DOUTRINAS INFANTO-JUVENIS
1 – Direito Penal do Menor
Leis:
Ordenações Filipinas;
Código Penal do Império – 1830;
Código Penal de 1890 ;
1.1 - Ordenações Filipinas
A imputabilidade penal iniciava aos
sete anos e as crianças e jovens eram
severamente punidos sem muita
1.2 - Código Penal do Império – 1830
art. 10 – (. . .) não se julgarão criminosos (. . .)
menores de 14 anos, a menos que tenham
discernimento de seus atos.
Obs: Sendo a pena de ser encerrado em casa de
detenção.
1.3 -Código Penal - 1890
Entre 1900 e 1916, o coeficiente de prisões por dez
mil habitantes era distribuído da seguinte forma:
307,32 maiores e 275,14 menores.
O Código Penal da República, não considerava
criminosos os
“menores de nove anos completos”
e os
“maiores de nove anos e os menores de 14,
que obrarem sem discernimento
”. Quanto à forma
de punição, aqueles que, tendo entre 9 e 14 anos e,
tivessem agido conscientemente deveriam estes ser
1.4 - Código de Menores - 1927
conhecido como Código Mello Mattos (Decreto n° 17.943-A, de 12
de outubro de 1927), consolidou as leis de assistência e proteção
aos menores , refletindo um profundo teor protecionista e a
intenção de controle total das crianças e jovens, consagrando a
aliança entre Justiça e Assistência, constituindo novo mecanismo
de intervenção sobre a população pobre.
Neste momento, constrói-se a categoria do MENOR, que
simboliza a infância pobre e potencialmente perigosa, diferente do
resto da infância.
O Código de Menores Mello Mattos, reflete o
pensamento criminológico positivista, adotando o
paradigma etiológico ao estabelecer que a criança e o
adolescente são objetos da norma que merecem
tratamento quando se encontram em situação irregular,
o que legitimava práticas autoritárias, repressivas e
2 – Teoria da Situação Irregular
Leis:
Código Penal de 1940;
Lei 4518/64 – Política Nacional de
bem-estar do menor;
Código de Menores de 1979,
2.1 Código Penal de 1940
Após o Código Penal de 1940
- Decreto-Lei n°
2.848, de 7 de dezembro de 1940 -
fixa-se a
imputabilidade penal aos 18 anos de idade,
Passa-se a adotar um critério puramente biológico
1.1
Prevê o art. 23, do Código Penal de 1940: "Os menores de
dezoito anos são penalmente irresponsáveis, ficando
Criado o Sistema de Assistência ao Menor
(SAM)
1942
◼
Órgão ligado ao Ministério da Justiça;
funcionava
como
um
equivalente
ao
“Sistema
Penitenciário para Menores”
de 18 anos, cuja lógica de
trabalho era a reclusão e a repressão das crianças e
adolescentes abandonados ou autores de atos infracionais;
◼
O Sam cristaliza-se como órgão repressivo (“sucursal do
2.2- Lei 4518/64 – Política Nacional
de bem-estar do menor;
Com o golpe, a questão do menor foi elevada à categoria de
problema de segurança nacional, prevalecendo o implemento de
medidas repressivas que visavam cercear os passos dos menores
e suas condutas "anti-sociais". Estavam em pleno vigor os
postulados
positivistas.
Com a aprovada da Lei n° 4.513, de 01 de dezembro de 1964,
estabelece-se uma gestão centralizadora e vertical. O órgão
nacional gestor desta política passa a ser a FUNABEM (Fundação
Nacional de Bem-Estar do Menor) e os órgãos executores
estaduais eram as FEBEMs (Fundações Estaduais de Bem-Estar
2.3 - Código de Menores de 1979,
Lei n° 6.697/79.
◼
Seus destinatários foram as crianças e os jovens
considerados em situação irregular, caracterizados
como
objeto
potencial
de
intervenção
dos
Juizados de Menores, sem que fosse feita
qualquer distinção entre menor abandonado e
Em nome da "proteção" dos menores, eram-lhes negadas todas as
garantias dos sistemas jurídicos do Estado de Direito, praticando-se
verdadeiras violações e concretizando-se a criminalização da
pobreza e a judicialização da questão social na órbita do Direito
do Menor. Com a determinação abstrata do que deve sofrer a
ingerência do Juizado de Menores, negavam-se aos menores os
direitos fundamentais de liberdade e igualdade, esquecendo-se de
que, conforme Ferrajoli
2,
O desvio punível (...) não é o que, por características intrínsecas ou
ontológicas, é reconhecido em cada ocasião como imoral, como
naturalmente
anormal,
como
socialmente
lesivo
ou
coisa
semelhante. Ao contrário, só pode ser punido o fato formalmente
descrito pela lei, segundo a clássica fórmula nulla poena et nullum
crimen
sine
lege.
