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Capítulo 7 DIVERSIDADE DE LEGUMINOSAS DO ALTO RIO NEGRO E SEU POTENCIAL DE APROVEITAMENTO BIOECONÔMICO

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DIVERSIDADE DE LEGUMINOSAS

DO ALTO RIO NEGRO E SEU POTENCIAL

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DIVERSIDADE DE LEGUMINOSAS DO ALTO RIO NEGRO E SEU POTENCIAL DE APROVEITAMENTO BIOECONÔMICO

Luiz Augusto Gomes de Souza¹, Angélica Maria Cortes e São Paulo Aguiar¹, Adilson Rodrigues Dantas¹, Ma-noel Cursino Lopes¹

¹Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/Laboratório de Microbiologia do Solo – INPA/LMS, Av. André Araújo 2936, C.P. 478, Aleixo, CEP 69060-000, Manaus, AM, souzalag@inpa.gov.br, cortes@inpa.gov.br; dan-tas@inpa.gov.br, Fone: (92) 3643-1874.

Conhecer a biodiversidade de uma região é o primeiro passo para o uso racional, conservação e preservação dos recursos naturais. A região do Alto Rio Negro, conhecida no mapa da Amazônia brasileira como “cabeça de cachorro” é uma área fronteiriça com a Colômbia e Venezuela, caracterizada por um intenso intercâmbio de culturas que durante gerações acumulou um etnoconhecimento específico sobre o uso das plantas. Revestidas por florestas contínuas de se perder de vista, assentadas predominantemente em classes de solos ácidos e arenosos, nestas áreas traduz-se em um ambiente de escassez de nutrientes onde são encontradas plantas estrategistas adaptadas a solos pobres. Nestas matas várias famílias de plantas se destacam dentre elas as Fabaceae (mais conhecidas como leguminosas).

Recentemente, pesquisadores do INPA realizaram um levantamento abrangente das espécies de Fabaceae encontradas nas matas primárias de terra firme, campinaranas, igapós e em áreas submetidas a alterações antrópicas em vários locais nos municípios de São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel do Rio Negro. A lista de espécies encontradas foi usada como base para a identificação das possibilidades de aproveitamento das espécies existentes nesta parte da Amazônia de acesso remoto, onde florestas extensas foram preservadas pelas populações indígenas ao longo das gerações.

As leguminosas compõem um grupo muito numeroso de espécies que tem origem tropical e alta diversidade nos biomas brasileiros. Estima-se que na vegetação do Brasil sejam registradas 2694 espécies, abrigadas em 210 gêneros. Quase a metade dessas espécies de plantas é endêmica. Uma planta é considerada endêmica quanto ocorre em uma área restrita, tal como uma ilha ou montanha, e ainda não se expandiu para outras partes. A grande maioria das leguminosas que crescem no Brasil ainda não passou por processos

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de domesticação e apresentam alta variabilidade em seu conjunto de genes nas áreas onde crescem. Na Amazônia, as estimativas conhecidas da diversidade de leguminosas relacionam 1241 espécies, distribuídas em 148 gêneros.

Uma particularidade das leguminosas é a sua variedade de hábitos de crescimento. De fato, dentro dessa família botânica são encontradas árvores de diferentes tamanhos, arbustos, lianas e ervas, e até mesmo plantas aquáticas e subaquáticas. As árvores formam o grupo mais primitivo e as herbáceas o grupo mais evoluído.

É possível que a designação das espécies de leguminosas como plantas de “múltiplo uso” esteja relacionada com sua alta biodiversidade. Realmente são inúmeras as espécies de interesse econômico, produtoras de alimento (grãos, tubérculos, óleos, frutos, etc.), plantas forrageiras para alimentar as criações, espécies madeiráveis, frutíferas, medicinais, produtoras de resinas, taninos, cortiças, lenha e carvão, etc., fornecendo um produto, e, portanto, existindo possibilidade de exploração para obtenção de renda. As leguminosas fazem parte da nossa alimentação diária e são mais conhecidas pelo seu fruto em forma de vagem encontrados nos feijões, soja, lentilha, grão de bico, tremoço, amendoim, etc. Entretanto, há uma característica adicional dentro das leguminosas que as destacam como espécies de interesse nos agroecossistemas: a maioria delas fixa nitrogênio atmosférico em simbiose com bactérias do solo conhecidas como “rizóbios”. Os agroecossistemas são o conjunto da paisagem rural com sua dinâmica, reunindo os recursos encontrados em cada propriedade agrícola, suas plantas, suas criações, a água, o solo, as técnicas empregadas etc.

O Nitrogênio é um elemento químico essencial para as plantas que o utilizam principalmente na construção de proteínas. Porém, as reservas deste elemento estão na atmosfera, inalcançáveis para os vegetais. Quando a leguminosa se associa com os rizóbios, consegue captar esse elemento para o seu desenvolvimento, crescimento e produção. Tal propriedade oferece um serviço que pode ser explorado nos sistemas sustentáveis de produção agrícolas, havendo espécies apropriadas para sombreamento dos cultivos, práticas de adubação verde, apicultura, cobertura do solo, recuperação de áreas degradadas, etc. Várias espécies de leguminosas são, por seu múltiplo uso, bastante conhecidas das populações tradicionais da Amazônia.

A Agroecologia é uma ciência que reúne conceitos agronômicos e de ecologia e que enfatiza o aproveitamento de leguminosas na produção e as leguminosas arbóreas são de particular importância para os Sistemas agroflorestais que buscam sustentabilidade em nitrogênio. Várias espécies de árvores leguminosas têm crescimento rápido, rusticidade, produz muita biomassa rica em nitrogênio, estão adaptadas aos solos tropicais que muitas vezes são tipicamente ácidos e de baixa fertilidade dos solos tropicais.

Não há dúvida que o papel de muitas espécies de leguminosas com valor madeireiro no reflorestamento e na recuperação de solos erodidos pode ser maior que o atual. Essa possibilidade é ainda mais importante no Alto Rio Negro devido aos solos pobres. O reflorestamento com leguminosas pode ser uma alternativa de utilização promissora dentro dos ecossistemas amazônicos, especialmente as áreas perturbadas por mau uso do solo, como

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as resultantes de pastagens abandonadas e desconstruídas por atividades de mineração. A importância do plantio das leguminosas arbóreas é especialmente promissora na recuperação de áreas degradadas e no reflorestamento de solos marginais para a redução dos custos da madeira produzida bem como na obtenção de outras matérias primas para a industrialização.

Poucos estudos aprofundados sobre os recursos da vegetação foram conduzidos no Alto Rio Negro. Neste cenário, um levantamento abrangente sobre as leguminosas que ocorrem naturalmente na área, será muito útil para um aumento do conhecimento e das possibilidades de aproveitamento das espécies existentes nesta parte da Amazônia de acesso remoto, composta de paisagens de igapó e matas de terra firme cujos recursos de biodiversidade vêm sendo manejadas pelas populações autóctones ao longo das gerações.

LEVANTAMENTO DAS LEGUMINOSAS DO ALTO RIO NEGRO

Os trabalhos de bioprospecção da diversidade de leguminosas do Alto Rio Negro abrangeram as áreas próximas das cidades de Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira. As pesquisas de campo foram desenvolvidas entre os anos de 2007 e 2009. Os ambientes visitados foram: à mata primária de terra firme definida como Floresta Estacional Perenifólia, onde não ocorrem inundações ocasionais, caracterizadas por uma composição variada de espécies e pela presença de árvores com até 40 m de altura ou mais, localizada principalmente ao longo da BR 307, que liga a cidade de São Gabriel a Cachoeira ao distrito de Cucui; a mata de igapó, nas margens do Rio Negro, igarapé do Miuá, Rio Ualpés, Rio Içana, Rio Curicuriari, Rio Maraiué, Rio Urubaxi, etc., que incluem plantas tolerantes às inundações estacionais regulares; e, a mata da campinarana, formação que se desenvolve sobre solos excessivamente arenosos com árvores que alcançam até 30 m de altura. Nos dois municípios foram também visitadas áreas de capoeira, com vegetação secundária, resultante da perturbação da floresta primária pelo homem, localizadas em beira de estradas e caminhos.

