• Nenhum resultado encontrado

ADAPTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE CONFINADOS COM DIETAS DE ALTA PROPORÇÃO DE CONCENTRADO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ADAPTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE CONFINADOS COM DIETAS DE ALTA PROPORÇÃO DE CONCENTRADO"

Copied!
27
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS

ADAPTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE

CONFINADOS COM DIETAS DE ALTA PROPORÇÃO DE

CONCENTRADO

Kíria Karolline Gomes Moreira Orientador: Prof. Dr. João Teodoro Padua

GOIÂNIA 2011

(2)

KÍRIA KAROLLINE GOMES MOREIRA

ADAPTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE

CONFINADOS COM DIETAS DE ALTA PROPORÇÃO DE

CONCENTRADO

Seminário apresentado junto à Disciplina Seminários Aplicados do Programa de Pós- Graduação em Ciência Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás. Nível: Mestrado Área de Concentração: Produção Animal Linha de pesquisa: Metabolismo nutricional, alimentação e forragicultura na produção animal

Orientador: Prof. Dr. João Teodoro Padua EVZ/UFG

Comitê de orientação:

Prof. Dr. Juliano José Resende Fernandes EVZ/UFG Prof. Dr. Milton Luiz Moreira Lima EVZ/UFG

GOIÂNIA 2011

(3)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 1

2 REVISÃO DA LITERATURA ... 3

2.1 Confinamentos brasileiros e dietas com alta proporção de concentrado ... 3

2.2 Adaptação da microbiota ruminal ... 5

2.3 Acidose ruminal ... 9

2.4 Fase de adaptação de bovinos de corte confinados ... 162

2.5 Manejo alimentar no período de adaptação de bovinos de corte confinados . 15 2.6 Protocolos adotados para a adaptação de bovinos de corte confinados ... 16

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 21

(4)

1 INTRODUÇÃO

A base da produção de bovinos no Brasil são as pastagens, o que na maioria das vezes não permite um bom desempenho, especialmente durante a época seca, devido às deficiências nutricionais de energia, proteína, minerais e vitaminas que por causa da estacionalidade os pastos não conseguem suprir. Para conseguir níveis melhores de produtividade, tem sido adotado a inclusão de grãos (carboidratos prontamente fermentáveis) e seus subprodutos nas dietas dos animais, o que tem melhorado o aporte de energia para o animal e consequentemente o seu desempenho produtivo.

No Brasil, a necessidade de se intensificar os sistemas de produção de bovinos de corte, em função das pressões de toda ordem, tem propiciado a utilização de dietas cada vez mais ricas em carboidratos não fibrosos (PAULINO et al., 2010). O uso de dietas com maior teor de concentrado exige maior atenção dos nutricionistas em relação ao manejo alimentar, pois os riscos relacionados à saúde ruminal, como a ocorrência da acidose, tornam-se maiores e podem ocasionar perdas econômicas e de desempenho (DIB, 2010). Segundo BROWN et al. (2006) ainda é pouca a atenção dada ao aumento do fornecimento de rações com alta proporção de grão durante o período de adaptação.

Pesquisas com bovinos recém-chegados aos confinamentos são necessárias, entretanto, é extremamamente difícil conduzir e interpretar os dados, pois o número de fatores que afetam a saúde e o desempenho animal, além do fator nutricional, é vasto. Outro ponto importante é que estudos, abordando o período de adaptação, somente têm monitorado respostas de curto prazo (14 a 28 dias) (OWENS, 2007) o que não é suficiente, pois procedimentos adotados no período de adaptação influenciam o desempenho do animal durante todo o período de confinamento.

O tema adaptação de bovinos de corte a dietas de alto concentrado ainda não despertou interesse da pesquisa científica brasileira, uma vez que praticamente não há trabalhos publicados com esse foco desenvolvidos no país. Isso pode ser, talvez, pelo fato da adoção de dietas de alta participação de concentrado ser relativamente nova no país e, até mais importante do que isso, devido à falta de infraestrutura nos principais centros de pesquisa do país em

(5)

realizar experimentos de maior escala, as pesquisas nessa área ainda estão por fazer.

Trabalhos em conjunto com confinamentos comerciais representam uma excelente alternativa para estudar mais a fundo e de forma mais controlada protocolos de adaptação que têm sido usados rotineiramente e de forma eficiente por nutricionais e técnicos nos confinamentos brasileiros (PAULINO et al., 2010).

Objetivou-se com esta revisão, abordar temas como manejo alimentar, operacional e os protocolos mais adotados durante o período de adaptação de bovinos de corte em confinamento com dietas de alta proporção de concentrado, atentando para possíveis agravantes que posssam prejudicar o desempenho dos animais.

(6)

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Confinamentos brasileiros e dietas com alta proporção de concentrado

No início da década de 80, a prática da engorda de bovinos de corte em confinamentos começou a destacar-se. Esse tipo de terminação de bovinos surgiu como estratégia para produção de carne no período da entressafra e era confinado um pequeno número de animais (50 a 100 mil/ano). Em 1989, foram confinados 700 mil animais confinados (WEDEKIN & AMARAL, 1991) e esse número vêm aumentando com a intensificação do sistema produtivo. Em pesquisa realizada com 31 nutricionistas, entrevistados por MILLEN et al. (2009), foi constatado que esses eram responsáveis por mais de três milhões de bovinos confinados. Segundo os autores, este dado ultrapassa dados fornecidos pelo ANUALPEC (2008). Hoje, a visão dos confinadores é outra, o confinamento é encarado como uma atividade que visa acelerar o crescimento bovino, liberando pastagem para outras categorias e aumentando o giro de capital.

No Brasil, a utilização de dietas com alta proporção de volumosos era prioritária devido ao alto custo dos grãos e dos concentrados proteicos. Entretanto, esse cenário tem apresentado algumas mudanças, principalmente com a utilização de dietas com maiores teores de concentrado (MARGARIDO et al., 2011) e a inclusão de subprodutos agroindustriais.