A grande maioria da população infanto-juvenil recolhida às
entidades de internação do sistema FEBEM no Brasil, na ordem de
80%, era formada por crianças e adolescentes, "menores", que não
eram autores de fatos definidos como crime na legislação penal
brasileira. Estava consolidado um sistema de controle da pobreza,
que Emílio Garcia Mendez define como sociopenal, na medida em
que se aplicavam sanções de privação de liberdade a situações
não tipificadas como delito, subtraindo-se garantias processuais.
Prendiam a vítima, sustenta.
Com a Doutrina da Situação Irregular, os menores
passam a ser objeto da norma, por apresentarem uma
"patologia social", por não se ajustarem ao padrão social
estabelecido. Surgiu uma clara diferenciação entre as
crianças das classes burguesas e aquelas em "situação
irregular", distinguindo-se criança de menor, sendo
3 – Teoria da Proteção Integral da Criança e
do Adolescente
Tratados Internacionais;
CRFB/1988, art. 227;
Estatuto da Criança e do
adolescente – Lei
3.1 - Tratados Internacionais
No final da década de oitenta, em plena crise da criminologia crítica, o
Brasil retomará o caminho de evolução para a Doutrina da Proteção
Integral, interrompido pela Ditadura Militar, e iniciado em 20 de
novembro de 1959 quando, onze anos depois Declaração Universal
dos Direitos do Homem de 1948, a ONU produzira a Declaração dos
Direitos da Criança, ratificada pelo Brasil, e que constitui um marco
fundamental no ordenamento jurídico internacional relativo aos direitos
◼
Declaração dos Direitos da Criança, aprovada em
Genebra em
1924
;
3.2 - CRFB/1988, art. 227
◼
Paralelamente aos movimentos internacionais, no Brasil dos anos 80 foi
concebida
a
Constituição
Federal
voltada
para
as
questões,
mundialmente debatidas, dos direitos humanos: a "Constituição
Cidadã", destacando-se, nesse contexto, o movimento denominado "A
Criança e o Constituinte", voltado para a defesa dos direitos da
criança.
Com o avanço da abertura política no Brasil vozes surgiram de
diferentes segmentos para denunciar as injustiças e atrocidades que
eram cometidas contra os menores. As denúncias desnudavam a
distância existente entre crianças e menores no Brasil, mostrando que
crianças pobres não tinham sequer direito à infância.
3.3 - Estatuto da Criança e do
Adolescente – Lei n°8.069/90.
◼
Com a promulgação
do Estatuto da Criança e do Adolescente
que, nos moldes da Constituição Federal, consagrou a Doutrina
da Proteção Integral, foi revogada a arcaica concepção tutelar do
menor em situação irregular. Estabeleceu-se que a criança e o
adolescente são sujeitos de direito, e não mais objetos da
norma, sendo totalmente remodelada a Justiça da Infância e da
Juventude,
abandonando-se
o
conceito
de
menor,
como
Teoria da Proteção Integral:
1.
quanto ao tempo – da “gestação
” aos 18 anos, em caso especiais
até aos 21 – art. 2°, 7° e 8°, ECA.
2.
pela horizontalidade na proteção – substituindo uma postura
autoritária e centralizada de lidar com o “menor”, o ECA determina
que todos têm responsabilidade pelo cumprimento dos diretos da
criança e do adolescente – a família, a comunidade, a sociedade e o
Estado (art. 4°, ECA) são solidariamente responsáveis pela garantia de
tais direitos.
3. quanto ao valor da infância - segundo conceito elaborado por Antônio Carlos Gomes da Costa, a doutrina de
proteção integral ,"afirma o valor intrínseco da criança como ser humano; a necessidade de especial respeito à
sua condição de pessoa em desenvolvimento; o valor prospectivo da infância e da juventude, como portadora da continuidade do seu povo e da espécie e o reconhecimento da sua vulnerabilidade, o que torna as crianças e adolescentes merecedores de proteção integral por parte da família, da sociedade e do Estado, o qual deverá atuar através de políticas específicas para promoção e defesa de seus direitos" [1].