Em cada local, após a localização das leguminosas, foram feitas coletas de material botânico e preparo de exsicatas para registro no herbário do INPA, em Manaus, AM. A identificação das espécies foi feita por parabotânicos, com comparação de amostras já identificadas e depositadas no herbário. Foram também coletados frutos e sementes das espécies, para estudos agronômicos e silviculturais com Fabaceae. Nestes trabalhos foram identificadas 125 espécies de leguminosas e as informações sobre o nome popular, nome científico, hábito de crescimento, ambiente de coleta e principal forma de uso das espécies podem ser visualizadas na Tabela 1.

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Tabela 1. Nome popular, nome científico, hábito de crescimento, ambiente ecológico e

prin-cipal forma de aproveitamento biológico e econômico de 125 espécies de leguminosas do Alto Rio Negro, AM.

NOME

POPULAR ESPÉCIE HÁBITO AMBIENTE USO PRINCIPAL

Acacia de Sian Senna siamea Árvore Cultivada Arborização urbana Acanã Eperua leucantha Árvore Campinarana Arborização urbana Acapu-do-igapó Clathrotropis nitida Arbusto Igapó Varas, lenha e carvão Acapurana Campsiandra laurifolia. Árvore Igapó Varas, lenha e carvão Aiari Heterostemon mimosoides var.

mimosoides Arbusto Igapó Ornamental Alfafa-do-campo Zornia diphylla Herbácea Áreas secundárias Forrageira Amendoim-rasteiro Arachis stenosperma Herbácea Cultivada Cobertura do solo Angélica-do-Pará Dicorynia paraensis Árvore Igapó Madeira Angelim-amarelo Hymenolobium pulcherimum Árvore Mata primária Madeira Angelim-pintado Macrosamanea simabifolia Liana Igapó Ecológico Angelim-rajado Zygia racemosa Árvore Igapó Madeira Anil-bravo Indigofera suffruticosa Arbusto Áreas secundárias Medicinal Apeu Macrolobium angustifolium Árvore Igapó Madeira Arabá Swartzia polyphylla Árvore Igapó Recuperação de solos Arapari Macrolobium acaciifolium Árvore Igapó Madeira Araparirana Macrolobium multijugum Árvore Igapó Varas, lenha e carvão Arapari-vermelho Elizabetha princeps Árvore Mata primária Ecológico Ararandeua Zygia latifolia var. communis Árvore Igapó Varas, lenha e carvão Arara-tucupi Parkia panurensis Árvore Mata primária Varas, lenha e carvão Árvore-de-orquídea Bauhinia variegata Árvore Cultivada Arborização urbana Aturiá Macherium multifoliolatum Liana Igapó Ecológico Barbadinho Desmodium barbatum Herbácea Áreas secundárias Forrageira Bico-de-pato Dioclea guianensis Liana Áreas secundárias Adubação verde Breu-de-estudante Caesalpinia pulcherrima Arbusto Cultivada Ornamental Cabari Clathrotropis macrocarpa Árvore Mata primária Varas, lenha e carvão Café beirão Senna obtusifolia Herbácea Áreas secundárias Ecológico Caingá Zygia odoratissima Árvore Igapó Ecológico Canafístula Senna multijuga Árvore Áreas secundárias Recuperação de solos Carrapichinho Desmodium adscendens Herbácea Áreas secundárias Medicinal Carrapicho-de-boi Zornia latifolia Herbácea Áreas secundárias Forrageira Cedrinho Dicorynia paraensis var.

macrophylla Árvore Mata primária Madeira Chique-chique Crotalaria nitens Arbusto Áreas secundárias Cobertura do solo Cipó-da-campina Clitoria leptostachya Liana Campinarana Recuperação de solos Cipó-da-capoeira Senna tapajozensis Liana Áreas secundárias Adubação verde Cipó-de-gato Piptadenia minutiflora Liana Áreas secundárias Adubação verde Cipó-de-juquiri Mimosa rufescens Liana Áreas secundárias Recuperação de solos Cipó-de-tucunaré Dalbergia inundata Liana Igapó Alimento para peixe Cipó-mucunã Mucuna urens Liana Áreas secundárias Recuperação de solos Cipó-mucunarana Dioclea glabra Liana Áreas secundárias Cobertura do solo

Cumaru Dipteryx odorata Árvore Igapó Madeira

Dartrial Senna alata Arbusto Áreas secundárias Medicinal Erva-da-campina Clitoria javitensis Liana Campinarana Recuperação de solos Erva-de-mendigo Desmodium tortuosum Herbácea Áreas secundárias Recuperação de solos Escada-de-jaboti Bauhinia platycalyx Liana Campinarana Ecológico Escorrega-macaco Peltogyne paniculata Árvore Igapó Madeira Fava-de-anta Dimorphandra coccinea Árvore Igapó Madeira Fava-de-empingem Vatairea guianensis Árvore Igapó Madeira Faveira Swartzia argentea Árvore Igapó Varas, lenha e carvão Faveira-barbatimão Stryphnodendron pulcherrimum Árvore Mata primária Madeira Faveira-da-campina Abarema leucophylla Árvore Campinarana Ecológico Faveira-do-baixio Macrolobium gracile Árvore Campinarana Varas, lenha e carvão Faveira-do-igapó Hydrochorea marginata Árvore Igapó Varas, lenha e carvão

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Tabela 1. Nome popular, nome científico, hábito de crescimento, ambiente ecológico e

prin-cipal forma de aproveitamento biológico e econômico de 125 espécies de leguminosas do Alto Rio Negro, AM. (Cont.)

NOME

POPULAR ESPÉCIE HÁBITO AMBIENTE USO PRINCIPAL

Favinha-do-igapó Zygia unifoliolata Arbusto Igapó Ecológico Feijão-do-mato Vigna adenantha Herbácea Áreas secundárias Adubação verde Feijão-peludo Vigna lasiocarpa Herbácea Áreas secundárias Adubação verde Flamboyant Delonix regia Árvore Cultivada Arborização urbana Generala Clitoria laurifolia Arbusto Áreas secundárias Ecológico Gipoóca Entada polystachya var.

polyphylla Liana Áreas secundárias Adubação verde Guizo-de-cascavel Crotalaria micans Arbusto Áreas secundárias Adubação verde Iebaro Eperua purpurea Árvore Campinarana Madeira

Ingá-açu Inga splendens Árvore Igapó Fruteira

Ingá-amarela Inga pezizifera Árvore Areas secundárias Fruteira

Ingá-boi Inga cinnamomea Árvore Igapó Fruteira

Ingá-chata Inga macrophylla Árvore Cultivada Fruteira Ingá-chichi Inga obidensis Árvore Areas secundárias Alimento para a fauna Ingá-chichica Inga nobilis Árvore Igapó Alimento para a fauna Ingá-cipó Inga edulis Árvore Cultivada Fruteira Ingá-da-beira-do-rio Inga vera subsp. vera Árvore Igapó Alimento para a fauna Ingá-de-macaco Inga thibaudiana Árvore Mata primária Alimento para a fauna Ingá-de-sapo Zygia inaequalis Árvore Igapó Arborização urbana Ingá-peluda Inga rubiginosa Árvore Igapó Alimento para a fauna Ingarana-da-mata Zygia claviflora Árvore Mata primária Varas, lenha e carvão Ingá-turi Inga marginata Árvore Igapó Alimento para a fauna Ingá-xixi Inga ulei Árvore Igapó Alimento para a fauna Jacarandá-do-Pará Dalbergia spruceana Árvore Igapó Madeira Jaranduba Macrosamanea pubiramea Liana Igapó Recuperação de solos Jatobá Hymenaea courbaril Árvore Mata primária Madeira Jucá Libidibia ferrea var. ferrea Árvore Cultivada Medicinal Juerana Macrosamanea duckei Liana Igapó Recuperação de solos Juqueri-manso Mimosa camporum Herbácea Áreas secundárias Recuperação de solos Leucena Leucaena leucocephala Árvore Cultivada Sistemas Agroflorestais Macucu Aldina discolor Árvore Campinarana Madeira Maliça Mimosa pudica Herbácea Áreas secundárias Meliponicultura

