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NA FOZ DE MANOEL DE BARROS: DIÁLOGOS COM A FILOSOFIA

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NA FOZ DE MANOEL DE BARROS: DIÁLOGOS COM A FILOSOFIA

Alcidesio Oliveira da Silva Junior1 Universidade Federal da Paraíba (PPGE/UFPB)

INTRODUÇÃO

Na beleza das palavras, no suspiro do mundo, no silêncio que ensina... assim é a poesia do mato-grossense Manoel de Barros (1916-2014) que surge desembocando como rio perene nas fendas da alma e aquietando o tumulto das paredes de concreto. Datado da afamada Geração de 45, em pleno pós-modernismo brasileiro, o poeta esmera seus versos em atos divinos de simplicidade, arrebatando corações comovidos com sua transliteração lírica do cotidiano. E é na turbulência do sujeito moderno, imerso nas informações, prostituído com a tecnologia e rendido ao “Deus Neon” (expressão usada pelos músicos americanos Simon & Garfunkel na canção Sound of Silence) que busco, nesta pesquisa, a quietude daquele que se deixa transpassar pela vida, pelos acontecimentos, pelos afetos, tornando-se superfície de inscrições outras, marcadas por mergulhos interiores e alteridade plena. Para tanto, recorro à filosofia de Walter Benjamin (1892-1940) no texto Experiência (1913) e de Jorge Larrosa nos seus textos Notas sobre a experiência e o saber de experiência (2002) e Experiência e alteridade em educação (2011) para construir pontes junto à poesia “II” do livro O Guardador de Águas (2017) de Manoel de Barros e percepções deste sujeito pós-moderno que desbrava-se rebelde à cultura alucinante da modernidade, rumo aos tempos de uma modernidade tardia (termo utilizado brilhantemente por Stuart Hall no livro A identidade Cultural da Pós-modernidade).

Nesta pesquisa busco entender de que forma a poesia de Manoel de Barros revela um “Sujeito da Experiência” à luz dos filósofos acima citados, conduzindo seus/suas leitores/as a um estado de encontro delicado com as minúcias do seu próprio eu e com a beleza corriqueira da vida. Para a construção deste texto, recorro à pesquisa bibliográfica para responder à problemática inicial colocada. Entrelaçando as teorias dos três autores de maneira dialógica, podemos refletir de maneira lírica, como em uma dança sem busca de uma verdade, mas nas potências de liberdade que os textos literários ofertam.

1 Mestrando em Educação na linha de Estudos Culturais da Educação (PPGE/UFPB), integrante do Grupo de

Pesquisa Gênero, Educação, Diversidade e Inclusão (GEDI/PPGE/UFPB) e do Laboratório de Experiência, Visualidade e Educação (LEVE/UFPE). E-mail: ateneu7@gmail.com.

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EXPERIENCIANDO REFLEXÕES...

Vários filósofos já se debruçaram sobre a palavra experiência, procurando desvendar o que seria isso, qual seria o seu mistério, em qual perspectiva poderíamos considerar que alguém experienciou alguma coisa. Existe algum conceito que a cerca o qual poderíamos nos adentrar ou seria uma epifania intraduzível?

Em seu texto Experiência (1913), tradução literal da palavra Erfahrung do original em alemão, o filósofo Walter Benjamin traz suas reflexões iniciais, motivadas por sua intempestiva juventude. Para ele, talvez ressentido pela crueza do mundo adulto à espreita, a experiência seria uma máscara impenetrável e inexpressiva usada pelos adultos (BENJAMIN, 2009) que, a todo momento, tentam se gabar de suas vivências, intimidando e amargurando os mais jovens, em constante ar de superioridade. O filósofo pergunta: “O que esse adulto experimentou? O que ele nos quer provar?” (Idem., p. 21 – grifo do autor), lançando em destaque a necessidade de autoafirmação de um sujeito que se mascara na vida, endurecendo sua cerviz diante das possibilidades múltiplas do aprendizado pelas experiências. Estas, que poderiam ser alimento para a vida, tornam-se, para os adultos uma mera brutalidade, segundo as palavras de Walter Benjamin.

