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FORMAÇÃO TECNOLÓGICA - UFCD 5427

“Legislação laboral – contrato de trabalho / direitos

individuais”

Duração: 50 horas

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NOÇÕES GERAIS

Objecto e âmbito do Direito do Trabalho

O Direito do Trabalho não é o Direito de todo o trabalho, não toma como objecto de regulação todas as modalidades de exercício de uma actividade humana produtiva ou socialmente útil.

Como ramo de Direito, o seu domínio é o dos fenómenos de relação; excluem-se dele as actividades desenvolvidas pelos indivíduos para satisfação imediata de necessidades próprias.

Tratar-se-á apenas de formas de trabalho livre, voluntariamente prestado; afastam-se assim as actividades forçadas ou compelidas, isto é, de um modo geral, aquelas que não se fundam num compromisso livremente assumido mas numa imposição externa, isto é a possibilidade abstracta de aceitar ou recusar um compromisso de trabalho.

O Direito do Trabalho desenvolve-se em torno de um contrato – o contrato de trabalho – que é o título jurídico típico do exercício dessa liberdade.

O agente pode dispor da sua aptidão profissional de acordo com o seu critério, definindo para si próprio as condições de tempo, de lugar e de processo técnico em que aplica esse potencial: auto-organiza-se, auto determina-se, trabalha com autonomia. No entanto, o mesmo indivíduo poderá aplicar as suas aptidões numa actividade organizada e dirigida por outrem, isto é, pelo beneficiário do trabalho – deixando, com isso, de ser responsável pela obtenção do resultado desejado. Assim, dentro de certos limites de tempo e de espaço, caberá então ao destinatário do trabalho determinar o “quando”, o “onde” e o “como” da actividade a realizar pelo trabalhador; pode dispor, assim, da força de trabalho deste, mediante uma remuneração.

O que caracteriza este segundo esquema é, visivelmente, o facto de o trabalho ser dependente: é dirigido por outrem, e o trabalhador integra-se numa organização alheia. Trata-se de trabalho juridicamente subordinado, porque esta relação de dependência não é, como se verá, meramente factual: o Direito reconhece-a, legitima-a e estrutura sobre ela o tratamento das situações em que ocorre.

São as relações de trabalho subordinado que delimitam o âmbito do Direito do Trabalho: as situações caracterizadas pela autonomia de quem realiza trabalho em proveito alheio estão fora desse domínio e são reguladas no âmbito

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de outros ramos de Direito. Em suma: o Direito do Trabalho regula as relações jurídico-privadas de trabalho livre, remunerado e subordinado.

Fala-se também do trabalho por conta alheia para caracterizar, como uma dominante económica ou patrimonial, o mencionado modelo de relação de trabalho.

O Direito do Trabalho é, pois, o ramo de Direito que regula o trabalho subordinado, heterodeterminado ou não-autónomo. À prestação de trabalho com esta característica corresponde um título jurídico próprio: o contrato de trabalho. É através dele que “uma pessoa se obriga, mediante retribuição, a prestar a sua actividade intelectual ou manual a outra pessoa sob a autoridade e direcção desta” (art. 1º LCT).

O ordenamento legal do trabalho surgiu e desenvolveu-se como uma reacção ou “resposta” às consequências da debilidade contratual de uma das partes (o trabalhador), perante um esquema negocial originariamente paritário como qualquer contrato jurídico-privado. Essa disparidade originária entre os contraentes deve-se não só à diferente natureza das necessidades que levam cada um a contratar, mas também às condições do mercado de trabalho.

O Direito do Trabalho apresenta-se, assim, ao mesmo tempo, sob o signo da protecção ao trabalhador e como um conjunto de limitações à autonomia privada individual. O contrato de trabalho é enquadrado por uma constelação de normas que vão desde as condições pré-contratuais, passam pelos direitos e deveres recíprocos das partes, atendem com particular intensidade aos termos em que o vínculo pode cessar, e vão até aspectos pós-contratuais.

Incluem-se ainda no Direito do trabalho, e com grande relevo, as relações colectivas que se estabelecem entre organizações de trabalhadores (as associações sindicais) e empregadores, organizados ou não. Essas relações exprimem a actuação de conflitos de interesses – e de, elas próprias, estabelecerem regras aplicáveis às relações de trabalho em certo âmbito. As formas de acção colectiva laboral – a negociação, os meios conflituais – são reguladas pelo ordenamento do trabalho, no sentido de oferecerem meios de racionalização e disciplina dos conflitos de interesses colectivos profissionais e definir as condições da recepção, na ordem jurídica, das decisões que eles venham a produzir. Esse sector do Direito do Trabalho fundamenta-se no reconhecimento da autonomia e da autotutela colectivas.

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A função mais correntemente atribuída ao Direito do Trabalho é, justamente, essa: a de “compensar” a debilidade contratual originária do trabalhador, no plano individual.

No Direito do Trabalho, o padrão de referência é marcado pela desigualdade originária dos sujeitos, ou seja, pela diferença de oportunidades e capacidade objectivas de realização de interesses próprios, e daí que a finalidade “compensadora” seja assumida como um pressuposto da intervenção normativa.

Este objectivo é prosseguido, antes do mais, pela limitação da autonomia privada individual, isto é, pelo condicionamento da liberdade de estipulação no contrato de trabalho. Uma parte do espaço originário dessa liberdade é barrada pela definição normativa de condições mínimas de trabalho: a vontade do legislador supre o défice de um dos contraentes.

Depois, e tendo em conta que a subordinação e a dependência económica do trabalhador são susceptíveis de limitar ou eliminar a sua capacidade de exigir e fazer valer os seus direitos na pendência da relação de trabalho, o ordenamento laboral estrutura e delimita os poderes de direcção e organização do empregador, submetendo-os a controlo externo. Legitima-se, assim, a “a autoridade patronal”, mas, ao mesmo passo, são contidos os poderes fácticos do dono da empresa e do dirigente da organização dentro dos limites de faculdades juridicamente configuradas e reguladas.

Em terceiro lugar, o ordenamento laboral organiza e promove a transferência do momento contratual fundamental do plano individual para o colectivo. O reconhecimento da liberdade sindical e da autonomia colectiva e o favorecimento da regulamentação do trabalho por via da contratação colectiva tendem a reconduzir o contrato individual a um papel restrito.

Em quarto lugar, o Direito do Trabalho estrutura um complexo sistema de tutela dos direitos dos trabalhadores que tende a suprir a sua diminuída capacidade individual de exigir e reclamar - ou seja proteger o trabalhador, sendo este a parte mais fraca a relação de trabalho. A arquitectura desse sistema integra meios e processos administrativos (em particular, os que respeitam à actuação da inspecção do trabalho), meios jurisdicionais (Tribunais especializados que seguem regras processuais especiais) e meios de autotutela colectiva (acção sindical na empresa, meios de luta laboral).

Ora, para além dessa função de protecção, o Direito do Trabalho tem também a de promover a específica realização, no domínio das relações

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laborais, de valores e interesses reconhecidos como fundamentais na ordem jurídica global.

O ordenamento laboral liga-se muito estreitamente à esfera dos direitos fundamentais consagrados pela Constituição.

Uma outra função do Direito do Trabalho diz respeito ao funcionamento da economia: é a de garantir uma certa padronização das condições de uso da força de trabalho. Essa padronização tem um duplo efeito regulador: condiciona a concorrência entre as empresas, ao nível dos custos do factor de trabalho; e limita a concorrência entre trabalhadores, na procura de emprego e no desenvolvimento das relações de trabalho.

As fronteiras móveis do Direito do Trabalho

O objecto do Direito do Trabalho define-se, em torno da prestação de trabalho subordinado, livre, remunerado, no quadro de uma relação contratual jurídico-privada.