Malição Mimosa pigra Liana Igapó Adubação verde

Malicia Mimosa polydactyla Herbácea Áreas secundárias Meliponicultura Mamangá Senna quinquangulata Liana Igapó Medicinal Mangerioba Senna occidentalis Herbácea Áreas secundárias Medicinal Mata-cabrito Clitoria falcata var. falcata Herbácea Áreas secundárias Adubação verde Membi Chamaecrista negrensis Árvore Igapó Madeira Mendubi Chamaecrista diphylla Herbácea Áreas secundárias Cobertura do solo Muiragibóia Swartzia recurva Árvore Igapó Madeira Muirapaxiuba Chamaecrista adiantifolia Árvore Campinarana Varas, lenha e carvão Mulungu Ormosia smithii Árvore Igapó Artesanato Mulungu-da-mata Ormosia lignivalvis Árvore Mata primária Artesanato Mututi Pterocarpus santinoides Árvore Igapó Varas, lenha e carvão Orelha-de-negro Enterolobium schomburgkii Árvore Mata primária Madeira Pacapeuá Swartzia brachyrachis Árvore Campinarana Ecológico Palheteira Clitoria fairchildiana Árvore Cultivada Sistemas agroflorestais Pariri Chamaecrista mimosoides Herbácea Áreas secundárias Recuperação de solos Pashaco Abarema auriculata Árvore Campinarana Varas, lenha e carvão Pau-amarelo Swartzia schomburkii Árvore Mata primária Madeira Pau-Brasil Caesalpinia echinata Árvore Cultivada Arcos de violino Pau-de-sangue Swartzia laxiflora Árvore Igapó Arcos de violino Pau-roxo-da-caatinga Peltogyne caatingae Árvore Campinarana Madeira Pega-pega Desmodium incanum Herbácea Áreas secundárias Medicinal

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Tabela 1. Nome popular, nome científico, hábito de crescimento, ambiente ecológico e

prin-cipal forma de aproveitamento biológico e econômico de 125 espécies de leguminosas do Alto Rio Negro, AM. (Cont.)

Nos trabalhos realizados no Alto Rio Negro, o registro de 125 espécies, classificadas em 54 gêneros das leguminosas é um indicador da grande variedade de espécies e também de seus muitos tipos de usos. O gênero Inga foi numericamente o melhor representado com 12 espécies, seguido de Swartzia, com oito espécies, Mimosa e Senna com sete, Zygia com seis, Chamaecrista, Clitoria e Desmodium com cinco, Macrolobium com quatro e, Dalbergia, Macrosa-manea e Ormosia com 3 espécies cada. Em 15 gêneros das leguminosas encontradas, foram

registradas duas espécies, e 27 espécies pertenciam a um só gênero. Dentre as espécies foram identificadas oito variedades (aiari, ararandeua, cedrinho, gipoóca, jucá, mata-cabrito, pratea-da e rabo-de-camaleão) e uma subespécie, a ingá-pratea-da-beira-do-rio. Uma subespécie é a divisão de uma espécie quando está composta de um tipo bem definido.

O habito de crescimento das espécies que crescem no Alto Rio Negro é bastante va-riado, sendo encontradas árvores de grande porte, de porte mediano a pequeno, lianas com e sem espinhos, arbustos e ervas de pequeno porte. As leguminosas estavam presentes em todos os ambientes visitados, com ocorrência nas matas primárias de terra firme, da várzea e campinaranas e também nos ambientes alterados constituídos por matas secundárias. Um grupo de espécies, mais conhecidas da população é cultivado nos quintais e roças, mas tam-bém como árvores de sombra, frutíferas, ornamentais ou empregadas na arborização urbana das cidades. A Figura 1, apresenta uma síntese das informações sobre o hábito de crescimen-to e ambiente ecológico das leguminosas registradas para o Alcrescimen-to Rio Negro.

NOME

POPULAR ESPÉCIE HÁBITO AMBIENTE USO PRINCIPAL

Pipo-de-macaco Parkia discolor Árvore Igapó Varas, lenha e carvão Pitaíca Swartzia pendula Árvore Igapó Varas, lenha e carvão Pracaxi-da-beira Hydrochorea corymbosa Árvore Igapó Sistemas Agroflorestais Prateada Chamaecrista desvauxii var.

latistipula Arbusto Áreas secundárias Ornamental Rabo-de-camaleão Mimosa myriadenia var.

punctulata Liana Áreas secundárias Ecológico Rabo-de-lacrau Desmodium scorpiurus Herbácea Áreas secundárias Ecológico Rim-de-paca Crudia oblonga Árvore Igapó Madeira Sabiá Mimosa caesalpiniifolia Árvore Cultivada Cerca viva Saboarana Swartzia sericea Árvore Igapó Madeira Sapupira Diplotropis triloba Árvore Mata primária Madeira Sucupira-preta Diplotropis martiusii Árvore Igapó Madeira Taboarana Leptolobium nitens Árvore Igapó Varas, lenha e carvão Tachi-preto Tachigali hypoleuca Árvore Igapó Madeira Tamarindo Tamarindus indica Árvore Cultivada Fruteira Tento-folha-grande Ormosia nobilis Árvore Igapó Madeira Timbó Deguelia scandens Liana Igapó Ictiotóxica Timbó-jacaré Dalbergia riedelii Liana Igapó Adubação verde Timborana Deguelia amazonica Liana Igapó Ictiotóxica Uacu Monopteryx uaucu Árvore Mata primária Fruteira Unha-de-gato Senegalia altiscandens Liana Áreas secundárias Ecológico

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Observa-se que 60 % das espécies encontradas são árvores de tamanho variado, dentre as mais altas estão o cumaru, orelha-de-negro, cabari e uacu, que ultrapassam 30 m de altura e árvores de menor porte como ararandeua, ingá-de-sapo, faveira-do-baixio e pi-taíca, cujos indivíduos têm altura inferior a 10 m. As lianas representam 21 % das espécies, algumas como cipó-de-juquiri, rabo-de-camaleão e unha-de-gato, com muitos espinhos em sua folhagem e outras como o bico-de-pato, erva-da-campina e jaranduba, com a biomassa completamente sem espinhos.

Quanto ao hábito de crescimento foram também registradas 18 espécies herbáceas e 11 espécies arbustivas, totalizando 14 e 9 % respectivamente das espécies encontradas na área. Esta alta variedade de hábitos de crescimento sugere que há no estoque genético de espécies que crescem no Alto Rio Negro, possibilidade de selecionar aquela mais adequada para a composição de espécies leguminosas em sistemas agroflorestais, por exemplo, seja árvores para sombreamento dos cultivos econômicos ou produção de madeira ou ervas e lianas para cultivo para cobertura e proteção do solo.

A maior parte das espécies foi coletada no ambiente do igapó, totalizando 40 % das coletas (Figura 1). Isso ocorre possivelmente porque nestes ambientes sujeitos a inundações regulares as leguminosas são parte importante na estrutura e fisionomia dessas matas, mas também porque os rios na Amazônia são como estradas facilitando o acesso às plantas em diferentes pontos da vegetação ao contrário das plantas do interior da mata primária onde o acesso é muito mais dificultoso. Como a amostragem foi realizada em áreas próximas das ci-dades o segundo grupamento mais coletado foi o de espécies que crescem em áreas secundá-rias, totalizando 27 %. Nas matas primárias de terra firme e nas campinaranas registraram-se 12 % e 10 % das espécies, respectivamente. Finalmente, 14 das leguminosas encontradas na área formam o grupo de plantas cultivadas, dentre elas: acácia-de-Sian, amendoim-rasteiro, flamboyant e pau-Brasil etc., nas áreas urbanas e ingá-cipó, ingá-chata e jucá, nos sítios.

As relações entre o hábito de crescimento das espécies e o ambiente em que ocorrem também são exploradas na Figura 1. Como pode ser verificado, na campinarana, mata primá-ria, mata de igapó e também entre as espécies cultivadas ocorrem principalmente árvores. Na mata de campinarana não foram encontradas leguminosas arbustivas, na mata de igapó não foram espécies herbáceas e nas matas primárias as leguminosas predominam com o hábito arbóreo e lianescente. Somente nas áreas secundárias as leguminosas estão representadas em todos os seus diferentes hábitos de crescimento, e dentre as espécies cultivadas, nenhuma apresentava hábito lianescente.

