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Poesia e letramento literário a partir da leitura de Passeio poético por Bagé, de Ernesto Wayne

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Academic year: 2021

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Http://online.unisc.br/seer/index.php/signo ISSN on-line: 0104-6578

Doi: 10.17058/signo.v45i83.14964.

Poesia e letramento literário a partir da leitura de “Passeio poético por Bagé”, de

Ernesto Wayne

Poesía y literacidad desde la lectura de “Passeio poético por Bagé”, de Ernesto Wayne

V e r a L ú c i a C a r d o s o M e d e i r o s

Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA – Rio Grande do Sul – Brasil

D é b o r a T a t i a n e C o s t a R o s a

Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA – Rio Grande do Sul – Brasil

L e d i a n e T r e b i e n

Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA – Rio Grande do Sul – Brasil

Resumo: O artigo apresenta metodologia de letramento literário no ensino fundamental, centrada no gênero poesia e organizada em torno da obra Passeio

poético por Bagé (WAYNE, 1996). A metodologia proposta aqui origina-se de projeto

de letramento literário desenvolvido no ano de 2019 durante estágio curricular obrigatório, realizado por acadêmica do curso de Licenciatura em Letras Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), campus Bagé. Além da descrição das estratégias de exploração do texto poético, pretende-se refletir sobre os fundamentos da proposta com base em referencial teórico sobre os conceitos de poesia, gênero lírico, letramento literário e pedagogia decolonial, bem como ilustrar as análises com registros dos trabalhos dos alunos que participaram do projeto de estágio que deu origem a nossa proposta de poesia e letramento literário.

Palavras-chave: poesia; letramento literário; Ernesto Wayne; metodologia; ensino fundamental.

Resumen: Este artículo presenta como presupuesto metodológico la literacidad literaria, a partir de la lectura de poesía para niños de 6º año de la enseñanza básica, y se organiza alrededor de la obra Paseo poético por Bagé (Wayne, 1996). La metodología propuesta se origina del proyecto sobre literacidad literaria, desarrollado durante el año 2019 en la práctica curricular obligatoria en enseñanza básica, ejercida por una académica del curso de Profesorado en Letras Lengua Portuguesa y Literaturas de la Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Campus Bagé. Además de describir estrategias de sondeo del texto poético, se pretende reflexionar sobre la base de la propuesta, estructurada por un referencial teórico que plantea los conceptos de poesía, genero lírico, literacidad literaria y pedagogía decolonial, así como ilustrar el análisis con registros de las producciones de los alumnos, que participaron del proyecto efectuado durante la práctica que originó esta propuesta de poesía y literacidad literaria.

Palabras clave: poesía; literacidad literaria; Ernesto Wayne; metodología; enseñanza básica.

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1 Introdução

Iniciamos este texto tratando do lugar da leitura de poesia no Brasil, seja considerando a sociedade de modo geral, ou observando segmentos específicos, como estudantes da educação básica ou espaços de formação acadêmica em Letras, responsáveis pela formação de professores que atuarão nas escolas de nível fundamental e médio. Empiricamente é notório que, no Brasil, a leitura de poesia tem pouco prestígio em comparação a romances e contos; essa percepção é reforçada por dados mais quantitativo obtidos em uma ligeira busca no catálogo de dissertações e teses da Coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior (CAPES) ou nos resultados da pesquisa Retratos da leitura no Brasil.

No catálogo da Capes, examinamos a incidência dos termos ‘poesia’, “romance’ e ‘conto’ usando como filtros o ano (2018) e a área de concentração (teoria literária). A busca resultou em 13 ocorrências para a palavra ‘poesia’, enquanto houve 25 ocorrências para ‘romance’ e 05 para ‘conto’. Ou seja, nas teses de doutorado e nas dissertações de mestrado concluídas no ano de 2018, na área específica de teoria literária, estudos dos gêneros em prosa representaram mais do que o dobro dos estudos em poesia. A verificação do interesse em pesquisas sobre o gênero poesia em nível de pós-graduação dá uma noção do interesse que ela desperta entre profissionais da área de Letras, ainda que estes não sejam os únicos a realizarem dissertações e mestrados em teoria literária.

