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TÍTULO: RUPTURA DE VÍNCULOS NA INFÂNCIA: UMA APROXIMAÇÃO DA VIVÊNCIA DE ADOLESCENTES ABRIGADOS

TÍTULO:

CATEGORIA: CONCLUÍDO CATEGORIA:

ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS ÁREA:

SUBÁREA: Psicologia SUBÁREA:

INSTITUIÇÃO(ÕES): FACULDADES DE DRACENA INSTITUIÇÃO(ÕES):

AUTOR(ES): LARISSA POSTINGUE RAMALHO, KAREN NADINE CARDOSO AMARAL AUTOR(ES):

ORIENTADOR(ES): ANDRÉA FRIZO DE CARVALHO BARBOSA ORIENTADOR(ES):

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1. RESUMO

A adolescência é um período que envolve modificações físicas, cognitivas e psicossociais. O jovem precisa de apoio e de alicerce estrutural para o seu desenvolvimento e a família desempenha um papel fundamental. Porém, algumas famílias apresentam certas dificuldades, gerando com isso um ambiente desfavorável, onde medidas de proteção precisam ser utilizadas, como o abrigamento. O objetivo deste estudo foi conhecer o comportamento do adolescente em situação de abrigo diante da ruptura de laços afetivos durante a infância e refletir sobre o impacto na construção psíquica do sujeito sob a ótica psicanalítica. Para tal, foi realizada a análise de 04 (quatro) prontuários de adolescentes em situação de abrigo atendidos na Clínica Psicológica mantida pela Faculdade de Dracena no ano de 2017. Todos os prontuários possuíam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os prontuários foram analisados de acordo com o proposto pela técnica de análise temática de conteúdo, sendo identificadas seis categorias: os motivos da ruptura de vínculos, a família, o abrigo, o ser adolescente, os planos futuros e a psicoterapia. Constatou-se a partir deste estudo uma constante ambivalência nos sentimentos dos adolescentes abrigados em suas relações afetivas e sociais. Assim como, evidências de que eles precisam de uma melhor assistência, que garanta não só cuidados físicos, mas também psíquicos, que possam preservá-los de rompimentos de vínculos repetitivos que prejudicam ainda mais a sua autoestima, segurança e esperança em outras possibilidades de se relacionar e viver no mundo, diferentes daquelas experienciadas em sua infância e adolescência.

2. INTRODUÇÃO

2.1. O ADOLESCENTE E SUA FAMÍLIA

A adolescência é um longo período de transição entre a infância, marcada por uma dotação genética, relacionamentos primários e inserção no ambiente social, e a idade adulta que envolve grandes mudanças físicas, cognitivas e psicossociais. É uma vivencia essencial para a construção de uma identidade nova, sendo rodeada de confusões e conflitos necessários para que estes possam reeditar seus vínculos, sentimentos primários e reorganizar-se em busca de um novo equilíbrio. Considera-se que a adolescência Considera-se inicia na puberdade Considera-sendo um processo que resulta no rápido crescimento em altura e peso, mudanças nas proporções e forma do corpo, a chegada da maturidade sexual, sinalizando assim o fim da infância (PAPALIA, OLDS, FELDMAN, 2006; CONTINI, KOLLER, BARROS, 2002).

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A adolescência é caracterizada por estereótipos que destacam a rebeldia, a instabilidade afetiva, tendência grupal, crises religiosas e de identidade (CONTINI, KOLLER, BARROS, 2002). O confronto com as desarmonias, e com as crescentes noções de desconhecer como serão no futuro vem acompanhado de diversos e flutuantes estados afetivos. É isso que explica as bruscas mudanças de humor, bem como flutuações bruscas da autoestima (GRANÃ, PIVA, 2004).

O alicerce estrutural para o desenvolvimento da criança e do adolescente éà família, pois esta é a primeira referência do sujeito e é conhecida como um dos pilares na formação do indivíduo. Desempenha um papel fundamental na transmissão da cultura e representa um sistema de transmissão de crenças, valores, educação e linguagem, disseminando estruturas de comportamento e de representações de acordo com o processo de humanização (DESSEN, POLONIA, 2007).