Possivelmente a ausência de ervas na mata de igapó está relacionada com os ciclos regulares de inundação das águas do Rio Negro. Por outro lado, nas matas primárias, a limi-tação de luz que atinge o chão da mata dificulta o estabelecimento de ervas e arbustos. Nas áreas secundárias a presença de plantas com diferentes hábitos de crescimento está relaciona-da com a irelaciona-dade relaciona-da capoeira, já que na fase inicial relaciona-da sucessão secundária vegetal predominam inicialmente plantas de porte herbáceo, arbustivo ou lianescente, produzindo muita biomassa que permite a recuperação inicial da área e as árvores aparecem somente nos anos seguintes ao abandono da área.

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Figura 1. Distribuição das espécies de leguminosas encontradas no Alto Rio Negro: (a) Hábito de crescimento; (b) Ambiente; e, (c) Relação hábito de crescimento e ambiente.

(a) (b)

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A Tabela 1 classifica também as espécies em relação ao seu principal tipo de uso. Deve se considerar o conceito já abordado de que geralmente as leguminosas são aproveita-das para mais de um tipo de uso, e, em decorrência são classificaaproveita-das como plantas de “múlti-plo uso”. Como as espécies são muito diversificadas, geralmente as classes de uso obedecem a três agrupamentos principais: são exploradas para produção de madeira e seus derivados; são exploradas como alimento humano, da fauna ou das criações; e, são aproveitadas como plantas que melhoram a fertilidade dos solos, destacando-se o seu papel em áreas que redu-ziram ou perderam o seu potencial produtivo.

A Figura 2 permite um melhor entendimento sobre o principal tipo de uso e apro-veitamento das leguminosas que ocorrem naturalmente no Alto Rio Negro. Como pode ser verificado, o potencial de uso das espécies foi agrupado em 19 categorias, que refletem um produto econômico principal ou um serviço ao sistema de produção agrícola. Dentre os produtos econômico principal foram encontradas espécies para produção de madeira, combustível, princípios medicamentosos, fruteiras, ornamentais, com princípios bioativos ou mesmo usadas para confecção de instrumentos musicais. Por outro lado quanto aos serviços prestados aos agroecossistemas estão plantas forrageiras, recuperadoras do solo, empregadas como adubos verdes, de importância ecológica, como alimento para a fauna, em sistemas agroflorestais, como cerca viva ou mesmo como alimento para peixes, dentre outros.

Refletindo a grande extensão das coberturas de mata que ocorrem no Alto Rio Negro, o produto econômico mais importante das leguminosas reportadas para a área é a madeira, onde foram classificadas 26 espécies com potencial de florestamento e reflorestamento pelo valor madeireiro. Dentre estas espécies estão a acapurana, angelim-rajado, arapari, cumaru, escorrega-macaco, fava-de-empingem, jatobá, muiragibóia e tachi preto. Uma ilustração geral destas espécies aqui citadas está apresentada na Figura 3. Nela pode ser vista a floração da acapurana, tachi preto e angelim-rajado, esta última facilmente identificada quando floresce já que apresenta caulifloria, revestindo o tronco de flores avermelhadas. O tronco grosso e roliço de fava-de-empingem ou mesmo o tronco esgalhado do arapari crescendo em ambien-te inundado, revela o poambien-tencial da madeira destas espécies para o corambien-te de pranchas e tábuas, servindo para os mais diversos fins. Os frutos de jatobá, cumaru e muiragibóia também estão ilustrados na Figura 3. Para o jatobá e o cumaru, madeiras de excelente qualidade e valor de mercado, estes frutos também fornecem outros produtos econômicos. O jatobá por ter uma polpa farinácea comestível empregada no preparo de bolos ou consumida in natura, e o cumaru, por possuir a substância cumarina em suas sementes, usadas em perfumaria, aro-matização de charutos e na indústria de alimentos ou mesmo de fitoterápicos, com valor de mercado. Por fim a figura também destaca a coloração arroxeada da madeira de escorrega--macaco, muito empregada para movelaria, cutelaria e pequenos objetos artesanais feitos em madeira.

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Dentre as 26 espécies de leguminosas arbóreas de importância madeireira identifica-das no Alto Rio Negro, algumas espécies como o cedrinho, iebaro, e sapupira, ainda foram pouco pesquisadas quanto às características e propriedades da madeira e perfil de aprovei-tamento tecnológico e industrial, definido a partir destas propriedades. Outras, entretanto, crescem em outras partes da Amazônia e foram mais pesquisadas. A Tabela 2 resume infor-mações sobre algumas características gerais da madeira de 12 dessas espécies, destacando o seu emprego em marcenaria, carpintaria, tacos, assoalhos, compensados, construção civil e naval, etc. Os trabalhos realizados não sugerem a exploração econômica imediata desses recursos florestais. Para tanto hoje já são preconizadas técnicas adequadas de manejo flores-tal sem comprometer a sustentabilidade dos recursos. Certamente que a reposição floresflores-tal e recuperação de áreas improdutivas com madeiras de valor do Alto Rio Negro podem ser mais bem estimuladas em políticas públicas já que a escassez de nutrientes nos solos predo-minantes nestas áreas exige a cobertura florestal como forma sustentável de exploração.

Para outras espécies não detalhadas na Tabela 2, destaca-se que a madeira de canafís-tula que é leve, mole e de baixa durabilidade, mas pode ser empregada para caixotaria leve e confecção de brinquedos. A palheteira também apresenta madeira mole, moderadamente pe-sada, e de baixa durabilidade em condições naturais, podendo ser empregada na construção civil como divisórias internas, forros e para confecção de brinquedos e caixotaria. O ingá--da-praia tem madeira leve, macia, textura média, medianamente resistente e moderadamente durável quando protegida das intempéries sendo empregada para obras externas, carpintaria e caixotaria.

Figura 2. Grupamento de espécies de leguminosas encontradas no Alto Rio Negro classificadas pela principal forma de uso.

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Figura 3. Aspectos gerais de espécies de leguminosas coletadas no Alto Rio Negro com potencial de explora-ção econômica pelo valor da madeira. (a) Acapurana (Campsiandra laurifolia); (b) Angelim-rajado (Zygia racemosa); (c) Arapari (Macrolobium acaciifolium); (d) Cumaru (Dipteryx odorata); (e) Escorrega-macaco (Peltogyne paniculata); (f) Fava-de-empingem (Vatairea guianense); (g) Jatobá (Hymenaea courbaril); (h) Muiragibóia (Swartzia recurva); e, (i) Tachi-preto (Tachigali hypoleuca).

O barbatimão também produz uma madeira moderadamente pesada, macia, pouco resistente e de baixa durabilidade, indicada para confecção de moveis, laminas faqueadas decorativas, compensados, esculturas e cabos de ferramenta. Já a madeira de rim-de-paca é empregada em compensados e lâminas de utilidade geral não decorativa e em caixotaria. A madeira de iebaro é aproveitada para dormentes e a de apeu é moderadamente pesada, ma-cia, pouco durável, empregada na construção civil em obras externas e internas, carpintaria, caixotaria e cabo de ferramentas. A madeira de fava-de-anta tem uso interno na construção civil e também serve para caixotaria. O lenho de tento-folha-grande é moderadamente pe-sado, aproveitada para caibros e ripados e serve também para lenha e carvão. A madeira de mututi tem baixa densidade e é empregada para fabricação de remos e como flutuadores dos utensílios de pesca. (a) (g) (d) (b) (h) (e) (c) (i) (f)

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Tabela 2. Características gerais e empregos da madeira de valor econômico de algumas

es-pécies de leguminosas encontradas no Alto Rio Negro.