Bem mais amplo é o panorama oferecido pela pesquisa Retratos da leitura no Brasil, realizada a cada quatro anos pelo Instituto Pró-livro, entidade de caráter privado e sem fins lucrativos. A coleta realizada em 2015 e publicada no livro Retratos da leitura no Brasil 4 (FAILA, 2016), atinge 93% da população, de distintos níveis de idade, gênero, escolaridade, renda, região e religião. Desse total, 22% dos entrevistados declararam-se leitores de romances; o mesmo percentual, 22%, informou ler contos; e 12% declararam-se leitores de poesia.

Livros didáticos (16%), obras infantis (15%), histórias em quadrinhos e gibis (13%) são gêneros de leitura de maior apreço pelos leitores, revela a leitura. Os resultados de 2015 ainda mostram que houve significativa queda no percentual de leitores em relação à coleta anterior, já que, em 2011, 20% dos respondentes informaram ser a poesia seu gênero preferido. Além de ver seu percentual de leitores cair no período de quatro anos, a poesia também perdeu posições na lista de gêneros preferidos, passando do 7º lugar em 2011 para 8º em 2015.

Assim, tanto a percepção empírica de quem atua na docência em Letras quanto dados quantitativos revelam que, no Brasil do século XXI, a poesia não está entre os gêneros literários mais apreciados pelos leitores. E um dos meios de enfrentar esse quadro é formar professores leitores de poesia, o que implica dedicar espaço privilegiado a sua leitura e a seu estudo no período de graduação e na formação continuada em serviço.

A prática de leitura de poesia da qual trataremos neste artigo resulta de experiência em torno da leitura de poemas que mobilizou os estudantes do ensino fundamental envolvidos, mas também as professoras que construíram a proposta e a viabilizaram. Nas próximas seções, pretendemos descrever a proposta e refletir sobre os aprendizados decorrentes de sua execução.

2 Poesia e letramento literário – revisando conceitos.

Apesar de, na contemporaneidade, a poesia não contar com a preferência da maioria dos leitores, não podemos esquecer que a Literatura nasceu como verso e que foi preciso alguns séculos para a prosa firmar-se como gênero literário, permitindo que o conto e o romance cativassem o gosto de leitores e escritores. Até a consolidação do romance como gênero narrativo artístico, o que se dá em meados do século XVIII, coube à escrita em versos tratar tanto dos feitos heroicos dos povos (poesia épica) ou das expressões individuais (poesia lírica), por exemplo. E a afirmação de novos gêneros ou as muitas

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mudanças observadas tanto nas composições em prosa quanto em verso não dissolveram totalmente certas peculiaridades da poesia, que deve estar presente em qualquer processo de letramento literário.

São inúmeros os caminhos para definir poesia e gênero lírico e para delimitar sua função e importância social. Entre várias possibilidades, trazemos um fragmento de O conhecimento da literatura. Introdução aos estudos literários (REIS, 2003), que faz a seguinte consideração sobre o aspecto fundamental do gênero lírico:

[...]o trabalho sobre a língua e sobre os recursos expressivos que ela faculta. Um

trabalho que se revela muitas vezes

activamente subversivo, no sentido em que procura, nalguns casos chegando a extremos

de radicalização inovadora, surpreender

formas e sentidos inusitados; assim, o poema lírico [...] institui um acto comunicativo que pode ser considerado exigente, pelo que tem de sofisticado, por vezes até próximo do limite do hermetismo. (REIS, 2003, p. 306-307. grifos do autor)

Destacamos, no trecho de Reis, a ênfase no trabalho sobre os recursos expressivos da língua e o tipo de ato comunicativo que a poesia permite. É certo que qualquer manifestação verbal opera com os recursos expressivos da língua; na poesia, porém, esse trabalho não é menos importante do que qualquer outro propósito comunicativo – transmitir uma informação, convencer o leitor/interlocutor, definir um conceito, lembrando aqui algumas das funções da linguagem enumeradas por Roman Jakobson.

Para muitos escritores, manejar as palavras, combiná-las em expressões ou em estruturas mais complexas, considerar seus aspectos fonéticos é o que há de mais importante no ato de composição. Na exploração da língua, é muito frequente que o escritor que escolhe o verso rompa com os limites das formas convencionais de escrever, dizer e evidentemente de pensar. Então, ele ingressa no território da subversão e da radicalidade, apontado por Reis.

Buscamos uma outra compreensão de poesia, a de Ítalo Moriconi em Como e por que ler a poesia brasileira do século XX.

