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ENSINO DE HISTÓRIA NUMA PERSPECTIVA LIBERTADORA: OS ESCRAVIZADOS NA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA, TRANSGRESSORA E LIBERTADORA

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ENSINO DE HISTÓRIA NUMA PERSPECTIVA LIBERTADORA: OS ESCRAVIZADOS NA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA, TRANSGRESSORA E

LIBERTADORA

Atenor Junior Pinto dos Santos1 Jamilly Bispo Laureano2 Resumo

A emergência por uma educação antirracista abre o debate para introdução de vários elementos no ensino de História, esse componente curricular, que embora seja objeto de desprezo por parte da sociedade brasileira, tem se constituído em um espaço de transgressão para professores, escritores e alunos de todo Brasil. O presente artigo busca o desenvolvimento da reflexão antirracista no ensino de história, nossa abordagem parte do princípio de uma educação libertadora, transgressora e reflexiva. Utilizando os registros de batismo de negros e escravizados na Bahia durante o século XIX, nosso objetivo e levantar a discussão acerca de uma educação que seja capaz de problematizar o ensino de história a partir das fontes. Debatendo com as fontes e na historiografia, consideramos que o processo educacional precisa da inserção libertadora e multicultural nos espaços de ensino.

Palavras-chave: Educação. Escravidão. Antirracismo. Transgressão. Introdução

Já está consolidado entre os pesquisadores, professores e demais membros das comunidades escolares que embora exista a Lei 10639/20033 na qual obriga aos educadores abordarem as temáticas acerca dos africanos e seus descendentes no Brasil, a discussão sobre a prática de professores ainda está longe do fim. Isso porque a temática exige muitos debates sobre quais são as melhores abordagens, como abordar? Qual a corrente historiográfica? Quais materiais utilizar? Quais são as fontes? e onde encontrar as fontes?

Tais perguntas apresenta não é algo fácil de se responder, tendo em vista que a temática apresenta muitos elementos e nem sempre o professor da conta de responder. As abordagens sobre essa discussão perpassam por elementos constitutivos que vão além de uma discussão

1 Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ensino e Relações Étnico-Raciais PPGER (E-mail.:

atenor.jr@gmail.com

2 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ensino e Relações Étnico-Raciais PPGER (E-mail.:

Jamillylaureano@gmail.com

3Lei 10.639/2003, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9. 394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da

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teórica, a exemplo da ancestralidade, circularidade, solidariedade, oralidade, integração, coletividade e outras.

A emergência por uma educação antirracista abre o debate para introdução de vários elementos no ensino de História, esse componente curricular que embora seja objeto de desprezo por parte da sociedade brasileira, tem se constituído em um espaço de transgressão para professores, escritores e alunos de todo Brasil. Numa perspectiva mundial, o Brasil tem contribuído para o debate, os escritos do patrono da educação Brasileira, professor Paulo Freire, ainda faz parte do roll de escritores citados nos debates acadêmicos quando se fala em ensino, ou quando se discute práticas libertadoras de ensinar, bell hooks ao escrever seu livro Ensinando a Transgredir: a educação como prática da liberdade4, publicado no Brasil em 2013, ela cita Paulo Freire como seu principal mentor intelectual, o considera como o inspirador, pois, as obras de Freire dialoga com suas raízes rural agrária, ainda aponta como que suas obras ajudam a pensar nas circunstâncias de suas identidades e num importante estágio para transformação da sua vida.

Nas relações étnicos-raciais, o que se tem buscado é o equilíbrio para implementar o ensino de história libertador, onde são dadas a oportunidades para que todos os membros das comunidades escolares e pesquisadores sejam ouvidos e respeitados. Percebe-se que a buscar por uma interação multicultural alimenta o sonho por um ensino de história transgressor que seja capaz de romper com as barreiras imposta pelos colonizadores.