Por fim, o pau-Brasil, introduzido na área e o pau-sangue tem dentre outros em-pregos, por sua flexibilidade a confecção de arcos de violino. Há registros também de que a madeira de faveira-do-igapó apresenta boa resistência ao contacto com o solo. Para o tachi--preto a madeira é empregada na construção civil, móvelaria e caixotaria. Todas estas espécies possuem potencial de aproveitamento como combustível, especialmente para produção de

NOME

POPULAR/ESPÉCIE CARACTERÍSTICAS E USO DA MADEIRA Angélica-do-Pará

(Dicorynia paraensis)

Madeira dura e imputrescível, rica em sílica. É empregada na construção civil, naval, carpintaria, segeria, estacas, obras hidráulicas, dormentes, especiais para tanoaria. É flexível, elástica.

Angelim-rajado (Zygia

racemosa)

Madeira muito pesada, cerne amarelo claro, resistente a fungos. Empregada em ebanisteria, marcenaria de luxo, parquetes, tacos de soalhos, construção em geral, compensados, laminados decorativos, cutelaria, bengalas, dormentes e objetos de adorno.

Arapari (Macrolobium

acaciifolium)

Madeira avermelhada, compacta, imputrescível. Empregada em carpintaria, caixas, celulose e papel, tábuas de boa qualidade e marcenaria. É bem flexível, empregada em móveis vergados tomando formas variadas. Cumaru (Dipteryx odorata)

Madeira muito pesada, dura ao corte, muito resistente ao ataque de cupins e fungos apodrecedores. Indicada para construção civil, como vigas, caibros, ripas, tábuas e tacos para assoalhos, batentes de portas, lambris, forros, para uso externo como postes, esteios, estacas, cruzetas, carroçaria, construção naval e movelaria.

Fava-de-empingem (Vatairea guianense)

A madeira é pesada, com cerne castanho claro, resistente a fungos e cupins, fácil de trabalhar e recebe bom acabamento. É usada em marcenaria, carpintaria, caixotaria, construção civil, caixas industriais, postes, etc.

Jacarandá do Pará (Dalbergia spruceana)

Madeira muito pesada, com cerne violáceo, que recebe acabamento atrativo. Empregada em lambris, revestimentos de decoração, marcenaria, segeria, ebanisteria, marchetaria, objetos torneados e de adorno, cabos de faca, escovas, caixas ou estojos entalhados. Boa para gabinetes.

Jatobá (Hymenaea

courbaril)

É uma madeira dura e resistente, empregada em moirões, esteios, portais, rodas de carro de boi, etc. Construções pesadas, obras hidráulicas, carroçaria, engenhos, postes, vigas, tonéis, etc.

Muirabibóia (Swartzia

recurva) Madeira dura e muito pesada, com polimento atrativo. Empregada em construção civil em geral, para tacos, carpintaria e marcenaria. Orelha-de-negro

(Enterolobium

schomburgkii)

Madeira pesada que recebe bom acabamento com lustre elevado, por isso mesmo empregada em marcenaria, franqueados, construção em geral, taboas para assoalhos, batentes de porta, tacos, móveis de boa qualidade e dormentes.

Pau-roxo-da-caatinga (Peltogyne catingae)

Madeira dura e compacta, com cerne roxo intenso ou violeta purpúreo, resistente a decomposição, polimento lustroso. Usada em segeria, dormentes, construção civil e naval, esculturas, marcenaria fina, ebanisteria, tacos para soalhos e carpintaria.

Sabiá (Mimosa

caesalpiniifolia)

A madeira é pesada, dura e compacta, de grande durabilidade mesmo quando exposta e enterrada. É apropriada para usos externos como moirões, estacas, postes, dormentes e esteios e marcenaria em geral. Sucupira preta (Diplotropis

martiusii)

Madeira muito dura e resistente em contacto com a água, empregada na construção naval, em peças de barcos como o casco, também em movelaria, carpintaria, para esquadrias, portas, peças torneadas, cruzetas, postes, tábuas para assoalho, tacos e construção civil em geral.

(16)

varas, lenha e carvão, e a listagem de espécies arbóreas existentes na área acrescenta a essa categoria mais 16 espécies lenhosas (Figura 2), que podem ser exploradas por esse potencial, seqüestrando carbono e contribuindo para amenizar as mudanças climáticas relacionadas com o aumento de CO2 na atmosfera.

Um segundo uso econômico destacado das leguminosas encontradas no Alto Rio Negro é o seu emprego como fitoterápicos devido aos seus princípios ativos medicinais. Nesta categoria pelo menos sete espécies foram apontadas pelo valor medicinal como o seu produto principal: anil-brabo, carrapichinho, dartrial, jucá, mamangá, mangerioba e pega-pe-ga. A Figura 4, ilustra aspectos da floração de seis destas espécies. Destacam-se mais uma vez que a escolha desta abordagem valorizou a principal forma de aproveitamento das espécies e que algumas vezes a mesma espécie como o jatobá pode ser aproveitada como madeira de valor econômico, medicinal, planta frutífera ou mesmo produtora de resina para a indústria de tintas e vernizes. O mesmo pode ser dito para outras espécies com o anil-brabo (Figura 4) que em adicional ao emprego medicinal têm suas folhas exploradas por conter a substância índigo, que em alta temperatura transforma-se em indigotina que é o corante azulado, usado para tingir tecidos, que dentre outras coisas tornou-se conhecido por dar cor às calças “je-ans”.

Figura 4. Espécies de leguminosas coletadas no Alto Rio Negro, com potencial de aproveitamento como plantas medicinais e constituição de fitoterápicos. (a) Anil-bravo (Indigofera suffruticosa); (b) Carrapicho (Desmo-dium adscendens); (c) Dartrial (Senna alata); (d) Maliça (Mimosa pudica); (e) Mamanguá (Senna quinquangulata); e, (f) Mangerioba (Senna occidentalis).

(a) (d) (b) (e) (c) (f)

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Algumas das espécies de leguminosas que crescem no Alto Rio Negro já têm amplo emprego na composição de fitoterápicos e são comercializadas em diversos medicamentos, dentre elas o carrapichinho, jucá, mangerioba e pega-pega. A ação medicamentosa destas plantas abrange um leque variado de males tais como as doenças do sangue como a hepa-tite, ações antiinflamatórias, antifúngicas, e contra doenças em geral, cada espécie com suas propriedades exclusivas. A Tabela 3 apresenta informações sobre o uso medicinal de dez das espécies coletadas em diferentes ambientes do Alto Rio Negro, cujos princípios ativos de emprego bastante variado, já foram detalhados pela ciência e cujas pesquisas farmacológicas já foram ou estão sendo realizadas para a elaboração de novos medicamentos.

No elenco das 125 espécies encontradas na área, há outras espécies onde os estudos etnobotânicos sugerem um incremento das pesquisas acerca de seus princípios medicinais e medicamentosos tais como a acapurana cuja infusão concentrada dos frutos adicionada com sal e vinagre é usada contra empingem e a infusão da casca é usada no tratamento de feridas. A casca dá árvore de arapari é usada pelas populações tradicionais contra a diarréia. O pega--pega que é constituinte de fitoterápicos para problemas no sangue, rins, ovário e próstata. A gipoóca cujas raízes contêm saponina, servindo para lavar a cabeça contra a caspa. Os índios Maiongong de Roraima usam a casca masserada de cabari remédio contra picadas de formi-gas tucandeiras. Já a faveira-de-empingem tem suas sementes piladas com banha ou vinagre na constituição de uma pomada usada contra empingem. Há registros de que as sementes de pacapeuá são misturadas com a comida para eliminar parasitas intestinais.

Há uma possibilidade concreta de que todas as pesquisas sobre a diversidade vegetal de leguminosas realizadas no Alto Rio Negro, considerando o potencial de aproveitamento das espécies como medicamento, pode ser mais bem subsidiado pelo conhecimento diversifi-cado do uso das plantas que as comunidades indígenas do Alto Rio Negro possuem. Não por acaso esse conhecimento é alvo de interesse das empresas multinacionais que prospectam a presença de substância bioativas em plantas. A pesquisa feita com informações apropriadas das comunidades tradicionais quase sempre oferece pouco risco e garantia de sucesso. Entre-tanto este levantamento só se ateve a registros já publicados e não abrangeu o diversificado patrimônio cultural etnobotânico dos diferentes povos que coabitam o Alto Rio Negro.

