FORMAÇÃO PEDAGÓGICA EM AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM PARA DOCENTES UNIVERSITÁRIOS
Daniela da Costa Britto Pereira Lima Universidade Estadual de Goiás e Universidade Federal de Goiás
Juliana Guimarães Faria Universidade Federal de Goiás
Saber VII – A ética do gênero humano, Item 4
Resumo: Esta pesquisa teve como finalidade analisar o desenvolvimento de um curso de formação continuada de professores, através de um ambiente virtual de aprendizagem como espaço de convivência e transformação, e as suas repercussões no discurso desse professor participante sobre autonomia e relações professor-aluno-sociedade-espécie. A abordagem da pesquisa foi qualitativa, do tipo estudo de caso. Os dados foram coletados através de questionários, análise documental e grupo focal. Teve como objetivo verificar a concepção de autonomia e ética no discurso dos participantes. Acredita-se que o presente estudo possa ser de grande relevância para educadores que buscam a autonomia e queiram formar para a autonomia.
Palavras-Chave: ambiente de aprendizagem; convivência; autonomia.
Na era da informação e do conhecimento, mais do que nunca, a necessidade de se ampliar o trabalho educacional, atingindo cada vez mais pessoas, é uma necessidade. A Educação a Distância (EAD) é hoje uma realidade mundial que pode ser estendida a todos, jovens e adultos, independentemente do nível de escolaridade no qual se encontra e que se deseja alcançar.
Vive-se um período marcado por mudanças radicais, por rupturas de paradigmas e valores. Mas, não se trata de fins, mas de possibilidades de abertura de espaços para a construção, imediata, de um novo tipo de homem e de sociedade para o terceiro milênio. Por suas características intrínsecas, a EAD se destaca na formação deste novo tipo de homem, através de um ambiente virtual de aprendizagem e das relações de convivência e transformação que ali são estabelecidas.
Um dos traços fortes, distintivos e centrais dessa modalidade é a possibilidade de desenvolvimento da capacidade de se organizar para melhor viabilizar ao aprendiz a construção de sua autoformação, de sua autonomia no processo de aprendizagem, da percepção da avaliação nesse processo.
Autonomia, autoformação, auto-aprendizagem, aprendizagem aberta, aprender a aprender, auto-regulação, autopoiéses etc. são terminologias diferentes que remetem a concepções e práticas diferenciadas, mas que têm em comum recolocar o aprendiz,
dentro da educação, como sujeito, autor e condutor de seu processo de formação, apropriação, reelaboração e construção do conhecimento (PRETI, 2000). Cabe ao ser humano desenvolver, ao mesmo tempo, a ética e a autonomia pessoal (as nossas responsabilidades pessoais), além de desenvolver a participação social (as responsabilidades sociais), ou seja, a nossa participação no gênero humano, pois compartilhamos um destino comum (MORIN, 2000).
Tendo em vista a importância da autonomia e da ética no processo ensino-aprendizagem e na construção de uma educação do futuro, tentando demonstrar uma unidade complexa da natureza humana de forma integrada num curso que não desintegra saberes, esta pesquisa teve dois tipos de objetivo: um focado na pesquisa como um todo e outro de intenção das pesquisadoras ao propor uma pesquisa de formação docente. O objetivo da pesquisa foi verificar a concepção de autonomia e ética (através da construção de concepção sobre as relações que podem ser estabelecidas entre docentes-alunos-sociedade-espécie) presente no discurso dos professores-alunos de uma das turmas do curso de extensão a distância “Formação Pedagógica na Educação Superior”.
O outro objetivo de intenção das pesquisadoras foi de propor um curso de formação e avaliar a sua repercussão sobre os professores cursistas para que ele pudesse contribuir “não somente para a tomada de consciência de nossa Terra-Pátria, mas também permitir que esta consciência se traduza em vontade de realizar a cidadania terrena” (MORIN, 2000, p. 18) enquanto professores, educadores e formadores de novos profissionais e indivíduos participantes da grande comunidade planetária (a própria Humanidade).
A Metodologia e o curso de formação
A pesquisa realizada teve uma abordagem qualitativa de coleta e análise de dados, do tipo estudo de caso. A pesquisa teve como instrumentos de coleta de dados: questionários, análise documental (dos conteúdos dos chats, fóruns e atividades desenvolvidas no ambiente virtual), além da utilização da técnica do grupo focal.
O curso “Formação Pedagógica na Educação Superior” teve como objetivo refletir sobre a prática docente no ensino superior, nos elementos e processos que a constituem, numa concepção de que o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie
humana emerge a consciência. Trata-se de um curso de extensão para um público constituído de professores, acadêmicos e comunidade interessada.
Como ferramentas didático-pedagógicas do curso, foi utilizado o ambiente de aprendizagem Moodle. O curso em questão foi desenvolvido em cinco módulos, a distância, tendo como obrigatoriedade a participação em dois encontros presenciais.