Poesia respira, joga com pausas, alterna silêncios e frases (os versos). Poesia é bonito na página, é festa tipográfica. Festa para os olhos. Ritmo visual que vira sonoro, quando lemos o poema em voz alta. Imaginação e sabedoria combinadas numa certa vertigem, a

velocidade das estrofes. Linguagem

concentrada que, no entanto, pode distrair-se, distender-se, estender-se. Todos os cinco sentidos traduzidos, por meio da palavra, em coisa mental. Coisa mental que se pode comunicar pela fala, guardar na página ou na memória, que nem talismã. (MORICONI, 2003, p. 8)

Ao recorrer a Moriconi, buscamos ampliar o conceito de poesia, uma vez que este destaca a centralidade do trabalho com a linguagem, apontando elementos os quais traduzem a versatilidade da poesia e da sua forma textual mais consagrada – o poema - , tais como os aspectos visuais, o ritmo, a sua vinculação aos sentidos, sem, com isso, deixar de ser obra do intelecto, ou coisa mental.

Invocamos um último autor a fim de constituirmos o entendimento sobre poesia que permitirá defender seu lugar no processo de letramento literário que, acreditamos, deve ser promovido em nossas práticas docentes. É em Octavio Paz que nos amparamos para tratar da vinculação entre a poesia e a criação de imagens. Antes de transcrever o trecho selecionado, ressalvamos que Paz não se restringe à Literatura, seu conceito de poesia aplica-se a outras manifestações artísticas, como pintura, escultura, música.

[...] a pedra da estátua, o vermelho do quadro, a palavra do poema, não são pura e simplesmente pedra, cor, palavra: encarnam algo que os transcende e ultrapassa. Sem perder seus valores primários, seu peso original, são também como pontes que nos levam à outra margem, portas que se abrem para outro mundo de significados impossíveis de serem ditos pela mera linguagem. Ser ambivalente, a palavra poética é plenamente o que é – ritmo, cor, significado – e, ainda assim, é outra coisa: imagem. (PAZ, 1982, p.26-27)

Na linguagem poética do Octavio Paz, vislumbramos uma capacidade poderosa da palavra poética: a de criar imagens. Por palavra poética entendemos aquela que aceita a ambiguidade característica da linguagem que não se prende a

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convenções, assim se aproximando da subversão, como antes apontou Reis, ou que pode distender-se, estender-se e comunicar como talismã, no dizer de Moriconi. Palavra poética é também aquela que leva em consideração as várias qualidades da língua – ritmo, cor, significado – e, por isso, é expressão dos cinco sentidos. Tal palavra tem a capacidade e o poder de inaugurar mundos, que representam de modo mais direto ou mais figurado o que designamos de realidade. A essa capacidade, Paz chama de imagem.

Poderíamos alongar a discussão conceitual sobre poesia, no entanto, este não é nosso principal propósito. Acreditamos que as definições extraídas de Carlos Reis, Ítalo Moriconi e Octavio Paz destacam que a poesia confere centralidade ao trato com a língua e com a linguagem, ao mesmo tempo em que permite vivências estéticas que deveriam ser franqueadas a todos os sujeitos. A leitura ou a escrita de textos marcados pela palavra poética, como designa Paz, se dá por meio de processo complexo que mobiliza conhecimentos distintos, destacando-se aqueles mais formais, ligados ao funcionamento da língua, e outros relacionados à criatividade e à sensibilidade. Embora tal processo possa se dar em múltiplos espaços, na sociedade brasileira, cabe à escola– ou assim deveria ser – lugar de destaque para que ele seja promovido.

O caminho para tornar a poesia familiar aos estudantes, permitindo reverter os percentuais de leitura do gênero no Brasil, antes apontados, passa pelo letramento literário, assim definido por Rildo Cosson:

Letramento literário é o processo de apropriação da literatura enquanto linguagem. Para entendermos melhor essa definição sintética, é preciso que tenhamos bem claros os seus termos. Primeiro, o processo, que é a ideia de ato contínuo, de algo que está em movimento, que não se fecha. Com isso,

precisamos entender que o letramento

literário começa com as cantigas de ninar e

continua por toda nossa vida a cada romance lido, a cada novela ou filme assistido. Depois, que é um processo de apropriação, ou seja, refere-se ao ato de tomar algo para si, de fazer alguma coisa se tornar própria, de fazê-la pertencer à pessoa, de internalizar ao ponto daquela coisa ser sua. É isso que sentimos quando lemos um poema e ele nos dá

palavras para dizer o que não conseguíamos expressar antes. (COSSON, 2014)

Pensar no trabalho com poesia na escola a partir da noção de letramento literário implica assumir que estamos diante de uma prática processual, contínua e que não se efetiva com atividades esporádicas, além de significativa para todos os envolvidos, sejam estudantes ou professoras e professores. Sem a apropriação mencionada por Cosson, a leitura e a escrita literárias não passarão de tarefas escolares, provavelmente esquecidas depois de algum tempo – em muitos casos, nem precisa de muito tempo para isso.

