os seussentidos,
até mesmo nopolítico,
que
é,
aliás, impossível.
É
umaJoão
Nilson Alencar
- Poderia dizer
que a literatura
é movidapordeci
sões,
afirmações
e por desastres. A vida Raul Antelo - Aprimeira
instân cia aquestionar
é o sempre do seuenunciado departida.
Ele revelauma
concepção
deliteratura,
romântica,
liberal,
ideal-formal. Nem sem D r erepresentação,
não necessariamente
mimética,
por meio daqual
asimagens
e ossignos
montam umteatro de
sombras,
o queconfigu
ra umarepetição,
umaencenação
atravessada
pelo
mimetismo, masnão necessariamente
pela
mimese.Passar
por
maus
momentos
faz
parte.
A
vida
não
é só
laranja
doce. Tem
o
limão
João
Nilson AlencarMaicon Tenfen - A ideia de um
autorsebasearemfatos da
própria
vida parecemeio
ultrapassada hoje
em
dia,
emboraissoseja
inevitávele, no mais dasvezes, bastante pro
dutivo. O caminho inverso é que
está
valendo,
ouseja,
vocêsebasear emoutrasobras paraescrever o seupróprio
conto,o seupróprio
roman ce.É
por isso quehoje
impera
adialógica
textual nosprodutos
culturais,nãosónos
livros,
mastambém nosfilmes,
nasmúsicas,
nosgames.Carlos Schroeder
-Existe,
e como. Um autorpode
terumaepi
fania lendoumlivroou mesmo es
crevendoumlivro.Eesteéo
grande
trunfo da
literatura,
transportar oleitorou oescritor paraoutro
lugar.
Um livro como "CarlotaFainberg"
do Munoz Molina fez com que eu
desistisse deumacarreiraacadêmi
ca, por
exemplo.
Nós somos a somadasnossas
referências,
somos tocados por todosos
produtos
culturaisque consumimosoucriamos.Então,
sim,
a literatura interfere na vidadas pessoasqueresolvem atravessá
-la.
Qual
afunção
da literatura?É
adeexerceresteimpacto,
essa
chacoalhada,
navida do leitor?Produção:PatríciaSiqueiraIEdição: TaynaraMacedoIDesign:Emanuelle Nunes
João
Nilson Alencar - Aliteratura, a
rigor,
serve para tudo ounão servepara nada. Ela faz par
te da vida enquanto
manifestação
cultural,
mas também enquanto vivênciaerealização pessoal
sejam
comoprodução
de"biografias",
ou"biografemas",
porqueemtodosos casos o que se busca éumafabulação,
comodiria Roland Barthes.Portanto, a literatura
pode,
sim,impactar,
emuito,
a vida do leitor, como, não deixa de ser raro,
passar incólume ao seu lado...
Raul ADtelo - Uma
pergunta
sartreana.Prefiro
respondê-la
com menorconfiança
na concretude.Ela éoque subsiste.
É
ummodo delertraçose
vestígios,
deseposicio
narperanteadisseminação
dosentido. Háumconceito salvacionista de literatura que pensa que alite
raturaé uma
celebração
paranãoesquecer os
antigos
eproverbiais
valores humanistas. Poderíamos
suspender
(e inverter)
essaabusivacrençafuncionalistaepensar,
pelo
contrário,
que a literatura é umainscrição
quesem cessardilata,
difereeindefinea
verdade,
tornandotodososvaloresmaisdensose con
sistentes.
o que
distingue
um relato dealgo
vivido paraalgo
vividonumaobraliterária?
Maicon Tenfen - Por
mais que
você
queira
ser fiel àrealidade,
uma obra deficção
é sempre umaobra de
ficção.
Osimples
fato de transferirmos umaexperiência
para a
linguagem
faz com queela se torne única e
independente
da sua referencialidade. As maio
res obras de
ficção podem
serjustamente
as que se baseiam narealidade mais comezinha. Em
contrapartida,
as narrativas maisfantasiosas
podem
acenar maisfortemente parao nossocotidiano.
