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Matéria: literatura Assunto: impressionismo - raul pompéia Prof. IBIRÁ

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Academic year: 2021

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Matéria: literatura

Assunto: impressionismo - raul pompéia

Prof. IBIRÁ

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RAUL POMPÉIA (1863-1895)

Obra: O Ateneu (1888)

Nasceu em Angra dos Reis, estudou no famoso Colégio Pedro II, bacharelando-se em Direito pela Faculdade do Recife. Ocupou vários cargos públicos. Sua sensibilidade exaltada o levou ao suicídio, após frustrado duelo com Olavo Bilac.

Ainda que tenha escrito um livro de poemas (Canções sem metro), uma novela (Uma tragédia

no Amazonas) e tenha deixado obras inéditas, Raul Pompéia se identifica como autor de

um romance essencial de nossa literatura: O Ateneu, que trazia como subtítulo: Crônica de

saudades.

Fortemente autobiográfico, o texto parte de uma experiência pessoal do autor num sistema de internato. Marcado de forma radical por essa experiência, trata de recriá-la, valendo-se para isso de um personagem chamado Sérgio. Projeção de Raul Pompéia, Sérgio enfoca, em 1ª pessoa, o início de sua adolescência passada no internato. A narrativa constrói-se a partir da perspectiva do Sérgio já amadurecido. E o leitor tem a visão de um sujeito adulto que lembra de acontecimentos. Assim, o romance é a memória adulta de uma experiência juvenil. Atente-se para o primeiro parágrafo do texto:

“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta. Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico”.

Vê-se aqui que o narrador, no presente (a idade madura), analisa os dados do passado. Suas lembranças confundem-se com os julgamentos que emitirá sobre a existência no educandário. Não há, pois, uma história encadeada, um enredo propriamente dito, e sim um acúmulo de fatos, percepções, situações e impressões, que sentem para indicar a psicologia e a estrutura social do mundo do internato. O próprio tempo objetivo da ação dissolve-se na densa subjetividade do narrador.

A Corrupção no Colégio

Sensível, Sérgio percebe, angustiado, o cair das aparências. “solitário e solidário”, conforme análise do crítico Astrogildo Pereira, procura ligações autênticas com os colegas. Mas o que encontra é a brutalidade, a vontade de poder, a exploração e o homossexualismo. Todas as camaradagens são efêmeras e dissimuladas:

Uma cáfila! (dizia Rebelo) Não imagina, meu caro Sérgio. Conte uma desgraça ter de viver com esta gente, (...) Aí vão as carinhas sonsas, generosa mocidade... Uns perversos. Têm mais pecados na consciência que um confessor no ouvido; uma mentira em cada dente, um vício em cada polegada de pele. Fiem-se neles. São servis, traidores, brutais, adulões. Vão juntos. Pensa-se que são amigos... Sócios de bandalheira! Cheiram à corrupção, empestam de longe.

Isto é uma multidão; é preciso força de cotovelos para romper. (...) Os gênios fazem aqui dois sexos, como se fosse uma escola mista. Os rapazes tímidos, ingênuos, sem sangue, são brandamente impedidos para o sexo da fraqueza; são dominados, festejados, pervertidos como

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Os vínculos de Sérgio com Sanches e Bento Alves estão assinalados por esta terrível atração que, às vezes, os dominados têm pelos dominadores.

Consideravam-no principalmente pela nomeada de hercúleo. Os fortes constituem uma fidalguia de privilégios no internato. (...).

Estimei-o femininamente, porque era grande, forte, bravo; porque me podia valer; porque me respeitava, quase tímido, como se não tivesse ânimo de ser amigo. Para me fitar esperava que eu tirasse dele os meus olhos. (...) Aquela timidez, em vez de alertar, enternecia-me...

Mas a síntese da dissolução de todos os valores é Aristarco, o diretor do colégio. Para Sérgio, ele encarna a perversidade do sistema. E o ódio, que o narrador-adulto guarda do internato, converge para Aristarco. Caricaturizado, tornado grotesco, sem qualquer sintoma de humanismo, dirige o seu colégio como se fosse uma casa de comércio.