O processo de letramento literário como prática pedagógica possui quatro características fundamentais, ainda de acordo com Cosson (2014): contato entre o leitor e a obra; constituição de uma comunidade leitora; ampliação do repertório de leituras; realização de práticas sistematizadas e contínuas de leitura. Desse modo, estão asseguradas as condições para o desenvolvimento de competências literárias.

Uma possibilidade de prática sistematizada de leitura literária está em Letramento literário. Teoria e prática (COSSON, 2007) e consiste na proposta de sequência de letramento literário. A sequência básica comporta as etapas de motivação, introdução, leitura e interpretação. Já a sequência expandida envolve a motivação, introdução, leitura, primeira interpretação, contextualização, segunda interpretação e expansão.

Abordamos, até aqui, os conceitos de poesia e letramento literário, eixos que sustentam não apenas este artigo, como também a proposta de metodologia de leitura literária a qual passamos a descrever e analisar.

3 Projeto de letramento literário apresentação e análise das escolhas.

Antes de apresentar nossa proposta, vamos contextualizar sua origem. Como já mencionado, a versão original das atividades que serão descritas em seguida integrou projeto de estágio no ensino fundamental realizado por acadêmica da Unipampa,

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sob orientação da professora da mesma instituição e supervisão da professora regente da turma de 6º ano que recebeu a estagiária.

A prática de ensino ocorreu em escola municipal, em Bagé, Rio Grande do Sul, dotada de boa infraestrutura física - refeitório, ginásio, área de convivência ampla e coberta, praça para os alunos da educação infantil, laboratórios. Havia também espaço destinado para biblioteca, embora seu acervo fosse formado predominantemente por livros didáticos, com insignificante oferta de obras literárias, conforme apurado pela estagiária em período de observação anterior ao início da prática docente.

A regente da turma possui longa experiência docente e porta o título Mestre em Ensino de Línguas, sendo egressa do Mestrado Profissional em Ensino de Línguas da Unipampa. Pode-se conjeturar que esses fatores – formação acadêmica e trajetória profissional – determinaram a atenção dedicada, em suas aulas, à leitura, bem como sua imediata acolhida à sugestão da estagiária e da orientadora para desenvolvimento de projeto de letramento literário.

A construção do projeto foi realizada em etapas e por meio do diálogo entre a professora em formação inicial e as outras duas professoras. Assim, para a elaboração do projeto de letramento literário, a regente apresentou à estagiária os conteúdos relativos à educação literária já previstos em seu planejamento anual. De posse desses conteúdos e após observação da turma, a estagiária optou por tratar das características de linguagem literária, item que permitiria estimular o debate sobre o que é literatura, as leituras realizadas pelos estudantes e seus familiares e ainda familiarizar o grupo quanto ao entendimento de termos específicos ao campo da literatura. A poesia seria o gênero indicado para introduzir essas questões relacionadas à linguagem literária e suas especificidades a jovens estudantes – na faixa etária de 10 e 11 anos -, ponderou a orientadora. Com o gênero definido, restava definir tema a ser explorado, e a escolha da estagiária recaiu na questão do espaço – o bairro, a cidade. Depois de escolhido o tema, partiu-se para seleção dos textos literários a serem lidos e explorados, e a orientadora

recomendou à estagiária a leitura da obra Passeio poético por Bagé, de Ernesto Wayne (1929-1997), escritor que nasceu e passou boa parte de sua vida nessa cidade localizada na fronteira do Brasil com o Uruguai.

Com as definições estabelecidas – conteúdos, gênero, tema, obra -, a estagiária lançou-se à construção do projeto literário que foi realizado durante vinte horas de aulas em turma de 6º ano na disciplina de Língua Portuguesa. O objetivo geral do projeto foi promover o letramento literário de alunos do 6º ano do ensino fundamental por meio do estudo das especificidades da linguagem literária, partindo da leitura e escrita de poemas. Foram objetivos específicos da proposta perceber as características específicas da linguagem literária em poemas; identificar as possibilidades de atribuir sentidos variados a palavras e expressões presentes no poema; incentivar o interesse pela escrita e compartilhamento dos poemas produzidos; estimular a representação visual da compreensão dos sentidos dos poemas.