Carlos Schroeder
-Toda literatura é de
alguma
maneiramemória,
a memória
pela
pa lavra. Gosto muito de um livro doJulian
Bar nes, intitulado "O sentido de umfim",
emque amemória éumanévoa,
que enganao
próprio
narrador.Bom, há cenas de
livros quesão tãovívi dasemminha
memória,
tãooumaisdo quecoisas que aconteceram
comigo.
A maçaincrustadanas costasdeGregor Samsa,
o sofrimento dospersonagens em "Não me aban
done
jamais",
o terríveluísque
de"Fup",
doJim
Dodge,
adesolação
em"Desonra",
doCoetzee.Enfim,
nãoimporta
se aexperiência
érealou
literária, depois
gue aconteceu,Nenhum
autor
que
tenha
juízo
pretende
difundir
qualquer
forma
de
verdade.
O
leitor
•
que
se VIre
para
encontrar
a sua
MaiconTenfen
ou que você
leu,
serámemória,
omesmopeso,a mesmamedida.
A
estética,
aperfeição
daliteraturacomo
obra,
écapaz de criarumarealidade
distinta da vida das pessoas, que passam aquerer viver como apersonagem que leu em
algum
livro?João
Nilson Alencar - A literaturaéumpontode cruzamento, mas também de "esvaziamento".
Na
fabulação
mencionada anteriormente,
não sóvivemosou trasvidas,
comofabulamos(não
é separadoo
conceito)
anossaprópria.
Assim,passar por"mausmomentos"
tambémfazparte.Avidanão é só
laranja
doce.Temolimão também.Otemaéinteressantepara pensara
literatura considerada por determi nado cânone de uma
época
como"má"ou "boa".
Apesar
determosavançado bastante,
atensão existe.Raul ADtelo- Aestéticanãocui
da da
perfeição.
Cuida da aisthesis, da
sensibilidade,
do contato edo
contágio.
E alógica
do traumabem
pode
ser umatalho,
mesmoque
indesejado,
para areiteração
da violência. O século XX, muitas
vezesdefinidocomo uma
época
deviolência,
decantouaprópria
memóriado Holocaustocomo um
paradigma
dessaviolência,
uma
categoria
analíticaque
interpreta
todaahistória do
passado
como um confronto binárioentrecarrascos e
vítimas,
esquecendo
alição
bau delairiana do heautontimoroumenos,o
castigador
desi
próprio.
Ao adotaresseálibi,
a violência permaneceinexplicada, porém,
estigmatiza
da para, com
perspectiva
apolo
gética,
legitimar
a ordempolítica
eeconômica,
de talsortequea sociedade demercadoe ademocracia
liberal,
comoimpolutas
antítesesdo
totalitarismo,
seriam as nossasúnicas tábuas de
salvação.
Nãocompartilho
esseargumento.Madame
Bovary,
deGustaveFlaubert,
trazaangústia
deEmma,
que nãoconseguiu
viveravida queencontrava
noslivros.Aliteratura cria modelos paraseremimita
dosoué somenteo
espelho
da vida? mil". Odesafioe abeleza da
vida,
vista
pela literatura,
équeaartede "montar"e"desmontar"osfatos émaisfascinantecomela.
dessa verdade?
MaiconTenfen - Nenhumautor
que tenha
juízo
pretende
difundir
qualquer
forma de verdade. Sóo
pessoal
daautoajuda
gosta defazer isso. Os literatos
problema
tizam a vida e a sociedade atra
vés de personagens, de
situações
hipotéticas,
de decisões narrativas.
Quanto
àverdade,
cada leitor que se vire para encontrar a sua.Maicon Tenfen - Flaubert faz uma crítica raivosa'à literatura romântica.Para
ele,
estafoiaperdição
de Emma,alguém
que não soube separarossonhosplantados
em sua mente
pelos
romances da realidadepedestre
desevivernumapequenacidade da
França
do sécu loXIX.Poroutrolado,
podemos
lera "crítica" de Flaubert como um
canto de louvor ao
poder
da artenavida das pessoas. Nesse
sentido,
Emmanão seriauma
vítima,
mas umaespécie
de heroína rebelde que seatreveaacreditarnas suasfantasias mais
profundas.
