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VALOR RECREATIVO DO RIO ARAGUAIA, REGIÃO DE ARUANÃ, AGREGADO PELO MÉTODO DO CUSTO DE VIAGEM. Priscila Garcia Angelo 1,3 ; Adriana Rosa Carvalho 2,3

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VALOR RECREATIVO DO RIO ARAGUAIA, REGIÃO DE ARUANÃ, AGREGADO PELO MÉTODO DO CUSTO DE VIAGEM.

Priscila Garcia Angelo1,3; Adriana Rosa Carvalho 2,3 1

Bolsista PBIC/UEG 2

Pesquisadora – Orientadora 3

Curso de Ciências Biológicas, Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas, UEG.

Resumo – O método do Custo de Viagem estima o valor econômico do ambiente natural através de seu uso para a recreação, colaborando para a compreensão do valor econômico efetivo atraído por bens e serviços ambientais. Este estudo teve como objetivo estimar o valor recreativo do Rio Araguaia, região de Aruanã, agregado pelo método do Custo de Viagem, bem como o perfil socioeconômico do turista e sua percepção ecológica. A coleta dos dados foi feita com a aplicação de questionário estruturado por questões fechadas nos meses de julho/2004 e julho/2005. O total do excedente do consumidor e o valor recreativo do Rio Araguaia são, respectivamente, R$1.666.005,61/ano (US$734.505,60/ano) e R$333.201.122.000/ano (US$146.901.120.712/ano). A maior taxa anual de visitação a cada mil habitantes foi da zona I (215,7 visitantes/1000hab./ano) e a menor, na zona VI (0,3 visitantes/1000hab./ano). Os turistas preferem pescar; escolhem ambientes tranqüilos para o exercício de suas atividades e são atraídos a Aruanã principalmente para apreciar e utilizar o rio. A maioria não tem conhecimento sobre desova, e não sabe o que é planície inundável. O valor recreativo agregado ao Rio Araguaia, apesar de subestimado, é alto e confirma sua importância econômica e necessidade de preservação.

Palavras – chave: Rio Araguaia, custo de viagem, valor recreativo, turista. Introdução

O método do Custo de Viagem (Travel Cost Method) avalia o benefício proporcionado pelos ambientes naturais através do seu uso para a recreação (Grasso et al., 1995), valorizando estas áreas e colaborando para sua preservação. Além disso, este método permite que se obtenha informações socioeconômicas dos turistas que freqüentam o ambiente natural.

Os grupos que têm relação de uso e dependência com recursos naturais, em especial as populações tradicionais, tendem a desenvolver conhecimento empírico sobre processos que ocorrem no ambiente explorado (Johannes, 1989 apud Carvalho, 2002). Os turistas de ambientes naturais, como o Rio Araguaia, revelam suas preferências para a recreação neste local e fornecem informações acerca das alterações antropogênicas.

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Assim, este trabalho teve como objetivo estimar o valor econômico agregado pela recreação ao Rio Araguaia na região de Aruanã através do método de Custo de Viagem, bem como traçar o perfil socioeconômico do turista e sua percepção ecológica.

Material e Métodos

Área de estudo - O estudo foi realizado na região de Aruanã, situada no médio Rio Araguaia, principal tributário do Rio Tocantins, cons tuindo a bacia Tocantins–Araguaia (Tejerina-Garro, et al. 1998).

Os dados foram coletados através da aplicação de questionários compostos por questões fechadas aos turistas do Rio Araguaia, em julho de 2004 e julho de 2005. Foram entrevistados turistas em seis locais diferentes: dois na cidade (porto, praça/bares) de Aruanã e os quatro restantes, nas praias (nos acampamentos Praia do Cavalo, da Farofa, do Sesi e Asbeg).

Os questionários forneceram informações socioeconômicas sobre os turistas, além de informações relativas à viagem, como gastos totais com a viagem. Estes forneceram dados sobre o gasto com estadia, refeição diária e traslado, dentre outros. Além disso, foi possível ter acesso à percepção ecológica do turista e às suas preferências acerca daquele ambiente.

Para a estimativa do valor recreativo, as regiões de origem dos turistas foram agrupadas em classes de distâncias, de forma que cada classe representa uma zona. O valor do custo do tempo representa o montante que o turista deixou de ganhar durante o traslado e foi calculado considerando-se que os turistas trabalham 40 horas/semana.

Para os cálculos do custo de viagem, da taxa de visitação e do excedente do consumidor considerou-se 141 turistas, pois nem todos forneciam os dados necessários.

Os cálculos da taxa de visitação para cada zona e do excedente do consumidor (EC) foram feitos através das fórmulas propostas por Dixon & Sherman (1990) apud Carvalho (2002) e Maharana & Sharma (2000) apud Carvalho (2002), respectivamente.

O valor recreativo é obtido através da multiplicação do somatório do EC pelo número de turistas/ano, que foi estimado em 200.000. O valor do dólar considerado foi de 1US$ = R$2,2682 cotado em 23/09/2005 (http://www.bcb.gov.br/?TXDOLAR).