O projeto estruturou-se na forma de sequência didática dividida em três módulos, seguindo as etapas previstas por Cosson (2007) na sequência básica: motivação, introdução, leitura e interpretação. Reproduzimos abaixo a síntese desses módulos, destacando conteúdos, atividades e produções realizadas.

MÓDULO 1 – Motivação (03 horas/aula): filme “A carta”, de Adriana Gonçalves Ferreira.

Conteúdos Análise e interpretação de texto (filme); leitura de textos informativos sobre a cidade de Bagé; reflexão sobre a cidade em que os alunos moram.

Atividades realizadas

Discussão sobre o filme e as formas de retratar a cidade por meio das palavras e expressões; leitura de textos informativos sobre a cidade de Bagé; levantamento de características sobre a cidade; discussão sobre o que a turma pensa sobre sua cidade.

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Produção Criação de texto em versos sobre a cidade Bagé.

MÓDULO 2 – Introdução (04 horas/aula): poema “O Mapa”, de Mário Quintana.

Conteúdos Análise e interpretação de texto literário; características da linguagem literária –rima e ritmo e aspectos polissêmicos de palavras e expressões.

Atividades realizadas

Leitura oral e silenciosa do poema “O Mapa”, de Mário Quintana; compreensão e interpretação do poema; exposição sobre o autor; conversa sobre a percepção da presença de ritmo e rima no poema; identificação de palavras e expressões polissêmicas; levantamento sobre características da linguagem literária a partir das leituras e conversas realizadas nos dois primeiros módulos.

Produção Criação de poema a partir da imagem de ‘rua encantada’, presente no texto de Quintana.

MÓDULO 3 –Leitura e interpretação (13 horas/aula): Passeio poético por Bagé, de Ernesto Wayne.

Conteúdos Análise e interpretação de poemas; características da linguagem literária – rima, ritmo, tipos de poemas quanto às estrofes, aspectos polissêmicos de palavras e expressões, imagens poéticas.

Atividades realizadas

Leitura dos seguintes poemas do livro

Passeio poético por Bagé: “Anjos e

Cisnes”, “O sobradinho de pedra”, “Estátua de Silveira Martins”, “Prédio da Prefeitura”, “Praça da Bandeira”, “Aeroclube, aeroporto” e “A praça das Carretas”; exposição sobre o autor;

conversa sobre a percepção da presença de ritmo e rima no poema; identificação de palavras e expressões polissêmicas; discussão sobre as imagens poéticas criadas pelo autor para representar a cidade.

Produção Criação de poema sobre a praça das carretas e montagem de mural com produção poética da turma.

Na realização das atividades, a estagiária procurou realizar diferentes estratégias de leitura dos textos: leitura oral ou silenciosa; leitura prévia, individual ou em aula. Quanto à produção escrita, ela foi feita individualmente, mas houve momentos de leitura pelos colegas como estratégia de revisão textual. De modo geral, a execução do projeto correspondeu às expectativas da estagiária e das professoras que a acompanharam, sobretudo porque a turma respondeu às atividades propostas, tanto nos momentos de conversa sobre os textos, na discussão sobre a cidade, em seus aspectos positivos e negativos, quanto nos momentos de produção escrita. Passamos agora à análise de algumas escolhas relacionadas ao projeto, buscando aprofundar a reflexão sobre a contribuição da leitura de poesia no processo de letramento literário promovido na escola pública de ensino fundamental.

A primeira escolha a ser destacada diz respeito à obra selecionada e a seu autor. Aproveitamos, então, para apresentar Ernesto Wayne, que se voltou às Letras em suas variadas possibilidades: foi poeta, jornalista, professor; especialista em língua portuguesa pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); mestre em Teoria da Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS).