VALADARES FILHO & PINA (2006) afirmam que a preferência dos confinadores brasileiros ainda é pela inclusão moderada de concentrado nas dietas, isso pode ser explicado pela predominância de animais zebuínos nos confinamentos e pelo fato destes não apresentarem desempenho tão consistente em dietas com altas proporções de concentrado como os novilhos europeus e cruzados. Dependendo do custo relativo do volumoso ou da forragem, dos custos fixos, e dos preços relativos de venda da carne de animais alimentados com alta proporção de concentrado, as rações que possuem maior quantidade de volumoso podem resultar em menor custo de produção total (OWENS, 2007).

Alguns defensores das dietas com alta proporção de concentrado ressaltam que a menor inclusão de volumosos possibilita um melhor manejo

(7)

operacional em grandes confinamentos (BROWN et al., 2006), reduzindo problemas com espaço (DIB, 2010), além de obter altas taxas de ganho de peso, melhor eficiência alimentar, culminando com custo de ganho de carcaça (R$/@)) bastante competitivos (PAULINO et al., 2010).

A elevação do nível de concentrado na dieta pode resultar na diminuição dos dias de confinamento dos animais e reduzir o fornecimento de volumoso. Em experimento realizado por MISSIO et al. (2009) na terminação de tourinhos esses dois fatores foram os principais responsáveis pela diminuição linear dos custos com mão-de-obra, depreciação de equipamentos, custo com volumoso e custo de oportunidade da terra. Porém, nesse mesmo estudo os autores observaram que para todos os preços simulados, ocorreu diminuição linear da renda líquida e lucratividade com o aumento do concentrado na dieta (Tabela 1), chegando ao ponto de inviabilizar economicamente a maior inclusão de concentrado.

TABELA 1. Renda líquida e lucratividade total de cada nível de concentrado

Custo (R$)

Nível de concentrado

22 40 59 79

Preço do concentrado= 20% do preço do kg do boi Renda líquida (R$) 170,98 164,50 124,07 77,75

Lucratividade (%) 19,99 19,66 15,04 8,68 Preço do concentrado= 26% do preço do kg do boi Renda líquida (R$) 140,09 11,66 55,98 -12,32

Lucratividade (%) 16,24 13,28 6,43 -2,59 Preço do concentrado= 36% do preço do kg do boi Renda líquida (R$) 89,55 25,20 -53,43 159,69

Lucratividade (%) 10,09 2,85 7,66 21,05 Preço do concentrado= 53% do preço do kg do boi Renda líquida (R$) -5,93 -138,13 -265,87 -438,07

Lucratividade (%) -1,51 -16,87 -34,27 -55,90

FONTE: Adaptado MISSIO et al. (2009)

Segundo BROWN et al. (2006), no sistema produtivo de bovinos de corte, o custo por unidade de energia líquida de mantença ou de energia líquida de ganho é menor em confinamentos em que se utiliza alimentação com alta proporção de grãos. MILLEN et al. (2009), em pesquisa realizada com consultores

(8)

de confinamento no Brasil, constataram que apenas 19,4% dos entrevistados já utilizaram dietas em confinamentos com 81-90% de concentrado.

Dietas ricas em concentrado apresentam cinética digestiva consideravelmente distinta da observada em dietas ricas em alimentos volumosos. Como na grande maioria dos confinamentos brasileiros os animais são oriundos de pastagem, há a necessidade de se realizar de forma eficiente e gradativa a fase de adaptação, dependendo do tipo de dieta e da proporção de concentrado que os animais serão submetidos durante a terminação (PAULINO et al., 2010).

2.2 Adaptação da microbiota ruminal

Segundo SCHWARTZKOPF-GENSWEIN et al. (2003), a transição de uma dieta com alta proporção de volumoso para uma com alta proporção de concentrado é um dos fatores que causa maiores impactos sobre a microbiota ruminal. No caso de mudanças abruptas, o desequilíbrio das espécies microbianas pode abrir a porta para organismos facultativos oportunistas que podem acarretar distúrbios ruminais (VALADARES FILHO & PINA, 2006).

Os programas de adaptação de bovinos de corte em confinamento tendem a seguir protocolos em que as dietas de alta proporção de concentrado são fornecidas ad libitum, com a inclusão gradual de concentrado. Isso é realizado para que a microbiota ruminal possa se adaptar e se desenvolver em um ambiente com pH baixo e, assim, minimizar a ocorrência de acidose subclínica e diminuir a variação do consumo dos animais (CHOAT et al., 2002). Porém, o desequilíbrio da microbiota pode ocorrer mesmo com a introdução gradual da dieta com alto teor de concentrado, prejudicando o consumo e o desempenho de alguns animais. Assim, o estabelecimento e a manutenção da fermentação ruminal estável dependem da população viável de bactérias utilizadoras de lactato e de protozoários ciliados (COE et al., 1999).

BROWN et al. (2006), nos trabalhos revisados, observaram que a quantidade de bactérias amilolíticas aumenta quanto mais concentrado for incluído na dieta, e a quantidade de bactérias que utilizam lactato aumenta drasticamente em dietas que contenham mais do que 60% de concentrado.

(9)

Geralmente, no período inicial da utilização de dietas com alto teor de concentrado, as bactérias utilizadoras de lactato que são sensíveis ao pH ruminal ácido, tais como Veillonella e Selenomonas, são substituídas pelas tolerantes, tais como Anaerovibrio, Propionobacterium e Megasphera; bactérias amilolíticas pertencentes ao gênero Prevotella são substituídas pelas produtoras de lactato, tais como as do gênero Lactobacillus, Eubacterium e Strepetococcus (VALADARES FILHO & PINA, 2006).

Em experimento realizado por COE et al. (1999) para avaliar a influência da virginiamicina sobre a população microbiana ruminal e produtos da fermentação em bovinos durante a rápida adaptação a uma dieta com alta propoção de concentrado, verificaram que a medida que a energia da dieta era aumentada o pH ruminal diminuía. No experimento 1, as inclusões de virginiamicina (VM) ou monensia/tilosina (MT) não influenciaram o pH ruminal, a quantidade de amônia e as concentrações de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC). Entretanto, a VM apresentou influência moderada sobre a fermentação ruminal (Tabela 4), diminuindo as populações de Lactobacillus e Streptococcus bovis, que são bactérias produtoras de ácido lático. Em relação ao Fusobacterium necrophorum, a inclusão de VM e MT impediram sua multiplicação quando o teor de concentrado na dieta foi aumentado.

