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AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO DE UNIDADES HABITACIONAIS DO CONJUNTO ANTÔNIO MARIZ, JOÃO PESSOA-PB

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2º. Simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto no Ambiente Construído X Workshop Brasileiro de Gestão do Processo de Projeto na Construção de Edifícios

03 e 04 de Novembro de 2011 – Rio de Janeiro, RJ – Brasil

AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO DE UNIDADES

HABITACIONAIS DO CONJUNTO ANTÔNIO MARIZ,

JOÃO PESSOA-PB

Post-Occupancy Evaluation of residential units in the suburb of Conjunto Antônio Mariz, João Pessoa-PB

Ana Emília Fernandes Lacerda

Graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Paraíba

| e-mail: milinha_lacerda@hotmail.com | CV lattes: http://lattes.cnpq.br/7185453346537812 |

Flávia Maria Guimarães Marroquim

Professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba |e-mail: fmarroquim@ig.com.br | CV lattes: http://lattes.cnpq.br/0108016828405904 |

Sayonara de Souza Andrade

| e-mail: sayonara_andrade@hotmail.com |

RESUMO

As unidades de programas habitacionais de financiamento construídas no Brasil são frequentemente modificadas por seus moradores por motivos de caráter funcional, simbólico ou econômico. Essas modificações quase sempre evidenciam a falta de sintonia entre o projeto arquitetônico original e as respostas às necessidades de seus usuários. Nesse contexto, o presente trabalho analisou as modificações realizadas em unidades residenciais de um conjunto habitacional localizado na cidade de João Pessoa-PB, em relação ao seu projeto original. A metodologia fundamentou-se na Avaliação Pós-Ocupação (APO), com aplicação de questionários, entrevistas e levantamentos físicos. Comprovou-se que grande parte das reformas encontradas, foi executada principalmente por necessidade de uma melhor habitabilidade e adequação funcional dos ambientes às necessidades domésticas de seus ocupantes. Como resultado deste trabalho, ressaltou-se a importância de se procurar obter um melhor entendimento sobre as reais causas das modificações feitas pelos usuários, para auxiliar os projetistas na construção de habitações flexíveis que permitam ampliações e alterações sem diminuir a qualidade espacial original da moradia e o conforto ambiental.

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ABSTRACT

The units of low-cost housing programmes constructed with public financing in Brazil are frequently modified by their residents for functional, symbolic or economic reasons. These modifications frequently make evident the lack of harmony between the original architectural project and their answers to the users' needs. In this context, the present work analyzed the modifications made in residential units of a low-cost housing estate in the city of João Pessoa, in relation to the original project. The methodology is based on the Post-Occupancy Evaluation (POE) with the use of questionnaires, interviews and physical measurements at the location. The study proved that the majority of the modifications encountered were related mainly to reasons of habitability and the functional adequacy of the rooms to the occupants' domestic needs. As a result of this work, we emphasise the importance of trying to obtain a better understanding of the real causes of the alterations made by the house users to aid planners in the construction of flexible housing that allow enlargements and modifications without reducing the original spatial quality and environmental comfort of the house.

Key-words: Post-Occupancy Evaluation (POE). Low-cost housing. House alterations

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INTRODUÇÃO

Desde 1964, quando foi implantado o Sistema Financeiro da Habitação (SFH), a alternativa encontrada pelo poder público para redução do déficit habitacional tem sido a construção de conjuntos residenciais populares. A localização desses conjuntos em periferias ausentes de infraestrutura justifica o baixo custo dessas unidades, e possibilitando a produção em larga escala de moradias (padronização) destinadas à população de menor poder aquisitivo. A padronização da construção acaba gerando moradias impessoais, sem referências com a diversidade de moradores que ali irão habitar. Além disso, as moradias são produzidas com ambientes e dimensões mínimas, visando diminuir o custo das obras. Segundo Digiacomo (2004), a padronização por si só não é negativa; ao contrário, baratear o custo da edificação é uma solução bem-vinda. O ponto negativo é que esta padronização se baseia em suposições sobre as vidas dos futuros moradores. Tais condições acarretam em modificações tanto internas quanto externas nas unidades realizadas pelos moradores para aferir identidade ao seu lar e para adequar a residência de acordo com a sua necessidade familiar (MARROQUIM, 2007; BONATES, 2009).