Simbolizado no texto como o “filisteu”, o adulto petrifica-se na sua soberba e rompe o fio de prata que o liga à juventude, esta, aberta, leve, e sedenta por uma experiência profunda. Há, portanto, uma revelação de uma nova experiência da juventude em contraste com aquela do filisteu. Para Benjamin (2009, p. 24):

Mais uma vez: conhecemos uma outra experiência. Ela pode ser hostil ao espírito e aniquilar muitos sonhos florescentes. No entanto, é o que existe de mais belo, de mais intocável e inefável, pois ela jamais estará privada de espírito se nós permanecermos jovens. Sempre se vivencia apenas a si mesmo, diz Zaratustra ao término de sua caminhada. O filisteu realiza a sua “experiência”, eternamente a mesma expressão da ausência de espírito. O jovem vivenciará o espírito.

“Ausência de espírito” e “vivenciará o espírito”. Como extremos que não se tocam, tais disposições de existência se revelam como possibilidades no decurso do tempo. Se uma caminha em um aprofundamento do sujeito autocentrado, racional, metodicamente infeliz, a outra libera-se e ri de si mesmo, das intempéries, da coragem, do destemor que se abre para o novo, para as multiplicidades, para as experiências...

Benjamin atribui à juventude um espírito capaz de transformar a sociedade, porque vívido, pulsante, crítico, um espírito não conformado pelo desenvolvimento contínuo da história – leia-se, do progresso. O mundo que os adultos reservam aos mais jovens

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é, de acordo com o jovem filósofo, um mundo em franca decadência e estagnação, fruto de uma experiência que não produziu e não produz significado algum (PEREIRA, 2009, p. 244).

Destarte, o filósofo enaltece com frequência neste pequeno texto uma dualidade entre as experiências do jovem e do adulto, delatando os encarceramentos advindos desta última e o quão a vida tornou-se absurda e desconsolada para o filisteu (BENJAMIN, 2009). Se Erfahrung originalmente quer dizer “um conhecimento que você não obtém teoricamente de livros, mas na prática”2, posso vislumbrar o quão distante pode estar um coração, envelhecido pela

arrogância de um ser que se fecha a si mesmo, das expectativas de novos devires, de processos camaleônicos – como veremos mais adiante na poesia de Manoel de Barros – que nos permitem experienciar riquezas de uma vida que rasga por dentro os ditames de enquadramentos em um mundo que deseja-se positivista, racionalista, universalista, mas que se depara com as fragmentações que se revelam dia após dia. O espírito da juventude, que pulsa tal qual coração acelerado, é aquele capaz de corresponder com esperança as mudanças de seu tempo, sendo produtor, de maneira absurdamente criativa, de novos arranjos sociais, políticos, culturais, artísticos... É água que corre afrontosa entre pedras.

Refletindo sobre a experiência, o pedagogo e filósofo espanhol Jorge Larrosa questiona o quanto somos imersos por tantas informações, opiniões e ausência de tempo, que acaba nos faltando este toque profundo experienciado. Para Larrosa (2002, p. 21):

A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece. Dir-se-ia que tudo o que se passa está organizado para que nada nos aconteça.

O autor, de maneira tão singela, nos mostra como a palavra “experiência” vai significando as formas fluidas de se vivenciar a vida: em espanhol, significa “o que nos passa”; em português, “o que nos acontece”; em francês, “ce que nous arrive”; em italiano, “quello che que nos succede” ou “quello che que nos accade”; em inglês, “that what is happening to us”; em alemão, “was mir passiert” (Id. Ibid). Chama a minha atenção a maneira nada estática, nada fixa que convenciona-se a chamar de experiência, podendo ser algo que ainda continua em processo de feitura, como no inglês “o que está acontecendo conosco” ou algo que passou, mas que anuncia quase como que de maneira religiosa um fato marcante, vivido, que nos deixa extasiados ao ponto de dizermos: experiência é “o que aconteceu comigo” (traduzindo o

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alemão). A individualidade desta anunciação aponta para os processos de subjetivações vivenciados pelos sujeitos de maneira particular, a não ser reproduzida em série, como é costume nesta sociedade capitalista, onde vende-se tudo, inclusive experienciações encaixotadas e gourmetizadas ao gosto do cliente. O importante é sentir o arrepio da moda. O que todo mundo sente e que ao mesmo tempo ninguém sente. Vazio, oco, sem vigor: as experiências da modernidade embebedadas pelo capitalismo e consumo desenfreado.