Resultados

Custo de Viagem-Foram entrevistados 199 turistas, advindos de 5 Estados brasileiros (Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo e Tocantins). A cidade mais representativa é Goiânia (57,8%), seguida da Cidade de Goiás e de Anápolis.

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comp./inc:35,7%.). A renda mensal média dos turistas (n=195) é R$2036,75 +2645,99 (US$897,96 + 1166,56).

Os turistas freqüentam Aruanã em média 2,5 vezes ao ano (dp=+4,3) há 9,7 anos (dp=+9,5), e 20,6% faziam a visita pela primeira vez. Em média, os entrevistados gastam 5,7 horas (dp=+9,1) para chegar a Aruanã percorrendo a distância média de 319,7 Km (dp=+226,7). Em geral a viagem é feita em veículo particular e ônibus de viação, hospedando-se principalmente em acampamentos nas praias (40,2%) e hotéis (26,6%).

Foram estabelecidas 6 zonas de visitação ao Rio Araguaia, cujas informações estão representadas na Tabela 1.

Tabela 1. Total de entrevistados, distância até Aruanã, horas de viagem e freqüência e taxa de visitas/ano para as seis zonas definidas.

Zonas Nº de visitantes na amostra Distância (Km) de Aruanã Horas de viagem (d.p.) Freq. média de visitas/ano Taxa de visitação I 21 40-190 3 (+4,9) 3,3 (+4,3) 215,7 II 101 191-340 4,2 (+1,7) 2,4 (+4,8) 75,3 III 8 341-490 6,9 (+7) 1 24 IV 7 491-640 6,4 (+1,1) 1,3 (+0,5) 4,3 V 3 641-790 36 (+20,8) 1 4,5 VI 3 791-1200 80 (+36,7) 1,3 (+0,6) 0,3

A média da renda mensal do turista, os custos com locomoção, os custos do tempo e de viagem e o excedente do consumidor por zona estão representados na Tabela 2.

Tabela 2. Estimativas em reais (R$) da renda mensal do turista, do custo com locomoção, custos do tempo e de viagem e excedente do consumidor para cada zona de visitação (d.p.=desvio padrão).

Zonas Renda mensal do turista (n) Custo com locomoção (n=141) Custo do Tempo (n) Custo de Viagem (n=141) Excedente do consumidor/zona I 1703+2134,66(20) 98,71 (+151,68) 35,85 (20) 983,57(+1332,54) 790.869,50 II 2192,95+3110,80(98) 134,03 (+158) 53,02 (96) 1064,30(+1381,55) 842.956,90 III 1575 + 1162,20(8) 135,62 (+115,99) 90,94 (8) 915 (+577,13) 25.620,65 IV 1914,29+1118,67(7) 100 (+47,26) 77,86 (7) 997,14 (+504,14) 2.636,27 V 1972+ 1418,71 (3) 282,67 (+139,79) 321,60 (3) 876,67 (+654,88) 3.294,54 VI 1866,67 + 230,94 (3) 1366,67(+1415,39) 960 (3) 2.670,33(+1706,10) 627,75

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O gasto diário incorrido pelos turistas é de cerca de R$146,24 (US$64,47) durante em média 10,7 dias (dp= +11,5) em que permanecem no local. O custo médio do tempo é de R$75,52 (US$31,97) por viagem.

A planície do Rio Araguaia provê um alto benefício anual ao visitante (excedente do consumidor- EC= R$1.666.005,61 ou US$734.505,60/ano). Os valores do excedente do consumidor para cada zona estão representados na Tabela 2.

O valor recreativo agregado ao Rio Araguaia é de R$333.201.122.000/ano (US$146.901.120.712/ano). Este valor econômico-ecológico agregado pelo uso recreativo ao Rio Araguaia (em torno de US$146 bilhões) é alto e particularmente representativo por se tratar de um valor subestimado por ter sido estimado em apenas uma das localidades/municípios margeados por este ecossistema, além de não ter considerado o gasto incorrido pelo público local ao usufruir do Rio Araguaia.

Percepção ecológica do turista – A preferência dos turistas acerca das atividades desenvolvidas e os aspectos importantes para a escolha do ambiente de recreação, além do maior atrativo em Aruanã, estão representados na Tabela 3. No exercício de suas atividades prediletas, os turistas despendem em média 6,5 horas (dp=+3,8) e estão acompanhados por 5 pessoas(dp=+5,6).

Tabela 3. Freqüência da atividade preferida pelos turistas, do aspecto mais importante para a recreação e do que mais os atraem em Aruanã.

Ativida de preferida % Mais importante para recreação % O que mais atrai em Aruanã

%

Pescar 24,2 Tranqüilidade 15 O rio 45,3

Beber 12,7 A praia 10,4 Praia 13,1

Descansar 11,9 Segurança 9,2 Flerte 5,9

Ir à praia 7,9 Conforto 4,2 Pesca 5,5

Ficar ao sol 7,1 Rio, limpeza e ambiente 3,7 Tranqüilidade 3,8 Nadar e passear de barco 5,5 Qualidade da água e infra-estrutura 3,3 A natureza 3

A maior parte dos turistas (88,4%) reconheceu a relevância das cheias para os ambientes naturais, e 84,4% acreditam que a floresta inundável é importante para o peixe. A importância atribuída à cheia e à floresta inundável está representada na Tabela 4.