Há uma gama menos numerosa de outros potenciais de uso das espécies de legumi-nosas encontradas na área do Alto Rio Negro. Sabe-se que o principal valor da madeira de pau-brasil reside na produção de um princípio colorante denominado “brasileina”, extraído do lenho e muito usado para tingir tecidos e fabricar tinta de caneta. A sua exploração intensa gerou muita riqueza e caracterizou um período econômico da nossa história. É uma árvore ótima para uso paisagístico e que passou a ser cultivada na arborização urbana das cidades e foi desse modo que foi introduzida no Alto Rio Negro.

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Tabela 3. Aplicações medicinais de espécies de leguminosas encontradas no Alto Rio Negro

que já são exploradas por seu potencial na constituição de fitoterápicos.

Das espécies exploradas em fruticultura, várias espécies de ingás, tamarindo e o uacu são as de maior potencial. O tamarindo é uma espécie frutífera muito explorada em sucos, com extensas áreas plantadas especialmente nas áreas mais secas do nordeste. O uacu possui sementes muito ricas em óleos e gorduras e trata-se de uma árvore de grande porte que cresce no Rio Negro e de cujas sementes as populações tradicionais extraem um azeite comestível. O óleo é extraído pelo processo rudimentar de fervura da água, tem boa qualidade culinária é insípido e tem sabor adocicado, podendo ser empregado em saboaria. Outra espécie muito rica em óleo nas sementes é a palheteira. Há quase 20 % de óleo comestível disponível nas sementes desta espécie, mas não há registros de que ela seja explorada com esse fim. O óleo extraído das sementes de mangerioba tem propriedades inseticidas e potencialmente empre-gadas em práticas de controle biológico das pragas que atacam os cultivos. A ingestão das sementes desta espécie, entretanto, pode ser tóxica para animais, prejudicando especialmente

NOME

POPULAR/ESPÉCIE USO MEDICINAL

Anil-bravo (Indigofera

suffruticosa)

Tem variadas aplicações como antiespasmódica, sedativa, estomáquica, febrífuga, purgativa e diurética. É reputada como um antídoto do arsênio e do mercúrio. A raiz é odontálgica, útil contra icterícia.

Carrapichinho (Desmodium

adscendens)

Já é atualmente explorado na composição de fitoterápicos, em remédios contra a asma, problemas digestivos ou doenças do fígado como a hepatite B.

Dartrial (Senna alata),

As folhas, inflorescências e raízes têm propriedades diuréticas, febrífugas e laxantes, usadas contra anemia, blenorragia, congestão do fígado, hemorróidas, herpes, malária, pano branco, tratamento e prevenção da erisipela, sarnas, tumores, leucemia, tuberculose, câncer, inflamações, etc. Fava-de-anta

(Dimorphandra coccinea)

Tem rutina nos frutos, um glicosídio usado contra fragilidade capilar, que retarda o envelhecimento e melhora a circulação sanguínea aliviando as dores de varizes e hemorróidas.

Jatobá (Hymenaea

courbaril)

A resina é excelente peitoral, hemostática e útil em afecções urinárias. A casca e a seiva são tônicas, estomacais, adstringentes, balsâmicas, vermífugas e hemostáticas. A resina em pó é utilizada contra a hemoptise. A polpa em gemadas passa por específico nas afecções pulmonares. Jucá (Libidibia ferrea var.

ferrea)

As favas têm ações medicamentosas de grande utilidade popular nos casos de úlcera, asma, afecções bronco-pulmonares, diarréia e no combate aos gases intestinais.

Maliça (Mimosa pudica)

É empregada em gargarejo no tratamento das anginas. O extrato fluído em cataplasma nas doenças cancerosas e do útero. A raiz e o suco das folhas são purgativos. O chá ou cozimento das raízes é tônico enérgico dos vasos seminais cujas funções acham-se enfraquecidas pela idade.

Mamangá (Senna

quinquangulata)

As folhas, raízes e sementes são empregadas contra constipações, erisipela, inflamações supurativas e contra prisão de ventre. São também indicadas como calmantes e para problemas no sistema nervoso central. Mangerioba (Senna

occidentalis)

É empregada como antiinflamatória, antiplaquetária, antitumoral, relaxante muscular, anti-hemolítica, usada contra hepatite B. É tônica, empregada contra febre, náuseas e dores de cabeça.

Tamarindo (Tamarindus

indica)

As folhas têm ação antiinflamatória e redutora dos níveis plasmáticos de colesterol. É indicado nos casos de gastrite e úlcera, seus componentes químicos são: ácido cítrico, málico e tartárico.

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a pecuária, afetando bovinos, caprinos, ovinos e suínos.

Quanto às resinas o tronco do jatobá exsuda “jutaicica” ou “copal da América”, uma resina que se apresenta como fragmentos vítreos, amarelo-claros, translúcidos; a melhor é a que se recolhe do solo à volta das árvores, dando blocos de até 3 kg. O jutaicica, que apre-senta ponto de fusão a 190ºC serve para fabricar vernizes e já foi objeto de exportação. Na Amazônia as populações tradicionais algumas vezes constroem com a casca do tronco do jatobá canoas leves, destacando-a por inteiro.

Um grupo de 13 espécies é pouco conhecido e possuem valor ecológico já que com-põem a diversidade de espécies que crescem em matas primárias, campinaranas e mesmo em áreas secundárias. Há aquelas também importantes como fonte de alimento para a fauna. Neste grupamento a maioria dos ingás preenche essa característica e são plantas muito visita-das pelos primatas. Neste trabalho de bioprospecção 12 espécies de ingás foram encontravisita-das nos locais visitados e uma ilustração da diversidade morfológica dos frutos destas espécies está apresentada na Figura 5.

As espécies de ingás possuem um arilo doce comestível envolvendo as sementes e para muitas delas, como a ingá-boi, ingá-chata e ingá-cipó, os frutos alcançam as feiras e mercados. Muitas espécies de Inga têm também um longo histórico de uso como árvores de sombra como sombra para café, cacau e chá. Mais recentemente algumas espécies de Inga têm sido reconhecidas como espécies que podem florescer e crescer em solos ácidos tropi-cais e recobrir o solo com sua biomassa. No Alto Rio Negro, algumas espécies como ingá--açu, ingá-da-beira-do-rio, ingá-turi e ingá-xixi, crescem tipicamente nas matas inundadas, outras como ingá-de-macaco são da terra firme, das bordas da mata. Ingá-amarela, Ingá-cipó e ingá-chata são tipicamente cultivados nos sítios.

No gênero Inga estão abrigadas 300 espécies de árvores com ampla distribuição, mas restritas à América tropical, exibindo uma vasta diversidade ecológica que pode prover uma grande variedade de espécies desejáveis para a maioria de condições locais e necessidades dos agroecossistemas, como a participação na composição de espécies em Sistemas Agroflorestais. O uso de espécies deste gênero pode envolver em aproveitamento variado, e, desse modo esvaziar os riscos associados com a dependência de uma base genética estreita. Outras espécies encontradas também são mencionadas como alimento para a fauna. As sementes de arapari servem de alimento para as tartarugas, principalmente em locais de praia, e os frutos de cipó-de-tucunaré são reconhecidos como alimento para peixe.

OS SERVIÇOS PRESTADOS POR LEGUMINOSAS AOS SISTEMAS DE PRODUÇãO AGRÍCOLA

Independente do produto que possam oferecer nas últimas décadas os resultados ex-perimentais de pesquisas científicas têm consolidado a recomendação de que várias espécies de Fabaceae são de interesse nos agroecossistemas, especialmente como plantas que podem contribuir para o suprimento de nitrogênio para aumento da produção agrícola. Como já

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mencionado, os estoques de nitrogênio para o desenvolvimento vegetal estão principalmente na atmosfera e sozinhas as plantas não conseguem aproveitá-lo. O nitrogênio não ocorre nas rochas e por isso não entra nos solos pelo material de origem. Associadas aos microrganis-mos, entretanto, muitas plantas conseguem assimilar esse nitrogênio que está originalmente em forma de gás. Assim, nos ambientes naturais, a disponibilidade de nitrogênio para as plantas, que precisam dele em grande quantidade, depende da contínua decomposição da matéria orgânica. Sem a adição de matéria orgânica o nitrogênio se perde do solo por erosão e lixiviação.