Para Larrosa (2002, p. 23):

O sujeito moderno não só está informado e opina, mas também é um consumidor voraz e insaciável de notícias, de novidades, um curioso impenitente, eternamente insatisfeito. Quer estar permanentemente excitado e já se tornou incapaz de silêncio. Ao sujeito do estímulo, da vivência pontual, tudo o atravessa, tudo o excita, tudo o agita, tudo o choca, mas nada lhe acontece. Por isso, a velocidade e o que ela provoca, a falta de silêncio e de memória, são também inimigas mortais da experiência.

Assim, somos marcados, nesta sociedade tecnológica e informada, por um excesso de acontecimentos vorazes, informações constantes e hiperatividade cotidiana, mas nos doamos pouco aos gestos de interrupção que nos ajudam a parar para pensar, para olhar, parar escutar, para sentir, em cada detalhe, mesmo demorado, suspendendo o juízo, as vontades, o automatismo da ação, cultivando a delicadeza, a lentidão e a arte do encontro, dando paciência ao tempo e ao espaço (LARROSA, 2002).

Para o escritor, portanto, o “Sujeito da Experiência” é um território de passagem que deixa ser atravessado, ser balançado, ser agitado e que não adentra no mundo com indiferença. É, “sobretudo, um espaço onde têm lugar os acontecimentos” (Idem., p. 24). O autor continua dizendo que “é incapaz de experiência aquele a quem nada lhe passa, a quem nada lhe acontece, a quem nada lhe sucede, a quem nada o toca, nada lhe chega, a quem nada o ameaça, a quem nada ocorre” (Ibid., p. 25). Um sujeito em um quebrantar-se contínuo.

No seu texto Experiência e Alteridade em Educação, Jorge Larrosa fala a respeito do “princípio da paixão” que advém, justamente, da capacidade de padecermos na experiência. Um estado de total entorpecimento, de enamoramento, de entrega visceral.

Se a experiência é “isso que me passa”, o sujeito da experiência é como um território de passagem, como uma superfície de sensibilidade em que algo passa e que “isso que me passa”, ao passar por mim ou em mim, deixa um vestígio, uma marca, um rastro, uma ferida. Daí que o sujeito da experiência não seja, em princípio, um sujeito ativo, um agente de sua própria experiência, mas um sujeito paciente, passional. Ou, dito de outra maneira, a experiência não se faz, mas se padece. A este segundo sentido do passar de “isso que me passa” poderíamos chamar de “princípio de paixão” (LARROSA, 2011, p. 8)

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Sendo a palavra “Paixão” originada do latim passione, algo de “sofrimento na carne” e “ato de suportar” permeia a ideia de experiência para Larrosa. Daí posso tirar a percepção de que não há como experienciar algo sem sermos marcados, tatuados, riscados, transformados quando “algo nos chega”, “algo nos passa”, “algo nos acontece” (usando as traduções de experiência que o autor coloca em seu texto e aqui já foram mencionadas). A imobilidade não se sustenta diante de uma experiência que ressignifica os valores e os sujeitos. Aquilo que passa despercebido e indiferente não deixa um legado de transformação a ponto de trazer cores às vivências, relegando-se à cinzenta forma de ver a vida, bem própria dos adultos enquanto sujeitos do tipo filisteu, utilizando agora os termos de Walter Benjamin.