O ordenamento jurídico-laboral ocupa-se da prestação de trabalho remunerado; estão fora do seu objecto as situações em que alguém realiza uma actividade, em proveito de outrem, a título gratuito ou sem directa contrapartida económica. Além de que importam, em princípio, somente as relações tituladas por contrato de trabalho. Note-se que s relações de emprego público pertencem à esfera do Direito Administrativo.

Neste sentido, existem duas modalidades de prestação de trabalho tradicionalmente excluídas do objecto do Direito do Trabalho:

- A primeira, é a que genericamente se designa por trabalho autónomo ou autodeterminado. Caracteriza-se por a actividade do prestador ser programada e conduzida pelo seu próprio critério de organização e funcionalidade, tendo em vista a obtenção de um resultado devido a outrem.

As relações de trabalho autónomo, pela simples razão de que nelas não existe subordinação jurídica do fornecedor de trabalho relativamente ao beneficiário final do respectivo resultado, estão fora do objecto do Direito do Trabalho. Isto significa, desde logo, que o ordenamento laboral não tem com tais situações uma conexão imediata e estrutural.

- A segunda actividade, que também está também excluída é a relação jurídico-pública do trabalho, com especial relevo para as que se estabelecem entre o Estado e os funcionários públicos.

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Assim, o art. 269º/1 CRP, dispõe enfaticamente que, “no exercício das suas funções, os trabalhadores da Administração Pública e demais agentes do Estado e outras entidades públicas estão exclusivamente ao serviço do interesse público, tal como é definido nos termos da Lei, pelos órgãos competentes da Administração”.

O conteúdo do Direito do Trabalho

A prestação de trabalho subordinado pode estar na origem de relações jurídicas de diversa natureza. Destacando as que envolvem interesses propriamente laborais, pode-se enumerar as seguintes:

Relação individual de trabalho - cujos sujeitos são o trabalhador e a entidade empregadora, e cujo facto determinante é o contrato celebrado entre estes;

Relação entre empregador e o Estado - cujo conteúdo consiste em certo número de deveres que ao primeiro incumbe observar no desenvolvimento da relação individual, deveres inspirados na tutela dos interesses gerais que relevam do trabalho e cujo cumprimento é fiscalizado pela administração estadual do trabalho e sancionado por meios de natureza pública;

Relações colectivas de trabalho - em que os sujeitos da relação individual aparecem considerados do ângulo das categorias em que se inserem; destas relações pode, designadamente, resultar a regulamentação de relações individuais, por via de convenção colectiva. Nas relações do primeiro tipo, estão em jogo interesses meramente individuais e privados; nas do segundo, interesses públicos; nas do terceiro, interesses colectivos, de classe, de categoria profissional ou de ramo de actividade económica.

AS FONTES

Usa-se a expressão fontes de Direito em vários sentidos. Retém-se somente a acepção técnico-jurídica, segundo a qual se trata dos modos de produção e revelação de normas jurídicas, ou seja, dos instrumentos pelos quais essas normas são estabelecidas e, do mesmo passo, expostas ao conhecimento público.

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como as cláusulas contratuais gerais, suporte do contrato de trabalho por adesão; os actos organizativos e directivos do empregador, quando assumam forma genérica (regulamentos, ordens de serviço, etc.); os usos e as práticas laborais, sobretudo quando gerados no quadro da empresa; as correntes jurisprudenciais desenvolvidas pelos Tribunais Superiores (Relações e Supremo Tribunal de Justiça), a chamada doutrina dominante, nacional e estrangeira.

Existem tipos de fontes comuns à generalidade dos ramos de Direito. A lei (ou o decreto-lei). Há, por outro lado, neste ramo de Direito, pelo menos um tipo privativo de fonte: a convenção colectiva.

As fontes de Direito do Trabalho podem repartir-se em duas categorias fundamentais: a das fontes internacionais e a das fontes internas. Enquanto estas são o produto de mecanismos inteiramente regulados pelo ordenamento jurídico interno de cada país, as primeiras resultam do estabelecimento de relações internacionais, no âmbito de organizações existentes ou fora dele.

I. A Constituição

Os preceitos constitucionais com incidência no âmbito do Direito do Trabalho encontram-se, quase todos, nos Títulos II e III. De acordo com o art. 17º, esse conjunto é abrangido pelo regime dos direitos, liberdades e garantias, com especial saliência para o princípio da aplicação directa (art. 18º/1), isto é, da desnecessidade de intervenção mediadora da lei ordinária. Assim, as normas em causa vinculam imediatamente “as entidades públicas e privadas” (art. 18º/1).

Funcionando basicamente a título de referência valorativa, e não já como dispositivo regulamentar, surge o complexo normativo que sobretudo respeita à dimensão individual do trabalho: a liberdade de escolha de profissão (art. 47º/1), a segurança no emprego (art. 53º), o direito ao trabalho e o dever de trabalhar (art. 58º/1 e 2) e, em geral, os direitos dos trabalhadores (art. 59º).

II. Fontes Internacionais: Convenções internacionais gerais

Com natureza idêntica à dos tratados internacionais clássicos, surge, um conjunto de instrumentos convencionais que, pelo conteúdo, visam a definição “constitucional” de uma “ordem social internacional”.

Refira-se, em primeiro lugar, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, onde são proclamados os princípios do direito ao trabalho, da liberdade de escolha de trabalho, da igualdade de tratamento, da protecção

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no desemprego, do salário equitativo e suficiente, da liberdade sindical, do direito ao repouso e aos lazeres, da limitação da duração do trabalho e do direito a férias (arts. 23º e 24º).

Na linha de descendência directa da Declaração Universal, cabe referir em seguida a Convenção Europeia dos Direitos do Homem, concluída em Roma, 1950. Trata-se já de um instrumento vinculativo para os Estados ratificantes, embora com um âmbito geográfico restrito.

III. A convenção da Organização Internacional de Trabalho (OIT)

As principais fontes internacionais de Direito do Trabalho português são as convenções celebradas sob os auspícios da Organização Internacional do Trabalho.

Antes de mais: o que é a Organização Internacional de Trabalho?

Fundada em 1919, com a paz de Versailles, na órbita da Sociedade das Nações, a Organização Internacional de Trabalho passou a ser, após a 2ª Guerra Mundial, uma agência especializada da Organização das Nações Unidas. Trata-se de uma organização tripartida – quer dizer: nela têm asTrata-sento representantes dos governos, das entidades patronais e dos trabalhadores dos vários países membros – que tem como objectivo preparar convenções ou recomendações referentes aos diversos problemas suscitados pelas relações de trabalho, a fim de influenciar as legislações internas no sentido de uma melhoria progressiva dos padrões existentes nesse domínio. Para além disso, assegura assistência técnica aos governos e desenvolve amplas actividades de pesquisa no domínio económico, social e técnico das relações de trabalho. Portugal é membro-fundador da Organização.

As convenções e as recomendações diferem, como é óbvio, pelo grau de vinculação que delas resulta: só no primeiro caso se trata de verdadeiras normas susceptíveis de integração nas legislações internas; no segundo caso, há meras directrizes ou princípios programáticos sem verdadeiro carácter normativo.

IV. As fontes comunitárias

A União Europeia é uma comunidade jurídica, e dispõe de uma “ordem jurídica própria”: integra órgãos competentes para a criação de normas que se destinam a serem escolhidas nos ordenamentos internos dos Estados membros, possui uma organização judiciária e modelos processuais adequados à efectivação daquelas normas.

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Daí que o Tratado de Roma seja particularmente afirmativo, nesse domínio, acerca da efectivação do princípio da livre circulação de trabalhadores (art. 48º), implicando a não discriminação com base na nacionalidade (art. 48º/2), a coordenação dos regimes de segurança social (art. 51º) e a instituição de um suporte financeiro (o Fundo Social Europeu) para o fomento do emprego e da mobilidade geográfica e profissional dos trabalhadores (arts. 123º e segs.).