O número de protozoários (principalmente Entodinium ssp.) atinge o pico em dietas com aproximadamente 60-70% de concentrado, enquanto o número de bactérias utilizadoras de lactato (destacando-se as do gênero Selenomonas e Magasphaera) aumenta de forma mais acentuada após 2-7 dias da introdução de dietas com mais de 70% de concentrado. Entretanto, quando se compara o grau de incremento na população de bactérias amilolíticas em comparação com as utilizadoras de lactato, durante a fase de adaptação, observa-se o aumento mais pronunciado das amilolíticas por apresentarem maior taxa de crescimento (BROWN et al., 2006).

Os protozoários tem papel essencial na regulação da fermentação de amido, pois são reponsáveis por englobar os grânulos de amido e as bactérias amilolíticas a eles aderidas, degradando-o e fermentando-o de forma mais lenta que as bactérias, reduzindo, dessa forma, a taxa de fermentação ruminal e evitando a queda brusca de pH (PAULINO et al., 2010).

(10)

TABELA 4. Número de bactérias ruminais de novilhos alimentados com dietas sem aditivo (controle), com Virginiamicina (175 ou 250 mg/dia) e Monensina/Tilosina (250 + 90 mg/d), durante adaptação rápida a dietas com alta proporção de concentrado

Feno de alfafa:Concentrado

Tratamentos e 100:0 30:70 15:85 0:100 0:100 Bactérias -2 a 1 2 a 4 5 a 7 8 a 10 21 e 22

Controle

Streptococcus bovis, 106 cfu/g MS 19.5 136.6 45.6 29.9 0.3 Lactobacillus, 107 cfu/g MS 4.0 100.3b 491.8b 542.4b 185.4 F. necrophorum, 105 NMPa/g MS 0.9 6.6b 17.8b 12.7b 5.3b Virginiamicina, 175 mg/d

Streptococcus bovis, 106 cfu/g MS 8.1 9.2 5.7 2.4 1.2 Lactobacillus, 107 cfu/g MS 8.3 7.3c 75.3c 93.4cd 304.5 F. necrophorum, 105 NMP/g MS 0.8 0.8c 1.0c 0.3c 0.2cd Virginiamicina, 250 mg/d

Streptococcus bovis, 106 cfu/g MS 4.7 8.4 9.4 0.7 0.3 Lactobacillus, 107 cfu/g MS 6.1 13.6c 151.2bc 20.4d 94.3 F. necrophorum, 105 NMP/g MS 0.8 0.9c 1.0c 0.2cd 0.3c Monensina/Tilosina 250 + 90 mg/d

Streptococcus bovis, 106 cfu/g MS 16.3 23.8 18.3 41.6 0.7 Lactobacillus, 107 cfu/g MS 5.9 185.1b 163.1bc 300.1bc 206.9 F. necrophorum, 105 NMP/g MS 0.7 0,4b 0.4d 0.1cd 0.1d

a NMP = Número mais provável, b, c, d Médias na mesma coluna com letras diferentes diferem (P

<0,05) FONTE: Adaptado de COE et al. (1999)

Com o objetivo de avaliar o efeito de dietas de adaptação com alta proporção de grão sobre a população de protozoários e o pH ruminal, FRANZOLIN & DEHORITY (1996) realizaram experimento com cinco novilhos canulados no rúmen e constataram que os animais podem apresentar diferentes respostas quando testados com dietas com alto nível de concentrado. Apenas dois animais, dos cinco avaliados, apresentaram redução no pH ruminal com a inclusão de maior quantidade de concentrado. Essa variação pode estar relacionada com o potencial de produção de saliva ou mesmo com a taxa de passagem de cada animal, sendo estes fatores determinantes para a sobrevivência dos protozoários.

O uso de culturas para quantificar o número de bactérias ruminais em experimentos subestima a diversidade dos microrganismos (FERNANDO et al., 2010) e, segundo BROWN et al. (2006), são poucos os trabalhos que utilizam

(11)

técnicas moleculares modernas de identificação de microrganismos ruminais para descrever mudanças microbianas que ocorrem no rúmen na fase de adaptação.

Parâmetros relacionados à taxa e à extensão da digestão, à concentração e ao perfil de ácidos graxos no rúmen, ao pH, à concentração de amônia ruminal e ao perfil microbiano são algumas variáveis que passam por grande alteração ao longo da transição de uma dieta com alto teor de volumoso para outra com alto teor de concentrado (PAULINO et al., 2010).

Realizando experimento com o intuito de determinar se a adaptação gradual (AG) (15 dias com cinco dietas intermediárias) é mais eficiente que a adaptação rápida (AR) (três dias com uma dieta intermediária), BEVANS et al. (2005) constataram que algumas medições de pH ruminal ou de produtos da fermentação foram mais afetados pela AR. Maior variância nos valores de pH ruminal significa propensão a ocorrência de acidose. Na Figura 2b observa-se que a variância horária do pH ruminal nos bovinos alimentados com 90% de concentrado na AR tendeu a ser menor (4, 5, 6 e 7hs). Porém, após as sete horas de alimentação a variância da AR aumentou, chegando a níveis associados com a acidose aguda. Isso demonstra que a recuperação do nível ideal de pH foi mais uniforme para os animais da AG.

Mais pesquisas são necessárias para caracterizar como a inclusão e a freqüência de aumentos no consumo de concentrado influenciam a dinâmica microbiana, identificando os recursos biológicos que permitem que certos animais se adaptem mais a alta proporção de concentrado nas dietas (BROWN et al., 2006).

(12)

FIGURA 2. Variância média por hora (expressa pelo desvia padrão (SD) em novilhas durante a adaptação rápida (AR) ou gradual (AG) a dietas com teor de concentrado de 90% no primeiro dia de alimentação. Horas em que os efeitos do tratamento foram significativos são marcados com setas em negrito (P<0,05) ou setas pontilhadas (P<0,10)

FONTE: Adaptado BEVANS et al. (2005)

2.3 Acidose ruminal

Para BROWN et al. (2006), os animais confinados podem ser considerados adaptados se a dieta fornecida não causar efeitos adversos quando ingerida em quantidade que causaria acidose em animais não adaptados.