Há
algo
que reveleopo-der da
metalinguagem
namudança
decomportamento
das pessoasapós
aleitura dealguma
obra?Raul ADtelo - Posso inverter
a
questão
e dizer: há inúmerosexemplos
de sensibilidade anestesiada e insensível aos agen
ciamentos de
linguagem.
Tantosquantos leitores da mídia houver.
Carlos Schroeder
-Ninguém,
e esta é a
magia
daliteratura,
oleitor não vai
perceber
o texto damesmaforma queoescritor,eisso
é
ótimo,
múltiplas percepções
sãosempreumaportaaberta.
oserhumano cria esperan
çasa
partir
do queencontranaliteratura?
Asverdades doautor servem
também paraosleitores?
Quem
éoverdadeiro donoJoão
Nilson Alencar - Não hádonos da verdade.
Comoalite'tatura busca
explicar
es fatos da vidapor meio dos olhoseda
percepção
dosautores?Carlos Schroeder
-Acho que
não,
depois
que liCamus,
Kafka eDostoievski,
euperdi
asesperanças nahumanidade[risos].
Ricardo Pessetti
ricardo@pessetti.com
João
Nilson Alencar - Tãoimportante
quanto ver a vidaem uma tela
(pintura,
TV,
ou ummuro)
éacompanhar
osfatos "explicados"
porumautor.Naverdade,
aliteraturanão
responde pontual
mente por uma verdade "universal". Ela é livre para
seguir
seu caminho.
Importa
que
seja
Arvoredo: parque
ou
reserva?
Mudança
de
categoria
gera
conflíte
População
discute terceira
proposta
da
criação
do parque nacional
no
litoral catarinense
Nposta
do
projeto
de lei198/12
é transfonnar aserva
Biológica
MarinhaArvoredo,
localizadaenFlorianópolis
e Bombinhas,
allkm daCapital,
em umparque nacional. Isso
significa
permitir
a
visitação
pública
de uma área de17.600
hectares,
compostapelas
ilhas deGalés,
Arvoredo e Deserta epelo
Calhau deSãoPedro.
Atualmente,
asvisitassósão
permitidas
parafins deeducação
ambiental e depesquisa,
com
autorização
do Instituto ChicoMendes de
Conservação
da Biodiver sidade(ICMBio).
Planos para fazer da reserva um
parque nacional
já
foram oficializa dosemprojetos
de leique tramitam naCâmaradosDeputados
desde1997.Adiscussãoretomou
fôlego
em2012,
com umaterceiraproposta.Desta vez,dos
deputados Rogério
PeninhaMendonça
(PMDB/SC)
eEspiridião
Amin(PP/SC).
Mas um consenso parecemuitodistante.
"A
liberação
para parque, comovocê,
porexemplo,
tememFernandode Noronhae
Abrolhos,
garante cuidados. Na
região
doArvoredo,
faltafiscalização,
e a presença humanavai inibir atividades
ilegais,
como apesca",
argumenta amergulhadora
CibeleSanches.
"A
visitação
pública
não inibe apesca",
rebate o analista ambientaldoICMBioLeandro
Zago
Silva. "Essa atividadeacontece,normalmente,
noinverno e no
período
danoite,
en-quantooturismoéduranteodiae no
�
verão". Paraaatividade de fiscaliza-
[
ção
naReservadoArvoredo,
oICMBio contacomcincoservidores, embora,
na
avaliação
doanalista, seja
necessário
pelo
menos15.Do território marinho
brasileiro,
0,14%
sãode áreas deproteção
integral,
que envolvem dois parques(Fer
nando deNoronha,
PE;Abrolhos,
BA)
e duas reservas
(Arvoredo
eAtol dasRocas- localizadaentreRioGrande
doNortee
Pernambuco).