◼ quanto ao sujeito da proteção – as leis anteriores, Código de Menores (1927 e 1979) reforçavam a distinção
entre “criança (tutelados pelos pais) e menor (tutelados pelo estado)”, que precisavam ser controlados e punidos
independente de terem cometido qualquer ato infracional. No ECA, essa discriminação dá lugar à igualdade (princípio básico da democracia), a lei universal. Os direitos valem para todas as crianças e adolescentes – ricos e pobres, do campo e da cidade, com família estruturada ou vivendo nas ruas, ou seja, os seres humanos com menos de 18 anos possuem direitos iguais àqueles que também são consagrados aos adultos e, além disso, direitos que lhe são peculiares, considerando sua especial condição de pessoas em desenvolvimento ou em formação;
[1] COSTA, Antônio Carlos Gomes da (Diretor Executivo da Fundação Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência). Estatuto da Criança e do Adolescente – Estudos Jurídicos-Sociais,
◼ quanto ao infrator – há o entendimento que o adolescente infrator, como ainda está em desenvolvimento, não
pode ser responsabilizado como um adulto pelos crimes que cometer. Que na grande maioria das vezes ele pratica a violência como conseqüência de uma série de outras tantas violências de que foi vítima, portanto, em primeiro lugar, deve estar a preocupação com o cumprimento dos direitos das crianças e dos adolescentes,
mesmo (ou principalmente) quando eles tiverem infringido a lei, visando a sua ressocialização, porém O Estatuto da Criança e do Adolescente veio por fim às ambigüidades existentes entre a proteção tutelada com punição
sem o devido processo legal e a responsabilização do adolescente infrator em conflito com a lei,
criando a responsabilidade pelo ato infracional do adolescente com idade entre 12 e 18 anos. Os menores de 12 anos, além de inimputáveis, são sócio-educativamente irresponsáveis, sendo passíveis apenas de receber
medidas de proteção quando infringirem as leis penais (art. 105, do Estatuto da Criança e do Adolescente). Sustenta Mendez que :
Por sua parte, o modelo do Estatuto da Criança e do Adolescente
demonstra que é possível e necessário superar tanto a visão pseudo- progressista e falsamente
compassiva, de uma paternalismo ingênuo de caráter tutelar, quanto a
Crianças
0 12 18
Adolescentes
Ato Infracional
Medidas
Protetivas Sócio EducativasMedidas
Crime ou
Contravenção Penal
Sanções PenaisRESPONSABILIZAÇÃO
Maiores de 18Onde estão as Regras de Execução das medidas
Sócio Educativas?
◼
Lei 12.594/2012
Instituir
Regulamentar
Sistema Nacional de
Atendimento Sócio Educativo
A execução das medidas
Destinadas a adolescente que pratica ATO INFRACIONAL
SINASE
Obs: Em uma comparação (não perfeita), a Lei 12.594/2012 teria função semelhante
A gestão do SINASE, exercida de forma
compartilhada
destaca-se como uma das mais importantes inovações da
Constituição Federal de 1988. Contudo, é importante
ressaltar que
a gestão do SINASE foi estruturada 24 anos
após a promulgação da Constituição Federal de 1988
. Ou
seja, a gestão do SINASE não está inscrita na CF, mas se
efetiva por meio de garantias constitucionais de gestão
democrática
◼
1988 – CRFB
◼
1990 - ECA
◼ O que é o SINASE?
Entende-se por Sinase o conjunto ordenado de princípios, regras e critérios que envolvem a execução de medidas socioeducativas, incluindo-se nele, por adesão, os sistemas estaduais, distrital e municipais, bem como todos os planos, políticas e programas específicos de atendimento a adolescente em conflito com a lei.
◼ Composição do SINASE:
O Sinase será coordenado pela União e integrado pelos sistemas estaduais, distrital e municipais responsáveis pela implementação dos programas de atendimento a adolescente ao qual seja aplicada medida socioeducativa.