Para a oferta do curso foi elaborado e escrito um livro, tendo como princípios: trabalhar para a humanização da humanidade; respeitar no outro, ao mesmo tempo, a diferença e a identidade quanto a si mesmo; desenvolver a ética da solidariedade; desenvolver a ética da compreensão e ensinar a ética do gênero humano (MORIN, 2000). As temáticas estudadas foram: construção de conhecimento, mediação pedagógica, métodos e técnicas de ensino e avaliação. Todo o curso foi pensado de forma que pudesse vir a desenvolver nos professores-alunos a autonomia, tão necessária aos processos educativos que acontecem por meio da EAD.
A concepção de autonomia e a transformação de pensamento sobre as relações apresentada no discurso dos professores-alunos pesquisados
Para analisar a concepção de autonomia e a transformação sobre o pensamento das relações estabelecidas entre os indivíduos no processo educativo e com a sociedade e espécie apresentada no discurso dos professores-alunos pesquisados, foram aplicados 2 (dois) questionários. Um no início e outro no final. No primeiro questionário, denominado “A”, aplicado no encontro presencial de abertura do curso, os professores-alunos expressaram o que concebiam sobre autonomia.
Neste questionário os participantes não se identificaram e, por isso as respostas foram enumeradas. Dos 21(vinte e um) questionários respondidos, 15 (quinze) apresentaram respostas baseadas na relação autonomia/liberdade, de maneira artificial, como se pode perceber em alguns dos textos dos professores-alunos abaixo:
1: Autonomia é sinônimo de responsabilidade, você tem a liberdade de como transmitir, de como se fazer entender, mas sempre observando preceitos racionais no âmbito de suas competências.
2: Liberdade para executar mudanças de acordo com cada realidade. No processo ensino-aprendizagem, a autonomia ainda é mito, pois, ainda somos obrigados a seguir a hierarquia.
A liberdade, para ser vista na perspectiva da autonomia, precisa de uma dimensão moral, visto que, essa moral é a conformidade da ação com a lei. Liberdade é
agir moralmente, é agir de acordo com o que realmente somos, agentes morais/racionais. Segundo Kant (1996), a lei da moralidade, em outras palavras, não é imposta de fora. É ditada pela própria natureza da razão no indivíduo. Ser um agente racional é agir por razões, é ser livre.
Talvez, por isso ou, por não ter nítido o conceito de liberdade na perspectiva da autonomia, que um dos professores-alunos deu como resposta a frase: “Não vejo com bons olhos conceder autonomia/liberdade para o docente e, muito menos para o discente”. Nota-se que, ainda lhe faltam subsídios teóricos suficientes para que consiga considerar a autonomia um fator determinante no processo de construção do conhecimento e na relação que se deve estabelecer entre os indivíduos e esses com a própria espécie humana. Precisa haver uma revisão de conceitos e uma conscientização sobre os “buracos negros” para que se estabeleça uma educação da compreensão, como coloca Morin (2000, p. 112):
A sala de aula deve ser um local de aprendizagem do debate argumentado, das regras necessárias à discussão, da tomada de consciência das necessidades e dos procedimentos de compreensão do pensamento do outro, da escuta e do respeito às vozes minoritárias e marginalizadas. Por isso, a aprendizagem da compreensão deve desempenhar um papel capital no aprendizado democrático.
Analisando o questionário “B”, aplicado sem consulta bibliográfica, observa-se que poucos avançaram no entendimento sobre autonomia. Todos os professores afirmaram ter desenvolvido a autonomia por meio do curso, mas, apenas 3 (três) professores-alunos demonstraram ter avançado no entendimento sobre autonomia:
3: Descobrir novas/outras formas de aprender; selecionar e adaptar conhecimentos necessários; adequar tempo/espaço de aprendizagens; aprender com o outro, mas também sozinho.
4: Agora, ampliei um pouco minhas concepções. A autonomia não se restringe somente à possibilidade de fazer minhas escolhas, mas procurar “aprender mais”, “como aprender mais”, “conhecer mais”, para que possa escolher os “melhores caminhos”.
5: É a capacidade de se auto-organizar e buscar as melhores e mais eficazes formas de interação com a pessoa do outro e com o objeto de estudo.
Conseguimos ver no texto dos participantes um avanço com relação a importância de se considerar o outro, como um “co-produtor um do outro” (MORIN, 2000, p. 105), mas não conseguem avançar considerando a tríade proposta por Morin (2000): indivíduo/sociedade/espécie.
O grupo de professores-alunos pesquisados caracteriza-se, de uma maneira geral, por professores da educação superior, sendo em sua maioria atuantes na UEG. Em relação à concepção de autonomia presente no discurso dos professores-alunos foi possível obter a seguinte análise: verificou-se que possuem certo entendimento sobre autonomia no processo ensino-aprendizagem, porém, seus conceitos são elaborados de maneira superficial, não atribuem tamanha e verdadeira importância a autonomia enquanto professores da educação superior, que precisam formar profissionais autônomos.