Pensando junto com estes autores, me encontro debruçado sobre a percepção de que estas experiências de um mundo marcado pela industrialização e pelo consumo projetam não somente um sujeito indiferente à vida, mas uma ideia de unicidade deste sujeito que não abarca as possibilidades correntes nesta modernidade tardia, utilizando o termo cunhado por Stuart Hall (2006). Ainda há uma pretensão de formatar uma sociedade padronizada, universal, mas que é inconcebível nas práticas culturais que nos perpassam, pois é neste tempo fluído e desconcertante que outras possibilidades de vida - e de ocorrência de outras identidades em movimento - se apresentam, bem como as novas paisagens culturais de gênero, classe, sexualidade, etnia, nacionalidade, etc., como bem atesta o autor. Para Hall (2006, p. 9-10), “esses processos de mudança, tomados em conjunto, representam um processo de transformação tão fundamental e abrangente que somos compelidos a perguntar se não é a própria modernidade que está sendo transformada”.

Assim, são tempos onde a concepção de um sujeito pós-moderno emerge com vigor. Desenvolvendo melhor esta ideia, o autor afirma que:

A identidade torna-se uma “celebração móvel” (...) O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas (...) A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente (HALL, 2006, p. 12-13).

Trabalhando com os conceitos já apresentados neste texto a respeito da “experiência” e costurando com as reflexões de Hall a respeito da modernidade tardia, posso considerar que o sujeito filisteu, significando para Walter Benjamin o adulto sem espírito e que vivencia com

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intolerância – e arrogância – as suas experiências, apresenta-se como o modelo da modernidade: racionalista, que busca uma centralidade do seu “eu” e que tenta, a todo custo, impelir os outros a vivenciarem as suas experiências, os seus moldes concebidos. Este sujeito, vestindo uma “máscara impenetrável” e “inexpressiva” (BENJAMIN, 2009) não assimila as possibilidades inventivas de outras identidades, de expressões diversas, da criatividade em meio a um mundo que não se apresenta como único, fechado a si mesmo. Quanto ao jovem, imagem de Benjamin para aquele que, carregado de vigor e de sentido, encontra o espírito por toda a parte em sua caminhada e em todos os homens – e mulheres, afirmo eu – revela-se aberto, no deslocamento que aqui faço ousadamente neste texto, às inúmeras possibilidades de existência, pois localiza-se em localiza-seu tempo, na modernidade tardia, como sujeito pós-moderno, em fragmentação contínua e valorizando a diferença e as identidades abertas. É aí que entra o personagem principal deste texto: Bernardo.

RESPINGOS FINAIS?

II

Esse é Bernardo. Bernardo da Mata. Apresento. Ele faz encurtamento de águas.

Apanha um pouco de rio com as mãos e espreme nos vidros Até que as águas se ajoelhem

Do tamanho de uma lagarta nos vidros. No falar com as águas rãs o exercitam. Tentou encolher o horizonte

No olho de um inseto – e obteve! Prende o silêncio com fivela.

Até os caranguejos querem ele para chão.

Viu as formigas carreando na estrada duas pernas de ocaso Para dentro de um oco...E deixou.

Essas formigas pensavam em seu olho. É homem percorrido de existências. Estão favoráveis a ele os camaleões. Espraiado na tarde –

Como a foz de um rio – Bernardo se inventa... Lugarejos cobertos de limo o imitam.

Passarinhos aveludam seus cantos quando o veem. (BARROS, 2017, p. 16)

Em seu livro O Guardador de Águas (2017), Manoel de Barros revela de maneira sublime o que, podemos chamar assim com base nas reflexões acima, seria o seu “Sujeito da Experiência”. No segundo poema, ele nos apresenta Bernardo da Mata, um sujeito que experiencia a sua vida no relampejar da simplicidade, ora fazendo o encurtamento das águas,

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ora falando com as próprias águas. Sendo a água um dos simbolismos para a plenitude da vida, o que dizer de alguém que conversa com a própria existência? Utilizando o sujeito da experiência em Benjamim, carregado da vivência no espírito, podemos contemplar Bernardo da Mata encolhendo o horizonte no olho de um inseto – e conseguindo! (BARROS, 2017). A juventude se exala do corpo de Bernardo, afastando aí as possibilidades de endurecimento cinza do sujeito filisteu, aquele que amargurado encaixota as possibilidades de sua existência, olhando com indiferença a vida.