Delimitou, de forma expressa a responsabilidade de cada ente
público:
◼
União:
formular e coordenar a política nacional de atendimento
socioeducativo;
◼
Estados:
criar e manter programas para as medidas de semiliberdade e
internação;
◼
Municípios:
criar e manter programas para as medidas socioeducativas em
Objetivos das Medidas
Sócio Educativas
▪
Responsabilização do autor quanto às consequências
lesivas do ato infracional
▪
Integração social e garantia dos direitos individuais e
sociais (
Plano Individual de Atendimento
)
▪
Desaprovação da conduta infracional
Natureza das Medidas
Alguns Enfoques do SINASE
◼
Marco legal em normativas internacionais de
direitos humanos
◼
O adolescente como
sujeito de direitos
, em
condição peculiar de
desenvolvimento
◼
Garantia de atendimento especializado para adolescentes com
deficiência
e em
sofrimento psíquico
◼
Afirmação da natureza
pedagógica e sancionatória
da medida
socioeducativa
◼
Primazia
das medidas socioeducativas em
meio aberto
◼
Formação continuada
dos operadores do sistema de garantia de direitos
◼
A
intersetorialidade
e a articulação em rede
◼
A definição das
competências e responsabilidades
nos três níveis de
Sistema Único de Assistência Social - SUAS Sistema Único de Saúde SUS Sistema de Justiça Sistema educacional Políticas públicas de esporte e lazer
SINASE
Sistema de Garantias de Direitos
Sistema Nacional de
Cultura
A Família
◼
A perspectiva da proteção integral, adotada pela CF de 1988 e
demais legislações de direitos da infância brasileira, indica que o
processo de intervenção, parte do processo de cumprimento da
medida socioeducativa, deve ser direcionada ao (à) adolescente,
em resposta à sentença judicial, mas também deve atingir ao
seu grupo familiar, tendo em vista a sua orientação e
fortalecimento para o convívio social.
◼
Para tanto se faz necessário atingir a todos os membros da
família, por meio da busca pela proteção social, encontrada nos
diversos serviços e benefícios oferecidos pelas políticas sociais
básicas, e especial. A ação articulada entre as diversas políticas
sociais é parte fundante da execução da política da
socioeducação.
Proc. de
◼
Mauro Campello:
“A celeridade do julgamento é direito do adolescente e a negação deste
direito é uma forma perversa de lhe negar justiça, negando a vigência ao
princípio constitucional da prioridade absoluta. Constitui-se, assim, em uma
primazia na prestação jurisdicional, tanto na fase do processo de
conhecimento, inclusive no segundo grau, tanto na fase de execução
da medida socioeducativa. [...]
A celeridade do processo se constitui em um direito subjetivo público do
adolescente, porém não pode se prestar à prática da injustiça rápida, com
atropelo de garantias e produção de ampla dilação probatória, devendo
prevalecer a máxima
in dubio pro reo
.”
Objetivos da Política Pública SINASE
◼
responsabilização do adolescente quanto às
consequências lesivas do ato infracional, sempre que
possível incentivando a sua reparação;
◼
integração social do adolescente e garantia dos seus
direitos individuais e sociais por meio do cumprimento
de seu Plano Individual de Atendimento.
Princípios do SINASE
◼ respeito aos direitos humanos;
◼ adolescente como pessoa em situação peculiar de crescimento e desenvolvimento,
sujeito de direitos e responsabilidades (artigo 227 da CF/1988 e 3º, 6º e 15 do ECA);
◼ prioridade absoluta (artigo 227 da CF/1988 e 4º do ECA);
◼ respeito ao devido processo legal (artigo 227 da CF/1988; artigo 40 da Convenção das
Nações Unidas sobre os Direitos da Criança; artigos 108, 110 e 111 do ECA; e tratados internacionais);
◼ excepcionalidade, brevidade e respeito à condição peculiar de pessoa em crescimento e
desenvolvimento;
◼ respeito à capacidade do adolescente de cumprir a medida, às circunstâncias, à
gravidade da infração e às necessidades pedagógicas do adolescente na escolha da medida, com preferência pelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários (artigos 100 e 112 do ECA);
Importância do PIA
◼
Pelo SINASE, a articulação das políticas setoriais deve
fazer parte do Plano Individual de Atendimento - PIA
do (a) adolescente e jovem em cumprimento de
medida socioeducativa. O PIA, no contexto da ação
integral e integrada
, é um instrumento
técnico-operacional previsto pelo SINASE (Capítulo IV, artigo
52), em que deve estar contido todo o percurso a ser
PIA
◼
Art. 52. O cumprimento das medidas socioeducativas, em regime de
prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade
ou internação, dependerá de Plano Individual de Atendimento
(PIA), instrumento de previsão, registro e gestão das atividades a
serem desenvolvidas com o adolescente.
◼
Pú:(...)
