Preparos minimamente invasivos
Urubatan MedeirosDoutor (USP) – Professor Titular do Departamento de Odontologia Preventiva e Comunitária UERJ/UFRJ
Coordenador da Disciplina de Odontologia Preventiva – UFRJ Resumo de Aula
1 - Adequação do meio bucal
É uma técnica minimamente invasiva que objetiva eliminar ou reduzir a infecção cariogênica na cavidade bucal.
Com o entendimento de que os ecossistemas microbianos da cavidade bucal localizam-se preferencialmente aderidos em cavidades, a técnica objetiva a limpeza desses locais com o posterior vedamento com material provisório. Lesões cavitadas Colônias microbianas na cavidade bucal
Padrão de colonização de EGM: molares, pré molares, incisivos, caninos. Adequação do Meio Bucal:
Procedimento no qual removemos uma quantidade máxima de tecido cariado com posterior fechamento de cavidades com um cimento ionomérico ou cimento provisório convencional, dando tempo para que o paciente possa restabelecer o equilíbrio bucal e que as restaurações definitivas sejam colocadas em um ambiente menos contaminado.
2 - REMOÇÃO QUÍMICO-MECÂNICA DAS LESÕES CARIOSAS Remoção químico mecânica de lesões cariosas
Hipoclorito de sódio = agente proteolítico não específico Instabilidade química e potencial agressivo aos tecidos Carisolv®; Papacárie®
Estratégia de aplicação
“Remoção químico-mecânica da lesão através da ruptura de colágeno desnaturado na zona desmineralizada e remoção de mineral desapoiado por suaves movimentos mecânicos, mantendo a estrutura remanescente saudável para aplicação de quaisquer procedimentos”.
Carisolv – Apresentação
• Seringa única com ponteiras (sistema de espirais) para mistura da quantidade a ser utilizada
• Gel de coloração vermelho transparente composto de ácido glutâmico, leucina, lisina, cloreto de sódio, eritrosina, água destilada e hidróxido de
sódio, com pH final 11 e, concentração de 0,025% de hipoclorito de sódio (ativo por 20-30 minutos)
Dentina – Progressão de lesões
Governada pela intensidade do desafio ácido bacteriano, pela estrutura e resposta do tecido.
Bactérias afetam tecido mineralizado
Redução do tamanho dos cristais formando áreas com “poros” Difusão de ácidos e dissolução de minerais
Indução de resposta via odontoblastos e deposição de minerais nos túbulos (DES-RE)
Exposição do colágeno ao ataque ácido com quebra de estruturas Carisolv – Técnica de aplicação
Colocação do gel na cavidade Espera de 30 segundos
Seleção de instrumento manual Remoção de tecido cariado Aplicação repetida, se necessário Secar com bolinha de algodão Restauração
3 - Tratamento Restaurador Atraumático – TRA Atraumatic Restorative Treatment – ART
É um procedimento calcado nos princípios de promoção de saúde, baseado na remoção de dentina infectada com instrumentos manuais, onde retira-se a maior parte do tecido doente e preserva-se a maior parte do tecido sadio. Em seguida a cavidade é restaurada com material adesivo autopolimerizável (CIV com formulação específica)
Essa técnica surgiu em 1991 (WHO – Groningen University - Netherland) para ser aplicada em comunidade de refugiados da Ásia e África em locais onde não se dispunha de energia elétrica.
Posteriormente passou a ser utilizada em zonas rurais e comunidades indígenas.
Atualmente tem sido utilizado em serviços públicos de cidades e pode ser adaptada para a clínica privada.
Possui adesão química ao esmalte e à dentina, proporcionando excelente selamento cavitário.
Possui liberação continuada de fluoretos, produzindo hipermineralização da dentina e impedindo infecções secundárias.
Excelente biocompatibilidade do material em relação à polpa dentária.
Boa dureza e resistência ao desgaste, com mínima degradação aos fluidos bucais.
Indicações:
Restaurador de superfície única em dentes permanentes ou decíduos; Selador de sulcos e fissuras;
Restaurador provisório de longa duração. Contra indicações:
Restaurações definitivas envolvendo duas ou mais faces e lesões cavitadas muito próximas à polpa.
Técnica de aplicação: Isolamento relativo;
Remoção do tecido cariado com instrumento manual; Lavagem da cavidade e posterior secagem;
Condicionamento da cavidade Lavagem e secagem
Manipulação do material (tempo máximo = 2 min.)
Inserção e escultura do material restaurador, num tempo total de trabalho de 2’20’’;
Aplicação do verniz de proteção, com pincel de cerdas finas e secar com jatos suaves de ar;
Enxaguar a cavidade para retirar o gosto amargo do verniz;
Advertir ao paciente para não mastigar sobre a restauração no período de 24 hs.
4 - Selantes de Sulcos e Fissuras Oclusais
♦ São materiais resinosos, sílico ou oxi-resinosos, os quais aplicados nas superfícies oclusais de molares e pré-molares têm por finalidade a formação de uma barreira física entre a superfície dentária e o meio bucal, impedindo a penetração e a adesão dos microorganismos responsáveis pelo desenvolvimento de lesões cariosas.
Potencial preventivo FLUORETOS
♦ 80% de proteção nas superfícies lisas.
♦ 20% de proteção na região de sulcos e fissuras. SELANTES
♦ 100% de proteção na área indicada.