2.2. FAMÍLIA E ABRIGAMENTO

A estrutura familiar é necessária para o apoio social e prevenção de comportamento de risco a saúde, é um espaço indispensável para a garantia da sobrevivência, do desenvolvimento e da proteção integral do adolescente. Os laços e vínculos familiares funcionam como suporte e apoio para a diminuição de vulnerabilidade e aumento de integração social (AZÔR, VECTORE, 2008). É a família que consegue exercer um papel protetivo e ajuda a mediar o impacto dos estressores na vida dos adolescentes (WATHIER, DELL’AGLIO, 2007).

Entretanto, nem sempre as famílias estabelecem uma rede de apoio funcional ou satisfatória, pois há diversos problemas e desafios a serem enfrentados (DESSEN, POLONIA, 2007). Quando as famílias não conseguem exercer seu papel protetivo podem ser utilizadas medidas de proteção como o abrigamento, previsto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (FURTADO, MORAIS, CANINI, 2015).

As casas de abrigo são organizadas em unidades que favoreçam uma relação afetiva de tipo familiar, uma vida diária personalizada e a integração com a comunidade (MAGALHÃES, MORAIS, CASTRO, 2011). Sendo possível observar assim a importância do ambiente em que o jovem está inserido como propulsor de sua saúde, porém alguns abrigos falham em oferecer a segurança afetiva que eles necessitam para seu desenvolvimento. Os efeitos adversos do abrigamento provêm da qualidade da instituição na qual o jovem é abrigado (BARROS, FIAMENGHI JR, 2007).

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2.3 O DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO E A RUPTURA DE VÍNCULOS

O ambiente de desenvolvimento do indivíduo é importante para a vinculação afetiva, o que vai ser responsável pelo estabelecimento na criança da confiança e segurança para explorar e aprender o mundo. Seu desenvolvimento emocional pode se dar dentro de um ambiente que facilita ou dificulta a evolução da realidade psíquica, por isso ela necessita de um ambiente adequado, que proporcione cuidados maternos, que irão favorecer que a pessoa consiga alcançar um estado de integração, personalização e adaptação à realidade. O desenvolvimento social se dá devido a essa capacidade de manter relações e interações (AZÔR, VECTORE, 2008).

A separação da criança ou do adolescente de seu âmbito familiar pode provocar uma crise nessa pertença, assim não se pode fazer projetos, perde-se uma pertença de um lugar conhecido e passa-se a outro incerto (GRAÑA, PIVA, 2004), intensificando sentimentos de desproteção, abandono e rejeição (TRINCA, 2013). 3. OBJETIVO

O objetivo deste estudo foi conhecer as mais frequentes manifestações do comportamento do adolescente em situação de abrigo diante da ruptura de laços afetivos durante a infância e refletir sobre seu impacto na construção psíquica do sujeito sob a ótica psicanalítica.

4. METODOLOGIA

Esta pesquisa foi desenvolvida através de uma análise de prontuários da Clínica Psicológica mantida pela Faculdade de Dracena (Unifadra), situada na cidade de Dracena/São Paulo.

5. DESENVOLVIMENTO

Foram utilizados os prontuários de 4 (quatro) adolescentes em situação de abrigo que realizaram acompanhamento psicoterápico no ano de 2017, sendo três (3) do sexo feminino e um (1) do sexo masculino, com idades entre 13 e 17 anos. Todos os prontuários possuíam o TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido) que autoriza a utilização das informações para fins de estudo e produção científica, salvaguardada a identidade do usuário.

Para análise dos prontuários foi utilizada a técnica de análise temática de conteúdo descrita por Cavalcante, Calixto e Pinheiro (2014). E as interpretações finais deste estudo foram apresentadas na ótica psicanalítica.