Desta forma, a construção de habitações de interesse social flexíveis que permitam ampliações e modificações sem diminuir a qualidade espacial original da habitação é uma solução para minimizar os problemas citados acima (SZÜCS, 1998; DIGIACOMO; SZÜCS, 2003; DIGIACOMO, 2004).

O conceito de flexibilidade vem sendo interpretado de forma variada, por diversos autores, associado a diferentes modos de adaptação do espaço arquitetônico. Assim, alguns autores defendem a importância da flexibilidade na ocupação inicial dos espaços (flexibilidade inicial) e/ou ao longo de sua utilização (flexibilidade contínua, funcional ou permanente), justificada, principalmente, pela necessidade contínua de novos sistemas de serviço, instalações e equipamentos (BRANDÃO; HEINECK, 2003 apud MARROQUIM, 2007). Ainda segundo Hertzberger (1999), “o essencial, portanto, é chegar a uma arquitetura que, quando

os usuários decidirem dar-lhe um uso diferente do que foi originalmente concebido pelo arquiteto, não seja perturbada a ponto de perder sua identidade”.

De maneira geral entende-se que qualquer edificação sempre deve procurar atender ao máximo às necessidades dos futuros ocupantes do espaço. Através da aplicação de procedimentos realimentadores, especialmente a APO, é possível minimizar erros e aproximar a concepção projetual dos desejos efetivos dos usuários nas fases iniciais do

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projeto - “(...) quanto mais contemplado o usuário fosse nas etapas iniciais do processo de

projeto, menores os riscos de equívocos nas etapas seguintes (construção, uso, operação e manutenção), que são significativamente mais onerosas em termos de manutenção corretiva” (FABRICIO; ORNSTEIN; MELHADO, 2010:08).

Nesse contexto, o presente trabalho analisou as modificações realizadas em unidades residenciais de um conjunto habitacional localizado na cidade de João Pessoa-PB, em relação ao seu projeto original, de modo a reconhecer a forma como os moradores se apropriaram dos espaços internos e externos, além dos motivos que os levaram a realizar modificações em suas moradias.

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O CONJUNTO HABITACIONAL ANTÔNIO MARIZ

O Conjunto Habitacional Antônio Mariz foi executado e financiado pela CEHAP (Companhia Estadual de Habitação Popular), para atender a uma população com faixa de renda entre 1 e 5 salários mínimos. Localiza-se na Zona Sul da cidade de João Pessoa, Paraíba, no bairro de Mangabeira, limitando-se a Sul pelos bairros Valentina de Figueiredo e Paratibe, a Norte por Jardim Cidade Universitária e Portal do Sol, a Leste pelo bairro Costa do Sol e a Oeste pelos bairros Cidades dos Colibris e José Américo de Almeida.

As 940 unidades de habitação social do Conjunto Antônio Mariz foram entregues em duas etapas: em 2000, 400 famílias foram favorecidas com o Projeto Mariz I; e em 2001, mais 540 casas são distribuídas, constituindo o Projeto Mariz II. O Conjunto possui um traçado regular composto por cerca de 23 ruas, dentre estas, a Rua José Marcone Ramos da Silva caracteriza-se como o eixo de divisão entre os dois setores do conjunto: Projeto Mariz I e Projeto Mariz II. Os lotes podem ser do tipo padrão (8m x 20m = 160m²) e de esquina (10m x 20m = 200m²) (Figura 1).