Ao buscar uma referência para a discussão antirracista, educadores tem encontrado um vasto campo fértil, isso porque os elementos que compões a cosmovisão africana envolve diversos subsídios para a pesquisa. Assim, entendemos que as identidades são o caminho para encurtar a distância entre a aula por aula e a aula criada a partir do diálogo. A questões identitárias que está posta para a educação nos currículos no Brasil, este campo tem sido discutido como principal para a constituição de uma identidade positiva pelo movimento negro. O objetivo para discutir teoricamente uma ancestralidade africana no campo de uma educação brasileira intercultural. Um breve histórico da relação entre movimento negro e educação é traçado. Nota-se que tal ancestralidade pode trabalhar como uma estratégia que indica além da resistência, mas o visto transtornar uma representação de que o brasileiro tem como povo unificado e culturalmente homogêneo.

4 HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a Educação como prática de liberdade. Tradução de Marcelo Brandão

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Dessa forma, ao buscarmos outras alternativas para o ensino de história, que inclua os grupos invisibilizados e ouvimos como agentes transformador dessa sociedade, inserimos o pensamento do outro no debate contribuindo com o projeto político de transformar a educação brasileira. Para Candau é preciso que os agentes transformadores tenham consciência que é preciso uma desconstrução, e acrescenta “e discriminações que impregna – muitas vezes com caráter difuso, fluido e sutil – todas as relações sociais que configuram os contextos em que vivemos.”5

Como aponta a autora, o ensino de História precisa passar por um processo de mudanças, assim, será possível pensar numa educação libertadora e intercultural a partir do envolvimento de toda comunidade escolar envolvida na luta contra todas as formas colonizadoras e racista. Para esse projeto de educação descolonizadora e antirracista decolar é preciso que seja inserido nos materiais de apoio didáticos todos os pensamentos que venha corroborar para a construção de uma sociedade livre.

O pensamento para um ensino transgressor e libertador tenta superar o poder do outro colonizador. o modelo opressor dos colonizadores deixou marcas que são vistas até hoje, trata-se da colonialidade, ela está nas entranhas das mentes e não nos deixa libertamos dos modelos eurocêntricos. Mesmo na produção acadêmica, esta força se concretiza, seja nas literaturas publicadas ou até mesmo em salas de aulas.

1.Um breve passeio Historiográfico

No dia 10/03/1870, o senhor Manoel Domingues Mendes levou à pia batismal o primeiro filho da escravizada Martinha, o menor José6 de um mês e meio, tendo como padrinho o Senhor Gonçalo Mendes e madrinha o patrocínio de Nossa Senhora do Carmo. Posteriormente, com menos de um ano de diferença, Manoel Domingues Mendes voltou à pia batismal levando mais um filho da escravizada Martinha, possivelmente a mesma escravizada, para batizar a filha de nome Paula7 com dois meses de vida. Fato este que aconteceu em 10/09/1871, dias antes de ser promulgada a Lei do Ventre Livre. Os

5 CANDAU, Vera Maria. Direitos humanos, educação e interculturalidade: as tensões entre igualdade e

diferença. Revista Brasileira de Educação, v. 13 n. 37 jan./abr. 2008.

6 Livro de Batismo da Freguesia de Nossa Senhora do Carmo, Vila de Belmonte.(1867-1888). Disponível

em: https://familysearch.org/pal:/MM9.3.1/TH-1-15269-33919-32?cc=2177272&wc=M7ZY H3X:370035301,370035302,370035303. Acesso em: 09/10/2020.

7 Livro de Batismo da Freguesia de Nossa Senhora do Carmo, Vila de Belmonte.(1867-1888). Disponível em

https://familysearch.org/pal:/MM9.3.1/TH-1-15269-33919-32?cc=2177272&wc=M7ZY-H3X:370035301,370035302,370035303 Acesso em: 09/10/2020.

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padrinhos de Paula foi o casal Cantediano Jose do Carmo e D. Percilina Thereza do Carmo.

Os casos narrados apontam para alguns importantes aspectos da vivência dos escravizados da Freguesia de Nossa Senhora do Carmo - Vila de Belmonte. Infelizmente não foi possível distinguir os lugares sociais que os padrinhos ocupavam na Vila, o que podemos supor é que o fato do senhor Manoel Domingues Mendes ser comerciante pode ter sido um fator crucial para que os filhos da escravizada Martinha recebesse a benção concedida na pia batismal e o que contribuiu para isso provavelmente teria sido o fato de Manoel Domingues residir na zona urbana da Vila de Belmonte. Esse fato possibilitava que Martinha frequentasse a Igreja e mantivesse contatos com outras pessoas e até as convidasse para apadrinhar os seus filhos.