A afirmação de objectivos sociais comunitários está bem clara: a promoção do emprego, a melhoria das condições de vida e de trabalho, uma protecção social adequada, o diálogo social, o desenvolvimento dos recursos humanos de modo a permitir um nível de emprego elevado e durável e a luta contra as exclusões.

Podemos também no âmbito comunitário, entre direito comunitário originário - que como a própria designação inculca, é fundamentalmente integrado pelo conteúdo dos tratados que instituíram o perfil constitucional das Comunidades e o direito comunitário derivado ou secundário, - sendo este o conjunto das normas emitidas pelos órgãos comunitários dotados de competência para o efeito.

V. Fontes internas

São “normas aplicáveis aos contratos de trabalho”, ou seja, um elenco das fontes internas específicas do Direito do Trabalho.

Há que mencionar, antes de tudo, as leis constitucionais como a Constituição da República Portuguesa que, inclui diversos preceitos relativos às questões laborais, mas também a legislação ordinária comum – isto é, não especificamente dirigida à “regulamentação do trabalho” – com particular relevo para o Código Civil, na parte referente ao regime comum dos contratos e das obrigações. Tenha-se presente que o contrato de trabalho, aparte os aspectos particularizados na legislação laboral propriamente dita, está coberto pelas normas daquele regime comum.

Normas legais de regulamentação do trabalho

As principais leis do trabalho

Com esta designação, abarca o legislador todas as normas jurídicas, criadas e emitidas pelos órgãos do Estado dotados de competência originária para o efeito, o que inclui:

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 As leis ordinárias,  Os decretos-lei,

 Os decretos regulamentares.

Convenções colectivas de trabalho

O principal instrumento desse tipo de regulamentação é a convenção colectiva de trabalho – um acordo celebrado entre associações de empregadores e de trabalhadores, ou entre empresas e organismos representativos de trabalhadores. Ao primeiro caso, aplica-se o rótulo de “contrato colectivo”; ao segundo, o de “acordo colectivo” e o de “acordo de empresa”.

Assim, através destas convenções, é estabelecido, para determinado sector da actividade económica, um regime particular e complexo, que abarca a regulamentação das relações de trabalho propriamente ditas e a organização de certos aspectos complementares que, no seu conjunto, definem juridicamente a situação profissional dos trabalhadores envolvidos – consiste num acto criador de normas jurídicas.

A convenção colectiva (CCT) tem uma faceta negocial e uma faceta regulamentar. Vejamos, a título de exemplo, a CCT da CNIS, que regulamenta as relações laborais quando uma das partes é uma IPSS, entre outros.

Por um lado, resulta de um acordo obtido através de negociações, valendo como uma fórmula de equilíbrio entre os interesses das categorias de trabalhadores e de empregadores envolvidos.

Estas duas facetas (obrigacional e regulamentar) articulam-se em qualquer convenção colectiva, condicionando-se entre si. Mas reveste-se de algum interesse a destrinça entre elas: por um lado, no respeitante à formação e integração, entende-se correctamente serem aplicáveis, a título subsidiário, as regras pertencentes à disciplina jurídica dos contratos (e não das leis), nomeadamente os arts. 224º a 257 do Código Civil; por outro lado, as condições de eficácia das convenções colectivas são idênticas às das leis, designadamente as que resultem dos arts. 5º, 7º e 12º CC.

Define a lei certos elementos identificativos de cada convenção colectiva que, por isso, nela devem figurar obrigatoriamente: a designação das entidades celebrantes, a área e âmbito de aplicação e a data de celebração (art. 23º).

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Hierarquia das fontes: a Relação entre as fontes internacionais e as fontes internas

A Constituição garante, no art. 8º/2, a vigência das normas internacionais recebidas “enquanto vincularem internacionalmente o Estado português”; não é, pois, viável cindir o plano da vigência interna e da vinculação externa – como se imporia na lógica da tese que parifica as normas internacionais recebidas às normas internas. E daí que se opte pelo entendimento contrário, isto é, pelo da supremacia hierárquica das fontes internacionais, com a óbvia ressalva da Constituição.

A hierarquia das fontes internas

As fontes elencadas no Código do trabalho arrumam-se segundo uma ordem de prioridade na aplicação a atender nos casos em que se verifique coincidência nos domínios espacial, pessoal ou material de alguma delas.

Alertando, ainda assim para a questão de os instrumentos de regulamentação colectiva não poderem contrariar normas legais imperativas, nem incluir qualquer disposição que importe para os trabalhadores tratamento menos favorável do que legalmente estabelecido. Entende-se que esta é uma condição de validade das cláusulas referentes a aspectos já regulamentados por lei.

O CONTRATO DE TRABALHO A noção legal do contrato individual de trabalho

O Direito do Trabalho tem o seu campo de actuação delimitado pela situação de trabalho subordinado. E esta delimitação é feita em termos práticos pela conformação de um certo tipo de contrato que é aquele em que se funda a prestação de tal modalidade de trabalho: trata-se do contrato individual de trabalho ou, mais correntemente, contrato de trabalho.

A) Objecto do contrato: a actividade do trabalhador

O primeiro elemento a salientar consiste na natureza da prestação a que se obriga o trabalhador. Trata-se de uma prestação de actividade, que se concretiza, pois, em fazer algo que é justamente a aplicação ou exteriorização da força de trabalho tornada disponível, para a outra parte, por este negócio.

Este traço característico constitui um primeiro elemento da distinção entre as relações de trabalho subordinado e as relações de trabalho autónomo:

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- Nestas, precisamente porque o fornecedor de força de trabalho mantém o controlo da aplicação dela, isto é, da actividade correspondente, o objecto do seu compromisso é apenas o resultado da mesma actividade – só este é devido nos termos pré-determinados no contrato; os meios necessários para o tornar efectivo em tempo útil estão, em regra, fora do contrato, são de livre escolha e organização por parte do trabalhador.

- No contrato de trabalho, pelo contrário, o que está em causa é a própria actividade do trabalhador, que a outra parte organiza e dirige no sentido de um resultado que (aí) está por seu turno fora do contrato; assim, nomeadamente, e por princípio, o trabalhador que tenha cumprido diligentemente a sua prestação não pode ser responsabilizado pela frustração do resultado pretendido.

Assim, quando se aponta a actividade do trabalhador como objecto do contrato, quer-se meramente significar que é esse – a actividade, não o resultado – o especial modo de concretização da foça laboral que interessa directamente ao contrato de trabalho; isto sem prejuízo de se entender que o trabalhador se obriga, fundamentalmente, a colocar e manter aquela força de trabalho disponível pela entidade patronal enquanto o contrato vigorar.

O trabalhador não se obriga apenas a dispender mecanicamente certa “quantidade” de energia, cuja aplicação compete ao empregador determinar em cada momento. Ele deve, antes de mais, colocar e manter à disposição da entidade patronal a disponibilidade da sua força de trabalho. Mas, quando se trate de aplicar essa força de trabalho, não basta a simples prática de actos segundo o modelo ou a espécie definidos pelo credor, para que o trabalhador cumpra a sua obrigação contratual. Torna-se evidente a possibilidade de o trabalhador não cumprir essa obrigação, muito embora exerça efectivamente a sua actividade de acordo com as modalidades fixadas pelo dador de trabalho.