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Importância

Das cheias Porcentagem Da Floresta Inundável Porcentagem

Não sabe 12 Não sabe 37

Reprodução dos peixes 9,8 Para alimentação dos peixes 6 Aumentar o volume de água 6,7 Para reprodução dos peixes 5,5

Não acha importante 5,3 Para os peixes 3,7

Para limpar o rio 4,9 Não acha importante 2,3

Para os peixes 4 Desova 1,8

A maioria dos visitantes (82%) não sabia o que é planície, bem como o local em que a mesma se situa no Rio Araguaia. A floresta que inunda durante a época da cheia pode ser inserida na mesma realidade, já que 48,5% não sabiam como é denominada e, apesar de se situar em outro bioma, a floresta inundada foi referida como pantanal (2%) e várzea (1,5%).

Um número considerável de turistas (43,3%) não sabe onde o peixe desova, apesar de declararem que isto ocorre nas cabeceiras dos rios (10,9%) e lagos (5,7%), e outros acreditarem que este fenômeno ocorre nas nascentes e margens dos rios (menos de 7%). A maioria (46,6%) declarou não saber qual o destino do peixe após a desova. Os entrevistados que responderam a esta questão afirmaram que depois da desova os peixes descem o rio (14,7%), permanecem no local da desova (11,3%) ou sobem o rio (7,8%). Aproximadamente 88,9% dos entrevistados acreditam que o período de defeso (ou piracema) é importante para o peixe, principalment e para a sua reprodução. A maioria dos entrevistados (61,8%) declarou utilizar algum recurso do rio, principalmente a água (35,9%) e o peixe (17,3%).

A maioria dos turistas declarou não ter conhecimento do local que tinha mais peixe antigamente (46,1%), ne m do local que comporta mais peixes hoje em dia (36,4%). Segundo os entrevistados, antigamente os peixes eram mais encontrados em todo o rio (23,5%), lagos e margens dos rios (menos de 4%), e hoje em dia, em lagos (11%) e lugares tranqüilos (9,6%). A espécie mais pescada no Rio Araguaia pelos turistas é o pintado (15%).

Discussão

No Rio Araguaia, as estimativas do Custo de Viagem auxiliam no direcionamento de prioridades de manejo e conservação e apontam para os benefícios e necessidades da visitação, evitando que o ambiente natural incorpore as externalidades do uso turístico.

Para o Rio Araguaia, o EC (US$734.505,60/ano) estimado é substancialmente maior do que o encontrado para a planície de inundação do Alto Rio Paraná, cujo valor é US$8.209,74 (Carvalho, 2002).

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Uma hipótese do método, de que o custo de viagem aumentaria com a distância que influencia os gastos despendidos, se confirmou na estimativa econômica feita para o Rio Araguaia visto que os custos de viagem são crescentes por zona.

O Rio Aragua ia foi considerada a maior atração em Aruanã. Também é notável a preferência dos entrevistados pela tranqüilidade (Tabela 3).

O desconhecimento sobre planície, floresta inundável, desova e outros processos ecológicos foi constatado na maioria dos turistas. Estes também se referiram à floresta que inunda durante a cheia como várzea, mangue e pantanal, nomes atribuídos a outros ecossistemas. Talvez isto se deva à maior divulgação de outros biomas brasileiros, como a região amazônica. Assim, criar e desenvolver programas que divulguem aos turistas os processos ecológicos pode auxiliar no manejo dos bens e serviços do ambiente natural e no seu uso racional (Berkes, 1988 apud Carvalho, 2002).

Conclusões

O valor recreativo agregado ao Rio Araguaia, apesar de estar subestimado, é alto e corrobora a importância econômica do ambiente estudado e, conseqüentemente, da sua preservação.

A divulgação dos processos ecológicos aos turistas que freqüentam o Rio Araguaia pode auxiliar na sua preservação, visto que ao incorporar as informações acerca do ambiente natural, o visitante valoriza-o com mais intensidade.

Referências Bibliográficas

Carvalho, A.R. 2002. Valoração econômico-ecológica do remanescente da planície de inundação do alto Rio Paraná. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Maringá, Nupelia. Programa de Pós- graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Ambientais. 133p.

Carvalho, A.R. 2004. Social and structural aspects of artisanal fishing in the upper Paraná River floodplain (Brazil). B. Inst. Pesca, 30(1): 35-42.

Grasso, M.; Tognella, M.M.P.; Schaeffer-Novelli, Y.; Comune, A.E. 1995. Aplicação de Técnicas de Avaliação Econômica ao Ecossistema Manguezal. In: May, P.H. (org.). 1995. Economia Ecológica: aplicações no Brasil. Editora Campus, RJ. 179p.

Http://www.bcb.gov.br/?TXDOLAR

Tejerina-Garro, F.L.; Fortin, R.; Rodrigues, M.A. 1998. Fish community structure in relation to environmental in foodplain lakes of the Araguaia River, Amazon Basin. Environmental Biology of fishes, 51: 399-410.

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