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6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da realização da análise dos prontuários foram identificadas seis categorias temáticas:

6.1. OS MOTIVOS DA RUPTURA DE VÍNCULOS: esta categoria apresenta fatores envolvidos na ruptura de vínculos familiares: óbito do cuidador, abandono, rejeição, agressão e patologia psiquiátrica do genitor.

A morte de um dos genitores é uma das experiências mais marcantes na vivência de uma criança, nesta situação ela depara-se com desamparo e impotência. Perde o mundo que conhecia, passa a estar de luto. A partir do luto, diante da morte, a criança vai se reconstruir, sendo este um grande desafio emocional (FRANCO; MAZORRA, 2007).

Constata-se pelos relatos que os adolescentes abrigados que passaram pela perda, ainda experienciam tal luto e buscam tentativas de se reconstruir e dar significado a suas vivências, entretanto esta fase é passada de forma solitária, visto que não há o amparo adequado para sua individualidade dentro do contexto de abrigamento.

Nos demais prontuários aparecem o abandono, a rejeição, a agressão e patologia dos genitores como causas da ruptura. Segundo Adrados (1966), a rejeição refere-se ao ódio, hostilidade e atos de aversão e indiferença que os pais operam em relação aos filhos, tendo os motivos armazenados de forma inconsciente. Essas atitudes podem manifestar-se em forma de agressões e punições físicas e psicológicas. Tudo isso, gera uma deficiente incorporação das figuras parentais e marcas permanentes na personalidade do indivíduo.

Quando o que aparece é uma patologia do genitor, Silva e Koch (2015) afirmam que a doença pode gerar a perda de habilidades sociais dificultando e incapacitando o indivíduo de cuidar de si mesmo e interagir com a família. Assim, a família, e principalmente os filhos sentem-se desamparados, com extrema sobrecarga familiar (tanto econômica ou emocional). Cuidar e conviver com um familiar portador de um transtorno mental altera os planos e projetos para o futuro, fazendo com que o filho passe a conviver com a realidade construída a partir do diagnóstico, dentre elas, uma possível ruptura de vínculo e abrigamento.

Essas são diferentes formas de ruptura, entretanto associam-se pela perda de segurança e confiança que um filho possui em relação a seu genitor, gerando

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consequentemente atitudes de insegurança e de desconfiança em suas relações com o mundo.

6.2. A FAMÍLIA: essa categoria apresenta o modo como à família é vista pelo adolescente após a experiência de ruptura de vínculos familiares.

A família é percebida pelos adolescentes como de extrema importância o que gera, de acordo com a maioria dos prontuários analisados, saudade e desejos de reaproximação, pois, como afirma Winnicott (2012), a unidade familiar propicia uma segurança fundamental ao indivíduo, e a ausência desta terá efeitos sobre o desenvolvimento emocional e poderá gerar danos à personalidade e ao caráter do sujeito.

Dois dos prontuários evidenciaram também outro sentimento, a raiva em relação aos genitores, principalmente em relação à figura paterna. Tal sentimento aparece diante das atitudes agressivas e violentas muitas vezes vivenciadas pelo adolescente na relação do pai com a família.

A presença do pai facilita a visão e a interação da criança em relação da família para a sociedade. A partir desta figura será permitido acesso a agressividade e capacidade de defesa da criança, desta forma ao ter seu pai próximo à criança passa a sentir-se mais segura. O pai representa o equilíbrio para o sujeito investir-se no mundo real. Há a necessidade do apoio, segurança e dos valores transmitidos pela figura paterna (BENZIK, 2011).

A insuficiência do pai possibilita a transgressão da lei, pois é através deste que a criança passa a conhecê-la. Há a função castradora do pai simbólico (que interdita o desejo infantil), onipotente e narcísico, permite a identidade da criança, estabelecendo limites e crenças a serem preservados (NOGUEIRA, 2000). Por conta da ausência, rejeição ou agressividade do pai é instituído no indivíduo um vazio, pois passa a ter uma noção de não ser amado pelo genitor, causando consequentemente uma desvalorização de si (BENZIK, 2011). Torna-se evidente que o comportamento agressivo do pai gera na criança e, consequentemente no adolescente, um desequilíbrio em sua interioridade, os filhos não possuem o apoio e segurança que é incumbido ao pai e este, ao agredir a criança, não permite ao filho a liberdade para expressão de sua agressividade natural.

