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Estudo da MERCER distorce a realidade mas serviu na campanha contra a Função Pública Pág. 1

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Estudo da MERCER distorce a realidade mas serviu na campanha contra a Função Pública Pág. 1

Eugénio Rosa – Economista – Este e outros estudos disponíveis em www.eugeniorosa.com

O ESTUDO DA MERCER SOBRE AS REMUNERAÇÕES DISTORCE A REALIDADE MAS SERVIU AO GOVERNO PARA MANIPULAR OPINIÃO CONTRA OS TRABALHADORES DA FUNÇÃO PÚBLICA

RESUMO DESTE ESTUDO

Mais uma vez os trabalhadores da Função Pública foram objeto de uma campanha com o objetivo de virar a opinião pública contra eles. Agora o pretexto utilizado foi que auferiam remunerações superiores aos trabalhadores do setor privado. Para isso foi utilizado um estudo encomendado pelo governo a uma multinacional MERCER que distorce a realidade e contém erros graves. Em 2006, o governo de Sócrates encomendou à multinacional CAPGEMINI a realização de um “Estudo comparado dos sistemas de remuneração entre o setor público e o setor privado”. Esse estudo mostrou que a generalidade dos trabalhadores da Função Pública ganhavam menos do que os do setor privado para idênticas funções. Segundo este estudo, em 2006, a remuneração de um diretor geral na Administração Pública era inferior entre -46% e 61,5% à do setor privado; a dum analista informático era inferior entre 23% e 28%; a de um jurista era inferior entre 27% e 31%; a de um economista era inferior entre 10% e 16%; a de um engenheiro era inferior entre -40% e-43%; a de um médico era inferior em -16,6%; e a de um enfermeiro era inferior em -36,1%; a de um assistente técnico (administrativo) era inferior entre -42,5% e-47,6%; no grupo de assistentes operacionais, a de um eletricista era inferior na Administração Pública entre 13,4% e -47,6%; a de uma telefonista era inferior em -13,6%; e a de um motorista entre -37,9% e -38,8%. Em 2012, o governo e a “troika”, ignorando esse estudo (o SE da Administração Pública afirmou que o desconhecia, o que mostra a forma como são utilizados os dinheiros públicos), encomendou a MERCER, outra multinacional, outro estudo, gastando mais muitos milhares de euros. E para que os resultados fossem diferentes a MERCER utilizou uma metodologia diferente da utilizada pela CAPGEMINI. No lugar de calcular os salários médios do setor privado com base nas remunerações praticadas pelas pequenas, médias e grandes empresas, como tinha feito a CAPGEMINI, utilizou apenas as remunerações das pequenas empresas que normalmente pagam remunerações mais baixas. Isso causou diferenças muito grandes. Por ex., a nível de técnicos superiores (TS) , os valores da MERCER são inferiores aos da CAPGEMINI entre 27.7% e -50,7%; em relação aos enfermeiros o valor utilizado pela MERCER é inferior ao da CAPGEMINI em 39,5%; a nível de assistentes técnicos (AT) são inferiores entre -30% e-35%; em relação aos assistentes operacionais (AO) os valores da MERCER são inferiores entre -2,3% e -45,7%. É com remunerações obtidas desta forma que depois são feitas as comparações com a Função Pública. Mas as “habilidades” utilizadas pela MERCER para distorcer a realidade não ficam por aqui. A juntar à anterior a MERCER não considerou as remunerações efetivamente recebidas pelos trabalhadores da Função Pública em 2012, mas sim aquelas que eles receberiam se não tivessem nem sofrido cortes nas remunerações nem o confisco do subsídio de férias e de Natal. Entrando com os cortes nas remunerações (entre 3,5% e 16%) e com o confisco do subsídio de férias e de Natal, as remunerações efetivamente recebidas pelos trabalhadores da Função Pública foram inferiores, em média, em 25% às utilizadas pela MERCER no seu estudo, o que contribui para que o estudo desta empresa não tenha qualquer credibilidade já que distorce totalmente a situação, a nível de remunerações, entre o setor privado e o setor público.