O rúmen possui um ecossistema basicamente anaeróbio que converte substratos fermentescíveis da dieta ingerida em ácidos orgânicos, que posteriormente são removidos através de absorção pelo epitélio ruminal. Portanto, para que haja manutenção do pH em níveis aceitáveis para a microbiota (5,8-6,5) é necessário que a produção e absorção desses ácidos seja estável (MARINO et al., 2009). A maioria dos bovinos confinados apresentam pH ruminal baixo pelo menos uma vez ao dia. O pH ruminal é mais alto pouco antes da primeira

SD do pH ruminal

AR

AG

(13)

alimentação do dia, pois no período da noite há intensa ruminação e produção de bicarbonato que é um dos tamponantes responsáveis pela manutenção do pH no rúmen. Após a alimentação, o pH cai com o início da fermentação dos carboidratos (SCHWARTZKOPF-GENSWEIN et al., 2003).

A acidose aguda ou subaguda, causada pela excessiva ingestão de carboidratos prontamente fermentáveis, são enfermidades relevantes no sistema produtivo de bovinos confinados com dietas com alta proporção de concentrado e têm maior incidência durante o período de adaptação dos animais, no qual a variação do pH ruminal é grande (OWENS et al., 1998).

Os principais fatores que influenciam a flutuação do pH são a quantidade de carboidratos rapidamente fermentescíveis que o animal ingere, a capacidade animal de produção de tampão (saliva) e a taxa de utilização e absorção dos ácidos produzidos (MARINO et al., 2009).

A acidose aguda é identificada quando o animal apresenta níveis de pH inferiores a 5,0. Essa queda no pH ruminal é resultante do acúmulo de ácido lático e dos ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) (DIB, 2010). Durante a acidose aguda há a manifestação de alguns sintomas e sinais clínicos como ulcerações nas mucosas ruminal e intestinal, desidratação grave, paraqueratose, abcessos hepáticos, queda do pH sanguíneo e morte do animal (OWENS et al., 1998).

No caso de acidose subaguda, os animais não apresentam sinais ou sintomas visíveis da enfermidade, entretanto, a frequência de ingestão de matéria seca e, consequentemente, o desempenho animal são diminuídos. O pH de 5,6 é considerado o limite para a acidose subaguda (OWENS et al., 1998). Segundo SCHWARTZKOPF-GENSWEIN et al. (2003), a acidose subaguda é responsável pelo desempenho e consumo reduzido de alguns bovinos confinados, sendo que podem ocorrer perdas de US$ 15 a 20 por animal devido a queda de eficiência.

O desenvolvimento de acidose clínica ou subclínica em bovinos confinados envolve uma complexa interação entre a composição da dieta (razão volumoso: concentrado e tipo de processamento dos grãos), a microbiota ruminal e o próprio animal (Figura 3) (SCHWARTZKOPF-GENSWEIN et al., 2003).

(14)

FIGURA 3. Consequências metabólicas do consumo de ração com alta proporção de concentrado no pH e na microbiota ruminal

FONTE: Adaptado de SCHWARTZKOPF-GENSWEIN et al. (2003)

As diferenças individuais dos animais, na ocorrência de acidose, podem estar relacionadas principalmente à estabilidade das populações microbianas. Porém, outros fatores podem ser correlacionados a incidência dessa enfermidade como, a seletividade do animal pelo alimento mais volumoso ou mais concentrado e a velocidade e frequência que o alimento é ingerido (SCHWARTZKOPF-GENSWEIN et al., 2003).

Durante a acidose ruminal, a presença de alta concentração de lactato no rúmen leva a lesões no epitélio ruminal o que acarreta a instalação de agentes bacterianos, como Fusobacterium necrophorum e Actinomyces pyogenes. Esses agentes além de colonizarem e lesionarem o epitélio do rúmen, reduzindo sua superfície de absorção, também podem chegar ao fígado, levando ao surgimento de abscessos hepáticos (MARINO et al., 2009). O principal efeito econômico dos abscessos hepáticos está relacionado com a redução no desempenho animal e com a diminuição do rendimento de carcaça.

Para DIB (2010), a acidose sempre vai estar presente nos confinamentos causando perdas econômicas e no desempenho, pois adaptando

(15)

gradualmente os animais a dietas com alto teor de concentrado consegue-se prevenir o acúmulo de ácido lático, porém, o pH ruminal poderá ainda permanecer baixo devido a maior produção de ácidos graxos de cadeia curta. Mas mesmo assim, o autor enfatiza que o uso de estratégias de adaptação dos bovinos a dietas de alta proporção de concentrado contribui positivamente na redução da ocorrência de acidose.

Assim, pode-se dizer que a prevenção da acidose está relacionada a dois princípios. O primeiro seria proporcionar a adaptação correta da mucosa e microbiota ruminal para absorção e metabolização dos altos níveis de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC). O segundo está relacionado com métodos de manutenção do pH ruminal, com o uso de aditivos, quando o animal tem acesso a dietas com altos níveis de energia (MARINO et al., 2009).

2.4 Fase de adaptação de bovinos de corte confinados

OWENS (2007), em palestra apresentada no 6° Simpósio sobre Bovinocultura de Corte, utilizou uma metáfora antropomórfica para exemplificar como seria o período de entrada de bovinos no confinamento:

“Imagine que, na idade de 14 anos, você é involuntariamente convocado para o serviço militar. Desarraigado do lar e da família, você é posto em um ônibus com pessoas que nunca viu antes, transportado durante doze horas para um ajuntamento para seleção, submetido a exame físico, recebe identificação, uniforme padrão e várias vacinas. Em seguida, você é reagrupado e espremido em um segundo ônibus velho, caindo aos pedaços e fedendo a fumaça de diesel. Outros que estão no ônibus são brutos e não demonstram simpatia: empurram-no de um lado para o outro e possuem sotaques esquisitos. Todos relembram verbalmente seus passados pacíficos e maravilhosos, reclamam de terem sido sequestrados e temem quanto a seu futuro. Alguns apresentam tosse profunda e incessante; outros o banham quando espirram. Você recebe empurrões e cotoveladas por mais doze horas e é descarregado em um quartel fedido para passar a noite. Finalmente, tem acesso à água e comida. Mas a água tem cheiro estranho, e você recebe uma colherada de picadinho com gosto peculiar em uma bandeja de alumínio encardida. Quando tenta beber, comer ou dormir é molestado pelos outros. Por último, você é alinhado em formação para conhecer o primeiro sargento; ele grita e diz palavrões enquanto você marcha, marcha em formação para mais vacinações, mais empurrões e cutucões e longas esperas em fila. Bem mais tarde, é lhe concedido um breve descanso na parte superior de um beliche desconfortável. Você é despertado às 5 horas da manhã, quando se supõe que já deve ter os sapatos polidos e esteja vestido para as tarefas. Neste novo ambiente, muito mais frio ou muito mais quente do que aquele