Assim como com relação ao pai, também aparecem sentimentos negativos relacionados à mãe. Winnicott (2000) aponta que os cuidados iniciais são decisivos na primeira infância. Desta forma, torna-se evidente que as referências dos pais são

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decisivas para a subjetividade do jovem, para sua imagem corporal, objetos identificatórios, valores e papéis. A erradicação dessas referências priva a criança dos seus significantes básicos (NOGUEIRA, 2000).

6.3. O ABRIGO: esta categoria apresenta os sentimentos manifestados pelos adolescentes frente as suas experiências na casa abrigo.

Os adolescentes trouxeram dificuldades relacionadas à adaptação frente às regras da instituição e a complexidade nos relacionamentos entre os abrigados (desentendimentos). Notaram-se alguns sentimentos negativos relacionados ao abrigo, tais como, tristeza, solidão, restrição, impotência, isolamento e insegurança, todos aparentemente relacionados às limitações impostas pelo abrigo no intuito de impor regras e controlar a expressão dos comportamentos dos abrigados. Assim como, sentimentos positivos, colocando o abrigo como local de segurança e acolhimento, quando comparado com as experiências de risco vivenciadas anteriormente. Desta forma, notam-se nos adolescentes abrigados também sentimentos ambivalentes e contraditórios com relação ao abrigo.

O abrigo deveria ser organizado para possibilitar o desenvolvimento adequado do indivíduo e constituir um espaço de promoção de vínculos seguros. No entanto, comumente nota-se que nestas instituições há uma alta rotatividade dos profissionais, o que reedita a experiência de separação vivenciada pelo sujeito abrigado (NOGUEIRA, COSTA, 2005). Além disso, são mais fechados em relação ao mundo exterior com a imposição de rotinas rígidas, com menores oportunidades para adquirir ou praticar aptidões, sem reforços e elogios (VECTORE, CARVALHO, 2008). Segundo Nogueira e Costa (2005), há no abrigo as chamadas “pequenas violências”, atos que aparecem de forma sutil, ficam “escondidas e passam despercebidas”. Essas violências são marcadas pela ação do adulto dentro do abrigo ao ignorar e desconsiderar as necessidades e manifestações dos jovens abrigados.

6.4. O SER ADOLESCENTE: esta categoria revela como estes vivenciam esta etapa da vida (a adolescência) segundo suas possibilidades e experiências anteriores.

Foi possível notar na maioria dos prontuários que os jovens estavam envolvidos em relacionamentos amorosos, buscando projetos para o futuro e manifestando preocupações sociais, todos comportamentos e pensamentos muito próprios da adolescência. No entanto, foi percebida uma maior dificuldade de

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vinculação entre adolescentes abrigados, pois suas experiências de ruptura os deixam mais inseguros para formar novos laços, dificultando assim, sua relação com o outro.

Dois prontuários analisados evidenciam uma forte angustia frente ao julgamento da sociedade quanto à situação de abrigado. Estes resultados, segundo Wendt e Dullius (2017), apontam que os jovens institucionalizados são rotulados socialmente e que a prevalência é sempre de imagens sociais negativas vinculadas, sobretudo, as características de comportamentos como “agressivo” e “rebelde”. Os adolescentes no geral recebam rótulos negativos, porém, esse processo é ainda mais acentuado quando referido a jovens em situação de vulnerabilidade e risco, como os que se encontram abrigados.

6.5. OS PLANOS FUTUROS: nessa categoria são apresentados relatos do que os adolescentes desejam e esperam do futuro.

Nesta temática foi possível perceber que a metade dos jovens (2) demonstravam uma grande solidão e o desejo de ter contato com seus familiares. Para Winnicot (2012) não importa o quão simples o lar do sujeito possa ser, o adolescente sempre irá escolher sua residência mais do que qualquer outro lugar, pois para o indivíduo a unidade familiar proporciona uma segurança essencial.