E como a criatividade da “MERCER” para agradar o cliente não tem limites criou profissões e remunerações virtuais para estabelecer comparações com remunerações de profissões que existem na Administração Pública, mas não no setor privado (Forças Armadas, Forças de Segurança, Inspeções, etc.). Foi desta forma, que a MERCER concluiu que o ganho médio do oficial das forças armadas, da PSP, da GNR, da chefia tributária, e da policia judiciária está “abaixo do mercado”, mas que o ganho médio mensal (GMM) dos sargentos, do Pessoal do SEF está “em linha com o mercado” , e que o ganho das praças das FA, dos chefes e dos agentes da PSP, dos sargentos e guardas da GNR, do Pessoal da Administração Tributária e Aduaneira, do Pessoal de Inspeção, do Bombeiro, da Policia Municipal , do Oficial de Justiça, da Policia Judiciária e Guarda Prisional, está “acima do mercado”. E para isso utilizou uma metodologia a que chama “Mercer IPE”, que tem como base cinco fatores – Impacto, Comunicação, Inova, Conhecimento e Risco – cuja aplicação prática não explica, permitindo assim que se pense que domina a aleatoriedade e arbitrariedade

E foi com base num estudo desta natureza, sem credibilidade técnica, que a generalidade dos órgãos de comunicação social intoxicaram a opinião pública, mais uma vez, contra os trabalhadores da Função Pública com o estafado tema de “privilegiados”. Por ex., o Diário Economico de 19.3.2013, noticiava na 1ª página com letras garrafais: “Maioria do Estado ganha mais do que o sector privado”, quando isso era mentira. Outros jornais e mesmo as TV´s seguiram-lhe o exemplo. Os media, a não alertarem os leitores para os erros e distorções do estudo da Mercer, acabaram, objetivamente, por participar numa operação de manipulação e de engano da opinião pública, já que fizeram passar, como verdades, mentiras.

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Estudo da MERCER distorce a realidade mas serviu na campanha contra a Função Pública Pág. 2 Em 2006, o governo de Sócrates contratou a multinacional CAPGEMINI para elaborar um “Estudo comparado de sistemas de remuneração entre o sector público e o sector privado”. O objetivo era claro: mostrar que as remunerações dos trabalhadores das Administrações Públicas eram muito superiores aos do setor privado. Como os resultados do estudo mostraram precisamente o contrário, como reconheceu o ex-ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, quando o confrontamos durante o debate do Orçamento do Estado na Assembleia da República em que participamos, o governo escondeu estudo, e esse objetivo foi esquecido, apesar do estudo ter custado aos contribuintes portugueses muitas centenas de milhares de euros.

Em 2012, sob o comando da “troika”, o governo PSD/CDS, ignorando tal estudo (o Secretário de Estado da Administração Pública, na reunião realizada com os sindicatos da Frente Comum em 20.3.2013, afirmou mesmo que o desconhecia), contratou a multinacional MERCER para que fizesse novo estudo (“Análise comparativa das remunerações praticadas no Sector Público e no sector privado”). Mas agora teve mais cuidado para que os resultados fossem os desejados. E para isso a MERCER utilizou uma metodologia diferente da usada pela CAPGEMINI. No lugar de utilizar a informação das remunerações de todas as empresas do setor privado constantes da sua base de dados (Total Remuneration Survey – TRS) que engloba pequenas, médias e grandes, empresas como tinha feito a CAPGIMINI (a base de dados utilizada pela CAPGEMINI era da MERCER como consta do Anexo 2, pág. 397 do seu estudo),utilizou apenas a informação das remunerações referentes às pequenas empresas (empresas, em média, com 30 trabalhadores e 13 milhões de euros de volume de negócios), como consta da pág. 47 do seu estudo. E isto apesar da realidade de uma pequena empresa ser totalmente diferente da do Estado. No entanto, como estas empresas pagam normalmente remunerações inferiores às pagas pelas médias e pelas grandes empresas, era assim mais fácil mostrar que as remunerações na Função Pública eram superiores às das empresas privadas. Mesmo assim, na reunião que teve com os sindicatos da Frente Comum da Função Pública, o Secretário de Estado confessou que os resultados obtidos ainda não eram os que esperavam, e que o estudo vai ser “esquecido” pelo governo.