(16)

com o qual está familiarizado, espera-se que você obedeça a ordens dadas em voz alta e nunca reclame ou se manifeste por estar doente.” (OWENS, 2007)

A transferência de bovinos do regime a pasto para o confinamento implica em mudanças não só ambientais, mas também sociais e nutricionais para esses animais. Durante o transporte, da fazenda para o confinamento, os animais são submetidos a um jejum prolongado, sendo este fator estressante que pode afetar a ingestão de alimentos logo após a chegada (BROWN et al., 2006).

Outros fatores que elevam o nível de estresse desses animais seriam: a superlotação das baias, espaçamento de cocho inadequado, bebedouro pequeno e sujo e o surgimento de doenças. Por isso, conforme PAULINO et al. (2010), medidas que minimizem os problemas que ocorrem no início dos confinamentos devem ser adotadas no sentido de permitir que os animais apresentem, logo nos primeiros dias, comportamento ingestivo normal, sendo sempre monitorado por ferramentas auxiliares, como manejo de cocho e escore de fezes, estabelecidos para garantir que o período de adaptação está sendo conduzido de forma condizente com o planejado.

O período de confinamento no Brasil é considerado curto quando comparado com o da Europa, dos Estados Unidos e da Austrália. A grande maioria dos bovinos de corte brasileiros confinados permacem nessa condição somente por cerca de 75 - 100 dias. Devido a isso, há um objetivo geral dos confinadores em adaptar os animais a dietas de alto concentrado no menor tempo possível, sob o argumento de que como o período total de engorda é pequeno, não se deveria estender demasiadamente a adaptação (PAULINO et al., 2010).

Dietas de adaptação são ferramentas utilizadas para adaptar a microbiota ruminal de bovinos em confinamento, que gradativamente irão receber alimento com proporções cada vez maiores de carboidratos prontamente fermentáveis (DIB, 2010). A adaptação de bovinos acostumados com dietas com alto teor de volumosos para dietas com alta proporção de concentrado causa mudanças marcantes no ambiente ruminal, além de exigir um tempo necessário para a estabilização da microbiota ruminal (BEVANS et al., 2005).

É importante salientar que existem diferenças individuais dos animais na capacidade de digestão de dietas com alta proporção de concentrado, sendo

(17)

que essa diversidade pode estar relacionada à composição da microbiota ruminal de cada bovino (BROWN et al., 2006).

Dietas com altos níveis de carboidratos de rápida taxa de degradação, fornecida ad libitum, podem resultar em diferentes alterações na fermentação ruminal (VALADARES FILHO & PINA, 2006). Esses tipos de dietas aumentam a disponibilidade de glicose livre no rumén e com isso, as bactérias utilizam esse substrato para uma maior produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs) (SCHWARTZKOPF-GENSWEIN et al., 2003). A rápida taxa de fermentação dos carboidratos não estruturais juntamente com a queda do pH ruminal, inibem o crescimento de microrganismos celulolíticos e de protozoários (ambos produtores de acetato), ocorrendo diminuição da proporção molar de acetato e aumento nas proporções de butirato e propionato (ANTUNES & RODRIGUEZ, 2006).

Para reduzir os transtornos digestivos, devido à rápida fermentação do amido em dietas com alta proporção de grãos, é necessário fazer uma introdução gradual das dietas ao longo de um período de adaptação de pelo menos 10-28 dias (COE et al., 1999). Conforme BROWN et al. (2006), bovinos em confinamento que passam de uma dieta de com alta proporção de volumoso para uma dieta com alta proporção de concentrado na matéria seca em menos de 14 dias têm seu desempenho prejudicado, refletindo em todo o período do confinamento. Já MILLEN et al. (2009), em pesquisa realizada no Brasil, constataram que ao longo do período de adaptação são usadas pelo menos três dietas diferentes, e que esse período tem uma duração de aproximadamente 17 dias.

BROWN et al. (2006), em ampla revisão de literatura, verificaram que as dietas de adaptação mais comumentes utilizadas são de dois tipos: podem ser compostas de aproximadamente 55-70% de concentrado e mudam durante o período de adaptação; ou, a dieta de adaptação corresponde a própria dieta de terminação, mas oferecida em quantidade reduzida no cocho.

PAULINO et al. (2010) ressaltam ainda que a fase de adaptação representa um dos pontos críticos de controle do confinamento, uma vez que erros cometidos nessa fase podem trazer conseqüências por todo o período de alimentação dos animais. Por isso, é imprescindível que técnicas de manejo

(18)

operacional e alimentar sejam adotadas a fim de proporcionar um melhor período de adaptação para os bovinos confinados.

2.5 Manejo alimentar no período de adaptação de bovinos de corte confinados

Um dos objetivos da adoção de um manejo alimentar adequado em confinamentos é reduzir a variação diária da ingestão de matéria seca, pois acredita-se que manejo alimentar pode estar intimamente correlacionado com o desempenho animal e com a incidência de distúrbios metabólicos (SCHWARTZKOPF-GENSWEIN et al., 2003).

Em estudo realizado por BEVANS et al. (2005), os autores constataram que não houve interação entre o tipo de dieta e os tratamentos adaptação rápida (AR) e adaptação gradual (GA) sobre o consumo de matéria seca (CMS). Embora os dados deste experimento demonstrem que os animais podem ser adaptados de forma rápida, os autores enfatizam que para reduzir de forma efetiva os casos de acidose a adaptação deve ser realizada de forma mais lenta.

A elaboração de protocolos de adaptação para bovinos confinados com alta proporção de concentrado pode proporcionar um maior desempenho dos animais, além de, reduzir a ocorrência de acidose (BEVANS et al., 2005).