Figura 1. Traçado do Conjunto Antônio Mariz, João Pessoa - PB.

A infraestrutura1 do Conjunto é precária, não houve pavimentação (todas as ruas são de

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das vias, o que deixa as moradias sujeitas a inundações e transtornos quanto à locomoção interna em período chuvoso (BONATES, 2009). Além disso, inexistem equipamentos públicos / comunitários e áreas verdes previamente pensadas dentro do espaço – apenas foi demarcado áreas dentro do traçado do conjunto que poderiam ser destinadas a esses usos (fato que torna o conjunto dependente das áreas adjacentes para usufruir desses equipamentos).

As unidades habitacionais são térreas, unifamiliares, sem acesso e garagem para automóvel, com uma área útil de aproximadamente 32m². Nos terrenos de 160m², as unidades são implantadas com recuo frontal de 4m, as duas laterais de 1,42m e posterior de 9,16m; e nos terrenos de 200m², com recuo frontal de 5m, laterais de 5m e 1,42m e posterior de 9,16m. Cada unidade possui: sala (10,00m²), 1 quarto (8,00m²), circulação (1,32m²), cozinha (4,65m²), banheiro (2,57m²) e área de serviço (1,34m²) com um tanque (Figura 2).

As unidades foram construídas com placas pré-moldadas de concreto (5cm) apoiadas em pilares com seção quadrada (15x15cm); as placas receberam emboço e foram pintadas a cal externa e internamente; o piso original é de concreto comum com acabamento em cimento queimado; as esquadrias utilizadas são de madeira pintada com tinta branca. Foi adotada para cobertura, estrutura de madeira e fechamento em telhas cerâmicas, sem coletores para águas pluviais. Todas as unidades foram entregues sem revestimento de parede, piso e forro, como também sem calçada e muros.

Figura 2. Implantação da casa original do conjunto no terreno padrão de 160m².

Após 10 anos de implantação do conjunto, constata-se uma descaracterização das unidades habitacionais originais provocadas por modificações realizadas pelos próprios moradores. A disposição das casas no lote, o material utilizado na sua construção e a quantidade de cômodos foram os fatores que mais condicionaram às alterações, além da possibilidade de inserir comércio ou atividades lucrativas dentro do lote.

Diversas são as possibilidades de reformas encontradas no conjunto, resultando em alterações intermediárias (apenas com a inserção de novos elementos, como construção de muros ou novas paredes, ampliação do terraço, alteração de revestimentos e esquadrias) ou alterações que descaracterizam totalmente as unidades, como através da construção de um primeiro pavimento (Fig. 3, 4 e 5). Essas últimas representam a grande parte das unidades do conjunto.

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Figuras 3, 4 e 5. Unidades com diversas características construtivas: originais, semi-originais e totalmente descaracterizadas.

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MÉTODO DE REALIZAÇÃO DO ESTUDO

A metodologia fundamentou-se na Avaliação Pós-Ocupação (APO), através da aplicação de questionários, entrevistas e levantamentos físicos com uma amostra de 10 (aproximadamente 1% do total de unidades implantadas) habitações descaracterizadas originalmente. As habitações estudadas dentro do conjunto foram selecionadas de acordo com as seguintes características: uso exclusivamente residencial, reformada, térrea e inserida em terreno padrão (160m²). Em cada unidade (destacadas em vermelho na Figura 1) foi aplicado um questionário e realizada uma entrevista a respeito das modificações efetuadas - no intuito de se obter uma análise qualitativa dessas reformas. Este trabalho foi realizado por duas das autoras no âmbito da disciplina Estágio Supervisionado VI do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba.

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ANÁLISE DE RESULTADOS

Primeiramente, identificou-se o perfil dos moradores e o perfil das modificações nas 10 unidades selecionadas. Em seguida, foram analisadas qualitativamente as modificações realizadas nas unidades.