A relevância do fim da actividade comprometida pelo trabalhador manifesta-se, antes de tudo, no elemento diligência que integra o comportamento por ele devido com base no contrato. Ele fica, nos próprios termos da lei, obrigado a “realizar o trabalho com zelo e diligência” (art. 128º, n.º1, al. c) do C.T.). Em sentido normativo, a diligência pode genericamente definir-se como “o grau de esforço exigível para determinar e executar a conduta que representa o cumprimento de um dever”. No que concerne à prestação de trabalho, a diligência devida varia fundamentalmente com a natureza desse trabalho, com o nível da aptidão técnico-laboral do trabalhador para aquele e com o objectivo imediato visado.

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B) Sujeitos: o trabalhador e a entidade empregadora

Na terminologia legal mais utilizada entre nós, os sujeitos do contrato de trabalho designam-se por trabalhador e entidade empregadora.

Relativamente ao trabalhador, notar-se-á apenas que ele traduz o carácter de generalidade que a correspondente situação foi ganhando, depois de, noutras épocas, se terem diferenciado, no plano verbal, vários “tipos” de trabalhadores.

Quanto à entidade empregadora, é colaboradora do trabalhador, e a sua colaboração deverá tender para a obtenção da maior produtividade e para a promoção humana e social do trabalhador – bastante generalizado na linguagem corrente; e o de “produtor”, consagrado nalguns sistemas latino-americanos. Essa diversidade não impede, no entanto, que o denominador comum seja, entre nós, presentemente, a palavra trabalhador.

Do ponto de vista do Direito do Trabalho, o trabalhador é apenas aquele que, por contrato, coloca a sua força de trabalho à disposição de outrem, mediante retribuição.

Entidade patronal, empregador ou entidade empregadora é a pessoa individual ou colectiva que, por contrato, adquire o poder de dispor da força de trabalho de outrem, no âmbito de uma empresa ou não, mediante o pagamento de uma retribuição.

C) Retribuição

É o elemento essencial do contrato individual de trabalho que, em troca da disponibilidade da força de trabalho, seja devida ao trabalhador uma retribuição, normalmente em dinheiro (art. 258º do C.T.).

Anote-se, por outro lado, que o termo retribuição não é o único usado para designar a prestação devida pela entidade patronal.

D) Subordinação jurídica

Para que se reconheça a existência de um contrato de trabalho, é fundamental que, na situação concreta, ocorram as características da subordinação jurídica por parte do trabalhador. Pode mesmo dizer-se que, de ao par da obrigação retributiva, é um elemento fundamental de qualificação do objecto do Contrato de Trabalho.

A subordinação jurídica consiste numa relação de dependência necessária da conduta pessoal do trabalhador na execução do contrato face às ordens,

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regras ou orientações ditadas pelo empregador, dentro dos limites do mesmo contrato e das normas que o regem.

A subordinação pode não transparecer em cada momento da prática de certa relação de trabalho. Uma das dificuldades de detecção do contrato de trabalho deriva exactamente daí: muitas vezes, a aparência é de temáticas da entidade patronal, e, no entanto, deve concluir-se que existe, na verdade, subordinação jurídica.

Podem até ser objecto de contrato de trabalho (e, por conseguinte, exercidas em subordinação jurídica) actividades cuja natureza implica a salvaguarda absoluta da autonomia técnica do trabalhador, tais como as actividades normalmente exercidas como profissão liberal podem, não havendo disposições da lei em contrário, ser objecto de contrato de trabalho. Em tais casos, o trabalhador apenas ficará à observância das directrizes gerais do empregador em matéria de organização do trabalho: existe subordinação jurídica sem dependência técnica.

A subordinação requerida pela noção do contrato de trabalho decorre do facto de o trabalhador se integrar numa organização de meios produtivos alheia, dirigida à obtenção de fins igualmente alheios, e que essa integração acarreta a submissão às regras que exprimem o poder de organização do empresário – à autoridade deste, em suma, derivada da sua posição nas relações de produção.

A subordinação implica um dever de obediência para o trabalhador. O art. 128º, n.º 2 do C.T., que expressamente o consagra, completa pois a definição do art. 11º.

Claro que, admite-se a possibilidade de uma desobediência legítima – o que implica a ideia de que existe uma área demarcada de subordinação e de que o poder patronal tem limites fixados pela própria lei e pelos instrumentos regulamentares de grau inferior.

Assim, a delimitação do dever de obediência implica que se ponderem vários elementos, nomeadamente: a categoria do trabalhador; o local estipulado para o trabalho; e as garantias gerais dos trabalhadores, bem como as especialmente definidas pela regulamentação colectiva aplicável.

Trabalho temporário

Tem-se recorrido à designação de “trabalho temporário” para apontar a situação típica em que uma empresa cede, a título oneroso, e por tempo

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limitado, a outra empresa a disponibilidade da força de trabalho de certo número de trabalhadores, por categorias profissionais ou não. Trata-se de um expediente a que amiúde recorrem, sobretudo, as empresas com unidades industriais em que, periodicamente, são forçosos grandes trabalhos de revisão, limpeza e reparação de máquinas, e ainda as empresas de serviços cuja actividade regista fases de “ponta” acentuada.

O fenómeno da “cedência de mão-de-obra” não surge numa configuração única. Ele ocorre em múltiplas modalidades:

 Há “cedência” no caso de empresas cujo objecto consiste, exclusivamente, no fornecimento de pessoal qualificado para tarefas transitórias de que outras empresas carecem;

 Existe também quando organizações produtivas da indústria ou do comércio “prestam serviços” a outras mediante o destacamento de trabalhadores seus, tratando-se, ou não, de sociedades coligadas;

 Verifica-se, ainda, em certas formas de “descentralização” empresarial, caracterizadas pela formação, em torno de uma organização produtiva, de uma “coroa” de empresas aparentes cujo papel consiste, somente, em locar à disposição daquela trabalhadores contratados ad hoc.

A tipicidade deriva-lhes da cisão, operada no estatuto do empregador, entre a obrigação de pagar o salário e a utilização dos serviços do trabalhador.

O esquema do “trabalho temporário” suscita dúvidas, no plano da política legislativa, quanto à atitude a tomar pelo ordenamento laboral.

Na sua configuração típica, é o trabalho que se estabelece através de uma relação “triangular” ou “tripartida” em que a posição contratual da entidade patronal é desdobrada entre uma empresa de trabalho temporário – ETT – que contrata, remunera e exerce o poder disciplinar sobre o trabalhador, e um Cliente Utilizador – a empresa que dá e recebe o trabalho – de um trabalhador que não pertence aos seus quadros, sobre quem exerce, poderes de direcção e fiscalização desse trabalho.

Numa configuração atípica de trabalho temporário, a lei configura uma outra situação, a da “cedência ocasional, prevista no art. 282º do C.T., em que uma empresa, embora não exercendo a actividade de ETT, cede temporariamente

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trabalhadores seus, que pertencem aos seus quadros, a outra empresa ou entidade.

São pois situações atípicas da relação laboral. Não obstante também implicarem subordinação jurídica por parte do trabalhador, a atipicidade verifica-se na posição do empregador, que continua obrigado a pagar o preço do trabalho daquele, sem a utilização directa desse trabalho – utilização essa que cabe ao cessionário – a empresa utilizadora.

Este esquema é comum a ambas as situações:

Então:

O trabalhador cedido será remunerado pela entidade cedente, já que é esta a sua entidade patronal: foi com essa entidade que o trabalhador celebrou o seu contrato de trabalho; mas ficará funcionalmente integrado na organização da empresa utilizadora, sujeito aos seus poderes de direcção.

Isto é, a empresa de trabalho temporário tem por objecto a actividade de cedência temporária de trabalhadores para utilização de terceiros utilizadores, com a qual o trabalhador celebra um contrato de trabalho temporário, pelo qual se obriga a prestar a sua actividade profissional a utilizadores, a cuja autoridade e direcção fica sujeito, mantendo, todavia, o vínculo jurídico-laboral à empresa de trabalho temporário, já que será quem prestará a sua retribuição. Nestes termos a empresa utilizadora é uma pessoa individual ou colectiva, que ocupa, ou utiliza, trabalhadores cedidos pela empresa de trabalho temporário.