O manejo de cocho é outro ponto importante na gestão de confinamentos de bovinos de corte. Essa prática objetiva o fornecimento de quantidade adequada da dieta, no momento certo. ERICKSON et al. (2003) citam que o manejo de cocho pode ser realizado de duas formas: oferecendo a dieta ad libitum (a vontade); ou, no sistema “cocho limpo”, ou seja, o cocho tem que ficar vazio pelo menos uma vez ao dia. Para esse último tipo de manejo de cocho é preciso que se atente para que não haja restrição do consumo animal.

Segundo OWENS (2007) as concentrações de nutrientes (proteínas, minerais, vitaminas e outros aditivos) deveriam ser maiores em dietas de adaptação, pois nesse período os animais apresentam baixo consumo. Assim, PAULINO et al. (2010) ressaltam que com base na energia média das dietas comumente usadas nos confinamentos brasileiros, consumos menores que 1,4 %

(19)

do PV estarão abaixo das exigências de mantença, ou seja, animais que se encontrarem nesse patamar de consumo irão perder peso na primeira semana.

Praticamente não há trabalhos de pesquisa realizados no Brasil sobre adaptação de bovinos de corte a dietas de altos teores de concentrado na dieta (PAULINO et al., 2010), pois pesquisas com animais que dão entrada no confinamento são extremamente difíceis de conduzir e interpretar, devido ao grande número de fatores que afetam a saúde e o desempenho (OWENS, 2007).

2.6 Protocolos adotados para a adaptação de bovinos de corte confinados

No Brasil o que se verifica são protocolos e avaliações realizadas em nível de campo por parte de nutricionistas e técnicos de empresas fornecedoras de insumos (PAULINO et al., 2010). MILLEN et al. (2009) fizeram uma análise para identificar quais seriam os protocolos utilizados nos confinamentos brasileiros para realizar a adaptação dos animais. Esses autores verificaram que 48,8% dos pesquisados adotam dietas múltiplas (níveis crescentes de concentrado) como forma de adaptação, 19,4% dos nutricionistas recomendam o uso da dieta final com restrição da quantidade oferecida; 9,7% usam apenas uma dieta menos energética que a dieta final; 6,5% usam apenas uma dieta de adaptação e a dieta final; e, 3,2% usam a associação de dois protocolos acima citados.

Na Tabela 2 podem ser observadas algumas recomendações dos nutricionistas brasileiros a respeito dos protocolos utilizados no período de adpatação.

Independentemente do tipo de adaptação que será empregado, o principal objetivo a ser alcançado é a não ocorrência de distúrbios alimentares e, consequentemente, o aumento do consumo de matéria seca dos animais o quanto antes. Nas duas primeiras semanas a preocupação maior é para que os animais estejam consumindo, pois animais que demoram muito tempo para estabilizar o consumo de matéria seca, seja por um manejo de cocho mal feito, ou por uma adaptação mal conduzida, apresentam desempenho comprometido. Desse período em diante a preocupação, além de aumentar e manter o consumo, é de maximizar a eficiência alimentar (PAULINO et al., 2010).

(20)

TABELA 2. Recomendações para cada método de adaptação

Item Média

Múltiplas dietas

Número de dietas 3,0

Número de dias por dieta 6,0

Número de dias até a dieta final 17,0

Nível inicial de volumoso na dieta (% MS) 54,7

Dieta final limitada em quantidade

Número de dias até a dieta final 12,0

Nível inicial de volumoso na dieta (% MS) 39,0

Número de níveis 4,0

Número de dias por nível 4,0

Única dieta contendo menos energia

Número de dias até a dieta final 13,0

Nível inicial de volumoso na dieta (% MS) 46,0

Adaptado de MILLEN et al. (2009)

O procedimento mais comum é a utilização de dietas múltiplas durante a adaptação, aumentando gradualmente a quantidade de concentrado. É importante salientar que no dia da mudança para uma dieta com o teor mais alto de concentrado o consumo deve estar regularizado e os animais não devem apresentar reflexo de fome, pois ao ingerir com voracidade a nova dieta distúrbios alimentares podem ocorrer (OWENS, 2007).

Na Figura 1 pode-se observar uma das opções de se realizar corretamente o manejo de transição entre as dietas de adaptação. Nos dias de transição das dietas (8 e 9/ 13 e 14/ 22 e 23) as duas dietas são fornecidas em proporções complementares.

VASCONCELOS & GALYEAN (2007), em pesquisa realizada com nutricionistas de confinamentos nos Estados Unidos, observaram que 22 dos 29 entrevistados recomendavam a utilização de dietas múltiplas com o aumento gradual de concentrado como protocolo de adpatação nos confinamentos. BEVANS et al. (2005) afirmam que a inclusão gradual e crescente de concentrado nas dietas por um período de aproximadamente 3-4 semanas é um método eficiente para reduzir os problemas com a acidose ruminal.

(21)

FIGURA 1. Exemplo de transição de quatro dietas de adaptação com nível crescente de concentrado (01, 02, 03 e 04)

FONTE: Adaptado de KREHBIEL et al. (2010)

Entretanto, podem surgir problemas se um grande número de dietas de adaptação estiver sendo utilizadas ao mesmo tempo, pois em um confinamento os lotes de animais não dão entrada todos em um mesmo dia. Assim, será necessária a realização de um maior número de batidas, que podem levar a ineficiência do manejo operacional, estendendo o período de trato dos animais (KREHBIEL et al., 2010).

O uso da dieta final restringindo o consumo dos animais é outra opção que vem crescendo consideravelmente no Brasil. A dieta fornecida durante a fase de adaptação é a mesma que os animais consumirão por todo o período de alimentação, sendo fornecida em quantidades restritas nas primeiras semanas de cocho (PAULINO et al., 2010). Este método de adaptação traz benefícios como a facilidade no manejo de cocho, a diminuição do desperdício de alimento e a redução na produção de resíduos e esterco (de KREHBIEL et al., 2010).

CHOAT et al. (2002) realizaram três experimentos com novilhos Angus x Hereford, com o intuito de determinar os efeitos da restrição da ingestão da dieta final (restrição) em comparação com a oferta ad libitum da dieta com inclusão gradual de concentrado (ad libitum) sobre o desempenho, características de carcaça, digestibilidade, cinética ruminal e metabolismo ruminal. No

(22)

experimento 1, os autores constataram que não houve efeito significativo entre os tratamentos sobre o ganho médio de peso final (2,10 x 2,02 kg/dia para dieta ad libitum x dieta com restrição, respectivamente) (Tabela 3). Como esperado, a ingestão de matéria seca foi maior para o tratamento com consumo ad libitum e os métodos de adaptação não influenciaram (P<0,10) nas caracterísitcas de carcaça.