◼
Art. 53. O PIA será elaborado sob a responsabilidade da equipe técnica
do respectivo programa de atendimento, com a participação efetiva do
adolescente e de sua família, representada por seus pais ou
Art. 54. Constarão do plano individual,
no mínimo:
I - os resultados da avaliação interdisciplinar; II - os objetivos declarados pelo adolescente;
III - a previsão de suas atividades de integração social e/ou capacitação profissional; IV - atividades de integração e apoio à família;
V - formas de participação da família para efetivo cumprimento do plano individual; e VI - as medidas específicas de atenção à sua saúde.
◼
Art. 55.
(. . .)
As Medidas
◼
Advertência:
“consiste numa repreensão verbal que, num
primeiro momento, pode parecer uma providencia meramente
formal, sem influencia efetiva na trajetória de vida do
adolescente e sem capacidade de evitar a prática de novas
condutas infracionais. Entretanto, a advertência deve ter
proposta e proposito
mais abrangentes do que a simples
intimidação verbal pautada na ameaça de aplicação de
medidas mais rigorosas”
◼
Obrigação de reparar o dano:
“é uma medida
aplicada nos casos de ato infracional com
reflexos
patrimoniais
. Trata-se de medida poucas vezes aplicada,
até porque, em regra, é desprovida do necessário
planejamento e acompanhamento, ficando restrita ao
Poder Judiciário a aplicação desta medida. ”
Há 03 formas tradicionais para tal:
a) restituição da coisa;
◼
Prestação de Serviço à Comunidade
: consiste na prestação de
serviços comunitários gratuitos e de interesse geral por período não
excedente a seis meses, devendo ser cumprida em jornada máxima de
oito horas semanais, aos sábados, domingos ou feriados ou em dias
úteis não prejudicando a frequência escolar. Nessa medida, devemos
ater a necessidade do planejamento metodológico da intervenção, que
é definido pelo
Plano Individual de Atendimento – PIA, em que
se define também os tipos de atividades que serão desenvolvidas pelo
adolescente.
◼
Trata-se de uma das medidas que, uma vez executada de forma
eficiente,
melhor
poderá
alcançar
os
fins
reeducativos
e
ressocializadores
almejados
pela
aplicação
das
medidas
socioeducativas, haja vista que o adolescente irá colaborar para o
desenvolvimento de sua comunidade, ao mesmo tempo em que
refletirá sobre os atos infracionais cometidos
◼
Liberdade Assistida:
destina-se a
acompanhar
,
auxiliar
e
orientar
o adolescente autor de ato
infracional. Trata-se de uma medida socioeducativa
que, pressupõem um acompanhamento sistemático e,
portanto, não imputa ao adolescente o afastamento
de seu convívio familiar e comunitário. Nessa medida
socioeducativa ficam estabelecidos deveres por parte
do (a) adolescentes, tendo em vista a aquisição de
competências que possibilite a ressignificação da vida,
e ruptura com a trajetória infracional.
◼
Semiliberdade
:
(art. 120 do ECA)
o adolescente
realiza atividades externas durante o dia, sob supervisão
de equipe multidisciplinar, e fica recolhido à noite.
Todavia, o jovem poderá permanecer com a família aos
finais
de
semana,
desde que autorizado pela
coordenação da Unidade de Semiliberdade
.
◼
O regime de semiliberdade pode ser determinado como
medida inicial imposta pelo juiz ao adolescente infrator,
ou como forma de transição para o meio aberto (uma
espécie de
“progressão”).
◼
Internação (art. 121 do ECA) -
o adolescente fica recolhido na
unidade de internação. A internação constitui medida privativa da
liberdade
e
se
sujeita
aos
princípios
de
brevidade,
excepcionalidade
e respeito à condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento.
◼
Pode ser permitida a realização de atividades externas, a critério
da equipe técnica da entidade,
salvo expressa determinação
judicial
em contrário.
◼
A medida não comporta prazo determinado, devendo sua
manutenção ser reavaliada, mediante decisão fundamentada, no
máximo a cada seis meses. Em nenhuma hipótese o período
máximo de internação excederá a três anos. Se o interno
"A privação de liberdade é um mal. Mal que até poderá
ser necessário diante da incapacidade humana de
desenvolver outra alternativa. Mas sempre um mal,
cabendo aqui revisitar Foucault. A opção pela privação
da liberdade resulta muito mais da inexistência de outra
alternativa do que da indicação de ser esta a melhor
dentre as alternativas disponíveis. Somente se justifica
enquanto mecanismo de defesa social, pois não há nada
mais falacioso do que o imaginário de que a privação de
liberdade poderá representar em si mesma um bem para
o adolescente a que se atribui a prática de uma ação
delituosa".