O sucesso de Aristarco origina-se dessa aparência de educador. Mantém-na graças ao enfatuamento, brilho e violência de sua retórica. O discurso encobre e mistifica a realidade, a linguagem serve ao poder.

Um trabalho insano! (dizia Aristarco) Moderar, animar, corrigir esta massa de caracteres onde começa a ferver o fermento das inclinações, encontrar e encaminhar a natureza na época dos violentos ímpetos: amordaçar excessivos ardores; retemperar o ânimo dos que se dão por vencidos precocemente; espreitar, adivinhar os temperamentos; prevenir a corrupção; (...) prevenir a depravação dos inocentes; espreitar os sítios obscuros; fiscalizar as amizades; desconfiar das hipocrisias; ser amoroso, ser violento, ser firme; triunfar dos sentimentos de compaixão para ser correto; proceder com segurança, para depois duvidar; punir para pedir perdão depois... (...) Ah, meus amigos, concluiu ofegante, não é o espírito que me custa, não é o estudo dos rapazes a minha preocupação... É o caráter! Não é a preguiça o inimigo, é a imoralidade! Aristarco tinha para esta palavra uma entonação especial, comprida e terrível, que nunca mais esquece quem a ouviu de seus lábios. “A imoralidade”.

E recuava tragicamente, crispando a mão. Ah! mas eu sou tremendo quando esta desgraça nos escandaliza. Não! Estejam tranqüilos os pais! No Ateneu, a imoralidade não existe. Velo pela candura das crianças, como se fossem não digo meus filhos: minhas próprias filhas!

O adolescente Sérgio descobre a falsidade da linguagem de Aristarco. O adulto Sérgio, inventariando o passado no colégio, leva a hipocrisia das falas de Aristarco até os limites da Sordidez.

Mário de Andrade reparou que ninguém parece escapar à corrupção que domina o colégio. Professores, colegas, funcionários, etc. Mesmo Ema, esposa de Aristarco, dada pelo narrador como uma caricatura generosa, é envolvida num clima de difuso erotismo em seu contato com Sérgio. Um adolescente, Franco, por sua fragilidade e fracasso nos estudos, trona-se o bode expiatório do colégio. Sérgio aproxima-se dele e descobre que, inclusive, o fraco está contaminado pela perversidade.

Também Sérgio se corrompe: “Tornei-me um animalzinho ruim”. Sofre o condicionamento do meio, torna-se vítima do sistema. O que não impede, conforme observação do crítico Alfredo Bosi, de se converter em promotor, pois seu texto tem o alcance de uma poderosa acusação contra o Internato.

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A linguagem e a Classificação

A narrativa de Raul Pompéia filia-se à chamada “prosa artística”, desenvolvida na França pelos irmãos Gongourt. Trabalhada de maneira intensa, com grande força plástica e sonora, despreza a noção realista de simplicidade e despojamento, buscando em comparações e metáforas a sua expressividade. O tom requintado de sua fabricação dá-lhe certo artificialismo. No caso de O Ateneu, a “escritura artística” transforma-se muitas vezes em retórica, o que prejudica a fluência do texto.

Raul Pompéia já foi incluído na estética naturalista. A ideia da corrupção do meio percorre o seu romance. Mas a diluição da objetividade narrativa implica um radical afastamento dos princípios daquele movimento. Alguns consideram a narrativa como realista, usando os mesmos critérios para a classificação da obra de Machado de Assis. Achou-se a delimitação vaga demais, até que o Impressionismo entrou em voga. Hoje, a maioria da crítica considera O

Ateneu como um relato impressionista.

O Impressionismo foi um estilo que teve o apogeu nas últimas décadas do século XIX; no campo das artes plásticas, principalmente. Seu princípio básico é o de que todo e qualquer conhecimento racional e objetivo da realidade é precedido de uma sensação. Ou seja, de uma impressão sobre essa realidade.