♦ Técnica correta de aplicação mantém a retenção e integridade. ♦ “50% de todas as lesões cavitadas ocorrem em superfícies oclusais” ♦ Kemper,R.N.
Propriedades que os materiais seladores devem exibir ♦ Ligadura físico-química à superfície do esmalte;
♦ Resistência ao esforço mastigatório, ♦ Resistência aos ácidos do meio bucal; ♦ Integridade superficial;
♦ Biocompatível com os tecidos da cavidade bucal; ♦ Devem exibir ação cariostática;
♦ Não devem interferir na estética. ♦
Desenvolvimento dos materiais seladores Miller (1905): utilização do Nitrato de Prata
Hyatt (1923): preconizou a técnica da “odontotomia profilática” Bodecker (1926): preconizou a técnica da “ameloplastia”
♦ BUONOCORE (1955): desenvolveu a técnica do condicionamento ácido do esmalte dental.
♦ Formação de “tags” de esmalte permitindo o embricamento mecânico com o material selador.
♦ Desenvolvimento efetivo dos materiais seladores, que saíram do laboratório e evoluíram para a prática clínica.
Selantes de sulcos e fissuras: ♦ Selantes à base de Bis-GMA
♦ Selantes à base de cimentos ionoméricos Selantes à base de Bis-GMA
♦ São compostos associados de resina Bis-GMA (resina de Bowen) + monômeros diluentes.
♦ Essa associação deve permitir a redução da viscosidade da resina, com o consequente aumento do escoamento.
♦ São também chamados de selantes “resinosos”. ♦ Possuem alto coeficiente de penetração;
♦ Possuem propriedades umectantes; ♦ Redução de cárie = 100%
♦ Retenção do material = 100%
♦ Após 5 anos = integridade superior a 75% ♦
Selantes Ionoméricos
♦ Surgiram a partir da evolução clínica dos próprios cimentos de ionômero de vidro, e vieram a substituir os antigos cimentos de policarboxilato, que também eram utilizados como materiais seladores.
♦ Os cimentos de ionômero de vidro utilizados para selamento são os do tipo III, específicos para essa finalidade.
♦ Na atualidade têm sido utilizados na forma híbrida, cuja composição também apresenta resina;
♦ Os melhores seladores são os cimentos de última geração, do tipo puro, porém reforçados, utilizados também no TRA;
♦ Os demais cimentos ionoméricos têm utilização restrita, com necessidade de realização de estudos longitudinais e da realização de ameloplastia.
O que ocorre ao selarmos um dente onde o processo carioso está presente, porém não é detectável clinicamente?
♦ O condicionamento ácido do esmalte reduz em 75% o número de microorganismos cultiváveis. Jensen & Handelman
♦
♦ Existe uma redução progressiva do número de microorganismos, a partir de 14 dias após a aplicação do selante. Jeronimus, D.J. e colab
♦
♦ Os microorganismos persistentes não são capazes de prosseguir com a destruição do tecido dentário. Going,R.E. & colab
♦
♦ Desde que o selante permaneça com sua integridade, as lesões cariosas tornam-se clinicamente inativas e bacteriologicamente estéreis. Theilade,E. & colab.
Indicações e Contra indicações Morfologia Oclusal: tipo de sulco Idade do dente desde a erupção Susceptibilidade à cárie dental
Utilização conjunta com outros métodos preventivos Técnica de Aplicação
♦ Isolamento absoluto do dente ou grupo de dentes;
♦ Profilaxia com taça de borracha e pasta de pedra pomes de granulação fina;
♦ Melhorar a limpeza utilizando escova de Robbinson com cerdas ultra-fine.
♦ Lavagem criteriosa com jatos de água; ♦ Secagem com jatos de ar;
♦ Condicionamento ácido do esmalte;
♦ Lavagem criteriosa com jatos suaves de água; ♦ Aplicação do selante em fina camada ;
♦ Polimerização de acordo com o selante utilizado; ♦ Teste de retenção do selante;
♦ Teste de oclusão. Controle Clínico
♦ Os pacientes que se submeteram ao tratamento com selantes de sulcos e fissuras oclusais devem ser examinados a cada intervalo de seis meses.
♦ Verificar a retenção e a integridade do material selador Selantes ionomériocs x selantes resinosos
♦ Na atualidade, com a filosofia de promoção de saúde, espera-se que os materiais odontológicos exibam biocompatibilidade e adesividade.
♦ Os selantes ionoméricos, além de apresentarem essas propriedades, ainda liberam fluoretos, o que é bastante desejável.
♦ Os selantes resinosos tendem ao desaparecimento. Conclusões
♦ Os selantes devem ser utilizados regularmente em dentes recém-erupcionados, desde que preencham os requisitos que os indiquem para o selamento.
♦ A utilização isolada de fluoretos produz pouco efeito na prevenção de lesões cavitadas na região de sulcos e fissuras, enquanto os selantes, quando inatos e retidos completamente, protegem em 100%.
♦ Todos os dentes que recebem selamento devem ser submetidos a um controle clínico, em intervalos regulares de tempo, para a verificação da integridade do material selador.
♦ A efetividade e durabilidade dos selantes estão intimamente relacionadas com o condicionamento ácido do esmalte num tempo ideal, num isolamento sem riscos de contaminação e com uma técnica de aplicação correta.