Afinal, qual a natureza das medidas
socioeducativas?
É penalizar ou educar e proteger?
1 -
Dentro desse cenário de complexidade sobre a natureza das
medidas socioeducativas, devemos nos atentar para a supremacia
da competência pedagógica, afirmada pela legislação, por mais que
se tenha função de responsabilização, em especial em relação às
medidas socioeducativas em meio aberto (prestação de serviços à
comunidade e liberdade assistida). Ou seja, devemos problematizar
a lógica penal que reverbera e se reproduz dentro do sistema
socioeducativo, pois a proposta da socioeducação se sustenta na
espinha dorsal da política social e não da punição, que é a
Violência x Sócio educação
◼
A educação, portanto, é o objetivo central da
medida socioeducativa, pois entende-se que o (a)
adolescente está em situação peculiar de
desenvolvimento, e pode num processo de
orientação continuada e determinada pela justiça,
romper com as práticas infracionais. Dessa
forma, qualquer ação com base no uso da
autoridade violenta, torna-se ilegalidade, e,
como tal, repercute tanto quanto o ato infracional
outrora cometido. Nesse aspecto e na história da
humanidade, a violência se tornou um espetáculo.
O ideário da tortura e do suplício, como cura e
exemplo, é uma prática medieval e que era realizada
dentro das igrejas, com o intuito de conseguir a
confissão dos hereges, ou nas praças públicas como
meio de inibir comportamentos semelhantes. No
maior feminicídio da história da humanidade, na caça
às bruxas, eram utilizados terríveis instrumentos que
convertiam o pecado do corpo pelo sofrimento.
E porque ainda hoje carregamos resquícios de
práticas que banalizam tanto a violência, a tortura e
indignidade humana? As trajetórias dessas questões
estavam ligadas a ética. Por exemplo, na Idade Média
a igreja legitimava. Na ditadura civil militar brasileira,
os militares legitimavam tais práticas em nome da
moral, ordem e bons costumes. Mas, no sistema
2 -
Tendo em vista o conceito de medidas socieducativas, a doutrina da proteção integral e as peculiaridades dos agentes, por serem pessoas em situação dedesenvolvimento, constata-se que a sua natureza jurídica é de sanção-educação, uma vez que pretende não só a retribuição pelo mal praticado, mas, principalmente, a ressocialização e reinserção do adolescente no convívio social, evitando-se a
formação de um ciclo vicioso que por certo acarretaria em futuros problemas prisionais.
Isso porque os adolescentes em conflito com a lei precisam, como sujeitos que estão construindo seu caráter/ personalidade, de mais educação, orientação, formação e não simplesmente do encarceramento, principalmente daquele presente na realidade brasileira que permite não só a ociosidade dos detentos, mas uma realidade
subumana, dentro da qual ninguém sairá melhor do que entrou.
Ressalte-se, por outro lado, que a resposta do Estado ao juízo de reprovação social não pode ignorar e minimizar as consequências decorrentes do ato infracional, de modo a não incutir no adolescente infrator a ideia de impunidade.
Assim, as medidas socioeducativas impostas em função do ato infracional devem ser equilibradas, buscando não só punir o ato praticado, mas, principalmente, mostrar a essa pessoa em desenvolvimento o porquê de aquilo ser errado e ajudá-lo a se
Conflitos entre norma e prática
Ao mesmo tempo em que assume o compromisso internacional de respeitar
os direitos humanos dos (as) adolescentes e jovens autores (as) de atos infracionais, considerando-os (as) sujeitos de direitos e em condição peculiar de crescimento e desenvolvimento, mantém estruturas de atendimento que os (as) aprisionam a um atendimento fundado na violação de direitos humanos. Ou seja, mesmo que as Medidas Socioeducativas em Meio Aberto não restrinjam a liberdade do (a)
adolescente, elas podem, também, violar direitos na medida em que oprimem, desrespeitam a identidade ou impõem valores. Entende-se que, a depender da concepção adotada pelo modelo educativo do Estado em cada tempo histórico, as
Dissertação
ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI:
UMA ANÁLISE DOS DISCURSOS DOS OPERADORES
JURÍDICOSOCIAIS
EM PROCESSOS JUDICIAIS
"
Panorama da execução dos programas socioeducativos
de semiliberdade e internação nos Estados brasileiros e
no Distrito Federal“
, do Conselho Nacional do Ministério
Público (CNMP)- 09/2019
➢
No Brasil, há 18.086 adolescentes e jovens em cumprimento de
internação por tempo indeterminado em instituições socioeducativas e
16.161 vagas, o que causa um déficit de quase duas mil vagas.