O Ateneu supera uma formulação real/naturalista, pois apresenta um narrador cheio de

emotividade. Sérgio, adulto, quer rememorar com objetividade as experiências do menino. Porém, à medida que ele recorda o passado, este começa a voltar com força e vida e, de repente, o adulto é tragado pelas impressões do menino que duram, persistem na alma do adulto. E O Ateneu converte-se na pura expressão das emoções de Sérgio. As impressões são demasiadamente intensas para que ele seja impessoal. Daí o caráter impressionista de seu romance.

ESPAÇO

A obra é claramente dividida em dois espaços: fora e dentro do colégio. O primeiro é visto como ambiência do mundo natural. O segundo funciona como rito de iniciação, acontecimento traumático por meio do qual ocorre a passagem do universo infantil para o adulto, espaço para a formação do homem. O Ateneu, contudo, em vez de formar, deforma o homem. Trata-se de uma formação às avessas, ou seja, o que se espera de uma instituição é subvertido por uma educação bárbara. O ensino no colégio é determinado por um espaço no qual impera o ideal da força sobre os mais fracos.

TEMPO

O tempo é dividido em tempo psicológico e tempo vivido. O primeiro é o da memória, manuseado pelo narrador da maneira que lhe vem na consciência. Assim, na narração temos os episódios que ficaram na memória narrativa do autor. Já o tempo vivido se circunscreve linearmente aos dois anos de internato vividos pelo protagonista. Isso garante complexidade à obra e confere maior densidade a sua leitura.

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Bibliografia de Literatura

BOSI, Alfredo – História Concisa da Literatura Brasileira, 40.ª ed., S. Paulo, Cultrix, 2002.

CANDIDO, Antonio – Formação da Literatura Brasileira, 7.ª ed., 2 vols., Belo Horizonte / Rio de Janeiro, Itatiaia, 1993.

CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. Momentos decisivos. 10ª ed. Rio de Ja-neiro: Ouro sobre Azul, 2006.

CARPEAUX, Otto Maria – Pequena Bibliografia Crítica da Literatura Brasileira, nova ed., Rio de Janeiro, Ed. do Ouro, 1979.

CASTRO, Sílvio – História da Literatura Brasileira, 3 vols., Lisboa, Publicações Alfa, 1999. COUTINHO, Afrânio – A Literatura no Brasil, 5ª ed.,6 vols., S. Paulo, Global, 1999.

GONZAGA, Sergius – Curso de Literatura Brasileira, 1ª ed, Porto Alegre, Leitura XXI, 2004. JUNQUEIRA, Ivan – Escolas Literárias no Brasil, Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Le-tras,2004.

MOISÉS, Massaud – História da Literatura Brasileira, 3 vols., S. Paulo, Cultrix, 2001.

MOISÉS, Massaud – A Literatura Brasileira Através dos Textos, 19.ª ed., S. Paulo, Cultrix, 1996. NICOLA, José de – Painel da Literatura em Língua Portuguesa, 2ª ed, S. Paulo, Scipione, 2011. PICCHIO, Luciana Stegagno – História da Literatura Brasileira, 2ª ed., Rio de Janeiro, Lacerda Editores, 2004.

PROENÇA, Domício – Estilos de Época na Literatura, 5.ª ed., S. Paulo, Ática, 1978.

VERÍSSIMO, José – História da Literatura Brasileira: de Bento Teixeira (1601) a Machado de Assis (1908), 7ª ed., Rio de Janeiro: Topbooks, 1998.

Bibliografia de Música e Artes Plásticas

ACQUARONE, Francisco. Mestres da Pintura no Brasil, Editora Paulo Azevedo, Rio de Janeiro, s/d.

BARDI, Pietro Maria. História da Arte Brasileira, Editora Melhoramentos, São Paulo, 1975. CASTRO, Sílvio Rangel de. A Arte no Brasil: Pintura e Escultura, Leite Ribeiro, Rio de Janeiro, 1922.

DAMASCENO, Athos. Artes Plásticas no Rio Grande do Sul, Editora Globo, Porto Alegre, 1971. SEVERIANO, Jairo – Uma História da Música Popular Brasileira, 3ª Ed., Editora 34, 2013.

Referências

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