Caracterização jurídica do contrato de trabalho. A) Contrato sinalagmático

ETT

Salário Preço

Utilizador

Trabalho Trabalhador

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Dizem-se sinalagmáticos ou bilaterais os contratos pelos quais “ambas as partes contraem obrigações, havendo entre elas correspectividade ou nexo causal”, isto é, surgindo reciprocamente condicionadas, segundo a vontade das partes. Assim, cada um dos sujeitos do contrato se compromete a realizar certa prestação para que e se o outro efectivar uma prestação que o primeiro interessa. É o que sucede no contrato de compra e venda – e no contrato de trabalho.

Trabalhador Empregador

Prestação de actividade Pagamento

Salário Obtenção de mão de obra

B) Contrato consensual (formal)

Para que certos contratos sejam válidos, a lei exige que na sua celebração sejam observados determinadas formalidades. Não basta que a vontade dos sujeitos seja declarada por qualquer meio: a lei estabelece “que a declaração de vontade negocial só tem eficácia quando realizada através de certo tipo de comportamento ou acções declarativas. Esse tipo é que constitui a forma negocial”. Quando a lei formula, quanto a certo contrato, uma tal imposição está-se perante um contrato formal.

A liberdade de forma, assim reconhecida, exprime uma opção, feita pelo legislador, entre as vantagens de celeridade e maleabilidade no estabelecimento das relações de trabalho e a conveniência de se dispor de meios de prova concludentes sobre o conteúdo das estipulações.

Este último aspecto não é, todavia, negligenciado pela lei no que diz respeito a certos pontos melindrosos da situação em que os sujeitos do contrato se colocam. Assim, exige-se forma escrita nos casos de contratos de trabalho a termo.

É regra aplicável à generalidade das situações que a inobservância da forma escrita no contrato a termo apenas vicia a aposição de termo, ou seja, implica mera invalidade parcial – o contrato vale sem termo.

C) Contrato duradouro ou de execução duradoura

Da própria noção legal do art. 11º C.T. ressalta esta característica: a obrigação da actividade que o trabalhador assume implica, de certo modo, continuidade; a situação de subordinação tem carácter duradouro, supõe a integração estável de uma das partes na organização de meios predisposta pela outra.

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Esta “vocação para perdurar” que o contrato de trabalho manifesta, no próprio plano jurídico, é a regra - a do contrato ter duração indeterminada, só não sendo assim no caso de haver estipulação escrita de um prazo ou se a natureza do trabalho ou dos usos o mesmo resultar – pretendendo que seja uma excepção a aposição desse termo.

O TRABALHADOR A noção jurídica de trabalhador

A pessoa que, no dizer do art. 11º do C.T., se obriga, mediante retribuição, a prestar a sua actividade intelectual ou manual a outra pessoa, sob sua autoridade e direcção é, como tantas vezes se sugeriu já, o personagem central na regulamentação das relações laborais.

O contrato de trabalho poderia, mais sinteticamente, definir-se como aquele pelo qual se adquire a posição de trabalhador subordinado.

A lei actual cobre com o rótulo de trabalhador a generalidade das pessoas que exercem uma actividade por conta de outrem em regime de subordinação jurídica.

A situação de trabalhador subordinado, descrita nos termos da lei, só pode ser assumida por uma pessoa física, sendo óbvio que as pessoas colectivas não têm, sob o ponto de vista jurídico, actividade própria; segundo, ao referir a “autoridade e direcção” do dador de trabalho, e portanto a subordinação jurídica do trabalhador, coloca-nos perante uma situação em que só uma pessoa física pode encontrar-se: a de obediência e submissão à mesma autoridade.

Até porque é certo que a posição jurídica do trabalhador envolve alguns elementos comuns, condicionantes de certos direitos e deveres típicos. Refere-se além da subordinação jurídica, a categoria e a antiguidade.

A categoria

A posição do trabalhador na organização em que se integra pelo contrato define-se a partir daquilo que lhe cabe fazer, isto é, pelo “conjunto de serviços e tarefas que formam o objecto da prestação de trabalho” e ao qual corresponde, normalmente uma designação sintética ou abreviada: contínuo, operador de consola, pintor de automóveis, encarregado, etc. A posição assim estabelecida e indicada é a categoria do trabalhador.

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A categoria exprime, um “género” de actividade contratada. Há-de caber nesse género a função principal que ao trabalhador estará atribuída na organização, embora possam ser-lhe determinadas tarefas anexas ou acessórias, não enquadráveis no “conteúdo funcional” caracterizador da categoria. É este conjunto – formado pelas actividades compreendidas na categoria e pelas tarefas “afins” ou “conexas” que constitui, na sua actual configuração legal, o objecto do contrato de trabalho.

Assim, e por via de regra, o dador de trabalho não pode “baixar a categoria do trabalhador”. Consagra assim a nossa lei o princípio da “irreversibilidade da

carreira” no âmbito da empresa. No seu significado autónomo – isto é, encarado

à margem do princípio da irredutibilidade do salário que com ele se relaciona estreitamente –, traduz-se num meio de protecção da profissionalidade como valor inerente à pessoa do trabalhador.

Flexibilidade funcional: a reconfiguração legal do objecto do contrato de trabalho

A lei portuguesa contempla, prevê que o “empregador pode, quando o

interesse da empresa o exija, encarregar o trabalhador de exercer temporariamente funções não compreendidas na actividade contratada, desde que tal não implique modificação substancial da posição do trabalhador.” – nos

termos do art. 120º do C.T..

Embrionariamente o conceito – Mobilidade Funcional, relaciona-se desde logo com o poder que o empregador detém de autoridade e direcção legalmente reconhecido (art. 11º CT).

E como nos ensina o Prof. Dr. Monteiro Fernandes, não se deve considerar que o trabalhador se encontra confinado e restringido aquilo que é a sua categorial profissional, sob pena de se estar a limitar a sua profissionalidade a um “rótulo funcional”, podendo mesmo constituir-se como um impeditivo à sua evolução e progressão profissional.

Este “poder modificativo”, que funciona não só para além da categoria, mas também fora do próprio objecto do contrato surge como uma derrogação ao princípio segundo o qual os contratos não são alteráveis unilateralmente. A derrogação é legitimada pela necessidade de ajustar a gestão de trabalho ao “dinamismo da realidade técnico-organizativa da empresa”, e portanto, como uma emanação da “liberdade de iniciativa e de organização empresarial” (art. 80º-c CRP).

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Por outras palavras, é da flexibilidade funcional que também aqui se trata – com reflexo directo na estrutura e no conteúdo da posição de poder do empregador. A chamada “polivalência” traduz possibilidades que se contêm no objecto do contrato; o ius variandi extravasa o objecto do contrato.

O exercício deste “direito de variação” não afecta a categoria assumida pelo trabalhador, nem tem qualquer reflexo desfavorável sobre o seu estatuto laboral: as prerrogativas correspondentes à categoria que lhe pertence mantêm-se íntegras; somente poderão melhorar se a função transitória corresponder a uma qualificação superior ou que, em aspectos isolados, se mostre mais vantajosa.

O exercício de funções em comissão de serviço

Consiste na atribuição ao trabalhador de certas funções – genericamente caracterizáveis por “uma especial relação de confiança” a título reversível, isto é, sem que se produza o fenómeno estabilizador da referida “aquisição” de categoria.