4.1 Perfil dos moradores

A estrutura familiar encontrada na maioria dos casos é formada por um núcleo central composto por um casal e uma quantidade variada de filhos – quase todos os moradores pesquisados encontram-se dentro desta situação. O número médio de pessoas na moradia é de 4,5 indivíduos (no mínimo 3 e no máximo 8 pessoas numa mesma unidade), superior ao número de moradores previstos pelos construtores, que era de 2 a 3 indivíduos – assim, logo nos primeiros anos de moradia muitos utilizavam a sala como dormitório, já que a unidade original possuía um único quarto.

Quanto ao tempo de moradia, 5 dos entrevistados estão na residência desde a entrega do conjunto, há 10 anos; 4 entrevistados têm de 7 a 9 anos de moradia e apenas 1 está na casa há menos de 5 anos. Todos são proprietários das unidades, não havendo nenhum caso de aluguel ou empréstimo da casa. Sobre o motivo da moradia naquele conjunto, a maioria dos pesquisados citou a possibilidade de possuir uma casa própria – anteriormente, muitos deles moravam em casas alugadas ou em locais divididos com outros parentes (o baixo valor na época da compra facilitou a aquisição do imóvel). Constatou-se que 7 dos moradores são os primeiros proprietários do imóvel, 2 são o segundo e apenas 1 já representa o terceiro morador.

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A maioria das modificações (7) ocorreu durante os 5 primeiros anos de moradia, ou até mesmo poucos meses depois da sua ocupação, evidenciando a falta de sintonia do projeto arquitetônico original com as necessidades dos usuários. Observa-se que a partir de 2005, as reformas passam a ser mais frequentes e significativas, devido à aquisição da escritura definitiva das casas2 pelos proprietários. Na Tabela 1 apresenta-se uma síntese das

modificações mais frequentemente realizadas, seguida da quantidade de ocorrências dentro da amostra selecionada e das principais razões para sua realização.

MODIFICAÇÕES QUANT. PRINCIPAL RAZÃO

1- Construção de muro 10 Segurança/ Privacidade

2- Acréscimo de ambientes 10 Necessidade

3- Mudança de revestimento 7 Estética / Necessidade

4- Execução de calçada 7 Estética / Necessidade

5- Grades nas esquadrias 6 Segurança

6- Substituição das esquadrias 6 Segurança / Necessidade

7- Mudar função de cômodos 4 Necessidade

8- Construção de garagem 2 Necessidade

Tabela 1. Síntese das modificações efetuadas nas 10 unidades analisadas e suas principais razões. A construção do muro, realizada de imediato devido à falta de privacidade e segurança, e o acréscimo de novos ambientes, são as modificações mais significativas e comuns a todas as unidades pesquisadas (como a construção de novos quartos). A mudança de revestimento de paredes (substituição das placas de concreto por parede em alvenaria) e/ou piso (substituição de cimento queimado por cerâmica) foi verificada em 7 moradias, assim como a execução de calçada.

Apenas 2 moradores possuem veículos próprios, porém foi verificado que em 7 unidades foram instalados portões de entrada para veículos, de modo a garantir sua entrada com a aquisição do bem no futuro, facilitando novas reformas.

De acordo com a tabela acima, verifica-se que as modificações são executadas principalmente por necessidade de uma melhor habitabilidade e funcionalidade das atividades domésticas, seguido pela segurança. A Figura 6 mostra as modificações (em planta baixa) das 10 unidades analisadas.

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Figura 6. Reformas das 10 unidades analisadas (a parte hachurada representa a projeção da casa original; azul – áreas molhadas; bege – social; verde – circulação; rosa - quartos).

Para planejamento e/ou execução das reformas, nenhum morador consultou um profissional qualificado, o que frequentemente, resultou no confinamento de ambientes, prejudicando aspectos de ordem estética, iluminação, ventilação e, consequentemente, a salubridade da habitação como um todo.