TABELA 3. Efeito da restrição da ingestão da dieta final x a oferta ad libitum da dieta com inclusão gradual de concentrado no desempenho de bovinos confinados Período (dia) Ganho kg/dia Ad libitum Restrição 0 – 28 2,29ª 1,67b 29 – 56 2,18ª 2,37ª 57 – 70 1,56b 2,01ª 0 – 70 2,10ª 2,02ª

a, b Letras diferentes na mesma linha indicam diferença significativa (P<0,05) FONTE: Adaptado de CHOAT et al. (2002)

No Experimento 2, os autores encontraram resultados diferentes. O peso médio final dos animais e peso da carcaça quente (PCQ) foram maiores (P<0,01) para o tratamento com alimentação ad libitum, enquanto que as características de carcaça não diferiram (P<0,01). Os autores concluíram que o oferecimento restrito da dieta final pode ser adotado como método de adaptação em confinamentos, pois são poucos os problemas encontrados com acidose ou com a ingestão de matéria seca. É importante salientar que a adoção desse tipo de protocolo pode gerar problemas relacionados com a restrição alimentar, além de prejudicar os animais que são dominados nos lotes, pois estes podem ficar sem se alimentar.

BROWN et al. (2006), em revisão da literatura, verificaram que os animais que tiveram acesso ad libitum à dieta de adaptação apresentaram desempenho reduzido e observara que o oferecimento de uma quantidade limitada da dieta final, aumentando gradualmente o seu fornecimento, seria uma opção viável para melhorar a eficiência dos bovinos de corte confinados. Entretanto, VALADARES FILHO & PINA (2006) consideram que com um acesso

(23)

livre ao alimento, muitos animais desenvolveriam um melhor padrão de digestão que poderia reduzir as flutuações na fermentação ruminal.

(24)

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O período de adaptação é ponto crítico para o sistema produtivo de bovinos de corte em confinamento. Para reduzir os problemas com o manejo alimentar inadequado durante esse período, programas de adaptação a dietas com alta proporção de concentrado precisam ser desenvolvidos e adotados a fim de minimizar ou prevenir os casos de acidose.

Um ponto importante a ser considerado é que os animais apresentam diferenças individuais, por isso torna-se necessária a adoção de medidas durante o período de adaptação que priorizem os animais menos tolerantes a dietas com maior proporção de concentrado.

A definição de fatores metabólicos que dão origem a acidose em indivíduos de alto risco e a realização de estudos que avaliem as transformações do trato gastrointestinal dos animais submetidos a dietas com alta proporção de concentrado poderiam fornecer uma chave para desenvolvimento de novas estratégias para o período de adaptação.

O procedimento mais comum e recomendado por nutricionistas que trabalham em confinamentos é a utilização de dietas múltiplas durante a adaptação, aumentando gradualmente a quantidade de concentrado. Adotando-se um período de pelo menos 14 dias de adaptação.

Estudos mais específicos no Brasil, a respeito do período de adaptação de bovinos confinados recebendo dietas com alta proporção de concentrado, precisam ser realizados. É preciso avaliar preponderamente fatores associados à realidade brasileira como, os ingredientes mais utilizados na composição das dietas com alta proporção de concentrado e também aspectos ligados aos animais que compõem o rebanho do país.

(25)

REFERÊNCIAS

1. ANTUNES, R.C.; RODRIGUES, N.M. Metabolismo dos carboidratos não estruturais. In: Nutrição de Ruminantes, 1, ed., Jaboticabal: Telma Teresinha Berchielli, Alexandre Vaz Pires e Simone Gisele de Oliveira, 2006, cap. 8, p. 229-248, 2006.

2. ANUALPEC. 2008. Anuário da Pecuária Brasileira. 1ª ed. Instituto FNP e Agra FNP Pesquisas Ltda, São Paulo, Brasil.

3. BEVANS, D.W.; BEAUCHEMIN, K.A.; SCHWARTZKOPF-GENSWEIN; MCKINNON, J.J.; MCALLISTER, T.A. Effect of rapid or gradual grain adaptation on subacute acidosis and feed intake by feedlot cattle. Journal of Animal Science, Champaign, v.83, n.5, p.1116-1132, 2005.

4. BROWN, M.S.; PONCE, C.H.; PULIKANTI, R. Adaptation of beef cattle to high-concentrate diets: performance and ruminal metabolism. Journal of Animal Science, Champaing, v.84, n.13, E. Suppl., p.E25-E33, 2006. 5. CASTRO, J.A.M.; PAZDIORA, R.; SIQUEIRA, G.R.; RESENDE, F.D.;

BALSALOBRE, M.A.A.; RAMALHO, T.R.A. Parâmetros ruminais de bovinos confinados sem adaptação consumindo rações com aditivos ruminais. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 47, 2010, Salvador. Anais... Salvador: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2010. p.01-03.

6. CHOAT, W.T.; KREHBIEL, C.R.; BROWN, M.S.; DUFF, G.C.; WALKER, D.A.; GILL, D.R. Effects of restricted versus conventional dietary adaptation on feedlot performance, carcass characteristics, site and extent of digestion, digesta kinetics, and ruminal metabolism. Journal of Animal Science, Champaign, v.80, n.10, p.2726-2739, 2002.

7. COE, M. L.; NAGARAJA, T. G.; SUN, Y. D.; WALLACE, N.; TOWNE, E. G.; KEMP, K. E.; HUTCHESON, J. P. Effect of virginiamycin on ruminal fermentation in cattle during adaptation to a high concentrate diet and during an induced acidosis. Journal of Animal Science, Champaing, v. 77, p.2259-2268. 1999.

8. DIB, M.G. 2010. 105 f. Strategies for beef cattle Adaptation to finishing diets, Ractopamine hydrochloride Utilization, and mature size Genetic selection. Tese (Doutorado em Animal Science) - University of Nebraska. Lincoln. 2010.