O ESTUDO DA MERCER NÃO TEM QUALQUER CONSISTENCIA TÉCNICA E DISTORCE A REALIDADE Comecemos pela representatividade da amostra das empresas privadas cujas remunerações serviram de base de comparação com as da Administração Pública utilizada pela MERCER. Na pág.46 do seu estudo, a MERCER diz que tem uma base “289 empresas do mercado português, englobando dados referentes a 38.325 colaboradores”. No entanto, nada esclarece como foram selecionadas estas empresas. Por outro lado, e contrariamente ao que fez a CAPGEMINI para elaborar o estudo solicitado pelo governo de Sócrates que utilizou todas as empresas daquela base, a MERCER utilizou, naturalmente porque isso era mais conveniente para os objetivos do cliente, apenas as empresas pertencentes ao “Percentil 25%”, ou seja, constituído por pequenas empresas (em média com 30 trabalhadores), naturalmente com remunerações mais baixas. Ao reduzir a amostra desta forma tornou-a menos representativa (o número de trabalhadores da amostra foi reduzido de 38.325 para apenas 2.167), o que tornou os resultados menos consistentes os quais já tinham sido enviesados (distorcidos) através da forma como os selecionou dentro das 389 empresas da sua base (apenas considerou os salários dos trabalhadores pertencentes a pequenas empresas).

Para que o leitor possa ficar com uma ideia como foram distorcidas as conclusões vamos comparar as remunerações do setor privado utilizados pela CAPGEMINI e pela MERCER nos respetivos estudos para as comparar com as do setor público. O quadro 1, construído com dados constantes do estudo da CAPGEMINI, permite ficar a conhecer quais os valores das remunerações do setor privado que a MERCER tinha fornecido à CAPGEMINI para esta elaborar o seu estudo para o governo de Sócrates, assim como as diferenças a que chegou entre as remunerações do setor privado e do setor publico que não agradaram o governo.

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Estudo da MERCER distorce a realidade mas serviu na campanha contra a Função Pública Pág. 3

Eugénio Rosa – Economista – Este e outros estudos disponíveis em www.eugeniorosa.com

Quadro 1- Diferença das remunerações entre o setor privado e o setor publico de acordo com o estudo da CAPGEMINI – 2006

ESTUDO DA CAPGEMINI - 2006 CARGOS FUNÇÃO PÚBLICA Ganho médio mensal (inclui remuneração base + complementos) SETOR PRIVADO Ganho médio mensal (inclui remuneração base + complementos) Ganho médio da Função em relação ao do Setor Privado

Diretor Geral-Pequena empresa 4.214 € 7.938 € -46,9%

Diretor Geral-Média empresa 4.215 € 9.377 € -55,1%

Diretor Geral - Grande empresa 4.215 € 10.936 € -61,5%

Diretor Serviços -Pequena empresa 3.118 € 5.012 € -37,8%

Diretor Serviços -Média empresa 3.189 € 5.668 € -43,7%

Diretor Serviços -Grande empresa 3.118 € 6.919 € -54,9%

TS-Analista informática-5º-8º escalões 2.947 € 3.849 € -23,4%

TS-Analista informática- 1º-4º escalões 2.694 € 3.772 € -28,6%

TS-Arquiteto 2.059 € 2.165 € -4,9%

TS-Consultor Juridico - Assessor principal 2.599 € 3.772 € -31,1%

TS-Consultor Jurídico - Técnico superior Principal 2.059 € 2.830 € -27,2% TS-Economista Financeiro-Assessor principal 2.599 € 2.892 € -10,2% TS-Economista Financeiro-Assessor-Técnico Sup. Principal