Fixar nitrogênio significa retirá-lo do ar para usá-lo na construção de moléculas ve-getais. Muitas espécies de leguminosas formam simbioses fixadoras de nitrogênio com os ri-zóbios, em nódulos que se forma em suas raízes. Esta habilidade contribui para um aumento do conteúdo de nitrogênio em todas as partes da planta, especialmente nas folhas e sementes. Muitas leguminosas que fixam nitrogênio são importantes na agricultura e silvicultura. Den-tre outras formas de aproveitá-las estão práticas de adubação verde.

A adubação verde é a adição ao solo de biomassa vegetal não decomposta de planta produzida ou não no local, para recuperação ou preservação da produtividade da terra. Na área do Alto Rio Negro, dez espécies encontradas apresentam potencial para aproveitamento de sua biomassa vegetal que pode ser constituída por folhas, ramas, flores, frutos novos, etc., em práticas de adubação verde. Na Figura 6 estão ilustrados aspectos da floração de feijão--do-mato, gipoóca, guizo-de-cascavel, malição e mata-cabrito, e dos frutos de timbó-jacaré, que são plantas herbáceas, arbustivas ou lianescentes que podem ser aproveitadas como adu-bos verdes, especialmente nas condições adversas dos solos excessivamente arenosos e com baixos estoques de nutrientes que caracterizam aquela região. As plantas leguminosas são ideais para esta prática porque trazem nitrogênio em suas folhas.

A entrada de material vegetal no solo promove melhorias físicas, químicas e bioló-gicas nas áreas de baixa produtividade ou degradadas, contribuindo para aumento da poro-sidade do solo, maior capacidade de infiltração e maior retenção de água. Este maior aporte de material aumenta a disponibilidade de nutrientes, principalmente nitrogênio e fornece alimento e energia para os microrganismos. O principal benefício da adubação verde é a re-ciclagem de nutrientes para a agricultura. Os nutrientes, através da utilização das folhas, são reciclados e tornam-se disponíveis para o cultivo quando esta biomassa vegetal se mineraliza no solo. As espécies selecionadas para este tipo de aproveitamento crescem rápido, são plan-tas rústicas, produzem muita biomassa facilmente mineralizável, e são planplan-tas tipicamente adaptadas a solos ácidos e com baixa disponibilidade de nutrientes.

Manejar a diversidade de leguminosas que ocupam naturalmente as áreas alteradas pela prática agrícola ou as bordas de mata dos sítios, também pode melhorar a qualidade do composto orgânico, acelerando a ciclagem de nutrientes. Várias espécies presentes nas áreas do Alto Rio Negro podem ser consorciadas em Sistemas Agroflorestais, e espécies como a palheteira e a leucena já são amplamente aproveitadas com esta finalidade nas regiões tropi-cais, seja para sombreamento, cultivo em aléias para serem podadas, apicultura, proteção do solo, forragem para as criações, etc.

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Figura 5. Variações na forma dos frutos de espécies de leguminosas do Alto Rio Negro, que apresentam polpa comestível e são consumidas pela fauna silvestre, especialmente de primatas. (a) Ingá-açu (Inga splendens); (b) Ingá-amarela (Inga pezizifera); (c) Ingá-boi (Inga cinnamomea); (d) Ingá-chichica (Inga nobilis); (e) Ingá-cipó (Inga edulis); (f) Ingá-da-beira-do-rio (Inga vera subsp. vera); (g) Ingá-de-macaco (Inga thibaudiana); (h) Ingá-turi (Inga marginata); e, (i) Ingá-xixi (Inga ulei).

(a) (d) (g) (b) (e) (h) (c) (f) (i)

Neste contexto, além do seu papel em práticas de florestamento e reflorestamento, as leguminosas podem também desempenhar um importante papel na recuperação de solos. As estratégias de recuperação de solos são indispensáveis para a agricultura que se pratica no Alto Rio Negro. A presença de solos arenosos e com baixos estoques de nutrientes são nesta região um empecilho importante para a produção vegetal e as criações. Em muitos locais é possível observar os cultivos agrícolas com sintomatologia de deficiência de nutrientes e adotar plantas úteis para aumento da produção trazem um benefício economicamente viável e ecologicamente compensador para o solo, o ambiente e a cultura de interesse.

Foi observado que no elenco de leguminosas que ocorrem naturalmente no Alto Rio Negro havia 11 espécies com potencial de cultivo para cobertura e recuperação de solos, e que, portanto, podem ser mais bem aproveitadas nas práticas agrícolas locais. Na Figura 7

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são ilustrados aspectos da floração de canafístula, cipó-de-juquiri, jaranduba e pariri e da fru-tificação de cipó-mucunã e juerana. Estas espécies são muito rústicas, de crescimento rápido e podem contribuir para aumentar a disponibilidade de nutrientes em solos pobres, e muitas vezes fornecer algum outro subproduto para a propriedade rural, além de sua biomassa fer-tilizadora do solo.

Figura 6. Espécies de leguminosas encontradas no Alto Rio Negro com potencial de aproveitamento como espécies para adubação verde nos agroecossistemas. (a) Feijão-do-mato (Vigna adenantha); (b) Gipóoca (Entada polystachya var. polyphylla); (c) Guizo-de-cascavel (Crotalaria micans); (d) Malição (Mimosa pigra); (e) Mata-cabrito (Clitoria falcata var. falcata); e, (f) Timbó-jacaré (Dalbergia riedelii).

(a) (d) (b) (e) (c) (f)

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O agricultor, ao optar pela tecnologia de adoção de leguminosas como parte estraté-gica no sistema de produção agrícola terá como principal benefício a entrada de material ve-getal no solo, com a consequente promoção de suas melhorias físicas, químicas e biológicas nas áreas de baixa produtividade ou degradadas, contribuindo para aumento da porosidade do solo, maior capacidade de infiltração e maior retenção de água. Este manejo do aporte de material vegetal aumenta a disponibilidade de nutrientes, principalmente nitrogênio e fornece alimento e energia para os microrganismos. O principal benefício da adubação verde e das plantas que recuperam os solos degradados é a reciclagem de nutrientes para a agricultura e recuperação de seu potencial produtivo, limitando a derrubada de novas áreas de floresta. Os nutrientes, através da utilização das folhas e biomassa vegetal, são reciclados e tornam-se disponíveis para o cultivo quando esta se mineraliza no solo.

Figura 7. Espécies de leguminosas encontradas no Alto Rio Negro que apresentam potencial para recuperação de solos degradados. (a) Canafistula (Senna multijuga); (b) Cipó-de-juquiri (Mimosa rufescens); (c) Cipó-mucunã (Mucuna urens); (d) Jaranduba (Macrosamanea pubiramea var. lindsaefolia); (e) Juerana (Macrosamanea duckei); e, (f) Pariri (Chamaecrista mimosoides).

(a) (d) (b) (e) (c) (f)

(24)

Há outros potenciais não discutidos para o conhecimento do potencial de aprovei-tamento de leguminosas no Alto Rio Negro. Atualmente o mercado de plantas ornamentais tem se expandido e movimentado muitos recursos, capitalizando os produtores que também tem interesse nesta área de exploração agrícola. Várias das espécies encontradas na área de estudo têm potencial de exploração como plantas ornamentais, para cultivo na arborização urbana das cidades, em praças, em jardins, em projetos paisagísticos ou mesmo em vasos. A Figura 8 evidencia esse potencial para espécies como o aiari, cujas flores assemelham-se a de orquídeas, o bico de pato, uma trepadeira sem espinhos e o cipó-da-capoeira, que se recobre de cachos vistosos de flores amarelas. Todas estas espécies apresentam um amplo potencial de cultivo como plantas ornamentais.

Neste grupo de plantas com potencial de cultivo pela sua beleza geral ou da sua flora-ção também está também a ingá-amarela que é geralmente cultivada nos sítios para produflora-ção de frutos, mas que, na época da floração, destoando da maioria das espécies de ingá que tem flores brancas, reveste-se de flores amarelo ouro (Figura 8). A ingá-de-sapo é uma árvore emergente na arborização urbana e vem sendo cultivada com essa finalidade por ser uma árvore pequena muito rústica, que apresenta uma caulifloria rosada muito atrativa quando em época de floração. Finalmente a prateada que é uma planta nativa do Brasil, ou o breu-de--estudante, que foi introduzida em nosso país, também já são amplamente cultivadas como plantas ornamentais nos quintais, praças e jardins.