➢
O estudo do CNMP apontou a existência de 123 unidades de semiliberdade
e 330 unidades de internação.
➢
OBS:
As Regras Mínimas das Nações Unidas para a Proteção de Jovens
Privados de Liberdade estabelece o princípio - ratificado pelo ECA - que o
espaço físico das Unidades de privação de liberdade deve assegurar os
requisitos de saúde e dignidade.
◼ Apesar das atribuições da Lei do Sinase (arts. 3º, III e 4º, III), nos
últimos anos, a União não contribuiu suficientemente para a implantação de novas unidades de internação e semiliberdade nos estados e não cofinanciou o custeio dos sistemas estaduais e distrital, obrigando os estados e o Distrito Federal a arcarem sozinhos com a manutenção dessa política, que é de natureza obrigatória, continuada e permanente.
◼ Vários estados informaram à CIJ a existência de quadros graves de
superlotação e/ou grande número de pedidos de vagas de internação não atendidos ("fila de espera);
◼ O Grupo de Trabalho Sinase concluiu : "se há superlotação, sem o
correspondente reforço de infraestrutura e recursos humanos, potencializam-se as violações aos direitos humanos fundamentais dos adolescentes internados e a precariedade do atendimento".
◼ "o descumprimento puro e simples da medida de internação, em virtude
da falta de vagas, significa a frustração da pretensão socioeducativa estatal e a perda dos esforços realizados pelos sistemas de justiça e de
◼
Ainda de acordo com o grupo de trabalho,
"as
informações recebidas evidenciam o atraso do Brasil
na implementação da política nacional de atendimento
socioeducativo, por aproximadamente 30 anos, desde
a promulgação do Estatuto da Criança e do
Adolescente, apesar da regra de prioridade
Um caso
◼ “O CREAS Daniela Perez possui uma equipe com 5 assistentes sociais, 2 psicólogos, 2
pedagogos, 1 advogado e 1 carro de abordagem para atender 118 adolescentes que cumprem medida em meio aberto; 54 adultos que cumprem pena alternativa; fazer abordagem social; encaminhar ofícios para as Varas; atender idosos,
deficientes e crianças em situação de vulnerabilidade. É notório que os
funcionários encontram-se assoberbados, sendo quase que impossível o oferecimento de um acompanhamento efetivo a cada um dos adolescente socioeducandos.
◼ Ademais, o desestímulo se torna frequente, na medida em que a equipe técnica só
possui um feedback dos casos que deram errado, pois ou os adolescentes voltam ao CREAS/DEGASE para cumprir nova medida ou serão novamente encontrados já no
Presidente do Sind Degase afirma que
rebelião já era esperada
60 Thayssa Fortuna em 24/03/2015
O Grupamento de Intervenção Tática da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) conteve a rebelião de internos do Educandário Santo Expedito, em Bangu, Zona Oeste do Rio, na tarde desta terça-feira. Segundo informações, os menores infratores chegaram a atear fogo e tacar pedras no telhado da unidade, além de terem feito como reféns voluntários e servidores do Degase .
“Há 300 adolescentes ali dentro e de facções
diferentes. A gente já vem alertando para os problemas de superlotação baixo efetivo de funcionários. Trabalhamos o triplo do que a legislação determina. A segurança também está fragilizada. A gente já temia por isso. O sindicato sinalizou que infelizmente poderia terminar assim. Isso é uma tragédia anunciada”,
Funcionários ficam feridos durante rebelião no
Degase na Ilha do Governador
Rio de Janeiro – O Grupamento de
Intervenção Tática foi acionado para
uma rebelião no Instituto Socioeducativo Dom Bosco, na Ilha do Governador, na Zona Norte, na tarde desta quarta-feira (18).
Durante a rebelião, agentes e internos ficaram feridos. Os agentes feridos foram levados para o Instituto Médico Legal para exame de corpo de delito.