2.059 € 2.455 € -16,1%

Educadora infância 1.712 € 1.627 € +5,3%

Professor ensino básico 1.712 € 1.632 € +4,9%

TS-Engenheiro /Assessor Principal 2.599 € 4.769 € -45,5%

TS-Engenheiro /categoria de assessor 2.202 € 3.679 € -40,1%

TS-Engenheiro /categoria de Tecnico Superior Principal

1.885 € 3.308 € -43,0%

TS-Engenheiro /categoria de Técnico Superior 1ª e 2ª classe

1.512 € 2.536 € -40,4%

Medico assistente 2.752 € 3.298 € -16,6%

Enfermeiro especialista 1.694 € 2.504 € -32,4%

Tecnico de informática - níveis 1 e 2 2.138 € 2.373 € -9,9%

AT-Assistente administrativo Especialista 997 € 1.560 € -36,1%

AT-Assistente administrativo principal 851 € 1.479 € -42,5%

AT-assistente administrativo 769 € 1.466 € -47,6%

AO-Eletricista -operário principal 867 € 1.272 € -31,8%

AO-Eletricista -operário 724 € 837 € -13,4%

AO-Mecânico -operário principal 867 € 1.610 € -46,2%

AO-Mecânico -operário 724 € 1.013 € -28,5%

AO-Auxiliar de limpeza 555 € 804 € -31,0%

AO-Telefonista 610 € 706 € -13,6%

AO-Motorista ligeiros 639 € 1.044 € -38,8%

AO-Motorista pesados 593 € 953 € -37,9%

Segundo o estudo da CAPGEMINI, realizado em 2006, excetuando o caso dos professores (e é um caso particular que esclareceremos mais à frente), em todas as outras profissões as remunerações no Estado são inferiores às do setor privado, atingindo em relação a certas profissões diferenças muito grandes. Por ex., a remuneração de um diretor geral na Administração era inferior entre -46% e 61,5% à praticada no setor privado; a dum analista informático era inferior entre -23% e -28%; a de um jurista era inferior entre -27% e -31%; a de um economista era inferior entre -10% e -16%; a de um engenheiro era inferior entre -40% e-43%; a de um médico era inferior em -16,6%; e a de um enfermeiro era inferior em -36,1%; a de um assistente técnico (assistente administrativo) era inferior entre -42,5% e-47,6%; no grupo de assistentes operacionais, a de um eletricista era inferior na Administração Pública entre -13,4% e – 47,6% à do setor privado; a de um mecânico era inferior entre -28,5% e -46,2%; a de um auxiliar de limpeza era inferior em -31%; a de um telefonista era inferior em -13,6%; e a de um motorista era inferior entre -37,9% e -38,8%.

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Estudo da MERCER distorce a realidade mas serviu na campanha contra a Função Pública Pág. 4 AS REMUNERAÇÕES DO SETOR PRIVADO UTILIZADAS PELA MERCER EM 2012 SÃO MUITO

INFERIORES ÀS UTILIZADAS, EM 2006, PELA CAPGEMINI

A questão que interessa esclarecer, e que não foi ainda esclarecida, é a seguinte: Como é que a MERCER conseguiu chegar a conclusões, em muitos caso, diferentes da que chegou a CAPGEMINI em 2006, apesar de ter apoiado esta última empresa pois tinha uma parceria com ela? O quadro 2, onde constam o valor das remunerações do setor privado utilizado por cada uma das empresas, mostra de uma forma clara como isso foi conseguido.