4.3 Análise qualitativa das modificações realizadas

O fato da unidade habitacional ter sido inserida solta no lote, possibilitou diversos tipos de expansões, apesar da presumida para o projeto original ter sido unicamente no sentido posterior (devido ao maior recuo, de 9,16m). No entanto, percebe-se que para que isso ocorra, maiores gastos são necessários, devido à localização das paredes hidráulicas da cozinha e da área de serviço (Figura 7).

Figura 7. Planta-baixa original das unidades destacando em vermelho a área útil disponível para expansão da moradia e em laranja as áreas molhadas.

A localização da cozinha (centro), dificultando a junção do núcleo original da moradia aos novos cômodos criados, obrigou a maioria dos moradores a deslocá-la3, juntamente com a

área de serviço para dar início às expansões da moradia (solução adotada por 8 moradias analisadas).

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Na Tabela 2 encontra-se uma síntese das modificações nos ambientes originais da habitação. Essas modificações referem-se apenas quanto dimensionamento e localização do ambiente em relação à edificação original – não considerando as alterações para melhoria de acabamento de piso, parede e/ou teto.

Originais* Alterados** Deslocados***

Ambientes Qtd. Ambientes Qtd. Ambientes Qtd.

Terraço 04 Terraço 06 Terraço -

Sala 06 Sala 01 Sala 03

Quarto 08 Quarto - Quarto 02

BWC 05 BWC 03 BWC 02

Cozinha - Cozinha 02 Cozinha 08

Área de serviço - Área de serviço - Área de serviço 10

 Correspondem aos ambientes que permaneceram originais, sem nenhuma modificação.

 Correspondem aos ambientes que passaram por transformações como ampliações, deslocamento de esquadrias, etc.

 Correspondem aos ambientes que foram deslocados para outro espaço dentro ou fora da moradia (mas que já existiam na edificação original).

Tabela 2. Síntese das modificações realizadas nos ambientes originais das unidades estudadas. De acordo com a tabela acima constatam-se:

o quarto é o cômodo que mais permanece original no tamanho e na localização dentro da edificação, provavelmente por sua área (8,00m²) atender às necessidades dos moradores. Em apenas duas moradias (01 e 08) esse ambiente trocou sua localização com a sala para facilitar a articulação do banheiro e da cozinha com os novos cômodos criados;

a sala permanece inalterada em mais da metade das moradias analisadas (moradias 03, 05, 06, 07, 09 e 10), pois a sua dimensão apresentou-se, para os moradores, satisfatória para atender a função apenas de sala de estar. Além disso, manutenção do banheiro original predispõe a não alteração desse ambiente;

a disposição do banheiro na edificação e os maiores custos que envolvem uma intervenção na parte hidráulica, são os motivos que levaram o banheiro a permanecer com seu tamanho e localização padrões na metade das unidades analisadas (em 5 moradias);

o terraço é o ambiente que mais passa por pequenas alterações, seja seguindo o avanço da sala sobre um dos recuos laterais (moradias 01, 02 e 06) ou ampliando seu comprimento para também funcionar como garagem de carro (moradias 04, 08 e 10). Mantém original nas moradias que foram expandidas em direção ao fundo do lote (moradias 03, 05, 07 e 09);

a cozinha e área de serviço são os ambiente mais deslocados de seus espaços originais e também os que sofrem maiores ampliações. A cozinha pode ir para os fundos e para a lateral da unidade, e a área de serviço, em algumas unidades foi resumida a um tanque encostado em uma das paredes da casa ou no muro (moradias 01, 02 e 04). Nenhuma moradia permaneceu com a cozinha e a área de serviço com as características originais, já que a configuração espacial adotada na unidade padrão dificulta a articulação entre o núcleo original da casa e a parte expandida. Nas moradias 05 e 10, em que não se deslocou a cozinha, foram criados novos espaços para ampliá-las, já que a dimensão mínima utilizada nesse ambiente é vista como insuficiente pelos moradores.