Segundo o Sind-Degase, um adolescente teria se recusado a acatar a ordem de um agente e provocou uma confusão
Adolescentes são transferidos depois de rebelião
em unidade do Degase no Rio
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Por Henrique Coelho e Raoni Alves, 28/10/2019 ( . . .)O tumulto na unidade do
Departamento Geral de Ações
Socioeducativas (Degase) começou por volta das 19 horas, quando os dois
adolescentes que cumprem medidas socioeducativas começaram uma briga entre eles.
(. . .) Cerca de 100 internos destruíram ventiladores, pias, rasgaram roupas e colchões.
Os agentes do Degase que estavam na unidade não conseguiram controlar a
situação e precisaram chamar equipes do Grupamento de Ações Rápidas (GAR), e da Coordenadoria de Segurança e
Inteligência (Csint), da Polícia Militar e dos Bombeiros.
Com a situação controlada, quatro adolescentes e dez maiores de
idade envolvidos na rebelião foram conduzidos para a 21ª Delegacia de Policia, em Bonsucesso. No local, foi feito o registro de ocorrência por danos ao patrimônio público e ameaças de morte aos servidores.
Se confirmado o crime de dano qualificado, os detentos maiores de idade serão transferidos para o sistema prisional.
Adolescentes fazem rebelião em unidade
de internação no RJ
(. . .)De acordo com o Sindicato de Servidores do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase), durante o ato colchões foram queimados, grades quebradas e portas arrancadas.
Redação 18/04/2020 15:11 Um foco de incêndio foi identificado
na parte superior do prédio. Policiais lançaram bombas de gás lacrimogêneo para tentar conter os adolescentes.
Sem contato com familiares, jovens do sistema
socioeducativo promovem rebelião no RJ
Isolados das famílias e vítimas de maus tratos, os jovens internados no Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase) do Rio de Janeiro promoveram uma rebelião neste sábado (18) contra a limitação do contato com as famílias.
(. . .) Segundo o Sindicato de Servidores do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (SindDegase), 100 dos 300 jovens da unidade Dom Bosco do Degase, na Ilha do Governador, promoveram a rebelião. A Polícia Militar acionou o Batalhão
Quem está em Conflito com a Lei?
Procure saber:
◼ O que o seu Estado e o seu município fazem concretamente para
reduzir a miséria da população?
◼ Que programas sociais são implantados com este fim?
◼ Onde você mora as escolas públicas são de boa qualidade? ◼ Há creches em número suficiente, a Prefeitura providencia? ◼ Sua cidade tem Conselhos Tutelares efetivos?
◼ Tem programas para dar suporte às crianças e adolescentes vítimas
de violência, de abuso sexual, exploradas pelo trabalho infantil?
◼ Há crianças nas ruas? O que acontece com elas?
◼ Qual o estado das unidades do tipo FIA (ou de sistema parecido) do
QUEM PRECISA QUE O ADOLESCENTE SOFRA?
"Precisamos de vontade de potência inventora de
direitos (...) civis, capazes de abolir os penais
para adolescentes infratores: conciliação entre
vítima e infrator, indenização da vítima,
respostas-percurso ao infrator com base na potencialidade
de seu talento, tomada de decisão conjunta. Isto é
Bibliografia
COSTA, A. P. M.; FERREIRA, K. M. M.; RAMIREZ, S.; PONZIO, V.; PAZ, V. Medidas socioeducativas: gestão da execução. Porto Alegre/RS : Marca Visual, 2014.
FOUCAULT, Michael. Vigiar e Punir: História de Violência nas Prisões. 40ª Edição – Editora Vozes, 2012
LIBERATI, W. D. Adolescente e ato infracional: medida socioeducativa é pena? São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003.
PEREIRA, I.; ZAMORA, M. H. N. R.; ALAPANIAN, S.. Política socioeducativa ao adolescente em conflito com a lei. Curitiba: UNIOESTE, 2014.
RAMIDOFF, M. l. SINASE - Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo. Comentários à Lei n. 12.594 de 18 de janeiro de 2012. São Paulo : Saraiva, 2012.
SARTÓRIO, Alexsandra Tomazelli. Adolescente em conflito com a lei: uma análise dos discursos
dos operadores jurídico-sociais em processos judiciais . Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas.–304 f. 2007.
Bibliog
rafia
Legislação / documentos:
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. SDH-PR – CONANDA. Plano Nacional Decenal de Atendimento Socioeducativo, 2013.
. Lei nº 12.594/2012. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, 2012. . Resolução nº 119/06 – Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do