Quadro 2- Valor das remunerações utilizadas pela CAPGEMINI em 2006, e pela MERCER em 2012 para comparar com as remunerações da Administração Pública

ESTUDO DA CAPGEMINI - 2006

ESTUDO MERCER-2012

CARGOS SETOR PRIVADO

Ganho médio mensal

(inclui remuneração base

+ complementos)

SETOR PRIVADO Ganho médio mensal

(inclui remuneração base

+ complementos)

Relação das remunerações do privado utilizadas pela CAPGEMINI com

as da MERCER

Diretor Geral-Pequena empresa 7.938 € -7,7%

Diretor Geral-Média empresa 9.377 € -21,8%

Diretor Geral - Grande empresa 10.936 €

7.330 €

-33,0%

Diretor Serviços -Pequena empresa 5.012 € -16,2%

Diretor Serviços -Média empresa 5.668 € -25,9%

Diretor Serviços -Grande empresa 6.919 €

4.200 €

-39,3%

TS-Analista informática-5º-8º escalões 3.849 € -57,5%

TS-Analista informática- 1º-4º escalões 3.772 € 1.635 € -56,7%

TS-Consultor Jurídico - Assessor principal 3.772 € -45,8%

TS-Consultor Jurídico - Técnico superior

Principal 2.830 € 2.045 € -27,7% TS-Economista Financeiro-Assessor principal 2.892 € -44,7% TS-Economista

Financeiro-Assessor-Técnico Superior Principal 2.455 €

1.600 €

-34,8%

Educadora infância 1.627 € 1.500 € -7,8%

Professor ensino básico 1.632 € 1.500 € -8,1%

TS-Engenheiro /Assessor Principal 4.769 € -62,3%

TS-Engenheiro /categoria de assessor 3.679 € -51,1%

TS-Engenheiro /categoria de Técnico

Superior Principal 3.308 € -45,6%

TS-Engenheiro /categoria de Técnico

Superior 1ª e 2ª classe 2.536 €

1.800 €

-29,0%

Medico assistente 3.298 € 4.220 € +27,9%

Enfermeiro especialista 2.504 € 1.515 € -39,5%

Técnico de informática - níveis 1 e 2 2.373 € 1.455 € -38,7%

AT-Assistente administrativo

Especialista/enfermeiro 1.560 € -35,0%

AT-Assistente administrativo principal 1.479 € -31,4%

AT-assistente administrativo 1.466 €

1.015 €

-30,8%

AO-Eletricista -operário principal 1.272 € -45,7%

AO-Eletricista -operário 837 € -17,5%

AO-Mecânico -operário principal 1.610 € -57,1%

AO-Mecânico -operário 1.013 € -31,9% AO-Auxiliar de limpeza 804 € -14,2% AO-Telefonista 706 € -2,3% AO-Motorista ligeiros 1.044 € -33,9% AO-Motorista pesados 953 € 690 € -27,6% Excetuando o caso dos médicos, em relação a todas as profissões os valores das remunerações do setor privado utilizados pela MERCER em 2012 são significativamente inferiores aos valores utilizados pela CAPGEMINI em 2006. Calculando a média dos valores constantes do quadro 2 da CAPEMINI e da MERCER conclui-se que os desta última são inferiores aos da primeira empresa (CAPGEMINI) em cerca de -22%. No entanto, existem profissões onde a diferença é muito maior. Por ex., a nível de técnicos superiores (TS) , os valores da MERCER são inferiores aos da

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Estudo da MERCER distorce a realidade mas serviu na campanha contra a Função Pública Pág. 5

Eugénio Rosa – Economista – Este e outros estudos disponíveis em www.eugeniorosa.com

CAPGEMINI entre -27.7% e -50,7%; em relação aos enfermeiros o valor utilizado pela MERCER é inferior ao da CAPGEMINI em 39,5%; a nível de assistentes técnicos (AT) são inferiores entre -30% e-35%; em relação a assistentes operacionais (AO) os valores da MERCER são inferiores entre -2,3% e -45,7%.