Esses casos nos chamou a atenção para a não repetição dos padrinhos que batizaram os dois filhos da escravizada Martinha. Martinha se utilizara desta estratégia pensando estabelecer vínculos familiares fora dos laços sanguíneos, sabendo que em tal circunstância isto se transformaria num importante via de negociações, para conquistas benefícios sociais dentro da realidade escravocrata.

Segundo Lago8, ter um padrinho livre era uma das manobras utilizadas pelos escravizados dentro da sociedade rigidamente hierarquizada e que poucos tinham acesso ao universo dos livres. O sacramento de batismo era um momento importante para a população escravizada e a escolha dos padrinhos tornava-se nesse momento um processo crucial.

A historiografia aponta que as alianças formadas através desse rito religioso traziam toda uma carga hierárquica. Segundo Slenes quando a escolha do padrinho era realizada entre os escravizados, eles geralmente optavam por outro escravizado que tivesse melhores condições, “Os padrinhos escravos davam ao bebê [escravo] recém-batizado, uma toalha, sabonete, camisola (...). Quando o afilhado chegava à idade “de fazer a barba pela primeira vez, seu padrinho presenteava-o com uma navalha, e sua madrinha comprava ou fazia uma toalha”9, os laços entre padrinhos e afilhados se tornavam uma ligação muito importante de sobrevivência.

8 LAGO, Rafaela Domingos. Sob os olhos de Deus e dos homens : escravos e parentesco ritual na província do

Espírito Santo (1831-1888). 2013. 155 f. Tese (Doutorado em História). Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória do Espírito Santo, 2013.

9 SLENES, Robert. Na Senzala, uma flor: esperanças e recordações na formação da família escrava. Brasil

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O parentesco simbólico tornou-se um acontecimento importante para analisarmos as relações sociais estabelecidas não apenas entre os cativos, como também entre seus senhores. O batismo possibilitou a construção de mais uma relação de parentesco, o do apadrinhamento e ou compadrio, tinha-se ali uma nova aliança formada. Como informa Santos: “No Brasil, o compadrio foi um ritual bastante praticado tanto por livres como por escravos e trata-se de uma herança da cultura ibérica. Através do ritual do batismo, a família era ampliada pelos laços espirituais10.

De tal forma entendemos que a tentativa de reconstrução das vivências dos escravizados na Vila de Belmonte vem acompanhada de questionamentos que envolve diretamente a vida de mulheres, homens, jovens e crianças belmontenses, oportunizando um conhecimento da própria identidade afro-brasileira. Neste sentido, pretendemos com esse artigo levantar a possibilidade do uso de documentos eclesiásticos da Freguesia de Nossa Senhora do Carmo da Vila de Belmonte que tange o período de 1867 à 1888, para compreender o uso dessas documentação do ensino de História, voltado para problematiza a presença da escravidão de origem africana no Sul da Bahia nos Oitocentos.

A produção historiográfica ao retratar a Bahia Oitocentista enfatizou muito mais o envolvimento da Capital Salvador e do Recôncavo como centro de comercialização e desenvolvimento durante todo o século XIX, representando o Sul baiano decadente e como pouca participação na economia da local.

1.2 A aprendizagem histórica a partir dos documentos Eclesiásticos de Batismo

O século XXI está repleto de informações novas e rápidas, onde cada seguindo pode proporcionar novos saberes, o século movido pelo tempo. O estudo de Ciampi11, traz exatamente esta preocupação porque mesmo com toda onda de informações oferecidas pelos diversos meios midiáticos tais como a TV, internet dentre outras, há uma preocupação de como ensinar história em um século como este, e de que forma pensar o papel do professor imerso

10 SANTOS, Joceneide Cunha dos. Entre farinhas procissões e famílias: a vida de homens e

mulheres escravos em Largato, Província de Sergipe (1850-1888). 2004. 180f. Dissertação (Mestrado em História) Universidade Federal da Bahia, Salvador.p.109, 2004)

11 CIAMPI, Helenice. Ensinar História No Século Xxi: Dilemas Curriculares. Coordenadora do GT de Ensino

da ANPUH - Seção São Paulo. Este artigo constitui parte da exposição na Mesa Redonda ocorrida no XX Encontro Regional da ANPUH - Seção São Paulo, em Franca, em 10/09/2010.