Em2012,
oBrasilassinou,na
Convenção
daDiversidade
Biológica,
ocompromisso
de aumentar a áreade
proteção
aomínimode10%,mas oprazo foipror
rogado
até 2020."Umgrande proble
maque nóstemosnoBrasiléquenão existe uma rede nacional de áreas
marinhas
protegidas.
É
muito complicado
recategorizar
qualquer
umdos parques, ou
qualquer
uma dasreservas, porque não existem outras para
compensar",
defendeoprofessor
de
ecologia
daUFSCAlberto Lindner.Ocoautordo
projeto
delei, depu
tado federalEspiridão
Amin(PP/SC),
defende,
com acriação
do parque,oestudo de uma atividade econômica
preservacionista. "É
possível,
sim.Aquela
área éumtesouro.Eéumtesouroque nós
podemos
visitardentro decertasregras, dentro deumplano
de
manejo,
para que possamosteralgumaatividade humana controladae
tambémcom chamamento turístico.
Ou sónoparque Fernanda deNoro
nha é que
pode
haverumaatividadeDesde1997,já foram oficializadosprojetos de lei pararecategorizaçãoda áreade 17.600 hectares
preservacionista?".
"Eu não considero Fernando de Noronhaumparque bem
sucedido",
contraria a
professora
deecologia
da UFSC Andrea Santarosa
Freire,
que
realizou,
noarquipélago,
umapesquisa
comcaranguejos
em três áreas: onde os turistasfrequentam,
onde é pouco
visitado,
eondeoaces-soé restrito. A
pesquisadora
observou que, de umlocal ao outro, háumadiferença sígníficatíva
na abundância,
no tamanhoe naefetividade dereprodução
daespécie.
"Fernandode Noronha parece bonito paraoturistaquevailá poruma semana.Maspra
quem trabalha ou mora no
local,
oparque tem muitos, muitos, muitos
problemas:
de lixoe excessodepopulação.
SeemNoronha,
que éumailhamuito
grande,
oturistajá
causa umimpacto
que é fácil dever,imagina
noArvoredo,
queé muitomenor",completa
AndreaFreire.Felipe Figueira titon.felipe@gmail.com .�
i
Ecoturismo
versus
preservação
Reserva do Arvoredoabriga36espéciesameaçadasdeextinção
]
� A Reserva do Arvoredo éa
uni-dade de
conservação
marinha do Brasil que maisabriga espécies
ameaçadas
deextinção:
são36
das 1.400espécies catalogadas.
Pelaimportância
de sua biodiversidade,
aregião
foi transformada emreserva em1990, através de um
decreto assinado
pelo
entãopresi
dente
José
Sarney.
Apescaéproibi
daemtodaa
região
e aprática
demergulho
só épermitida
na área sul dareserva.O
pescador
AnatórioFilho,
morador de
Bombinhas,
é a favor dacriação
doparque."Seeunão possopescarnessa
área,
quero,pelo
menos, ancorar obarco,
para escapar do mautempo,atéacalmarovento".Durante uma visita a Bombi
nhas,
oZEROconversoucom praticantes de
mergulho
em um dosdias de
operação.
"Hoje
mesmo, agenteviu diversos barcos fazendo pesca.E nãofoia
primeira
vez.Infelizmente,
é muito comumtantoa caça quanto a pesca dentro da
reserva",
relatou amergulhadora
Cibele Sanches.
O conflito de interesses tam
bém envolve
empreiteiros
e empresários
do setor de hotelaria. Atransformação
do Arvoredo emparque
implica
naconstrução
detrapiches. Pesquisadores
daUFSC,
porém,
defendem que a atividadehumana provoca
desequilíbrio
ambiental, ameaçando, inclusive,
areprodução
deespécies
de importância econômica,
como é o caso das lulas e dealguns peixes
quesão alvo dapescaartesanal.