Estes dados mostram com clareza a forma como a MERCER elaborou o seu estudo, e também esclarecem por que razão as conclusões a que chegou esta empresa no seu estudo são diferentes das da CAPGEMINI. E tudo isto ainda se torna mais chocante, se se tiver presente que, entre 2006 e 2012, as remunerações no setor privado aumentaram cerca de 16% segundo o Banco de Portugal, enquanto no setor público subiram apenas 8% (sem ter em conta os cortes de 3,5% a 16% das remunerações em 2011-2012 e o confisco do subsidio de férias e do Natal em 2012). A pergunta que se coloca é naturalmente a seguinte: Como é que as remunerações no setor privado em 2012 são inferiores às de 2006 apesar dos salários nos privados terem aumentado no período 2006-2012, segundo o Banco de Portugal, cerca de 16%? A resposta deixo-a ao leitor

A MERCER NO SEU ESTUDO NÃO UTILIZA AS REMUNERAÇÕES EFETIVAMENTE RECEBIDAS PELOS TRABALHADORES DA FUNÇÃO PÚBLICA EM 2012

A MERCER sabia certamente que o seu estudo iria ser divulgado. Para potenciar o ataque aos trabalhadores da Função Pública, e virar contra estes a opinião pública, a MERCER faz outra habilidade no seu estudo. Embora faça comparações entre as remunerações do setor privado e do setor publico em relação ao ano de 2012, não considera para tais comparações as remunerações efetivamente recebidas pelos trabalhadores da Função Pública, mas sim aquelas que eles receberiam se não tivessem sofrido cortes nem lhes tivesse sido confiscado o subsídio de férias e de Natal. O quadro 3 mostra a diferença entre as remunerações da Função Pública recebidas efetivamente pelos trabalhadores em 2012, e as consideradas pela MERCER no seu estudo.

Quadro 3- Valor das remunerações recebidas pelos trabalhadores e as utilizadas pela MERCER

GANHO MÉDIO MENSAL (Ganho anual dividido por 14) NA

ADMINISTRAÇÃO em 2012 (inclui tudo o que trabalhador recebe)

CARGOS Valor

utilizado pela MERCER

Valor recebido pelo trabalhador (calculado

com base nos dados da DGAEP de Out.2012)

Relação do valor recebido pelo trabalhador com o utilizado pela MERCER

Direção Topo 1º nível 5.030 € -28,1%

Direção Topo 2º nível 4.426 € 3.618 € -18,3%

Direção intermedia 1º nível 3.610 € -31,6%

Direção intermedia 2º nível 2.990 € -17,4%

Direção intermedia 3º nível 2.240 €

2.469 € 10,2% Técnico superior 1.766 € 1.509 € -14,6% Informático 1.865 € 1.575 € -15,5% Assistente Técnico 1.035 € 917 € -11,4% Assistente Operacional 765 € 703 € -8,1%

Técnico superior Área Financeira 1.980 € 1.509 € -23,8%

Técnico superior jurista 1.890 € 1.509 € -20,2%

Engenheiro 1.885 € 1.509 € -20,0%

Docente ensino superior 3.375 € 2.354 € -30,3%

Educadores de infância, docentes

básico e secundário 2.095 € 1.776 € -15,2%

Médico 4.010 € 3.225 € -19,6%

Enfermeiro 1.625 € 1.413 € -13,0%

Pessoal administração tributária 2.005 € 1.686 € -15,9%

Pessoal inspeção 2.430 € 2.067 € -15,0%

Oficial de justiça 1.615 € 1.283 € -20,5%

Policia judiciária 2.280 € 1.905 € -16,4%

Guarda prisional 1.815 € 1.489 € -18,0%

Bombeiro 1.510 € 1.293 € -14,3%

A juntar às “habilidades” anteriores a MERCER acrescenta ainda mais uma outra: não considerou as remunerações efetivamente recebidas pelos trabalhadores da Função Pública em 2012, mas sim aquelas que eles receberiam se não tivessem nem sofrido cortes nas remunerações nem o confisco do subsídio de férias e de Natal. Entrando com os cortes nas remunerações (entre 3,5%

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Estudo da MERCER distorce a realidade mas serviu na campanha contra a Função Pública Pág. 6 e 16%) e com o confisco do subsídio de férias e de Natal, as remunerações efetivamente recebidas pelos trabalhadores da Função Pública são inferiores, em média, em mais de 20% às utilizadas pela MERCER no seu estudo, o que contribui, mas não é a única razão como mostramos neste estudo, para que o estudo desta empresa não tenha qualquer credibilidade já que distorce totalmente a situação, a nível de remunerações, entre o setor privado e o setor público.