O que caracteriza esse dispositivo é a transitoriedade da função e a reversibilidade do respectivo título profissional. O trabalhador detém uma categoria básica ou de “origem”, relativamente à qual funciona em pleno a tutela estabilizadora; exerce, contudo, por tempo pré-determinado ou não, uma função diversa da que corresponderia àquela categoria, recebendo um título profissional e um estatuto laboral que, como essa função, podem cessar a qualquer momento. Dá-se, neste caso, o retorno à categoria de base e ao correspondente estatuto.

A aplicação do regime da comissão de serviço só pode ter lugar, nos termos do art. 161º, relativamente a “cargo de administração ou equivalente, de

direcção ou chefia directamente dependente da administração ou de director-geral ou equivalente, funções de secretariado pessoal de titular de qualquer desses cargos, ou ainda, desde que instrumento de regulamentação colectiva de trabalho o preveja”.

O exercício de funções nesse regime pressupõe acordo escrito entre o empregador e o trabalhador, do qual deve constar, nomeadamente, a “categoria ou funções exercidas pelo trabalhador ou, não estando este vinculado à entidade empregadora, a categoria em que se deverá considerar colocado na sequência da cessação da comissão de serviço, se for esse o caso”. Note-se, porém, que o acordo pode estabelecer que o próprio contrato de trabalho se extinga com a cessação da comissão (art. 163º, in fine).

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A cessação da comissão de serviço pode ser decidida por qualquer das partes e a todo o tempo, não carecendo de fundamentação expressa; mas a parte promotora da cessação deve dar pré-aviso à outra (30 ou 60 dias, conforme a comissão tenha durado menos ou mais de dois anos – art. 163º, n.º 1).

A antiguidade

O contrato de trabalho tem carácter duradouro, é de execução duradoura. O tempo é um dos factores mais influentes na fisionomia da relação de trabalho concreta e mesmo na conformação da disciplina jurídica que a tem por objecto.

Ora a continuidade determina, na esfera jurídica do trabalhador, a antiguidade. Em cada momento, ele tem uma certa antiguidade que lhe é juridicamente reconhecida por ela decorrer, para a sua posição na relação laboral, uma determinada fisionomia concreta. A antiguidade reflecte-se na dimensão e no conteúdo dos direitos do trabalhador e, em particular, na modulação do regime aplicável em caso de cessação do contrato.

É o momento da efectiva admissão do trabalhador, isto é, aquele que o trabalhador passa realmente a encontrar-se “ao serviço” da empresa, que deve relevar para efeitos de contagem da antiguidade, sendo que “a antiguidade do trabalhador conta-se desde o início do período experimental”.

Além de que, para o caso de cessação do contrato numa altura do ano em que o trabalhador ainda não tenha gozado as férias devidas, esse período de férias será adicionado à antiguidade. Por aplicação deste preceito, seja maior do que o período de duração do contrato. Contam-se na antiguidade os períodos de licença sem retribuição, de faltas justificadas, de férias, de suspensão por impedimento prolongado, ainda que conexo ao trabalhador.

Verdadeiramente, apenas fogem a esta linha geral os casos de faltas não justificadas, que, pelos mesmos motivos que podem conduzir à integração de um tipo de infracção disciplinar, se presume constituírem manifestações de uma atitude de desconformidade com o ordenamento interno da empresa – ou seja, quebras culposas da “disponibilidade” do trabalhador.

Daí a necessidade de uma específica protecção da antiguidade enquanto expressão da continuidade prática (não jurídica) da integração do trabalhador no serviço da entidade patronal. Essa protecção abrange também no caso de o trabalhador ser contratado a prazo.

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Para além da obrigação principal que assume através do contrato – a de executar o trabalho de harmonia com as determinações da entidade patronal –, recaem sobre o trabalhador outras obrigações, conexas à sua integração no complexo de meios pré-ordenado pelo empregador, sendo umas de base legal e outras de origem convencional.

Há efectivamente “deveres” que constituem afinal modalidades daquele comportamento, estão “dentro dele”, como a obediência e a diligência; e há, por outro lado, situações subjectivas “laterais”, que podem não coincidir com ela, como as de lealdade, assiduidade e custódia.

A) Dever de lealdade

O dever de fidelidade, de lealdade ou de “execução leal” tem o sentido de garantir que a actividade pela qual o trabalhador cumpre a sua obrigação representa de facto a utilidade visada, vedando-lhe comportamentos que apontem para a neutralização dessa utilidade ou que, autonomamente, determinem situações de “perigo” para o interesse do empregador ou para a organização técnico-laboral da empresa. “O trabalhador deve, em princípio, abster-se de qualquer acção contrária aos interesses do empregador, mas o dever de lealdade tem igualmente um conteúdo positivo. Assim, deve o trabalhador tomar todas as disposições necessárias quando constata uma ameaça de prejuízo ou qualquer perturbação da exploração, ou quando vê terceiros, em particular outros trabalhadores, ocasionar danos”.

Por exemplo: o trabalhador não deve negociar por conta própria ou alheia em concorrência com o empregador nem divulgar informações referentes à sua organização, métodos de produção ou negócios. Trata-se, respectivamente, da proibição de concorrência e da obrigação de sigilo ou reserva profissional.

B) Dever de assiduidade

O trabalhador deve “comparecer com assiduidade”. Ele deve estar disponível nas horas e locais previamente definidos. Os parâmetros da assiduidade são o horário de trabalho, que ao empregador cabe definir, e o local de trabalho, que constitui um dos elementos da caracterização contratual da prestação. A assiduidade engloba, por conseguinte, a pontualidade, isto é, o cumprimento preciso das horas de entrada e saída em cada jornada de trabalho.

Nesta accepção, não pode o trabalhador ser responsabilizado por quebra da assiduidade devida, no caso de faltar ao serviço com justificação atendível. A

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“as faltas justificadas não determinam a perda ou prejuízo de quaisquer direitos ou regalias do trabalhador”, nomeadamente a da retribuição.

O EMPREGADOR A noção jurídica de empregador

O estatuto de empregador pode sinteticamente definir-se como uma posição de poder – que é, afinal, o reverso da subordinação em que o trabalhador se coloca pelo contrato. A entidade patronal é aquela pessoa (que pode ser singular ou colectiva) para a qual se transmite a disponibilidade – ou seja, o poder de dispor – da força de trabalho de outra (esta necessariamente individual).

A empresa e o empregador

Ora desde já se entrevê que a situação patronal pode assumir cambiantes muito diversos conforme se trate de uma relação entre pessoas físicas que prosseguem objectivos também individuais ou de uma relação entre um trabalhador e a sociedade que o emprega no quadro de uma empresa.

Convém discernir com nitidez três noções – a de empresa, no seu sentido objectivo, ou seja, como organização ou complexo articulado de meios produtivos; a de empresário, como promotor, titular e interessado directo da actividade a que aquele complexo se adequa instrumentalmente; e a de empregador, como adquirente da disponibilidade de força de trabalho alheia, através do correspondente contrato – com que joga o Direito do Trabalho.

Os poderes do empregador

Como detentora dos restantes meios de produção e empenhada num projecto de actividade económica, a entidade patronal obtém, por contratos, a disponibilidade de força de trabalho alheia – o que tem como consequência que fique a pertencer-lhe uma certa autoridade sobre as pessoas dos trabalhadores admitidos. De um modo geral, diz o art. 11º C.T., estes ficam “sob autoridade

e direcção” da entidade patronal. Assim, a posição patronal caracteriza-se,

latamente, por um poder de direcção legalmente reconhecido, o qual corresponde à titularidade da empresa.

