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ANÁLISE DE UM PROJETO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL VOLTADO À INCLUSÃO SOCIAL GIL

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Academic year: 2021

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GIL, Thais Nogueira – UFMG - thaisgil@terra.com.br- GT: Trabalho e Educação/ 09

Agência Financiadora: FUNADESP

Este texto apresenta questões para reflexões advindas de uma pesquisa concluída no final de 2005. Tal pesquisa investigou uma instituição que promove a Educação Profissional e ofereceu um projeto (curso de qualificação) voltado à inclusão social. Após o confronto com alguns conceitos, observou-se que na verdade este projeto está voltado apenas à integração dos sujeitos no mercado de trabalho e não à inclusão social. Entretanto, esta conclusão não é um consenso porque depende das diversas visões sobre o que é realmente a inclusão e a integração.

Um projeto de educação profissional pode promover a inclusão social de jovens marginalizados sem atuar de forma participativa com a comunidade? A gestão participativa de um projeto social que objetiva a inclusão exige o engajamento da comunidade na sua concepção, elaboração e execução? Pode um projeto social que gera emprego e renda não ser considerado um projeto de inclusão social, mas apenas de integração? Essas são questões advindas da realização de uma pesquisa em uma instituição de ensino profissional que se pensa colaboradora da inclusão social. Este trabalho pretende apresentar os resultados dessa pesquisa e problematizá-los a partir da fundamentação teórica que o orientou.

O objetivo da pesquisa foi analisar um projeto social. Este foi desenvolvido através de parcerias entre uma grande instituição de ensino, uma escola técnica e a associação comunitária de uma cidade no interior de Minas Gerais. O projeto foi elaborado para ensinar um ofício a jovens que viviam em situação de risco social, compreendidos neste trabalho, como adolescentes entre dezesseis e dezoito anos, com pais desempregados ou falecidos, com falta de renda familiar, moradia na periferia e não matriculados em nenhuma escola. O objetivo era oferecer-lhes cursos de qualificação, como bombeiro e eletricista. Estes ofícios eram demandados pela comunidade, segundo pesquisa realizada pela associação comunitária.

Do ponto de vista teórico, a análise do projeto social em questão orientou-se pelo conceito de inclusão social de Mantoan (2003), compreendido como uma ação ou política

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que objetiva a inserção de sujeitos excluídos, preparando as futuras gerações para o convívio com a diversidade, compreendendo a realidade de todos, deixando de lado a perspectiva de que a inclusão é para os que possuem necessidades especiais. Ela é para todo aquele que, de alguma forma, foi excluído (MANTOAN, 2003, p.57). Rattner (2002) afirma que a inclusão não pode restringir-se apenas à entrada no mercado de trabalho, mas deve considerar também as formas de manter tal inserção. Para este autor, “a inclusão torna-se viável somente quando, através da participação em ações coletivas, os excluídos são capazes de recuperar sua dignidade e conseguem - além de emprego e renda - acesso à moradia decente, facilidades culturais e serviços sociais, como educação e saúde” (RATTNER, 2002, p. 1). Compreende-se, assim, que os discursos no campo do trabalho relacionados à educação devem pautar-se pela dinâmica de uma formação ampla que permita ao sujeito não apenas sair de uma determinada situação excludente de forma imediata. Na verdade, a formação profissional com vistas à inclusão social visa a construção de uma autonomia que permita ao aprendiz, futuro trabalhador, permanecer inserido na realidade social mais ampla.

Conceitualmente, inclusão não é o mesmo que integração. Inclusão é mobilização social. A sociedade se prepara para acolher os sujeitos. Diferentemente, integração é mobilização pessoal para se ajustar a uma sociedade. Para Ferreira, integração é a “ação ou política que visa integrar em um grupo minorias sociais” (FERREIRA, 1986, p.954). O esforço é do indivíduo que se adapta para integrar um grupo. Saliba (2004) afirma que integração é uma conquista individual para se adaptar ao social. Mantoan (2004) afirma que um curso, por exemplo, não é considerado inclusivo quando o currículo é adaptado para que alunos com maiores dificuldades aprendam.

O referencial teórico da pesquisa concluiu que é necessário ter o cuidado para que as ações comunitárias não sejam apenas assistencialistas, o que aumentaria mais ainda a exclusão. A educação deve formar sujeitos críticos, participantes e atuantes, como preconiza Paulo Freire: “seria, realmente, uma violência, como de fato é, que os homens, seres históricos e necessariamente inseridos num movimento de busca, com outros homens, não fossem o sujeito de seu próprio movimento” (FREIRE, 2005, p.86).

Do ponto de vista metodológico, a pesquisa foi exploratória, de natureza descritiva. Como tal, ela pretendeu, segundo Gil (1995), esclarecer, desenvolver e alterar idéias e

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conceitos para que fossem elaborados problemas e hipóteses mais precisas para futuras pesquisas. A coleta dos dados foi feita por meio de visitas de campo, observação em reuniões da organização com a comunidade e entrevistas com os idealizadores do projeto e com os alunos beneficiados. As entrevistas foram gravadas em áudio e vídeo.