Ernesto dedicou-se sobretudo à poesia, embora tenha escrito uma peça de teatro, A fada macambira, ensaios acadêmicos e artigos para periódicos diversos. Seus livros de poemas são O anjo calavera (1955); Ossos do vento (1977); Extrato de conta (1988); Baile na ponte na noite de chuva

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(1996); Passeio poético por Bagé (1996). Postumamente foi organizada a edição Damas da noite (2014), em que os poemas do autor são ricamente ilustrados com criações da artista plástica Heloísa Beckman; e Ernesto Wayne.Poemas colhidos (2017), coletânea organizada por iniciativa da família do poeta, trazendo alguns poemas inéditos. Com exceção da primeira obra de versos, de 1955, lançada pela Editora Globo, as demais, que saíram enquanto o poeta vivia, foram publicadas por editoras vinculadas à secretaria estadual ou municipal de cultura e à instituição em que foi professor. Esse é provavelmente um dos motivos para que esses livros não circulem muito em outras cidades do estado nem em faculdades e universidades em que poderiam ser estudados e difundidos.

A poesia de Ernesto transita pelos temas e formas que dominaram a literatura brasileira na segunda metade do século XX, ou seja, ele tratou do cotidiano e usou a linguagem coloquial, como também tratou de questões universais e recorreu a composições da tradição poética clássica. Moveu-se entre o próximo e o distante, tanto no tempo quanto no espaço.

Em Bagé, onde passou a maior parte da vida, Ernesto Wayne é conhecido, admirado e cultuado nos setores culturais institucionalizados. Periodicamente é lembrado em eventos promovidos pela área da cultura ou da educação, alguns desses realizados na Casa de Cultura da cidade, que leva o nome de seu pai, Pedro Wayne, também escritor. Ambos, Pedro e Ernesto Wayne, encabeçam o cânone literário local, embora sejam praticamente desconhecidos para além do município.

Passeio poético por Bagé é obra que foi construída por solicitação da Secretaria de cultura, desporto e turismo da cidade como parte das atrações da “Semana de Bagé de 1996”. A publicação serviu de roteiro para visita guiada pela cidade.

A obra é formada por 52 poemas que redesenham a cidade a partir da ótica peculiar do poeta. A peculiaridade não reside na escolha dos lugares e atrações tematizados, mas na forma de

representá-los. Aspectos naturais, como os cerros em volta da cidade; fatos e personagens históricos; ruas; praças; estabelecimentos comerciais; clubes; personalidades típicas; enfim, tudo que dá vida a uma cidade está nos poemas de Wayne.

Quanto à forma de composição do livro, não encontramos uma forma fixa; os poemas são todos compostos por uma única estrofe, variando a extensão desta. Há poemas curtos, de poucos versos, cinco ou seis, e composições longas, em que a única estrofe ocupa algumas páginas. Em contraposição a essa variedade na forma das estrofes, o número de sílabas poéticas é bastante constante. A absoluta maioria dos 52 poemas de Passeio poético por Bagé traz versos de 07 sílabas poéticas, o que assegura um ritmo constante à obra. Destacamos que, de acordo com Trevisan (2001) versos de sete sílabas são característicos da poesia em língua portuguesa.

O que motivou nossa escolha por esta obra para promover a leitura de poesia e o letramento literário em turma de 6º ano em que a idade dos alunos variava entre 10 e 11 anos? Além do fato de a obra realizar uma varredura na cidade e dedicar atenção minuciosa a tudo que a compõem, atendendo, portanto, o tema do projeto, a escolha permitiu lidar com questões relacionadas à Literatura enquanto instituição sociocultural que, em maior ou menor grau, interferem na seleção de obras a serem indicadas no espaço escolar, ainda que nem os responsáveis por essas escolhas tenham consciência do fato.

A escola em que o projeto foi realizado integra a rede pública municipal e está situada em bairro distante da região central da cidade, embora não se trate de zona de extrema carência. Por isso, sobretudo pela localização geográfica, e também por peculiaridades da cidade, a população atendida pela escola não tem o hábito de circular pelos equipamentos culturais disponíveis, como a biblioteca pública, a casa de cultura e os eventos artísticos e literários realizados nesses espaços. Trata-se, portanto, de uma comunidade periférica em relação à cultura central e hegemônica em Bagé.