A situação subsequente à celebração de um contrato de trabalho permite o seguinte desdobramento do poder de direcção:

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a) Um poder determinativo da função: em cujo exercício é atribuído ao

trabalhador um certo posto de trabalho na organização concreta da empresa, definido por um conjunto de tarefas que se pauta pelas necessidades da mesma empresa e pelas aptidões (ou qualificações) do trabalhador;

b) Um poder conformativo da prestação: que é a faculdade de

determinar o modo de agir do trabalhador, mas cujo exercício tem como limites os próprios contornos da função previamente determinada;

c) Um poder regulamentar: referido à organização em globo, mas

naturalmente disponível que nela se comporta (ou seja, sobre todos e cada um dos trabalhadores envolvidos);

d) Um poder disciplinar: que se manifesta tipicamente pela

possibilidade de aplicação de sanções internas aos trabalhadores cuja conduta se revele desconforme com ordens, instruções e regras de funcionamento da empresa.

Poder regulamentar

O poder regulamentar do dador de trabalho refere-se à “organização e disciplina do trabalho” e só se justifica, pois, nas empresas de maiores dimensões e complexidade.

Nestas, com efeito, os poderes reconhecidos genericamente ao empregador aparecem, por força, fraccionados pelos vários níveis de uma hierarquia: a orientação do trabalho, nomeadamente, deixa de poder imputar-se, na prática, à vontade e ao critério de uma só pessoa; a figura clássica da “entidade patronal” ou “empregador”, ainda dotada de grande significado nos planos económico e jurídico, dilui-se, de facto, na organização hierárquica da empresa, em que se inserem dirigentes, beneficiários da delegação de certa medida dos poderes patronais.

Poder disciplinar

Consiste ele na faculdade, atribuída ao empregador, de aplicar, internamente, sanções aos trabalhadores ao serviço cuja conduta conflitue com os padrões de comportamento da empresa ou se mostre inadequada à correcta efectivação do contrato. Diz-se, então, que ocorre uma infracção disciplinar; a lei não fornece uma noção mas indica tipos avulsos de infracção.

Assim, o dador de trabalho dispõe da singular faculdade de reagir, por via punitiva e não meramente reparatória ou compensatória, à conduta censurável

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do trabalhador, no âmbito da empresa e na permanência do contrato. A sanção disciplinar tem, sobretudo, um objecto conservatório e intimidativo, isto é, o de se manter o comportamento do trabalhador no sentido adequado ao interesse da empresa.

O poder disciplinar constitui uma prerrogativa da entidade patronal, mas tanto é exercido por esta como pelos superiores hierárquicos do trabalhador, e está sujeito a limitações não só pelo que se refere à medida das sanções mas também à própria qualificação das condutas do trabalhador como infracções disciplinares.

Existe um elenco de sanções que prevêm: a) Repreensão;

b) Repreensão registada; c) Sanção pecuniária; d) Perda de dias de férias;

e) Suspensão do trabalho com perda de retribuição e de antiguidade; f) Despedimento sem indemnização ou compensação.

A lei estabelece dois condicionamentos temporais do exercício da acção disciplinar: o prazo de prescrição da infracção (art. 329º C.T.) e o prazo de caducidade da acção.

A acção disciplinar surge como um conjunto de medidas destinadas a agir, de modo contraposto, sobre a vontade do trabalhador, procurando modificá-la no sentido desejado – isto é, procurando recuperar a disponibilidade perdida ou posta em causa. Daqui resulta, além do mais, que o despedimento do trabalhador só poderá considerar-se harmónico com a concepção legal do poder disciplinar quando se mostre inviável ou inútil qualquer das sanções cuja aplicação pressupõe a permanência do vínculo.

Os deveres acessórios do empregador: dever de assistência

O primeiro deles abrange fundamentalmente os comportamentos previstos no art. 127º do C.T.. Cabe à entidade patronal, além do mais, assegurar as condições de higiene e segurança do local de trabalho, nomeadamente pela observância das exigências legais e regulamentares que visam a prevenção de acidentes de trabalho e doenças profissionais.

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Face ao nosso sistema, crê-se que podem ser vistos como manifestações de um dever “geral” de protecção do empregador:

a) A garantia de “boas condições de trabalho tanto do ponto de vista físico como moral” (arts. 19º-c, 40º e 41º LCT);

b) Outros deveres atribuídos aos empregadores pelas convenções colectivas e insusceptíveis de conexão directa com a prestação de trabalho;

c) Obrigações assumidas pelas entidades patronais, em regra, pela via da contratação colectiva, tendo por objecto prestações complementares das que são asseguradas pelos esquemas de benefícios de segurança social, destinando-se aquelas a suprir a manifesta insuficiência de tais esquemas para uma efectiva cobertura de riscos sociais.

AS RELAÇÕES DO CONTRATO DE TRABALHO

A formação do contrato de trabalho

Os processos de formação do contrato de trabalho

O contrato de trabalho é, um contrato consensual, pois “não está sujeito a qualquer formalidade, salvo quando a lei expressamente determinar o contrário”. Esta característica, relativa à questão da forma negocial, tem que ver com que tipos de comportamento declarativo são aptos a constituir esse contrato.

A formação de qualquer contrato resulta de duas declarações negociais: a proposta e a aceitação. Conforme se conclui, do disposto nos arts. 233º e 234º CC, da proposta – que exprime a iniciativa de um dos sujeitos – devem constar todos os elementos do negócio, de modo que, para a sua conclusão, baste a pura e simples aceitação do seu destinatário. Se este incluir, na sua declaração, aditamentos, limitações ou outras modificações ao conteúdo da proposta, considera-se que a rejeita e, quando muito, tem-se tal declaração por equivalente proposta.

A proposta e a aceitação feitas obrigatoriamente por escrito têm lugar, em princípio, nos casos em que a lei expressamente impuser essa forma.

A Lei prevê expressamente a hipótese de promessa de contrato de trabalho (art. 103º C.T.), exigindo documento assinado pelo promitente ou promitentes,

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mas especificando – em razão da peculiaridade do vínculo laboral – que não lhe é aplicável o mecanismo de suprimento judicial, configurado pelo art. 830º CC, para o caso de incumprimento da promessa (impossibilidade de eficácia real).

Não existindo, formal e inequivocamente, promessa de contrato, nem estipulação formal de termo ou condição, o contrato de trabalho produz os efeitos que lhe são próprios a partir do momento em que é celebrado.

Pressupostos subjectivos: capacidade das partes A) Capacidade jurídica:

A qualidade de trabalhador subordinado só pode recair sobre uma pessoa física ou singular. Significa isto que as pessoas colectivas não possuem a correspondente capacidade jurídica: não podem ser titulares dos direitos e das obrigações próprios do trabalhador.

A lei articula a aquisição da “capacidade jurídico-laboral” com o regime da escolaridade obrigatória. Assim, e desde 1/1/97, a “idade mínima de admissão para prestar trabalho” situa-se nos 16 anos (art. 68º, n.º2), embora se admita essa admissão para “trabalhos leves”, em “actividades e condições a determinar”, a partir dos 14 anos.

B) Capacidade para o exercício de direitos:

Quanto à possibilidade de uma pessoa exercer por si própria os direitos de que é titular –, a regra é, a de que ela se adquire com a maioridade, isto é, ao completarem-se 18 anos (arts. 122º e 130º CC).

Ora, no que respeita aos direitos e deveres próprios do trabalhador subordinado, a capacidade de exercício adquire-se aos 16 anos, embora com ressalva da possibilidade de oposição dos representantes legais do menor. Esse regime é extensivo à capacidade para receber pessoalmente a retribuição. Antes dessa idade, isto é, a partir dos 14 anos, o menor só pode assumir a qualidade de trabalhador, nos casos permitidos, se o correspondente contrato for celebrado com a assistência do seu representante legal.

São também incapazes para o exercício de direitos os interditos (art. 138º segs. CC), os inabilitados (art. 152º seg. CC), os insolventes (art. 1313º CC) e os falidos.