MAS AS “HABILIDADES” DA MERCER NÃO TERMINARAM

Mesmo em relação às profissões que não existem no setor privado (forças armadas, forças de segurança, policias, guardas prisionais, administração tributária, inspeções, diplomatas, juízes, etc.) a “MERCER” construiu profissões virtuais que designa por “profissões com funções de idêntico valor do setor privado analisado” (pág. 78 do seu estudo), e com base nelas determina o “Ganho Médio Mensal” (GMM) e faz comparações. A “criatividade” da MERCER não tem limites para agradar o cliente. Mas é desta forma, que a MERCER conclui que o ganho médio do oficial das forças armadas, da PSP, da GNR, da chefia tributária, e da policia judiciária está “abaixo do mercado”; mas que o ganho médio mensal dos sargentos, o Pessoal do SEF está “em linha com o mercado” , e que as praças das FA, os chefes e os agentes da PSP, os sargentos e guardas da GNR, o Pessoal da Administração Tributária e Aduaneira, o Pessoal de Inspeção, o bombeiro a Policia Municipal , Oficial de Justiça, a Policia Judiciária e Guarda Prisional auferem um ganho médio mensal, que inclui tudo o que recebem, que está “acima do mercado”. E para fazer tudo isto utiliza uma metodologia a que chama “Mercer IPE”, que tem como base cinco fatores – Impacto, Comunicação, Inova, Conhecimento e risco – mas cuja aplicação prática não explica, permitindo assim que se possa pensar que domina a aleatoriedade e a arbitrariedade.

Em relação aos professores o erro de análise (as remunerações serem muito elevadas) é evidente, como afirmaram os dirigentes dos respetivos sindicatos. No setor privado da educação domina a política de despedir trabalhadores para impedir que, com o aumento da antiguidade, progridam na carreira e recebam mais, e de os substituir por professores mais novos para assim pagar remunerações mais baixas. Apesar de isso ser uma prática corrente no setor, a MERCER no seu estudo ignora essa realidade (peso de antiguidade num e no outro setor) que diferencia o setor privado do público, distorcendo assim as conclusões a que chega.

O desaforo da MERCER ultrapassa os limites quando, no fim do estudo, se põe a fazer recomendações (pág. 86 do estudo) defendendo: (1) “Uma revisão atual da política salarial da Administração Pública com o objetivo de promover um alinhamento com as práticas remuneratórias do setor privado; (2) Uma reflexão sobre o atual modelo de remuneração variável da Administração Pública para implementar práticas mais diferenciadoras”. E tudo isto de uma empresa que revela desconhecer totalmente a realidade atual da Administração Pública, ajustando as suas conclusões aos interesses do cliente. É mais um estudo que custou aos contribuintes portugueses 65.000€ para esquecer, como afirmou o SE da Administração Pública, mas que serviu para manipular mais uma vez a opinião pública contra os trabalhadores da Função Pública com o estafado tema de que são privilegiados, um tema muito querido a Passos Coelho e à “troika” nas suas campanhas de propaganda contra a Administração Pública Portuguesa.

Eugénio Rosa

eugeniorosa@zonmail.pt 23.3.2013

INFORMAÇÃO SOBRE A APOSENTAÇÃO: Vários jornais noticiaram que era intenção do governo alterar novamente a formula de cálculo da pensão de aposentação, em relação ao tempo de serviço até 2005, para a fazer coincidir com a da Segurança Social. Como tal noticia criou naturalmente intranquilidade em muitos trabalhadores, aproveitei a reunião de 20.3.2013 com o Secretário de Estado para o confrontar diretamente com essa questão. Ele respondeu que o governo não tencionava alterar a fórmula de cálculo da pensão de aposentação. A informação vale o que vale, mas deixo-a aqui para tranquilidade dos trabalhadores da Função Pública

Referências

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