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Assim, verifica-se uma tendência dos moradores em deslocar os ambientes originais (25 – cozinha e área de serviço) para outro espaço da casa e/ou em permanecer com eles (23 – sala, quarto e banheiro), ao invés de simplesmente reformá-los (12) para atender as necessidades familiares. Uma característica comum a todas as unidades pesquisadas é o acréscimo do número de cômodos (Tabela 1), aumentando a área construída original. A Tabela 3 mostra os ambientes que mais foram acrescentados à unidade original.

Ambientes criados Quantidade

Quarto 02 10 Quarto 03 06 BWC 05 Depósito 02 Garagem 02 Sala de estar 01 Sala de jantar 01 Cozinha 01 Quarto 04 01 Box comercial 01

Tabela 3. Relação dos novos ambientes criados pelos moradores pesquisados.

Constata-se uma maior necessidade na criação de um 2° dormitório (em todas as moradias), de um 3° dormitório (em 6 moradias) e da criação de um outro banheiro (em 5 moradias). Com a frequente ampliação e/ou deslocamento da cozinha, elimina-se a necessidade de uma sala de jantar, pois as refeições passam a ser realizadas nesse novo cômodo de maiores dimensões (a área original da cozinha chega a quintuplicar, atingindo aproximadamente 22m²). Isso justifica o fato da maioria das salas permanecerem com seu tamanho original, já que passará a funcionar apenas como sala de estar.

A inclusão de mais uma sala de estar e cozinha e um 4° dormitório diz respeito à criação de outra casa nos fundos do terreno da moradia 05. A construção de depósitos, garagens e de um box comercial à frente do lote justificam-se para atender as necessidades individuais das famílias.

De maneira geral as expansões ocorreram por todas as áreas livres existentes no lote, principalmente na parte dos fundos do terreno, por onde frequentemente os moradores iniciavam com as alterações na cozinha e na área de serviço. As expansões também ocorriam para uma das laterais, encostando a edificação no muro e/ou para frente do lote. Verifica-se sempre a necessidade em deixar uma das laterais sem expansão, de forma a assegurar a passagem para o quintal e pelo menos garantir a ventilação/insolação de parte da casa pela outra lateral (que ficou livre).

Quanto às paredes de placas de concreto das unidades, devido a prioridade em resolver problemas funcionais (como a construção de novos quartos, banheiros e ampliação da cozinha), sua substituição é muitas vezes postergada, apesar do desconforto térmico relatado pela maioria dos moradores pesquisados e a aparente insegurança do material, além do maior custo envolvido na sua substituição. A sua substituição por paredes em alvenaria apenas foi total em 4 moradias (moradia 01, 02, 06 e 08); em uma moradia, ainda apresenta um único cômodo com as placas (moradia 04) e nas demais, sua substituição foi principalmente na cozinha e área de serviço (03, 05, 07, 09 e 10), de modo a facilitar as ampliações dos novos ambientes para os fundos da casa.

Apesar da satisfação dos moradores com a atual moradia, verificou-se que muitos deles ainda pretendem realizar reformas em suas casas, como: a substituição total das placas de concreto, utilização de cerâmica para o revestimento do piso de todos os ambientes e a

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construção de um novo terraço ou ampliação do atual. As maiores dificuldades encontradas pelos moradores foi no aspecto financeiro (em 6 moradias).

9- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A falta de estratégias de flexibilização incorporadas ao projeto das unidades do conjunto prejudicaram a qualidade das modificações analisadas no estudo. Além disso, a ausência de consulta a profissionais qualificados para a realização das modificações das unidades acabou gerando alguns prejuízos nas moradias – principalmente em relação ao conforto térmico – devido à falta de conhecimento dos moradores. Foram verificadas ausência de aberturas para ventilação em quartos e banheiros, principalmente naqueles casos em que os moradores “colaram” os ambientes no muro sem considerar a ventilação predominante. O que ficou evidenciado, durante os levantamentos de algumas unidades, foi a ocorrência de imensos desperdícios durante as reformas, devido primeiramente a inadequação do projeto original que impõe reformas já nos primeiros anos de ocupação, apenas para garantir um nível mínimo de habitabilidade; e, segundo devido a falta de um profissional qualificado para auxílio das reformas e/ ou ampliações da casa, resultando em modificações ineficientes, dispendiosas e com (graves) consequências no conforto ambiental resultante. A flexibilidade, como qualidade do ambiente construído, é um aspecto que pode ser incorporado em projetos de habitações de interesse social, trazendo grandes benefícios. As moradias devem ser suficientes para que seus ocupantes se instalem com dignidade e façam as ampliações de forma simples e racional quando for chegado o momento. Para o sucesso na ampliação de uma moradia é primordial a realização de um projeto bem feito que permita uma expansão condizente com as necessidades espaciais e culturais de seus moradores. É imprescindível que as variações de ampliações possam ocorrer sem que nenhuma das paredes com instalações, as quais representam maiores custos de construção, tenham que sofrer intervenções.

Portanto é de fundamental importância que as próprias instituições promotoras da moradia adotem melhores critérios de projetos flexíveis em suas soluções espaciais e construtivas, de forma a permitir ampliações e modificações sem diminuir a qualidade espacial original da moradia e o conforto ambiental. Além disso, evidencia-se a importância da incorporação de avaliações pós-ocupações de edificações nas metodologias de projeto, destacando o papel do usuário final na qualidade do ambiente construído, colaborando dessa forma, com a correção das falhas e aproximando cada vez mais os novos projetos de habitações de interesse social com as reais necessidades dos usuários.

10- REFERÊNCIAS

BONATES, M. F. Ideologia da casa própria... sem casa própria: o programa de

arrendamento residencial na João Pessoa – PB. João Pessoa: Editora Universitária da

UFPB, 2009.

DIGIACOMO, M. C. Estratégias de Projeto para a Habitação Social Flexível. 2004. 163f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004. DIGIACOMO, M. C.; SZÜCS, C. P. Flexibilidade na Habitação. In: CONGRESSO BRASILEIRO SOBRE HABITAÇÃO SOCIAL, 2003, Florianópolis. Anais... Florianópolis: 2003.

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FABRICIO, M. M.; ORNSTEIN, S. W.; MELHADO, S. B. Conceitos de qualidade no projeto de edifícios. In: FABRICIO, M. M.; ORNSTEIN, S. W. (orgs). Qualidade no Projeto de

Edifícios. São Carlos: RiMa Editora, ANTAC, 2010, p. 5-22.

HERTZBERGER, H. Lições de Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1999, 272p.

MARROQUIM, F. M. G. Avaliação pós-ocupação de unidades residenciais modificadas de um conjunto habitacional em Maceió-AL: flexibilidade, dimensionamento e

funcionalidade dos ambientes. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo)

-Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2007.

SZÜCS, C. P. Apropriação e modificação dos espaços da casa: inventário de soluções populares. In: NUTAU, 2., 1998, São Paulo. Anais... São Paulo: FUPAM, 1998.

Notas:

(1) A Lei Federal nº 6.766/ 1979 considera como infraestrutura básica os equipamentos urbanos de escoamento das águas pluviais, iluminação pública, redes de esgoto sanitário e abastecimento de água potável, energia elétrica pública e domiciliar e as vias de circulação pavimentadas ou não.

(2) Em 2004, o conjunto entrou no Programa A Casa é Sua, quitando as prestações dos imóveis de interesse social e conferindo definitivamente as escrituras aos proprietários.

(3) Segundo Digiácomo (2004), um projeto flexível deve permitir ao morador uma reconfiguração do espaço com um mínimo de obras possíveis, e sem inviabilizar o uso da moradia durante as reformas.

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