9. ERICKSON, G.E.; MILTON, C.T.; FANNING, K.C.; COOPER, R.J.; SWINGLE, R.S.; PARROTT, J.C.; VOGEL, G.; KLOPFENSTEIN, T.J. Interaction between bunk management and monensin concentration on finishing performance, feeding behavior, and ruminal metabolism during an acidosis challenge with feedlot cattle. Journal of Animal Science, Champaign, v. 81, p. 2869–2879. 2003.

(26)

10. FERNANDO, S.C., PURVIS II, H.T., NAJAR, F.Z., SUKHARNIKOV, L.O., KREHBIEL, C.R.NAGARAJA, T.G., ROE, B.A.,. DESILVA, U. Rumen Microbial Population Dynamics during Adaptation to a High-Grain Diet. Applied And Environmental Microbiology, Washington, v.76, n. 22, p. 7482–7490, 2010.

11. FRANZOLIN R. & DEHORITY B. A. Effect of Prolonged High-Concentrate Feeding on Ruminal Protozoa Concentrations. Journal of Animal Science, Champaign, v. 74, p. 2803–2899, 1996.

12. KREHBIEL, C.R.; HOLLAND, B.P.; MILTON, C.T. Grain processing effects on management: adaptation diets. In: OKLAHOMA STATE BEEF EXTENSION SYMPOSIUM, 2010, Stillwater. ProceedingsG Stillwater: Oklahoma Agriculture Experimental Station, 2010. p.155-165.

13. MARGARIDO, R.C.C.; LEME, P.R.; SILVA, S.L.; PEREIRA, A.S.C. Níveis de concentrado e sais de cálcio de ácidos graxos para novilhos terminados em confinamento. Ciência Rural, Santa Maria, v.41, n.2, p.330-336, 2011. 14. MARINO, C. T.; OTERO, W. G.; BASTOS, J. P. S. T.; ARRIGONI, M. D. B.;

RODRIGUES, P. H. M. Preparado de anticorpos policlonais como aditivo alimentar para bovinos. Archivos de Zootecnia, Córdoba, v. 58(R), p. 109-119, 2009.

15. MILLEN, D.D.; PACHECO, R.D.L.; ARRIGONI, M.D.B.; GALYEAN, M.L.; VASCONCELOS, J.T. A snapshot of management practices and nutritional recommendations used by feedlot nutritionists in Brazil. Journal of Animal Science, Champaign, v.87, n.10, p.3427-3439, 2009.

16. MISSIO, R.L.; BRONDANI, I.L.; FREITAS, L.S.; SACHET, R.H.; SILVA, J.H.S.; RESTLE, J. Desempenho e avaliação econômica da terminação de tourinhos em confinamento alimentados com diferentes níveis de concentrado na dieta. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.38, n.7, p.1309-1316, 2009.

17. OWENS, F. N.; SECRIST, D. S.; HILL, W. J.; GILL, D. R. Acidosis in cattle: a review. Journal of Animal Science, Champaign, v.76, p.275-286, 1998. 18. OWENS, F. Adaptação de gado confinado a dietas ricas em grãos:

distúrbios metabólicos e desempenho. In: Simpósio sobre bovinocultura de corte, 6., 2007. Piracicaba. AnaisG Piracicaba: FEALQ, 2007. p.221-235. 19. PAULINO, P.V.R., CARVALHO, J.C.F., CERVIERI, R.C., TERÊNCIO, P.,

VARGAS, A. Estratégias de adaptação de bovinos de corte às rações com teores elevados de concentrado. In: Congresso Latino Americano de Nutrição Animal-CLANA, 4, 2010. Estância de São Pedro. Anais... Estância de São Pedro, p.351-362, 2010.

(27)

20. SCHWARTZKOPF-GENSWEIN, K. S.; BEAUCHEMIN, K. A.; GIBB, D. J.; CREWS, D. H.; HICKMAN, D. D.; STREETER, M.; MCALLISTER, T. A. Effect of bunk management on feeding behavior, ruminal acidosis and performance of feedlot cattle: A review. Journal of Animal Science, Champaign, v. 81, p. 149-158. 2003.

21. VALADARES FILHO, S.C.; PINA, D.S. Fermentação ruminal. In: Nutrição de Ruminantes, 1, ed, Jaboticabal: Telma Teresinha Berchielli, Alexandere Vaz Pires e Simone Gisele de Oliveira, 2006, cap 6, p. 151- 179, 2006. 22. VASCONCELOS, J. T.; GALYEAN, M. L. Nutritional recommendations of

feedlot consulting nutritionists: The 2007 Texas Tech University survey. Journal of Animal Science, Champaign, v. 85, p. 2772-2781. 2007.

23. WEDEKIN, V.S.P.; AMARAL, A.M.P. Confinamento de bovinos em 1991. Informações Econômicas, São Paulo, v. 21, p. 9-18, 1991.

Referências

Documentos relacionados

A BC possui um balcão de atendimento logo na entrada da biblioteca, ou seja, o balcão está localizado em rota acessível, pois não há nenhuma barreira física ou

Resultados: Os parâmetros LMS permitiram que se fizesse uma análise bastante detalhada a respeito da distribuição da gordura subcutânea e permitiu a construção de

Assim, o presente trabalho surgiu com o objetivo de analisar e refletir sobre como o uso de novas tecnologias, em especial o data show, no ensino de Geografia nos dias atuais

Um tempo em que, compartilhar a vida, brincar e narrar são modos não lineares de viver o tempo na escola e aprender (BARBOSA, 2013). O interessante é que as crianças

Para se buscar mais subsídios sobre esse tema, em termos de direito constitucional alemão, ver as lições trazidas na doutrina de Konrad Hesse (1998). Para ele, a garantia

Este trabalho é resultado de uma pesquisa quantitativa sobre a audiência realizada em 1999 envolvendo professores e alunos do Núcleo de Pesquisa de Comunicação da Universidade

Neste trabalho, foram estudadas as plântulas e plantas jovens de Erythrina speciosa (Phaseoleae), Holocalyx balansae e Sophora tomentosa (Sophoreae), Swartzia langsdorffii

Se você vai para o mundo da fantasia e não está consciente de que está lá, você está se alienando da realidade (fugindo da realidade), você não está no aqui e