Há vários outros potenciais específicos de uso das espécies, como a presença de Figura 8. Espécies de Fabaceae do Alto Rio Negro, com potencial de exploração como plantas ornamentais. (a) Aiari (Heterostemon mimosoides); (b) Bico-de-pato (Dioclea guianensis); (c) Cipó-da-capoeira (Senna tapajozensis); (d) Ingá-amarela (Inga pezizifera); (e) Ingá-de-sapo (Zygia inaequalis); e, (f) Prateada (Chamaescrista desvauxii var. latistipula). (a) (d) (b) (e) (c) (f)

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substância ictiotóxica no timbó e timborana, tradicionalmente empregados na pesca pelas populações indígenas, e que também são registradas com princípios ativos inseticidas, sendo indicadas como plantas para controle biológico. Adicionalmente os frutos e sementes de várias espécies também são aproveitados em comunidades envolvidas com artesanato para o preparo de objeto de adorno e biojóias. Para tanto, as sementes de cipó-mucunã e arapari são usadas na constituição de colares e objetos decorativos como abajures e móbiles. E para as espécies com sementes coloridas e vistosas como as de mulungu, mulungu-da-mata e tento--folha grande, com sementes vermelhas dispersadas por pássaros, ou mesmo bicolores ver-melhas e pretas, já há um papel amplamente explorado pelas populações tradicionais como componentes de pulseiras, colares, brincos e outras peças artesanais. Outras espécies ainda, como a malica e malicia, podem ter sua área de cultivo incrementada em propriedades que manejam a meliponicultura, já que são muito visitadas por abelhas e já foi demonstrado o seu pólen é parte constituinte importante do mel nas áreas onde crescem espontaneamente. NOTAS SOBRE A DISTRIBUIÇãO GEOGRÁfICA DAS ESPÉCIES

O levantamento das leguminosas que ocorrem naturalmente nos diferentes ambien-tes visitados no Alto Rio Negro permitiu adicionalmente sistematizar informações sobre a distribuição geográfica das 125 espécies encontradas crescendo nesta área. A Figura 9 sinteti-za as informações sobre a distribuição geográfica das espécies de leguminosas, até o momen-to, registradas no Alto Rio Negro.

A maioria das espécies coletadas no Alto Rio Negro pertence à flora da América do Sul, sendo registrada também em países que fazem limites com as nossas fronteiras amazô-nicas como a Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Guiana, Suriname, etc. Neste grupamento são classificadas 45,6 % das espécies. As plantas cosmopolitas tropicais são aquelas que es-tão espalhadas por todo o mundo, o que inclui outros continentes e geralmente são plantas pioneiras e colonizadoras de áreas abertas e secundárias, representando 26,4 % das espécies levantadas. Um grupo de espécies é classificado como neotropical por extrapolar o conti-nente sul-americano ocorrendo em toda a América Tropical, o que inclui a região do Caribe, Figura 9. Distribuição de espécies de leguminosas encontradas em diferentes ambientes no Alto Rio Negro classificadas pela distribuição fitogeográfica.

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América Central e do Norte e estas representam 12,0 % das espécies.

Foi constatado também que até o momento um grupo de 20 espécies encontradas no Alto Rio Negro foi registrado somente para os biomas brasileiros. Sete delas (amendoim--rasteiro, escada-de-jaboti, mata-cabrito, sapupira, pracaxi-da-beira, cipó-da-capoeira e mui-ragibóia) estendendo-se para os limites extra-amazônicos aparecendo também em outros biomas como o cerrado, mata atlântica, caatinga, pantanal ou os pampas.

Um grupo de seis espécies foi listado como exclusivamente amazônicas, por ocor-rerem no estado do Amazonas, mas também e outros estados da região: membi, angelim--amarelo, ingá-chichi, juerana, tachi-preto e pau-de-sangue). Finalmente, sete espécies das leguminosas do Alto Rio Negro, têm distribuição muito restrita e até o momento foram coletadas somente no Brasil e mais especificamente no estado do Amazonas. A Figura 10 ilustra aspectos da floração de cipó de gato e macucu, e, da frutificação de acapu-do-igapó, cedrinho, fava-de-anta e pau-roxo-da-caatinga. A ingá-xixi que cresce na mata de igapó tam-bém é uma espécie exclusiva do estado do Amazonas. Deve-se considerar, entretanto, que há partes da região ainda pouco amostradas em sua florística e estudos futuros podem modificar essas informações que sintetizam o estágio atual do conhecimento científico da fitogeografia destas espécies.

De acordo com as informações sistematizadas da composição florística do Brasil, 120 das espécies são nativas e somente 5 delas são classificadas como subespontâneas. Diz-se que uma espécie de planta é subespontânea, quando esta é introduzida em um determinado país ou região e se dá tão bem com as condições de clima e solo que encontra, que se espalha espontaneamente. Assim, são classificadas como plantas subespontâneas no Alto Rio Negro a acácia de Sian, breu-de-estudante, flamboyant, leucena e tamarindo.

Figura 10. Espécies de leguminosas coletadas no Alto Rio Negro, até o momento registradas somente para o estado do Amazonas. (a) Acapu-do-igapó (Clathrotropis nitida); (b) Cedrinho (Dicorynia paraensis var. macrophylla); (c) Cipó-de-gato (Piptadenia minutiflora); (d) Fava-de-anta (Dimophandra coccinea); (e) Macucu (Aldina discolor); e, (f) Pau-roxo-da-caatinga (Peltogyne catingae).

(a) (d) (b) (e) (c) (f)

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O grau de endemismo das espécies também mereceu atenção deste trabalho. Uma espécie é considerada endêmica quando ocorre em somente uma área restrita como um dado bioma, uma ilha ou montanha. Das 125 espécies coletadas no Alto Rio Negro 10 são segu-ramente endêmicas dos biomas brasileiros: jucá e sabiá são plantas da Caatinga, pau-Brasil é da Mata Atlântica, palheteira é da Amazônia, Caatinga e Mata Atlântica, amendoim-rasteiro é do Cerrado e Mata Atlântica, cumaru é da Amazônia e Mata Atlântica, cipó-mucunarana é da Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal, e, por fim, três das espécies encontradas são endêmicas da Amazônia: cedrinho, timbó-jacaré e pau-roxo-da-caatinga. Há dúvidas se juerana e cipó-de-gato são endêmicas da Amazônia, mas as informações pré-existentes indi-cam que também são.

A pesquisa realizada reúne informações sobre a biodiversidade de Fabaceae, am-pliando as coletas botânicas realizadas em pontos mais remotos e menos amostrados da Amazônia Brasileira. A listagem apresentada é importante para políticas de preservação e conservação dos recursos biológicos existentes nestas áreas, evidenciando o seu potencial de uso por produtos valorados economicamente ou por serviços prestados aos agroecossiste-mas. Por isso são de interesse para ambientalistas, pesquisadores, ecologistas, profissionais das ciências ambientais, agricultores, farmacologistas, etc. Também tem importância para o compartilhamento e troca de conhecimentos com as populações tradicionais da bacia do Alto Rio Negro. As populações que ocupam essas extensas áreas indígenas, mesmo com a escassez de recursos do solo arenoso que caracteriza o habitat em que vivem nos deixaram de herança a floresta em pé, com toda a sua riqueza e explosão de recursos de biodiversidade e é dessa forma que devemos repassá-las para as próximas gerações.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a valiosa contribuição de Erasmo Gabriel Santana Correa e Eder Otero de Macedo, moradores de São Gabriel da Cachoeira muito importantes no apoio logístico das atividades de bioprospecção. No herbário do INPA reconhecemos a valiosa contribuição do experiente parabotânico José de Lima Ramos, que foi fundamental para a realização desta pesquisa.

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SUGESTÕES BIBLIOGRÁfICAS

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Referências

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