O conceito sobre autonomia integra a base de saberes necessários à prática educativa coerente com os padrões éticos que regem a sociedade. Mas, para agir autonomamente e formar para a autonomia é preciso, antes, entender o que é autonomia e sua devida importância no processo ensino-aprendizagem, para que tudo se torne integrado para permitir uma mudança de pensamento, para que se transforme a concepção fragmentada e dividida do mundo, que impede a visão total da realidade, superando o estado de caos e começar, talvez, a civilizar a Terra (MORIN, 2000).
Ter clareza dos elementos responsáveis pelo desenvolvimento da autonomia é imprescindível à prática do educador que queira que seu aluno haja metodicamente, criticamente, estrategicamente, moralmente, socialmente, espontaneamente, teoricamente, enfim, autonomamente, com disciplina e possam juntos na completude da humanidade, com consciência e cidadania planetária, desenvolver autonomias individuais, participações comunitárias e o sentimento de pertencer à espécie humana.
Nesse sentido, acredita-se que esta pesquisa venha ao encontro da realidade de docentes que se mostraram de certo modo inconscientes da importância e relevância da autonomia na sociedade planetária atual.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa – São Paulo: Paz e Terra, 2000.
KANT, Immanuel. Sobre a pedagogia. Tradução de Francisco Cock Fontanella. Piracicaba: Editora Unimep, 1996.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2. Ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2000.
PRETI, Oreste (org.). Educação a Distância: construindo significados. Cuiabá: NEAD/IE – UFMT; Brasília: Plano, 2000.
Esquema do Pôster:
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA EM AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM PARA DOCENTES UNIVERSITÁRIOS
Daniela da Costa Britto Pereira Lima Universidade Estadual de Goiás e Universidade Federal de Goiás
Juliana Guimarães Faria Universidade Federal de Goiás
A Pesquisa:
- Abordagem Qualitativa de coleta de dados - Tipo: Estudo de Caso
- Instrumentos: questionários, análise documental (dos conteúdos dos chats, fóruns e atividades desenvolvidas no ambiente virtual), além da utilização da técnica do grupo focal.
- Objetivo: analisar o desenvolvimento de um curso de formação continuada de professores, através de um ambiente virtual de aprendizagem como espaço de convivência e transformação, e as suas repercussões no discurso desse professor participante sobre autonomia e relações professor-‐aluno-‐sociedade-‐ espécie.
O objeto de estudo:
- A concepção de autonomia e as transformações ocorridas pelos professores-cursistas participantes de um curso de formação pedagógica para o ensino superior, a distância, utilizando o ambiente de aprendizagem Moodle, numa concepção de que o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie humana emerge a consciência.
- O ambiente de aprendizagem: O curso: Concepção de Autonomia Convivência no Ambiente Virtual de Aprendizagem Transformação nas concepções Começam a
considerar o outro, mas não percebem a importância da tríade proposta por Morin
- O curso em questão teve o desenvolvimento de cinco módulos, realizado a distância, com a duração de dois meses e meio tendo como obrigatoriedade a participação nos dois encontros presenciais – inicial e final.
O grupo pesquisado:
- A turma é composta por 27 professores-alunos da universidade, entre estes, 21 cursistas são mulheres e 6 são homens.
- Finalizamos a formação com 41%de concluintes e 59% aptos a participarem do último encontro presencial.
Concepção de autonomia e transformação pela convivência:
- Nota-se que, ainda faltam subsídios teóricos suficientes para que professores cursistas e participantes do curso consigam considerar a autonomia um fator determinante no processo de construção do conhecimento e na relação que se deve
estabelecer entre os indivíduos e esses com a própria espécie humana. Precisa haver uma revisão de conceitos e uma conscientização sobre os “buracos negros” para que se estabeleça uma educação da compreensão, como coloca Morin (2000). - Conseguimos ver no texto dos participantes um avanço com relação a importância
de se considerar o outro, como um “co-produtor um do outro” (MORIN, 2000, p. 105), mas não conseguem avançar considerando a tríade proposta por Morin (2000): indivíduo/sociedade/espécie.
Considerações finais:
Em relação à concepção de autonomia presente no discurso dos professores-alunos foi possível obter a seguinte análise: verificou-se que possuem certo entendimento sobre autonomia no processo ensino-aprendizagem, porém, seus conceitos são elaborados de maneira superficial, não atribuem tamanha e verdadeira importância a autonomia enquanto professores da educação superior, que precisam formar profissionais autônomos.
Acredita-se que esta pesquisa venha ao encontro da realidade de docentes que se mostraram de certo modo inconscientes da importância e relevância da autonomia na sociedade planetária atual.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa – São Paulo: Paz e Terra, 2000.
KANT, Immanuel. Sobre a pedagogia. Tradução de Francisco Cock Fontanella. Piracicaba: Editora Unimep, 1996.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2. Ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2000.
PRETI, Oreste (org.). Educação a Distância: construindo significados. Cuiabá: NEAD/IE – UFMT; Brasília: Plano, 2000.