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neste novo tempo da mesma forma que o ensino de história muda ao longo do tempo às necessidades de aprender também sofre alterações.

Fazer do ensino de História um mecanismo dinâmico para envolver os alunos na construção do conhecimento é um desafio para todos os professores. Os alunos já chegam na sala de aula com diferentes percepções do que foi a escravidão no Brasil, porém através desta documentação a grande função do professor é instigar o senso crítico desenvolvendo novas percepções aos alunos, de acordo Nascimento,

trabalhar com documentos oportuniza aos alunos a possibilidade de compreender os sujeitos históricos e as realidades e formações sociais em seu devido tempo, em seu devido lugar. Em uma atividade didática, a qual se usa mais de um documento, como no nosso exemplo dos alunos para compreender e se enxergar dentro deste contesto.12

Fazer uso de documentos históricos no ensino de história é uma opção positiva para despertar no aluno o interesse de como se trabalha a história, que dentro das possibilidades é possível fazer para com que o ensino de história não fique mais atrelado a coisas “chata” desconstruindo a ideia de uma disciplina meramente acumuladora de fatos e datas e fortalecimentos dos “heróis” construídos ao longo da tempo. Onde através deste documentos eclesiásticos é possível perceber características da população que hoje compõe o Sul da Bahia que tem uma forte presença da população negra.

Durante muito tempo os grupos africanos estiveram silenciados da história de nosso país, e por serem vistos como elemento negativo na formação de nossa identidade foram deixados à margem. Entretanto, hoje compreendemos esses indivíduos como agentes históricos na construção de nossa nação e participantes de todo esse processo. Estudar a história afro-brasileira, bem como a própria História da África constitui elemento essencial para conhecermos diferentes culturas, entender a contribuição desses povos para o Brasil, romper com ideias eurocêntricas e com o preconceito.

Nesse sentido foi elaborada a Lei 10.639 de 200313 que torna obrigatório em todo o currículo escolar o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a

12 NASCIMENO. Jairo Carvalho do. O uso de documentos e a construção do conhecimento Histórico.

ANAIS do I II Encontr o Estadual de História: Poder, Cultura e Diversidade – ST 04: História e Educação: sujeitos, saberes e práticas.p.1.2006.

13 BRASIL. Lei 10.639/2003, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9. 394, de 20 de dezembro de 1996. Diário

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cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política. Posteriormente, uma outra lei entra em vigor; a Lei 11. 645 de 200814 que reforça mais uma vez o ensino da temática africana (além de incluir a história indígena).

Nas últimas décadas o leque de estudos sobre escravidão expandiu, evidenciando particularidades ainda inexploradas. Estudar as minorias tais como, gays, indígenas, escravidão de origem africana, mulheres e etc., no Brasil ainda é uma temática que envolve muita discussão. Para fundamentar o trabalho foram necessárias leituras sobre educação, uso de fontes eclesiásticas, a composição da Antiga Capitania de Porto Seguro nos Oitocentos, escravidão de origem africana, além da leitura e análise dos documentos de batismo (1867-1888) e óbito (1872-1888) da Freguesia.

A luta do movimento negro para ganhar mais espaço no ensino de História vem gerando importantes resultados, embora no livro didático essa temática ainda é muito escassa e com pouca problematização. Uma dessas conquista é a incorporação da Lei Outro aspecto é que a Lei 10639/0315 tornou obrigatório o ensino de história da África e cultura afro-brasileira, as vivências dentre outros aspectos das populações afro-brasileiras em todos os níveis de ensino. A abordagem do racismo na escola e na sociedade brasileira carrega um histórico permeado de diferentes formas de preconceito, e na atualidade assumir a identidade de afrodescendente tornou-se um ato de coragem que por sua vez vem sendo reafirmada pelo Movimento Negro.