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A opção pelo estudo dos poemas de um poeta consagrado na cidade permitiria, em nosso entendimento, a inclusão desses jovens estudantes, moradores de bairros afastados, no circuito cultural e literário conhecido, reconhecido, hegemônico na cidade em que vivem. E mais, como o trabalho não consistiu na leitura dos poemas para acentuar o talento do artista prestigiado do centro da cidade, mas os alunos foram estimulados a analisar os textos, refletir sobre as ideias do autor e a manifestar suas concordâncias e discordâncias em relação ao modo como a cidade foi retratada, além de escreverem poemas, entendemos que o projeto incentivou o contato entre grupos culturais distintos que ocupam o mesmo espaço urbano, buscando atenuar, dentro dos limites evidentes de uma prática escolar, as relações hierarquizantes que dominam no funcionamento de nossas sociedades. Ao propor abordagens em que os jovens estudantes puderam expressar-se em relação aos textos e oferecerem a sua versão da praça do próprio bairro, por exemplo, buscamos demonstrar que todos podem falar sobre sua cidade e, mais significativo, todos podem expressar-se de modo criativo, todos podem compor versos sobre essa cidade, seus bairros, suas atrações. A leitura e a escrita literária têm o potencial de romper barreiras, diluir hierarquias. Desde, é claro, que sejam concebidas e abordadas desta forma.

Tal condução do trabalho com o texto literário, em nosso caso, ecoa, com limitações das quais temos plena consciência, as propostas das pedagogias decoloniais, assim sintetizadas por Walsh:

a pedagogia ou as pedagogias de-coloniais estariam construídas e por construir em escolas, colégios, universidades, no seio das organizações, nos bairros, comunidades, movimentos e na rua, entre outros lugares.

[...] pedagogias que integram o

questionamento e a análise crítica, a ação

social transformadora, mas também a

insurgência e intervenção nos campos do poder, saber e ser, e na vida; aquelas que animam uma atitude insurgente, de-colonial e rebelde. (WALSH, 2009, p. 27)

Na esfera de atuação concernente a nossa proposta de letramento literário a partir da poesia de Ernesto Wayne, buscamos promover

questionamento, análise crítica, ação transformadora, atitudes insurgentes no campo de atuação que diz respeito à aula de língua portuguesa. Colocamos em diálogo grupos culturais distintos – o poeta consagrado, os estudantes do bairro periférico – e buscamos, nas formas de abordagem dos textos, na condução dos debates, nas propostas de atividades, tornar os estudantes sujeitos ativos no processo de conhecimento, leitura e escrita.

Bem, mas este artigo pretende refletir sobre a poesia e sua centralidade em um processo de letramento literário. Em que medida a poesia, e não outro gênero literário, favoreceu o desenvolvimento desse projeto pensado à luz das pedagogias decoloniais? Podemos responder que as características intrínsecas à poesia favorecem plenamente o processo de letramento literário, pois envolvem leitoras e leitores no espaço da palavra potente, aquela que cria imagens, realidades, conceitos.

Ao planejar o estudo dos poemas de Wayne, buscamos destacar essa palavra potente, cujo uso, na linguagem literária, é bastante peculiar, se considerarmos a linguagem empregada em nossa comunicação cotidiana. Por isso, foi dada atenção à presença de ritmo e rima e a relação desses elementos com o sentido do texto. Da mesma forma, as intervenções da estagiária exploraram os vários sentidos das palavras, gerando múltiplas interpretações e, portanto, verdades.

Transcrevemos a seguir um dos poemas trabalhados em aula, em que a participação dos alunos na exploração do texto foi bastante expressiva:

Anjos e cisnes Ah, a Praça do Jardim, Com fontes que cascateiam; Nelas, anjo toma banho Com sabonetes das flores Que ipezeiros amarelos Lhe mandam para esfregar Catinguinha das axilas, Justo onde nascem as asas (São duas as asas dele: Uma delas pra voar E mais outra, donde emana Seu cheirinho de sovaco...) Esse anjo abraça um cisne, Figuram as suas penas

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As velas brancas de barcos Conquanto seja o palmípede Não mais que ferro batido...

Esse poema retrata uma estátua de praça situada no centro da cidade, de passagem obrigatória. É composto em uma única estrofe, não há rimas, mas a composição de versos de sete sílabas confere ritmo ao texto. As pausas associadas a sinais de pontuação – vírgulas, ponto e vírgulas, parênteses e reticências – também colaboram para a construção do ritmo. O emprego do diminutivo – catinguinha, cheirinho -, bem como a interjeição com a qual o poema começa são formas de engajar o leitor e despertar sentimentos de delicadeza. Todos esses aspectos foram enfatizados na exploração do poema, realizada após a leitura oral feita pela estagiária inicialmente e depois pelos alunos. No caso do ritmo, a estagiária afirmou a presença do recurso e demonstrou como percebê-lo, já em relação ao efeito do uso de diminutivo, foi feita pergunta sobre o sentido que esse recurso conferia ao texto.