Não podemos negar a ousadia juvenil de abraçar toda esta extensão de vida depositada nas coisas mais ignoradas e simplórias, como os olhos de um inseto. Bernardo da Mata como “homem percorrido de existências” (Idem., p. 16), cujos camaleões o favorecem, revela toda sua imutabilidade e sua fluidez. Esta metáfora do camaleão é bastante apropriada para esta reflexão que aqui apresento, pois o camaleão é um animal que além de mudar de cor de acordo com o ambiente onde se localiza, possui olhos que se movimentam de maneira independente um do outro, alcançando uma visão em 360º. Em tempos da modernidade tardia, ou épocas pós-modernas de acordo com outros autores e autoras, os sujeitos não somente vestem-se e apresenta-se de formas múltiplas, no que tange às suas identidades, mas também, em tempo de tecnologia massiva e globalizante, lançam seus olharem a todo tempo e de múltiplas maneiras. Os meios de comunicação de massa, em todos os seus formatos possíveis, abrem as possibilidades dos sujeitos verem – e escolherem o que ver – por variadas perspectivas, posicionamentos, velocidades e até mesmo avançando, retrocedendo, vendo novamente, ao seu gosto, impactando as suas formações enquanto sujeito.

Para Hall (2006), reflexões ao longo da história, como o marxismo, a psicanálise freudiana, a linguística de Saussure e os movimentos feministas da segunda onda, contribuíram para a ideia de que estamos vivendo em tempos onde os sujeitos estão descentrados, ocorrendo um deslocamento de identidades que estão fragmentadas, rompendo com a ideia cartesiana de sujeito que sustentou as reflexões da chamada modernidade.

Por ser “homem percorrido de existências”, Bernardo da Mata não deixa nada passar batido por ele, pois tudo passa nele. Como bem diz Larrosa (2011, p. 6), “a experiência supõe, como já afirmei, um acontecimento exterior a mim. Mas o lugar da experiência sou eu. É em mim (...) onde se dá a experiência, onde a experiência tem lugar”. Estas existências que percorrem o corpo de Bernardo da Mata apontam para o seu rompimento com as experiências vazias de tempos modernos, onde a ideia de universalidade encerrava os sujeitos a uma única

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possibilidade de vivência, conferindo poucas aberturas aos detalhes da vida e as alternâncias da expressão de um sujeito que se fragmenta em vários.

Para Larrosa, o sujeito da experiência não é seguro, firme, sólido, mas tombante em suas formações e transformações (LARROSA, 2002). Daí, Manoel de Barros desagua dizendo que “como a foz de um rio – Bernardo se inventa” (BARROS, p. 16). Belas palavras para dizer que Bernardo desemboca de diversas maneiras, seja em outros rios, seja em um oceano, seja em uma pequena lagoa. O importante, para o “Sujeito de Experiência”, é correr a vida, transformar-se com os pedregulhos no caminho e tocar os outros. Experiência no grego e latim guarda sentidos de perigo e de travessia. Deve ser isso que Manoel queria dizer...

REFERÊNCIAS

BARROS, Manoel. O guardador de águas. 1. ed. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2017.

BENJAMIN, Walter. Experiência. In: Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. 2. ed. Duas Cidades: Editora 34, 2009. p. 25-27.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade (Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro). 11. ed. Rio de Janeiro: DP & A Editora, 2006.

LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Revista Brasileira de

Educação, nº 19, 2002.

___________. Experiência e alteridade em educação. Revista Reflexão e Ação, v. 19, n. 2, p. 04-27, 2011.

PEREIRA, Marcelo de Andrade. Juventude, experiência e conhecimento em Walter Benjamin: para um novo saber da educação. Currículo sem Fronteiras, v. 9, n. 2, p. 242-257, 2009.

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