Contudo, no âmbito escolar o preconceito racial está sendo refletido entre os estudantes, e em sua maioria por falta de conhecimento, que por outro lado, temáticas sobre história da cultura afro brasileira e cultura africana pode ser trabalhado pelos professores com o intuito de desenvolver a consciência moral, ética, cultural e consequentemente a capacidade de estabelecer valores e saberes entre os alunos. Sendo assim, Torna-se necessário que o professor se atualize, isso por meio da formação continuada ou pelo próprio exercício, para poder superar a construção de discursos e práticas racistas.

Uma prática que fora recorrente entre o fim do século XIX e as décadas iniciais XX foi o BlackFace que objetivava a interpretação de personagens de histórias infantis por alunos brancos com o rosto pintado de preto, essas performances no Estados Unidos foi utilizada para

14 BRASIL. Lei 11.645/08 de 10 de Março de 2008. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília.

15 BRASIL. Lei 10.639/2003, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9. 394, de 20 de dezembro de 1996. Diário

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consolidar e proliferar imagens, atitudes e percepções racistas no mundo, bem como, uma maneira de se apropriar, assimilar e explorar a cultura negra americana.

No Brasil o BlackFace foi utilizada com alguns aspectos diferentes, mas com o mesmo sentido norte americano. Em 1941 Abdias do Nascimento fundou o Teatro Experimental do Negro que objetivava a formação de atores negros, ideia essa que surgiu após Abdias assistir uma peça de teatro no Peru onde atores brancos se pintavam com graxa preta, sendo assim o teatro surge com o intuito de mostrar que os negros são capazes de representar papeis no cinema e teatro brasileiro.

Na história brasileira por mais que o negro venha conquistando seu espaço no teatro, TV, cinema e música, contudo os papeis ainda buscam uma representação dos negros somente em classes trabalhadoras, empregadas domésticas, operários, ou suas atuações ligadas a malandros e bandidos.

Outro ponto relevante, é a construção do fracasso do estudante negro que é elaborada pelo preconceito, violência e a discriminação sofrida por ele, que internalizadas gera atitudes negativas e as transforma em ações prejudiciais, levando-os a evasão escolar. De toda forma a atitude assumida pelo docente pode levar aos alunos a superação dos seus traumas, entendendo que quando o professor demonstra que acredita na capacidade dos mesmos surgem resultados significativos. Nesse sentido a escola pode possibilitar ao aluno o desenvolvimento cognitivo, moral, ético e o conhecimento do seu legado histórico e cultural.

No livro de Santos16 ele aborda o ensino de história indígena na sala de aula, trazendo alguns fragmentos de documentos eclesiásticos, tais como inventários post-mortem que evidência a presença dos povos indígenas dentro do contesto social, uma vez que através dos registros torna-se possível identificar os diferentes personagens que compõe a sociedade. Bassanezi17 aponta que os registros eclesiásticos são fontes populares, pois, escravizados, índios, crianças enjeitadas dentre outros também tiveram seus eventos vitais sendo registrados, o nascer, o casar e o morrer. Segundo Jacques Le Goff:

O documento não é inócuo. É antes de mais nada o resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente, da história, da época, da sociedade que o

16 SANTOS, Joceneide Cunha dos. Entre farinhas procissões e famílias: a vida de homens e

mulheres escravos em Largato, Província de Sergipe (1850-1888). 2004. 180f. Dissertação (Mestrado em História) Universidade Federal da Bahia, Salvador.2004)

17 PINSKY, Carla Bassanezi; LUCA, Tania Regina de [orgs.]. O historiador e suas fontes. São Paulo:

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produziram, mas também das épocas sucessivas durante as quais continuou a viver, talvez esquecido, durante as quais continuo a ser manipulado, ainda que pelo silencio. O documento é coisa que fica, que dura, e o testemunho, o ensinamento.18

Dentro desta perspectiva, percebemos que o uso dos documentos eclesiásticos de batismo e de óbito, não tem como única finalidade o registro de dados, pois nas mãos do historiador e com um olhar problematizado, buscamos questionar as fontes para adquirir as possíveis respostas, o professor pode intencionar várias discursões em sala de aula partindo da problematização destes documentos.