Como resultados da pesquisa, percebeu-se que a articulação das próprias instituições pode ser uma possibilidade de inclusão social de pessoas em situação de risco. Como os jovens não podiam ir à escola, em função da absoluta carência de recursos para transporte, toda a infra-estrutura do curso (oficinas e laboratórios) foi levada para a comunidade. Este diferencial foi entendido pelos idealizadores como uma forma de deslocar a idéia de que os alunos é que devem ir à escola. Segundo os idealizadores do projeto, entrevistados durante a realização da pesquisa, tais cursos possibilitariam a inclusão social através da qualificação para o trabalho. Apresentações de trabalhos sobre a pesquisa em universidades do Brasil e do Chile corroboraram essa idéia, tendo em vista o reconhecimento de que se tratava de experiência concreta de inclusão social. Mas não existe certeza!

Por um lado, é fato que, ao propor um projeto social que objetiva a inclusão, as instituições envolvidas estão oferecendo uma oportunidade aos jovens marginalizados. Ao montar oficinas na comunidade local, estão facilitando o acesso. Ao realizar parcerias com o governo local estão ampliando o projeto e aumentando a chance de trabalho para estes jovens. Entretanto, faltou um olhar para os alunos, que foram sujeitos passivos de uma intervenção para uma qualificação profissional e não tiveram sua participação encorajada, pois os currículos foram elaborados pela própria escola, sem uma discussão concreta com os demais envolvidos. Desta forma, faltou no projeto coordenado pela Educação Profissional um olhar para a articulação social dos sujeitos, condição considerada fundamental para a inclusão, segundo os autores estudados (MANTOAN, 2003; RATTNER, 2002).

A distinção conceitual entre integração e inclusão social permitiu problematizar se de fato o trabalho desenvolvido pela Educação Profissional era inclusivo. Geralmente, a idéia de inclusão parece revolucionária, isto é, contrária à manutenção do status quo. As conclusões deste trabalho nos permitem questionar se de fato a inclusão social promovida pelo projeto merece a qualificação atribuída por Mantoan (2003) e Rattner (2002). Tal

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questionamento só foi possível porque a prática observada foi problematizada pelo referencial conceitual que orientou a pesquisa. Parafraseando Schon (2000, p.9) a pesquisa deve ser a articulação entre teoria e prática, a “reflexão na ação”, “o pensar o que fazem enquanto fazem”. É preciso que o pesquisador se questione, questione seus dados, ouça seus pares.

Refletir, debater estas questões e ampliar os pontos de vistas com a contribuição de diversas áreas do conhecimento é fundamental para que esta pesquisa possa clarear seus conceitos, ampliar seus objetivos e poder contribuir de fato para a inclusão social. Consideramos que deslocar o centro é contemplar cada vez mais a globalização contra-hegemônica. Segundo Santos (2005), a globalização neoliberal não é única. “Por reação a ela está emergindo uma outra globalização, constituída pelas redes e alianças trans-fronteiriças entre movimentos, lutas e organizações locais ou nacionais” (SANTOS, 2005, p. 13). Os conceitos bem definidos ajudam a evitar que projetos sociais sejam porta-vozes de uma ideologia, muitas vezes repassada por agentes imbuídos de coragem e boa-fé, mas que apenas promovem o assistencialismo e a reprodução da opressão.

Enfim, a partir de uma concepção neoliberal, o projeto social analisado pode sim ser classificado como colaborador da inclusão social. Mas, a partir de uma concepção contra-hegemônica, ele seria um projeto que contempla a integração dos sujeitos no meio social, isto é, um projeto que busca a inserção de jovens no mercado de trabalho a partir de uma articulação comunitária. A pesquisa sobre esta temática exige a reflexão sobre o lugar social dos agentes e patrocinadores da iniciativa. Para Zeichner (2000), a reflexão do educador por si não basta se não estiver articulada socialmente, pois ele é um ser no mundo. No atual projeto observou-se que faltou mais “imersão” na comunidade. Fato que poderia facilitar mudanças para promover e enriquecer a participação ativa dos sujeitos na sociedade.

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Referências Bibliográficas:

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. GIL, Antonio C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1995.

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar: o que é? por quê? como fazer?São Paulo: Moderna, 2003.

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. O Direito Á Diferença Na Igualdade Dos Direitos – Questões sobre a inclusão escolar de pessoas com e sem deficiências. In: BATISTA, Cristina Abranches Mota. (Org). Ética da Inclusão. Belo Horizonte: Armazém de Idéias, 2004.

RATTNER, Henrique. Sobre exclusão social e políticas de inclusão. In: Revista Espaço Acadêmico. Ano II, n. 18, novembro de 2002.

SALIBA, Ana Maria Portugal Maia. A Inclusão De Um Estranho Imaginário. In: BATISTA, Cristina Abranches Mota. (Org). Ética da Inclusão. Belo Horizonte: Armazém de Idéias, 2004.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Democratizar a Democracia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.

SCHON, Donald A. Educando o Profissional Reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2000.

ZEICHNER, Kenneth. Formação de professores: contato direto com a realidade da escola. Presença Pedagógica, v.6, n.34, p.5-15, jul./ago. 2000.

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