Além de procurarem um futuro ao lado da família, foi ainda evidente a busca dos adolescentes por independência financeira. Segundo Justo (2005) a adolescência é o período de passagem do círculo familiar para um meio social mais amplo, o mundo, a entrada neste universo consiste na busca de autonomia e de independência, o desejo de ter reconhecimento social.

6.6. A PSICOTERAPIA: essa categoria revela como foi à vivência dos adolescentes frente à terapia e o que ela possibilitou em sua vida.

A grande maioria (3) revelou forte resistência inicial à psicoterapia, descontentamento com a obrigatoriedade em frequentar e dificuldade em confiar em outras pessoas. A resistência, segundo Ventura (2009), aparece como barreiras para que não ocorra o enfretamento de novas situações, ou seja, aparece como tentativa de evitar que alguns sentimentos sejam revividos e como proteção das mudanças subjetivas que podem ser ocasionadas pela psicoterapia.

Apesar da resistência e de uma fala lacônica dos jovens inicialmente, foi notada uma maior participação dos mesmos no decorrer do processo psicoterápico, favorecendo assim uma reflexão sobre suas inseguranças e sentimentos acerca do

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passado, presente e futuro. Percebeu-se que a psicoterapia contribuiu para a autoconfiança e segurança dos adolescentes frente a algumas situações que foram trabalhadas, assim como mudanças de comportamento e sentimentos nos momentos de angústia. Mesmo assim, notou-se que a maioria dos adolescentes foram desligados do serviço pelo excesso de faltas.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da análise dos quatro prontuários constatou-se uma constante ambivalência nos sentimentos desses adolescentes em suas relações afetivas e sociais. A família hora foi apresentada como um lugar de extrema importância, saudade e com desejos de aproximação, porém, ao mesmo tempo, apareceram sentimentos de raiva, ressentimento e tristeza. O abrigo em alguns momentos foi apresentado como um lugar de segurança, de proteção, cuidado, porém foi associado, diversas vezes, a “uma prisão”, pela presença de regras e punições, ou de favorecedor de novas rupturas (irmãos, equipe técnica, terapeutas), gerando sentimentos de raiva, solidão, privação e desamparo. Os encontros psicoterápicos em alguns momentos foram muito rejeitados e não desejados e, em outros, parecia existir no discurso um desejo verdadeiro do adolescente em participar das sessões e de se vincular com o terapeuta.

Diante dessa situação e ambivalência, nota-se que existe no adolescente abrigado uma permanente confusão de sentimentos e ideias, pois ao olhar para sua vida e suas experiências, se depara com lembranças afetivas e positivas e rupturas e experiências dolorosas, dificultando no momento atual sua vinculação com o mundo e sua abertura para novas experiências e relacionamentos.

Outra questão importante remete as experiências destes jovens diante da condição de ser adolescente. Foi observado que, assim como todo adolescente, existem angústias relacionadas às relações amorosas e projetos para o futuro, no entanto, eles se diferem dos demais adolescentes, pois referem maior preocupação com seus planos de futuro, revelando certa insegurança e temor, já que não podem contar com o apoio familiar e que a condição de abrigamento torna-se um estigma social, ou seja, marca o seu portador como desqualificado ou menos valorizado.

Conclui-se assim, que há a necessidade de maiores e mais aprofundados estudos nesta área, para realmente identificar, nomear e compreender de modo mais amplo, os impactos das rupturas de vínculos familiares na infância na vida de adolescentes abrigados. No entanto, não há dúvidas de que estes adolescentes

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precisam de uma melhor assistência, que garanta não só cuidados físicos, mas também psíquicos, preservando-os de rompimentos de vínculos repetitivos que prejudicam ainda mais a sua autoestima, segurança e esperança em outras possibilidades de se relacionar e viver no mundo, diferentes daquelas experienciadas em sua infância e adolescência.

8 FONTES CONSULTADAS

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Referências

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