Os documentos já foram catalogados e analisados sendo possível tencionar algumas discussões. Através dos dados retirados dos livros de óbito (1872-1888)19 foi possível identificar os diferentes sujeitos e atores existentes na vila de Belmonte no Século XIX e a mistura “racial”, no momento da morte a cor era um dos dados que constava nos registros, observamos Crioulos, Curiboca, Pardo, Preto, e Cabra, assim perceberemos os ascendentes de origem africana. Somando a quantidade de 23 escravos que faleceram dentro deste período e 6 forros. Já através dos documentos de batismo (1867-1888)20 percebemos cerca de 15 família de escravizados.

No ensino de história é possível trazer para os alunos a importância do documentos de batismo para população Oitocentista, problematizando que inicialmente o batismo tinha como finalidade introduzir o recém-nascido na vida cristã, o que assegurava esse ritual tão importante para Igreja Católica eram as Constituições primeiras do Arcebispado da Bahia constituída por leis baseadas nos preceitos da Igreja Católica que atribuía aos senhor de escravos a obrigação do ensino da doutrina cristã, e o batismo tinha grande peso dentro das regulamentações, marcando o momento em que o sujeito iam adquirir o status de cristão.

Os estudos de Forquin21 levantam um questionamento bastante curioso para se pensar formas de levar a história em sala de aula e como se dá esta relação entre escola X história, a

18 LE GOFF, Jacques. Documento/monumento, In, História e memória. Tradução de Irene Ferreira, Bernardo

Leitão, Suzana Ferreira Borges. 5. ed. Campinas, SP: UNICAMP, 2003.

19 Livro de Óbito da Freguesia de Nossa Senhora do Carmo, Vila de Belmonte. (1872-1888).

Disponível em: <https://familysearch.org/pal:/MM9.3.1/TH-1-15272-60170-

75?cc=2177272&wc=M7ZB-6WL:370035301,370035302,370176801> Acesso em: 09 de Outubro de 2020.

20 Livro de Batismo da Freguesia de Nossa Senhora do Carmo, Vila de Belmonte.(1867-1888).

Disponível em <https://familysearch.org/pal:/MM9.3.1/TH-1-15269-33919-

32?cc=2177272&wc=M7ZY-H3X:370035301,370035302,370035303> Acesso em 05 de Outubro de 2020.

21 FORQUIN, Jean-Calude. As implicações educativas do pluralismo cultural. In: Escola e Cultura. Porto

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trajetória da história como disciplina curricular perpassa por várias mutações, o importante é pensar o que motiva os poderes governamentais, que são os responsáveis em levar a educação para a massa popular e grupos elitizados.

É pensando nisso que se torna importante avaliar que tipo de história que está sendo transmitida para os alunos, a criação de um modelo institucional criada pela necessidade de se ter uma história nacional, acabou acarretando uma característica para o ensino de história, espaço que a criação de heróis, datas, se tornou o ponto central deste ensino como uma questão circular onde para se entender uma sociedade é preciso exclusivamente ter a compreensão dos grandes nomes e marcos da tida “história brasileira” consequentemente ocasionou dentro desta instituição um ciclo repetitivo de ensino, aonde os mesmos conteúdos vão apenas se repetindo. As novas abordagens do ensino de história possibilitam aos professores a trabalhar a desconstrução de práticas que se perdurou por muitos anos, assim torna a possibilidade de inserir temas como racismo no ambiente escolar a parti de novas fontes.

Considerações Finais

Por fim, é importante que a mudança perpasse para entre os professores e gestores, uma vez que os mesmos venham a ensinar sobre cultura Africana e afrodescendentes e que não pratiquem atos discriminatórios e que venham se despir de discursos preconceituosos. Seja por meio da formação continuada ou por reformulação das políticas curriculares que seja um trabalho voltado para conscientização da sociedade.

Este trabalho pode contribuir para que o professor de história nas escolas do Sul da Bahia aborde em sala de aula a escravidão e origem africana no território conhecido majoritariamente pela forte presença indígena, problematizando o ensino de história a partir das fontes históricas, partindo de uma reflexão antirracista no ensino.

Referências

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