"A luta
legítima
dospolíticos,
ou de certos grupos de
empresá
rios, caso tivessem mais informa
ções
científicas,
deveria ser poruma
campanha
para que nósconseguíssemos
colocaroutrasilhaseoutrasáreascosteiras como áreas
de
preservação,
e essas, sim, ondea
população
e asempresasdemergulho pudessem
acessar",
defendeo
professor
de botânica da UFSCLeonardo Rubi
Rorig.
O
biólogo
ecurador de um mu seumarinho,
LuísMartinsdaSilva,
morahá 30anos em Bombinhas e
acompanha,
há 23-época
emquefoi criadaa reserva-,oconflito de
interesses."Pior édo
jeito
que estáhoje,
todo mundo insatisfeito. Agente
vê,
infelizmente,
atividade de pescanasilhas,
agentevêopessoal
mergulhando
em locais que não épermitido,
e afiscalização
é muito difícil. Omelhor
jeito
é discutirumadivisão da
área,
paraagradar
oambientalista,
olobby
turísticoetambémos
pescadores."
(F.F.)
ZERO,
setembro de 2013i-
I
Natureza
e
diversão
f
I
Parque
ecológico
é
opção
de lazer
Localizado
próximo
à
UFSC,
área
no
Córrego
Grande atrai
até 850
pessoas por
semana
Visitantes encontramváriasespéciesde animais duranteo passeio
CONHEÇA
O
PARQUE
O
Parque Ecológico
doCórrego
Grande éumaáreaverde de 21,3hectares,
entreosbairrosCórrego
GrandeeSantaMônica.Olocal funcionatodosos
dias,
das 7hàs 18h.Comoambientedeeducação
ambiental,
oParque
temumprojeto
chamado FamíliaCasca,
que recebeóleo de cozinha usadoe transformaem sabão ebiodiesel. O
projeto
também reutiliza resíduos
orgânicos
paraacompostagem
feita dentrodo parque.
Atéos
primeiros
anosdo séculopassado,
aáreado parqueera umachácara para
produção
deleite,
cuja vegetação
eracomposta
porcapim.
Nadécada de
1940,
ogoverno fez da áreaumabase para reflorestamentocom
pinus
eeucaliptos.
Porém,
apartir
de1991,
essasárvoresforamsendo
gradativamente
substituídas porespécies
nativas.Em
1994
foi criadooParque Ecológico
doCórrego Grande,
apartir
deuma
aliança
entreIbama,
PrefeituraMunicipal
deFlorianópolis
eComcap
(Companhia
de MelhoramentosdaCapital),
masfoi interditadoem29de setembro domesmoano,
quando
aqueda
deumaárvore dentro doParque
matouduas pessoas:umpai
eseufilho.Onovo
Parque Ecológico
doCórrego
Grande foi reaberto definitivamenteà comunidadenodia 3 de dezembro de2001,
depois
deseteanosinterditado para
visitação.
Noanode2002,oParque
recebeuo nomedeParque
Ecológico Municipal
ProfessorJoão
DavidFerreiraLima,oqual
permaneceaté
hoje.
.
O
que maischama
atenção
de quem visita o
Parque
Ecológico
doCórrego
Grande,
emFlorianópo
lis, pela primeira
vez é adiversidade.Nãosó de
plantas
eanimais, mastambém de pessoas. Duas
mulheres doMovimento Hare Krish
na,umcasalcom um
bebê,
crianças
correndo,
idosospraticando
exercícios físicos e uma mulher correndo por umadas trilhasprincipais
do parqueé o que
pode
servistoem uma manhã de sol. Oficialmente chamado de
Parque
Ecológico
Municipal
Professor DavidFerreiraLima,oambienteécercado pormatanativae
possui
quadras
de futebolevôlei deareia,
pistas
decaminhada,
academiaao arlivre,
áreaverde, paleo coberto,
parqueinfantil,
mesasparapiquenique
emuitos ani mais.Normalmente,
oParque
éfrequen
tado por
famílias,
pessoas que buscamestar
junto
à natureza,praticar
atividades físicasao arlivreecaminhadas.