Outra questão explorada no poema “Anjos e cisnes” foi a presença de imagens poéticas. Demonstrou-se a associação entre as asas do anjo e as do cisne à figura das velas de barcos, e os alunos foram convidados a visualizarem essa imagem.

Destacamos que, embora essa estátua esteja localizada em lugar de passagem obrigatória a quem vai no centro da cidade, nem todos os estudantes lembravam dela. Assim, a representação criada pelo poeta passou a ser a referência do monumento.

Um outro ponto que valorizamos durante o projeto foi o emprego dos termos específicos relacionados aos elementos constitutivos do poema: verso, estrofe, rima, ritmo, imagem poética. Entendemos que o letramento literário implica o conhecimento do vocabulário específico desse campo, embora não tenhamos dado ênfase ao conhecimento do conceito desses elementos. O que nos importou no momento do planejamento das atividades e em sua execução é que os estudantes percebessem, no texto, esses aspectos.

4 Considerações finais

Iniciamos este texto apontando o pouco interesse dos leitores brasileiros pela poesia e procuramos apresentar uma prática de trabalho com este gênero no ensino fundamental a fim de promover o letramento literário de estudantes de 6º ano. Esse trabalho com poesia priorizou o tema da cidade em que os estudantes viviam, buscando inaugurar novas formas de percepção do espaço a partir da obra de um escritor local.

As envolvidas - estagiária, professora regente da turma e orientadora – consideraram que o projeto atingiu seus objetivos. Ao longo de vinte períodos, meninas e meninos envolveram-se na leitura e na escrita de versos e poemas sobre sua cidade; mais do que isso, perceberam palavras organizadas em poemas e também perceberam que expressar o pensamento dessa forma – em versos e poemas – é diferente de expressá-lo em frases e parágrafos. E associaram os poemas à sonoridade que as palavras possuem e expressam e às imagens que podemos vislumbrar através delas.

A metodologia utilizada em nosso projeto não traz nenhuma novidade. Ela está amparada na sequência básica de Cosson (2007) e em princípios da pedagogia decolonial de Walsh (2009). O segredo ou a receita para revertermos as estatísticas quanto ao percentual de leitores de poesia no Brasil é simples e antiga: ler poesia. Em casa, para nossas crianças; e nos espaços de formação – educação básica, educação superior, em especial nos cursos de licenciatura em Letras: ler poesia!

Sendo assim, encerramos este texto com versos de Ernesto Wayne (2017) que refletem sobre a relação visceral entre sujeito e Poesia.

Poeta no espelho

Eu não quero fazer mais Poesia, Fazê-la é em espelho se mirar; Poesia que eu lia e que me lia Me via a Poesia em seu olhar. Ela no meu olhar se repetia,

Era um em outra sempre a se espelhar: Eu em imagem me reverteria,

E a Poesia em gente vai mudar? E pra que escrever? Então reflito:

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COMO CITAR ESSE ARTIGO

MEDEIROS, Vera Lúcia Cardoso; ROSA, Débora; TREBIEN, Lediane. Poesia e letramento literário a partir da leitura de Passeio poético por Bagé, de Ernesto Wayne.. Signo, Santa Cruz do Sul, v. 45, n. 83, set. 2020. ISSN 1982-2014. Disponível em: <https://online.unisc.br/seer/index.php/signo/article/view/14964>. Acesso em: doi:https://doi.org/10.17058/signo.v45i83.14964.

Um verso fica sendo meu reverso Se pela Poesia sou escrito... Vejo que tudo volta para trás, Gira ao inverso todo um universo E hoje a Poesia é quem me faz...

REFERÊNCIAS

COSSON, R. Letramento literário. In: FRADE, I.; VAL, M.; BREGUNCI, M. (orgs). Glossário CEALE: termos

de alfabetização, leitura e escrita para

alfabetizadores. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade de

Educação, 2014. Disponível em:

˂http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioc eale/verbetes/letramento-literario.˃ Acesso em: 31 mar. 2020.

____. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2007.

FAILA, Z. (org.). Retratos da leitura no Brasil 4. Rio de Janeiro: Sextante, 2016. Disponível em: ˂http://prolivro.org.br/home/images/2016/RetratosDaL eitura2016_LIVRO_EM_PDF_FINAL_COM_CAPA.pd f. ˃ Acesso em: 30 mar. 2020.

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