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Quando seja celebrado um contrato de trabalho por quem não disponha da correspondente capacidade jurídica, o contrato é nulo.

Se, em vez disso, faltar a capacidade para o exercício de direitos que se requer para a conclusão do contrato, a sanção é, em regra, a anulabilidade contrato.

Determinabilidade

De harmonia com o art. 280º CC, são só os seguintes requisitos gerais do objecto do negócio:

 possibilidade física e legal,  não contrariedade à lei,  determinabilidade,

 não contrariedade à ordem pública, e  conformidade aos bons costumes.

A possibilidade legal propriamente dita tem escasso interesse como requisito a que deve obedecer o objecto do contrato de trabalho.

É necessário que o objecto do contrato seja determinado para que as obrigações sobre ele incidentes possam ser cumpridas. consoante do próprio contrato: basta, em suma, que o objecto deste seja determinável.

É necessário que o trabalho subordinado ocupe, na vida do devedor, um espaço limitado, de modo que o crédito laboral se não apresente como algo de semelhante a um direito sobre a sua pessoa.

O termo

“Se for estipulado que os efeitos do negócio jurídico comecem ou cessem a partir de certo momento” – seguindo a formulação do art. 278º CC –, diz-se que ao mesmo negócio foi posto um termo, respectivamente, suspensivo (inicial) ou resolutivo (final).

O termo suspensivo ou inicial, é admitido pelo art. 135º CT, embora com a exigência de que conste de documento escrito e assinado por ambas as partes. Na disciplina do contrato de trabalho a termo são três as ideias mestras, abstraindo dos aspectos que especificamente respeitam à cessação dos vínculos em causa:

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b) Exigência de uma razão objectiva e explicita para a celebração de contratos a termo, certo ou incerto, e independentemente da duração;

c) Permissão do encadeamento de contratos a termo certo (por máximo de duas renovações) até ao limite de três anos.

Existe o termo certo quando se trata de um momento ou acontecimento que seguramente ocorrerá em momento rigorosamente determinado. Fala-se, ao invés, de termo incerto para significar um evento que seguramente ocorrerá, mas em momento indeterminado.

A lei exige não só que exista motivação ou justificação da celebração do contrato a termo; é necessário que ela integre uma tipologia. Se a situação concreta não preencher nenhuma das hipóteses enumeradas, ou se não constar no contrato a “indicação do motivo justificativo”, a consequência é a mesma: tem-se por inválida a estipulação do termo, o vínculo é considerado de duração indeterminada.

Condição

De harmonia com a formulação do art. 270º CC, designa-se por condição “um acontecimento futuro e incerto” ao qual as partes subordinem “a produção dos efeitos do negócio jurídico ou a sua resolução”. Ter-se-á assim, respectivamente uma condição suspensiva ou uma condição resolutiva.

Quanto à condição suspensiva, não há qualquer dúvida: a norma prevê que ao contrato de trabalho pode ser aposta condição ou termo suspensivo, mas a correspondente cláusula deve constar de documento assinado por ambas as partes.

A invalidade do contrato de trabalho

A falta de capacidade dos sujeitos e a inidoneidade do objecto, além de outros vícios que tenham afectado a formação do contrato, reflectem-se sobre a sua validade, quer tornando-o nulo quer fazendo-o anulável. A diferença entre as duas sanções consiste em que a primeira é “invocável a todo o tempo por qualquer interessado e pode ser declarada oficiosamente pelo Tribunal” (art. 286º CC), ao passo que a segunda só pode ser arguida pelas “pessoas em cujo interesse a lei a estabelece e só dentro do ano subsequente à cessação do vício que lhe serve de fundamento” (art. 287º/1 CC). De resto, “tanto a declaração de nulidade como a anulação têm efeito retroactivo, devendo ser restituído tudo o que tiver sido prestado ou, se a restituição em espécie não for possível, o valor correspondente” (art. 289º/1 CC).

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O período experimental

A lei considera, experimental o período inicial da execução do contrato de trabalho.

A necessidade dessa experiência (ou “período de prova”) existe sobretudo nos contratos de duração indeterminada. Se há prazo estipulado, é de presumir que a força de trabalho se destine a um objectivo concreto e delimitado, em relação ao qual é mais fácil estabelecer previamente a adequação entre o homem e a função; por outro lado, a própria circunstância de o contrato ter vida limitada, quer dizer, durabilidade restrita, torna menos grave os eventuais desajustamentos que se venham a manifestar.

O período de experiência constitui, regra (art. 111º CT), embora admitindo-se o admitindo-seu afastamento por estipulação expressa.

O TEMPO DE TRABALHO

A dimensão temporal da prestação de trabalho

A determinação quantitativa é necessária, desde logo, porque a prestação de trabalho não pode invadir totalmente a vida pessoal do trabalhador: é necessário que, por aplicação de normas ou por virtude de compromissos contratuais, esteja limitada a parte do trabalho na vida do indivíduo, para que se afaste qualquer semelhança com a escravatura ou a servidão.

Tais são os fundamentos do direito “a um limite máximo da jornada de

trabalho” consagrado no art. 59º/1-d CRP, assim como exigência constitucional

da “fixação do nível nacional, dos limites da duração do trabalho” (art. 59º/2-b CRP). Não deixará de se notar como esses preceitos articulam a limitação dos tempos de trabalho com o direito ao repouso e aos lazeres.

A determinação quantitativa da prestação de trabalho relaciona-se, estreitamente com a medida da retribuição. A unidade de cálculo utilizada para a determinação do valor deste é, em regra, uma unidade de tempo (hora, o dia) e a correspectividade que caracteriza as prestações das partes no contrato de trabalho estabelece-se entre um certo período de trabalho (normalmente um mês) e um valor económico (o ordenado, o salário).

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O período normal de trabalho não pode ser unilateralmente aumentado: ao fazê-lo, o empregador estaria a modificar, por sua exclusiva vontade o objecto do contrato de trabalho no seu aspecto quantitativo.

Mas pode verificar-se diminuição do período normal de trabalho por decisão do empregador, tal diminuição poderá constituir uma decisão de gestão ou resultar de caso fortuito ou de força maior, não podendo implicar, em qualquer destes casos, redução do salário. E poderá, ainda, enquadrar-se como medida transitória de emergência, para situações de crise grave da empresa, susceptível de ser decidida pelo empregador no termo de um processo de consultas aos representantes dos trabalhadores. Nesta configuração, a redução do período normal de trabalho tem consequências no plano remuneratório: os trabalhadores afectados deixam de auferir a retribuição normal e entram num regime de “compensação salarial”.

Os limites à duração do trabalho

Entre os direitos fundamentais dos trabalhadores consagrados pela Constituição, conta-se o direito “a um limite máximo de jornada de trabalho” e, ainda, no âmbito das “condições de trabalho (…) a que os trabalhadores têm direito”, a “fixação, a nível nacional, dos limites da duração do trabalho” (art. 59º, n.º 1, al. d) e n.º 2, al. b da CRP).

Nessa linha, a lei estabelece limites à duração diária e semanal do trabalho, os quais devem ser respeitados pelas estipulações individuais, pela organização do trabalho nas empresas e, também, pela regulamentação convencional colectiva.

Assim nos termos do art. 203º do C.T. os limites dos tempos de trabalho são:  40 horas semanais,

 8 horas diárias.

O art. 197º, n.º 1 esclarece que “Considera-se tempo de trabalho qualquer

período durante o qual o trabalhador exerce a actividade ou permanece adstrito à realização da prestação, bem como as interrupções e os intervalos previstos no número seguinte.”.

Estarão compreendidos no tempo de trabalho:

a) A interrupção de trabalho como tal considerada em instrumento de regulamentação colectiva de trabalho, em regulamento interno de empresa ou resultante de uso da empresa;

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