Durante asemana,olocal recebe de
60 a 80 pessoas pordia. Nos fins de
semana, são maisde 500 pessoas que
frequentam
oambiente.Asprincipais
atrações
paraascrianças
sãoosani mais e oparquinho,
que contacombalanço, escorregador,
cordasepneus.Osadultos vêmembusca deum am
biente
tranquilo,
seguroe emcontatocomamata.
Amrtananda Devidase e
Kalyana
Kishori costumam visitar o parque
todososdiasparafazersuas
orações
ecantaromantraHareKrishna.Comuma
espécie
de rosárionamão,
denominado
japa-mala,
feito de108contasde
madeira,
Amrtananda dizque"to-dosos seresvivos sãoalmas
espirituais
eprecisamos
viveremharmoniacom omundo.É
porisso que viemosaqui.
Estar
aqui
éestaremsintoniacom anaturezae com os
animais",
afirmaela.
Foram osanimais quemais
inte-.OVlu I
nte
t,
�
1·à1
CIO!
eco�ógf,tt
cerca
aile
de�
V(zes
naior
nos
fins
de
iemana
ressaram os35 alunos da CrecheMu
nicipal
Doralice Teodora Bastos quevisitaram o
Parque
naquarta-feira,
11de setembro.Entre
gritos
de "Olha láojacaré!"
ou"Prof. deixaeuirver ocoelhinho?",
frasesrepetidas pelas
crianças,
seteprofessoras
sedividiampara cuidar daturma.
Enquanto
segurava firmeamãodeummeninona
grade
quecerca oespaçodojacaré,
aprofessora
Gisele Abreu Guilherme diz que "dá trabalhotrazerelesaqui
porcausada correria,masvale a pena,
principalmente
porque eles conseguem entender melhor os animais queestudamemsala de aula".Ases
pécies
maiscomuns noambientesãotartarugas,
cágados, coelhos, jacaré,
saguis,
patos,gansos,galos
egalinhas.
Asaulas de yoga tambémsãoum
bom atrativo para quem procura o
parque para estar em sintonia com anatureza.Entrepequenas trilhase
imitações
de animais com os movimentosdo yoga,osalunos acabamre
laxando. Rozelene Soares
aproveitou
a
quarta-feira
de sol paraexperimen
taraaula
pela primeira
vez egostou."Eu tenhoumavidamuito
sedentária,
passo quasetodososdiasemcasa,então vim
aqui
porque acredito que anaturezaéumbom
lugar
paraestar. Comcertezanaquarta-feira
quevem euvolto."Nofinal daaula,
cadanovoaluno recebeumasementeda árvore
Guarapuvu,
árvoresímbolo de Florianópolis,
além deinstruções
de comoplantar
ecuidar daespécie.
A instrutoraMônica Sant'Anadá aulas
gratuitas
noParque
desde2006,
poriniciativa
própria.
"Eu propus àadministração
eeles aceitaram, masnãorecebo nenhum
tipo
deincentivo",dz. Os gastos com material são
provenientes
daAssociação
EcoCultural
Córrego Grande,
formadapela
professora
equalquer
aluno que seinteresse e
queira
contribuircomR$
20por
mês.CarlosLorenzoeMariade Fátima
sãodeSãoPauloeestãonaIlha para
visitarafilha.Ouviramfalar doPar
que,
aproveitaram
para conhecer eadoraram.
"É
umlugar
ótimo pararelaxar,
desde quechegamos,
hácincodias,
estamosvindo sempre para darumacaminhadaetirarfotos dosani
mais",
contaomarido.Carlos
Dagoberto
mora em Florianópolis
efrequenta
oParque
háanos,maséa
primeira
vezquetrouxeaneta,Alice. "Euquero queelacresça
aprendendo
aimportância
de preser var anatureza.É
umapena queexis tam tão poucoslugares
como esse",argumentaele.
Beatriz Carrer beacarrer@gmail.com Produção.JéssicaSant'anaIEdição: ThayseSteinIDesign:ManiaQuezada